Cenas Extras Senhorita Aurora

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Para Sempre Daniel e Nicole

Babi A. Sette

Queridos Leitores: Essas cenas extras são um presente para vocês do grupo de leitura coletiva. As cenas não passaram por nenhuma revisão, não reparem em eventuais errinhos. Espero que amem tanto quanto amei rever esses dois, com amor Babi.


A Cerimonia


E

u não sei o que esperar.

Quer dizer, sei que é o meu casamento. O dia do meu casamento. Sei que Natalie está no Brasil há mais de duas semanas saindo com o Daniel. Parece estranho, né? Só que isso é mais uma das coisas maravilhosas do senhor Hunter. Eles organizaram tudo sozinhos. — Você vai escolher o vestido... o resto?! Deixa eu te surpreender minha Aurora. — Foi o que ele disse dois meses atrás, quando começou a planejar tudo junto com Nathy. — Surpreender mais? — Perguntei naquele dia. — Sempre. Sempre… Para sempre. Essa é a frase escrita com pétalas de flores em cima da cama, na suíte onde acabo de me arrumar. Minha mãe e Nathy saíram daqui agora a pouco, elas usam vestidos em tons rosa e azul. Se divertiram dizendo que são a Fauna e a Flora, as fadinhas de A bela adormecida. Nathy mais uma vez foi a minha fada, só que hoje, não a das sapatilhas e sim, a da maquiagem. Sempre achei que ela faz isso melhor do que muitos profissionais da área. Me admiro no espelho oval com moldura dourada colocado sobre a penteadeira.


A parte de baixo do vestido que uso parece uma camisola de seda justa ao corpo, e por cima, uma sobre posição de renda me lembra de nuvens, castelos e sonhos. É um modelo vintage de um estilista inglês; Yaniv Persy. Quando descobri que esse vestido faz parte de uma coleção chamada Dancers (inspirada em bailarinas) entendi mais uma vez que a dança sempre estará presente nos momentos mais importantes da minha vida, mesmo sendo através de “coincidências” tão incríveis como essa. Lá fora, os músicos cantam Aleluia de Leonard Cohen e tenho de me segurar para não chorar. Eu adoro essa música. Pouco antes de chegarmos, Daniel vendou meus olhos. Foram três horas de viagem através de estradas meio sinuosas entre montanhas e arvores. Então, antes de chegarmos, ele murmurou no meu ouvido: — Para não estragar a surpresa —E eu me deixei ser vendada. A única coisa visível através das janelas são as montanhas que cercam tudo ao redor. A musica de Cohen se mistura com o canto dos pássaros animando um fim de tarde dourado. Aqui dentro, meu pulso está acelerado demais e um frio envolve meu estomago. É uma mistura de adrenalina, ansiedade e amor. Fito o quarto com atenção pela décima vez tentando me distrair. Devo esperar aqui, não sei por quanto tempo mais. Estou tão nervosa, ansiosa. Pelo menos é um quarto lindo. Parece que entrei em um romance do século passado. A cama com dossel de bronze entalhado é coberta por uma colcha estampada com rosas. O mesmo padrão floral cobre a poltrona ao lado e as almofadas espalhadas sobre o colchão. Escuto passos no corredor. Analisar o ambiente não ajuda em nada, por mais bonito que ele seja. Mesmo se Darcy aparecesse aqui e pedisse para eu me acalmar e… A porta do quarto é aberta, é a minha mãe outra vez. Ela traz uma caixa na mão e a abre enquanto se aproxima. — São as fitas de sua primeira sapatilha de ponta — diz retirando uma delas.— Algo velho — prossegue com a voz embargada — algo emprestado... Nathy já lhe emprestou os brincos, não é? Concordo sem conseguir falar, ainda estou tentando engolir o choro. — Vamos amarrar no seu tornozelo direito?


É o tornozelo do meu pé quebrado. Entendo o que minha mãe quer dizer com esse gesto antes mesmo de ela explicar. Ergo a saia do vestido e ela se ajoelha, sinto a ponta dos dedos tocarem uma das cicatrizes, próxima ao tornozelo. — Um pé quebrado nunca tirará de você a bailarina que nasceu para ser. Noto o tecido escorregar na pele e então, a conhecida pressão das fitas envolvem o meu tornozelo. O som do laço sendo feito desfaz a minha resistência e as lagrimas ganham o meu rosto. — Um pé quebrado — continua minha mãe — não quebra o seu dom, não tira a sua vocação, não diminui o seu talento e nem o amor que você nasceu para transmitir com sua dança. Ela abaixa as saias do vestido e se levanta antes de completar: — Você sempre será a minha primeira bailarina. E eu a abraço chorando. — Ah meu Deus — é a voz de Nathy — você está chorando… Vai arruinar minha maquiagem. Me afasto limpando o canto dos olhos com as costas dos dedos. — Você disse que era a prova de água. No jardim toca Moon River ao som de violinos. — O que vocês dois aprontaram? — Pergunto e olho para a janela tentando controlar a emoção. — É por isso que vim aqui. — Como assim? — questiono e Nathy estende um envelope para mim. — Uma carta? — Oras... você o conhece... ele é um cara “a moda antiga” tão cavalheiro. — Tão sexy — replico pegando a carta com os dedos incertos. Sento na penteadeira e respiro devagar tomando coragem para abrir. A maquiagem já era. — Me conta— prossegue Nathy em tom divertido — ele te chama de senhorita na cama? Meu rosto esquenta e fito minha mãe no reflexo do espelho. — Nathy — a repreendo. Minha mãe prende melhor algumas flores que estão trançadas junto ao meu cabelo. — Pare de agir como se eu fosse uma mãe severa e pudica.


Encolho os ombros concordando. — As vezes. — É um fetiche, eu sabia — Nathy diz em tom vitória, como se tivesse acabado de descobrir algo vital para humanidade. Apoio as mãos no tampo frio de mármore da penteadeira. — Pelo menos para mim é. — E por ultimo — minha amiga abre a bolsinha de mão e tira de dentro uma peça azul. — Uma liga? — Algo azul... era o que faltava. — Bem lembrado — coloca minha mãe com ar divertido — Mas... eu ainda preferia rosa — faz menção a briga das fadinhas por azul ou rosa no desenho da Disney. Nathy sorri. — Azul... é a tradição. — Vamos deixa-la a sós para ler a carta? — Minha mãe pergunta e se vira para Nathy que concorda com a cabeça. — Assim que terminar de ler... saia, estamos te esperando aqui fora. Ela coloca a liga sobre a penteadeira antes de dizer — Não esqueça de vestir. Meu coração volta a acelerar. — Não vou esquecer. — Se estragar a maquiagem, grita que entro para te socorrer — continua Nathy bem humorada antes de deixar o quarto seguida por minha mãe. Pego o envelope e retiro a carta de dentro, minhas mãos estão tremendo. Nem sei porque me sinto tão ansiosa, emotiva e eufórica. Afinal, Daniel me pediu em casamento seis meses atrás porem, já moramos juntos a mais de um ano. Não é como se eu fosse sair de casa. Não é como se eu fosse virgem e aquela noite, a minha primeira vez. Não é como se nunca tivéssemos nos beijado, como os casais dos romances de época que eu gosto de ler. Mesmo assim, posso jurar que é o dia mais feliz da minha vida.


Deve ser a força da tradição: se vestir de branco e entrar em uma ... – nem sei direito onde vou entrar, não conheço o lugar — mas, com certeza, essa mistura de emoções, deve ser por causa das flores, do bouquet, da surpresa e da tradição. Escuto a musica lá fora: Dream a little dream of me. A alma antiga do meu maestro e a seleção incrível de musicas românticas, estão me matando. Começo a ler. Meu amor. Eu quero que esse dia seja inesquecível. Acho que você já percebeu que estamos em uma fazenda histórica, ela foi construída na metade do século 19. Mas, o que você ainda não sabe é que, essa fazenda que hoje é alugada para eventos, ainda pertence a família de uma de suas autoras favoritas: Angelina Borelli. Foi aqui, que ela viveu alguns anos da vida, foi aqui, que ela se apaixonou por seu marido e foi aqui também, que ela escreveu alguns dos romances que você mais ama. A bisneta dela, quem cuida da fazenda hoje em dia, me contou que os filhos de Angelina e Vincenzo se casaram na capela onde já estou lhe esperando, ansiosamente. Sei como do seu amor pelos livros e queria que eles, as historias de amor que você ama ler, fizessem parte desse dia de alguma maneira. Não apenas os livros, mas tudo o que você mais ama. Então, em meio as flores e velas da decoração, você também encontrará partituras, livros e algumas fotos dos seus bailarinos favoritos. Meu amor, enquanto você caminha em minha direção na capela, lembre que cada passo que dei na vida, foi em sua direção, foi para reencontrar meu coração que hoje bate apenas para amar você. Para sempre seu, Daniel Hunter


E

ntrei na nave ao som de “La vie en rose” na versão de Louis Armstrong.

Era uma capela linda, construída na metade do século 19 com direito a afrescos no teto e santos barrocos. As flores que despencam em cachos, são em tons tons de cor de rosa. Durante a cerimonia meus olhos não desgrudaram dos dele por um só minuto. Daniel cantou para mim no momento dos votos uma musica composta por ele, uma musica que prometia, seriamos felizes para sempre, faríamos o nosso para sempre acontecer todos os dias. E eu só consegui dizer que o amava, só consegui borrar a maquiagem a prova de agua enquanto repetia que o amava. Daniel usa um terno de veludo azul marinho, gravata borboleta e um tênis all star de cano baixo branco. Tão moderno, tão ele. Só agora pouco, consigo ver que tem algo escrito na lateral do sapato; Senhorita em um pé e Aurora no outro. Ele é incrível. Um cara incrível se apaixonou por mim. A primeira meia hora após a cerimonia, passa em um borrão de fotos, abraços, risadas e algumas lagrimas. Agora, caminhamos em direção a pista de dança decorada com velas e um enorme painel de lâmpadas formando a frase Let’s dance. A orquestra se posiciona em um dos lados da pista. Conheço alguns dos músicos, eles são da sinfônica do Rio de Janeiro e tocaram na capela, são amigos de Daniel. Franzo o cenho sem entender. — Achei que aqui teríamos um dj. — Depois. Eles começam a tocar e eu reconheço logo: Night and day.


Prendo a respiração e meu estomago gela. Ele estende a mão em minha direção. — Dance comigo, minha Aurora. Apesar das aulas de balé que dou há tempos, desde o acidente nunca mais tinha dançado assim, diante de uma plateia. Fito os rostos conhecidos: Nathy, Ivo, Paul, meu pai, minha mãe, Olivia, o senhor Clark, algumas pessoas do corpo de balé do Rio de Janeiro e também de Londres. Tem uma centena de pessoas entre amigos e parentes e todos prestam atenção em nós dois. — Eu não sei se eu lembro a coreografia — conto entre emocionada e insegura. — Vamos — ele envolve minha cintura — fiz aulas de sapateado e ensaiei loucamente durante dois meses para chegar perto do que você é capaz de fazer. E segura o meu rosto entre as mãos. — Você disse dançar como Fred Astaire e Ginger Rogers era um dos seus sonhos. Meus olhos enchem de lagrimas. — Sempre foi. E ele me beija com paixão, arrancando uns gritinhos e assobios das pessoas ao redor. — E você... senhorita Aurora, é a bailarina dos meus sonhos. Daniel aponta para o letreiro que agora diz: “Me dê os seus sonhos, eu vou realiza-los com você” Ele sinaliza para a orquestra avançar com a melodia. — Eu te amo — digo e me deixo ser conduzida. Daniel arrasa, eu me sinto uma garota sortuda demais por ser casada com um príncipe encantado, disposto a me dar o mundo de presente. Naquele inicio de noite, nos braços dele, deslizo sobre as nuvens e minha alma volta a sorrir. Naquele início de noite, meu coração tem uma certeza: o amor do Daniel é o que me faz dançar junto com a vida.


S

aímos da festa sob uma chuva de estrelinhas.

Daniel me carrega nos braços para dentro do enorme casarão que esta inteiro iluminado com a luz de velas. É como voltar no tempo. É como mergulhar nas paginas de um livro com final perfeito. — Onde você descobriu esse lugar? — Indago admirando o ambiente da sala. — Foi a organizadora de casamentos que contratei quem me indicou. Deixo um selinho nos lábios dele. — Obrigada, foi o dia mais feliz da minha vida. Ele encolhe os ombros com expressão brincalhona. — Eu quero ser o seu Darcy. — Para mim, você é muito melhor do que ele. Ele sorri vaidoso. — Estava louco para fazer isso — diz conforme avançamos em direção ao quarto. — Me carregar nos braços? Daniel abre com pé a porta que esta apenas recostada. — Não — e me coloca no chão e me beija como se quisesse reger uma orquestra com meu corpo — Isso — afirma resfolegado. Os dedos dos meus pés encolhem e um frio aperta o meu estomago. — Mas nós já fizemos isso tantas vezes. — digo para mim mesma também. — E dai — e me beija outra vez com mais intensidade. Eu fico tonta. — Acho que nunca vou deixar de me sentir assim— minha voz sai estrangulada e eu sei o porquê, estou tremendo de desejo.


Os dedos ágeis começam a se mover nas costas do vestido, enquanto os lábios passeiam no meu pescoço. Pouco depois, o vestido cai. Dou alguns para frente abandonando a nuvem de renda que me cobria. Ele se afasta um pouco para me olhar. Estou apenas de calcinha e sutiã cor da pele, meias finas três quarto e a liga azul na coxa, o presente da Natalie. — Tão Linda — ele murmura com a voz rouca e as pálpebras pesadas, como se estivesse com sono, como se fosse difícil manter os olhos abertos por causa do... desejo. Para mim estava difícil. Daniel umedece os lábios e desfaz o laço da gravata. Meu sexo contrai, eu o quero dentro de mim agora. Muito, muito mesmo. — Tira a roupa rápido — digo impulsiva e me deito na cama abrindo o fecho do sutiã. — Pode apostar minha vida nisso. E Daniel tira o paletó, a camisa, o cinto, a calça e o tênis em um tempo tão rápido que se estivesse sendo cronometrado, entraria para o livro dos recordes, tenho certeza. Gargalho entre ansiosa e divertida. — Tão rápido, senhor Hunter. Ele abaixa para pegar algo na calça. Camisinha. Eu quero muito sentir ele sem nada um dia. Sei que os novos estudos apontam que ele estando indetectável o risco de contagio é praticamente nulo, ainda mais se eu fizer o tratamento pré e ou pós exposição. Eu insisti tanto para ele deixar rolar, nos dar isso de presente de casamento. Mas Daniel é inseguro demais, sei que ele não ficaria tranquilo. Sei também que a minha insistência poderia demonstrar alguma frustração, coisa que não é verdade. Então, parei de insistir. Mas ele concordou em me deixar fazer algo que nunca fizemos antes. Não desse jeito. E eu me sinto ansiosa como se fosse a primeira vez. Acho que ele também se sente assim.


O colchão afunda ao meu lado e em poucos segundos ele esta me beijando. Eu o empurro pelos ombros e ele se vira de barriga para cima, com as costas no colchão. Monto nele envolvendo-o com as pernas. Os meus lábios começam uma viagem maravilhosa pelo pescoço depois, através do peito dele que sobe e desce rápido com a respiração sofrida. Prossigo pelo abdômen definido. Os músculos contraem e Daniel geme conforme me aproximo com a boca do elástico da boxer preta. Com dois movimentos rápidos eu abaixo a boxer liberando a ereção dele. Ainda mais rápida, coloco-o na minha boca. Não quero que ele pense. Não quere que ele hesite. — Nicole, não — ele chega a protestar baixinho. Mas conversamos muito sobre isso, inclusive com o medico que nos acompanha. Daniel fez os últimos exames dias atrás, estou com o tratamento pré-exposição em dia e farei o pós. Risco zero. Diante do protesto dele eu peço, ordeno: — Shh quieto— e o coloco mais fundo na boca. Ele solta um gemido que acho, nunca ouvi antes: é alto e profundo, parece que esta sentindo dor. Estou a ponto de erguer o rosto, será que fiz algo errado? Mas antes de parar arrisco e, junto a língua e as mãos aos lábios e o acaricio por toda a extensão. Agora os dedos dele estão enterrados nos meus cabelos. Ele geme e murmura palavrões em francês, em inglês e repete que me ama. Tenho certeza que está louco de prazer. Ele treme e contrai o corpo erguendo os quadris em movimentos involuntários e senti-lo assim, e vê-lo assim, cheio de tesão é tão bom e tão quente que eu também estou gemendo de prazer, parece que também estou sendo estimulada. — Meu amor, para! — Ele murmura tempos depois — eu vou gozar. Quero tanto que ele goze. Sei que estou segura. Mas, não foi o que combinamos. E eu o respeito. Respeito os nossos limites. Me afasto. — Minha vez — ele diz já me empurrando sobre o colchão. — Abre tudo para mim — Daniel pede dobrando os meus joelhos para cima e para os lados.


Eu quase tenho um orgasmo com o pedido dele. Estou tão pronta, tão excitada que Daniel não precisa se esforçar, em pouco tempo enterro as unhas nos ombros dele e grito o seu nome vendo estrelas. Muitas estrelas. Estou de olhos fechados quando escuto o plástico da camisinha ser rasgado e ele me preenche de maneira lenta e forte. — Eu te amo — Daniel repete entre os movimentos longos, ritmados, fortes e apaixonados, ele repete a cada investida até atingirmos o clímax, praticamente juntos. — Eu te amo — e continua repetindo até nossas respirações estarem mais calmas. Minha cintura é envolvida pelos braços fortes e sou puxada para me aproximar mais. Deito a cabeça no peito dele. Nessa noite, durmo ouvindo o coração de Daniel acelerar enquanto ele canta a musica que compôs para mim, durmo embalada pelo melhor som do mundo: “Ninguém disse que seria fácil, mas saiba, vou voltar para você sempre, vou te amar sempre, vou estar com você todos os dias, todas as noites. E se você pensar em desistir de sonhar, vou te amar ainda mais. Ninguém disse que seria fácil, mas ao seu lado eu sou mais forte, sou a melhor parte de mim quando te amo. Então, vou te amar em todos os momentos bons ou ruins, porque sei que são todos momentos que vivemos juntos, que superamos juntos, que aproveitamos junto que constroem o nosso felizes para sempre.”


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