Revista Balaclava #2

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A BANDA DE JOSEPH TOURTON, ABC LOVE, ALE SATER, CABANA CAFÉ, CÂMERA, CHAMPU, CINNAMON TAPES, CL E A TERRA NUNCA ME PARECEU TÃO DISTANTE, FRABIN, PÚRPURA, HOLGER, HOMESHAKE, JUAN WAUTERS, KILL MO TREES, MARRAKESH, ME & THE PLANT, MEDIALUNAS, MEN PARATI, PLUCKING WINGS, QUARTO NEGRO, RADIATION C SHED, SINGLE PARENTS, SPLASHH, SUPERCORDAS, TERN AND WAYS, TYBURN SAINTS, VENTRE, WALFREDO EM BUSC

Balaclava Records, primeiro semestre 2018 Edição 02.

@balaclavarecords é Fernando Dotta @dotta, Rafael Farah @rafael_farah e Heloisa Cleaver @helocleaver Assessoria de Imprensa: Francine Ramos imprensa@balaclavarecords.com

Direção editorial: Isabela Yu @isabelayu Produção executiva: Heloisa Cleaver @helocleaver Direção de arte: Pedro Gabbay @pedrogabbay

Gostou? Quer anunciar ou conversar com a gente? Mande uma mensagem para heloisa@balaclavarecords.com

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, ALEX BLEEKER AND THE FREAKS, BILHÃO, BONIFRATE, LEARANCE, CRUSADER DE DEUS, DO AMOR, DUCKTAILS, GIOVANI CIDREIRA, GORDURATRANS, HALA, HIEROFANTE OVES, LUZILUZIA, MAC MCCAUGHAN, MAHMED, MANNEQUIN NEIO, MILD HIGH CLUB, MINKS, M O O N S, NUVEN, OMBU, CITY, RØKR, SÉCULOS APAIXONADOS, SENSIBLE SOCCERS, NO REI, THE SHIVAS, THE SOUNDSCAPES, TOPS, TRAILS CA DA SIMBIOSE, WEDDING, WIDOWSPEAK, WINTER,YUCK.

Colaboradores:

Texto, Bruno Brizzi @brunobrizzi Clara Novais @claranovais Isabela Yu @isabelayu

Arte,

Foto,

Lela Brandão @lela.brandao Marilia De Azevedo Correa @mariliamarz Pedro Gabbay @pedrogabbay Popoto Martins Ferreira @popotoraca Rodrigo Lins @rodpalins Lucas Tamashiro @tamashiran

Andreia Takeuchi @andreiatakeuchi Hannah Carvalho @hnnhcrvlh Janis Lima @janisjfl Leo Nones @leonones Nathalia Takeuchi @nathaliatakeuchi Rodrigo Gianesi @rodrigogianesi

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Foto Rodrigo GIanesi @rodrigogianesi

Hugo Noguchi @noguchihugo entrevista Yamazaki Hirokazu

TOE NO BRASIL

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“Conheci eles em 2011, por meio de amigos e uma ex-namorada. Minha cabeça explodiu! Apesar de ter uma relação muito forte com a música brasileira, a música japonesa é muito importante para mim. Tem alguma sensação que eles conseguem passar que é só de lá. Tenho toda uma brisa com isso, até fiz uma música instrumental (Bouken) com a SLVDR sobre esse sentimento. Já escutava algumas bandas que ficaram famosas por causa de anime, como a Asian Kung-Fu Generation e Orange Range – que são legais –, mas o toe abriu uma nova cabeça. Me levaram para esse lugar instrumental, fora de mercado, voltado para sentimentos e ideias. Fiquei fã de Special Others e Mouse on The Keys. Meu japonês é meio porco, então parece que consigo me conectar com alguma coisa que tá perdida no meu inconsciente, no meu passado e que transcende a barreira da língua. Com certeza é uma das bandas da minha vida. Sem contar que é uma grande influência estética, seja de harmonia ou arranjo, a maneira como colocaram elementos do noise nas músicas. Ainda tem o lance da bateria cantando, coisa que a Larissa faz muito… O jeito de acompanhar com o baixo, pego muito deles.”


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toe

Vocês colocaram rap no “Hear You”, certo? De quem é aquele som? De um MC japonês chamado 5lack. Todos os integrantes da banda curtem rap? Não sei... (Risos). É porque eu vi Yama-san com uma camiseta do Run-DMC. Ah, sim! O que vocês acharam do Brasil? Não tivemos tempo de passear, por isso não sei dizer muito sobre o país, mas claro, gostaríamos de conhecer melhor da próxima vez. Sobre o público, ficamos muito felizes que todos gostaram e se emocionaram. toe é uma banda que influenciou muitas bandas do mesmo gênero no Brasil, mesmo sendo de um país tão distante. O que vocês acham disso? Fizemos nossa primeira turnê internacional em 2007 ou 2008, no começo era só na Ásia. Naquela época, nossos discos nem eram vendidos nos países em que a gente ia, então foi muito surreal ver que uma galera conhecia nossa música. Depois percebemos o público consegue ter acesso aos lançamentos sem atraso no mundo inteiro pela internet, então, hoje em dia, não achamos tão diferente.

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toe no brasil

Mas deixando a tecnologia de lado, no quesito emocional, o que vocês sentem quando veem que pessoas de um país tão distante amam suas músicas? Como posso dizer... Quando éramos mais jovens, fomos influenciados por algumas bandas americanas, por exemplo e não pensávamos tanto sobre a distância. Não é como se fosse legal porque é de um determinado país, entende? Claro que ficamos muito felizes, mas não ligamos tanto sobre o fato de ser de um país ou outro. E que bandas americanas vocês gostavam quando eram mais novos? Deixa pensar... Guns’N’Roses (Risos). Vocês conhecem música brasileira? Não conhecemos muito, mas gostamos bastante de Sepultura, porque éramos fãs de extreme metal no ensino médio. Ainda gostamos muito. Ouvi falar que tem muitas garotas montando bandas no Japão. Aqui no Brasil também tem, mas nem tanto. Tem algumas, mas não são muitas. Eles não ensinam música para se tocar em banda nas escolas.

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Trocamos e-mails com o multi talentoso Yuki Kikuchi em fusos trocados, mas cheios de amigos em comum. Isabela Yu @isabelayu

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Foto Yuki Kikuchi @yuki_not_rinko


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yuri kikuchi

O fotógrafo, jornalista, videomaker e músico cuida de lançamentos de discos no Japão, além de fazer shows ocasionais com suas composições autorais. Ultimamente é requisitado como intérprete, além de organizar shows e festas para bandas gringas que estão em tour por lá. Suas fotos de nomes como Mac Demarco, The Garden, Homeshake e Frankie Cosmos lhe renderam boas histórias e posts de retribuição igualmente dedicados.

Qual é a sua primeira memória sobre música? Não é uma resposta muito interessante, mas de canais infantis e músicas de animes. No canal da Hello Kitty tinha uma música tema sobre onigiri, chamada “Onigiri Paradise”, e eu não conseguia tirar a frase da minha cabeça. O que música significa para você? Algo completamente sério, a vida de qualquer um é enriquecida por música. Como a maneira que você vê a vida, seu estilo e quem você anda junto. Conheci amigos que confio e tive experiências que nunca vou esquecer graças a isso. Acho que é como o sol e a lua – tem uma escala absoluta, além de iluminar a vida.

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konichiwa Quais são suas melhores e piores memórias de shows? Melhor: Mac Demarco na Georgia, no ano passado. Entrei no palco e cantei “Hey Nineteen”de Steely Dan com ele. Perguntei o que a letra significava e Mac disse que era sobre cocaína colombiana. Pior: Não sei se eles ainda tocam, mas um show de um banda japonesa chamada Tenkosei. Eles não eram quem eu queria ver, mas o vocalista começou a chorar no meio da primeira música. Depois jogou o microfone com força no chão, foi embora e não voltou mais . Poderia dar uma dica musical? Uma banda coreana chamada Parasol e um cantor folk japonês chamado Mei Ehara. Quando alguém está em tour pelo Japão, onde deve ir? Um lugar chamado Shichimencho na área de Koenji, em Tóquio. São super tradicionais. Um outro lugar legal é a rede de rámen Tenkaippin, eles tem macarrão espesso e saboroso. Algumas pessoas dizem que tem gosto de concreto, mas eu realmente amo. Quando você começou a ir em shows? Não sei quão diferente o Japão é de outros países, mas ir à shows aqui – especialmente se bandas locais estão tocando – precisa de coragem. Isso acontece porque há comunidades bem fechadas. Então quando eu estava no colegial, com 16 anos, ia em shows de bandas que eram dos Estados Unidos e do Reino Unido.

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yuri kikuchi

O que você mais gosta sobre jornalismo musical? Acho importante ter um ponto de vista jornalístico. Uma das maiores razões que continuo fazer o que faço é para que mais pessoas conheçam música. Escrevi matérias por bastante tempo, agora, tento aplicar meu ponto de vista como jornalista de uma maneira em que as palavras andem com as fotos. Imagens são visuais, então quero fazer uma documentação da cena musical que amo e mostrar toda a energia das pessoas que fazem parte dela.

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ENVO


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Dona da imagem marcante por trás de “Bonde da Pantera”, um dos nossos clipes favoritos dos últimos tempos, a cantora, funkeira e letrista dividiu um pouco de seu tempo conosco.

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mc tha envolvida

Quando você percebeu que ia trabalhar com música? Nunca tive esse momento de pensar em trabalhar com música. Do lugar onde nasci (Cidade Tiradentes), as pessoas diziam que era impossível. Escrevo e canto desde pequena, mas comecei a rimar quando o funk passou a migrar para São Paulo. Uns amigos colocaram uma base na minha voz, lançamos algumas coisas, arranjamos shows… Foi nessa época em que pensei que deveria profissionalizar a coisa toda. Fiz muito show de rua, mas parei com tudo aos 17 anos, quando fui estudar jornalismo e trabalhar em um projeto social do Estado – onde fiquei até ano passado. Seis anos depois, volto pra música misturando as coisas que aprendi.

Suas músicas misturam ritmos brasileiros, com destaque para o funk. Como é se encontrar no funk melódico, enquanto o pesadão se torna mais frequente? Sempre escutei que precisava cantar agressivamente, ou que minha voz era muito suave, que não sabia dançar, minha roupa não tava legal e que os homens queriam me ver com a bunda de fora. Quis fazer algo diferente desde que comecei a escutar funk. Acho que meu divisor de águas foi ter começado a estudar, porque sai do meu bairro e passei a me envolver com outras pessoas. Foi um rompimento difícil, mas acho que só entendi que ia fazer as coisas do meu jeito em “Olha Quem Chegou”. Quando voltei a cantar, a ostentação estava estourando. Fico feliz quando alguém do meu bairro diz que gosta do que eu faço.

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Qual é o seu signo? E como rola o processo de encaixar a batida na sua voz? Sou touro com ascendente e lua em sagitário. As pessoas surgem no meu caminho, assim como as músicas. Por exemplo, “Valente” é uma coprodução com o Nobru, meu DJ, junto do Pedrowl. Não sou de ficar em cima quando mando letra porque gosto de deixar espaço para o outro criar.

Percebi que você tem uma relação muito aberta com seus fãs sobre Umbanda. Sempre foi assim? Sinto uma boa recepção. Mesmo dentro do meu terreiro, vejo pessoas mais velhas e mesmo assim elas se escondem dos familiares. Acho importante que as pessoas saiam do armário.

Você pretende trazer temas desse universo para as suas músicas? Tenho uma música que se chama “Ritmo de Passar”, que vai sair no meu próximo EP. Ela fala sobre as fases da vida, as horas que estamos bem e depois caímos no nada… Uso as forças da natureza, representadas pelos orixás, para falar sobre isso.

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Acompanho uma produção massa de clipes e até sinto uma cobrança entre os próprios artistas para lançarem conteúdo em vídeo. Como você entende isso? A internet proporciona proximidade com o artista. Você vê imagens o tempo todo nas redes sociais. Quem te segue quer saber a história daquela música, como você tá… Por exemplo, “Valente” é uma música poética com batidão, então não queria um clipe agito. A ideia precisa ser simples para prestarem atenção na letra. Não tenho problema em publicar uma foto super produzida e uma toda cagada em seguida. Nunca entrei nessa de ser uma pessoa perfeita, prefiro afirmar quem eu sou. Não me acho sensual e não sei dançar,“Bonde da Pantera” é resultado das minhas vivências.

O que você anda escutando? Sou de viajar nas coisas que já existem, como na Tropicália. De recente, o álbum “Ascensão”, da Serena Assumpção, que fala sobre os orixás. E o “Pajubá”, da MC Linn da Quebrada. Lembrei de um último: “Brasileirinho”, da Maria Bethânia.


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Bruno Brizzi @brunobrizzi

Foto Leo Nones @leonones

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“Você não pode assumir que gosta de Cyndi Lauper se você é um jovem rebelde” diz RØKR Isabela Yu @isabelayu Foto Hannah Carvalho @hnnhcrvlh


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Diretamente do “país” Recife, terra dos contemporâneos Kalouv e dos icônicos Ave Sangria, o produtor Roberto Kramer apresenta seu RØKR. Fato curioso: o projeto solo do músico é a quarta banda assinada na história da Balaclava, depois de Single Parents, Medialunas e Cabana Café. Atualmente, Roberto faz shows pelo país acompanhado dos músicos Bruno Saraiva e Saulo, ambos da Kalouv, onde, inclusive, se apresentam no tradicional Festival Bnanada, em Goiânia.

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A relação dos rapazes é antiga. Antes de se mudar para o Canadá, em 2013, Roberto foi responsável pela gravação e mixagem de “Pluvero”, segundo disco da Kalouv. Já dividido entre Vancouver e Montreal, estudou sound design, gravou 50 músicas – “jogou a maioria fora” – e se organizou para concretizar seu primeiro disco, lançado no fim de 2017. Hoje em dia, começa a compor no teclado, desenvolvendo faixas que podem demorar semanas ou meia hora para ficarem prontas.


balaclava “Fiquei menos agressivo de uns anos pra cá”, comenta sobre seu processo. O músico participou da geração do hardcore melódico, sendo fã de bandas como Millencolin e Blink 182, mas encontrou “calma” com a idade avançando. Parte da juventude roqueira, se considerava um daqueles moleques que ficavam noiando na guitarra durante o dia todo. “Não me sinto mais instigado a tocar punk”, desabafa.

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Suas músicas são fundidas entre os sons da adolescência, música progressiva, meth rock e a amada Antena 1. “Não sabia fazer aquele tipo de música. Você não pode assumir que gosta de Cyndi Lauper se é um jovem roqueiro. Você fica velho e vê que é bobagem se prender a essas coisas”.

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RITMO PROFUNDO Isabela Yu @isabelayu Foto Takeuchis @takeuchiss


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Com nome de filme de sessão da tarde, introduzimos nossa grandíssima baterista Larissa Conforto. Não que não seja verdade, qualquer um que já presenciou uma performance da musicista sabe do que estamos falando.

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O sentimento, a presença e a vontade estão lá. De se encher os olhos de água, Lari é pura inspiração. Seja pelo talento ou pela conversa, poucas pessoas possuem um ritmo cravado e atitude como a dela. Sobrevivente de diversas transformações e alguns infortúnios do destino, ela precisa do palco para existir e das baquetas para se expressar. Não a perca de vista!


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larissa conforto

Para dividirmos nossa capa, convidamos 8 pessoas que conhecem a Larissa para enviarem perguntas.

AÍLA Ser instrumentista mulher nos tempos de hoje é resistência. Somos estimuladas a ocupar papéis tradicionais de “divas cantoras” e não de bateristas, baixistas, guitarristas... O que você acha que falta para estimular mais mulheres a tomarem a frente dos instrumentos? Acho que é coisa de criação. Dei aula para mulheres e tinha apenas um aluno. Via essa diferença gritante. Os brinquedos na infância para meninas são coisas para casa, arrumação, bebê, limpeza. Tudo certinho, como uma receita de bolo. O menino é estimulado a bagunçar, sujar, reinventar e ousar. A gente é estimulada a ser bonita e perfeita. Sempre tive bandas com amigas, mas com o passar do tempo, passei a tocar sozinha. As meninas desistem porque percebem que não são perfeitas. E acabam frustradas. Tento estimular, mas falta uma criação diferente. Precisamos sair desse estigma.

Você sempre curtiu os tambores? Quem te incentivou a tocar bateria? Sempre curti. Meu primeiro instrumento foi uma bateria. Comecei a tocar com 13 anos. Gostava de Slipknot e queria ser o Joey Jordison. Deftones, Incubus… New metal foi uma grande influência. E Nirvana, claro. Minha avó materna foi a primeira pessoa que me incentivou, disse que pagava minha aula escondido dos meus pais.

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ritmo profundo

BELLS DELFIOL Você se mudou do Rio para São Paulo, de um apartamento com uma amiga para uma casa enorme entre várias pessoas. Dentro de todo esse processo de mudanças, o que mais te surpreendeu? Antes de mudar de uma casa pequena, eu era aquela pessoa que recebia gente. Tinha o estúdio, fazia eventos, como uma matriarca. Agora, posso ser mais uma. Todo mundo recebe todo mundo. Sinto falta da praia, dos amigos e da conexão. A noção de lar mudou, mas ficar no conforto nunca é bom.

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CECÍLIA WILL Eu, como várias conhecidas, já pensei que o caminho artístico não era pra mim. Te conhecer mudou completamente meu pensamento. Como você se sente ao saber que inspira outras manas à seguirem o caminho das artes? Tem uma parede no meu quarto com coisas que ganhei em shows. A maioria são desenhos de meninas. Um deles é seu, no meu aniversário, no dia em que a minha avó morreu. Você foi a primeira pessoa a chegar. E ainda com esse desenho falando “foi você que me inspirou a fazer as minhas artes”. Isso é muito especial. Sofri um trauma muito cedo. Acho que não estaria viva se não fosse a música. Foi o que me fez ficar forte, crescer e querer viver. Vale por mil vidas no mundo saber que posso fazer isso por outras mulheres. É foda.

O que você tentaria salvar se sua casa estivesse pegando fogo? As minhas baquetas. Tenho um lugar com várias de todos os bateristas do mundo que consegui encontrar. Sou a taurina que guarda coisas – são várias caixas de sapato etiquetadas com memórias…

DIEGO SOARES ARCANJO Existe alguma possibilidade ou até plano pra vermos, em breve, Larissa Conforto em um formato incomum? Sim, estou juntando algumas composições. Nunca vou largar o tambor, mas a ideia é tocar várias coisas e me desafiar. Não é rock. Polemizei.

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ritmo profundo

ÍCARO GORRI Quem são suas principais influências femininas na área instrumental? Muito raro. Mulher instrumentista, principalmente baterista. A primeira que vi foi a Cindy Blackman, que toca com o Lenny Kravitz e é mulher do Santana... Acho que uma referência feminina muito forte é a Marisa Monte. A Kim Gordon, mais pela questão do conceito do que pela tocada, por ser mais artista do que instrumentista. A Fiona Apple! Ela é uma compositora e instrumentista insuportavelmente foda.

GUILHERME GUEDES O que você acredita que acontece após a morte? Complexo. Acabo de entrar na umbanda, então, acredito que essa morte não é única. A gente também não é o único corpo em que a nossa consciência habitou, ela se desdobra em muitas dimensões e realidades.

Tocar bateria em uma banda é conduzir seu som. Tenho a impressão que você faz isso de uma forma mais livre, mais solta do que outros bateristas de rock. Enquanto guia a música, você também passeia por ela, enriquecendo os arranjos. Você concorda com isso? Concordo. Na verdade, valorizo uma abordagem livre e intuitiva da bateria. Tento fazer isso quando ensino. Entendo a bateria como uma célula rítmica e busco desconstruir entre os tambores. De forma em que a música respire. Mas isso tem a ver com o fato que gosto muito de bateristas de jazz que tocam rock. E bateristas que tocam com guitarristas. O batera que toca com baixo é quem segura o groove. O batera que toca com a guitarra é quem faz floreio e melodia. Sou da escola da bateria melódica.

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LIEGE MILK Desde que nos conhecemos, no Bananada de 2013, nossas vidas e projetos seguiram diferentes cursos. Voltamos a nos encontrar em janeiro deste ano, no Girls Rock Camp de Porto Alegre. Você consegue pensar nos cinco acontecimentos mais marcantes e transformadores desse tempo? Conheci o José Pasillas e fiz até entrevista com ele. Toquei no Lollapalooza pela segunda vez e minha banda também acabou pela segunda vez. Conheci o Norte e o Nordeste, algo que realmente mudou minha visão do Brasil. Consegui entender minhas origens e um monte de coisas sobre mim. Viver essa primavera das mulheres. Lia sobre o feminismo e já pensava coisas. Mas chegar em cidades e falar com outras mulheres foi algo inédito. Sentar a bunda pra conseguir dar aula e criar um método meu, a “bateria intuitiva”.

THIAGO PETHIT Você já esteve em muitos lados do mercado musical: trabalhou em gravadoras, toca com artistas independentes e têm seus projetos. O que te dá mais prazer e qual é a parte mais difícil? Meu maior prazer é subir no palco. Ficava muito deprê quando não podia fazer isso. Mas também só posso porque fiz de tudo antes. Aprendi muito tomando porrada. Trabalhei em duas gravadoras muito diferentes. De coisas como Maria Bethânia até Naldo. Se tenho coragem de subir no palco pra falar um monte de coisa em que acredito é porque aprendi com um muita de gente. Qual música você tocaria para o resto da vida? Fudeu. Seria “Manic Depression” do Jimi Hendrix – uma das minhas favoritas.

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e aeeee!! se preparem que essa história aqui é um clássico!

Tudo começou com a nossa banda indo pela primeira vez fazer um show no rio.

eu tava muito animado!

quadrinho

bom, pelo menos eu e o chello.

foi um show pra poucas pessoas, mas acabou sendo bem legal.

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chello tava inspirado nos vocais e eu também toquei um baixo sinistro. dava pra ver que a galera tava curtindo.


depois que acabou, a gente ainda tava na pilha, mas ninguém tava a fim de fazer nada, todo mundo querendo dormir.

ah, não...

eçado! eu a noite não tinha nem com encher a mos eça com e o chello er. a cara e partimos pro aft

pegamos praticamente todo o dinheiro do show e mais uns trocados e compramos breja e whisky pra todo mundo.

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na real eu nem sei se o pessoal queria a gente lá.

os os e fom uito louc rolando. m s o m a c fi va que ta só que festinha pra uma

mas chegamos com todo o arsenal.

be

, chello!

s um cop

caraa

viiiiiiiiiish hhhh

aa!1

quadrinho pô, filhote, tô de boa!

m...só mais

tá boooo

um.

aa h bora desc entã ....aqui

r

...

se p á de ix p em ras lá ixo.

as

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ih, pode crer!

bora! ep tem um arece que pe embaix ssoal lá o tamb ém.


boa noite! boa noite!

como a gente tem a brisa de fazer o lado b das festas, ficar na rua com a galera era realmente um rolĂŞ bem mais legal.

sĂł que e

u jĂĄ tava

muito mal.

..

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uma hora sentamos em roda e complicou.

ó, essa parte é importante!

antes da história continuar, tem uma coisa que vocÊs precisam entender sobre mim. quando eu tô mal assim, com o pt já batendo na garganta, eu costumo ficar numa posição especial pra não vomitar. chamo ela de

e foi bem nessa hora, eu sentado todo ruim na healing position, minha única esperança de não dar um vexame ali na frente de geraL, QUE APARECEU ESSA MINA.

quadrinho

healing position. eu pensei que ela fosse falar alguma coisa no meu ouvido.

maaaas, ao invés disso, cara...

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eu sei lá, na real.


ELA

LAMBEU MINHA ORELHA

ÃO Tinha cima EU N IO. r o p a d IS! e ain QUILÍBR OI DEMA NTER O E meu, AÍ F condição DE MA nenhuma

não teve co

mo.

e depois disso eu obviamente não lembro é de mais nada galera! falou pra vocês! @mariliamarz

já eu, não vou esquecer um fim de rolê sensacional desses tão cedo!

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FRIENDLY


BUSINESS


beach fossils

Dustin Payseur começou a lançar músicas em 2009, no Brooklyn, em Nova York. Viajou o mundo com o Beach Fossils, se casou e abriu um selo independente. Comanda a Bayonet Records ao lado da esposa Katie Garcia, onde passou a lançar trabalhos de outros músicos, como os muito estimados Jerry Paper e Frankie Cosmos. Isabela Yu @isabelayu

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friendly business

Você tem algum instrumento que está curtindo muito agora? Troco de instrumentos para manter as ideias frescas. Tenho tocado com o Prophet 6 e o Maschine.

Como seu processo de composição mudou ao longo dos trabalhos? Estou sempre ouvindo novos sons e diferentes gêneros. Absorvo tudo e tento deixar isso voltar sem nenhuma interferência pessoal no processo. Costumava escrever em tours. Muito do EP “What a Pleasure” foi escrito e gravado em vans ou hotéis. Ficava louco por não ter nenhum tempo sozinho. Agora, ou estou em turnê, ou em casa produzindo – preciso da separação.

Você sente uma pressão para renovar seu som? Sempre quero me reinventar. Não é uma pressão externa porque faço isso apenas por mim, então quero crescer como artista para me satisfazer. Sinto a necessidade de gravar músicas.

Você era uma criança que amava selos de música? Sempre amei alguns selos, como Crass, Dischord, 4AD – eles realmente me inspiraram para começar o meu. É difícil dizer os cinco favoritos, mas alguns contemporâneos de que gosto são: Lobster Theremin, Young Turks, R&S, XL e Stones Throw.

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friendly business

O que você aprendeu sendo um artista na Captured Tracks que queria corrigir ou manter na Bayonet? Amava estar com a Captured Tracks, eles são como família. Não queria sair por nenhum motivo além do fato que queria fazer um lançamento próprio e também lançar artistas com meu próprio selo. Era meu grande sonho. Transparência é a coisa mais importante, tenha certeza de que o artista sabe de tudo o que acontece. Só lanço artistas que sinto que posso ser amigo, além de estar constantemente procurando novos gêneros.

Qual é a melhor e a pior coisa de se ter um selo independente? A pior é todo o trabalho por trás de um disco, aquelas as partes chatas que ninguém quer falar sobre. A melhor é quando você está finalmente com o trabalho nas suas mãos e sabe que valeu a pena.

Você recebe muitas demos? Como que escolhe os lançamentos da Bayonet? Recebemos, mas normalmente achamos artistas pelo boca-a-boca. Nossos amigos comentam sobre alguns nomes que viram em tours, ou alguém que conhecemos está começando um projeto novo. Odeio a ideia de gêneros ou pessoas venerando um estilo de música. Eu amo rap, house, punk, ambiente, qualquer coisa. Ouço tanta música que quero lançar uma variedade grande.

Na foto. Jack Doyle Smith, Dustin Payseur e Tommy Davidson.

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LAND OF TALK Banda canadense emociona qualquer um disposto a escutar as composiçþes delicadamente pensadas de Elizabeth Powell.

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Isabela Yu @isabelayu Foto: Tyler Knight-lore

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O currículo da musicista e compositora canadense Elizabeth Powell é tão extenso quanto seu imenso talento em comandar a Land of Talk. Alguns de seus parceiros criativos e colegas de tours dos últimos anos: Sharon Van Etten, Bon Iver e Steve Shelley.

Está na estrada desde 2006, quando começou a fazer shows em Montreal, com o grupo que conta com Bucky, Pietro e Laurie nas apresentações. Tem três discos e alguns EPs lançados – todos igualmente recomendáveis –, mas no meio do caminho sentiu a necessidade de uma pausa. O break lhe rendeu sete anos fora dos palcos e um retorno emocionante com o disco “Life After Youth”, em 2017. Elizabeth compensou o tempo afastada com 10 músicas inéditas que sinalizam sua nova fase criativa e seu espaço como artista na velha cena indie.

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Você se lembra da primeira vez que fez um show?

Não lembro exatamente do momento, mas sei que não me sentia tão à vontade o quanto eu me sinto agora. Tenho uma conexão mais forte com a minha guitarra, além de me sentir muito menos segura sobre minhas músicas ou como as pessoas me veem. Como está sendo a tour do último disco?

É lindo voltar à estrada. Tive a sorte de dividir o palco com grandes bandas como Half Waif, The War on Drugs, Casper Skulls, Forthwanderers, Girlpool, Pure Bathing Cult, American Football, só para dizer algumas. Você sente que é um cenário diferente desde “Some Are Lakes”?

Sim! Não sou mais uma “mulher na música”. A cena não é mais comandada pelos dinossauros do clubinho dos homens brancos. Vejo uma presença maior de mulheres, não-binários e negros – o que deveria ter acontecido há tempo. O que não sai da sua playlist atualmente?

Julianna Barwick, Kurt Vile, Playboi Carti, Ian Sucks, Saweetie, Jo Passed, Weaves, Forthwanderers, Cardi B, Tame Impala, Oki, Princess Nokia, The Wild Ones, Genders e Sunbathe. Você sente alguma mudança na maneira como você concebe uma música?

Meu processo permanece o mesmo – longo do começo ao fim. Estou sempre escrevendo várias músicas ao mesmo tempo e nunca forço ideias. Deixo elas nascerem para se tornarem algo depois.

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Hinds Noches de Garajera


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“Por que isso seria ruim? Você poderia escutar dando uma cagada e nós vamos continuar te amando”. Essa foi a resposta publicada no Twitter da Hinds a um fã que compartilhou se era errado escutar as músicas da banda na academia. Clara Novais @claranovais Foto Neelam Khan Vela @neelastic e Alberto Van Stokkum @avanstokkum

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noches de garajera

Com Carlotta Cosials e Ana Perrote nos vocais e guitarras, Ade Martin no baixo e Amber Grimberen na bateria, o grupo sabe bem mesclar afeto e ternura com uma boa dose de irreverência. Na estrada desde 2014, a banda lançou seu segundo disco, “I Don’t Run”, em abril. “Tocamos muito as mesmas músicas por quase quatro anos e tínhamos muita vontade de, enfim, fazer uma hora completa de show”, celebra Amber. A brincadeira das artistas durante os dois shows no Brasil – São Paulo e Recife – era que a apresentação seria curta. Na ocasião, tocaram a inédita “New For You” – a união perfeita entre os dois trabalhos lançados. “Como se fosse a nossa nova cara com um pouco do passado”, justifica. Lançado em janeiro, o clipe tem um carinho especial. “Ele foi dirigido e montado por Carlotta. Além disso, todos os nossos amigos participam – o que foi muito divertido – e ainda jogamos futebol o dia todo.”

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A letra da música fala sobre se tornar uma pessoa melhor para alguém que você ama. Em todas as faixas, aliás, falam sobre situações vividas em relacionamentos. Desde esse sentimento de felicidade da primeira música até o questionamento “Should I’ve known before you were also baging her?” (“Eu deveria saber antes que você também estava transando com ela?”) feito em “Tester”, uma das mais ácidas do registro. As guitarristas são as principais letristas da banda, mas as quatro participam do processo de composição. “Normalmente, criamos as músicas no ensaio. Depois, Carlotta e Ana fazem a melodia na guitarra e aperfeiçoam as letras”, explica. Em entrevistas recentes, revelaram que finalmente tomaram coragem para escrever sobre experiências pessoais. “É difícil, pois você se sente vulnerável. Todo mundo está escutando o que você passou. Mas é muito bonito poder compartilhar isso”, comenta. O segundo single é ‘The Club’, faixa que abre o disco. Dirigido por Matthew Dillon Cohen, o clipe foi gravado em uma estação de ski em Connecticut, nos EUA. “Estamos muito orgulhosas dela. Pensamos que [a mensagem] era justamente o contrário [da anterior]. Algo como: aqui estão as novas Hinds!”.

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De fato, o amadurecimento da banda já fica nítido nos acordes iniciais da guitarra, que lembram a vibração de “Reptillia” e “12:51”, dos Strokes. Não tinha outra, “I Don’t Run” foi coproduzido por Gordon Raphael, um dos responsáveis pela produção de “Room On Fire”. A ligação do quarteto espanhol com o quinteto norte-americano nessa nova fase não para por aí. Dividiram uma tour de 6 shows com o guitarrista Albert Hammond Jr, que acaba de lançar seu quarto disco solo, “Francis Trouble”.

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balaclava

O momento de agora é aproveitar a nova turnê pelos EUA e Europa, programada para acabar em agosto, no Leeds Festival, na Inglaterra. Cansadas de apresentar o primeiro álbum, o plano é incluir todas as músicas novas no set list junto aos hits de “Leave Me Alone”. Enquanto elas não voltam para shows no país, o jeito é curtir as novas músicas em uma festa com os amigos, fugindo da bad no trabalho ou, como elas mesmas sugerem, “dando uma cagada”.

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A ARTE PODE SER CABELUDA …e cheia de camadas, assim como uma alcachofra. Mas a gente descasca pra você. A Artichoke é uma newsletter de crítica de arte do grupo Monkeybuzz. São resenhas acessíveis para todos os que se interessam em pensar sobre a arte contemporânea. Semanalmente, utilizando uma linguagem clara, falamos de cinema, artes plásticas, teatro e dança. Direto no seu e-mail. De graça. Sem medo de corações peludos.

www.artichoke.com.br


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UMA EM


TARDE CURITIBA


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Visitamos a banda durante as gravações do clipe de “Moonhealing”. O disco “Cold as a Kitchen Floor” já estava gravado e pronto para ser lançado. Janis fotografa com filme analógico há sete anos e já documentou incontáveis histórias. Promovemos esse encontro. Fotos de Janis Lima @janisjfl.

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@justbecauseimbrownie


Allah-Las, Beach

Aquaserge, Fossils,

AVAN

Buffalo

Moon,

LAVA, Chad

Valley, Clearance, DIIV, Future Islands, HALA, Homeshake, Jerry Paper, Jonathan Toubin, Mac DeMarco, Mac McCaughan, Mashrou’ Leila, Mild High Club, Noga

Erez, Nosaj

Thing, Pinback, Primal Scream, Real Estate, Sebadoh, Shabazz Palaces, Slowdive, Sun Kil Moon, Swervedriver, The Shivas, toe, TOPS, Tycho, Un Planeta, Washed Out, WAVVES, Widowspeak,

Whitney,

Yonatan

Gat,

Vieram ao Brasil através do selo.

Yuck.


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