MINISTÉRIO DA CIDADANIA E OI APRESENTAM:
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REALIZ AÇ ÃO >> BROUGHT BY
PATROCÍNIO >> SPONSORSHIP
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A ARTE DA INCONFORMIDADE
Roberto Guimarães
A 14ª edição do Multiplicidade foi aberta em setembro de 2018, mês que começou com a tragédia que devastou o Museu Nacional, um dos maiores patrimônios de conhecimento do Brasil. Incêndio que destruiu não só a construção secular da Quinta da Boa Vista, mas que trouxe à tona, da pior maneira possível, a fundamental discussão sobre história/memória/construção de cidadania. Nesse mesmo setembro, enquanto o Centro Cultural Oi Futuro era ocupado pelo Multiplicidade, um empreendimento imobiliário de proporções gigantescas crescia ao redor de nosso prédio, devendo mudar, para sempre, a paisagem dos bairros do Catete e do Flamengo. Dessa forma, o tema do festival – Espaços Utópicos – tornou-se mais pertinente do que nunca. Entre as grandes atrações do Multiplicidade, estava a instalação Tape, criada especialmente para o Oi Futuro pelo coletivo Numen, sediado em Berlim. O penetrável, construído com fita adesiva, atraiu uma multidão de espectadores, alavancando a audiência do festival, que bateu recorde de público em 2018 e tornando a obra de arte uma das mais fotografadas do ano. O Numen espalhou-se também pela sede do Instituto dos Arquitetos do Brasil RJ, criando um circuito de visitação entre os dois prédios vizinhos. Além do IAB-RJ, o Multiplicidade ocupou lugares da cidade ainda inexplorados pelo festival em sua história de sucesso, como a Sede das Cias e a Fundição Progresso (durante o Festival Colaboramerica) e o LabSonica, novo laboratório de experimentação artística do Oi Futuro. A melhor característica do Multiplicidade sempre foi a inquietação. A vocação da curadoria, desde a origem, foi refletir o seu tempo. Discutir as cidades, o mundo e as possíveis utopias dos cidadãos, durante os 85 dias de programação, só fez reforçar a força da arte contemporânea no mundo conturbado de hoje. Pensar sobre lugares possíveis versus lugares desejados, com sons e imagens que reverberam para além da instantaneidade, só fez ajudar, a cada um de nós, a existir/resistir de um modo melhor. Roberto Guimarães é carioca e apaixonado por teatro. Atualmente, é Gerente-Executivo de Cultura do OI FUTURO. Está no Oi Futuro desde a sua fundação, em 2001, onde atua também como Curador de Artes Performáticas. 8
THE ART OF NONCONFORMITY The 14th edition of Festival Multiplicidade opened in September 2018, the month that began with the tragedy that ravaged the National Museum of Brazil, one of the country’s greatest heritage sites. The fire destroyed not only the centuries-old construction of Quinta da Boa Vista, but also brought to the fore, in the worst possible way, a fundamental discussion on history/memory/construction of citizenship. That same month, while the Oi Futuro Cultural Center was receiving Festival Multiplicidade, a gigantic real estate enterprise grew around our building, to forever change the face of the Catete and Flamengo neighbourhoods. Thus, the theme of the festival – Utopian Spaces – became more relevant than ever. Among the great attractions of the festival was the installation Tape, created especially for Oi Futuro by the Berlin-based Numen collective. The penetrable, made with adhesive tape, attracted a great number of visitors and made the festival beat record audience ratings in 2018. Tape was one of the most photographed artworks of the year. Numen also exhibited at the headquarters of the Institute of Architects of Brazil in Rio de Janeiro (IAB-RJ), creating a flow of visitors between the two neighbouring buildings. Besides IAB-RJ, Multiplicidade occupied two places of the city that had not yet been explored by the festival during its successful existence, like Sede das Cias and Fundição Progresso (during Festival Colaboramerica) and LabSonica, the new laboratory of artistic experimentation of Oi Futuro. The greatest feature of Multiplicidade has always been its restlessness. The curators’ mission was from the beginning to reflect on their own times. Discussing the cities, the world and the possible utopias of its citizens, during the 85 days of the festival, has only reinforced the strength of contemporary art in today’s troubled world. Thinking about possible places versus desired places, with sounds and images that reverberated beyond their instantaneousness, has greatly helped each of us to exist/resist in a better way. Roberto Guimarães (Rio de Janeiro) is passionate about theatre. He is currently Oi Futuro’s Culture Executive Manager. He has been working at Oi Futuro since its founding in 2001, where he also works as Curator of Performing Arts.
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IMAGINAR É UMA PODEROSA FERRAMENTA DE TRANSFORMAÇÃO
Batman Zavareze
“ Acordar não é de dentro, acordar é ter saída.”
Auto do Frade, João Cabral de Melo Neto
1 A imagem da pedra remete ao poema Uma pedra no meio do caminho (1928), de Carlos Drummond de Andrade.
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No meio da travessia, tinha uma pedra1. Pedra que demarcava territórios distintos e polarizados, negativos e positivos, com amor e ódio, com paz e guerra. De um lado o branco; de outro, o preto. A ausência e a soma de todas as cores, lado a lado, representando nossas afinidades, contrastes, correspondências e contradições. Se no meio do caminho tinha uma pedra, era preciso transpô-la. Era preciso caminhar. Era preciso atravessá-la. Era preciso ter resiliência para seguir adiante. Tinha uma pedra no meio da travessia e o #MULTIPLICIDADE2018 apostou na projeção do espaço-tempo através da arte. Desde a Grécia Antiga, a busca por alternativas de sociedade perpassou a literatura e a arte, revelando outras narrativas: do distópico ao quimérico. Depois de transpor-se para 2025 – num exercício futurístico de antevisão, ao completar em 2015 uma década continuada –, foi o tema ESPAÇOS UTÓPICOS que norteou nossas ações em 2018. Em tempos incertos e de tons sombrios, nosso mote foi o RESISTIR e o EXISTIR como única saída [EXIT]. A força e visualidade destas palavras foram o motor, o catalisador desta edição, pois como bem apontou o poeta Torquato Neto nos anos 70, “as palavras não são armas inúteis”. Desde sua primeira edição, o MULTIPLICIDADE é atravessado pelas reminiscências das tecnologias do passado e pelo desejo das tecnologias futuras. Mas, no presente, o corpo humano ainda é o que está por trás de todas as invenções, tentando sempre RESISTIR e buscar novas formas de EXISTIR num cenário à deriva. Ao longo de 14 anos, apresentamos obras que aspiram a um lugar melhor do que o aqui e o agora. Como de praxe, a programação sempre é extremamente variada, composta por artistas de diferentes horizontes e origens, e investiga como os escapes pela arte são plurais. A escolha por repertórios híbridos e indisciplinados acompanha o MULTIPLICIDADE desde sua origem. Por mais distintas que sejam suas linguagens, os trabalhos aqui reunidos são peças fundamentais num labirinto que tenta compor caminhos de utopia, insistência e romantismo poético. Em 2018, com Iceberg, obra de Fernando Velázquez que se desdobrou numa impressão gráfica de grandes proporções e numa instalação VR, o espectador pode refletir
sobre essa montanha de gelo, e sobretudo sobre como ela se assemelha à nossa consciência, na medida em que só acessamos uma pequena parte desta, e outra fica submersa, oculta. O octogenário Phill Niblock nos honrou com sua presença, apresentando Environment Series ao vivo, e com a participação especialíssima de Livio Tragtenberg. Depois, tivemos a oportunidade única de apresentar seu grandioso The Movement of People Working, um cinema expandido que mostra o movimento coreográfico dos corpos de trabalhadores mundo afora, nos revelando não só imagens estonteantemente belas, como um mundo construído graças ao trabalho de muitas mãos juntas. Muros desabam, bairros se transformam, cidades cedem à gentrificação. Cabe a nós reinventá-las, para que, através delas, possamos ressignificar paisagens imaginárias, em busca de futuros viáveis. Foi com isso em mente que Pedro Varella concebeu suas ações no pátio. Uma forma encontrada para deslocar o olhar do espectador e questionar seu entorno e sua própria posição. Pedro propôs novas formas de ver, sempre remetendo ao passado. O coletivo NUMEN permite ao espectador entrar em contato consigo mesmo e com tantos outros sentimentos. Tape é uma obra de camadas, literalmente, posto que era feita de muitas e muitas passadas de fita adesiva. E também, por muitas e muitas mãos. Uma equipe de 15 pessoas construiu a obra em dois sítios e 10 dias, usando 32 km de fita adesiva. Deslocamento, pausa, afeto, desconexão. Essa escultura monumental com ares de casulo ou de útero permitiu ao visitante um hiato no dia a dia, vivenciar a coragem de penetrar em um ambiente que parecia frágil, e, uma vez ali dentro, experimentar o tranquilo prazer da suspensão. Fitas durex do nosso dia a dia que foram ressignificadas numa escultura penetrável que jovens de todas as idades puderam vivenciar, tirando-os do lugar de espectador passivo e contemplativo. Tape ganhou interesse especial das crianças, que se encantaram
com a descoberta de um espaço inédito. Arte e vida se confundindo de forma lúdica. O MULTIPLICIDADE propôs ao público outras formas de pensar, estar e habitar o espaço comum. A saída que nos moveu não aponta necessariamente para fora. Há saídas possíveis por entre e para dentro. Por fim, é importante lembrar que as saídas propostas por Espaços Utópicos, só se fazem possíveis graças a todxs que resistem juntos, livres e leves, pois ninguém larga a mão de ninguém. Batman Zavareze é carioca e artista visual. É fundador, diretor e curador do Multiplicidade, festival de arte e tecnologia que existe há 15 anos continuados e que já apresentou mais de 500 performances com artistas do mundo todo.
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IMAGINATION IS A POWERFUL TRANSFORMATION TOOL
Batman Zavareze
“ Awaking is not from within Awaking is having a way out”
Auto do Frade, João Cabral de Melo Neto
In the middle of the road there was a stone.1 A stone that demarcated different and polarised territories, love and hate, war and peace. On one side, white, on the other, black. The total absence and the mix of all colours, side by side, representing our affinities, contrasts, correspondences and contradictions. If in the middle of the road there was a stone, it was necessary to overcome it. It was necessary to walk. It was necessary to have resilience in order to keep going. In the middle of the road there was a stone and #MULTIPLICIDADE2018 relied on the projection of space-time through art. Since Ancient Greece, the search for alternatives for society permeates literature and art, revealing alternative narratives: from the dystopic to the chimerical. After imagining the year 2025 – in a futuristic exercise, completing a continuous decade in 2015 –, UTOPIAN SPACES was the theme that guided our actions in 2018. In uncertain and dark times, our motto was RESISTING and EXISTING as the only EXIT. The strength and visuality of these words were the motive, the catalyst of this edition, because, as poet Torquato Neto pointed out in the 1970s, “words are not useless weapons.” Since its first edition, MULTIPLICIDADE has been pervaded by memories of old technologies and by a desire for future ones. But, in the here-and-now, the human body is still behind all inventions, always trying to RESIST, seeking new ways to EXIST in a scenario of uncertainty. Over the course of 14 years, we have always presented works that aspire to a better place than the here-and-now. As usual, the line-up is extremely varied, with artists of different fields and origins, investigating how plural are our ways out through art. The choice of hybrid and undisciplined repertoires has been a constant in MULTIPLICIDADE since its inception. No matter how different their languages, the works 12
brought together here are fundamental pieces in a labyrinth that tries to build ways toward utopias, insistence and poetic romanticism. In 2018, with Iceberg, a large graphic print and VR installation by Fernando Velazquez, the audience was able to think about that ice mountain, and above all about how it resembled our conscience, as we can only access a small part of it while most of it remains hidden. The octogenarian Phill Niblock honoured us with his presence presenting his Environment Series live, with the very special participation of Livio Tragtenberg. We also had the unique opportunity to present The Movement of People Working, an expanded-cinema work that shows the choreographic movement of the bodies of workers around the world, revealing not only dazzling images, but also how our world is built through collective work. Walls collapse, neighbourhoods are transformed, cities give way to gentrification. It is up to us to reinvent them, so that through them we are able to re-signify imaginary landscapes, in search of viable futures. It was with that in mind that Pedro Varella conceived his “actions in the courtyard.” The way he found to displace the spectator’s gaze and question his own surroundings and position. Pedro proposed new ways of seeing, always referring to the past. The NUMEN collective allows viewers to get in touch with themselves and with many different feelings.Tape is literally a work of many layers, since it was made with many pieces of adhesive tape, by many hands. A team of 15 people built the work in two different places in 10 days, using 32 km of adhesive tape. Displacement, pause, affection, disconnection. The monumental sculpture, similar to a cocoon or uterus, offered visitors a hiatus in their daily lives, an experience of courage as they penetrated a seemingly fragile environment and, once inside, experienced the calm pleasure of suspension. Adhesive tapes that
are part of our everyday lives were re-signified in a penetrable sculpture that young people of all ages could experience, allowing them to move away from the role of passive and contemplative spectators. Tape was particularly appealing to children, who were captivated by a new space. Art and life converging in a playful way. MULTIPLICIDADE proposed to the public different ways of thinking, being and inhabiting common spaces. The exit that motivated us does not necessarily point outwards. There are possible exits in-between and inwards. Finally, it is important to remember that the exits proposed by Utopian Spaces are only possible thanks to all those who resist together, with freedom and lightness, because no one lets go of anyone’s hand. Batman Zavareze (Rio de Janeiro) is a visual artist. He is founder, director and curator of Multiplicidade, an art-and-technology festival that has existed for 15 years and has featured more than 500 performances with artists from around the world.
The stone imagery refers to the poem In the middle of the road, (1928), by Carlos Drummon de Andrade.
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EXISTÊNCIA, RESISTÊNCIA E EXPANSÃO
Fred Coelho
Talvez o primeiro passo para o salto sobre o abismo seja acreditar que não existe apenas uma existência. Acreditar que somos múltiplas existências, que existimos simultaneamente em múltiplas dimensões da vida. Existo aqui, na hora em que escrevo, existo aí, na hora em que você lê, existimos quando lembram de nós em qualquer lugar, existimos quando nosso nome é evocado por alguém. Existir para além do corpo que perece como pensamento radical de transformação de cada um e do mundo de cada um. Pensar que a existência não é apenas resistir às mortes (o mundo acaba todo dia), mas também existir muitas vezes, re-existir diariamente, como se pudéssemos nos refundar a todo instante. Ao fazermos da vida uma multiplicidade, a utopia se faz em cada gesto, em cada marca, em cada rastro, em cada dito como um som que ressoa infinitamente. A utopia, aqui, é o que cada um faz com sua vida. Maneiras de existir. Imaginemos que cada um dos atos que fazemos são um pequeno pedaço de durex. Aos poucos, sem percebermos, colamos um no outro, sem saber ao certo a forma que o dia a dia irá dar a essa prática. Sem controles prévios, porém sem abandonar um projeto mínimo – existir, todos os dias –, iniciamos uma espécie de estrutura cujas partes são frágeis, porém o todo ganha tônus imprevisto. Os atos do cotidiano constroem a rede de gestos, conversas, trabalhos, afetos, vitórias e derrotas, enquanto seguimos dobrando a aposta, mesmo que tudo aponte para um fim da linha. Existir, em algum momento, se torna essa estrutura coesa de durex, imensa, densa, trama de mínimos que produz uma arquitetura de máximos. Vivemos dentro e fora de nossa própria existência, de nossa própria arquitetura, habitamos essa utopia – viver é risco – e seguimos a construção coletiva de nós mesmos. Tal construção se dá ao entendermos que somos singulares justamente ao nos articularmos com as diferenças de mundos. Tijolo a tijolo, durex a durex, vidas entre vidas, construímos uma morada para nossas múltiplas existências – e para todas as outras existências que nos atravessam. Não há nada fora daqui, dessa vida, que produza utopias. O desejo de outras realidades libertadoras, de outros tempos salvadores, deve ser aspirado para entendermos que precisamos ativá-los no agora. Tudo que transborda essa existência retorna como motor de superação do que atravessamos. Se o mundo maquínico do silício consome nossas vistas, também já fazemos dele uma posse transgressora na produção de novos sentidos. Realidades virtuais criam mais um espaço para existirmos expandidos, para fundarmos outras existências, reinventarmos o mundo através da máquina. Mergulhar em ondas cerebrais, passear pelas nossas sinapses, fazer do corpo um começo, não um fim. Ir além da carcaça exausta e dos olhos entupidos de imagem e produzir um dentro do dentro, cavar pra fora, fazer do deslocamento radical de espaços uma bússola 14
para se perder em novos mares – do passado, do presente e do futuro. Existir em múltiplas frentes é ser, simultaneamente, arquivo e invenção. Ser virtual e ser histórico, estar aqui e em todos os lugares possíveis de se imaginar. Se deslocar através de múltiplos corpos para entender que utopia não é fugir do que lhe cerca, mas sim radicalizar a fome do agora. Assim, multiplicar existências, ampliar os laços se expandindo através de cada vínculo que se cria, absorver o tempo e o espaço contemporâneos para ir além deles, são gestos cujo resultado nos faz atravessar qualquer fim dos tempos. Nos permite a produção de contraespaços e contratempos. Perceber a simultaneidade da existência em muitos lugares e tempos distintos (novamente, arquivo e porvir) nos liberta do peso de um único mundo, de uma única possibilidade de vida, de uma única forma de viver. Há de se espalhar existências para criarmos os contradiscursos que momentos radicais nos exigem: como viver sem angústia de que tudo pode acabar de uma hora para outra? Talvez a saída (utópica, porém concreta) seja colar com persistência os pedaços de durex, continuar a acreditar que nenhum vendaval desmonta sua estrutura feita de forma tenaz e experimental. Se viver é risco, resistir é um exercício cotidiano. É preciso assumir a responsabilidade de ser também parte de outras arquiteturas, colaborando com a construção ordinária do mundo – o seu e o de todos. Viver em multiplicidade faz do corpo a própria utopia. Não há lugar melhor para além do espaço que ocupamos, nem há um tempo mais puro cuja nossa existência concreta corrompa. Se utopias nos servem para aspirar mundos perfeitos, sabemos cada dia mais que só o uso político de nossas ideias transforma as possibilidades de desejar um corpo mais livre, mais prazeroso, mais inventivo, mais pleno. São nossas maneiras de existir, nossas escolhas – eis aí a política – que abrem os espaços utópicos do próprio corpo em movimento. Criar, amplificar, inventar, experimentar, verbos cuja existências produzem resistência, fazem do mundo que se fecha horizonte em expansão. Contra qualquer violência, uma sólida arquitetura de atos, desejos e potências, sempre irá resistir. Tal arquitetura é indestrutível, pois é feita em rede, se expandindo através do espaço (topos) e do tempo (cronos). Somos simultaneidades em rede, singulares por sermos justamente coletivos. Comunidades de diferenças que precisam, mais do que nunca, fazer do aqui e agora o desejo radical de existência, resistência e expansão. Da multiplicidade vivemos. Frederico Coelho é pesquisador, escritor e professor do Departamento de Letras e do Programa de Pós-Graduação em Literatura, Cultura e Contemporaneidade da PUC-Rio. É autor de Livro ou livro-me – os escritos babilônicos de Hélio Oiticica (EdUERJ). 15
EXISTENCE, RESISTANCE AND EXPANSION
Fred Coelho
Perhaps the first step before jumping over the abyss is to believe that there is not just one existence. Believing that we are multiple existences, that we exist simultaneously in multiple dimensions of life. I exist in the here-and-now while I am writing, I exist there, while you read, we exist when others remember us anywhere, we exist when someone evokes our name. Existing beyond the body that perishes as a radical thought about the transformation of everyone and of everyone’s world. Thinking that existence is not only resisting to deaths (the world ends every day) but also existing many times, re-existing daily, as if we could re-found ourselves time and time again. By turning life into a multiplicity, utopia is made at every gesture, every mark, every trace, every saying, like a sound that resonates forever. Utopia, here, is what everyone does with their own lives. Ways of existing. Let us imagine that each of our actions is like a piece of adhesive tape. Gradually, without realising it, we stick one piece onto the other, without knowing exactly the shape that this practice will take as the days go by. Without previous controls, but without abandoning some planning – existing, every day – we begin to create a kind of structure whose parts are fragile but whose whole becomes unexpectedly strong. Everyday actions weave a network of gestures, conversations, works, affections, victories and defeats, while we continue doubling the bet, even if everything indicates an end of line. Existence, at some point, becomes this cohesive adhesive tape structure, immense, dense, a fabric of minimums that produces an architecture of maximums. We live inside and outside our own architecture, we inhabit this utopia – living is risky – and we go on with the collective construction of ourselves. This construction happens when we understand that we are only singular when we articulate ourselves with different worlds. Brick by brick, tape by tape, lives among lives, we build an abode for our multiple existences – and for all other existences that pass through us.
There is nothing out of here, out of this life, that produces utopias. The desire for other liberating realities, for other times of redemption, must be aspired in order for us to understand that we need to activate them now. Everything that flows over this existence returns as a motor for overcoming what happens to us. If the silicon machine world consumes our vision, we also turn it into a transgressive asset in the production of new meanings. Virtual realities create one more space to exist in an expanded state, to found other existences, to reinvent the world through the machine. Diving into brain waves, traveling through our synapses, turning the body into a beginning, not an end. Going beyond the exhausted carcass and of the eyes overwhelmed by images and producing an inside of the inside. Digging outwards, turning the radical displacement of the spaces into a compass for getting lost in new seas – of past, present and future. Existing on multiple fronts is simultaneously being archive and invention. Being virtual and being historical, being here and in all possible places one can possibly imagine. Moving through multiple bodies to understand that utopia is not escaping what surrounds us, but radicalising today’s hunger. Thus, multiplying existences, strengthening bonds by expanding oneself through every connection that is created, absorbing the contemporary time and space to go beyond them, are gestures whose result make us go through any end of times. It allows us to produce counter-spaces and counter-times. Perceiving the simultaneity of existence in many different places and times (again, archive and future) frees us from the weight of a single world, of a single way of living. We need to spread existences around to create the counter-discourses that radical moments demand: how to live without fearing that everything can abruptly end? Perhaps the (utopian but concrete) way out is to persistently stick the pieces of adhesive tape together, to go on believing that no storm will dismantle its structure made in a tenacious and experimental way. If living is risky, resisting is an everyday practice. One must take responsi-
bility and be also part of other architectures, collaborating with the ordinary construction of the world – one’s own and everyone else’s. Living in multiplicity makes the body itself a utopia. There is no better place other than the space we occupy, nor is there a purer time that can be corrupted by our concrete existence. If utopias serve us to aspire to perfect worlds, we are increasingly aware that only the political use of our ideas transforms the possibilities of desiring a freer, more pleasurable, more inventive and fuller body. Our ways of existing, our choices – hence politics – are what opens the utopian spaces of the moving body itself. Creating, amplifying, inventing, experimenting, verbs whose existence produces resistance, turns the world that closes itself into an expanding horizon. Against any violence, a solid architecture of acts, desires, powers, will always resist. Such an architecture is indestructible because it is made in a network, expanding through space (topos) and time (chronos). We are networked simultaneities, singular because we are collective. Communities of differences that need, more than ever, to turn the here-and-now into a radical desire for existence, resistance and expansion. Multiplicity is life. Frederico Coelho is a researcher, writer and professor at the Department of Languages and the Graduate Program in Literature, Culture and Contemporaneity of PUC-Rio. He wrote the book Livro ou livro-me - os escritos babilônicos de Hélio Oiticica (EdUERJ).
Numen (CRO + AUS) / TAPE – Croquis (sketches) >>>
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Tape é uma escultura colossal feita de fita adesiva. Sua construção é um processo de cocriação do Numen feito a muitas mãos com uma equipe de quinze voluntários. A obra adquire sua forma final graças a um esforço coletivo onde todos trabalham juntos, sem nunca largar a mão de ninguém. Tape is colossal sculpture made of adhesive tape. It’s building is a process of co-creation between Numen and a team of fifteen volunteers. It aquires its final form thanks to many hands working together wihout ever letting go.
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NUMEN (CRO/AUS) / TAPE â&#x20AC;&#x201C; Making Of
AÇÕES NO PÁTIO Pedro Varella
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Partindo da provocação inicial de ocupar a grande vitrine do pátio do Centro Cultural Oi Futuro, as ações no pátio foram elaboradas no espaço de tempo de três semanas, reinventando-se à medida que surgiam novas restrições impostas pelo embate entre o Oi Futuro e seu novo vizinho: um grande empreendimento imobiliário com conclusão prevista para 2021. As ações foram concebidas e apresentadas numa velocidade frenética típica dos processos nos quais o trabalho de arte é condicionado por “forças maiores”. A cada dia uma nova realidade foi imaginada, reagindo aos empecilhos institucionais, jurídicos, orçamentários e de cronograma. Para cada projeto, uma nova onda de questões: a fragilidade do processo artístico frente à força do capital; a impotência das instituições culturais face à especulação imobiliária; a ambiguidade entre função simbólica e função prática nos trabalhos de arte e arquitetura; a ignorância histórica que nos faz enterrar rios; as ressacas na praia do Flamengo, entre outros. Realidade, ficção, passado e presente se confundem, tecendo uma trama de ações que, juntas, constituem uma narrativa própria para a história desse embate. Pedro Varella é arquiteto e artista. É sócio fundador do coletivo gru.a (grupo de arquitetos) e coautor do livro Rio metropolitano: guia para uma arquitetura, publicado em 2013. Em 2015 venceu o prêmio de arquitetura do Instituto Tomie Othake AkzoNobel com o projeto Cota 10.
ACTIONS IN THE PATIO From the challenge of occupying the large patio window at the Oi Futuro Cultural Centre, actions in the patio were created in three weeks and reinvented whenever new restrictions arose from the clash between Oi Futuro and its new neighbour: a major real estate project that will be finished by 2021. The actions were conceived and presented at a frenetic speed, typical of processes in which a work of art is conditioned by “greater forces.” Every day a new reality was imagined, responding to institutional, legal, budgetary and schedule obstacles. For each project, a new torrent of issues: the fragility of the artistic process when faced with the power of capital; the powerlessness of cultural institutions against real estate speculation; the ambiguity between symbolic and practical function in works of art and in architectural projects; the historical ignorance that makes us bury entire rivers; the undertows of the Flamengo beach, among other issues. Reality, fiction, past and present are all entwined, weaving a web of actions that together form a conflictual story. Pedro Varella is an architect and an artist. He is a founding partner of the collective gru.a (grupo de arquitetos) and the co-author of the book Rio metropolitano: guia para uma arquitetura, published in 2013. He won the 2015 Instituto Tomie Ohtake AkzoNobel Award with the project Cota 10.
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AÇÃO 01: janela para a cidade ao lado ACTION 01: a window to the city next door
AÇÃO 02: demarcação de área de risco ACTION 02: demarcating the risk area
AÇÃO 03: contenção de ressaca ACTION 03: containing the undertow
AĂ&#x2021;Ă&#x192;O 04: aparando arestas ACTION 04: trimming the edges
AÇÃO 05: temos um problema ACTION 05: we have a problem
AÇÃO 06: arqueologia reversa ACTION 06: reverse archaeology
AÇÃO 07: sinalização de ressaca ACTION 07: signalling the undertow
Pedro Varella (BRA-RJ) / AÇÕES NO PÁTIO | AÇÃO Nº 7: sinal de ressaca AÇÕES NO PÁTIO | ACTION 07: signalling the undertow
Iceberg é um projeto multidisciplinar composto de um livro e uma exposição, com realidades AR e VR, artes gráficas e uma instalação interativa. O iceberg é uma metáfora do embate do artista, entre vida e obra. Só vislumbramos um pequeno pedaço do iceberg. Da mesma forma acessamos apenas uma pequena parte de nossa consciência. Em seu manifesto Iceberg Fernando afirma: “Nunca vi um iceberg, embora seja um”.
Iceberg is a multidiscplinary project that includes a book and un exhibition composed of VR and AR realities, graphic arts and an interactive installation. The iceberg is a metaphor of the artist’s clash, between his life and his work. We only envision a small portion of the iceberg. In the same way, we only access a small part of our conscience. In his Iceberg manifesto Fernando states: I have never seen an Iceberg, though I am one. “
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Fernando Velázquez (URU) / ICEBERG – Livro (book)
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Fernando Velázquez (URU) / ICEBERG – Grande Campo
Fernando Velázquez (URU) / ICEBERG – VR
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Fernando Velázquez (URU) / ICEBERG – AR >>
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Sanannda Acรกcia (BRA-RS) / APROXIMAร AO POR QUASI-CRYSTAL >
Franck Vigroux (FRA) + Antoine Schmitt (FRA) / CHRONOSTASIS >>
Roland Bucher (SUI) / NOISE TABLE
Raimo Benedetti (BRA-SP) / Entre pássaros e cavalos – Marey, Muybridge e o pré-cinema
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Benedetti é autor do livro Entre pássaros e cavalos – Marey, Muybridge e o pré-cinema onde ele analisa paralelamente as trajetórias destes dois inventores que contribuiram enormemente ao que chamamos de pré cinema.
Benedetti is the author of Entre pássaros e cavalos – Marey, Muybridge e o précinema, where he analyses the life paths of these two inventor that contributed a great deal to what we call pre cinema.
No século XIX, os inventores performavam falas para platéias para explicar suas invenções. Em suas falas, Benedetti faz o mesmo expondo a vida e obra destes dois grandes homens.
In 19th century, inventors performed talks to explain their inventions. Benedetti does the same, talking about the life and the work of these two great men.
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Bebebeto Abrantes (BRA-RJ) / intervenção sobre Entre pássaros e cavalos – Marey, Muybridge e o pré-cinema
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OI FUTURO CULTURA | CULTURE Gerência Executiva de Cultura | Executive Management of Culture Roberto Guimarães Gerência de Cultura | Culture Management Victor D’Almeida Curadoria de Artes Visuais | Visual Arts Curator Alberto Saraiva Produção de Artes Visuais | Visual Arts Production Claudia Leite Coordenação de Cultura | Culture Coordinator Sérgio Ricardo Pereira Produção de Artes Performáticas | Performing Arts Production Zelia Peixoto Produção LabSonica | LabSonica Production Yuri Chamusca Patrocínios Culturais | Cultural Sponsorships Luciana Adão Joseph Andrade Museologia | Museology Bruna Cruz Leyanne Azevedo Produção de Museologia | Museology Production Sandro Rosa Equipe Cultura | Culture Team Jairo Vargas João André Macena Juliana Moreira Marciel Oliveira Raphael Fernandes Estagiario| Intern Gabriel Brum Assessoria de Imprensa | Press Office Leticia Duque Carla Meneghini
COLEÇÃO ARTE & TECNOLOGIA OI FUTURO / OI FUTURO ART AND TECHNOLOGY COLECTION Coordenação | Coordination Alberto Saraiva 1. Corpos Virtuais Ivana Bentes [org.], 2005 2. Estado de Atividade Funcional: E.A.F. Tina Velho Alberto Saraiva [org.], 2005 3. Ciclo Paradigma Digital: FotoRio 2005 Milton Guran [org.], 2005 4. Geração Eletrônica Tom Leão [org.], 2006 5. FILE RIO 2006: Festival Internacional de Linguagem Eletrônica Paula Perissinotto e Ricardo Barreto [org.], 2006 90
6. Pintura em Distensão Zalinda Cartaxo, 2006 7. Wilton Montenegro: Notas do Observatório, Arte Contemporânea Brasileira Glória Ferreira [org.], 2006 8. Nam June Paik: videos 1961–2000 Nelson Hoineff [org.], 2006 9. Vicente de Mello, Áspera Imagem Alberto Saraiva [org.], Coedição Aeroplano, 2006 10. Dança em Foco: Dança e Tecnologia Paulo Caldas e Leonel Brum [org.], 2006 11. Câmaras de Luz Ligia Canongia [org.], 2006 12. Multiplicidade: Imagem_som_ inusitados Batman Zavareze [org.], 2006 13. FILE RIO 2007: Festival Internacional de Linguagem Eletrônica Ricardo Barreto e Paula Perissinotto [org.], 2007 14. Filmes de Artista: Brasil 1965–80 Fernando Cocchiarale [org.], Coedição Contra Capa, 2007 15. Dança em Foco: Videodança Paulo Caldas e Leonel Brum [org.], 2007 16. Atlas Américas Paulo Herkenhoff [org.], Coedição Contra Capa, 2007 17. Fotografia e Novas Mídias: FotoRio 2007 Antonio Fatorelli [org.], Coedição Contra Capa, 2007 18. Babilaques: alguns cristais clivados Waly Salomão e outros, Coedição Contra Capa, 2007 19. Relíquias e Ruínas Alfons Hug [org.], Coedição Contra Capa, 2007 20. FILE RIO 2008: Festival Internacional de Linguagem Eletrônica Paula Perissinotto e Ricardo Barreto [org.], 2008 21. Poiesis André Vallias, Friedrich W. Bloch, Adolfo Montejo Navas [orgs.], 2008 22. Ivens Machado: Encontro / Desencontro Alberto Saraiva [org.], Coedição Contra Capa, 2008 23. Dança em Foco: Entre Imagem e Movimento Paulo Caldas, Eduardo Bonito e Regina Levy [orgs], Coedição Contra Capa, 2008. 24. Hüzün. Carlos Vergara Luiz Camillo Osório, Coedição Contra Capa, 2008 25. Marcos Chaves Alberto Saraiva, Coedição Aeroplano, 2008 26. Performance Presente Futuro Daniela Labra [org.], Coedição Contra Capa, 2008 27. Arte da Antártida Alfons Hug, Coedição Aeroplano, 2009 28. FILE RIO 2009: Festival Internacional de Linguagem Eletrônica Ricardo Barreto e Paula Perissinotto [org.], 2009 29. Meias Verdades Ligia Canongia, 2009
30. Dança em Foco: A Dança na Tela Paulo Caldas, Eduardo Bonito e Regina Levy [org.], Coedição Contra Capa, 2009
51. Geração Eletrônica 2011 Bruno Katzer, Rossine A. Freitas, Tom Leão [org.] Edição Oi Futuro, 2011
31. Gary Hill: O Lugar Sem o Tempo. Taking Time From Place Marcello Dantas [org.], Coedição Contra Capa, 2009
52. FILE Games Rio 2011: Eu quero jogar Ricardo Barreto e Paula Perissinotto [org.] Coedição F10, 2011
32. Entre Temps: Uma década de videoarte francesa na coleção do Musée d’Art moderne de la Ville de Paris/ARC Angeline Scherf, Odile Burluraux, Jean-Max Colard, 2009 33. Performance Presente Futuro. Vol. II Daniela Labra [org.], Coedição Aeroplano, 2009 34. Entreouvidos: Sobre Rádio e Arte Lilian Zaremba [org.], Coedição SOARMEC Editora, 2009 35. Pierre et Gilles: A Apoteose do Sublime Marcus de Lontra Costa, Coedição Aeroplano, 2009 36. FILE 8 BIT GAME PEOPLE: Festival Internacional de Linguagem Eletrônica Paula Perissinotto e Ricardo Barreto [org.], 2009 37. Frederico Dalton: Fotomecanismos Coedição Contra Capa, 2007 38. Multiplicidade: Imagem_som_ inusitados Batman Zavareze [org.], 2007 39. Multiplicidade 2008 Batman Zavareze [org.] Coedição Aeroplano, 2009 40. Multiplicidade 2009 Batman Zavareze [org.] Coedição Aeroplano, 2010 41. A Carta da Jamaica Alfons Hug [org.] Coedição Aeroplano, 2010 42. SONIA ANDRADE: VIDEOS André Lenz [org.] Coedição Aeroplano, 2010 43. Livro de Sombras: Pintura, Cinema, Poesia de Luciano Figueiredo Katia Maciel e André Parente [org.] Coedição +2 Produções, 2010 44. WLADEMIR DIAS-PINO Wlademir Dias-Pino [org.] Coedição Aeroplano, 2011 45. Multiplicidade 2010 Batman Zavareze [org.] Coedição Aeroplano, 2011 46. FAD - Festival de Arte Digital 2010 FAD - Festival de Arte Digital [org.] Coedição ICC Instituto cidades criativas, 2010 47. Arte e novas espacialidades: relações contemporâneas Eduardo de Jesus [org.] Coedição F10, 2011 48. RELIVRO: Lenora de Barros Lenora de Barros, Alberto Saraiva [org.] Coedição Automática Edições, 2011 49. Performance Presente Futuro Vol. III Daniela Labra [org.] Coedição Automática Edições, 2011 50. Projetor: Tony Oursler Paulo Venancio Filho [org.] Coedição Automática Edições, 2011
53. Trans - Adriana Varella Alberto Saraiva [org.] Coedição Aeroplano, 2011 54. Power Pixels Miguel Chevalier Coedição Aeroplano, 2011 55. Warhol TV Judith Benhamou-Huet [org.] Coedição Aeroplano, 2011 56. Além Cinema Neville D’Almeida Coedição Nova Fronteira, 2011 57. Luciferinas, Simone Michelin Simone Michelin [org.] Coedição Aeroplano, 2011 58. Pulso Iraniano Marc Pottier [org.] Coedição Aeroplano, 2011 59. Era uma vez... Aída Marques e Elianne Ivo [org.] Coedição Aeroplano, 2011 60. Letícia Parente André Parente e Katia Maciel [org.] Coedição +2 Editora, 2011 61. Gabriele Basilico Nina Dias e Paola Chieregato [org.] Coedição Francisco Alves, 2011 62. Brígida Baltar: O que é preciso para voar Brígida Baltar e Marcelo Campos Coedição Aeroplano, 2012 63. Multiplicidade 2011 Batman Zavareze [org.] Coedição Aeroplano, 2012 64. High-Tech/Low-Tech – Formas de Produção Alfons Hug [org.] Coedição Aeroplano, 2012 65. AdF.11 - Atos de Fala Felipe Ribeiro [org.] Coedição Rizoma, 2011 66. Sebastião Barbosa, fotógrafo Felippe Schultz Mussel [org.] Coedição Letra e Imagem, 2012 67. FILE RIO 2012: Festival Internacional de Linguagem Eletrônica Paula Perissinotto e Ricardo Barreto [org.] Coedição Aeroplano, 2012 68. Iluminando o futuro – 50 anos de Jorginho de Carvalho. EPA!, Miguel Colker [org.] Coedição Aeroplano, 2012 69. I Seminário Oi Futuro Mediação em Museus: Arte e Tecnologia - Reflexões e Experiências Adriana Fontes e Rita Gama [org.] Coedição Livre Expressão, 2012 70. Predicament – Situações Difíceis Yann Lorvo e Stéphanie Suffren Coedição Apicuri, 2012 71. Xico Chaves Alberto Saraiva [org.] Coedição F10, 2012 72. Multiplicidade 2012 Batman Zavareze [org.] Coedição Aeroplano, 2013
73. Poesia Visual Alberto Saraiva [org.] Coedição F10, 2013 74. Transperformance Lilian Amaral [org.] Coedição F10, 2013 75. Regina Vater: Quatro Ecologias Paula Alzugaray [org.] Coedição F10, 2013 76. EXPO(R) GODARD Aída Marques, Anne Marquez e Dominique Païni [org.] Coedição 7 Letras, 2013 77. MACHINARIUM Marisa Flórido e Monica Mansur [org.] Coedição Binóculo Editora, 2013 78. Ana Vitória Mussi Marisa Flórido [org.] Coedição Apicuri e F10, 2013 79. Bill Lundberg Alberto Saraiva [org.] Coedição F10, 2013 80. Paulo Climachauska Alberto Saraiva Coedição Coletiva Projetos Culturais, 2013 81. FILE GAMES RIO 2014: Festival Internacional de Linguagem Eletrônica Paula Perissinotto e Ricardo Barreto [org.] Coedição FILE, 2014 82. Nenhuma Ilha – Elisa de Magalhães Marcelo Campos [org.] Coedição Letra&Imagem, 2014 83. Anatomia da Luz Martha Pagy [org] Albano Afonso, 2014 84. BRICS Alfons Hug [org.] Coedição Editora Atlântica, 2014 85. Foto + vídeo + arte contemporânea: FotoRio 2009 Milton Guran [org.], Coedição Aeroplano, 2010 86. FILE RIO 2010: Perspectivas da arte digital Paula Perissinotto e Ricardo Barreto [org.], 2010 87. Videofotopoesia - Tadeu Jungle Alberto Saraiva [org.] Coedição F10, 2014 88. Paisagens Cromáticas Isabel Portella Coedição Apicuri, 2013 89. Apichatpong Weerasethakul Daniella Azzi e Francesca Azzi [org.] Coedição Iluminuras, 2014 90. Marulhar – artistas portugueses contemporâneos Delfim Sardo Coedição Nau das Letras Editora de Livros Ltda, 2014 91. O Papagaio de Humboldt Alfons Hug [org.] Coedição Nau das Letras Editora de Livros Ltda, 2015 92. Niura Bellavinha: Em torno da luz Alberto Saraiva Coedição Nau Editora, 2014 93. Poesia Visual 2 Alberto Saraiva [org.] Coedição F10, 2015 94. Transperformance 2 Marisa Flórido [org.] Coedição F10, 2015
95. Desenlace – Miguel Angel Rios & Teresa Serrano Luiza Interlenghi [org.] Coedição Memória Visual, 2015
117. Existência Numérica Doris Kosminsky, Barbara Castro e Luiz Ludwig (org) Coedição Rio Books, 2019
96. AdF.14 - Atos de Fala Felipe Ribeiro [org.] Coedição Rizoma, 2014
118. Mais Performance Caroline Menezes (org) Coedição Caosmos Editora, 2019
97. Daniel Senise Alberto Saraiva, Flavia Corpas e Paulo Miyada Coedição Cosac Naify, 2015
119. Multiplicidade 2018/2017 Batman Zavareze [org.] Coedição Editora Circuito, 2019
98. Somos Iguais – Nazareno Nazareno e Tainá Azeredo [org.] Edição ADUPLA, 2015 99. Área 91 - Thales Leite Marisa Flórido Cesar [org.] Coedição F10, 2016 100. Poesia Visual 3 Alberto Saraiva [org.] Coedição F10, 2016
2017 FESTIVAL MULTIPLICIDADE
101. Transperformance 3 Gabriel Bogossian, Luísa Duarte [orgs.]. Coedição F10, 2016
Concepção, Direção e Curadoria | Conception, Direction and Curatorship Batman Zavareze
102. Amor Denise Carvalho e Monika Szewczyk. Coedição Barléu Edições, 2016.
Assistência de Direção | Direction Assistant Nico Espinoza
103. Gambiólogos 2.0 A Gambiarra nos Tempos do Digital Fred Paulino [org.] Coedição Fogão de Lenda, 2016
Produção Executiva | Executive Production Patricia Bárbara
104. AdF. 16 - Atos de Fala Felipe Ribeiro [org.] Coedição Rizoma, 2016
Coordenação de Produção | Production Coordination Raquel Bruno
105. Multiplicidade 2014 Batman Zavareze [org.] Coedição Aeroplano, 2015
Pré-produção | Pre-production Amanda Bonan
106. Espírito de Tudo Rosângela Rennó [org.] Coedição Cobogó, 2017 107. Multiplicidade 2025 Batman Zavareze [org.] Coedição Cobogó, 2017 108. Códigos Primordiais Caroline Menezes e Fabrizio Poltronieri [orgs.] Coedição Caosmos Editora, 2017 109. Máquina Devir – Maria Lynch Bernardo Mosqueira, André Abu-Merhy Barroso e Alberto Saraiva Coedição R&L Produtores Associados, 2017 110. Nam June Paik Marco Pierini Coedição Base 7 Projetos Culturais, 2017
Coordenação Artistica | Artistic Coordination Nado Leal Direção Técnica | Technical Direction Adriana Ortiz & Hugo Damatta Assistência de Comunicação | Communication Assistant Yrina Mariama Produção | Production Laura Rios Assistência de Produção | Production Assistant Fabio Maciel, Ana Luiza Aguiar, José Arthur Carneiro, Lina Di Oliveira Miguel & Jane Deluc Cenografia | Scenography Helcio Pugliese & João Boni
111. Poesia Visual 4 Alberto Saraiva [org.] Coedição Fioretti, 2016
Cenotécnico | Setting Technician Alex Augusto, Marcos Vinicius & Rogério Cândido
112. Outras Ideias – Daniel Arsham + Azuma Makoto Marcello Dantas Edição Oi Futuro, 2017
Rigger Fabiano Mendes, Robert Machado, Thiago Felipe & Felipe Dias
113. Denise Cathilina – Fotografia Expandida Alberto Saraiva Edição Oi Futuro, 2018 114. Poesia Visual 5 Alberto Saraiva e Terri Witek [org.] Coedição Oi Futuro/Fioretti/Confraria do Vento, 2018
Som e Luz | Lights and Sound DL Som e Luz Técnico de Som | Audio Technicians Leonardo Almeida (supervisor), Pedro Montano, Fabio Pereira, Henrique Romualdo, Evaldo Fonseca & Jorge Mendes
115. Katia Maciel Katia Maciel (org.) Coedição Cobogó, 2018
Iluminação | Light Setting Adriana Ortiz (Quasi-orquestra e Armazém da Utopia) & Rodrigo Leitão
116. Celacanto Odir Almeida Maria Arlete Gonçalves (org) Coedição Coletiva 2018
Video e Projeção | Video and Projection On Projeções
Técnico de Projeção | Projection Technician Fabio VJ Notívago Comunicação Digital | Digital Communications Movin’ Coordenação e Produção Digital | Digital Production and Coordination Rodrigo Perez & Cristiana Rausis Produção de Conteúdo Digital | Digital Content Production Milton Batista Textos Editoriais | Editorial Texts Carlos Albuquerque Programação Digital | Digital Programming Fernando Carvalho & Felipe Badaró Webdesign Bruno Benevides Câmera | Camera Glauber Vianna & Ana Rezende Edição | Editor Glauber Vianna Assistência de Edição | Editing Assistant João Oliveira Fotos | Photos Elisa Mendes, Juliana Chalita & André Hawk Design Boldº_a design company Direção de Design | Design Direction Leo Eyer Coordenação Gráfica | Graphic Coordination Vivianne Jorás Design Gráfico | Graphic Design Rodrigo Moura, Mariana Monteiro & Alexandre Andrada Assistencia de Design Gráfico | Graphic Design Assistant Eduarda Severo Assessoria de Imprensa | Press Office Palavra Assessoria Monitoria | Guides Candida Sastre, Katiuscia Dantas & Marcele Oliveira Impressões | Printings Jpeg Digital Busdoor Ideiabus Mídia em ônibus Uniformes | Uniforms Vetor Silk Segurança | Security Nós da Estiva Brigadistas | Fire Brigade Reta Safety Limpeza | Cleaning Green Hub Ambulância | Ambulance Life Line Emergências Banheiros Químicos | Chemical Toilets Locban Backline | Backline Só Palco
91
Climatizadores de Ar | Air Conditioning Super Nova Rio Hospedagem | Accommodation Hotel Scorial Catete Rádios Comunicadores | Handheld transceivers Uoktok Transporte | Transportation DL Veículos e Serviços, Leonardo Pirovano, David Pirovano, Nilson Oliveira, Marco Antônio, Brasil Auto Locadora, Jadlog, Max Simões de Andrade & Transpak Elementos Cênicos | Stage elements Cenografia.Net, Companhia Ensaio Aberto, Festival Panorama, Global Mendes, Huntler Eventos, Mineirart, Petrotub, Rental Brasil & Tecnobre Carregadores | Carriers Nós Da Estiva Sunset Food trucks Bondinho Carioca, Che Boludo, Don Coneone Pizzas & Cones, Geneal & Hare Burger Consultoria Financeira | Financial Consulting José Carlos Barbosa Gestão Financeira | Financial Management Mirian Peruch Realização | Production 27 Mais 1 Comunicação Visual
RESIDÊNCIA | RESIDENCY _XINGU 2025 KUIKURO Direção e Curadoria | Direction and Curating Paul Heritage Curadoria | Curating Batman Zavareze, Gringo Cardia, Jailson de Souza e Silva & Marcus Faustini Produção | Production Thiago Jesus Assistência de Produção | Production Assistant Brenno Erick & Renata Peppl Artistas Residentes | Resident Artists Conrad Murray, Clelio de Paula, Ellen Rose, Evelyn Falcão, Marcia Farias, Murilo Gelain, Ferdinand Saumarez, Myllena Araujo, Takumã Kuikuro, Kalawaka Kuikuro, Kuiaitsi Kuikuro, Marrayury Kuikuro, Nega Kuikuro, Sagigua Kuikuro, Tuiuta Kuikuro, Yacalu Kuikuro & Yamalui Kuikuro Desenvolvido e produzido pela People’s Palace Projects, Queen Mary University of London, em parceria com a AIKAX e com a NECCULT. Financiado pelo Arts and Humanities Research Council (AHRC) and the Global Challenges Research Fund. Developed and produced by People’s Palace Projects, Queen Mary University of London, in partnership with AIKAX and with NECCULT. Financed by Arts and Humanities Research Council (AHRC) and the Global Challenges Research Fund. 92
PROGRAMAÇÃO | PROGRAMMING 07 out | oct 07th
ESTREIA_FESTIVAL MULTIPLICIDADE_OCUPAÇÃO TOTAL | OPENING FESTIVAL MULTIPLICIDADE_TOTAL OCCUPATION @OI FUTURO FLAMENGO RIO DE JANEIRO
LANÇAMENTO LIVRO MULTIPLICIDADE 2025 | LAUNCHING OF THE BOOK MULTIPLICIDADE 2025
Palestra e performance 4’33’’ (John Cage) | Speech and performance 4’33’’ Marcelo Brissac (BRA-RJ) – Palestrante / Performer | Speaker / Performer Isabel Diegues (BRA-RJ) – Moderadora | Mediator QUASI-ORQUESTRA (BRA-RJ)
Rafael Barros Castro – Regente | Maestro Gretel Paganini – Produtora musical | Musical Producer Gretel Paganini – Violoncelo André Cunha – Primeiro violino | First Violin Talita Vieira – Primeiro violino | First Violin Rudá Issa – Primeiro violino | First Violin Fernando Matta – Segundo violino | Second Violin Luiz Felipe Ferreira – Segundo violino | Second Violin Renata Athayde – Segundo violino | Second Violin Ana Luiza Lopes – Viola Stoyan Gomide – Viola Inah Kurrels – Primeiro violino | First Violin Pablo de Sá – Violoncelo Cláudio Alves – Contrabaixo | Contrabass Sofia Ceccato – Flauta | Flute Jeferson Nery – Oboé | Oboe Juliana Bravim – Oboé | Oboe Bia Stutz – Clarinete | Clarinet Débora Nascimento – Fagote | Bassoon Eduardo de Almeida Prado – Trompa | Tromp Tiago Carneiro – Trompa | Tromp Beto Bonfim – Percussão | Percussion INSTALAÇÃO LIVE QUASI-ORQUESTRA
Daniel Carvalho (BRA-RJ) – Artista Sonoro | Sound Artist Leo Moreira (BRA-RJ) – Engenheiro de som | Sound Engineer 08 out | oct 08th
INSTALAÇÃO SONORA QUASIORQUESTRA
10 out a 04 nov | oct 10th to nov 04th MULTI_LAB
Clelio de Paula (BRA-RJ) + DMTR (BRA-SP) + Fabiano Mixo (BRA-RJ) – Artistas Residentes | Resident Artists
10 out a 13 nov | oct 10th to nov 13th MANIFESTAÇÃO PACÍFICA AV
Coletivo Anônimo | Anonymous Collective (BRA) – Artistas | Artists 13 out | oct 13th
MULTI_LAB_QPÉE
Jéssica Roude (ARG) – Palestrante | Speaker
AULA DE KARIB (LÍNGUA NATIVA KUIKURO) | KARIB CLASS (KUIKURO NATIVE LANGUAGE)
Yamalui Kuikuro
PALESTRA: TÉCNICAS DE DIGITALIZAÇÃO DE PATRIMÔNIOS CULTURAIS EM RISCO, FACTUM FOUNDATION | SPEECH: TECHNIQUES FOR DIGITALIZATION OF CULTURAL PATRIMONIES IN RISK, FACTUM FOUNDATION
14 e 15 out | oct 14th and 15th
Ferdinand Saumarez (ING)
Alex Augier (FRA) – Artista | Artist
INSTALAÇÃO AMBISÔNICA DA FACTUM FOUNDATION | AMBISONIC INSTALLATION OF FACTUM FOUNDATION
_NYBBLE_
17 a 20 out | oct 17th to oct 20th
XINGU 2025 KUIKURO_FORÇAS DA NATUREZA | XINGU 2025 KUIKURO_ FORCES OF NATURE
Paul Heritage (ING) – Apresentador | Host Ilana Strozenberg (BRA-RJ) – Mediadora | Mediator Batman Zavareze (BRA-RJ) – Palestrante | Speaker Cacique Jacalo Kuikuro (BRA) – Palestrante | Speaker Gringo Cardia (BRA-RJ) – Palestrante | Speaker Jailson de Souza (BRA-RJ) – Palestrante | Speaker Marcus Faustini (BRA-RJ) – Palestrante | Speaker Yamalui Kuikuro (BRA) – Palestrante | Speaker Ellen Rose (BRA-RJ) – Artista | Artist Marcia Farias (BRA-RJ) – Artista | Artist Myllena Araujo (BRA-RJ) – Artista | Artist Thiago Jesus (BRA-RJ/UK) – Artista | Artist XINGU 2025 KUIKURO_CINEMA
Exibição dos documentários | Projection of the documentaries: “As Hiper Mulheres / Itão Kuegü” Takumã Kuikuro, Carlos Fausto & Leonardo Sette – Diretores | Directors “Karioka” Takumã Kuikuro – Diretores | Directors Conversa | Talk: Paul Heritage (ING) – Mediador | Mediator Carlos Fausto (BRA-SP) – Palestrante | Speaker Takumã Kuikuro (BRA) – Palestrante | Speaker
Nico Espinoza (CHL)
KUIKURO – PERFORMANCE RITUAIS, DANÇAS, CANTOS, LUTAS E CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS | RITUALS, DANCES, SONGS, MARTIAL ARTS AND STORY TELLING
Paul Heritage – Mediador | Mediator Mércio Pereira Gomes (BRA-RN) – Palestrante | Speaker 21 e 22 out | oct 21st and 22nd XINGU ENSEMBLE
Clelio de Paula (BRA-RJ) – Artista Visual | Visual Artist Jordy Henry (BRA-SP) – Produção Técnica | Technical Production Ricardo Weissenberg (BRA-RJ) – Iluminação | Lightning Aretha Souza (BRA-RJ) – Produtora | Producer 24 out | oct 24th
MULTI_LAB_QPÉE >> COMO INVENTAR UM MUNDO QUE NÃO EXISTE: IDEIAS PARA A PRÁTICA CULTURAL NA ERA DA DISTOPIA | HOW TO INVENT A WORLD THAT DOESN’T EXIST: IDEAS FOR CULTURAL PRACTICES IN THE AGE OF DYSTOPIA
Marta Porto – Mediadora | Mediator Batman Zavareze – Convidado | Guest Jailson de Souza – Convidado | Guest Jair de Souza – Convidado | Guest Mariana Varzea – Convidada | Guest Renato Saraiva – Convidado | Guest Lena Cunha – Convidada virtual | Virtual Guest Luciana Modé – Convidada virtual | Virtual Guest 24 a 27 out | oct 24th to 27th
TEMPESTADE MIDI – PROCESSOS CRIATIVOS | CREATIVE PROCESSES
DMTR (BRA-SP) – Artista | Artist
# XINGU 2025 KUIKURO _RITUAIS E LINGUAGENS | XINGU 2025 KUIKURO _RITUALS AND LANGUAGES
25 out | oct 25th
OFICINA DE CANTO E DANÇA KUIKURO | KUIKURO SINGING AND DANCING WORKSHOP
28 e 29 out | oct 28th and 29th
Jacalo + Jair + Yamalui + Sagigua Kuikuro (BRA)
OFICINA PINTURA CORPORAL TRADICIONAL KUIKURO | KUIKURO TRADITIONAL BODY PAINTING WORKSHOP
Nega + Tuita Kuikuro (BRA) + Evelyn Falcão (BRA-RJ)
MULTI_LAB_QPÉE
Luizinho Salles (BRA-RJ) & Ken Kondo (JAP) + convidados | guests – Artistas | Artists
TEMPESTADE MIDI – INSTALAÇÃO PERFORMANCE | INSTALLATION PERFORMANCE
DMTR (BRA-SP) – Artista | Artist Gabriela Marcondes (BRA-RJ) – Artista Convidada | Guest Artist Nico Espinoza (CHL) – Artista Convidado | Guest Artist Magno Caliman (BRA-ES) – Artista Convidado | Guest Artist
31 out a 03 nov | oct 31st to nov 03rd INSTALAÇÃO A MULHER SEM BANDOLIM | INSTALLATION THE WOMAN WITHOUT A MANDOLIN
Fabiano Mixo (BRA-RJ) – Artista Visual | Visual Artist 01 nov | nov 01st
MULTI_LAB_QPÉE
Marcello Magdaleno (BRA-RJ) – Artista | Artist 03 nov | nov 03rd
MULTI_LAB_QPÉE
Vóia (BRA-RJ) – Artistas | Artists 04 e 05 nov | nov 04th and 05th
MÁQUINA – PARTE I (PERFORMANCE) | MACHINE – PART I (PERFORMANCE)
Gabriela Mureb (BRA-RJ) – Artista Visual | Visual Artist 07 out a 12 nov | from oct 07th to nov 12th
MÁQUINA – PARTE II (INSTALAÇÃO) | MACHINE – PARTE II (INSTALLATION)
TANTO Criações Compartilhadas – Cenografia e identidade visual – Scenography and Visual Identity Flávia Couto – Figurino | Figurine Felipe de Assis e Rita Aquino – Concepção de luz | Light Concept Felipe de Assis – Coordenação de produção | Production Coordination Lucas Barreto de Sá – Técnico de luz e assistente de produção | Light Technician and Production Assistance
Coordenação e Produção Digital | Digital Production and Coordination Rodrigo Perez & Christiana Rausis
NINOS DU BRASIL
Iluminação | Light Setting Rodrigo Leitão
Lançamento disco Vida Eterna | Launching the LP Vida Eterna Nico Vascellari (ITA) – Artista | Artist Nicolò Fortuni (ITA) – Artista | Artist Carlos Casas (ESP) – Artista Convidado | Guest Artist VIZINHA FALADEIRA (BRA-RJ) ANDREA LISSONI (ITA) / TATE MODERN (ING)
Curador convidado internacional | Internacional Guest Curator
Gabriela Mureb (BRA-RJ) – Artista Visual |Visual Artist 10 nov | nov 10th
MULTI_OCUPA_PORTO_ÉDEN
AVALANCHE LIVE CINEMA
Carlos Casas (ESP) – Artista | Artist Neil Leonard (EUA) – Artista Convidado | Guest Artist Nikhil Uday Singh (IND) – Artista Convidado | Guest Artist Chelpa Ferro (BRA-RJ) – Artista Convidado | Guest Artist Dj Nado Leal (BRA-RJ) – Artista Convidado | Guest Artist 11 nov | nov 11th
ARMAZÉM DA UTOPIA | UTOPIA WAREHOUSE
OBARULHOÉVISUAL / OBAGULHOÉVISUAL
Lenora de Barros (BRA-SP) – Artista | Artist Raul Morão (BRA-RJ) – Artista | Artist PERFORMANCE
Coni (FRA) – Artista | Artist FIELD
Martin Messier (CAN) – Artista | Artist CONTINUUM AV
Paul Jebanasam (ING/SRI) – Artista | Artist Tarik Barri (HOL) – Artista | Artist LOOPING: BAHIA OVERDUB
Coapresentação do (Co-presentation by) Festival Panorama Nayse López – Curadoria | Curatorship Felipe de Assis, Leonardo França e Rita Aquino – Concepção e criação | Conception and Creation Mahal Pita & Felipe de Assis – Criação musical | Musical Creation Ícaro Sá – Músico | Musician Bruno de Jesus, Jai Bispo, Jorge Oliveira, Lais Oliveira, Leonardo França, Rita Aquino & Talita Gomes – Intérpretes-criadores | Creative Interpreters
2018 FESTIVAL MULTIPLICIDADE Concepção, Direção e Curadoria | Conception, Direction and Curatorship Batman Zavareze Assistência de Direção | Direction Assistant Aïcha Barat Produção Executiva | Executive Producer Patrícia Bárbara Coordenação de Produção | Production Coordination Raquel Bruno Produção | Production Monna Carneiro Assistência de Produção | Production Assistant Luana Daltro Nathalia Ditto Design Boldº_a design company Direção de Design | Design Direction Leo Eyer Design Gráfico | Graphic Design Rodrigo Moura Assistencia de Design Gráfico | Graphic Design Assistant Pedro Bittencourt Coordenação Gráfica | Graphic Coordination Vivianne Jorás Cenografia | Scenography Susana Lacevitz Comunicação Digital | Digital Communications MOVIN’
Produção de Conteúdo Digital | Digital Content Production Milton Batista & Pedro Aragão
Rigger Jorge Vargas Cristiano Fernandes Antônio Bezerra Uniformes | Uniforms Vetor Silk
Som e Luz | Lights and Sound Dl Som e Imagem
Segurança | Security Sunset
Técnico de Som | Audio Technicians Leonardo Almeida
Transporte | Transportation Leonardo Pirovano David Pirovano Nilson Oliveira
Mídia e Projeção na Abertura | Media and Projections at the Opening On Projeções Técnico de Projeção | Projection Technician Marcio Henrique Cenotécnico | Scenic Technician Alex Augusto, Danilo dos Santos Gonçalves, Mario José da Costa Filho, Severino Pereira da Silva, Carlos Fernando de Gusmão & Leonardo da Silva Faria Monitoria | Guides Fernanda Lacerda, Katiuscia Dantas, Luan Bastos, Marcele Oliveira, Matheus Affonso, Nathalia Ditto, Rafael Fogel & Theo Davanture Monitores na montagem da obra Tape | Assistants in the set-up of Tape Alcíbano Gomes Jr, Alessandra Carius Ananda Almeida, Beatriz Coelho, Erica Alves, João Vexani, Maria Clara Blanco, Pamela Batista, Rafael Bandeira, Rafael Fogel, Rodrigo Rivelo, Tháles Guimarães, Thaysa Barros & Vitor Kibaltchich Assessoria de Imprensa | Press Office Palavra Assessoria em Comunicação Textos Editoriais | Editorial Texts Carlos Albuquerque Fotos | Photos Francisco Costa Clap Bleia Campos Câmera | Camera Alfredo Alves Márcio Zavareze João Oliveira Edição | Editing João Oliveira Glauber Vianna Impressões | Printings Jpeg Digital Ginga Design EKS Sididigital Serviços Gráficos Serralheria | Metalwork Ubiraci Santos de Lima Ewandro França Vilmar Paranhos Flavio da Silva Pintura | Painters Paulo Ferreira Campos Evander Cristian Rodrigues de Freitas Antonio Teixeira Adesivos | Adhesives Alexandre Giffoni Coelho Leal Cristiano Pinto Valle Erisson de Freitas Lima Anderson da Silva Mota Gaspar Fernando
Frete | Shipment Francisco Leandro da Silva Eduardo da Silva Santos Ressignificação da obra TAPE | Re-signification of the installation TAPE Rostand Albuquerque Rafael Fogel Ressignificação da Lona Grande Campo | Re-signification of the Grande Campo tarpaulin Ecomoda (Almir França) Equipe de projeção | Projection team Marcio Henrique Gonçalves Leonardo Bastos Felipe Castelo Oliveira Lídia Costa Equipe de som e luz | Sound and lighting team Adolfo da Cruz, Alcides Rodrigues, Ana Carolina Borges Ribeiro, Elso Fernandes Neto, Evaldo Alexandre Mattos, Fabio Pereira Ferreira, Henrique Romualdo Espírito Santo, Luiz Leonardo Gomes de Almeida, Manuela Scouris Borges de Araújo, Márcia Patrícia Ferreira Viana de Sousa, Murilo de Souza Campos, Pedro Montano Máscolo, Rodrigo Dias & Weverton Enok Souza Alves Equipe de Troca de lona Grande Campo | Team responsible for the Grande Campo tarpaulin Sidnéia, Andrei Yuri Ribeiro Ferreira, Dedicacio de Faria, Guilherme dos Santos Silva, Osvaldo Maria Lua da Silva, Rogério Ferreira & Vagner Rodrigues Carregadores | Carriers Douglas Vinicius Souza Cardoso Jonatan Gomes Severino Phellipe Bastos Diamante Leonardo Dos Anjos Silva
LIVRO | BOOK 2017_2018 Concepção, Direção e Curadoria | Conception, Direction and Curating Batman Zavareze Editor-chefe | Editor-in-chief Renato Rezende Editora | Editing Circuito Assistente de Direção | Direction Assistant Aïcha Barat Coordenação editorial | Editorial Management 27 Mais 1 Comunicação Visual Projeto Gráfico | Graphic Design Bold°_a design company 93
Direção de Criação e Design | Creative Direction and Design Leo Eyer
Pedro Varella (gru.a) (BRA-RJ) – Artista | Artist
Direção de Arte e Design Gráfico | Art Direction and Graphic Design Rodrigo Moura
Leo Eyer (BRA-RJ) – Designer
Coordenação Gráfica | Graphic Coordination Vivianne Jorás
TEATRO CENTRO CULTURAL OI FUTURO
Impressão | Printing StilGraph Textos | Texts Felipe Scovino_2017_p.10 Fred Coelho_2017_p.10 Marcio Abreu_2017_p.144 Batman Zavareze_2017_p.102 Roberto Guimaraes_2018_p.8 Eduardo Viveiros de Castro_2017_p.110 Pedro Varella_2018_p.49 Carlos Casas_2018_p.97 Fernando Velázquez_2018_p.63 Raimo Benedetti_2018_p.84 John Cage_2017_p.15 Fotos | Photos André Hawk_2017 Elisa Mendes_2017 Francisco Costa_2018 CLAP_2018 Bleia Campos_2018 Marlus Araujo_2018 Alfredo Alves_2018 Ignacio Aronovich_ 2018 Tratamento Fotográfico | Photo Processing Rodrigo Moura Tradução | Translation Renato Rezende Martin Heuser Revisão | Proofreading Renato Rezende Gestão Financeira | Financial Management Mirian Peruch Contabilidade | Accounting Macedo & Muzzio Contabilidade Gerencial Consultoria Financeira | Financial Consulting José Carlos Barboza Realização | Made Possible By 27 Mais 1 Comunicação Visual
PROGRAMAÇÃO | PROGRAMMING 17 set | sep 17th
ESTREIA_MULTIPLICIDADE @ OI FUTURO FLAMENGO RIO DE JANEIRO
LANÇAMENTO DO LP BARULHO | LAUNCHING OF THE LP BARULHO EXPOSIÇÃO ESPAÇOS UTÓPICOS (PÁTIO / TÉRREO / GALERIA I) ICEBERG
Fernando Velázquez (URU) – Artista | Artist TAPE
Numen (CRO/AUS) – Artista | Artist
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AÇÕES NO PÁTIO
LAMBE-LAMBE
APROXIMAÇÃO POR QUASI CRYSTAL
Sanannda Acácia (BRA-RS) – Artista | Artist ENVIRONMENT SERIES
08 nov | nov 08th
SEDE DAS CIAS
LANÇAMENTO DO LIVRO ENTRE PÁSSAROS E CAVALOS | LAUNCH OF THE BOOK ENTRE PÁSSAROS E CAVALOS
Raimo Benedetti (BRA-SP) – Palestra Performance | Lecture performance Bebeto Abrantes (BRA-RJ) – Provocador | Provoker NOISE TABLE
Roland Bucher (SUI) – Artista | Artist
Phill Niblock (EUA) convida / invites Livio Tragtenberg (BRA-SP) – Artistas | Artists
09-10 nov | nov 09-10th
17 set a 18 out | sep 17th to oct 18th
Phill Niblock (EUA) – Performance audiovisual | Audiovisual Performance
MULTIPLICIDADE@IAB-RJ
TAPE
Numen (CRO/AUS) – Coletivo artístico | Artisctic collective # 19 out | oct 19th
MULTIPLICIDADE@IAB-RJ
FUNDIÇÃO PROGRESSO
THE MOVEMENT OF PEOPLE WORKING
CHRONOSTASIS
Franck Vigroux (FRA) – Artista visual | Visual Artist Antoine Schmitt (FRA) – Artista sonoro | Sound Artist DJS
Rostand Albuquerque (BRA) – Cenógrafo | Scenographer & Performer
Dj Nepal (BRA-RJ) Dj Erica (BRA-RJ) Dj TataOgan (BRA-RJ)
17 set a 28 set | sep 17th to sep 28th
18 nov | nov 18th
RESSIGNIFICAÇÃO DE TAPE
MULTIPLICIDADE@LAB OI FUTURO
PALESTRA PERFORMANCE | PERFORMANCE SPEECH - ICEBERG
Fernando Velázquez (URU) – Artista | Artist CONFERÊNCIA: O NUMEN E SEUS DESDOBRAMENTOS | CONFERENCE: NUMEN AND ITS UNFOLDINGS
Sven Jonke (CRO) – Artista | Artist BRAZIL 83 & 84
Phill Niblock (EUA) – Palestrante | Speaker 18 set | sep 18th 6 FILMS
Phill Niblock (EUA) – Palestrante | Speaker 26 SET | SEP 26th WORKSHOP
Sanannda Acácia (BRA-RS) – Artista / Artist 27 set | sep 27th PALESTRA
Pedro Varella (BRA-RJ) – Palestrante | Speaker 12 out | oct 12th
DIA DAS CRIANÇAS – OFICINA TAPE UPCYCLING
20 out | oct 20th
MÊS DA CRIANÇA – OFICINA COLAGEM MURAL
27 out | oct 27th
MÊS DA CRIANÇA - OFICINA PERCUSSIVA E ATIVAÇÃO SONORA | PERCUSSION WORKSHOP AND SOUND ACTIVATION
Siri (BRA-RJ) – Artista | Artist
RESSIGNIFICAÇÃO DE TAPE
Rafael Fogel (BRA-RJ) – Arquiteto | Architect
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AGRADECIMENTOS | ACKNOWLEDGMENTS
2017/2018
Ao (to) Oi Futuro (Roberto Guimarães, Victor D’Almeida, Alberto Saraiva, Luciana Adão, Claudia Leite, Zélia Peixoto, Yuri Chamusca, Sandro Rosa, Sérgio Ricardo Pereira, Bruna Cruz e Joseph Andrade), Rafaela Zanete e equipe do Educativo Oi Futuro (Renata Fontes Freire, Chimênia Sczesny, Yuri Porfírio, Maju Torres, Teitiane Oliveira), Pedro Genescá e (and) equipe (team), Monica Cotta, à (to) Secretaria de Cultura do Estado do RJ (Andre Lazaroni, Aldo Mussi, Carla Pretti Mercante, Claudia Albuquerque Marques, Silvio Cesar, Izabel Vilhena, Barbara Lima, Conceição Diniz e (and) Adrianne Felix), à (to) Secretaria Municipal de Cultura do RJ (Nilcemar Nogueira, Andre Marini e Marcelo Alves), ao (to) British Council (Martin Dowle, Cristina Becker, Sabrina Cândido), ao (to) Consulado Geral da França Rio de Janeiro (Romann Datus, Ioná Zalcberg e (and) Jessica Goncalves), Guillaume Pierre, ao (to) Ministro de Cultura / Minister of Culture (2017) Sergio Sá Leitão, Jorn Konijn, Junior Perim, Francisco Bosco, aos (to) Kuikuro (Jacalo, Jair e/an Takumã Kuikuro e a comunidade da aldeia / and to the community of the village Ipatse), ao (to) People’s Palace Project (Paul Heritage, Thiago Jesus e equipe / and team), Billy Bacon, Carlos Casas, Andrea Lissoni, Nico Vascellari, Nicolò Fortuni, ao (to) Éden (Cristiane Pinheiro, Letícia Dantas, Ton Araújo, Roberta Jacintho, Victor Hugo Mattos, Jorge Mendes), ao (to) Armazém da Utopia (Luiz Fernando Lobo, Tuca Moraes, Roberta Mello e/and equipe / team), ao (to) Grupo dos Festivais Internacionais do Rio de Janeiro (Festival do Rio, Tempo, Panorama, Festlip, Curta Cinema e Fil), Nayse López, Santi Elias, Renato Saraiva, Tania Pires, Karen Acioly, Vilma Lustosa, Ailton Franco Jr, Marcia Dias, Cesar Augusto, Bia Junqueira, à (to) Editora Cobogó (Bel Diegues, Claudio Lima e/and Giulia Zelesco), Giuliano Obici, à (to) Equipe IAB (Pedro da Luz Moreira, Jorge Luis de Oliveira, Álvaro José de Souza Faria, Vandeval Lourenço dos Santos, Rubens Biotto, Ana Lucia dos Santos), à (to) Equipe Sede das Cias (Thaís Pinheiro, César Augusto, Marcelo Olinto), à (to) Equipe Fundição Progresso (Perfeito Fortuna, Uirá Fortuna, Tina Palma, Vanessa Damasco e/ and Cadu Tepedino), ao (to) Colaboramérica (Renato Byington, Renata Salles, Maria Amorim e/and Bernardo Ferraciolli), Luana Lessa, Victoria Passos, José – gerente do Botequim dos Amigos (e equipe/ and team), Raquel Baroni – Café Baroni (e equipe/ and team), Nico Espinoza, Beline Cidral, Marta Porto, Mariana Varzea, Jair de Souza, Jailson de Souza, Lena Cunha, Luciana Modé, Lenora de Barros, Raul Mourão, Neil Leonard, Felipe Assis e especialmente à (and specially to) Equipe Multiplicidade 2017 /2018 (Multiplicidade’s 2017/2018 team)
DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO – CIP
Z393
Zavareze, Batman
Multiplicidade 2018/2017 / Batman Zavareze. – Rio de Janeiro: Oi Futuro; Circuito, 2019. (Coleção Arte e Tecnologia Oi Futuro – Coordenação José Alberto Gomes Saraiva). 300 p.: Il.
ISBN: 978-85-99247-63-1
ISBN: 978-85-9582-040-1
1. Artes. 2. Arte Contemporânea. 3. Arte Brasileira. 4. Arte Sonora. 5. Arte Visual. I. Título. II. Série. III. Saraiva, José Alberto Gomes, Coordenador. CDU 7.036 CDD 700
Todos os esforços foram feitos para encontrar e contatar os detentores dos direitos autorais. All efforts have been made to find and contact copyright holders.
© Editora Circuito
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Um Projeto da | Project by 27 Mais 1 Comunicação visual 95
O RITUAL DE NIBLOCK
Carlos Casas
A obra de Niblock é como um trem que avança sobre dois trilhos, o visual e o sonoro, ambos sempre juntos, criando uma experiência física, contínua, imponente, imensa, envolvente e hipnótica.
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Phill Niblock nos escritórios da PTA, Nova Iorque, 1954 Phill Niblock at PTA Offices, New York, 1954.
Marc Ramirez tocando no Five Spot, Nova Iorque, 1955 Marc Ramirez playing at the Five Spot, New York, 1955
John F. Niblock trabalhava como operador de máquinas na fábrica da General Motors em Anderson, Indiana, e nos finais de semana assombrava as sessões dos antigos cinemas Paramount e Estate em Anderson, acompanhando com seu xilofone e percussão os clássicos do cinema mudo do início do século XX. Earl Niblock, seu filho, mais tarde também trabalhou na GM como engenheiro de fábrica. Como seu pai, ele também tocava piano, mesmo que fosse apenas um amador. Naqueles anos, Star Dust de Hoagy Camichael era um clássico popular. Alguns anos depois, em 1933, nasce Phill Niblock. Sua mãe, Thelma Sophie Smith, era dona de casa e apaixonada por numerologia. Earl, seu pai, seguia trabalhando na fábrica da GM. Na sua infância, Phill Niblock passava seu tempo entra a fábrica da General Motors, onde trabalhou em alguns verões, e os cinemas de Anderson. Na sua adolescência, era apaixonado por romances de mistério e faroeste, e descobre Dashiell Hammett, sua primeira grande influência, criando as bases para seu trabalho posterior, segundo ele. “A maneira como Hammett destilava suas ideias e ia direto ao ponto com suas frases, sem rodeios ou enfeites” 1. Mais tarde, começa a frequentar a Joe’s Record Shop, a loja de discos de Joe Pike, que familiarizou Niblock ao jazz. Pouco a pouco conhece a música de Duke Ellington, e assiste em 1948 a um concerto de Ellington no cinema Paramount em Anderson. Naquela época, Phill passava suas noites ouvindo às estações de rádio de Nova York com um rádio transistorizado que havia preparado para ouvir programas que atravessavam milhares de quilômetros até chegar em Indiana. Phill ficava acordado até tarde junto ao seu rádio e ouvia pela primeira vez shows de jazz na 52nd Street em lugares como Birdland, Royal Roost e músicos como Charlie Parker, Dizzy Gillespie e seu adorado Duke Ellington. Em alguma dessas sessões, o jovem Phill começou a pensar em ir a Nova York, onde estavam seus heróis. Em 1956, recém-graduado em economia, e sabendo que seria recrutado pelo exército, ele decide alistar-se voluntariamente, e é destinado à escola de Rádio Operadores em Fort Knox, onde, entre outras coisas, aprende o código Morse. Mais tarde, o enviam ao Alabama, onde comanda um regimento, já que era o único com alguma formação. Assim consegue permissões para viajar para a Europa. Aos 24 anos visita Paris, Frankfurt, Munique e Bruxelas. Em uma dessas viagens, Phill recorda ter visitado o Pavilhão Philips que Le Corbusier e Iannis Xenakis construíram na exposição universal de Bruxelas em 1958. Com música de Edgar Varèse e seu Poeme Electronique, o pavilhão é um mito da modernidade na segunda metade do século, ainda hoje considerado um ponto de referência para o desenvolvimento da música experimental e da composição no século XX. Phill se lembra de vagar pelos Parabolóides e Hiperbólicos do pavilhão escutando os sons espacializados de Varèse, e recorda o quanto isso o impressionou aos 25 anos de idade. Não há dúvida de que o trabalho de Varèse é importante, de uma forma ou de outra, para compreendermos o trabalho de Niblock. 99
Após sua passagem pela Europa, decide mudar-se para Nova York. Em 1958, aterriza em Nova York e mora em uma residência na 49 th Street para estudos bíblicos, onde paga um aluguel irrisório e começa a frequentar concertos de Toshiko Akiyoshi, Bud Powell, Ben Webster e John Coltrane nos clubes mais importantes da época, como o Five Spot e o Half Note. Nos anos 60 tem vários empregos, como vendedor de enciclopédias e vendendo fundos de investimento no Empire State Building, onde entra em contato com Jerome Manill, que vendia equipamentos audiovisuais Hi-Fi. Esse é o primeiro contato que Phill tem com o universo audiovisual. Também conhece Bill Hollinger, que o contrata para trabalhar em sua empresa, Programme Teaching Aids, dedicada à venda de máquinas educativas. Trabalha também com BF Skinner e é nesse momento que começa a tirar fotos desses equipamentos para os catálogos da empresa. Em 1960 compra uma Beseler Topcon e começa a tirar fotos em suas visitas a clubes de jazz. Suas primeiras fotos foram de Ben Webster no Harlem. Seu chefe, Hollinger, dá a ele um quarto escuro e assim Niblock começa a trabalhar como fotógrafo profissional, fotografando seus heróis: Ben Webster, Duke Ellington Band, Coleman Hawkins, Roy Eldrige, Dizzy Gillespie, Woody Herman e Rem Ramirez. Logo consegue fotografar algumas sessões de gravação no famoso estúdio Columbia, onde poucos anos antes Miles Davis havia gravado seus clássicos, e onde Phill fotografa a última sessão de Ellington em 1961. Nesse período, começa também a assistir concertos de música contemporânea. Niblock menciona especialmente um concerto que o marcou muito. Organizado por Max Polikoff em sua série Music in our Time no espaço YMHA da 92nd Street. No dia em que Morton Feldman estreava sua composição Durations, Niblock teve uma revelação: a música pode ser um fluxo contínuo, sem ritmo, sem melodia, com sons longos que nos transportam. Com essa experiência, Niblock sentiu que podia desenvolver essa ideia, que tinha essa liberdade de movimento e que Feldman, com sua composição, lhe dera permissão, liberdade e coragem para iniciar sua própria aventura. Nos anos 60, Phill vai a clubes, exposições, concertos de música contemporânea, e mantém sua atividade como fotógrafo da cena de jazz novaiorquina. Por volta de 1965, começa a ter contato com a cena do Judson Dance Theater que entre 1962 e 1964 realiza na Memorial Judson Church, em Greenwich Village, uma série de eventos que marcam fortemente a cena artística da cidade naquele período, com artistas como Steven Paxton, Fred Herko, David Gordon, Yvonne Rainer, Lucinda Childs, Meredith Monk e Elaine Summers, com quem Phill teria mais contato, e com quem colaboraria em filmes e com quem fundaria mais tarde a Experimental Intermedia. Niblock colabora também com Yvonne Rainer, criando peças e documentando alguns de seus eventos. O intercâmbio com essa cena de coreógrafos, músicos e artistas da Judson é muito importante para o desenvolvimento de Niblock em um aspecto puramente coreográfico e como compositor. Nesse período, Yvonne Rainer busca a essência da dança e do movimento, e começa a trabalhar com pessoas das ruas sem experiência prévia de dança, bailarinos não profissionais, nos quais busca o movimento natural e gestos essenciais, ideias inspiradas por Taylor e Laban, e que 100
Duke Ellington na sala de controle, 1961 - 64. Duke Ellington in a control booth, 1961 - 64.
encontram em Nova York um terreno muito fértil para experimentação. As teorias de Rainer influenciam toda uma geração em Nova York, incluindo Niblock, que alguns anos mais tarde realiza sua obra prima, The Movement of People Working, em uma busca ainda mais radical por um corpo cada vez mais distante do processo artístico. Outro evento que o marcou nesse período foi o encontro com o fotógrafo-cineasta Ralph Steiner, seu vizinho na 33rd Street, com quem mantém uma relação de intercâmbio profissional. Steiner é uma figura chave para entender o cinema experimental americano. Ele exemplifica a divisão entre o cinema documental clássico, Pare Lorentz, Paul Strand, e o trabalho da nova geração, como Stan Brakhage, Nathaniel Dorsky e Peter Hutton. Seu contato com Steiner é o ponto de referência essencial para compreendermos o trabalho de Niblock. Em 1966 realiza sua primeira exposição na Underground, uma galeria de fotografia na 10th Street com sua última série em preto e branco, realizada entre 1960 e 1966. Niblock compra então sua primeira Bolex do dono da galeria e assim começa a trabalhar com ela realizando seus primeiros filmes, em um período muito produtivo em que Niblock se concentrou na ideia de realizar um filme por dia. Criou uma série de filmes que logo chamou de 6 Films, entre os quais está Morning (196669), em colaboração com Jean Claude Von Ittalie, seguido por peças clássicas, como Magic Sun (1966-69), um dos documentos mais radicais e interessantes jamais filmados sobre Sun Ra, com imagens feitas no 101
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Sessões de gravação na Columbia Records, Duke Ellington tocando piano, Columbia sessions, Duke Ellington playing piano.
apartamento de Sun Ra na Segunda Avenida, usando uma lâmpada e refletor caseiro forrado com papel alumínio, durante em uma noite, e 200 pés de um filme de alta sensibilidade e forte contraste em preto e branco (Kodak 7203 stock Sander Black and White), material normalmente utilizado para créditos de filmes e que quando revelado em um banho de alta sensibilidade, dá a sensação de ter sido filmado em Saturno... Sun Ra e sua Arkestra improvisaram por algumas horas enquanto Phill os filmava. Mais tarde, Phill escolheu faixas da discografia de Sun Ra para realizar a montagem final. Alguns meses mais tarde, quando Niblock mostrou o filme a Sun Ra, ele comentou: “Você é mais louco do que eu” 2. Uma espécie de bênção que previa o quão visionário Niblock havia sido com seu filme. Em 1966, também realiza um retrato de seu amigo Max Neuhaus, Max, com música do próprio Neuhaus, seguido pelos retratos do pintor Raúl Middelman, e da bailarina e coreógrafa Ann Danoff, Annie (1968), bem como um filme anômalo na carreira de Niblock, chamado Dog Track (1969) no qual Phill apresenta um texto de ficção de Bárbara Porte, retratando sua relação com um cão e usando imagens de experimentos cinematográficos daquele período. O ano de 1968 foi importante para Niblock. Em abril ele decide alugar um loft no SOHO. Nesse período, o bairro, que ainda não era conhecido por esse nome, era um deserto de espaços industriais que, após a crise dos anos 50, estavam abandonados e começavam a ser transformados em estúdios. Assim começava um dos primeiros casos de gentrificação urbana, e ali nasce o que se tornaria a cena Downtown, de artistas que marcaram a cena artística de Nova York, como Trisha Brown, Gordon Matta-Clark, Laurie Anderson, Donal Judd, etc., muitos dos quais abriram espaços de arte, restaurantes e galerias. Naquele período, o loft de Niblock ficava entre as ruas Grand e Centre, uma zona ainda inexplorada por artistas. Mas logo logo começam a chegar ilustres vizinhos na região. The Kitchen era o o lugar onde as coisas aconteciam, então administrado por Stella e Woody Vasulka. Herman Nitsch apresentou no local o seu novo trabalho, e o sangue que usou na sua performance impregnou o espaço, impossibilitando a realização de um concerto que Niblock havia planejado. Para não precisar cancelar o evento, Phill decidiu realizá-lo em seu loft. Conta a lenda que esse foi o primeiro de muitos concertos realizado lá. Mais de 800 artistas já passaram pelo loft e suas séries se tornaram obrigatórias na cena internacional de música experimental. Nesse mesmo período, Phill realizou seu primeiro grande evento na Judson Memorial Church, definindo-o como teatro não-verbal com dança, música e filme no qual apresentou pela primeira vez ENVIRONMENTS (1968). A série mantém uma forte relação com a natureza e é influenciada pelo trabalho de Edgard Weston e Ralph Steiner, com imagens da natureza ou de paisagens filmadas durante viagens de moto no estado de Nova York. Nesse período, Phill realiza e filma trabalhos que estão sendo redescobertos apenas hoje, mais de 40 anos depois, apresentados em 2013 na retrospectiva com curadoria de Mathieu Copeland em Lausanne e logo seguido por um DVD de THIR (montagem de um filme de 43 minutos com material filmado em Environments 3 e 103
Frames de Environments Series. Stills from Environments Series. 104
que publicado por Von Archives). THIR é um filme importante em sua carreira. Filmado perto das montanhas de Adirondack no norte do estado de Nova York, com uma Beaulieu 16mm, mostra imagens captadas com uma lente Zoom em dez lugares diferentes e em uma área de 100 polegadas, 250 cm2 de natureza quase microscópica de beleza sublime, gotas de água deslizando por folhas, abelhas coletando o néctar de flores desconhecidas, minúsculos suspiros de gelo que parecem dançar ao ritmo da música, reflexos na água que se tornam tipografias e símbolos de uma linguagem a ser decifrada. THIR é sem dúvida um dos trabalhos mais introspectivos de Niblock e onde a natureza tem protagonismo mais feroz, revelando a influência de Weston e Steiner e do movimento de fotógrafos americanos que ao longo da segunda metade do século trabalham para redescobrir a paisagem americana, novas vozes que conseguem reapaziguar e rever sua relação com a natureza. Porém, um dos pontos mais importantes daquele evento de 1968 na Judson Church é que Phill decide finalmente criar sua própria música para suas imagens. Ele nos conta que a razão pela qual ele decidiu começar a compor foi sua difícil colaboração com Max Neuhaus, com quem estava criando as músicas para o primeiro evento da série e com quem teve problemas ao tentar realizar o que tinha em mente. Dessa frustração surge Niblock como compositor. Ele reconhece que Neuhaus é a razão pela qual começa a compor, a ideia de que ele mesmo podia criar suas próprias composições. Do mesmo modo com que começou a fotografar, Phill decide que vai controlar todo o processo criativo sem recorrer a colaborações cansativas. No primeiro evento da série Environments, Niblock apresenta uma série de filmes com coreografias improvisadas de várias bailarinas: Ann Danoff, Barbara Lloyd (Dily) e Vernita Nemec, além de uma abertura com Meredith Monk estreando sua primeira peça musical, Organ for Judson Church, uma composição em que suas ideias começam a convergir para o que chama de sua música, suas ideias. Com este tema Niblock finalmente consegue encontrar algo pessoal, utilizando sua paixão por microtons e harmônicos... Para compor a peça, utilizou a órgão da Judson Church para a criar os sobretons e os microtons com diferentes registros do órgão que estavam desafinados. Ele os gravou com seu Uher em duas faixas, e em seguida usou a gravação no concerto com Meredith Monk, que tocava o início da peça ao órgão e, logo que a gravação tomava conta, Monk voltava para a plateia. A segunda incluia música de Max Neuhaus, imagens de Niblock e improvisação de dança. Esse pode ser considerado o primeiro evento intermedia de Niblock. Em grande sintonia com seu tempo e com o contexto onde foi apresentado. A série continua com CROSS COUNTRY / ENVIRONMENTS II (1970), na qual Niblock apresenta seu filme Cross Country, realizado em uma viagem de sete semanas pelos Estados Unidos, em que foi de Nova York a Seattle, da costa oeste a San Diego, e de volta a Nova York passando pelo Colorado e Kansas. Foram mais de 20.000 km capturados em um rolo de 50 minutos que na apresentação se alterna com slides tirados na mesma viagem, alternando imagens em movimento com imagens fixas.
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Um ano depois, 100 MILE RADIUS/ENVIRONMENTS III (1971) é apresentado no Whitney Museum; com três enormes telas com projeções de imagens em 16mm filmadas em um raio de 100 milhas ao redor de Clinton, NY, os filmes são cortados e seguidos por slides tirados no mesmo contexto. TEN HUNDRED INCH RADII/ENVIRONMENTS IV (1972) foi apresentado no Everson Museum of Art de Siracusa. Três projeções em 16mm foram realizadas nas montanhas de Adirondack e intercaladas com slides e improvisações coreográficas de bailarinas, incluindo Ann Danoff e Barbara Lloyd. Sua série Environments sem dúvida estabeleceu as bases de seu trabalho, que de certa forma é o início de uma viagem que o levou a tornar-se sem dúvida o primeiro artista que trabalha com sons e imagens da maneira tão compacta. Mesmo que colaborações entre músicos, artistas, coreógrafos e cineastas fossem muito comuns naquela época, Niblock parece se tornar mais independente e sua voz de cineasta começa a se misturar com sua voz de compositor. Essas duas vozes levaram alguns anos para se tornar mais e mais compactas. De certa forma, sempre tive a sensação de que a obra de Niblock é como um trem que avança sobre dois trilhos, o visual e o sonoro, ambos sempre juntos, criando uma experiência física, contínua, imponente, imensa, envolvente e hipnótica. O período que começa depois de Environments em 1972-75 levará Phill a se afastar cada vez mais das colaborações e a começar a pensar na ideia de viajar para capturar imagens de pessoas trabalhando, uma maior radicalização das teorias de Rainer, buscando uma separação completa entre criador e sujeito e usando as imagens como testemunho único dessa criação, Niblock realiza uma viagem a algumas regiões de Nova York em busca desses gestos essenciais, talvez em busca de suas memórias de infância quando ele visitava seu pai na fábrica da General Motors em Anderson. Essas primeiras imagens, sem um fim narrativo, mas puramente contemplativo, e buscando afastar-se do que chama de artificialidade da dança, Niblock começa a apresentar essas imagens como acompanhamento para seus concertos, que começam a ser mais e mais reduzidos em termos de produção, afastando-se das grandes produções com coreógrafos, bailarinos e músicos. Isso permite que ele tenha total independência e reduz sua produção ao mínimo, o que também lhe permite viajar mais. Nesse período, trabalha como professor de fotografia e cinema em Staten Island e assim consegue financiar parte de suas viagens de verão, ou períodos sabáticos. Assim começa uma série de viagens que se estenderam de 1972 a 1991, a países como o México (73-74-75), Peru, Brasil (83-84), África do Sul, Canadá, China (86-87-88), Portugal, Hungria, Sumatra (1990), e que deram origem à sua obra prima, The Movement of People Working. Nessas viagens em que Phill filma pessoas trabalhando, sua máxima estética é registrar pessoas em movimento. Ele não está interessado nas pessoas em si, mas no puro ato do movimento de trabalho. Nesse ponto, afasta-se do documentário clássico onde há uma necessidade narrativa de conhecer esses personagens e de entrar em 106
2. Phill Niblock em entrevista para Raphael Smarzoch. In Phill Niblock et al. Working Title, Les Presses du Reel, 2013.
contato com eles. O trabalho de Niblock é não-narrativo e sem edição. A montagem ocorre no momento da filmagem. Ele seleciona o ângulo e a distância da melhor maneira possível, aproximando a câmera até o ponto exato e realizando tomadas de 2 a 3 minutos de duração com um filme de 16mm (Kodak). Essas tomadas criam seu próprio ritmo abstrato que se relaciona com a música na qual as estruturas não são sincronizadas. A imagem é independente mas complementa suas composições. É então que Phill começa a realizar o que chama de evento intermedia, concertos nos quais apresenta seus filmes em várias telas, com suas composições que vão se tornando cada vez mais complexas e com mais projeções. Não há razão política por trás dessa seleção, e embora a seleção desses locais já seja uma decisão política, o objetivo de Niblock nunca foi político. Seu trabalho é puramente estrutural, buscando desconstruir o ato do trabalho e reorganizar um corpo intermídia. Embora Niblock tenha uma sensibilidade cinematográfica, seu objetivo nunca o foi. Suas imagens equivalem à música, são a própria música. Ele não consegue vê-las como independentes. Assim compreendemos essa interrelação que ocorreu poucas vezes na cena artística da nova sensibilidade que nasce e se desenvolve a partir de John Cage em Nova York. Phill talvez seja o primeiro artista intermídia, o primeiro verdadeiramente audiovisual. A imagem é relativa ao som e o som é relativo à imagem, como nunca antes havia ocorrido nas mãos de um criador. Embora alguns cineastas tenham sido músicos, como no caso de Michael Snow, por exemplo, esses formações nunca foram intrínsecas ou se retroalimentaram como no caso de Niblock, Nam June Paik ou Yoko Ono nos anos 60 e também dos precursores da música visual e filmes sonoros dos anos 20, como Viking Eggeling, Oscar Fishinger ou Walter Ruttmann. Esses casos nunca foram tão independentes e foram sempre fruto de colaborações com outros músicos e mais relacionado à arte abstrata. Nesse sentido Niblock é estilisticamente único e, em um sentido puramente de conteúdo, seu trabalho é incomparável, surgindo como uma voz independente. No período que vai de 1971 a 1991, Phill cria uma série de álbuns que também firmaram a sua posição como compositor, embora sua posição como músico fosse a de um alguém que nunca estudou música nem tocou nenhum instrumento. Seu conhecimento das bases sonoras e apreciação do som puro e sua fenomenologia é de certo modo exemplar, e suas ideias em relação à drone music, aos sobretons e à criação de microtons é fundamental para entendermos o desenvolvimento de sua música e suas imagens. Niblock define sua música como essencialmente microtonal, colocando sons muito próximos uns dos outros que soam simultaneamente, e então são criados os campos e padrões para os sobretons. Contextualizando seu trabalho com sua própria visão do minimalismo, Niblock acrescenta: “Retirar tudo o que é supérfluo das estruturas musicais e trabalhar com uma parte reduzida dessa estrutura. Isso, para mim, é a definição de minimalismo.” 2 Sua série The Movement of People Working (1972-1991) é sem dúvida seu maior trabalho, e provavelmente o mais conhecido. Nos anos 80, Niblock também realiza uma série que chama de Anecdotes (Stories from Childhood), formada por entrevistas com pessoas 107
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Frames da série The Movement of People Working, Japão. Stills from The Movement of People Working series, Japan.
contando histórias de sua infância, apresentadas em vários monitores juntamente com slides fotográficos com imagens de paisagens abstratas em preto e branco realizadas com filmes de alta sensibilidade, criando uma dicotomia entre essas entrevistas e um imaginário abstrato que nos transporta a imagens incompreensíveis, quase como imagens de sonhos. Esse é um lado mais abstrato de Niblock que apenas encontra paralelo em Magic Sun, trabalho que realizou em 1968 sobre Sun Ra. Entre 1972 e 2013, Niblock foi onipresente na cena internacional, apresentando seu trabalho em Live Media em concertos ao redor do mundo. Embora esses sejam seus trabalhos mais conhecidos mundialmente, esse artigo não irá se aprofundar mais sobre eles. O trabalho de Niblock rompe todas as estruturas nas quais trabalho cinematográfico clássico supostamente deve se basear: narrativa, edição, melodia, ritmo e sincronia. Seu trabalho é como uma escultura, como um altar monolítico, como blocos de expansão da percepção física. O trabalho de Phill é para mim a primeira obra audiovisual aberta, a primeira verdadeira experiência sonora espacial que eu já vivenciei. A primeira viagem verdadeiramente audiovisual que realizei. Intermídia, crossmedia, como quer que se chame, o trabalho de Phill Niblock contém tudo o que é importante para mim, o essencial. Seu trabalho exige concentração, atenção, paciência e a capacidade de se deixar levar. A música de Phill Niblock levita para sedar nossos sentidos para uma melhor compreensão de nós mesmo e de nossa postura. Sua obra é uma progressão contínua, um canal mental invisível, uma experiência imprevisível. Sua música serve como guia para a liberação das entranhas. Em outras palavras, sua obra atua como uma experiência psicofísica. A imagem se torna um ponto focal e a música nos leva ainda mais longe. Seu cinema apresenta uma visão sensorial, na qual os dois campos, o sonoro e o visual, se sobrepõem no tempo e no espaço sem nenhuma sincronização explícita. A música de Niblock pode ser comparada a uma cachoeira em sua intensidade, sua obstinação, sua riqueza de detalhes e sua beleza solene. Sempre imaginei que a melhor maneira de descrever a música de Niblock é comparando-a com a música das sereias da Odisséia de Homero, um som não identificado que nos leva às entranhas e que afunda nossos barcos às profundezas do oceano perceptivo. Sua música é possivelmente a mais avançada forma de música que conheço, uma música fisiológica onde o corpo do espectador é parte do processo de composição, sua capacidade torácica recebe 120 decibéis que o mesmo corpo precisa processar para conseguir compreendê-la e senti-la em toda a sua dimensão. Sua música é a máxima expressão de que a música pode ser um ponto de inflexão e início do que poderíamos chamar de música do futuro. As imagens de Phill estão para mim incondicionalmente vinculadas à sua música. Elas são costuradas de forma natural e assíncrona. Cortes filmados em 16mm, com tomadas longas, cuidadosamente compostas para expressar os movimentos individuais de trabalhadores, coreógrafos e bailarinos da dança da vida, essa eterna coreografia. Imagens gravadas nas periferias urbanas e rurais de todo o mundo, registrando pessoas em seus ambientes de trabalho, homens e mulheres que usam suas mãos e seus corpos em uma eterna coreografia de trabalho e que parecem 109
sintonizados com o universo da música microtonal de Niblock. Todas essas imagens são atemporais; poderiam ter sido filmadas hoje, nos anos 60 ou mesmo em um passado remoto. São arquétipos, metáforas sobre os homens, que falam a todos nós de uma maneira profunda, que nos convertem, nos transportam. Todas essas imagens têm um tempo e um enquadramento perfeitos, capturadas não como documento, mas sim como gesto coreográfico, como música visual. As imagens são cruas, as cores saturadas e o som parece acontecer em nossa mente, enquanto a música de Niblock penetra nossos sentidos e inicia sua hipnose polifônica, e nossos corpos começam a afundar como que enfeitiçados. The Movement of People Working tem tido enorme impacto sobre a nossa compreensão da linguagem audiovisual através da ampliação de suas definições. Suas obras nos convidam a reconsiderar nossa relação com o mundo e examinar nosso interior mais profundo, pondo à prova nosso estado mental e nossa capacidade de compreensão do mundo. As estratégias visuais de Phill Niblock têm influenciado as novas gerações de cineastas como eu, que compreenderam e tomaram suas obras como um manifesto, por sua surpreendente simplicidade e por sua pureza, por sua abertura radical e qualidade épica. A magia e a beleza dessas imagens emergem de sua abstração e de sua concentração, de sua capacidade interna para nos sedar e nos transportar a uma dimensão e estado mental e físico diferentes. A única qualidade que respeito em um artista é sua capacidade de transportar-nos fisicamente no tempo. A arte para mim é uma questão de tempo de viagem, de cura. E o artista o faz fisicamente e mentalmente. Isso é exatamente o que faz o trabalho de Phill Niblock. Seu trabalho não é etnográfico, não é documental, não é um ambiente visual ou musical, não é apenas uma nova ferramenta de composição para cativar o espectador. O trabalho de Phill Niblock é um ritual. Carlos Casas é cineasta e artista cuja a prática abarca cinema, som e artes visuais. Seus filmes e instalações foram exibidos e premiados em festivais mundo afora como o Festival de Veneza, Festival Internacional de Rotterdam, entre outros. Seu trabalho tem sido exibido e performado em instituições de arte internacionais e galerias como a Tate Modern, Londres; a Fondation Cartier; o Palais de Tokyo; o Centre Pompidou, Paris, entre outros. Casas e Niblock colaboraram juntos em inúmeros projetos.
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NO NARRATIVES, NO EDITING, NO DRAMA, * NO BULLSHIT
* Com estas palavras, Casas se refere ao cinema experimental de Phill Niblock, inspirado livremente na frase cunhada por Tom Johnson, crítico de música, publicada no Village Voice: “No harmony, no melody, no rythm, no bullshit”.
* With the words above, Casas refers to Phill Niblock’s experimental cinema, loosely inspired by a sentence coined by Tom Johnson, music critic, published in the Village Voice: “No harmony, no melody, no rythm, no bullshit” 111
Phill Niblock (EUA) / Boatyard in Brazil, 1988
Em 1988 Phill Niblock viaja ao Brasil para filmar parte de seu The Movement of People Working. Durante sua viagem pelo Norte do país ele passou por um velho porto onde tirou uma série de fotografias. É a primeira vez que estas fotos são publicadas no Brasil. In 1998 Phill Niblock travels to Brazil to shoot part of his The Movement of People Working. During his trip across the North of the country he passed by an old harbour were he took a series of photographs. It’s the first time these pictures are published in Brazil .
THE NIBLOCK RITUAL
Carlos Casas
Niblock’s work is like a train that advances safely on two rails, image and sound, the two always side by side, creating a physical, continuous, imposing, immense, hypnotic and engaging experience. John F. Niblock worked as a machine operator at the General Motors factory in Anderson, Indiana, and during the weekends he loomed the sessions of the old Paramount and Estate movie theatres, accompanying with his xylophone and percussion the classic silent movies of the early 20th century. His son Earl Niblock also worked at GM later as a floor engineer, like his father. He was also an amateur pianist. In those years, Star Dust, by Hoagy Carmichael was a popular classic. A few years later, in 1933, Phill Niblock was born. His mother, Thelma Sophie Smith was a housewife and passionate about numerology and Earl, his father, kept working at GM. During his childhood, Phill Niblock spent his time between the General Motors factory, where he worked in a few summer jobs, and the movie theatres in Anderson. In his teens he was very fond of mystery and western novels, and got in acquainted with the work of Dashiell Hammett, who, according to him, became his first great influence and laid the foundations for his later work, because of “the way Hammett distilled his ideas and wrote sentences that went straight to the point with no adornments or digressions.” Later, he started to frequent Joe’s Record Shop, a music shop owned by Joe Pike, who introduced Niblock to jazz music. Little by little, he came into contact with the music of Duke Ellington, and attended, in 1948, Ellington’s first concert at the Paramount in Anderson. At that time, Phill spent his nights listening to radio stations from New York with a transistor radio he had managed to prepare to listen to night programmes that crossed thousands of kilometres before reaching Indiana. Phill stayed up late at night to listen for the first time to the sounds coming from jazz venues on 52nd Street, places like Birdland, Royal Roost, people such as Charlie Parker, Dizzy Gillespie and his beloved Duke Ellington. In some of those sessions the young Phill began to think about travelling to New York, where all his heroes lived. In 1956, right after receiving a degree in economics, and knowing that he had to get into the army, he decided to enrol voluntarily. He was sent to Fort Knox to the radio operators school where, among other things, he was taught the Morse Code. Later he was assigned a battalion in Alabama, where he commanded a regiment, since he was the only one who had an education. In this way, he was able to get permits and travel to Europe when he was 24, visiting Paris, Frankfurt, Munich and Brussels. During those trips, Phill recalls especially having visited the Phillips Pavilion built by Le Corbusier and Iannis Xenakis at the Brussels World’s Fair in 1958. With Edgar Varèse’s Poeme Electronique, the pavilion became a symbol of modernity in 136
the second half of the century, and is still regarded as a point of reference for the development of experimental music and composition of the 20th century. Phill remembers wandering through the hyperbolic paraboloids while listening to Varèse’s spatialised sounds, and remembers how impressed he was at 25 years of age. Varèse’s work is no doubt important in one way or another to understand Niblock’s work and perhaps this encounter left a lasting impression on him. After his stay in Europe, he decided to move to New York. In 1958, he landed in the city and lived in a Bible studies residence on 49th Street where he payed very low rent and started to attend concerts by Toshiko Akiyoshi, Bud Powell, Ben Webster, John Coltrane, at some of the most important clubs of that period, like the Five Spot or the Half Note. During the 1960s, he had many different jobs selling encyclopedias, and then selling investment funds in the Empire State Building, where he came in contact with Jerome Manill, who sold Hi-Fi audiovisual equipment. That was Phill’s first contact with the audiovisual universe. He then met Bill Hollinger, who hired him to work in his company, Programme Teaching Aids, which sold educational machines. He also worked with BF Skinner and started to take photographs of the machines for the company catalogues. In 1960, he bought a Beseler Topcon and started taking pictures in jazz clubs. His first photographs were of Ben Webster in Harlem. His boss, Hollinger, gave him a dark room so he began to work as a professional photographer taking pictures of his heroes: Ben Webster, the Duke Ellington Band, Coleman Hawkins, Roy Eldrige, Dizzy Gillespie, Woody Herman and Rem Ramirez. He soon managed to take pictures of some recording sessions in the famous Columbia studio, where a few years earlier Miles Davis had recorded his classics, and where Phill photographed Ellington’s last session in 1961. During this period he also began to attend concerts of contemporary classical music. Niblock especially mentions a concert that deeply impressed him; organised by Max Polikoff in his series, Music in our Time, held in the YMHA space on 92nd Street, when Morton Feldman presented Durations for first time. For Niblock, it was a revelation of how music can be a continuous flow, with no melody and long sustained frequencies. Niblock felt he could further develop that idea, that there was a freedom of movement and that Feldman, with his composition, had given him permission, freedom and courage to start his own adventure. In the 1960s, Phill visited clubs, exhibitions and concerts of contemporary classical music, and maintained his activity as a photographer of the New York Jazz scene. Around 1965, he came in contact with the Judson Dance Theater, which organised a series of events that strongly marked the New York scene between 1962 and 1964, the Judson Church in Greenwich. The events had the participation of people such as Steven Paxton, Fred Herko, David Gordon, Yvonne Rainer, Lucinda Childs, Meredith Monk, and Elaine Summers, with whom Phill became well acquainted, and develop some film collaborations, later founding Experimental Intermedia. Niblock also collaborated with Yvonne Rainer, creating pieces and documenting some of her events. This exchange with choreographers, musicians and artists from the Judson Dance Theater was very important for Niblock’s development in a purely choreographic aspect and as a composer.
In that period, Yvonne Rainer was seeking the essence of dance, of movement, and began to work with people from the street with no previous experience in dance, non-professional dancers, seeking in them natural movements and essential gestures, ideas that came from Taylor and Laban, and that found in New York a very good ground for experimentation. Rainer’s theories in a way influenced an entire generation in New York, among which was Niblock, who surely began a few years later his masterpiece The Movement of People Working, in an even more radical search of a body increasingly detached from the artistic process. Another event that marked him in that period was his contact with the photographer and filmmaker Ralph Steiner, his neighbour on 33rd Street. Steiner is a key figure to understand American experimental cinema, exemplifying the split between classic documentary film, Pare Lorentz, Paul Strand, and the work of the new generation, such as Stan Brakhage, Nathaniel Dorsky and Peter Hutton. Niblock’s relationship with Steiner is essential to understad his work. In 1966, Niblock had his first exhibition at the Underground Gallery, a photography gallery on 10th Street. He showed his photographic work from 1960 to 1966, the black and white series. That was the last time he developed black-and-white photos. Niblock bought his first Bolex from the gallery owner and so he began to make his first films, during a very productive period in which he had the idea of shooting one film per day. He made a film series he later called 6 Films, which includes Morning (1966-69), a collaboration with Jean Claude Von Ittalie and now-classic works such as Magic Sun* (1966-69), one of the most radical and interesting documents ever filmed about Sun Ra, shot in Sun Ra’s apartment on 2nd Avenue with a homemade lamp and reflector lined with aluminum foil, during one night, using 200 feet of a high sensitivity film stock and strong black and white contrast (Kodak 7203 stock Sander Black and white), normally used for credits and that when developed in a processing bath for highly sensitive film, gave the impression of having been filmed on Saturn… Sun Ra and his Arkestra improvised for a few hours while Phill operated the camera. Later, Phill chose tracks from Sun Ra’s discography for the final cut. A few months later, when Niblock showed Sun Ra the film, he replied: “You are crazier than I am,” a kind of blessing, foreseeing how visionary Niblock’s film was. In 1966, he also made a portrait of his friend Max Neuhaus; Max, with music by Neuhaus himself. The series includes the portraits of painter Raúl Middelman, and dancer and choreographer Ann Danoff, Annie (1968), as well as an anomalous film in Niblock’s career, Dog Track (1969), in which he presents a fictional text by Bárbara Porte describing her relationship with a dog, with images of her filmic deambulations during that period. 1968 was an important year for Niblock. In April he decided to rent a loft in the SOHO. In that period the SOHO was not yet known by that name and was an empty area full of industrial spaces that after the 1950s crisis were abandoned and started be used as artist’s studios. One of the first cases of urban centralisation began, and what was later to become the Downtown scene was born, with artists who marked the New York art scene, like Trisha Brown, Gordon Matta-Clark, Laurie Anderson, Donald Judd, etc., many of whom opened art spaces, restaurants and galleries.
In those times, Niblock’s loft was located between the Grand and Center streets, an area still unexplored by artists. Soon, illustrious neighbours began to move to places close to his studio. In those years, The Kitchen was the place where everything happened. It was run by Stella and Woody Vasulka. Herman Nitsch was in New York and presented one of his new works there, and the blood he used for his performance made it impossible for Niblock to perform a concert he had organised. So, instead of cancelling the event, Phill decided to do it in his loft. According to legend, that was the first concert he gave in his loft, and he has not stopped doing that every since. More than 800 artists have performed there and his events have become inevitable gatherings for International Experimental Music. During that same period, Phill organised his first great event at the Judson Memorial Church, defined by Niblock as non-verbal theatre with dance, music and film where he presented for the first time a series he called ENVIRONMENTS (1968). The series has a strong connection with nature. It is influenced by the work of Edgard Weston and Ralph Steiner, with images of nature or landscapes that Niblock captured during his motorcycle trips through New York. During the same period, Phill made works that only now, 40 years later, are being rediscovered, presented in 2013 in a retrospective exhibition curated by Mathieu Copeland in Lausanne. It will be followed by a DVD edition of THIR (a 43-minute film with material shot during Environments 3 released by Von Archives) THIR is an important film in his career, shot near the Adirondack mountains in the north of the state of New York. Niblock set out to film with his Beaulieu 16mm movie camera the images he was able to capture with a Zoom lens in ten different places, and in an area of 100 inches (250 cm). Almost microscopic squares of sublime beauty, water drops flowing down leaves, bees sucking nectar from unknown flowers, tiny sighs of ice that seem to dance to the rhythm of the music, reflections in water that become typographies and symbols of a not-yet deciphered language. THIR is undoubtedly one of Niblock’s most introspective works, and where nature has the fiercest protagonism. In it, we see influences from Weston and Steiner and of the whole movement of American photographers that throughout the second half of the 20th century worked to rediscover the American landscape. New voices that are able to reappease and review their relationship with nature. But one of the most important points of the 1968 event at Judson Church was that Phill decided to finally create his own music for his images. He tells us that the reason he decided to start composing was his difficult collaboration with Max Neuhaus, which whom he had been creating music for the first event of the series, and with whom he seems to have had problems realising what he had in mind. From that frustration Niblock-as-a-composer is born. He recognises that Neuhaus is the reason for his beginning to compose, the idea that he could create his own compositions in the same way he began to take photographs. He decided he would control the entire creative process without having to resort to strenuous collaborations. In the first event of the Environments series he presented some of his films, with improvised choreographies by several dancers: Ann Danoff, Barbara Lloyd (Dily) and Vernita Nemec, plus an opening with Meredith Monk performing Niblock’s Organ for Judson Church, the first composition in which his 137
ideas start to converge towards what he calls his music, his ideas. Niblock finally managed to find something personal, related with his passion for microtones and overtones... To compose his piece, he used the Judson Church organ to create the overtones and microtones with the use of organ stops that were out of tune. He recorded two tracks with his Uher, and then used the recording for the concert with Meredith Monk, who played the beginning of the piece on the same organ and soon the recording took over while Monk sat back in the audience. The second part, with music by Max Neuhaus, more images by Niblock and dance improvisations can be considered Niblock’s first intermedia event. Very consistent with his time and with the context where it was presented. The series continues with CROSS COUNTRY/ENVIRONMENTS II (1970), in which Niblock presents his film Cross Country, made during a 7-week trip across the United States, from New York to Seattle, from the west coast to San Diego and then through Colorado and Kansas back to New York. More than 20,000 km were captured in a 50-minute reel, alternating with slides taken on the same trip, a combination of moving and still images. One year later, 100 MILE RADIUS/ENVIRONMENTS III (1971) was presented at the Whitney Museum, with three huge screens and projections of 16mm images shot within a radius of 100 miles from Clinton-NY, the films were cut and followed by slides, always taken in that same context. TEN HUNDRED INCH RADII/ENVIRONMENTS IV (1972) was presented at the Everson Museum of Art de Syracuse, three projections of 16mm films shot in the Adirondack mountains, interspersed with slides and choreographic improvisations by dancers like Ann Danoff and Barbara Lloyd. His series of environments undoubtedly laid the foundation for his work, and that in a way was the beginning of a journey that made him the first artist to work with sound and images in such a compact way. Despite the fact tht in that period collaborations between musicians, artists, choreographers and filmmakers were very common, Niblock seems to have become independent and his voice as a filmmaker began to merge with his voice as a composer, these two voices took a few years to become more and more compact. In a way, I have always had the feeling that Niblock’s work is like a train that advances safely on two rails: image and sound. The two always side by side, creating a physical, continuous, imposing, immense, hypnotic and engaging experience. The period beginning after the Environments in 1972-75 led Phill to increasingly move away from collaborations. He began to think about travelling in order to capture images of people working. A further radicalisation of Rainer’s theories, seeking to totally separate creator and subject. Using images as the only testimony of his creation, Niblock made a trip to some areas in New York in search of that essential gestuality, perhaps in search of those childhood memories where he visited his father in the General Motors factory in Anderson. These first images are purely contemplative, with no narrative intentions. With them, Niblock saught to move away from what he calls the artificiality of dance, beginning to present them as accompaniment for his concerts, whose production was more and more reduced, avoiding big productions with choreographers, dancers and musicians. That gave him total independence 138
and reduced his production to a minimum, allowing him to be more independent and travel more often. During that period he worked as a photography and cinema teacher on Staten Island. This way he managed to finance part of his trips, or sabbaticals, during the summer months. Thus began a series of trips from 1972 to 1991, in countries such as Mexico (1973, 1974, 1975), Peru, Brazil (1983, 1984), South Africa, Canada, China (1986, 1987, 1988) Portugal, Hungary, Sumatra (1990)… That is how he began the masterpiece for which he will be remembered: The Movement of People Working. In those trips, Phill filmed people working. His aesthetic principle was to find and capture images of people in motion. He was not interested in those people per se, but only as a pure act of work movement. Thus, he avoided the classic documentary where there is the narrative need of knowing the characters or getting in contact with them. Niblock’s work is not narrative. The editing is done on camera: he chooses an angle and distance that will allow him to describe the movements in the best possible way, bringing the camera to the right position, and takes 2-to-3-minute shots with 16mm film stock (Kodak). The editing is done on camera and the rhythm is created by the takes. An abstract rhythm that is related to music whose structures are not well synchronised, and images are independent but complementary to the compositions. It was then that Phill started to perform what he would call intermedia events, concerts where he presents his films on several screens, together with his compositions, that become increasingly complex with more and more projections. There is no political reason behind that choice, and although the choice of locations is already a political decision, Niblock never had a political agenda. His work is purely structural and, in that sense, seeks the deconstruction of the act of work and reorganisation of an intermedia body. Although Niblock has a filmic sensibility, he never had a cinematographic goal. His images serve music, they are music, he is unable to view them as independent. That is how we come to understand an interrelationship that has rarely occurred in the art scene and the new sensibility that emerged and developed from Cage onwards in New York. Phill is perhaps the first intermedia artist, the first truly audiovisual one. Images are relative to sound, and sound is relative to images, as had never occurred before, although filmmakers have been musicians, like Michael Snow, for example, the two backgrounds have never been intrinsic. Or they feed back into one another as in the case of Nam June Paik or Yoko Ono, in the 1960s, and the precursors of visual music and sound films of the 1920s, such as Viking Eggeling, Oscar Fischinger or Walter Ruttmann, which were never really independent and always the result of collaborations with other musicians, in a field more strongly related to abstract art. In this sense, Niblock’s style and content are unique. His work is incomparable and emerges as an independent voice. In the period from 1971 to 1991, Phill released a series of albums that established him as a composer, although his position as a musician was that of a fugitive, since he never studied music and never played any instrument. But his knowledge of the sonic bases and appreciation for pure sound and its phenomenology is in a way exemplary and his ideas in relation to drones, overtones and the creation of microtones is fundamental to understand the development of this kind of music, and also his images. Niblock defines his music as
“microtonal in essence, with tones layered very close to each other and played simultaneously, creating fields and patterns for overtones.” By contextualising his work through his own vision of minimalism, Niblock affirms: “removing all that is superfluous from musical structures and working with a reduced part of this structure. That, for me, is the definition of minimalism.” 1 The Movement of People Working (1972-1991) is undoubtedly his greatest and probably best known work. In the 1980s he realised a series of audiovisual works entitled Anecdotes from Childhood, a series of interviews with people in which they tell stories from their childhood, presented as an installation with several monitors together with slides with black-and-white abstract landscapes made with very sensitive film stock, creating a dichotomy... between the interviews and an abstract imaginary that transports us to incomprehensible images. They are almost like dream images. A more abstract side of Niblock whose only similar work is Magic Sun, a 1968 film about Sun Ra. From 1972 to 2013, Niblock has been omnipresent in the international scene, presenting live media works in many concerts around the world. Although those works have been presented all over the world, this article will not further address them. Niblock’s work breaks all the structures on which classical cinematographic works are supposedly based: narration, edition, melody, rhythm and synchronicity. His work is like a sculpture, like a monolithic altar, like expanding blocks of physical perception. For me, Phill’s work is the first truly open audiovisual work, the first truly spatial sound experience that I have ever experienced. My first truly audiovisual journey. Intermedia, cross media, whatever one may call it, Phill Niblock’s work contains everything that counts for me, everything that is essential. His work requires attention, patience, and finally, the ability to be enraptured . Phill Niblock’s music levitates in order to sedate our senses for a better understanding of ourselves and our attitudes. His work is a continuous progression, an invisible mental channel. Always unpredictable, his music serves as a guide to liberate our viscera. In other words, his work is a psychophysical experience. The images become a focal point and the music transports us further and further. His cinema presents a sensory vision in which both visual and sound fields overlap in time and space wih no clear synchronicity. Niblock’s music can be compared with a waterfall in its intensity, its obsessiveness and detail, its solemn beauty. I always think the best way to describe Niblock’s music is by comparing it with the siren song of Homer’s Odyssey, an unidentified sound that touches us deeply and sink our ships into the depths of an ocean of perception. His music is possibly the most advanced form of music I know, a physiological music in which the spectator’s body is part of the compositional process, their thoracic capacity the receiver of 120 decibels of sound that the body has to process in order to completely feel them. His music is the maximum expression of music as an inflection point: the beginning of what we could call music of the future. Phill’s images, for me, are unconditionally linked to his music. They are stitched together in a natural and asynchronous way. Images captured in 16mm film, long shots carefully composed to express the individual movements of workers, choreographers and dancers of the ballet of life, an eternal choreogra-
phy. Images captured in urban and rural peripheries around the world, of people in their work environments, men and women who use their hands and their bodies in an eternal work choreography, seemingly in tune with the universe of Niblock’s microtonal music. Those images are timeless, they could have been filmed today, in the 1960s or even in the distant past. They are archetypes, metaphors about men, speaking to all of us in a profound way, converting and transporting us. Their duration is perfect, as well as their framing. They are captured not as a document by rather as a choreographic gesture, like visual music. They are raw, with saturated colours. The sound seems to take place inside one’s head, while Niblock’s music penetrates one’s senses and begins its polyphonic hypnosis, making one’s body fall prey to a spell. The movement of People Working has greatly impacted our understanding of audiovisual language by expanding its very definitions. The films of the series invite us to reconsider our relationship with the world and examine our deepest interior, it tests our mental state, our ability to understand the world. Phill Niblock’s visual strategies have influenced new generations of filmmakers like me, who understood and saw his work as a manifesto, due to its surprising simplicity and purity, its radical openness and epic quality. The magic and beauty of these images emerge from their abstraction and concentration, from their internal capacity to inebriate us and transport us to another dimension, a different mental and physical state. The only quality I respect in an artist is his or her ability to physically transport us through time. Art for me is a matter of travelling through time, a form of healing. Artists do that both physically and mentally. That’s exactly what Phill Niblock’s work does. It is not ethnographic or documentary, it is not a visual or musical environment, it is not a mere new compositional tool to captivate the spectator. Phill Niblock’s work is a ritual. Carlos Casas is a filmmaker and artist whose practice encompasses film, sound and visual arts. His films and installations have been screened and awarded in festivals around the world, like the Venice Film Festival, International Film Festival Rotterdam, etc. His work has been exhibited and performed in international art institutions and galleries, such as Tate Modern, London; Fondation Cartier, Palais de Tokyo, Centre Pompidou, Paris; among others. Casas and Niblock have colaborated together on several projects
1. Phill Niblock in an inteview with Ráphael Smarzoch. In Working Title, ed. Phill Niblock et al. (Les Presses du Reel, 2013). 139
Coisas: a mala de Phill Niblock. Um retrato nem sempre coincide com um corpo concreto e muito menos com um rosto. A mala do artista com seus inúmeros cabos, HDs, fitas, DVDs e aparatos são também uma forma de retrato. Aqui é revelada a essência nômade de Niblock, que carrega suas memórias e performances por onde vai.
Things: Phill Niblock’s suitcase. A portrait isn’t always about a concrete body and even less about a face. The artist’s suitcase with its countless cables, HDs, tapes, DVDs and apparatus are also a form of portrait. Here is revealed Niblock’s nomadic essence, carrying his memories and performances wherever he goes.
NO ONE
OF ANY
HAND
LETS GO
YONEâ&#x20AC;&#x2122;S The text that follows was taken from the play PROJETO bRASIL. This text enlightens and stimulates us. It awakens in us un imaginary feeling that prompts us to create a plural, hybrid and innovative artistic platform and thus to dream of our Utopias and Dystopias.
PROJETO bRASIL Final text by
Marcio Abreu Dramaturgy by
Giovana Soar, Marcio Abreu, Nadja Naira e Rodrigo Bolzan
This play is a dramaturgical composition divided into 16 verbal and nonverbal performative speeches. Some references: Speech 2 was created based on improvisations by actor Rodrigo Bolzan in a rehearsal room; Speech 4 is an adaptation of a sequence of real public speeches by the former Minister of Justice of France, Christiane Taubira; Speeches 7 and 15 are original texts by Marcio Abreu written during the creation process of the play; Speeches 6 and 12 were collectively written, following a compositional criterium with spatially-arranged words, and turned into music by Felipe Storino; Speech 10 is an adaptation of a real public speech given at the UN by Pepe Mujica, former President of Uruguay. The text and dramaturgy of this play were created at the same time as the theatrical event was created. This is an open structure.
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black on black
[...]
a space that suggests movement
SPEECH 10
curved wall, circular stage podium, spiral direction end of the party
During the speech, 1 woman brings in more and more microphones. 1 man in front of many microphones. his speech is subtitled. he gives parts of a speech at a UN Conference by Pepe Mujica, former president of Uruguay. In the final part of his speech, he moves away from the microphones, starts to speak in Portuguese, approaches the audience, begins to read the Portuguese subtitles, stops reading and, together with the audience, reads silently the text until the end. — Friends, I come from the South. At the conjunction of the Atlantic and the River Plate, my country is a gentle, temperate plain where livestock graze. Its history is one of ports, leather, salted beef, wool and meat. There were dark decades of lances and horses until finally, with the outset of the twentieth century, we were at the forefront of social, education and governmental affairs. Today, we have re-emerged in a globalized world, having learned from our pain. My personal story is that of a boy — because I once was a boy — who like others wanted to change his times and his world and dreamed of a free and classless society. My mistakes were in part the results of my era. Obviously I take responsibility for them, but sometimes I cry: “If only I had the strength that I had when we enjoyed such utopia!” However, I do not look towards the past because what we have today was created from the fertile ashes of yesterday. On the contrary, I am not on this planet to settle scores or to reminisce. I am greatly anguished by the future that I will not see, and to which I have committed myself. Yes, it is possible to have a world with more humanity, but perhaps today the main task is to save life. But I am from the South and I have come from the South to this Assembly. I share with the millions of poor compatriots in cities, in the jungles, in the plains, in the pampas and the canyons of Latin America the common motherland that we are creating. I also have the duty to fight for all on behalf of my motherland. I have the duty to fight for tolerance for those who are different and with whom we have differences and disagreements. We do not need tolerance for those with whom we agree. Tolerance is the foundation of peaceful coexistence, understanding that we are all different in this world.
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I fight against the illicit economy, drug trafficking, theft, fraud, corruption â&#x20AC;&#x201D; the contemporary scourges unleashed by an opposite set of values and by those who maintain that we are happier when we are richer, no matter by what means. We have sacrificed the old, immaterial gods and we are now occupying the temple of the Market God. This god organizes our economy, our politics, our habits and our lives, and even provides us with rates and credit cards and the illusion of happiness. We are promised a life of spending and squandering; in fact, it is a countdown against nature and against future humankind. It is a civilization against simplicity, against sobriety, against all natural cycles. Worse yet, it is a civilization against freedom, which requires time to experience human relationships and the most important things: love, friendship, adventure, solidarity and family. We have destroyed the real jungles and sown anonymous cement jungles. We have tackled a sedentary lifestyle with walking, insomnia with pills, solitude with electronics. Can we be happy when we are so far from the human essence? We have to ask ourselves this question. Politics, the eternal mother of all human endeavours, has remained shackled to the economy and to the marketplace. Going from one adventure to another, politics achieves little more than perpetuating itself, and as such it delegates its power and spends its time bewildered, fighting for the Government. Out of control, human history marches forward, buying and selling everything and innovating in order to negotiate what is, in a way, non-negotiable. Marketing exists for everything: cemeteries and funeral services, maternity wards, fathers, mothers, grandparents, uncles, secretaries, cars and vacations. Everything is business. The average city dweller wanders between financial institutions and tedious office routines, sometimes moderated by air conditioning. He often dreams about vacations and freedom. He dreams about having the ability to pay his bills until one day his heart stops and he is gone. Other such soldiers will fall prey to the jaws of the marketplace, sharing in material accumulation. The crisis really rests in the powerlessness of politics, which is incapable of understanding that humankind cannot and will not escape nationalism, which is practically etched into our DNA. Today, it is time to fight to prepare a world without borders. The globalized economy has no other driving force except that of the private interests of the very few, and each nation State seeks only to maintain its own stability. Today, the great task for our peoples and our humble way of seeing things becomes the be-all and end-all. More clearly, the world is clamouring for global regulations that respect scientific achievements, which abound, but it is not science that governs the world. Neither the large nation States nor transnational companies, not to mention the financial system, ought to govern the world of humanity. Yes, lofty politics combined with scientific wisdom â&#x20AC;&#x201D; it must come from science.
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The portents of revolution are present in our age as in no other in the history of humankind, yet our age does not have a conscious direction. The greed that has been such a negative force and such a driver of history has also pushed forward the material, scientific and technical progress that has made our era and our time what it is and has enabled a phenomenal leap forward on many different fronts. At the same time, this very tool — the greed that pushed us to domesticate science and transform technology — is paradoxically pushing us over the edge into a shadowy abyss, towards an unknown fate, an era without history, and we are left without eyes to see or the collective intelligence to continue to colonize and transform ourselves. Individual greed easily triumphs over our species’ greed. Let us be clear. What is the big picture of which we speak? It is the system of global life on Earth, including human life, with all the fragile balances that make it impossible for us to continue as we are. On the other hand — and this is less contentious and more obvious — in the West in particular, because we are indeed from the West, though we are also from the South, the republics arose to make the claim that men are equal, that no one is better than anyone else, and that Governments should represent the common good, justice and equity. Often, these republics become warped and fall into the habit of ignoring ordinary people, the man on the street, the common people. In fact, that common man should be the central cause of the republic’s political struggle. Republican Governments should increasingly look like their respective peoples in the way they live and the way they deal with life. The fact is that we tend to cultivate feudal anachronisms, spoiled affectations and hierarchical distinctions that undermine the best feature of republics — the fact that no one is better than anyone else. Listen, my dear friends: every minute in the life of our planet, we spend two million dollars on military budgets around the world — two million dollars a minute on military budgets! That process, from which we cannot escape, perpetuates hatred, fanaticism and distrust, fuels new wars and wastes fortunes. Thus, each wields arms commensurate with his size. And that is where we are today, because we can barely reason as individuals, let alone as a species. We are not all equal. We cannot be equal in a world where some are strong and others weak. As a result, our world democracy is wounded. In our heart of hearts we long to help humankind emerge from prehistory. As long as we do not emerge from prehistory and retire war as a resort when politics fails, that is the long march and challenge we have ahead of us. We say that in full awareness; we are familiar with the loneliness of war.
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begins to read the subtitles in Portuguese, walks towards the audience and stays there, watching.
At the same time, we must understand that the worldâ&#x20AC;&#x2122;s poor are not from Africa or Latin America; they are all part of humankind, and that means that we must help them to develop so they can lead decent lives. The necessary resources exist. The entire material basis has changed and it has changed man. In our culture, we act as if nothing had happened. Instead of us controlling globalization, it controls us. However, that is the paradox. With talent and collective work, with science, step by step humankind can make deserts green; humankind can bring agriculture to the seas; humankind can develop agriculture that lives with salt water. If the power of humankind is focused on what is essential, it is infinite.
stops reading. only the subtitles remain.
Here we see the greatest sources of energy. What do we know about photosynthesis? Almost nothing. There is a great deal of energy in the world, if we work together to use it properly. It is possible to eliminate poverty from the planet. It is possible to create stability. It will be possible for future generations, if they begin to reason as a species and not just as individuals. But if those dreams are to come true, we will have to control ourselves or we will die. We will die because we are not capable of being at the level of the civilization that we have been developing with our efforts. That is our dilemma. We should not spend our time merely correcting the consequences. Let us consider the deep-rooted causes, the civilization of waste, the present civilization that is stealing time from human life and wasting it on pointless matters. Let us remember that human life is a miracle. Consider that human life is a miracle, that we are alive as a result of a miracle, and that nothing is more important than life. Our biological duty is, above all, to respect life, promote it, take care of it, reproduce it and understand that the species is our being. Thank you.
suspension. silence.
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SPEECH 16 1 woman in the audience. 2 men and 1 woman on the circular stage podium. Vestiges. They look at one another. They listen. All of us listen. – What left a big impression on us? – We are living in the end times. – In the end there will be nothing, only human beings, and not for long. – T oo few people in a world too big. Too many people in a world too small. – Death is not an event because when it happens we shall no longer exist. – After the future, the end as a beginning. – There are many worlds within the world. – We are facing something big. – To dream other dreams. – Only the naked man will understand. darkness. – He floats. suspension.
the end.
Marcio Abreu is a playwright, director and actor. He created and is part of Companhia Brasileira de Teatro, based in Curitiba. He received numerous awards and nominations, among which stand out Bravo!, Shell, APCA and Questão de Crítica. His plays Outros and Preto are currently running. He wrote the book Maré/ PROJETO bRASIL, published by Editora Cobogó, with excerpts reproduced in our central pages.
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DYSTOPIA UTOPIA