MAURICIO LISSOVSKY
Saint-Sulpice O número de capítulos – 48 – está longe de ser aleatório5. O Diário do
Luto, publicação póstuma das anotações breves que faz em dois cadernos que começam a ser preenchidos logo após a morte da mãe, nos ajuda a compreendê-lo. Escrito entre 26/10/1977 – dia imediatamente posterior à morte da mãe – e 15/09/1979, foi publicado na França em 2009. O Diário não é uma exposição lamurienta de um filho enlutado; mas uma reunião de perguntas e conclusões provisórias acerca da experiência e do sentido do luto – e sobre como realizá-lo no trabalho e pelo trabalho, sem que as tarefas profissionais e cotidianas o contradigam, sem que sejam apenas um modo de escapar dele ou de superá-lo. Em 28/11/1997, anota: “Poder viver sem alguém que amávamos significa que amávamos menos do pensávamos?” (BARTHES, 2011, p. 66). Em 23/03/1978, o livro sobre a Fotografia parece ser a solução, ao contrário de outras tarefas acadêmicas, para “integrar minha tristeza a uma escrita” (BARTHES, 2011, p. 102). Entre maio e junho de 1978, chega a duas conclusões que conferem uma diretriz para o trabalho: “a verdade do luto é muito simples: agora que mam. está morta, sou empurrado para a morte (dela nada me separa, a não ser o tempo)” (BARTHES, 2011, p. 127). Não é mais possível seguir de curso a curso, de livro a livro, é preciso fazer “reconhecer mam.” (BARTHES, 2011, p.130).
Segundo o editor de CC, a primeira versão do ensaio previa 56 (NARBONI, 2015, p. 55) ou 54 (NARBONI, 2015, p. 68). 5
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