O Phi da Fotografia

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MAURICIO LISSOVSKY

A palinódia No último capítulo da primeira parte do livro, Barthes revisa seus passos e anuncia uma reviravolta (87-88). Nos conta que veio "caminhando de foto em foto”, ou seja, comentando esse ou aquele punctum – o livro seguira uma trajetória linear. Esse percurso será agora interrompido. Uma fotografia irá interpor-se, uma que não permite que a caminhada prossiga. As imagens que examinou até então eram "todas públicas". Ainda que os puncta surgissem no interior de uma relação privada e pessoal, as fotografias eram todas provenientes de revistas e livros. Mas os puncta assinalados por ele não eram generalizáveis, não poderiam falar em nome do eidos da Fotografia, pois refletiam seu "desejo", que era um "mediador imperfeito". Ao orientar-se apenas pelas fotos de que gostava, segundo um projeto "hedonista", jamais poderia reconhecer o universal, que necessariamente deveria abranger as fotos de que jamais gostaria. As novas premissas da pesquisa são então anunciadas. Uma vez que seu objetivo é a redução eidética da fotografia, a essência buscada deve necessariamente servir a um sujeito qualquer diante de uma imagem qualquer. Sublinho aqui: qualquer/qualquer, e não todos/todas – pois são regimes distintos do universal. O universal que diz respeito a todas as fotografias para todas as pessoas é um universal do tipo categórico. Decorre de generalizações e suas categorias são tão mais adequadas quanto abarcam os casos sem deixar resto.

o

universal

no

regime

qualquer/qualquer

ou

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