Revista OLD [n. 11]

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Revista OLD Número 11

Junho de 2012

Equipe Editorial

Direção de Arte

Texto e Entrevista

Capa Fotografias

Felipe Abreu e Paula Hayasaki

Felipe Abreu

Felipe Abreu

Fábio Stachi Fábio Stachi

Cristiano Mascaro

Danilo Galvão

Entrevista Email Facebook Twitter

Cristiano Mascaro

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Fábio Stachi Gênese Danilo Galvão Olhar Dissonante Cristiano Mascaro Entrevista 05 17 27

Começou o segundo ano de vida da OLD e chegamos com uma edição caprichada, pra manter a tradição e começar esse novo ano com tudo!

Temos uma bela entrevista com Cristiano

Mascaro, que fala das suas paixões fotográficas - com um carinho especial por São Paulo e pela sua Hasselblad - e de seus projetos atuais.

Danilo Galvão apresenta seu ensaio Olhar Dissonante, que une conceitos fotográficos e musicais, produzindo uma série de múltiplas exposições urbanas. Como não poderia deixar de ser, começamos esse novo ano com algo que nunca fizemos antes.

A grande mudança está no primeiro portfólio da décima primeira OLD, no qual publicamos nosso primeiro nu. É um trabalho de Fábio Stachi, chamado Gênese. Confesso que estamos um pouco ansiosos com a reação de vocês. Por ser o primeiro ensaio do tipo

na OLD e por muitos ainda considerarem o nu como uma categoria à parte da fotografia. O trabalho de Fábio está aqui para justamente provar o contrário. Gênese explora a aflição humana e despe o corpo para livrá-lo de qualquer defesa, para se mostrar por inteiro e indefeso. O trabalho de Fábio fala muito sobre beleza e destruição e tem uma reflexão profunda, que garante imensa qualidade ao projeto. Espero que todos se envolvam com a exposição da personagem de Gênese e que se aprofundem em seus pensamentos fotográficos lendo mais essa OLD que chega até vocês.

Felipe Abreu Photograph of a men’s art class at the Chase School of Art / Fotógrafo Desconhecido

Fábio Stachi Gênese

Fábio é um fotógrafo paulistano que trabalha muito fortemente a beleza e a destruição através do corpo feminino e do espaço em que ele está inserido. Gênese é um ensaio dividido em duas partes e a OLD apresenta uma seleção deste trabalho.

Como foi o desenvolvimento do ensaio

Gênese?

Eu conheci a Mira através de amigos da minha namorada e devido a sua beleza

“exótica” a convidei para um ensaio fotográfico. Apesar de nunca ter feito nada parecido antes ela aceitou imediatamente. Depois de algumas conversas fomos para uma fábrica abandonada que eu conhecia por já ter fotografado anteriormente. O cenário estava perfeito, havia muita água de chuva parada e o sol brilhava forte. Achei que seria legal trabalhar com a ideia de um “novo começo”, onde a personagem, solitária, procura se conhecer através do próprio reflexo no chão e vagar em meio aos destroços e vestígios do abandono.

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O ensaio foi feito em duas partes, com dois rolos de filme 35mm. Pela temática abordada achei que fazia muito mais sentido trabalhar com material analógico. Usei um Fujichrome T64 (Tungsten) para as externas e um Kodak Portra 160 nas internas.

Gostei tanto do resultado original das cores que no tratamento das imagens mexi apenas nas curvas de contraste. Com o ensaio finalizado ficou claro que a ideia de trabalhar com a Mira nessa temática de formação e desenvolvimento gradual do ser humano foi uma escolha acertada, daí o título Gênese foi a escolha mais óbvia e certeira.

Muitas das imagens de Gênese são dípticos. Como foi a construção dessa duplas? Você acredita que isso reforça a narrativa do ensaio?

A ideia dos dípticos veio por acaso. Eu estava editando o ensaio e gostei do

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resultado de ver duas fotos quase idênticas lado a lado. Funcionou como um movimento sutil, em alguns casos até quase como um jogo de sete erros. Você olha para uma foto e tenta descobrir se é um crop da que está ao lado, e observando os detalhes de enquadramento ou a leve mudança no foco acaba descobrindo que é outra foto. Esse é um ensaio para se observar os detalhes, e a narrativa composta por duplas acaba criando um pouco desse delicado movimento e levando o ensaio para uma direção quase aleatória, que, no final das contas não tem a pretensão de contar uma história sólida e linear. Seus trabalhos usam muito a nudez, o corpo feminino, para expressar sentimentos de angústia, de melancolia. Quando você começou a pensar essa associação? Como foi o desenvolvimento desse estilo de produção?

No meu trabalho gosto de usar o corpo como forma de expressão humana e eu acredito que a nudez pode evitar que o meu personagem possua uma identidade e induza as pessoas a pensarem algo pré determinado e fora do contexto daqueles sentimentos que estou tentando transmitir. O feminino é naturalmente belo e tem algo de misterioso. Acabei desenvolvendo esse estilo depois de muito fotografar minha namorada, que contribuiu significativamente com a sua entrega e emoção em todos os trabalhos que fazemos juntos.

Você é formado em design gráfico e tem gosto pelo desenho além da fotografia. Como você aproveita esses conhecimentos na sua produção fotográfica?

Geralmente começo a produção estudando referências e acabo desenhando as cenas,

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poses e todas as ideias possíveis. Tudo acaba ficando mais natural e facilita o processo de criação.

Nunca precisei estudar regras de fotografia para saber como devo fazer uma composição de quadro, trabalhar cores, texturas e explorar formas no meu trabalho. Esse conhecimento veio da experiência de ter estudado e trabalhado com design.

no trabalho é, em grande parte, próximo ao real. Com a Mira não foi diferente. Conversamos pessoalmente e trocamos ideias e referências antes de fazer o ensaio. Desta forma nos sentimos completamente confortáveis e eu sei que posso arriscar minhas ideias sem medo.

Você construiu uma relação muito forte entre a personagem e sua visão. Como você se relaciona com quem fotografa? Como foi essa relação em Gênese? Conhecer a pessoa que vou fotografar é um processo importante do trabalho. Acredito que uma relação de confiança deve ser estabelecida para ambos. Os gostos, desejos e certos limites da pessoa estão em pauta. Só assim a entrega deixa de ser parcial e o sentimento ilustrado

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João Urban

OLD entrevista

Cristiano Mascaro

Cristiano Mascaro é um dos grandes nomes da fotografia brasileira. O fotógrafo paulistano é especilizado em fotografia urbana e tem grande parte de seu trabalho dedicado ao registro de São Paulo. A OLD bateu um papo com ele em sua casa e conversamos sobre sua trajetória e sobre trabalhos atuais.

a gente andar a pé. Ainda não havia essa consolidação do automóvel. Ou era a pé ou de transporte coletivo, ônibus, bonde. Eu ia da minha casa pra escola, pro cinema, pra padaria, tudo a pé. Então eu andava pelas ruas e a principal era a Av. São João. Às vezes andava quatro, cinco quilômetros para ir ao cinema, por exemplo.

Vamos começar do começo. Como foi a sua migração da arquitetura para a fotografia? Que influências você vê da arquitetura da sua produção visual?

Todo mundo pensa que eu gosto de fotografar cidades - nem tanto arquitetura, que pra mim é mais o conjunto que constrói o cenário - e evidentemente ter feito escola de arquitetura foi legal. Realmente eu passei a me interessar mais pela cidade, pelo seus problemas, mas o que me fez a cabeça para a fotografia foi o fato de, na minha infância,

Eu me lembro que, caminhando pela São João, o cenário me fascinava muito, a avenida já era muito urbanizada, com prédios muito grandes, então eu acho que fiquei um pouco impressionado com aquele cenário e isso me acompanhou, ao contrário do que eu imagino que acontece hoje, em que as pessoas saem de uma garagem em um carro com vidros escuros para depois entrarem em outra garagem, shopping e mal vêem a cidade. Então eu tive esse privilégio de conhecer a cidade a pé. Depois, na escola, eu comecei a me aproximar mais da cidade

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através das aulas de urbanismo e afins. A fotografia acabou sendo uma descoberta repentina. Eu estava na faculdade e, fugindo de uma aula um pouco aborrecida - deveria ser muito interessante para quem estava interessado em aprender como se calcula uma viga - fui para a biblioteca e acabou caindo nas minhas mãos o livro Images à La Sauvette de Cartier Bresson. Já tinha ouvido falar dele, mas só de forma curiosa, amadora, e fiquei deslumbrado com o que conheci ali e me apaixonei. Pra susto de todo mundo, me formei arquiteto e nem cheguei a passar pela arquitetura mesmo. Fiz o projeto desta casa, que foi o único que fiz na minha vida e cheguei a ter um escritório com alguns colegas para fazer o trabalho chato que os arquitetos não queriam fazer, mas logo fui ser repórter da Veja, que estava surgindo na época. Foi uma passagens sem solavancos e com uma perspectiva de aventura, isso que me fascinou.

Como as caminhadas que você

mencionou moldaram a sua maneira de fotografar?

Quando eu vou fazer um trabalho ou ele é muito específico e daí eu planejo tudo ou é um projeto pessoal e daí não tem muito plano, não. Eu gosto muito de fotografar a cidade, em especial São Paulo, que é uma cidade que eu conheço melhor do que as outras, mas mesmo em qualquer cidade, eu saio predisposto a todas as surpresas que uma cidade pode oferecer, o que pauta meu trabalho é bem isso. Eu calculo que 90% das fotos que eu fiz são resultado de algo que eu não imagina encontrar, isso pra mim é o prazer da descoberta. Quando eu planejo uma coisa, eu raramente chego naquele local, alguma coisa acontece antes e acaba me desviando.

Como foi sua experiência no jornalismo?

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Você carrega alguma marca dele, hoje, na sua produção?

Eu tive a minha formação de arquiteto, acadêmica e artística e que tem um certo salto alto “hoje eu estou predisposto a criar” ou “eu tive um bloqueio”, mas saindo da escola eu fui trabalhar na Veja e fotojornalismo não pode ter bloqueio, se não você é demitido. Tal coisa está acontecendo e você tem que ir lá e voltar com a melhor foto possível. Então essa experiência, que não foi longa, de cerca de três anos no total, me ajudou a alterar a minha maneira de atuar. Eu aprendi na marra a ser esperto, não encontrar dificuldades. Se a gente não é um pouco ousado - respeitando a liberdade dos outros -, intrometido, não arrisca, você não consegue aquilo que você está desejando. Eu aprendi na escola, com professores incríveis, a organizar as coisas, a ter uma noção de percepção visual e composição e

complementando esse aprendizado mais acadêmico a minha experiência como repórter fotográfico moldou o fotógrafo que eu sou hoje. A sua relação com São Paulo é muito forte. A paixão continua ou está

minguando?

Acho que continua igual. É lógico que o tempo - pra não dizer a idade - modifica um pouco a sua cabeça, sua disposição, mas eu

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Eu acho que a gente não precisa abandonar o que é de fato fotografia para ser artista de bienal, que é o que a maioria dos jovens hoje almeja ser.

me sinto muito disposto ainda. Não é só a Vila Itororó que eu estou fotografando, mas vários edifícios que foram desocupados e que a secretaria da habitação vai transformar em habitações para famílias de baixa renda, como por exemplo, alguns hotéis do centro da cidade. Puxa, um novo tema! Então estou indo nesses edifícios e os fotografando, o que vai render uma nova série de fotografias.

A pouco tempo fiz um trabalho para a Veja São Paulo, que era fotografar 25 temas importantes da cidade e daí eu aproveitei e me hospedei no hotel Marabá, que é na Av. Ipiranga e isso já me coloca no clima da cidade e me dá um certo apoio psicológico: eu sou um habitante deste lugar exato e não um estranho que vem de Carapicuíba - onde moro atualmente - e se desloca até lá. Ali eu era um pedestre. Eu estava bem no centro e fazia o trabalho todo praticamente a pé.

quadrado, que é mais rígido, mais fechado. Como você lida com isso? Você aproveita esse fator ou tenta fugir dele? Pois é, alguém me falou uma vez que o formato quadrado era o mais fechado de todos e de fato é. Mas você pode criar uma diagonal dentro dele, que é uma linha muito dinâmica e nunca houve um estranhamento. Eu comecei a trabalhar com a Hassel

Você trabalha muito com o formato

[Hasselblad, câmera de médio formato, que usa filme 120mm e faz imagens quadradas] acidentalmente. Eu fui uma vez fazer um trabalho com o Pedro Martinelli, na década de 70, fui fotografar o bairro do Brás. Nós dois trabalhávamos com 35mm, herança do jornalismo, e falei pra ele “Poxa Pedro, desse jeito eu vou acabar te fotografando em uma esquina”, nós íamos ter o mesmo comportamento que o equipamento acaba te induzindo. Eu tinha uma Hasselblad que tinha comprado - o homem tinha levado a

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Hassel à Lua, fiquei fascinado - e ela estava guardada. O que eu estranhei foi a falta de mobilidade e esperteza que eu poderia ter com a 35mm. Isso me fez fazer um trabalho mais contemplativo, não era aquele caminhar e roubar fotos, aprendi que eu tinha que colocá-la em tripé - lógico que eu poderia fotografar na mão -, mas não é a todo momento que isso é possível, com velocidade mais baixa e essa coisa toda. Isso representou uma certa prisão para mim e o que eu mais estranhei era que as pessoas caminham no sentido contrário dentro do visor da câmera. Ela não tem prisma e estranhei isso um pouco. Mas ao longo do tempo, eu acabei esquecendo isso, com a prática. Então houve uma interação muito grande, a Hassel foi minha queridinha durante vinte e tantos anos, depois comprei uma Arca Suíça [câmera que produz negativos em 6x9cm] para fotografar arquitetura e eu não noto a diferença, como

agora em que optei - optei não, fui obrigado a mudar - para o digital e isso nunca me apresentou qualquer dificuldade. No início é evidente que você tem algum estranhamento, mas isso é uma coisa muito rápida e você logo acostuma. Para mim o fundamental nessa história toda é saber ver.

Você tem pesquisado a fotografia contemporânea? Que fotógrafos tem despertado seu interesse atualmente?

Não, não. O tempo vai passando e até uma certa idade eu fuçava tudo, mas agora eu fucei tanto que tem muitas coisas que eu nem consegui ler ainda. Eu queria um dia me aposentar e ter tempo de ler tudo e fuçar ainda mais. Quanto à fotografia de vanguarda, acredito que há uma busca, um afã, de muitos, de quererem ser de vanguarda e eu acho isso ótimo. Muitos artistas avançaram e mudaram o mundo e

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a maneira de ver as coisas dessa forma, mas eu prezo muito e admiro fotógrafos que estão fazendo um trabalho contemporâneo mas com as “limitações” da fotografia, que é o único meio de expressão que te oferece uma série de coisas, apesar de extremas limitações. Outras coisas, que vejo serem feitas hoje, poderiam ser feitas com pintura ou com gravura, que é resultado de um trabalho mais reflexivo, de gabinete. O artista vê o mundo e o recria depois em seu estúdio, seu escritório. O que eu prezo muito é a possibilidade, que só a fotografia oferece, de você captar as coisas intuitivamente e que sempre estão sujeitas a surpresas. Dos brasileiros eu gosto muito do Cássio Vasconcellos, que está sempre inovando em seu trabalhos, mas sempre os mantendo fotográficos. Gosto também do Robert Polidori, que faz um trabalho muito semelhante ao que eu gosto de fazer e ele o faz com um pensamento fotográfico. Gosto

também do Abelardo Morell, que está sempre inventando, construiu uma câmera escura maravilhosa [o fotógrafo cubano radicado nos EUA usa uma técnica em que projeta o exterior da cidade dentro de quartos de hotel usando uma técnica parecida com as das câmeras pinhole] usando um princípio básico da fotografia, que te oferece uma surpresa e você pensa “porque eu não pensei nisso antes”. Então esses são os que realmente eu prezo. Eu acho que a gente não precisa abandonar o que é de fato fotografia para ser artista de bienal, que é o que a maioria dos jovens hoje almeja ser.

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Danilo Galvão

Olhar Dissonante

Danilo apresenta na OLD seu projeto Olhar Dissonante, que trabalha com múltiplas exposições e com conceitos musicais. É um trabalho com imagens instigantes e diferentes do que estamos acostumados a ver.

Como foi o processo de desenvolvimento do seu ensaio Olhar Dissonante?

métrica, causam uma uniformidade sonora ou uma divergência dos timbres, como se de um acorde pudéssemos ouvir dois sons. Nesta livre interpretação considerei a fotografia como música e assim a dissonância seria uma múltipla exposição. Onde em uma única fotografia vemos duas imagens que causam o mesmo desconforto visual que a dissonância causa na audição.

O ensaio é uma interpretação livre que faço dos elementos da música: consonância e dissônancia. Ligados a harmonia, ritmo e

É deste princípio que desenvolvo o trabalho, utilizando esta “dissonância imagética” para criar uma nova representação da arquitetura, paisagens e formas.

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Como você realiza o processo de múltipla exposição? Você o faz com filme ou digitalmente?

Sempre fiz em analógico variando entre coloridos, P&B e slides, nunca senti o mesmo prazer com o digital pois o resultado é mais previsível. Gosto de experimentar os processos de revelação, cruzando os filmes e ficar sujeito as reações químicas que podem mudar as características das imagens.

Você reconstrói os espaços que você apresenta, criando associações visuais entre as imagens que usa para as múltipas exposições. Qual o sentido que você quer dar para esses novos espaços? As associações são randômicas ou prépensadas?

As imagens fazem parte dos caminhos por onde estive em algum momento, procurando

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essa dissonância que muitas vezes funcionam como consonante, solucionando as formas da imagem final.Por mais randômico que seja o processo de múltiplas exposições, sempre tenho uma intencionalidade. Não dá para ter certeza de como vai ser o resultado, mas sei o que fotografei.

Monto as imagens à partir de um mesmo espaço, sempre buscando texturas e contrastes que formarão a multimagem diferente daquelas de sua origem. Porém com características de ambas onde se mantém a identidade dos lugares, mas com uma forma diferente de ver / olhar. Busco trabalhar a relação de tempos diferentes na mesma imagem, criando um terceiro espaço, onde a imagem que produzo não é exatamente como vejo. Existe uma dissonância como se as duas imagens, cada uma no seu tempo, falassem por si e juntas formem uma instabilidade visual que eu

associo à música. Você fotografa com filme, certo? Como surgiu sua relação com a fotografia analógica?

Uma relação familiar. Desde criança brincava com os monóculos antigos da minha avó. Tive a minha primeira câmera aos 6 anos e era pura diversão, aliás, continua sendo. Na adolescência ganhei uma Zenit 122 do meu pai, sempre levava comigo nas viagens em família. O interesse maior aconteceu na faculdade de jornalismo, onde tinha aulas de fotografia e laboratório P&B. Hoje eu mesmo revelo e experimento no laboratório. Acredito que há algum tipo de relação orgânica que une o tempo do registro da imagem com a sua perpetuação na fotografia, como se ficassem elementos materiais daquele momento armazenados na imagem e isso me instiga.

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Você tem dentro das suas imagens uma geometria forte, que marca bem os espaços apresentados. Como você escolhe os locais que fotografa? Você os encontra por seus caminhos ou já sai com um objetivo traçado?

Os caminhos sempre me mostraram as imagens, mas algumas vezes eu dou uma força para elas aparecerem. Eu levo sempre comigo uma ideia, um conceito, nem que seja uma palavra e deixo meu inconsciente agir. Não me recuso a produzir o que imagino, acho que a produção é um processo importante na externalização da fotografia autoral, mas produzo de portas abertas para o acaso.

No meu ensaio não faço uma distinção conceitual sobre as imagens coloridas e P&B, apenas utilizo como formas diferentes do ver. Estou sempre atento às cores dos lugares por onde passo, alguns deles já tem uma característica monocromática, não propriamente pela cor, mas pelos sentimentos que me causam. Então busco fotografar esses lugares em P&B. Quando fotografo em cor o pensamento é o mesmo, o sentimento que me causam. Busco elementos que possam atribuir formas e cores representativas que contextualizem e ao mesmo tempo formem novas cores.

Como você escolhe entre fotografar em P&B e Cor? O que te chama mais atenção? Como você associa essas duas técnicas dentro do seu ensaio?

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Nude girl lounging in a box full of rabbit fur / Gorst, Vern C.

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