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Carine Wallauer
Visões elevadas de Eros
Carine é gaucha, jornalista e fotógrafa autodidata, já apresentou seus trabalhos em diversas publicações nacionais e internacionais e trabalha agora na realização de seu fotolivro Visões elevadas de Eros.
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Como surgiu o projeto Visões elevadas de Eros? A quanto tempo você está trabalhando neste ensaio?
Visões Elevadas de Eros é um projeto sem data de nascimento clara e sem uma necessidade explícita de deixar de ser. Ele traz em si vestígios dos mundos que conheci e criei nos últimos anos. É uma alquimia feita de pessoas, tons, sentimentos, ar puro e sonhos lúcidos.
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Há uma proximidade muito forte com a natureza e com o corpo humano neste trabalho. Você pretende reunir o homem à natureza com essas imagens? Nos deixar novamente mais próximos de nossas origens?
Nas minhas fotos eu vejo uma espécie de conforto. Os elementos presentes são lugares/pessoas/sensações de bem estar e uma espécie de comunhão. Eu percebo nelas muito mais um diálogo interno, um desejo forte de me agarrar àquilo que amo.
Nesse sentido, o meu discurso é bastante pessoal, e talvez a origem que eu procure seja a minha. Penso minhas fotografias não como o registro de um presente vivido, mas como um passado presente em imagens construídas a partir de lembranças.
Tenho a impressão de que o resultado corresponde muito mais às sensações presentes em minhas memórias do que com o que vi nos ambientes ou situações reais. Me questiono se sou eu quem guardo as memórias em fotos. Ou se são elas que me revelam. Elas representam um recorte sincero daqueles que têm sido temas centrais do meu trabalho - a natureza mística, o extraordinário da vida cotidiana, a beleza do simples, o sonhar de olhos bem abertos, o Gabriel . Eu estou ali. E tudo o que se vê sou eu. De alguma forma. Completamente.
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Existem diversos climas dentro deste ensaio, alcançados pelas cores diferentes que predominam nas imagens e pela estética única da fotografia analógica. Como você chegou a essa paleta de cores? Quando optou pela fotografia em filme? Qual sua relação com o analógico? A primeira câmera que chamei de minha foi a de um celular que ganhei quando tinha 15 anos. Como dispositivo para um exercício despretensioso ela foi ótima. Ainda guardo todos os registros. Antes disso eu já tinha fotografado com câmeras analógicas da família, mas todas automáticas. Depois disso, consegui emprestada uma Yashica com um colega de trabalho (quando eu tinha 16 anos), conquistei minha Zenit e ganhei uma Polaroid de uma ex- professora. E aí a coleção foi aumentando. Meu trabalho é todo feito com câmeras analógicas. Fotografar para mim representa mais do que um exercício de estilo ou expressão. Não fotografo objetos. Fotografo fragmentos de mim, que vou unindo a cada nova imagem, em um ansioso exercício de autoconhecimento. Quanto aos aspectos estéticos, fotografo apenas com luz natural. Priorizo no processo de concepção da imagem os efeitos óticos à pós-produção.
Minha paleta de cores foi desenvolvida naturalmente. Eu tento respeitar as cores impressas no negativo. Trabalho em cima delas.
Qual a importância, para você, de ver esse trabalho como livro? Quando surgiu a ideia de usar o Catarse para alcançar esse objetivo? É poder incrementar um ciclo que começa como sentimento, se projeta em imagem, passa então para o papel e com o esforço coletivo de muitos olhares e mãos transforma sonhos em realidade e leva nossos trabalhos a lugares e pessoas dispostas a recebe-los e deixa-los ali, em suas vidas, fazendo parte.
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