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Tiago Coelho Dona
Ana
Tiago Coelho é mais um dos formados em cinema da turma do É Preciso Arrumar a Casa. Já carrega no currículo participação na coleção Pirelli/MASP e estudos fotográficos na Europa. Aqui na OLD ele apresenta seu trabalho Dona Ana, que acompanhou a viagem de sua exbabá, Ana, em um reencontro com seus parentes, no norte do Brasil.
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Como surgiu o projeto Dona Ana? A quanto tempo você está trabalhando neste ensaio?
Dona Ana foi minha babá. Chegou na minha casa quando eu tinha 4 anos. No ano de 2004, em exercício para a faculdade, fotografei ela pela primeira vez. Desde aí, nunca mais parei! Mas o projeto começou a ganhar corpo mesmo quando acompanhei ela em busca de sua família no Pará, com os quais não tinha contato há mais de 40 anos.
Venho fotografando ela na casa dos meus pais, onde trabalha até hoje, recriando lembranças da infância.
Qual a importância de ter uma relação forte com a dona Ana para desenvolver esse ensaio? Qual foi a reação dela com a ideia do ensaio?
Minha relação com ela é o ensaio. Só assim acredito que consegui tamanha espontaneidade. Ela se entrega de corpo e alma. Ela gosta muito de participar das fotos, pois cada vez que a acompanho nossa intimidade cresce. Ela ficou muito orgulhosa todas as vezes que viu as fotos publicadas ou nas exposições. As vezes se acha feia, mas nunca contestou minhas escolhas das imagens!
Dona Ana tem em si uma grande viagem, de Porto Alegre até Belém. Como foi a experiência de cruzar o Brasil desenvolvendo uma reportagem, focada na história de uma pessoa?
Na verdade a história dela, na viagem, se confunde comigo. Vivi intensamente toda a busca! Em alguns momentos não sabia se fotografava ou chorava. Foi incrível conhecer toda a família dela, pois parecia que estava conhecendo familiares meus. A experiência de fotografar viajando, fora do lugar de onde está acostumado, sempre é muito legal porque o cenário é sempre novo! No começo também achava que estava fazendo um documentário sobre outra pessoa, depois descobri que era sobre mim mesmo.
Qual a importância, para você, de ver esse trabalho como livro? Quando surgiu a idéia de usar o Catarse para alcançar esse objetivo? Os 5 fotógrafos que fazem parte do projeto são grandes amigos! Sempre mostramos e discutimos nossos trabalhos uns com os outros. Resolvemos que deveríamos publicar nossos primeiros livros de autor juntos, em uma mesma coleção. Colocar a Dona Ana como livro é um sonho realizado, pois é o projeto que venho trabalhando a mais tempo.
Marco A. F. 10
A fotografia de Marco A. F. se concentra na produção documental, com um viés autobiográfico, sentimental. Seu trabalho ja foi premiado e exposto no Brasil e na Europa. 10 Apresenta a rotina de Luan, seu enteado, e constrói sutilmente o mundo dessa criança
Como surgiu o projeto 10? A quanto tempo você está trabalhando neste ensaio?
“Oficialmente” eu estou trabalhando nesse projeto desde o final de 2011. Mas de certa forma ele estava sendo esboçado desde 2006, quando conheci o Luan, meu personagem nessa série. Pra ficar mais claro: o Luan é filho da Betina, minha namorada.
Começamos a namorar em 2006 quando o Luan tinha 4 anos de idade.
Desde o início a gente se deu super-bem, nos tornamos grandes amigos, e a fotografia fazia parte direta dessa relação. Ele é um menino lindo (puxou à mãe!) e sempre rendia boas fotos. E como também é inteligente e curioso, as vezes se arriscava a sair fotografando.
Pois bem, isso de conviver diretamente com uma criança, acompanhando diariamente o crescimento dela, mexeu comigo. Eu, que recém entrei nessa fase dita “adulta”, me vejo muito nas atitudes dele. Essas descobertas pela qual ele está passando são ainda muito frescas na minha memória. E a fase que ele está agora, entre os dez e os onze anos, é incrível, pois ele começa a dar os primeiros sinais de um adolescente, se demonstra adulto muitas vezes, mas no instante seguinte volta a ser um bebezinho.
E é buscando contar essa história – a de um menino que está começando a virar homem – que eu decidi fazer o ensaio. Acabou que se transformou em algo um pouco mais complexo, uma vez que também fala (claro, não tão diretamente) sobre um homem que se vê no menino que cresce diante dele.
10 é um grande registro da vida do seu enteado. Como foi a abordagem inicial para começar a fotografar seu personagem? Como já temos essa ligação forte, a abordagem foi bem simples. O processo fluiu de forma bem natural, acabou virando parte do nosso dia-a-dia. Minha ideia foi desde o início fazer com que o Luan não fosse somente personagem da história, mas também fizesse parte do processo de criação e edição da série. Deixei isso claro pra ele desde o início. Acho que ao trazê-lo para dentro do processo consegui envolvê-lo de forma profunda, fazendo com que se sentisse também autor do trabalho (o que de fato ele é).
Como foi o processo de edição dessa imagens? Imagino que no início era um universo imenso, que tem que, aos poucos ser reduzido até seu formato final. Sim, é um universo imenso, como geralmente é o material bruto de um ensaio documental.
O processo de edição começou durante o período de captura. Conforme produzia, eu ia olhando constantemente o material: montava algumas pequenas narrativas, testava possíveis montagens, ou seja, botava as imagens pra conversar. Isso foi servindo para eu ver o que estava ou não funcionando, o que faltava ser feito, etc.
Agora tenho um grupo de imagens que aponta o andamento da história que quero contar. O desafio é resolver isso em uma narrativa para o livro, que é onde me encontro nesse momento.
Qual a importância, para você, de ver esse trabalho como livro? Quando surgiu a ideia de usar o Catarse para alcançar esse objetivo?
Pra mim o lugar por excelência da fotografia é o livro. Gosto de exposições, é claro, mas amo a portabilidade e a durabilidade que um livro possibilita para uma obra.
Então certamente vai ser uma realização enorme poder publicar esse trabalho da forma que mais me agrada, e saber que essas pequenas histórias vão acabar se espalhando por aí e acabar nas estantes de casas alheias.
Quanto ao Catarse, a ideia veio da nossa vontade de tornar o processo todo realmente coletivo, e para isso fomos atrás de um público que não tínhamos certeza se realmente existia.
Outro motivo forte para buscarmos uma plataforma de financiamento colaborativo foi a vontade de fugir do esquema lento e burocrático dos financiamentos públicos.
Cansa esperar as vezes um ano para saber se o projeto vai rolar, e geralmente o processo é tão arrastado que se perde um pouco do tesão no meio do processo.