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As malas, os homens e as... Fernanda Sousa

As malas, os homens e as mulheres

Fernanda Sousa . Professora de Inglês

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As malas são fiéis companheiras, testemunhas silenciosas de perdas e vitórias.

São objetos misteriosos para eles e frequentemente suscitam comentários de “olha lá, o que levas aí nessa mala tão pesada?” Ora, clarifiquemos este mistério do Universo, as malas das mulheres, qual programa de Morgan Freeman.

As malas, quer de marca XPTO ou, passando pelo prisma todo até ao polo oposto, vindas dos nossos amigos do outro lado do mundo, são fascinantes e indispensáveis. Uma mala é um “wormhole”, uma passagem para outro mundo, onde as leis da Física do mundo natural não se aplicam. Ali está a Física Quântica, o mundo do muito pequeno, em que parece que se vê o que se vê, mas de repente já não está lá, está outra vez, não está. Os objetos escondem-se, fogem, quem sabe, para realidades paralelas…

A mala é também uma máquina do tempo sem direção certa. São as fotos da comunhão do Francisco, do verão em que se ia de férias ou daquele familiar que já partiu, a conta da água, o porta-moedas, cada vez mais leve, o antibiótico da Maria, as chaves do carro, que nunca se encontram à primeira, o telemóvel, que fiel à lei de Murphy irá tocar no trabalho no único dia em que não ficou em silêncio, o bilhete da última ida ao cinema, o pacote das bolachas, o iogurte líquido e até, num bolso lá do fundo, um sonho que um dia se pensou viver, há muito perdido ou desperdiçado.

Guardando pequenos, grandes tesouros, segurando memórias juntamente com lixo reciclável, as malas são verdadeiros kits de sobrevivência em caso de catástrofe natural. Qualquer mulher, face a tal situação, abriria a sua mala e facilmente retiraria duas tabletes de chocolate, uma garrafa de água ou mesmo duas latas de atum e uma muda de roupa, truques aprendidos com o Sport Billy.

Às vezes, maltratadas no chão, outras abandonadas numa cadeira ou mimadas ao colo, as malas são fiéis companheiras, testemunhas silenciosas de perdas e vitórias. Caminhamos aconchegando-as a nós como ente querido. Eles dirão que é moda, que facilita o andar ou que é hábito mas nós, mulheres, sabemos que elas nos dão um não-seiquê de segurança e, naqueles dias em que a alma parece ter caído para dentro de si mesma, isso não tem preço.

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