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Ninguém se entende Inês Mesquita
Ninguém se entende
Inês Mesquita . Aluna do 12º B
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Partindo do tema da discriminação, ocorreu-me o caso dos ideais profissionais que nos são transmitidos ao longo da vida. É um caso de grande euforia, preocupação e principalmente stress e paranóia, tanto para filhos como para pais. Existe um sistema, igual para todos, o problema é, precisamente, que não assenta a todos.
“Que queres ser quando fores grande?” “Quero ser bombeiro!”, oh a doce e inocente felicidade das crianças quando respondem aquela pergunta, quer com “bombeiro”, “veterinário”, “cantor” ou até um simples e modesto encolher de ombros e um “Não sei” despreocupado. Os anos passam, o tempo escasseia, demasiado depressa, diria eu. Brevemente, já não temos o usual riso enternecedor quando ouvem a nossa resposta, já é apenas um sorriso preocupado e um “É melhor começares a pensar nisso”. Quando damos por nós, já é o dia do juízo final, o tic-tac parou e o tempo para decidir esgotou.
Passamos grande parte da nossa adolescência a pensar na nossa vida adulta, e grande parte da nossa vida adulta a pensar na adolescência. Enquanto somos jovens e a transbordar de energia e entusiasmo, tentamos dividir o tempo entre divertirmo-nos e refletir sobre o futuro, e quando finalmente chega essa altura, dividimos o tempo entre pensar nas preocupações do presente e lamentar as oportunidades perdidas do passado. Nunca chegamos a um consenso, nem nos permitem que cheguemos. Quando atingimos a adolescência “é esperado que comecemos a agir como adultos, mas tratam-nos como crianças”, mas isso é porque…bem, é o que nós somos! Somos um fantástico híbrido de uma criança
Thayer Gowdy
despreocupada que se quer divertir e um adulto paranóico que nem sabe para onde se virar. Temos, no entanto, algo em comum: queremos chegar a algum lado.
Faz parte da nossa mentalidade, como seres humanos, querermos deixar a nossa marca, ser relembrados, ter a certeza que aproveitamos bem a nossa estadia neste mundo dos que respiram. E fazemos projetos e temos ambições e ideias e ficamos assustadoramente entusiasmados com elas, como se corrêssemos o Mundo apenas para as concretizar…! Mas barram-nos o caminho logo no início. Atenção que o que vou dizer a seguir não é contra a educação, muito pelo contrário. É apenas contra a lavagem cerebral. Há uma grande diferença entre ambas. Somos obrigados a escolher o nosso futuro demasiado cedo. Somos jovens, ingénuos, estúpidos e inocentes! Como é que esperam que façamos a escolha acertada?! O mais provável é acabarmos, 20 anos mais tarde, a detestar todas as manhãs porque nos espera um trabalho e uma vida que não queremos e com a qual não nos identificamos. E porquê? Porque escolhemos demasiado cedo. Num dia podemos querer ser astronautas e ir à lua, no outro já podemos querer desenhar prédios e ser arquitetos, na semana seguinte ter aquela vontade de pegar na guitarra e tocar para milhões de pessoas, e, quem sabe, no mês seguinte, querer, somente, pegar na bata e ir ver como estão os pacientes.
Gostava que tivéssemos tempo. Tempo de nos explorarmos, de encontrarmos algo que podemos dizer com toda a segurança “Faria isto para o resto da minha vida!”. Tempo de aproveitarmos a nossa juventude como deve ser, sem ter aquela constante preocupação do “O que vai ser de mim?!”, como se todo o santo passo que damos, fosse condicionar algo que acontecerá 10 anos depois. Principalmente, tempo de nos conhecermos e de escolhermos. Tenho a noção que nem todos os caminhos vão dar a um belo jardim, mas se não tentarmos, nunca sabemos, e se nos guiarem na direção oposta, também nunca mais chegamos lá.