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Pedaços de Nada Ana Meireles

Pedaços de nada

Ana Meireles . Ex-aluna da ESJAC

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Não sou delicadeza, nem rispidez… Sou pedaço de um grito surdo e outro de um sussurro muito alto. Sou acidez coberta de açúcar, loucura atrás de decência, infantilidade madura…

Sou um pedaço de mim, outro de ti, outro do resto… Sou frio de verão, calor de inverno… Sou telhado sem lar, sítio de todos sem teto… Sou montanhas distantes, mar próximo… Sou chuva seca, vento hesitante, sol pouco radiante, nevoeiro sem densidade… Sou orvalho à noite, escuridão da manhã…

Sou o mundo das avessas, sou luvas nos pés, meias nas mãos… Sou! Não sou minha, nem tua, nem de ninguém, nem mesmo do mundo… Mas sou as estrelas… Indiferentes na claridade do dia, despertas no negrume da noite… Sou sem saber ser, não sei se sou o bem ou o mal, se sou a luz ou as trevas… Sou um pedaço de cada, talvez… Não sou branca, nem preta, nem mesmo cinzenta… Sou ausência de cor! de um grito surdo e outro de um sussurro muito alto. Sou acidez coberta de açúcar, loucura atrás de decência, infantilidade madura… Não sou livros lidos, não sou páginas ainda por ler, não sou textos com nexo, não sou frases feitas, nem sentimentos de todos… Não sigo ninguém, mas também não crio o meu próprio caminho… Não sou intuitiva, nem tão pouco calculista…

Não sou gravura, sou tinta, sou tela, sou ideia… Não sou abstrata, nem real… sou ar palpável!

Sou olhos cegos, ouvidos surdos, paladar sem gosto… sou a anulação do universo e a aprovação da insignificância… Sou o talvez, o leque de possibilidades… Não acredito no sempre, mas também não acredito no nunca! Sou ousadia envergonhada, timidez arrojada… Sou gelo que queima, fogo que arrefece…

Enfim, sou um pedaço do tudo, um pedaço do nada…

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