Nuno Oliveira

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Relatos da minha avó materna no tempo de Salazar A minha avó disse-me que no tempo em que Salazar mandava passava-se muita fome, andava descalça, pois não havia dinheiro para comprar sapatos e os que tinha eram para dias de festas e para ir à missa. A casa dos meus bisavôs maternos era muito pequena, não tinha água canalizada nem casa de banho. A minha avó andava numa escola só para raparigas, pois não era permitido haver turmas mistas, isto é, com rapazes e raparigas. Eram obrigadas a rezar no início das aulas e no fim. A minha avó contou-me que naquele tempo os homens só podiam fumar debaixo de telha, ou seja, não podiam fumar ao ar livre, caso o fizessem e a polícia visse eram multados. Trabalhavam muitas horas e recebiam pouco. Durante o verão levantava-se às 4 horas da manhã para montar as “barracas” na praia para os “fidalgos”, como eram chamadas as pessoas que iam para a praia. Ela disse-me que não podiam ir para a praia de junho a agosto, estes meses eram destinados aos “fidalgos”. Os meus bisavôs eram caseiros numa quinta que pertencera à família real portuguesa, e, a minha avó recorda-se que nessa quinta se refugiavam os mensageiros que traziam informações de Lisboa para o norte e para fora do país. Muitos destes mensageiros fugiam da PIDE e escondiam-se lá. Ainda me contou que o meu avô materno foi obrigado a ir para a Guerra do Ultramar ou Colonial durante 2 anos, se não era preso. Esteve em Moçambique e era responsável pela transmissão por telégrafo enviando todas as notícias para o quartel em Lisboa, relatando todos os acontecimentos.

Dados recolhidos em 27 de abril de 2013, em Vila Praia de Âncora

Trabalho elaborado por:

 Nuno Oliveira nº23 6º D


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