João André Reis

Page 1

O 25 de Abril no Ultramar (Entrevista do João André Reis, do 6º H, à sua mãe, que se encontrava em Angola no período do 25 de abril)

_Mãe, que idade tinhas quando se passou este acontecimento? - Tinha 9 anos. -Viste alguma cena chocante? - Sim. Muitas crianças eram assassinadas nas escolas. E, muitas vezes, tivemos de faltar à escola e mudar de casa para procurar a segurança. - Havia muita violência? - Sim, os guerrilheiros invadiam as escolas e assassinavam as pessoas que eles vissem. A tropa portuguesa recolhia os cadáveres e alertava as pessoas por rádio para que as crianças não fossem à escola durante algum tempo. Nesse dia, os meus pais foram à escola, muito assustados e levaram-me para casa. No dia seguinte mudámos de casa e fomos viver para o centro da cidade, onde estávamos mais seguros. -Como te sentias ao ver isto? - Não percebia o que se estava a passar. Apercebi-me que vivia num cenário de guerra, pois via as tropas armadas a circularem constantemente pelas ruas. Existia o recolher obrigatório (a partir da meia-noite ninguém podia andar na rua sem autorização). Para nós era confuso, porque estávamos habituadas a estar na rua a brincar até tarde. Sentíamos que a nossa liberdade estava condicionada. - Reagiste mal a esta situação? - Não, porque no fundo era uma criança e não tinha noção do perigo a que estávamos sujeitos. - Achas que podias fazer alguma coisa em relação a isto? - Não. - Conseguias interagir com a sociedade? - Sim. Com algumas restrições. João Reis nº9 6ºH


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.