Luisa matos

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HISTÓRIA DE UM SOLDADO EUROPEU SOBREVIVENTE DA

1ª GUERRA MUNDIAL (UM EXERCÍCIO DE EMPATIA HISTÓRICA)

Luísa Matos nº 16 do 9º Ano Turma H


Deixei tudo para trás, a minha família, a minha casa, quer dizer, a casa dos meus pais… tenho saudades do meu quarto, do meu conforto. De adolescente passei a soldado, com 22 anos, dei a minha vida para defender a minha nação, França, com muito orgulho, levo as saudades no peito e um desejo de voltar a casa.


Chamo me Humberto Rochereau, nasci em 1896, caso morra aqui, espero que alguém encontre isto e que conte ao mundo a minha experiência como soldado nesta guerra! Espero inspirar muitos jovens a amar tanto a nação como eu e os meus compatriotas… arriscar a vida por justiça, pelo meu país… pelo nosso país.  Alsácia e Lorena eram nossas! Eram de França e devem voltar para o seu dono, não devem pertencer à Alemanha, aqueles ladrões!


Apesar de possuir mos capacidade militar, demográfica e industrial inferior à dos Alemães, somos mais espertos! Baseamos a nossa estratégia no ofensivo PLANO XVII, que se concentra num ataque sobre os territórios perdidos na guerra Franco-Prussiana e, talvez mais ousadamente, sobre a Renânia, que é basicamente o coração industrial da Alemanha. O nosso plano foi um fracasso, colidiu com o plano também ofensivo da Alemanha, PLANO SCHLIEFFEN, fomos derrotados na guerra das fronteiras…


Perdi muitos companheiros de nação nestas batalhas e a Alemanha apoderou-se de uma parte significativa do Nordeste de França, causando inúmeros prejuízos a nossa indústria pois é um território bastante rico em carvão. Vou continuar a lutar, vamos todos! A morte dos meus companheiros vai ser vingada! Derrotados nestas batalhas mas a guerra ainda não está ganha! Fé na minha nação, muita força, muito orgulho! Paris, a capital, foi salva, na Primeira Batalha, do Marne, com ajuda dos nossos aliados ingleses. Uma vitória de muitas mais que se vão seguir!


Após a Batalha do Marne, a Frente Ocidental tornouse um impasse, gerando a "Guerra das Trincheiras", na qual o exército alemão não tem conseguido grandes avanços contra nós, ao mesmo tempo que nos conseguiu incapacitar também nós e à Inglaterra! A vida nas trincheiras é horrível, são longas e tortuosas galerias, cavadas na terra, as condições são desumanas, mas tudo pela minha nação! Quando chove, as trincheiras transformam-se em rios de lama nos quais rastejamos, inimaginável, só nós e deus sabemos.


Tive autorização de vir a casa por dois dias finalmente, a guerra acalmou um pouco, senão não tinha tal oportunidade… as saudades apertam, primeira coisa que faço é ir abraçar a minha mãe, o meu pai, o meu irmãozinho mais novo… já com um amor à nação tão grande como o meu. Ouve falar na escola, em casa, dos escumalhas dos alemães e da gloriosa nação que França e seus aliados tem.


Logo a seguir, tomar um banho, os parasitas nas trincheiras multiplicam-se, pulgas, piolhos, uma verdadeira praga, mas mesmo assim gosto mais deles do que dos Alemães… a roupa foi para a lavandaria e assim que chegou fiz questão de queimar a área dos sovacos, pois é onde ficam os ovos das pulgas e as lêndeas que não saíram com a lavagem…


Os dois dias passaram num ápice e já é hora de me despedir outra vez, se não fosse o amor á nação nem sei o que fazia! Ou melhor, sei, não voltava, as trincheiras tem condições desumanas, uma trincheira típica tem pouco mais que 2 metros de profundidade e cerca de 1,80 metros de largura. À frente e atrás, largas fileiras de sacos de areia, com quase um metro de altura, aumentam a proteção. Há ainda um degrau de tiro, meio metro acima do chão… ele é usado por sentinelas de vigia e na hora de atacar o inimigo. Perigosíssimo, desumano repito!


No dia-a-dia, falta-nos água, comida, sobram ratos, lamas e doenças! As casas de banho são latrinas: buracos no chão com um metro e meio de profundidade. Quando estão quase cheias, são cobertas com terra e escavam-se novos buracos (trabalho feito por nós como castigo). O cheiro, nauseabundo, insuportável! Por vezes, eram invadidas por gases asfixiantes que faziam com que os soldados que não fossem a tempo de pegar na máscara, morressem intoxicados ou tivessem de voltar, ‘gaseados’.


As ofensivas obedecem sempre á mesma estratégia: vários dias de ataque de artilharia sobre o campo do inimigo, seguidos de assalto de infantaria. O resultado é quase sempre o mesmo, os inimigos refugiam-se nas galerias mais profundas e quando a infantaria avança, varrem-na com metralhadoras. Os cobardes que se recusassem a ir, morrem fuzilados pela própria nação… muito bem feito, se não fazem tudo por França, não merecem ser considerados soldados, merecem morrer.


O terror da guerra e a quase insuportável vida aqui enlouquece muitos soldados. Vejo alguns que se ferem a eles mesmos para serem mandados para casa (loucos, se são descobertos, fuzilados também). Os mais desesperados, saem da trincheira e são, obviamente, mortos pelo inimigo.


O território entre as trincheiras ‘’Terra de Ninguém’’, está semeado de cadáveres, fazemos por pôr os pés na zona do tórax pois é duro… se por acaso nos enganássemos e puséssemos o pé na zona do estômago e o corpo já lá estivesse há algum tempo, o cadáver ‘engolia’ o nosso pé e ficávamos presos…


E foram 3 longos anos a combater, estou esgotado, mas feliz por finalmente deixar as trincheiras‌ mas a guerra ainda nĂŁo acabou! Ainda temos muito que lutar! Apesar de todas as dificuldades enfrentadas, sobretudo na fase inicial, apesar de todos os soldados perdidos, no decorrer do conflito, mostrĂĄmos ter uma força de combate suficientemente coesa para contra-atacar em batalhas decisivas como a de Verdun, Segunda Batalha do Marne.


Não obstante da decisiva entrada dos EUA, agora numa fase final, o nosso exército (francês) mantêm-se, digamos, a espinha dorsal da ofensiva aliada. Assumimos a liderança na Ofensiva dos Cem Dias, sob o comando do Marechal Ferdinand Foch.


Estas numerosas ofensivas lideradas por nós, marcam o início de um avanço implacável dos aliados, deixando o exército alemão de joelhos. Quando finalmente, contando com os soldados, frescos para combater, norte-americanos, estávamos prestes a invadir a Alemanha, os germânicos pedem um armistício pois aperceberam-se que somos mais fortes e que estavam á beira do desastre.


Finalmente, 4 longos anos de guerra, por fim acabaram, finalmente voltei para casa… mas não voltei apenas com alívio, com muita dor também…muitas mazelas ficam, notícias horríveis para dar a famílias de outros soldados, muitos homens a menos, mas pelo menos voltamos com vitória!


Não sei bem até que ponto é que a recuperação dos territórios perdidos, a vitória em relação á Alemanha, as pesadas condições impostas aos alemães, o dinheiro da indemnização que vamos receber, poderá, digamos, justificar tantas mortes, tantos soldados feridos, completamente desfigurados alguns até, perdidos, sem se encontrar os corpos… é impossível ‘’pagar’’ a dor de uma mãe, de um pai, por perder o filho numa guerra… embora tenhamos ganho.


Mas é um orgulho saber que lutaram pela nossa nação até ao último dia das suas vidas! Embora tenham deixado para trás dor, histórias inimagináveis e muitas, muitas saudades. Um último adeus aos meus companheiros mortos em combate. Mas se pudesse voltar atrás, pelo meu país, fazia tudo de novo! FRANÇA ATÉ AO FIM! VIVA A FRANÇA!


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