SARAMAGO
naturalismo
Émile Zola/ Raul Pompéia/ Aluísio Azevedo
“MEU DEVER É FALAR. NÃO QUERO SER CÚMPLICE.” – Émile Zola
5 Introdução
NOTA DAS EDITORAS
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A revista Saramago foi idealizada por um grupo de alunas do Colégio T. Parthenon com o propósito de utilizar o exercício da escrita como forma de difundir o conhecimento acerca das escolas Realista e Naturalista, num espaço que ainda é restrito no que tange ao aspecto linguístico. Com esse projeto, visamos a auxiliar indivíduos interessados em promover sua formação literária. Esperamos que, a partir desta e de outras composições provindas dos corpos discente e docente, se possa promover a expansão do pensamento crítico, indo além do conteúdo formal trabalhado no Ensino Médio.
S U M Á R I O
AUTORES E OBRAS: Aluísio Azevedo
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AUTORES E OBRAS:
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AUTORES E OBRAS:
Émile Zola
Raul Pompéia
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BIBLIOGRAFIA
ORIGENS DO NATURALISMO
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ENTREVISTA COM ANA CHIARA
OTRABALHO OHLABART DOS BRITADORES T NHA RECOMEÇADO. MUITAS VEZES ELES APRESSAVAM O ALMO ÇO PARA NÃO PERDEREM O CALOR DO CORPO OPROC ; E SEUS SANDU CHES, COMIDOS NUMA VORACIDADE MUDA E NAQUELA PROFU DIDADE, TRANSFORMAVAM-SE E CHUMBO NO E OSTÔMAGO GAMÔTSE . DEITA DOS DE LADO, GOLPEAVAM MAIS F EORTE TROF COM A IDEIA FIXA D COMPLETAR UM NÚMERO ELEVA DO DE VAGONETES SETENOGAV. TUDO DESA PARECIA NESSA FÚRIA AIRÚF DE GANH TÃO DURAMENTE DISPUTADO, NEM MESMO SENTIAM MAIS A ÁGUA QUE ESCORRIA E LHES IN CHAVA OS S MO EMBROS RBMEM , AS CÃIBR
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O Naturalismo é considerado uma extensão do próprio Realismo, mas apesar de ambos os movimentos possuirem a mesma essência, há algumas diferenças básicas: no Naturalismo, observa-se um maior uso do cientificismo e um maior enfoque dado à crítica feita. A corrente se iniciou na segunda metade do século XIX e foi influenciada pela Teoria de Evolução das Espécies e pelo Positivismo. Os autores naturalistas acreditavam que o homem está sujeito ao condicionamento biológico e natural. Por conseguinte, havia uma preocupação em retratar a realidade com rigor científico, aprofundando-a em mazelas sociais como vícios, paixões e sentimentos humanos considerados “torpes”, sendo este um recorte social em termos gerais da vida burguesa e proletária. No que diz respeito ao Não são as espécies mais for- aspecto literário, a linguates que sobrevi- gem utilizada nos romanvem, nem as ces era coloquial e objetiva. Há uma descrição mimais inteligennuciosa que predomina tes, e sim as sobre a narração; os aconque melhor se tecimentos e e sentimentos adaptam a mu- ficam em segundo plano. danças. O início do Naturalismo é marcado pela publicação, Charles Darwin em 1879, de Nana, obra de Émile Zola.
O RI GENS
AUTORES E OBRAS
Émile aloZ elZola imÉ Em termos mundiais, Émile Zola foi o principal autor naturalista. O fran-
cês impulsionou a “literatura científica” graças ao movimento de doutrinas cientificistas e materialistas que se difundiu ao longo do século XIX, como a teoria evolucionista de Darwin e os princípios socialistas que floresciam. Segundo Ítalo Caroni, a narrativa de Zola circunda a utopia. Na base de seu pensamento, encontrava-se o enfoque negativo da condição humana e sua dimensão natural; o homem condicionado pelo meio físico e pelo estigma hereditário. “Como um espírito autêntico de seu tempo, Zola procurou introduzir, nessa visão naturalista, a esperança moderna no milagre científico”, conforme diz Caroni. Eduardo Silva diz que, na obra de Zola, há a coexistência de uma narrativa negativa e ideais reformistas, o que pode representar um paradoxo aos escritores do período, uma vez que deve haver a posição incômoda do escritor frente à sociedade sob a constante transformação a partir da industrialização. Em Thérèse Raquin, percebe-se a singularidade de Zola quando o mesmo descreve seus objetivos: “Eu quis estudar temperamentos e não caracteres. Escolhi personagens soberanamente dominadas pelos nervos e pelo sangue, desprovidas de livre-arbítrio, arrastadas a cada ato de sua vida pelas fatalidades da própria carne. [...] Começa-se a compreender (espero-o) que meu objetivo foi acima de tudo um objetivo científico. [...] Fiz simplesmente em dois corpos vivos o trabalho analítico que os cirurgiões fazem em cadáveres” (Émile Zola) Émile Zola participou da realidade sobre a qual refletiu e retratou em sua obra. É propósito do autor chamar a atenção para a precária condição de uma parcela da sociedade, bem como o sentimento de revolta do proletariado, esmagado pelo peso da exploração. A estratégia de Zola, utilizando uma linguagem simples, revela a vocação generalizante de um escritor ansioso em se dirigir a um público cada vez mais amplo. 9
A Sra. Hennebeau, muito pálida, cheia de ódio contra aquela gentalha que estragava um dos seus prazeres, mantinha-se atrás lançando olhares oblíquos e enojados, enquanto Lucie e Jeanne, apesar de trêmulas, espiavam por uma fresta, não querendo perder nada do espetáculo. O ribombar de trovão aproximava-se, a terra foi sacudida e Jeanlin passou na vanguarda, soprando a sua cometa. — Apanhem os sais, é o suor do povo que está passando — murmurou Négrel, que, apesar das suas convicções republicanas, gostava de rir da canalha em companhia das senhoras. Mas seu gracejo foi carregado pelo furacão dos gestos e gritos. As mulheres tinham aparecido, cerca de mil, cabelos ao vento, desgrenhados pela correria, os farrapos deixando à mostra a pele nua, nudez de fêmeas exaustas de parir mortos-de-fome. Algumas traziam os filhos nos braços, e levantavam-nos, agitando-os como uma bandeira de luto e vingança. Outras, mais jovens, com peitos estufados de guerreiras, brandiam paus, enquanto as velhas, monstruosas, berravam tão alto que as veias dos seus pescoços descarnados pareciam rebentar. Em seguida vieram os homens, dois mil furiosos, aprendizes, britadores, consertadores, verdadeira massa compacta que rolava como se fosse feita de um só bloco, apertada, confundida, a ponto de não se distinguirem as calças desbotadas ou os suéteres esfarrapados, esbatidos na mesma uniformidade terrosa. Os olhos faiscavam, viam-se apenas os buracos negros das bocas cantando a Marselhesa, cujas estrofes se perdiam num bramido confuso acompanhada pelo bater dos tamancos na terra dura. Acima das cabeças, entre a floresta de barras de ferro, passou um machado, bem ao alto. Esse único machado, que era como o estandarte do bando, desenhava no céu claro o perfil aguçado de um cutelo de guilhotina. — Que caras horrendas! — balbuciou a Sra. Hennebeau. Négrel disse entre dentes: — O diabo me carregue se eu reconheço um único! De onde terão saído esses bandidos? Realmente, a cólera, a fome, os dois meses de sofrimentos e aquela correria desenfreada pelas minas tinham transformado em mandíbulas de animais ferozes as feições plácidas dos mineiros de Montsou. Naquele momento o sol desaparecia; os últimos raios, de um púrpuro sombrio, pareciam ensangüentar a planície. E a estrada também pareceu lavada em sangue; as mulheres e os homens continuavam marchando, cobertos de sangue, como carniceiros em plena matança.
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GERMINAL Em Germinal, Zola tece um retrato da atmosfera pesada e suja que presenciou, revelando ao leitor imagens tão fortes e vivas que quase extrapolam sua característica de ficção. Rodrigo Janoni Germinal se passa na segunda metade do século XIX e retrata a situação de operários, dentre eles mulheres e crianças, numa mina de carvão. A obra denuncia a condição insalubre de trabalho na França. Ao longo da narrativa, que serve como espelho da sociedade, pode-se acompanhar uma das primeiras lutas do movimento operário moderno e as influências da Primeira Internacional, associação que uniu os trabalhadores de todo o mundo. A revolução de 1798 não solucionou os problemas do proletariado, que após quase um século, seguia com semelhantes condições de vida. Em 1885, ano de lançamento da obra, o crítico literário Araripe Júnior diz que o romance o remete ao inferno de Dante. “Zola talvez pretendesse fazer paródia burguesa àquele grande pesadelo pessimista do gênio da Média
Idade. Não é, mesmo, possível ler o Germinal sem muitas vezes arquejar, impressionado por páginas verdadeiramente dantescas”. Inicialmente, as obras de Zola eram lidas por brasileiros em francês, e, posteriormente, em traduções lusitanas. No caso de Germinal, a primeira tradução portuguesa é datada do mesmo ano de lançamento da obra, o que reflete a imediata repercussão do romance. O nome Germinal se refere ao primeiro mês da primavera no calendário da Revolução Francesa, numa alusão ao movimento revolucionário do final do século XVIII que pode passar despercebida aos brasileiros. Ademais, lendo a obra, percebe-se a constante presença do verbo germinar, podendo também servir de referência à ideia de proliferação das revoltas ansiadas por Zola. Até nos
dias atuais, a narrativa é vista como símbolo da luta revolucionária e, não surpreendentemente, inspirou muitos movimentos trabalhistas no continente europeu, bem como no Brasil. Por se tratar de uma obra próxima das características da França oitocentista, Germinal é considerado obra-prima de Émile Zola, que, para escrevê-lo, passou meses numa região mineira, morou em cortiços e desceu ao fundo dos poços para observar de perto o trabalho dos operários nas minas de carvão. O método experimental que Zola utilizava para escrever seus romances, unindo o jornalismo à literatura, resultou numa grande admiração por parte dos contemporâneos. Matthew Josephson cita uma descrição de Zola feita por Leon Daudet, que demonstra seu método de coleta de dados e observação: “Ele ia sem convite às recepções de ricos capitalistas para a coleta de dados. Víamo-lo corpulento e carrancudo, com um jeito de.filósofo, ao canto de um bufete, observando as pessoas presentes, abastecendo sua memória deturpadora de fatos com rápidos perfis. Em tomo dele murmuravam: - É Zola! Está tomando notas!” (Matthew Josephson) Durante a experimentação que precedeu a elaboração de Germinal, Zola descobriu quais eram as principais doenças causadas pela mineração, além de sentir o problema dos baixos salários e o drama do trabalho na escuridão frente à luta pela sobrevivência. Na região fronteiriça à Bélgica, o escritor colheu depoimentos sobre a grande greve de 1884, encerrada, com muitas mortes, pela violência do exército. No livro, Émile descreve a emoção da greve operária e o ódio animal destrutivo de miseráveis, exaltando a força e intensidade de corpos que desejam se libertar. A obra apresenta também a promiscuidade de famílias operárias em moradias precárias contrastando com as relações conjugais nos aconchegantes leitos burgueses. 12
Os governos suspeitam da literatura porque é uma força que lhes escapa. Émile Zola
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R aiaul épmPompéia oP luaR O romance naturalista de Raul Pompeia é marcado por traços impressi-
onistas, em que a representação das emoções do artista se sobrepõe à frieza da realidade objetiva. Como diz Marciano Silva, é provável que o impressionismo brasileiro tenha sofrido forte influência romântica e que Raul Pompéia, sendo um amante das artes plásticas e uma pessoa de caráter bastante emotivo, tenha incorporado a técnica impressionista na literatura como uma forma composicional a serviço de uma sensibilidade romântica. Afinal, o próprio escritor afirmou que não há obra de arte sem “o capricho do ritmo acomodado aos períodos sentimentais da descrição” e sem “os parênteses da personalidade do escritor, manifestados pelo modo especial de sentir e pelo processo original de dizer.” Além disso, os personagens de Pompéia são por vezes animalizados e há uma tendência cientificista em suas obras. Seguindo as vertentes do Determinismo de Taine, Evolucionismo de Darwin e Positivismo de Comte, os textos se valem de personagens degeneradas, ambientes sociais em contraste e determinismo, oferecendo uma compreensão mais realista da sociedade. Segundo Afrânio Coutinho, pode-se resumir as técnicas literárias pompenianas no uso de hipérboles, reiterações (substantivas, adjetivas ou verbais), digressões e comparações que podem ser relacionadas ao impressionismo, como a invenção de paisagens que podem parecer mais autênticas que a realidade. Como foi salientado por Lêdo Ivo, Raul tem uma estética literária colorida e frenética, no qual o estilo responde ao pensamento, traduzindo, artisticamente, as emoções e sentimentos que permanecem em seu espírito. Tal característica do escritor, via de regra, exige fôlego do leitor, todavia transforma sua obra em leitura fascinante. Araripe Junior diz que o escritor tem, acima de tudo, um estilo vibrante, plástico, cromado e visual. Uma escrita cheia de símiles, de antíteses, de riqueza imagística, de festa verbal, acentuadamente no imperfeito, de períodos sem conectivos e curtos para dar mais ritmo à escrita e à leitura, de grandes gradações, por vezes ternárias: ”feio, magro, linfático”, “derribado, contundido, espancado.” Desencontros à parte, o fato é que Raul Pompeia deixou ao Brasil um significativo legado evidenciado pela obra O Ateneu, que se situa como o principal romance impressionista brasileiro. 17
O Ateneu Capítulo 9 Entrávamos pelo gramal. Como ia longe o burburinho de alegria vulgar dos companheiros! Nós dois sós! Sentávamo-nos à relva. Eu descançando a cabeça aos joelhos dele, ou ele aos meus. Calados, arrancávamos espiguilhas à grama. O prado era imenso, os extremos escapavam já na primeira solução do crepúsculo. Olhávamos para cima, para o céu. Que céus de transparência e de luz! Ao alto, ao alto, demorava-se ainda, em cauda de ouro, uma lembrança de sol. A cúpula funda descortinava-se para as montanhas, diluição vasta, tenuíssima de arcoíris. Brandos reflexos de chama; depois, o belo azul de pano, depois a degeneração dos marizes para a melancolia noturna, pronunciada pela última zona de roxo doloroso. Quem nos dera ser aquelas aves, duas, que avistávamos na altura, amigas, declinando o vôo para o ocaso, destino feliz da luz, em pleno dia ainda, quando na terra iam pôr tudo às sombras!
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O ATENEU Podemos perceber no texto de O Ateneu desde a contenção e a secura da representação clássica, até as paixões desordenadas do espírito romântico. Fábio Lucas Em O Ateneu, a presença marcante do narrador é posta em evidência desde o subtítulo “crônicas de saudades”, que prenuncia recordações, além da data, “Rio de Janeiro, março de 1888”, que arremata o texto. Vale ressaltar que o foco narrativo autobiográfico é explicitamente identificado: segundo Regina Araujo, o livro mostra Pompéia como personalidade sensível, desajustada ao ambiente e aos valores de uma educação deformadora. Nenhum dos expressivos personagens criados pelo autor tem a dimensão existencial de Sérgio, encarnação de Raul, protagonista que mantém um relacionamento com Bento Alves e vê no colégio interno uma afronta à sua liberdade. A projeção ressentida do escritor se revela no itinerário psicológico dos personagens num cotidiano repleto de amargura e
frustrações. A exemplo de Mário de Andrade, alguns críticos acusaram Pompéia, por seu tom incisivo e intenção demolidora, de ter sido dominado pelo exagero e ódio. Entendido como um espelho da sociedade, o livro foi relatado como uma escola onde sobreviviam os mais fortes, tais como na sociedade burguesa da época. Dentre as características naturalistas presentes na obra, cabe ressaltar o erotismo, a aproximação do comportamento humano ao animal, a descrição do instinto e exploração de temas polêmicos tais como a homossexualidade. A obra passa pelas estéticas realista, naturalista, impressionista e expressionista. Entretanto, a visão que se destaca é a impressionista, sobressaindo a impressão subjetiva, sensível e pessoal da realidade.
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odevezAAzevedo oisíulA Aluísio Aluísio Azevedo viveu e escreveu nas últimas décadas do século XIX, pe-
ríodo marcado por contradições sociais, políticas e econômicas que se acirravam. O embate entre paradigmas diferentes estava posto e a obra de Aluísio Azevedo apresenta um conflito entre o Romantismo e o Naturalismo, registrado, especialmente, a partir de uma linguagem “híbrida” presente nos romances, que reflete o passado que persiste e o inédito que se impõe. De acordo com Angela Fanini, as inúmeras mudanças que aconteceram em tal época, como a abolição da escravidão em 1888 tida por Sérgio Buarque de Hollanda como “o marco divisório entre duas épocas”, não romperam totalmente com o passado. O passado, regido pela economia escravista dos senhores de terras e vinculado a uma realidade romântica conservadora, e o presente, relacionado ao estabelecimento do capitalismo industrial, não estão distantes um do outro no que tange à configuração social, que após 1888 continuou autoritária, elitista e excludente, embora sob o signo de renovação e inclusão. Nesse sentido, pode-se entender o “hibridismo” aluisiano a partir da percepção de que a obra do autor ora se vincula a um passado não totalmente inativo e ora objetiva mudar a realidade, instaurando o discurso naturalista. Apesar de mais conhecido como romancista, Aluísio também foi jornalista, participando da imprensa maranhense e lançando peculiaridades ainda hoje encontradas nos jornais locais. No Rio de Janeiro, começou a escrever romances-folhetins, tomando-os como um laboratório de experimentação para a produção da obra Casa de Pensão, livro que, de certo modo, fundiu as escolas romantista e naturalista. Segundo Sodré, o romance traz a marca inconfundível do processo naturalista, partindo do pressuposto que o escritor seguiu o método utilizado por Zola ao mergulhar no recorte de mundo que dialoga com a ficção, além de enfocar temas nacionais de forma autêntica. Casa de Pensão é o principal exemplo de obra que transita entre Romantismo e Naturalismo: por um lado, os personagens são descritos através do olhar naturalista, na luta pela sobrevivência e na vitória de quem melhor se adapta. Em contrapartida, o protagonista Amâncio, por exemplo, é guiado por fantasias românticas, tendo em vista o nacionalismo latente em sua figura, o desejo por uma mulher enquanto sujeito incessível, a imagem angelical que o personagem tem da mãe e o byronismo presente na entrega aos vícios. Por esses aspectos, torna-se notório que a produção de Aluísio Azevedo tem cunho híbrido, representando o fenômeno que une texto e contexto e atribui historicidade a um texto literário.
O Cortiço Capítulo 23 Tomavam café, quando um empregado subiu para dizer que lá embaixo estava um senhor, acompanhado de duas praças, e que desejava falar ao dono da casa. – Vou já! respondeu este. E acrescentou para o Botelho: – São eles! – Deve ser, confirmou o velho. E desceram logo. – Quem me procura?... exclamou João Romão com disfarce, chegando ao armazém. Um homem alto, com ar de estróina, adiantou-se e entregou-lhe uma folha de papel. João Romão, um pouco trêmulo, abriu-a defronte dos olhos e leu-a demoradamente. Um silêncio formou-se em torno dele; os caixeiros pararam em meio do serviço, intimidados por aquela cena em que entrava a polícia. – Está aqui com efeito... disse afinal o negociante. Pensei que fosse livre... – É minha escrava, afirmou o outro. Quer entregar-ma?... – Mas imediatamente. – Onde está ela? – Deve estar lá dentro. Tenha a bondade de entrar... O sujeito fez sinal aos dois urbanos, que o acompanharam logo, e encaminharam-se todos para o interior da casa. Botelho, à frente deles, ensinava-lhes o caminho. João Romão ia atrás, pálido, com as mãos cruzadas nas costas. Atravessaram o armazém, depois um pequeno corredor que dava para um pátio calçado, chegaram finalmente à cozinha. Bertoleza, que havia já feito subir o jantar dos caixeiros, estava de cócoras no chão, escamando peixe, para a ceia do seu homem, quando viu parar defronte dela aquele grupo sinistro. Reconheceu logo o filho mais velho do seu primitivo senhor, e um calafrio percorreu-lhe o corpo. Num relance de grande perigo compreendeu a situação; adivinhou tudo com a lucidez de quem se vê perdido para sempre: adivinhou que tinha sido enganada; que a sua carta de alforria era uma mentira, e que o seu amante, não tendo coragem para matá-la, restituía-a ao cativeiro. Seu primeiro impulso foi de fugir. Mal, porém, circunvagou os olhos em torno de si, procurando escapula, o senhor adiantou-se dela e segurou-lhe o ombro. – É esta! disse aos soldados que, com um gesto, intimaram a desgraçada a segui-los. – Prendam-na! É escrava minha! A negra, imóvel, cercada de escamas e tripas de peixe, com uma das mãos espalmada no chão e com a outra segurando a faca de cozinha, olhou aterrada para eles, sem pestanejar. Os policiais, vendo que ela se não despachava, desembainharam os sabres. Bertoleza então, erguendo-se com ímpeto de anta bravia, recuou de um salto e, antes que alguém conseguisse alcançá- la, já de um só golpe certeiro e fundo rasgara o ventre de lado a lado. E depois embarcou para a frente, rugindo e esfocinhando moribunda numa lameira de sangue. João Romão fugira até ao canto mais escuro do armazém, tapando o rosto com as mãos. Nesse momento parava à porta da rua uma carruagem. Era uma comissão de abolicionistas que vinha, de casaca, trazer-lhe respeitosamente o diploma de sócio benemérito. Ele mandou que os conduzissem para a sala de visitas.
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O CORTIÇO Para o Naturalismo, a obra era essencialmente uma transposição direta da realidade, como se o escritor conseguisse ficar diante dela na situação de sujeito em face do objeto puro. Antônio Cândido A obra O Cortiço, escrita em 1890, é retrato histórico do Brasil do século XIX, posto que demonstra a realidade econômica, social e cultural da época e destaca a relação de exploração de mão de obra, característica do sistema capitalista que se fortalecia durante esse período. O texto de Aluísio Azevedo é narrado em terceira pessoa, representando a tendência presente em autores naturalistas a se posicionar num local externo ao ambiente em que se passa a história, tal qual um espectador. Este modelo aproxima a narrativa de um relato científico, objetivo e direto. No ensaio De Cortiço a Cortiço de Antônio Cândido, o professor demonstra a influência exercida pela obra L’Assommoir, escrita por Emile Zola, em O Cortiço. Aluísio de Azevedo se inspirou evidentemente em
L’Assommoir, de Emile Zola, para escrever O Cortiço (1890), e por muitos aspectos seu livro é um texto segundo, que tomou de empréstimo não apenas a ideia de descrever a vida do trabalhador pobre no quadro de um cortiço, mas um bom número de motivos e pormenores, mais ou menos importantes. (CANDIDO, 2011) Antônio Cândido traz alguns exemplos dessa influência, não apenas na relação descrita da existência de um cortiço, mas, também, a caracterização do trabalho das lavadeiras, incluindo uma briga entre duas delas (Piedade e Rita Baiana) e a existência de um policial morador do cortiço (Alexandre) que simboliza uma espécie de caricatura da lei e da ordem. Esses exemplos represen-
tam essa derivação da obra de Aluísio em relação à obra de Zola. A exploração do trabalho humano e a descrição das relações instintivas, que beiram a animalidade, acentuadas pela zoomorfização de algumas personagens, demonstram a caracterização naturalista da obra brasileira. 24
Nos termos de Bordieu, os escritores naturalistas ocupavam “uma posição dominada no campo literário e o barulho que faziam, nos bares, na imprensa ou nos romances que publicavam, visava ao ingresso no campo. De várias formas, eles também se percebiam como marginais e transgressivos.” Tal posição não demons-
tra que os autores se colocavam como porta-vozes dos oprimidos; havia apenas uma identificação. Em O Cortiço, esta identificação é evidenciada, por exemplo, pela simpatia do narrador pela personagem Rita Baiana, que segundo Enrique Laguerre, por vezes representa a encarnação do “meio” brasileiro. Ao narrar a
“o mecanismo de exploração do burguês, que rompe as contingências e, a partir do cortiço, domina a raça e supera o meio.”
primeira relação sexual entre Rita e o trabalhador Jerônimo, personagem que, segundo Ednilson da Silva, melhor se enquadra no determinismo característico do Naturalismo, Aluísio destaca a relação entre o homem e o meio: “Rita preferiu no europeu o macho de raça superior. O cavouqueiro, pelo seu lado cedendo às imposições mesológicas, enfarava a esposa, sua
aproveita quaisquer opor tunidades para promover sua renda. O homem, por exemplo, engana a escrava Bertoleza a fim de ficar com o dinheiro de sua alforria. Ao final, ele alcança suas metas a partir da exploração do trabalho humano. Segundo Lukács, o Naturalismo restringese a descrever a realidade. No entanto, Bertoleza torna-se muito mais que instrumento descritivo; a escrava é a representação do pocongênere, e queria a sicionamento do autor. mulata, porque a mulata Através da cena do suiera o prazer, era a volú- cídio da personagem, pia, era o fruto dourado Aluísio Azevedo dee acre destes sertões monstra seu engajaamericanos, onde a mento e descortina, aos a l m a d e J e r ô n i m o olhos do leitor, sua crítiaprendeu lascívias de ca em relação à desumacaco e onde seu mana exploração adcorpo porejou o cheiro vinda do sistema capitalista, fazendo com sensual dos bodes.” E m c o n t r a p a r t i d a , que, partindo do conJoão Romão representa ceito de Lukács, O Coro burguês que vence o tiço vá além de uma meio e se opõe ao de- obra meramente naturalista. terminismo. Ambicioso, 25
DE CORTIÇO A CORTIÇO “Em nenhum outro romance do Brasil tinha aparecido semelhante coexistência de todos os nosso tipos raciais, justificada na medida em que assim eram os cortiços e assim era o nosso povo, é claro que visto numa perspectiva pessimista, como a dos naturalistas em geral e a de Aluísio em particular. Deste modo o cortiço ganha significado diferente do que tinha em Zola, pois em vez de representar apenas o modo de vida do operário, passa a representar, através dele, aspectos que definem o país todo. E como solução literária foi excelente, porque graças a ele o coletivo exprime a generalidade do social.” Antônio Cândido
Para Português, negro e burro Três pês: Pão para comer Pano para vestir Pau para trabalhar.
ENTREVISTA Ana Cristina Chiara
"O sofrimento é o melhor remédio para acordar o espírito", disse Émile Zola. A frase sintetiza a tônica do naturalismo, movimento artístico que, na Literatura, tornou-se conhecido por suas críticas sociais contundentes. Os escritores eram exortados a sair da esfera individual e falar sobre o coletivo. As obras naturalistas costumam ser leitura obrigatória no ensino médio. Ofer-
tam um olhar sobre as mazelas do Brasil em momento importante para a formação da identidade nacional: a mudança do século XIX para o XX. Mas como esses livros são lidos hoje em dia? Ou antes: esses livros são lidos? De quais formas podemos olhar o presente a partir do naturalismo? Sobre esses assuntos, entrevistamos a pesquisadora Ana Cristina Chiara, professora da UERJ, sobre
como o naturalismo nos ajuda a compreender certos movimentos literários atuais, o preconceito que essa corrente sofre em instâncias como a crítica literária ou a academia, e de como ele nos ajuda a pensar certos marcadores da nossa identidade - como o futebol, democracia racial, carnaval e afins.
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Entrevista a Igor Gomes
Temos uma safra de romances muito recentes que lançam questões (em diversos níveis) a respeito do real em eventos recentes ou sobre as dinâmicas da sociedade: O marechal de costas (o impeachment), A tradutora (Copa do Mundo), A vista particular (as dinâmicas da arte e a violência nas grandes cidades), Simpatia pelo
demônio (o terrorismo), entre outros. Isso para nos determos apenas em autores de características hegemônicas (homens brancos, elevado grau de ensino etc). É possível falar em um "senso do real" que se irmana ao do naturalismo, nessas obras?
país, ainda quando trate de assuntos remotos no tempo e no espaço". Ou como exigia Glauber Rocha uma arte latino-americana para latino-americanos, ou ainda, como nos ensina Silviano Santiago, o importante é “a imaginação crítica” e não as boas intenções dos artistas.
A expressão “senso do real” foi usada por Émile Zola numa convocação aos escritores para deixarem seus “gabinetes de leitura” e observarem o mundo. Eu já usei esta expressão para reforçar a ideia de que nossa literatura teria uma vocação “realista” terceiro-mundista talvez, em que as contradições e complexidades da sociedade forçariam o escritor (e também o artista) a se expressarem essa consciência, a terem este tipo de compromisso em tela. O senso do real não estaria necessariamente ligado à estética fotográfica, à linguagem objetiva, tratar-seia como disse Machado de Assis no texto Notícia da atual literatura brasileira. Instinto de Nacionalidade (1873): "O que se deve exigir do escritor antes de tudo, é certo sentimento íntimo, que o torne homem do seu tempo e do seu
Como o naturalismo é visto hoje na crítica, academia e espaços afins? Existem preconceitos contra essa corrente literária? O que precisa mudar no entendimento sobre as obras naturalistas, na sua opinião? Creio que o naturalismo em arte é hoje visto de modo negativo, como replicador de ideologia dominante, reacionária e de classe média, como um tipo de representação travestida de um certo “charme da burguesia”, a chamada arte consoladora ou entretenimento. Outra coisa foi a Escola Naturalista do século XIX, esta também vista com certo preconceito moralista a seu tempo, e, depois, criticada também pela estética modernista do século XX pelo caráter de ruptura desta última com procedimentos do Natu-
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uralismo. A crítica de filiação modernista vê com olhos bem severos os romances que atualizam a estética naturalista em constantes retornos à cena literária. Cito um livro como Tal Brasil, qual romance [de Flora Süssekind] que faz um mapeamento de ressurgimentos da estética naturalista com evidente oposição ao mesmo que privilegia os casos desviantes nestes retornos naturalistas. Não é o meu caso como leitora, gosto muito destes livros naturalistas, embora reconheça neles os preconceitos do seu tempo. Hoje em dia, os problemas da representação naturalista não se restringem mais à disputa com os meios de reprodutibilidade técnica, como dizia Walter Benjamin, a respeito da fotografia, mas à saturação de aspectos contra-revolucionários desta linguagem. Por outro lado, apesar do propalado “retorno do real” (Hal Foster) ou retorno do sujeito (Klinger), que na verdade, não são naturalistas no sentido da arte naturalista do século XIX, creio que o naturalismo em arte se tornou quase impossível diante
dos quadros de “realidadeficção”, termo de Josefina Ludmer, que constantemente fazem vacilar nossa percepção da realidade. Nossa visão de mundo se rachou em fragmentos , frequentemente somos colocados como em “vitrines” para as quais representamos um momentâneo papel, as relações se tornaram mais fluídas tanto em questões de identidades nacionais, linguísticas ou de gênero. A identidade do Brasil se constrói, em parte em torno de certos marcadores persistentes: democracia racial; a pujança da natureza; futebol; carnaval; novelas etc. São marcas que escamoteiam as disputas sociais historicamente em questão. Marcas que persistem no imaginário coletivo e que são amplamente reforçadas pela mídia e por grupos hegemônicos. Como obras naturalistas podem nos ajudar a compreender melhor esses fenômenos, a desenvolver uma consciência crítica em relação a esses marcadores? Acho que a questão é a longa duração das mentalidades. Na atualidade brasilei-
ra, as forças em tensão ganharam maior visibilidade, os preconceitos ganharam voz, perderam seus disfarces, ou pudores em se revelar, assim como as lutas libertárias e antifascistas também puderam se expres-
to, contra o machismo, por exemplo, podem até derrotar candidatos. A produção cultural está dentro deste processo, pois, não se precisa de atestado ideológico para ser artista como em países de ditaduras fechadas.
sujeito de seu destino, o país dará o passo que transcenderá o vergonhoso passado escravagista que perdura nas formas de exclusão disfarçadas ou explícitas, teremos alcançado verdadeiramente a democracia racial.
Em sua opinião, é possível afirmar que a literatura de autoria negra (masculina e feminina) no Brasil tem um perfil mais próximo ao naturalismo? Boa parte dessas obras traz consigo reflexões sobre as opressões e outras dinâmicas da negritude no país.
Outra coisa são os livros escritos por negros. Uma das maiores autoras brasileiras, para mim, é Carolina Maria de Jesus. Trata-se, neste caso, do senso poético de sua linguagem, da força, da potência e do desejo. Quanto à questão da cor, ela pode ser usada para produzir uma literatura forte ou para reforçar os estereótipos que muitas vezes são levados a lema de campanhas políticas. Mas vejo como positivo o interesse crescente dos meus alunos negros por uma literatura escrita por negros, como se buscassem uma “voz” mais próxima da realidade de exclusão por “questão de cor” em que vivem.
A frase de Blaise Cendrars que figura no Manifesto da Poesia Pau Brasil: “– Tendes as loco-
sar com maior evidência. A canção de Cazuza: “Brasil, mostra tua cara” revelou uma nação muito mais complexa, reacionária e menos cordial do que podíamos imaginar, mas, simultaneamente, vozes contra o preconcei-
motivas cheias, ides partir. Um negro gira a manivela do desvio rotativo em que estais. O menor descuido vos fará partir na direção oposta ao vosso destino.” É uma frase poética, alegórica e muito sugestiva. Creio que o dia em que o Brasil for capaz de reconhecer o negro girando a manivela do seu destino não como povo escravizado, mas como
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Ilustração de 1944 para o livro "O Cortiço" de Aluisio Azevedo. Rio de Janeiro: Editora Zélio Valverde SA. 1948. Linóleo em preto sobre papel de arroz. 15,0 x 11,0 cm
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