NOTA DAS AUTORAS A revista Saramago foi idealizada por um grupo de alunas do Colégio T. Parthenon com o propósito de utilizar o exercício da escrita como forma de difundir conhecimento acerca de assuntos específicos que nos são propostos. Esta edição especial para o Flipar aborda, sobretudo, o RAP, num espaço que ainda é restrito no que tange à cultura hip-hop.
Com esse projeto, visamos auxiliar os indivíduos interessados em expandir seu repertório no que diz respeito ao RAP. Esperamos que, a partir desta e dos outros projetos no Flipar apresentados, se possa promover a expansão do saber acerca dessa expressão artística.
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RAP: Do “old” ao “new”
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O poder da rima
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Muita treta pra Vinicius de Moraes
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O rap enquanto mercadoria
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Emicida
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Tassia Reis
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O RAP sul-coreano
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Quem somos nós
Do “old” ao “NEW” O RAP, juntamente com os "Sound Systems", surgiu em meados dos anos 60 na Jamaica. Tais aparelhos, compostos por caixas de som, amplificadores e toca discos, foram essenciais para a difusão do gênero musical. Tornaram-se muito populares entre as camadas menos privilegiadas da sociedade, sendo, geralmente, colocados nas ruas dos guetos para animar bailes frequentados pelos MC's ou Mestres de Cerimônias, que comentavam assuntos de ordem política e social, sem deixar de falar, é claro, de temas mais prosaicos. Na década seguinte, porém, devido a uma crise socioeconômica que atingiu o país, muitos jamaicanos emigraram para os bairros pobres da cidade de Nova Iorque. Dentre eles, Clive Campbell, mais conhecido pelo seu nome artístico DJ Kool Herc. Nesses bairros, os jovens estavam em busca de uma nova sonoridade, foi então que, em 1973, houve uma festa no Bronx, bairro nova-iorquino, na qual Kool Herc se apresentou e criou o break (do inglês, "quebra"), som que se origina ao girar dois discos idênticos no Sound System rompendo a seleção rítmica.
RAP OU HIP HOP? Com o passar dos anos, o break se popularizou e começou a ser usado como base para as canções de hip hop, sobre as quais os rappers podiam deixar fluir suas rimas. Desde o princípio as letras evidenciavam as dificuldades vivenciadas por aqueles que habitavam as periferias e, principalmente, discutia questões de ordem racial. O Hip Hop foi fundado por Afrika Bambaataa, um dos 3 principais DJs do Bronx entre os anos 70 e 80. O movimento engloba o Break, o Grafite, o Djeeing - a arte de ser DJ - e o MCeeing - a arte de rimar sendo MC. O que causa confusão é que, lá para os anos 2000, a indústria fonográfica criou um sub-gênero também chamado Hip Hop, que nós brasileiros costumamos chamar de Black. Tal gênero surgiu a partir de artistas que nasceram dentro da cultura Hip Hop mas, ao invés de rimar, tinham uma significativa influência pop, mudando, assim, a batida tradicional do Rap. Em geral eles tem letras mais comerciais, mesmo que muito lutem pelas mesmas
Portanto, o Rap é um gênero musical, enquanto o Hip Hop pode tanto ser um movimento quanto uma cultura que engloba o Rap.
NOSSO SOM O rap nacional teve seu inicio no final dos anos 80 estando sempre ligado ao momento político e econômico do país. No entanto, a economia e a política sofreram diversas mudanças e isso refletiu diretamente nas construções líricas, instrumentais e filosóficas dos artistas que, tendem a se reinventar de acordo com os cenários atuais. Foi na década de 90 que o rap ganha as rádios e a indústria fonográfica começa a dar mais atenção ao estilo. O rap, então, passa a ser utilizado e misturado com outros gêneros musicais. Alguns artistas de grande destaque são: Thayde e DJ Hum, Racionais MCs, Pavilhão 9, Detentos do Rap, Câmbio Negro, Xis & Dentinho, Planet Hemp e Gabriel, O Pensador.
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O RAP, assim como o hip hop e graffiti, é a voz da periferia. Nas rimas, nas batidas e nas cores, a população denuncia suas revoltas, relata seu cotidiano e expressa seus sentimentos acerca do mundo. Discutindo as desigualdades sociais e raciais, às quais está submetida uma importante parcela da população, o rap exerce papel político. Nos versos cantados pelos MC’s, existe potencial para a resistência, frente à discriminação racial, ou de classe. Tal potencial é exercido de modo que MC’s passam a ser mais que cantores, se
tornando orientadores para a população jovem da favela. “Eu não me lembro de as ideias me chamarem tanto a atenção quanto Pânico na Zona Sul. O Brown falava sobre os problemas que existiam no Capão — e que não eram diferentes dos problemas existentes lá em Diadema, onde eu estava na época. Aquilo acontecia na minha quebrada todo dia e toda hora. Eu falei que queria conhecer aqueles caras. Pânico na Zona Sul foi, para mim, uma convocação para ser mais um elo dessa corrente”, diz o rapper Dexter, de 41 anos,
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sobre a música de Racionais MC’s. “Foi um momento em que os caras deram uma sacudida nos pretos no Brasil, dizendo que a nossa história é linda e o que lemos nos livros de história é mentira. Começaram a surgir coisas que a escola não ensinava.” Não obstante, o rap ultrapassa as denúncias dos problemas sociais do país para as periferias. O gênero é coadjuvante no reconhecimento das pessoas como moradores das favelas e quebradas, além de contribuir para que negros se orgulhem de sua identidade. “Não era um papel do ser humano no Brasil se ver como parte da sociedade e capaz de contribuir para transformá-la. Não existia esse pensamento até por conta do massacre que foi a ditadura. O rap revitalizou o sentido das pessoas pensarem na cidade, no bairro, na quebrada. Ele trouxe a autovalorização para elas”, pontua Sharylaine, pioneira na inclusão das mulheres dentro do gênero musical. O rap também é caracterizado pela ideia de “revolução através das palavras”, indo além do “ritmo e poesia.” Ao contemplar “mestres” como Martin Luther King, Marighella, Zumbi e Malcolm X, o rap dialoga com milhões de pessoas diariamente oprimidas, seja pelo racismo, pela violência policial, pela falta de acesso às cidades e à mídia. Essas pessoas eram tomadas pelo sentimento de que não pertenciam aos processos culturais, pois desde muito cedo foram levadas a acreditar que estavam restritas ao lado de lá da ponte. “O rap mudou muito a minha vida. Eu costumo dizer que ele salvou não só a minha, mas a vida de milhares de jovens da minha geração — e que continua salvando até hoje”, diz o rapper Dexter, que acredita que o rap não tem o poder de “salvar o mundo”, mas pode contribuir para transformar o “seu mundo”. “O rap é a música da liberdade. Ele existe para
libertar as pessoas e, a partir daí, fazer um mundo melhor. De se respeitar mais o ser humano, ser menos frio com as pessoas, entender melhor os presídios no Brasil, os mendigos e as crianças na rua, os maiores e menores abandonados. São várias outras questões que o rap discute com muita propriedade, porque ele é feito de pessoas que também vivem isso quase que diariamente nas ruas de terra da periferia, no campinho de jogo da várzea e nas cadeias.” O rap vem ganhando mais espaço na esfera midiática. Artistas como Emicida, Projota e Criolo são nomes recorrentes na mídia atualmente. Entretanto, as letras desses e de outros artistas constantemente expostos e divulgados ao grande público tendem a ter seu “teor político” suavizado. Músicos assim intercalam músicas com letras críticas à sociedade com outras de letras mais leves. O balanço dos temas pode ser exemplificado por Emicida, com músicas adocicadas, como Passarinhos, e outras mais provocantes, como Boa esperança.
“O RAP É A MÚSICA DA LIBERDADE”
"É música negra pra ouvidos, cérebros e corações. É heart to heart, um som pra ouvir a dois” 10
Do Capão Redondo para toda a nação, Racionais MC’s se constitui como o grupo mais influente de rap no cenário atual, beirando três décadas de história. Seus quatro integrantes, dois provindos da zona sul de São Paulo e dois da zona norte, se aproximaram por conta do RAP e nomearam o grupo em homenagem ao disco Racional, de Tim Maia. A primeira gravação ocorreu em 1988, quando foram lançados os primeiros sucessos: “Pânico na Zona Sul” e “Tempos Difíceis.” Racionais MC’s tornaram-se, então, conhecidos dentro do rap da periferia paulistana.
O empresário Milton Sales, que cuidou do grupo em sua fase inicial, incentivou os Racionais a explorar o lado político, chamando a atenção para o papel social do artista. “Ele dizia que eu tinha de usar meu talento para mudar as coisas, lutar pelo oprimido. Era disciplina de esquerda”, como conta Mano Brown à “Rolling Stone.” Em poucos anos, o grupo de rap consolidou sua carreira através de outros lançamentos em discos independentes, nos quais muitas músicas tornaram-se verdadeiros hinos nos bailes populares e nas danceterias das camadas médias. Em 1997, lançaram o CD Sobrevivendo no Inferno, cuja tiragem atingiu 1.000.000 de cópias. Após 5 anos sem lançamentos, o grupo colocou nas ruas o álbum duplo Nada Como Um Dia Após O Outro Dia. Na faixa Da Ponte Pra Cá, a décima do segundo volume, ocorre a exposição dos contrastes entre um ouvinte de rap da periferia e dos grandes centros urbanos. Na letra da música, Mano Brown cita quebradas paulistanas antes de sentenciar que o universo sobre o qual discorre é “muita treta pra Vinicius de Moraes”, talvez pelo poeta representar um mundo erudito que se localiza do outro lado da ponte. Embora a desigualdade social ainda seja o grande problema estrutural do Brasil, nos quinze anos que separam a divulgação da música à publicação desta reportagem, a sociedade brasileira experimentou transformações que encurtaram a distância entre os dois extremos da ponte. O rap, inevitavelmente, acompanhou esse processo. Alcançou grandes centros urbanos e, utilizando uma linguagem mais sutil, ganhou certo espaço na mídia tradicional, por exemplo com o programa “Manos e Minas”, exibido pela TV Cultura. Na opinião de Edi Rock e Ice Blue, integrantes do Racionais MC's, o legado do rap na periferia é mais amplo e profundo, uma vez que conscientizou e trouxe o valor de “morar em qualquer quebrada, andar com qualquer cabelo, assumir sua cor, seu bairro. Coisas que antes eram vergonhosas e que se tornaram orgulho.”
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A
O RAP ENQUANTO MERCADORIA s produções culturais provindas das
periferias convivem, atualmente, com a tentativa de cooptação por parte da esfera midiática, e carregam consigo um debate acerca das tensões geradas por este contexto. A esfera consumista permeia tais tensões, uma vez que o ambiente do consumo atende às possibilidades de oferta da indústria cultural, na qual as expressões artísticas configuram-se como válidas apenas quando assumem seu valor máximo de mercadoria. No caso do RAP, seus integrantes e seu público acreditam que sua essência se relaciona a um discurso contestador, indo além de uma mera expressão musical e carregando uma forma cultural ligada ao conhecimento e ao pensamento crítico. No âmbito mercadológico, essa “essência” por muitas vezes se apresenta corrompida, posto que a indústria a dispõe como produto de entretenimento a venda e descarta o processo criativo por trás da expressão artística. Tendo em vista o poder midiático, a relação entre o RAP e a indústria cultural se torna inexata. Para alguns MCs, estar na mídia é ingressar num sistema que aliena e causa efeito contrário ao esclarecimento, disseminando a ideologia que sustenta o capitalismo e promove a exclusão e desigualdades tão combatidas pelo movimento. Todavia, para outros, o RAP deve se utilizar do canal midiático para reivindicar e dar voz à sua luta contra a opressão e o preconceito, apesar da expressão musical ser vendida como apenas um “estilo.”
Ao cair na esfera midiática, a cultura hiphop passou a abranger outros gêneros e a perder, gradativamente, seu discurso político. É evidente que isso ampliou seu público e modificou sua essência, uma vez que o RAP se aproximou da cultura cultura que não possui cunho unho crítico. Ainda assim, alguns integrantes do movimento como Mano Brown, defendem que o discurso reivindicatório do RAP pode se manter mesmo na mídia, satirizando o estereótipo criado e fazendo a música ser compreendida. Contudo,Todavia, cabe ressaltar que n a indústria cultural, a técnica elimina a ideia, como disse Adorno. Isto é, Isto é, a mídia deturpa e oculta o discurso do rapper que utiliza uma linguagem mais agressiva. político do RAP quando este passa ter um público que atinge as classes médias.
Os meios de comunicação de massa são responsáveis pela difusão dos produtos da indústria cultural, aos quais é atribuído status e estilo. Reforça-se o RAP como um estilo a ser consumido, fazendo com que muitos adiram a ele por conta de uma moda que ganhou visibilidade. Desta forma, a indústria enfatiza o lado estético do RAP e oculta sua ação social. Sobre isso, o rapper Aliado G destaca que aqueles que gostavam de outros estilos musicais hoje vêem no RAP uma nova opção,
mas absorvem o produto da indústria cultural, e não a mensagem que é passada pela música. “O que é uma coisa muito volúvel, porque esse público não é do movimento hip-hop. Esse público dança a moda que é ditada pela mídia. Você vê um CD da malhação e só tem RAP.” Como qualquer produto midiatizado, o RAP passou a atingir classes que antes estavam excluídas de seu discurso. Brancos, playboys, jovens de classe média e alta passaram a não somente consumir, mas também se autoafirmar enquanto rappers, como é o caso de Nicks Vieira, atualmente famosa pela música “Poxa, crush.” Cabe, então, a pergunta: o problema reside na veiculação da mídia ou no consumo de uma cultura periférica por classes economicamente favorecidas? A produção de forma independente é uma das atitudes que os rappers mais conservadores defendem, uma vez que a esfera de divulgação da música pela periferia pode ser considerada uma saída para as imposições da ideologia da indústria cultural. As facilidades tecnológicas tornaram a produção e exposição de um trabalho mais acessíveis, tendo a internet e as rádios comunitárias como um grande aliado. Embora a decisão de veicular o próprio trabalho na mídia seja uma postura pessoal, ela indica uma identidade assumida no RAP. Percebe-se que ir contra um viés comercial representa uma atitude de resistência, uma postura militante ligada ao discurso contra a hegemonia presente no hip hop. Trata-se do discurso político inerente ao RAP e da construção de sua “essência.”
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NOIZ
É NECESSÁRIO VOLTAR AO COMEÇO “Se eu cair vai ser rimando, se eu me levantar vai ser rimando, no comando, nunca a mando de ninguém“ diz Leandro Roque, mais conhecido como Emicida, um dos maiores representantes da cena do RAP nacional. Foi nas batalhas de rima onde Leandro se tornou Emicida. O nome artístico se dá pela fusão das palavras “MC” e “homicida”, pois nas batalhas de RAP, Emicida “matava” seus adversários com suas rimas. Vencedor da batalha de MC da Santa Cruz doze vezes seguidas, e da Rinha de MC’s onze vezes, Emicida impressiona pela sua capacidade no freestyle. A habilidade nas rimas improvisadas e a persuasão em suas letras, Emicida diz ter herdado dos discursos que ouvia do pastor ao ir na igreja com sua mãe. “Pra quem já mordeu um cachorro por comida, até que eu cheguei longe” é o primeiro disco de Emicida. Acerca da história por trás do título, Emicida conta: “Minha mãe trabalhava de empregada doméstica, a gente não tinha grana pra nada. À tarde, o que tinha pra comer eram dois pães, que a gente cortava no meio e cada irmão comia
metade. Um dia eu tava comendo e vendo TV, e a Afrodite (cadela) veio e comeu num bocado só. Fiquei p*to, puxei ela aqui e dei uma mordida nela. Aí comecei a refletir: c*ralho, que situação f*da, você morder um cachorro porque ele comeu o único pedaço de pão que você tinha. Graças a Deus virou piada, mas foi f*da. Por isso eu coloquei na capa do disco.”
EU AINDA SOU O EMICIDA DA RINHA Desde seu primeiro trabalho, Emicida demonstra evolução sem se esquecer de suas raizes e do que o trouxe ao sucesso. O rapper ainda fala do poder das favelas, de suas influências musicais desde a infância e da música como instrumento de união social. Seu ultimo disco, Sobre Crianças, Quadris, Pesadelos e Lições de Casa, é fruto de uma viagem à África. Emicida declara que o novo disco dá auxílio na investigação da ancestralidade dos negros brasileiros, que raramente sabem o país dentro do continente africano do qual descendem. "Como conto para minha filha sobre ancestralidade? É África. Japonês não quer que o filho dele ache que é chinês", ele diz. "Minha bandeira é para que se reconheça os pretos
como seres humanos, nossa contribuição para a humanidade".
violento. Boa Esperança eu não acho nem um pouco violento.”
Gente, só é feliz Quem realmente sabe, que a África não é um país Esquece o que o livro diz, ele mente Ligue a pele preta a um riso contente
O tempero do mar foi lágrima de preto Papo reto, como esqueletos, de outro dialeto Só desafeto, vida de inseto, imundo Indenização? Fama de vagabundo
A influência do continente africano é explícita na percussão em faixas como "Casa" e "Mufete", porém, são nos versos onde sentimos o poder do encontro do artista com a África. Embora seja focado no racismo, Emicida encontra espaço para musicas mais sentimentais, como Baiana, com participação de Caetano Veloso, e Passarinhos, com Vanessa da Mata, o rapper ainda consegue homenagear sua mãe, na faixa Mãe, sem perder a coesão no álbum. Na faixa Boa Esperança, vocifera versos ao lado de J. Ghetto. Juntos, eles denunciam o racismo na atualidade, que ainda se traveste na violência policial, na não representatividade e na exclusão de negros dos grandes centros. A canção ganhou um videoclipe que deixa explícito a luta de classe ao retratar um grupo de funcionários domésticos de uma mansão que, após sofrer todo tipo de humilhação, se rebela contra os patrões. O clipe foi alvo de críticas, classificado como "agressivo" e "impróprio". Sobre essas críticas, Emicida diz: "Quando eu estou gravando na periferia de São Paulo e eu vejo a diversidade do Brasil e, de repente, quando eu vou para um lugar onde o dinheiro está presente e aí todas as peles mais escuras desaparecem, isso é agressivo, isso me agride, isso me deixa triste. Quando eu sento numa reunião com uma empresa, com uma marca, que eu chego lá, e os únicos pretos sou e o meu irmão Fióti, que trabalha comigo, isso é agressivo, isso é
FIZ COM A PASSARELA O QUE ELES FEZ COM A CADEIA E COM A FAVELA… Com o selo Laboratório Fantasma, ou apenas LAB, Emicida lançou todos os seus discos, além de lançar álbuns de outros artistas, como Chico César com Estado de Poesia, Rael com Coisas do Meu Imaginário, e seu irmão Fióti com Gente Bonita. "A Laboratório Fantasma (LAB) não é uma metáfora de poder, não é uma analogia, é um exercício pleno de poder. É uma empresa de favela, é uma empresa preta que vem com um grupo de valores e um amor profundo pelo HIP HOP. A gente não é marqueteiro da cultura urbana. A gente realmente vive essa p*rra." - Diz Emicida sobre a marca. Paralelamente à produção de discos, a LAB realizava a venda de camisetas artesanais. Atualmente, a marca de Emicida e Fióti, caminha para seu quarto ano de São Paulo Fashion Week consecutivo. Em seus desfiles, os irmãos fazem questão da representatividade negra, com a maioria dos modelos sendo negros, além de incorporar elementos da cultura africana nas peças da coleção. Durante a estreia da grife no SPFW, os irmãos misturaram a cultura oriental com africana, na coleção denominada Yasuke. “Yasuke é um personagem importantíssimo, que assim como o LAB representa a quebra de paradigmas e
o país que mais tem preto fora da África. Não existe lugar melhor no mundo para que essa homenagem aconteça”, descreve Emicida no vídeo divulgado pelo youtube do Laboratório Fantasma. Fiz com a passarela o que eles fez com a cadeia e com a favela. Enchi de preto. Seja no rap, ou na passarela, Emicida deixa bem claro que é “dono de sua cabeça”. “Eu sou livre, vou para onde eu bem entender, as pessoas concordando ou não. Eu vou na minha quebrada e os caras estão feliz pra c*ralho, não é a favela que faz esse julgamento”, diz, referindo-se aos críticos que por vezes o acusam de dar muita atenção ao mainstream. “Eu quero que as pessoas falem sobre como esses lugares [a moda, o cinema, a música] podem ser mais plurais. Existem pessoas no Brasil que se sentem muito confortáveis com a exclusão, e elas ainda detêm muito poder. O que eu posso fazer é usar a minha criatividade para quebrar essas barreiras aos poucos.”
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r e h l u m a m u e “O olhar d sua história é contando ade um homem. É diferente deo que a gente narre important rias, que elas saiam nossas histónossas bocas.” das
Rap sul-coreano Onda Hallyu, ou Onda Coreana ganhou força no início dos anos 90 através do KPop, onde grupos com H.O.T, DBSK e a solista BoA também ajudaram a disseminar o estilo musical. Outros elementos da cultura coreana ganharam popularidade, como as novelas, ou Doramas e referências de moda, KFashion Recentemente um novo elemento musical coreano vem ganhando mais destaque pelo mundo, o Rap coreano, popularmente conhecido como Hangul Hip-Hop. O primeiro rap saiu em 1989, foi gravado por Hong Seo-beom, um cantor de rock conhecido na época. Foi uma grande surpresa e teve uma boa recepção,
foi rimada em cima de uma batida funkeada, porém foi experimental e sem propósito, não houve interesse do artista em construir uma carreira relacionada ao Rap, apenas fez uma música em sintonia com o que existia nos EUA na época. Depois de Hong Seo-beom, outros artistas que saíram do K-Pop também passaram a fazer parte do Rap e do HipHop coreanos, como Seo Taiji & The Boys, Hyeon Jin-yeong e Lee Hyun-do, que são tidos como pioneiros do estilo. Em 1995, Seo Taiji & The Boys fizeram a primeira apresentação de Come Back Home. Posteriormente em 2017, BTS realizou uma releitura desta mesma música. 22
ANOS 2000 Foi nesse período que surgiram artistas que passaram a se dedicar exclusivamente ao Rap, onde também a denominação rapper passou a ser utilizada, demarcando assim o surgimento do gênero na Coreia do Sul. Existem dois níveis dentro do Rap coreano, o Overground e o Underground. Os artistas do Overground eram aqueles com oportunidades de participar dos programas de televisão, acesso as rádios e tinham amplas vendas de discos. A denominação Underground é dada a artistas independentes que produzem mixtapes e home studios. Tal dualidade é utilizada até hoje, com o termo Mainstream para os artistas que permanecem em evidência na televisão.
ATUALMENTE Na Coreia do Sul esse processo de crescimento do Rap além do surgimento de uma comunidade, se deu na internet. BLEX foi o primeiro rapper a lançar em 1997 um álbum completo e independente chamado BLEC: Black Sounds, the First Sounds, esse e outros rappers como MC Meta e Dj Wreckx (primeiro Dj coreano). Verbal Jint foi um dos principais rappers da quebra de barreiras linguísticas e a garantir um Rap totalmente coreano. Com isso os cantores do estilo passaram a expressar seus pensamentos em sua própria língua e também trouxe implicações enormes para o Rap, onde suas próprias mensagens referênciais e vozes ecoaram.
Saramago