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12 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Fevereiro, 2009
Entrevista Fotos Mácio Ferreira e Acervo Pessoal
JORNAL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ • ANO VII • N. 69 • Fevereiro, 2009
Música e história no MUFPA Entrevista Os professores Ândrea Ribeiro dos Santos, Luci Pereira e Pedro Walfir Souza Filho falam sobre a indicação para Academia Brasileira de Ciências. Pág. 12
Para os professores, indicação significa reconhecimento e visibilidade. Ândrea, Pedro e Luci representam a UFPA na Academia Brasileira de Ciências
Ândrea Ribeiro dos Santos, Luci Pereira e Pedro Walfir Souza Filho estão entre os 27 jovens cientistas escolhidos para pertencer aos quadros da Academia Brasileira de Ciência (ABC) pelos próximos cinco anos. Professores da Universidade Federal do Pará, eles atuam no Laboratório de Genética Humana e Médica do Instituto de Ciências Biológicas, no Laboratório de Oceanografia Costeira Estuarina e no Instituto de Geociências da Faculdade de Oceanografia, respectivamente. Os jovens cientistas de hoje foram alunos curiosos e aplicados. Aproveitaram a Iniciação Científica para dar os primeiros passos no ambiente acadêmico. Em entrevista ao BEIRA DO RIO, os professores falam sobre a importância da indicação da ABC, dos projetos desenvolvidos atualmente e afirmam que, para despertar o interesse da juventude pela ciência, é preciso promover o diálogo entre universidade e sociedade. Beira do Rio – Desde agosto, vocês integram a seleta lista de jovens cientistas da Academia Brasileira de Ciências (ABC). O que isso significa para a carreira de vocês? Ândrea Ribeiro dos Santos – É muito mais visibilidade perante a sociedade acadêmica, no sentido de que têm sido desenvolvidos trabalhos e projetos de qualidade na Região Norte especificamente. Essa visibilidade é importante para abrir portas e, enfim, poder discutir em outro nível, talvez um pouco mais denso. É o reconhecimento entre os pares. Luci Pereira – Fazer parte da lista de jovens cientistas da ABC é uma honra e uma gratificante recompensa pelo esforço de manter uma boa publicação científica, de conseguir angariar recursos, de exercer cargos administrativos e de ser professor. Trabalhar nas ações promovidas pela Academia, com grandes pesquisadores brasileiros e estrangeiros, membros da ABC, será bastante importante para minha carreira científica. Pedro Walfir Souza Filho – Significa reconhecimento de toda uma trajetória científica, que começou quando eu entrei na Universidade. É o reconhecimento de todo o esforço que você faz para fazer ciência e pesquisa no país e, principalmente, na Região Norte. BR – Como foi o percurso acadêmico de vocês? Quando começou esse interesse pela pesquisa? Ândrea – Meu pai era geógrafo, então, essa paixão que eu tenho por contar a história das populações foi muito influenciada pela presença dele. Quando entrei na Universidade, procurei me engajar em um grupo de pesquisa, inicialmente, como estágio
voluntário. Depois de um ano, conseguimos uma bolsa no CNPq. Quando terminei a graduação, entrei para o mestrado e, em seguida, para o doutorado. Em 1996, fui contratada pela Universidade com uma bolsa recémdoutor e logo surgiu o concurso na área em que eu atuo, fiz e passei. Luci – Fui bolsista de Iniciação Científica do CNPq por três anos. Durante esse período, tive oportunidade de participar, publicar e apresentar trabalhos em congressos nacionais e internacionais. Durante minha Iniciação Científica, publiquei meus dois primeiros artigos científicos e, sem dúvida, essa bolsa foi uma excelente oportunidade para minha iniciação no meio científico. Pedro – Entrei na Universidade em 1988, no curso de graduação em Geologia. Desde 1989, tive interesse em participar de projetos de pesquisa. Comecei como voluntário, sem bolsa. Nessa época, tive oportunidade de embarcar num navio de pesquisa na foz do Amazonas e despertei para a questão da aventura, da coleta de amostras, de ir para o laboratório e descobrir algo, isso foi a maior motivação na época de estudante. Durante a minha trajetória, sempre tive uma convicção: estudar a Amazônia. Quando fiz o mestrado e o doutorado, fiz em Belém pela falta de possibilidade de fazer fora e estudar a região. Em 2002, prestei concurso para a geologia e ingressei na Universidade. BR – De que maneira o ambiente da Universidade teve influência para vocês seguirem adiante com a pesquisa? Ândrea – Quando você se dedica a uma determinada área, no meu caso
a Genética de Populações Humanas e Médicas, começa a ler artigos, livros, assiste à palestra daquele que é o ícone na sua área, acaba se apaixonando ainda mais. Esse contato acadêmico acaba influenciando a rota, o direcionamento que você quer dar para sua vida. Sempre tive em mente que gostaria de fazer pesquisa, nunca pensei em ficar atrás de uma mesa, fazendo algo rotineiro. Gosto de coisas dinâmicas, de poder viajar para campo e conhecer as populações. Entender um pouco a cultura, a dispersão demográfica, a epidemiologia daquela região, para contribuir de alguma forma Luci – A Universidade sempre me estimulou a fazer pesquisa, entretanto, sempre procurei trabalhar em laboratórios produtivos cientificamente, e esse fato foi fundamental para que eu sempre me sentisse incentivada a aprender e publicar cada vez mais. Pedro – O Instituto de Geociências sempre teve uma atmosfera carregada de ciência, de pesquisa. Esse foi o meu mundo universitário desde a graduação. Aqui você é aluno de professores que fazem pesquisa. Você tem acesso aos livros – que têm o conhecimento estabelecido – mas também tem acesso à atividade de campo para que você gere o conhecimento que um dia estará nos livros. Isso coloca o aluno como protagonista, alguém capaz de produzir o conhecimento. BR – Falem um pouco mais sobre o projeto de pesquisa em que vocês atuam no momento? Ândrea –Trabalhar com Genética de Populações Humanas e Médicas é entender um pouco a dinâmica de origem do homem. Hoje, você consegue saber quais as doenças genéticas que estão presentes na Amazônia em função da sua ocupação miscigenada. O que eu gosto, nesse trabalho, é que eu conto a história das populações, mas pelo DNA. É preciso entender que o genoma humano nada mais é do que um livro que tem seus códigos próprios para decifrar, é disso que eu gosto. Luci – Atualmente, trabalho em alguns projetos científicos financiados pelo CNPq e pela FAPESPA, sendo o gerenciamento costeiro o foco principal. A área de abrangência é o litoral
paraense e maranhense e as três linhas de pesquisa são: Gerenciamento Costeiro Integrado; Hidrodinâmica e Morfodinâmica em praias e estuários; Uso e Ocupação Territorial em praias e bacias hidrográficas. Pedro – Hoje, o foco da minha pesquisa é interpretar os dados de sensores remotos, que estão a bordo de satélites em torno da terra. Ou seja, como os satélites enxergam os manguezais e, a partir daí, quais são as propriedades que eu posso extrair dessas imagens: densidade, biomassa, extensão em área que eles ocupam. Eu trabalho com esse enfoque de aquisição de dados espaciais com validação de dados em campo. De que forma o clima, a temperatura da atmosfera, a variação do nível do mar têm afetado os ambientes costeiros. BR – O que poderia ser feito para incentivar a curiosidade e o interesse do público infanto-juvenil pela ciência? Ândrea – É aproximar a sociedade daquilo que é desenvolvido dentro da universidade. É levar a sala de aula até o Ensino Médio, levar o resultado de pesquisa, enfim, é sair dos muros da universidade. Nós, professores, técnicos, pesquisadores, não sabemos como chegar à sociedade. A linguagem que aprendemos é científica e acadêmica. Nós precisamos construir outra maneira de diálogo, que faça as pessoas entenderem o que se faz aqui dentro. Luci – A bolsa Pibic-Júnior é uma excelente oportunidade que os alunos de escolas públicas têm para participar de projetos de pesquisa. Aumentar a divulgação desse programa e o número de bolsas poderá despertar o interesse de um maior público infanto-juvenil. Pedro – O maior incentivador é a leitura. No Brasil, as crianças leem muito pouco. É preciso desenvolver um programa que leve a universidade ao Ensino Fundamental e Médio para demonstrar a carreira científica, que é extremamente atraente. Hoje, as crianças têm contato com um grande conteúdo de geologia, mas não têm viagens de campo. Esse despertar, desde pequeno, é o que falta para peneirar novos talentos.
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Intercâmbio
Casa de Estudos Germânicos Para comemorar aniversário, CEG faz programação especial em homenagem aos 20 anos da queda do muro de Berlim. Pág. 8
Música Acervo da EMUFRA
Rosyane Rodrigues
Mácio Ferreira
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Acervo com partituras originais, CDs e vinis estão disponíveis na Biblioteca do Museu da Universidade
U
ma viagem ao mundo da música, com parada especial para conhecer raridades de compositores paraenses. Isso é possível graças ao trabalho da equipe coordenada pelo maestro Jonas Arraes, responsável pelo Projeto “Recuperação e difusão do acervo musical da Coleção Vicente Salles”, a
qual catalogou e organizou a coleção adquirida desde 1984 pela UFPA. Com patrocínio do Governo Federal, por meio da Petrobrás e da Lei Rouanet, discos, fitas cassete e de rolo, partituras originais e editadas, vinis e CDs estão disponíveis para todos os que têm interesse pela história da música na Amazônia. Pág. 4
Orquestra sinfônica da EMUFPA
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História
Geocronologia
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Pará. Hoje, seus espetáculos envolvem desde o público infanto-juvenil até a terceria idade. Pág. 3
Laboratório é o único da Região Norte
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