issn 1982-5994
12 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Fevereiro, 2009
Entrevista Fotos Mácio Ferreira e Acervo Pessoal
JORNAL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ • ANO VII • N. 69 • Fevereiro, 2009
Música e história no MUFPA Entrevista Os professores Ândrea Ribeiro dos Santos, Luci Pereira e Pedro Walfir Souza Filho falam sobre a indicação para Academia Brasileira de Ciências. Pág. 12
Para os professores, indicação significa reconhecimento e visibilidade. Ândrea, Pedro e Luci representam a UFPA na Academia Brasileira de Ciências
Ândrea Ribeiro dos Santos, Luci Pereira e Pedro Walfir Souza Filho estão entre os 27 jovens cientistas escolhidos para pertencer aos quadros da Academia Brasileira de Ciência (ABC) pelos próximos cinco anos. Professores da Universidade Federal do Pará, eles atuam no Laboratório de Genética Humana e Médica do Instituto de Ciências Biológicas, no Laboratório de Oceanografia Costeira Estuarina e no Instituto de Geociências da Faculdade de Oceanografia, respectivamente. Os jovens cientistas de hoje foram alunos curiosos e aplicados. Aproveitaram a Iniciação Científica para dar os primeiros passos no ambiente acadêmico. Em entrevista ao BEIRA DO RIO, os professores falam sobre a importância da indicação da ABC, dos projetos desenvolvidos atualmente e afirmam que, para despertar o interesse da juventude pela ciência, é preciso promover o diálogo entre universidade e sociedade. Beira do Rio – Desde agosto, vocês integram a seleta lista de jovens cientistas da Academia Brasileira de Ciências (ABC). O que isso significa para a carreira de vocês? Ândrea Ribeiro dos Santos – É muito mais visibilidade perante a sociedade acadêmica, no sentido de que têm sido desenvolvidos trabalhos e projetos de qualidade na Região Norte especificamente. Essa visibilidade é importante para abrir portas e, enfim, poder discutir em outro nível, talvez um pouco mais denso. É o reconhecimento entre os pares. Luci Pereira – Fazer parte da lista de jovens cientistas da ABC é uma honra e uma gratificante recompensa pelo esforço de manter uma boa publicação científica, de conseguir angariar recursos, de exercer cargos administrativos e de ser professor. Trabalhar nas ações promovidas pela Academia, com grandes pesquisadores brasileiros e estrangeiros, membros da ABC, será bastante importante para minha carreira científica. Pedro Walfir Souza Filho – Significa reconhecimento de toda uma trajetória científica, que começou quando eu entrei na Universidade. É o reconhecimento de todo o esforço que você faz para fazer ciência e pesquisa no país e, principalmente, na Região Norte. BR – Como foi o percurso acadêmico de vocês? Quando começou esse interesse pela pesquisa? Ândrea – Meu pai era geógrafo, então, essa paixão que eu tenho por contar a história das populações foi muito influenciada pela presença dele. Quando entrei na Universidade, procurei me engajar em um grupo de pesquisa, inicialmente, como estágio
voluntário. Depois de um ano, conseguimos uma bolsa no CNPq. Quando terminei a graduação, entrei para o mestrado e, em seguida, para o doutorado. Em 1996, fui contratada pela Universidade com uma bolsa recémdoutor e logo surgiu o concurso na área em que eu atuo, fiz e passei. Luci – Fui bolsista de Iniciação Científica do CNPq por três anos. Durante esse período, tive oportunidade de participar, publicar e apresentar trabalhos em congressos nacionais e internacionais. Durante minha Iniciação Científica, publiquei meus dois primeiros artigos científicos e, sem dúvida, essa bolsa foi uma excelente oportunidade para minha iniciação no meio científico. Pedro – Entrei na Universidade em 1988, no curso de graduação em Geologia. Desde 1989, tive interesse em participar de projetos de pesquisa. Comecei como voluntário, sem bolsa. Nessa época, tive oportunidade de embarcar num navio de pesquisa na foz do Amazonas e despertei para a questão da aventura, da coleta de amostras, de ir para o laboratório e descobrir algo, isso foi a maior motivação na época de estudante. Durante a minha trajetória, sempre tive uma convicção: estudar a Amazônia. Quando fiz o mestrado e o doutorado, fiz em Belém pela falta de possibilidade de fazer fora e estudar a região. Em 2002, prestei concurso para a geologia e ingressei na Universidade. BR – De que maneira o ambiente da Universidade teve influência para vocês seguirem adiante com a pesquisa? Ândrea – Quando você se dedica a uma determinada área, no meu caso
a Genética de Populações Humanas e Médicas, começa a ler artigos, livros, assiste à palestra daquele que é o ícone na sua área, acaba se apaixonando ainda mais. Esse contato acadêmico acaba influenciando a rota, o direcionamento que você quer dar para sua vida. Sempre tive em mente que gostaria de fazer pesquisa, nunca pensei em ficar atrás de uma mesa, fazendo algo rotineiro. Gosto de coisas dinâmicas, de poder viajar para campo e conhecer as populações. Entender um pouco a cultura, a dispersão demográfica, a epidemiologia daquela região, para contribuir de alguma forma Luci – A Universidade sempre me estimulou a fazer pesquisa, entretanto, sempre procurei trabalhar em laboratórios produtivos cientificamente, e esse fato foi fundamental para que eu sempre me sentisse incentivada a aprender e publicar cada vez mais. Pedro – O Instituto de Geociências sempre teve uma atmosfera carregada de ciência, de pesquisa. Esse foi o meu mundo universitário desde a graduação. Aqui você é aluno de professores que fazem pesquisa. Você tem acesso aos livros – que têm o conhecimento estabelecido – mas também tem acesso à atividade de campo para que você gere o conhecimento que um dia estará nos livros. Isso coloca o aluno como protagonista, alguém capaz de produzir o conhecimento. BR – Falem um pouco mais sobre o projeto de pesquisa em que vocês atuam no momento? Ândrea –Trabalhar com Genética de Populações Humanas e Médicas é entender um pouco a dinâmica de origem do homem. Hoje, você consegue saber quais as doenças genéticas que estão presentes na Amazônia em função da sua ocupação miscigenada. O que eu gosto, nesse trabalho, é que eu conto a história das populações, mas pelo DNA. É preciso entender que o genoma humano nada mais é do que um livro que tem seus códigos próprios para decifrar, é disso que eu gosto. Luci – Atualmente, trabalho em alguns projetos científicos financiados pelo CNPq e pela FAPESPA, sendo o gerenciamento costeiro o foco principal. A área de abrangência é o litoral
paraense e maranhense e as três linhas de pesquisa são: Gerenciamento Costeiro Integrado; Hidrodinâmica e Morfodinâmica em praias e estuários; Uso e Ocupação Territorial em praias e bacias hidrográficas. Pedro – Hoje, o foco da minha pesquisa é interpretar os dados de sensores remotos, que estão a bordo de satélites em torno da terra. Ou seja, como os satélites enxergam os manguezais e, a partir daí, quais são as propriedades que eu posso extrair dessas imagens: densidade, biomassa, extensão em área que eles ocupam. Eu trabalho com esse enfoque de aquisição de dados espaciais com validação de dados em campo. De que forma o clima, a temperatura da atmosfera, a variação do nível do mar têm afetado os ambientes costeiros. BR – O que poderia ser feito para incentivar a curiosidade e o interesse do público infanto-juvenil pela ciência? Ândrea – É aproximar a sociedade daquilo que é desenvolvido dentro da universidade. É levar a sala de aula até o Ensino Médio, levar o resultado de pesquisa, enfim, é sair dos muros da universidade. Nós, professores, técnicos, pesquisadores, não sabemos como chegar à sociedade. A linguagem que aprendemos é científica e acadêmica. Nós precisamos construir outra maneira de diálogo, que faça as pessoas entenderem o que se faz aqui dentro. Luci – A bolsa Pibic-Júnior é uma excelente oportunidade que os alunos de escolas públicas têm para participar de projetos de pesquisa. Aumentar a divulgação desse programa e o número de bolsas poderá despertar o interesse de um maior público infanto-juvenil. Pedro – O maior incentivador é a leitura. No Brasil, as crianças leem muito pouco. É preciso desenvolver um programa que leve a universidade ao Ensino Fundamental e Médio para demonstrar a carreira científica, que é extremamente atraente. Hoje, as crianças têm contato com um grande conteúdo de geologia, mas não têm viagens de campo. Esse despertar, desde pequeno, é o que falta para peneirar novos talentos.
Coluna do Reitor Alex Fiúza de Mello discute a burocracia e o legalismo na Gestão Pública. Pág. 2
Opinião O professor Miguel Santa Brígida analisa o samba como a produção de conhecimento nas universidades. Pág. 2
Intercâmbio
Casa de Estudos Germânicos Para comemorar aniversário, CEG faz programação especial em homenagem aos 20 anos da queda do muro de Berlim. Pág. 8
Música Acervo da EMUFRA
Rosyane Rodrigues
Mácio Ferreira
Novos cientistas na Academia Brasileira de Ciências
Acervo com partituras originais, CDs e vinis estão disponíveis na Biblioteca do Museu da Universidade
U
ma viagem ao mundo da música, com parada especial para conhecer raridades de compositores paraenses. Isso é possível graças ao trabalho da equipe coordenada pelo maestro Jonas Arraes, responsável pelo Projeto “Recuperação e difusão do acervo musical da Coleção Vicente Salles”, a
qual catalogou e organizou a coleção adquirida desde 1984 pela UFPA. Com patrocínio do Governo Federal, por meio da Petrobrás e da Lei Rouanet, discos, fitas cassete e de rolo, partituras originais e editadas, vinis e CDs estão disponíveis para todos os que têm interesse pela história da música na Amazônia. Pág. 4
Orquestra sinfônica da EMUFPA
Novos sons na cena musical da cidade
São 49 profissionais e mais de 500 alunos divididos em corais, orquestras e grupos de música da EMUFPA. Pág. 6
História
Geocronologia
Escola de Teatro e Dança profissionaliza categoria Desde a década de 60, ETDUFPA tem contribuído para a formação dos profissionais de artes cênicas no
Pará. Hoje, seus espetáculos envolvem desde o público infanto-juvenil até a terceria idade. Pág. 3
Laboratório é o único da Região Norte
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BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Fevereiro, 2009 –
Geocronologia
Coluna do REITOR Alex Fiúza de Mello
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Mácio Ferreira
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mento criterioso, o diálogo. As leis e as normas que regem a administração pública são cada vez mais complexas e detalhistas; não obstante, a corrupção aumenta – como a ineficácia. Pagam o preço os pequenos infratores, que se arriscam em benefício da causa pública, normalmente aqueles que não têm dinheiro ou prestígio para se defender da fúria dos tribunais; continuam impunes os grandes contraventores, que usam a máquina em benefício próprio, graças à posse dos recursos que faltam aos primeiros. Os órgãos de controle – conquista importante da democracia moderna em vista da transparência da prestação de contas e da responsabilização da gestão dos recursos públicos (accountability) – apequenam-se e se desvirtuam ao priorizar a obediência a processos (por suposição) formalmente corretos do ponto de vista jurídico em detrimento do atendimento a resultados. Mas a própria hermenêutica do que seja “juridicamente correto” é dúbia e, regra geral, conservadora. O meio se torna mais importante que o fim. As filigranas formais mais apreciadas que as realizações efetivas. Detalhes secundários se sobrepõem ao essencial. E nessa modernização do atraso, o “bom gestor” passa a ser tão-somente aquele que não transgride a forma, ainda que não resolva os problemas. E o que poderia e deveria ser o controle, a supervisão e a luta contra o desperdício, a ineficiência e a corrupção – presença saudável de um Estado modernizado e anti-patrimonialista
–, transforma-se, mesmo involuntariamente, no seu oposto, graças aos exageros e às exigências descabidas. Instala-se, silenciosamente, um estado de terror, onde impera a ditadura do jurídico. O Brasil corre na contramão da história. Já faz décadas que o mundo desenvolvido percebeu que o gestor público contemporâneo deve ser técnico e, ao mesmo tempo, político, porque o tempo social – voltado à solução dos problemas dos cidadãos – não corresponde (nunca mais!) ao tempo da burocracia. Propalam-se e experimentam-se, alhures, novos paradigmas de gestão pública em nome da qualidade, da eficiência, da produtividade, da economicidade, da liberdade, da responsabilidade da tomada de decisões em tempo hábil, tudo em favor do interesse social maior. A impressão que se tem, contudo, no Brasil e na América Latina é que essa nova filosofia, concepção e sentido de serviço público transitam muito mais no papel e na retórica (vazia) do que na realidade dos fatos. Em terras verde-amarelas, ninguém se entende. Os Poderes não se acertam entre si. Muitas vezes se repelem. Os Tribunais de Contas mandam no Executivo. O Judiciário legisla. O Legislativo executa. Vive-se sob a tutela de um Estado esquizofrênico. Os egos prevalecem sobre o interesse geral. Todos querem ser reis. Distancia-se a república; amordaça-se a democracia.
OPINIÃO
Hoje, os órgãos que verdadeiramente decidem pelo país são aqueles de Controle e as Procuradorias. Mas essas, muitas vezes, ao invés de exercerem o sadio e nobre exercício do enfrentamento hermenêutico – a única ciência do Direito –, por medo ou por insegurança não raramente se metamorfoseiam em verdadeiras auditorias, preferindo a facilidade da submissão passiva aos acórdãos (formalmente explícitos), nem sempre justos ou inteligentes, ao risco de sua contestação ativa, em favor dos interesses legítimos de seus representados e segundo o espírito da justiça. Nem a Lei é mais cumprida e respeitada pelos seus hermeneutas de plantão, pois a sua interpretação – draconiana – cria, desnecessariamente, mais obrigações e empecilhos que a própria letra do texto. Submerge a res pública; impõe-se o corporativismo. Assim ainda teimam em sobreviver, no Brasil, em pleno alvorecer do terceiro milênio, as instituições da administração pública (institutos, universidades, agências de fomento) criadas, justa e paradoxalmente, para inovar o futuro: tuteladas, fragilizadas, amordaçadas. E enquanto os demais países continuam a expandir o seu domínio sobre o mundo, com o progresso das revoluções científicas e das inovações, ficamos sempre mais para trás, dependentes e à deriva, com o retrocesso da conservação burocrática e do obscurantismo – data venia.
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Miguel Santa Brígida
O samba como produção de conhecimento
o universo da Academia Brasileira é recente o acolhimento e reconhecimento de estudos e pesquisas que apresentem temas voltados às culturas populares como produtoras de conhecimento, ainda herança do positivismo e suas perspectivas racionalistas que predominaram até as primeiras décadas do século XIX. No Brasil de tantas tradições e traduções, as travessuras de nossa maior festa popular - o carnaval! - tem derramado seu rio de alegria e arrebatamento no ambiente universitário de forma transgressora e singular, abrindo um novo caminho de análise desse complexo e instigante ritual de grande densidade espetacular. Notadamente, o carnaval das escolas de samba vem engendrando uma diversidade de estudos em diferentes áreas do conhecimento. No Rio de Janeiro, destacamos o Laboratório das Artes Carnavalescas da UERJ, que vem promovendo
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e divulgando estudos e pesquisas voltados à produção das diversas linguagens artísticas que compõem o processo criativo das escolas de samba, tanto em sua dimensão técnica, quanto artística. Nessa mesma universidade, foi recém inaugurado o Centro de Referência do Carnaval Carioca, que apresenta um perfil mais estruturado e complexo de acolhimento, geração e divulgação de estudos sobre as escolas de samba, com ênfase nos estudos acadêmicos. Ambas as iniciativas são coordenadas pelo Prof. Dr. Felipe Ferreira. Em Belém, onde possuímos a quarta escola de samba mais antiga do país, o Rancho Não Posso me Amofiná, que, no carnaval de 2009, celebrará 75 anos de resistência cultural, a produção de conhecimento em nossas universidades tem se revelado em consonância com esse novo perfil acadêmico nacional. Investigando a escola de samba jurunense, a UEPA produziu,
Laboratório é o único na Região Norte
reitor@ufpa.br
Estado esquizofrênico e a ditadura do Jurídico
legalismo e a burocracia, como valores dominantes, tornaram-se os pilares de legitimação política no Brasil do século XXI, em detrimento da vontade geral. Se na maioria das nações desenvolvidas evolui-se da velha mentalidade da administração rígida e presa a formalismos para um modelo de gestão mais flexível e pragmático da coisa pública, ainda que com controle social, entre nós o gestor público goza, cada vez menos, de autonomia e liberdade para o desempenho de suas funções finalísticas. A nova gestão pública, inovadora e flexível, como exige a dinâmica do tempo presente – em plena Era Global do Conhecimento –, está condenada, a priori e infelizmente, em nosso país, pelos donos do poder: a burocracia oligárquica. As instituições estão paralisadas; as obras, atrasadas; os serviços, sucateados. De repente, tudo parece ser proibido. Todo gestor é corrupto, até prova em contrário. Os honestos pagam pelos culpados. Não há espaço ou permissão para inovação, para decisão urgente. Quando não é a Lei que proíbe, são as Portarias, os Acórdãos, as interpretações conservadoras das Procuradorias país afora, mais realistas que a própria Lei. Todos temem a hermenêutica do formalismo exacerbado, da cultura da desconfiança, da caça às bruxas, como se não houvesse mais distinção entre arranjo e dolo, heterodoxia e má-fé, criatividade e burla. Evaporou-se o bom-senso, o discerni-
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em 2008, a dissertação de mestrado do Prof. Leopoldo Santana Junior, intitulada “Quem é do Rancho Tem Amor Não se Amofina: Saberes e Cultura Amazônicos presentes nos Sambas Enredos da Escola de Samba Rancho Não Posso me Amofiná”, um singular e original estudo que aborda os sambas enredos como forma de educação. A Profa. Dra. Carmem Izabel Rodrigues lançou, em dezembro, o livro “Vem do Bairro do Jurunas: Sociabilidade e Construção de Identidades em Espaço Urbano”, uma reflexão resultante do seu doutoramento na UFPE, que investigou as práticas culturais cotidianas, dentre elas, as do Rancho jurunense. O samba também gerou “O Auto do Círio: A Carnavalização Imagética do Espetáculo”, trabalho de conclusão do curso de Eduardo Wagner, que estudou a carnavalização do espetáculo produzido pela Escola de Teatro e Dança em intercorrência com a estética das escolas de samba
paraenses. Integra, também, esse corpus teórico a tese de doutoramento de nossa autoria “O Maior Espetáculo da Terra: O Desfile das Escolas de Samba do Rio de Janeiro como Cena Contemporânea na Sapucaí” que investigou as matrizes dramáticas, coreográficas e performáticas do espetáculo carioca. Apresentado em 2006, por meio de uma parceria UFPA/UFBA, esse estudo gerou o Grupo de Estudo em Carnaval e Etnocenologia ligado ao ICA. Esse panorama reafirma a importância do samba como produção de conhecimento e, fundamentalmente, como contribuição de um novo olhar que nos desloque para um avanço e alargamento do pensar, refletir e ensinar nas universidades e na sociedade brasileira em suas dimensões culturais contemporâneas. Miguel Santa Brígida é doutor em Artes Cênicas, carnavalesco e professor da ETDUFPA.
Reitor: Alex Bolonha Fiúza de Mello; Vice-Reitora: Regina Fátima Feio Barroso; Pró-Reitora de Administração: Simone Baía; Pró-Reitor de Planejamento: Sinfrônio Brito Moraes; Pró-Reitor de Ensino de Graduação: Licurgo Peixoto de Brito; Pró-Reitora de Extensão: Ney Cristina Monteiro de Oliveira; Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-graduação: Roberto Dall´Agnol; Pró-Reitora de Desenvolvimento e Gestão de Pessoal: Sibele Bitar Caetano; Prefeito do Campus: Luiz Otávio Mota Pereira. Assessoria de Comunicação Institucional JORNAL BEIRA DO RIO Coordenação: Luciana Miranda Costa; Edição: Rosyane Rodrigues; Reportagem: Ana Carolina Pimenta (013.585- DRT/MG) Andréa Mota/ Glauce Monteiro/ Jéssica Souza (1.807-DRT/PA)/ Raphael Freire/ Rosyane Rodrigues (2.386- DRT/PE)/ Suzana Lopes/ Tamiles Costa/ Tatiara Ferranti; Fotografia: Alexandre Moraes/Mácio Ferreira; Secretaria: Isalu Mauler/Elvislley Chaves/Gleison Furtado; Beira on-line: Leandro Machado/Camilo Rodrigues; Revisão: Júlia Lopes/Glaciane Serrão; Arte e Diagramação: Rafaela André/Omar Fonseca; Impressão: Gráfica UFPA.
Pesquisadores integram a maior rede de geociências da América Latina Raphael Freire
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omo saber a idade das rochas e do planeta Terra? Qual seria o fóssil mais antigo do planeta? Essas e outras perguntas podem ser facilmente respondidas pela Geocronologia, campo da Geologia Isotópica, que estuda os métodos para determinar o tempo geológico e a ordem cronológica de formação das rochas, fósseis, sedimentos e os diferentes eventos da história da Terra. As primeiras propostas para esse tempo geológico datam de antes da Revolução Industrial e se baseavam em escritos bíblicos, tanto que o Arcebispo Irlandês James Ussher (1581-1656) declarou que a Terra teria sido criada na noite anterior ao dia 23 de outubro, do ano 4004, antes de Cristo.
A ciência evoluiu e outros meios foram desenvolvidos para se determinar a idade da Terra e de materiais naturais sólidos da crosta terrestre. Um deles foi calcular o tempo necessário que os oceanos levaram para se tornar salgados, presumindo-se que esses teriam sido doces no início e que o sal teria sido levado pelos rios, a partir da dissolução das rochas aflorantes nos continentes. Mas, com o tempo, os pesquisadores descobriram que parte do sal não permanece nos oceanos, sendo removido por precipitação, ventos e evaporação. Além disso, descobriram que a salinidade da água do mar é constante no tempo. Ainda houve outras tentativas, como calcular o tempo pela espessura das camadas de areia ou pela perda de calor da Terra, nenhuma, porém, teve sucesso. Atualmente, para se saber a idade de uma rocha, existem dois
métodos. O método relativo, o qual observa a relação temporal entre camadas geológicas e a presença de fósseis de organismos que viveram em um período de tempo bem definido. Nesse caso, a camada geológica em que o fóssil foi encontrado possui a mesma idade do fóssil e é mais nova que a camada que está abaixo dela e mais velha que a camada que está acima. Já o método absoluto utiliza os princípios físicos da radioatividade e fornece a idade da rocha com exatidão. Esse método está baseado nos princípios da desintegração (ou decaimento) radioativa e o cálculo da idade de uma rocha é possível porque as rochas são formadas por minerais constituídos por elementos químicos, entre eles, alguns radioativos, que se transformam por decaimento radioativo, em uma velocidade constante chamada meia-vida.
Alexandre Moraes
LURDINHA RODRIGUES
2 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Fevereiro, 2009
Macambira: pesquisa analisa terrenos da região
n Diversos métodos permitem datação de rochas Entre os diversos métodos que permitem datar a idade das rochas e da Terra, a datação de monocristais de zircão – um mineral resistente, que permite a datação por meio do elemento químico urânio, contido em seu interior – por evaporação de chumbo, é um método recente que tem fornecido resultados com bastante precisão, rapidez e segurança. Funciona da seguinte maneira: o urânio contido no zircão se transforma, gradativamente, em chumbo, por decaimento ou desintegração radioativa. Imagine uma ampulheta (relógio de areia) em que, na parte superior, esteja um determinado elemento químico
radioativo, no caso o urânio. Com o passar do tempo este elemento vai desaparecendo e o chumbo, neste exemplo, vai surgindo, como os grãos de areia da ampulheta. Esse método, entre outros, é aplicado pelo Laboratório de Geologia Isotópica – Pará-Iso - do Instituto de Geociências da Universidade Federal do Pará. O Pará-Iso entrou em funcionamento no ano de 1983, coordenado pelo professor francês Ariel Provost e por Moacir Macambira, na época, bolsista e atualmente, chefe do laboratório. O laboratório atua nas áreas de geologia isotópica aplicada à Petrologia, Geoquímica, Geotectôni-
ca, Prospecção Mineral, Exploração de Petróleo e Meio Ambiente. Na época da montagem, o laboratório passou por algumas dificuldades que foram solucionadas com o apoio de empresas e órgãos financiadores de pesquisa. “Nós não tínhamos laboratórios nem especialistas para se fazer pesquisa em geocronologia”, conta Macambira. Hoje, o Pará-Iso tem crescido e conta com equipamentos que custam em torno de US$ 1 milhão, além de uma grande e capacitada equipe, entre químicos e geólogos, que desenvolve diversas pesquisas na área da geologia isotópica.
tos, formaram-se na mesma época. Dessa forma, como os meteoritos são corpos extraterrestres que caem na superfície da Terra, eles podem ser datados e sua idade é a mesma da formação do planeta. Essa idade foi determinada, pela primeira vez, por Claire Patterson, em 1956, usando os isótopos de chumbo. Rochas terrestres mais jovens, analisadas pelo mesmo método, confirmaram esses cálculos. Os isótopos são átomos com o mesmo número de prótons e diferente número de nêutrons. Quando radioativos, como o urânio, eles se
decompõem produzindo posteriormente outros elementos, como o chumbo, pela emissão de partículas e radiações. O tempo necessário à decomposição de metade da massa desses elementos radioativos é chamado meia-vida. Sabendo-se as quantidades dos elementos radioativos e do material deles derivados, calcula-se a idade de um mineral. Esse método chama-se datação radiativa. Assim, a idade da Terra foi determinada a partir da relação entre dois isótopos de chumbo formados pela decomposição de isótopos de urânio.
Qual a Idade da Terra? Como a Terra está em constante mudança e sua crosta está continuamente sendo criada, modificada e destruída, as rochas que registram a história embrionária do planeta não foram encontradas e provavelmente não existam mais. Portanto, a idade da Terra – que, calculada pelo método absoluto, indica que o nosso planeta tem 4,56 bilhões de anos não pode ser obtida diretamente de material terrestre. Mas como saber se a terra possui essa idade? Os cientistas presumem que todos os corpos do Sistema Solar, inclusive os meteori-
n Mapa geológico Uma dessas pesquisas é sobre a formação da crosta da Amazônia. Existe a suposição de que essa região se formou em épocas diferentes e em várias etapas, e na tentativa de se comprovar essa hipótese, foi elaborado um mapa geológico sobre o crescimento da Região Amazônica. Esse mapa abrange o Cráton Amazônico – região que vai da Venezuela ao Mato-Grosso do Sul – e é resultado de alguns anos de pesquisa nessa área. “O objetivo da pesquisa é estudar a evolução da Amazônia, especialmente em relação aos terrenos mais antigos. A geocronologia ajuda no sentido de definir a idade dos terrenos e permitir a reconstrução da história geológica do cráton”, conta Macambira, que divide a autoria do mapa com o Prof. Colombo Tassinari, da Universidade de São Paulo (USP). Podemos tomar como exemplo a região de Carajás, que é tida como a região mais antiga da Amazônia e que bem próximo dela existe um terreno mais jovem, é essa aproximação dos dois terrenos que a pesquisa quer saber quando aconteceu. O Pará-Iso é o único laboratório de geocronologia das Regiões Norte e Nordeste do país. Junto com a USP, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e a Universidade de Brasília (UnB), integra a Rede Geochronos – Rede Nacional de Estudos Geocronológicos, Geodinâmicos e Ambientais, que é uma parceria do Ministério de Minas e Energia, da Petrobrás, do Ministério de Ciência e Tecnologia e de outras instituições brasileiras, configurando-se como a maior rede de geociências já concebida na América Latina.
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BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Fevereiro, 2009 –
História
Paixão de LER
U
São 52 capítulos com diagnósticos e condutas terapêuticas sem a pretensão de esgotar os assuntos ou de compilar todas as doenças que compõem a medicina do adulto, mas sim abordar os temas mais comuns de cada especialidade clínica. “Espera-se que seja um primeiro trabalho de muitos outros e que, de tempos em tempos, ele possa ser revisa-
do, entendendo a dinâmica e a necessidade de atualização, sem a qual se tornará obsoleto”. AUTORIA - Ao todo, são cinquenta e dois capítulos e em todos, houve a participação do médico residente, juntamente com um especialista ou estudio-
so na área, representado pelos docentes e preceptores do Programa de Residência Médica, seja do próprio Hospital, seja de outra instituição de ensino de saúde. Os primeiros vinte e seis capítulos tratam de: Acidente Vascular Encefálico, Anemia Hemolítica, Anemias nãohemolíticas, Artrite Reumatóide, Asma Brônquica, Bradiarritmias, Carcinoma Hepatocelular, Cefaléias Primárias, Cirrose Biliar Primária, Choque, Colangite Esclerosante Primária, Coma, Complicações Agudas do Diabetes, Complicações da Cirrose Hepática, Convulsões, Dermatopolimiosite, Diabetes Mellitus, Diagnóstico Laboratorial das Hepatites, Dislipidemia, Distúrbio do Equilíbrio Ácido-Básico, Distúrbio do Metabolismo do Potássio, Distúrbio do Metabolismo do Sódio, Doença Arterial Coronariana, Doença Dispéptica, Doença do Refluxo Gastroesofágico e Doença Hepática Crônica. Já os outros vinte e seis capítulos tratam de: Doença Inflamatória Intestinal, Dor, Exacerbação Aguda do DPOC, Esclerose Sistêmica, Febre Reumática, Hemorragia Digestiva Alta Não– Varicosa, Hemorragia Digestiva Baixa, Hipertensão Arterial, Hipertireoidismo, Hipotireoidismo, Insuficiência Cardíaca Congestiva, Insuficiência Renal Aguda, Insuficiência Renal Crônica, Lúpus Eritematoso Sistêmico, Morte Encefálica, Osteoporose, Pancreatite Aguda, Pancreatite Crônica, Parada Cardio-Pulmonar, Pneumonias Adquiridas na comunidade, Pneumonias Hospitalares, Profilaxia de Úlcera de Estresse, Sepse, Taquiarritmias, Tromboembolismo Pulmonar e Tuberculose. O livro “Tópicos em clínica médica: diagnóstico e terapêutica”, lançado pela EDUFPA, pode ser adquirido na livraria do Campus e na livraria da Praça.
Museus
Tesouros guardados no Campus Guamá Museu de Anatomia Prof. Manuel da Silva Braga O Museu de Anatomia foi inaugurado em 1982 e possui uma coleção didática composta por modelos anatômicos, painéis, material humano seco e em meio líquido. O acervo auxilia o ensino-aprendizagem de Anatomia, contribuindo para a qualificação de estudantes de graduação. Serviço Responsável: Profa. Isaura Vieira Valinnoto Endereço: Instituto de Ciências Biológicas – ICB, das 9h às 17h. Contato: 3201-7546 Museu de Geociências Fundado em 1973, o Museu de Geociências é composto de 2.344 amostras, entre elas, mapas geológicos, diferentes tipos de rochas, minerais, fósseis, gemas (pedras preciosas), ar-
tesanatos e biojóias em Jarina. Todo o acervo também está disponível em arquivo digital. Serviço Responsável: Joana da Silva Ribeiro Endereço: Instituto de Geociências – IG, das 8h às 18h. Contatos: 3201-7428 Museu de Zoologia O Museu de Zoologia existe desde 1992 e é composto por diversas espécies de animais, insetos, coleções botânicas e etnográficas, formando uma vasta coletânea didático-científica da zoologia regional. O acervo tem uma videoteca com documentários sobre a fauna amazônica, que podem ser apresentados em seminários e jornadas, evidenciando o aspecto educativo da interação homem-ambiente. O material serve, também, para subsidiar as aulas
práticas das disciplinas de Zoologia, ofertadas aos cursos de graduação em Ciências Biológicas da UFPA. O Museu, que anualmente é visitado por cerca de 1.200 pessoas, também dispõe de animais empalhados e conservados em formol que podem servir à comunidade estudantil das escolas públicas e privadas de todo o Estado para utilização em exposições, feiras de ciências e outros eventos culturais. Serviço Responsável: Prof. Max Reis Endereço: Instituto de Ciências Biológicas – ICB, 2° andar, das 9h às 18h. Contato: 3201-8274, falar com Raquel ou Adriana. Reserva Técnica do Laboratório de Antropologia – Prof. Arthur Napoleão Figueiredo
A reserva é composta por 200 mil peças divididas em coleções etnográficas e arqueológicas, compostas por trabalhos de cestaria e arte plumária indígena, materiais de cultos afrobrasileiros, documentos etnológicos, entre outros. O material disponível é fruto de pesquisas antropológicas e arqueológicas e serve de objeto de estudo para estudantes e pesquisadores, podendo ser visto fora da reserva, em escolas, exposições e mostras, estabelecendo o intercâmbio entre estudiosos e produtores. Atualmente, a reserva passa por uma reforma e não está recebendo visitas. Serviço Responsável: Profa. Jane Felipe Beltrão Endereço: IFCH – Lab. de Antropologia Contato: jane@ufpa.br
Jéssica Souza
B
rasil, década de 60. Dentre projetos culturais e manifestações ideológicas alternativas nascidas em oposição ao moralismo rígido da ditadura militar, a literatura modernista, o rock de garagem no ritmo do iê iê iê, o cinema e o teatro de vanguarda compõem a cena cultural dos anos rebeldes. No Pará, o cenário não é diferente. Foi justamente nos idos desse movimento caracterizado pela mobilização e contestação social, denominado de contracultura, que surgiu, em Belém, a Escola de Teatro e Dança da Universidade Federal do Pará (ETDUFPA), primeiramente chamada de Serviço de Teatro Universitário. “Foi a partir da visita de Pascoal Carlos Magno, teatrólogo e chefe de gabinete do Governo de Juscelino Kubitschek, em viagem pelo país inteiro pregando a renovação do teatro brasileiro, que um grupo de jovens artistas e intelectuais paraenses procurou o então Reitor José da Silveira Netto para propor a criação da graduação em Artes Cênicas na UFPA”, rememora Wlad Lima, docente do Instituto de Ciências da Arte (ICA/UFPA) e pesquisadora da história dos grupos de teatro da Região Norte. Para dar voz a tais manifestações, em 1962, a Universidade criou um curso experimental visando à futura implantação da
primeira graduação em Teatro da Amazônia. Em 1970, o Serviço de Teatro Universitário passou a chamar-se Escola de Teatro, consolidando-se como Escola de Teatro e Dança, em 1993. Após transformar-se em curso técnico, em 2003, o projeto só foi concretizado 45 anos depois, com a criação da Faculdade de Teatro, em 2008, que já ofertou 30 vagas no Processo Seletivo 2009. Os sonhos dourados de uma juventude revolucionária que viveu naquela Belém dos anos 60, portanto, foram decisivos para a construção do cenário cultural vasto e diversificado que conhecemos hoje, o qual tem como palco teatros que levam os nomes dos mesmos paraenses que se mobilizaram para oficializar as revelações artísticas de seu Estado e de seu tempo. APRENDIZADO – Segundo Wlad Lima, o teatro paraense não seria o mesmo, atualmente, não fosse o Serviço de Teatro Universitário. Dentre os muitos nomes de destaque nas artes cênicas regionais, estão atores e atrizes que foram alunos e, mais tarde, professores e dirigentes do curso livre, ofertado pela UFPA que, além de ensinar o teatro como expressão artística, oferecia espaço para o aprendizado do cinema. Para citar alguns nomes: a teatróloga Maria Sílvia e seu marido, o filósofo Benedito Nunes; o bailarino Augusto Rodrigues; o músico e compositor
Waldemar Henrique; o ator e sacerdote Cláudio Barradas e o também ator Walter Bandeira. “A Escola de Teatro e Dança veio dar vez e voz a categorias que há muito vinham gritando por oportunidades no Estado”, ressalta Wlad. A pesquisadora destaca que a cena cultural da UFPA passou por três períodos históricos marcantes. “A década de 60 foi o tempo áureo do teatro, passando por um longo período de abandono e fragilidade nos idos de 70 e 80. Em 1990, houve uma fase de reconstrução, em que essa decadência foi superada com a criação do Núcleo de Arte, hoje ICA, que contextualizou a ETDUFPA em um período de valorização da arte como área acadêmica de produção de conhecimento”, sintetiza. A partir de 2000, pode-se falar em um momento de consolidação, em que a ETDUFPA se afirma como a principal formadora de artistas cênicos no Pará. “Hoje, a ETDUFPA se caracteriza pela diversidade cênica e estética que marcou seu surgimento e oportuniza a seus aprendizes beber de várias matrizes de conhecimento em um ritmo alucinante de produção de espetáculos, seja no que se refere à atuação, à cenografia, seja a apresentações coreográficas”, explica Wlad Lima. Em dezembro, a Escola organizou oito espetáculos teatrais, mobilizando um público que vai desde o infanto-juvenil até a melhor idade.
Acervo pessoal
Laïs Zumero e Giselda Fagundes.
Por aqui passaram grandes nomes do teatro paraense
Acervo pessoal
Artigos abordam enfermidades mais comuns entre a população
Escola de Teatro e Dança
n Teatro Universitário Experimental Com a transformação do curso livre de Teatro da UFPA em curso técnico, em 2003, a formação artística em Belém ganhou, então, uma dimensão profissionalizante, era necessário adaptar a atuação em teatro às exigências do mercado do século XXI. Assim, foram criados os cursos técnicos de bailarinos, atores e cenógrafos. O programa de formação profissionalizante abriu caminhos para o programa de graduação. Os primeiros a serem
contemplados foram os alunos do grupo coreográfico, que já em 2008 puderam ingressar na UFPA como graduandos de Licenciatura Plena em Dança, a única ofertada em uma instituição federal na Amazônia. E as conquistas do ICA, em 2009, foram além, com a criação da graduação em Teatro e o início das atividades da primeira turma do Mestrado em Artes, criado pelo Programa de Pós-Graduação
do ICA . Para 2010, está prevista a criação dos cursos em nível superior de Museologia e de Cinema e Vídeo. Os projetos não param por aí, está prevista, para março, a inauguração do Teatro Universitário Experimental. O projeto conta com recursos da Secretaria de Educação Superior/MEC no valor de dois milhões, terá todo o aparato cenotécnico necessário e receberá o nome do grande mestre e ator Cláudio Barradas.
Mácio Ferreira
Um manual prático de rotinas médicas m desafio foi lançado pelos médicos residentes da Clínica Médica do Hospital Universitário João de Barros Barreto, da Universidade Federal do Pará, Ana Carolina de Souza, Camila Marca, Flávia Marques, Lidiana Bandeira, Lilian D’Albuquerque, Lorena Capeline, Luciana Monteiro e Rodolfo Cavalcante aos seus preceptores do programa de residência médica: elaborar um manual de rotinas médicas, enfocando os aspectos de diagnósticos e condutas terapêuticas, baseados nas mais fortes evidências científicas atuais, coadunando-as com realidades regionais. O resultado desse desafio realizado pelos médicos do Hospital Barros Barreto, em parceria com a Fundação Santa Casa de Misericórdia, pode ser conferido no livro “Tópicos em clínica médica: diagnóstico e terapêutica”, organizado pelos médicos Simone Regina Souza da Silva Conde e Karlo Edson Carneiro Santana Moreira. “Esse manual é resultado de um esforço conjunto de todos os que acreditam na união de conhecimento e experiências para uma prática médica de qualidade”, relatam os organizadores. Simone e Karlo dizem, ainda, que a produção do conhecimento perpassa pela busca da informação, seu entendimento, sua apropriação e posterior aplicação com possibilidade de transformar a realidade. Portanto, incentivar atividades, nesse sentido, deve ser sempre uma das missões de uma docência compromissada, seja qual for o seu nível. Ainda segundo os organizadores, esse livro tem como principal objetivo ser um guia prático para consultas rápidas a todos os que lidam com as mais prevalentes enfermidades clínicas da população,
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As grandes produções da ETDUFPA: Anos 60: Maria Sílvia Nunes dirige a primeira montagem brasileira de Morte e Vida Severina, inspirada na obra de João Cabral de Melo Neto. O espetáculo inova e recebe inúmeras premiações por sair do tradicional para levar a poesia e a literatura ao palco paraense. Anos 70: Cláudio Barradas faz a sua versão de Cobra Norato, com elenco formado por nomes como Eloy Iglesias e Astréa Lucena. O espetáculo ganhou prêmios nacionais e latino-ameri-
canos por trazer um trabalho essencialmente corporal, marcado pela nudez e o teatro físico, só incorporados como tendência no Brasil nas décadas de 80 e 90. Anos 2000: Wlad Lima e Karine Jansen, atual diretora da ETDUFPA, dirigem a peça Paixão Barata Madalenas, espetáculo inspirado na via-crúcis de Cristo, marcado pelo que se denomina carpintaria teatral desconstruída, em que a dramaturgia versa sobre temas polêmicos e de intensa crítica político-social.
Curiosidade: O primeiro acervo comprado pelo então Reitor José da Silveira Netto para a biblioteca da Escola de Teatro e Dança da UFPA era referência científica sobre o tema das artes em toda a América Latina. A ETDUFPA também possuía um arquivo exclusivo de filmes históricos que eram exibidos no seu Clube do Cinema. Porém, todo o material foi destruído em um incêndio no ano de 1969. Hoje, a biblioteca se reconstrói aos poucos.
Wlad Lima: diversidade cênica e estética
4 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Fevereiro, 2009
BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Fevereiro, 2009 –
Patrimônio
Identidade
Projeto recupera Coleção Vicente Salles
Nação Jurunense é tema de pesquisa
Com 66 mil habitantes,Jurunas ainda é bairro de parentes e amigos
Tamiles Costa
N
Maestro Jonas Arraes: "Nosso trabalho foi facilitar o acesso às fontes originais e o seu manuseio" e conquistou patrocínio do Govenro Federal por meio da Petrobrás e da Lei Rouanet do Ministério da Cultura. De fevereiro de 2007 a junho de 2008, uma equipe multiprofissional composta por mais de 20 musicólogos, bibliotecários, fotógrafos e técnicos de diferentes áreas atuaram nas diversas etapas de preservação e organização do acervo. ACERVO – O resultado desse trabalho corresponde a 1.064 partituras manuscritas higienizadas; 2.058
partituras editadas catalogadas; 396 partituras originais digitalizadas e convertidas em arquivos de áudio em formato MP3 e WAV; um levantamento biográfico que identificou 70 compositores paraenses dentre os 562, cujas obras compõem o acervo, e 461 LPs, 117 vinis compactos, 175 vinis de 10 polegadas e 129 fitas de rolo magnético digitalizadas e gravadas em CDs. “Temos bons pesquisadores sobre a história social e musical na Amazônia que enfrentam dificuldade
de acesso às fontes primárias. Nosso trabalho foi facilitar o acesso às fontes originais e o seu manuseio, ao mesmo tempo em que criamos mecanismos para garantir a preservação do material histórico. Antes, um pesquisador precisava de autorização para reproduzir ou fotografar a partitura original e levá-la até um músico para poder ouvir a melodia. Hoje, ele pode sair da biblioteca com uma cópia da partitura impressa e aqui mesmo ouvir a melodia com o auxílio de um programa de computador”, explica o maestro.
n Vicente Salles: herói da memória musical paraense Um ilustre membro faz parte do projeto, o pesquisador, historiador, folclorista e musicólogo Vicente Salles. “Vicente Salles é um homem único na históra da pesquisa no Pará. A coleção inteira foi reunida por ele, que até hoje faz inúmeras contribuições”, revela Carmem Affonso, organizadora da coleção. Além do acervo músical que faz parte do projeto de recuperação, livros, periódicos, correspondências e vários documentos sociais e culturais compõem a coleção. “Calculamos mais de quatro mil documentos e mais de 70 mil recortes de jornal sobre temas como música, folclore, negro, artes cênicas e literatura, além de uma coleção de cartuns, fotografias de época, cordéis, peças de teatro do repertório regional e nacional, teses, folhetos e cartazes”, revela a organizadora. “Graças a ele, temos uma coleção riquíssima que traz composições de Waldemar Henrique a Pinduca, isso porque ele compreende a música por seu sentido social, cultural e estético e não a classifica, simplesmente,
Carmem Affonso organizou a coleção em gêneros musicais. Por diversas vezes, Vicente Salles veio a Belém e esteve pessoalmente na Biblioteca, orientando sobre o material e contribuindo de diferentes formas com o trabalho”, relembra Jonas Arraes. Existem muitas obras raras no acervo. “As partituras manuscritas do
século XIX, as partituras editadas no período da Belle Époque, as fitas de rolo e os discos vinis de 78 rpm com gravações de melodias e entrevistas com compositores e músicos estão entre as obras mais interessantes do acervo. Esse material, muitas vezes, é singular. Além disso, o ineditismo e originalidade de várias obras garantem sua raridade”, conta Jonas Arraes. O acervo imortaliza os principais compositores paraenses e residentes na capital paraense durante a época da Borracha como Paulinho Chaves, Eulálio Gurjão, Meneleu Campos e muitos outros. O coordenador do projeto explica que “os discos revelam muitas obras e interpretações importantes, como a interpretação de ‘A Casinha Pequenina’, por Bidu Sayão”. Música que, aliás, os documentos da Biblioteca do Museu comprovam ser de autoria do paraense Bernardino de Souza. “Temos a primeira edição, ainda da década de 1920. Hoje, essa música é de domínio público, mas sempre foi atribuída a um compositor sulista.
No entanto, guardamos uma partitura original como prova de que a composição é de um paraense”, conta Carmem Affonso. A catalogação do acervo revelou obras importantes da música paraense e para a história da música brasileira. “No decorrer do trabalho, nos encantamos com as descobertas, que são tantas que poderíamos permanecer anos estudando e nos deslumbrando com a magia desse acervo. Mas precisávamos concluir o projeto para permitir a outras pessoas a chance de pesquisar esse material. Agora, o encantamento será dos que poderão consultar o acervo musical da coleção e fazer descobertas incríveis”, deseja o maestro Jonas Arraes.
Serviço A coleção Vicente Salles está disponível para consulta de 2ª a 6ª, das 9 às 17 horas, na Biblioteca do Museu da UFPA, localizado na Avenida José Malcher. Telefones: 3242 6240 / 3242 6233.
um domingo de janeiro de 1999, os compositores da Escola de Samba Rancho Não Posso me Amofiná estavam reunidos em torno de uma mesa no espaço lateral da escola. Entre músicas e cervejas, Pedrinho do Cavaco compunha uma canção para ser executada antes da entrada do Rancho na avenida. A letra dizia “pois o ideal de um sonhador/ é ver meu Rancho em primeiro lugar”, imediatamente o sambista foi orientado a trocar a palavra “sonhador” por “jurunense”. Houve consenso entre os músicos. Foi nesse cenário de festa, alegria e muito samba que a pesquisadora Carmem Izabel Rodrigues, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da UFPA, chegou ao Jurunas, bairro que tem não só a maior Escola de Samba do Estado, mas também uma organização social que traduz bem a relação entre tradição e modernidade. Segundo Carmem, “a chegada do antropólogo ao lugar é como uma descoberta”, neste caso, o achado rendeu a publicação “Vem do bairro do Jurunas: sociabilidade e construção de identidades em espaço urbano”, editada pelo Núcleo de Altos Estudos Amazônicos, fruto de sua tese de doutorado, defendida em 2006. Carmem conta que sempre gostou do carnaval e ressalta que esse foi um ponto fundamental para o desenvolvimento da pesquisa, “sempre assisti às escolas e percebia nos desfiles oficiais uma diferença entre o Rancho, do Jurunas, e as outras. A presença forte dos moradores do bairro era o diferencial”. Ela explica que, no Jurunas, foi constituída a ideia de “nação jurunense”. Essa adjetivação aparece o tempo todo quando os moradores falam de si ou do bairro, logo se nota uma valorização extrema do lugar em que vivem. “Normalmente, quando se pergunta a alguém onde mora, a pessoa se
n Tradição e modernidade
Fotos acervo pessoal
I
magine músicas clássicas e populares. Sinfonias e cantigas de ninar. Composições de autores paraenses, nacionais e internacionais. Partituras originais de melodias e concertos famosos. Imagine uma época em que uma partitura era um presente tão comum como um CD e as jovens donzelas passavam suas tardes debruçadas sobre o piano e costumavam colecionar canções. Viajar no tempo e vivenciar a história da música no Pará e na Amazônia e sua relação com a sociedade, nos séculos XIX e XX, é possivel ao consultar o Acervo Musical da Coleção Vicente Salles na Biblioteca do Museu da Universidade Federal do Pará. Cerca de sete mil títulos entre discos, fitas cassetes, fitas de rolo, vinis, CDs, livros e partituras editadas e originais de grandes nomes da música regional fazem parte da Coleção adquirida pela Universidade, em 1984, e que guarda documentos datados desde 1880 aos dias atuais. “Todo esse material esteve muito bem guardado ao longo dos anos, mas era preciso organizá-lo para conhecê-lo mais profundamente e também para facilitar a consulta a todo esse registro histórico”, explica o maestro Jonas Arraes, coordenador do Projeto “Recuperação e difusão do acervo musical da coleção Vicente Salles da Bibloteca do Museu da UFPA”. O projeto elaborado em agosto de 2006 venceu um concurso nacional
Fotos Mácio Ferreira
Acervo com sete mil títulos conta história da música na Amazônia
Glauce Monteiro
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Carmem Izabel Rodrigues: moradores valorizam o lugar onde vivem limita a dizer o local, o nome da rua, mas se você pergunta ao morador do Jurunas, ele diz ‘eu moro no Jurunas, eu sou jurunense”, relata. A pesquisadora fala que os moradores mais antigos, grande parte migrante ou filhos de migrantes, enxergam como um equívoco as pessoas que saíram do Jurunas para morar em lugares mais distantes. “Há famílias que nunca saíram desse espaço, que mudaram várias vezes de áreas mais problemáticas em busca de lugares mais centrais, porém sempre dentro do bairro”.
n Urbanização estabilizou crescimento do bairro O período de maior expansão do Jurunas se deu na metade do século XX, mais especificamente entre os anos de 50 e 60, quando o bairro duplicou seu número de habitantes, porém foi na década de 80 que ele chegou até a população que tem hoje, aproximadamente, 66 mil habitantes. “Da década de 80 para cá, não aumentou, pelo contrário, teve uma pequena diminuição em função da valorização dos imóveis. Graças à urbanização, o crescimento do bairro estabilizou”, analisa Carmem. O bairro do Jurunas apresenta
imagens distintas dentro e fora do seu espaço. As concepções interna e externa estão articuladas tanto no sentido de ser um bairro perigoso quanto no de ser um bairro festivo. No entanto, a violência é estrutural, não está só no bairro pobre, na periferia, mas sim em toda parte, inclusive nos centros. Para Carmem, as representações construídas a partir dos jornais contribuíram não só para a imagem da violência, como também para a imagem festiva. A violência é deixada de lado durante as festas. “Gostar de festas é um dos
componentes dessa identidade jurunense, assim como gostar do movimento, de estar junto com os outros. O Jurunas é o bairro do encontro”, afirma a pesquisadora. No bairro, estilos musicais variados como o technobrega e o pagode convivem com o samba, que se mistura com formas musicais locais nos eventos festivos. “Mesmo nas festas, você percebe as diferenças de classe, as hierarquias, as relações de poder. Elas não são somente uma expressão lúdica, mas também um espaço de reflexão”, observa Carmem.
O Jurunas é um local onde modernidade e tradição residem no mesmo espaço. O grau de sociabilidade entre as pessoas atinge o nível típico de lugares periféricos ou de cidades do interior, Carmem chega a dizer que esse seria um bairro de parentes, vizinhos e amigos. Ao mesmo tempo, a modernidade se expressa a partir da apropriação da tecnologia e da dinâmica frenética dos bairros modernos. “O Jurunas não dorme”, acrescenta. A antropóloga conta que, durante a pesquisa, trabalhou com o conceito de localidade, “acho que o Jurunas é uma comunidade no sentido dessa recorrência do conceitual mais tradicional, com laços primários em oposição à sociedade, porém uso muito mais a noção de localidade para articular o local que mantém a tradição e também interage com o global”, ressalta. A pesquisadora enfatiza que, nesse contexto, a identidade jurunense não é étnica, mas é, principalmente, uma identidade ligada ao lugar. Ela explica que esse elemento também faz parte da construção de identidade, logo, o termo “jurunense” remete duplamente à questão do local e ao aspecto lúdico das festas. Nesse sentido, a Escola de Samba Rancho Não Posso me Amofiná é como um pilar dessa identidade e dessa característica festiva dos moradores do bairro. Quanto às correntes teóricas estudadas para analisar o Jurunas, Carmen diz que a teoria clássica sociológica da Escola de Chicago, de algum modo, via separadamente tradição e modernidade, “o sujeito, ao chegar à cidade, seria afetado pelo ritmo da metrópole moderna, tornando-se mais laico e afastado dos laços primários, da família, dos parentes, dos vizinhos, enfim, ficaria mais anônimo em sua individualidade”. Em oposição a esse quadro de individualismo, a pesquisadora afirma que, em bairros como o Jurunas, esses laços permanecem ainda que as pessoas convivam também com a modernidade, logo, elas têm diversas identidades articuladas em variados contextos. “O que já é bastante claro para as teorias sociológicas e antropológicas de hoje é que essa modernidade não destrói os laços primários. Eles são modificados, transformados, mas permanecem. Não se pode pensar, por exemplo, que na modernidade as pessoas se tornaram mais laicas, menos religiosas, pelo contrário, hoje, o número de procissões é impressionante”, ressalta Carmem.
8 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará –Fevereiro, 2009
BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Fevereiro, 2009 –
Oficina de Criação
Intercâmbio
Núcleo intensifica as relações culturais e acadêmicas entre Brasil e Alemanha. Suzana Lopes
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uarenta anos de intercâmbio acadêmico e cultural. Foi o que completou, em 2008, a Casa de Estudos Germânicos (CEG). Inicialmente, como um curso livre de Língua Alemã. A partir de 1972, a Casa tornou-se o núcleo da cooperação assinada entre a Alemanha e a UFPA, na gestão do Reitor José da Silveira Netto. Desde então, multiplicam-se programações culturais, bolsas de estudo, cursos e outros serviços que a CEG disponibiliza à comunidade. Desde o acordo de cooperação,
Agência universitária revela talentos
Fotos Alexandre Moraes
a Casa foi dirigida por Leitores, que são representantes do Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico, cuja sigla em alemão é DAAD. No Brasil, trabalham cerca de 430 Leitores nas várias áreas do conhecimento e oito deles dedicam-se ao ensino da Língua Alemã. Na CEG, o representante era responsável pelas questões administrativas, burocráticas e culturais. A partir de 2008, a gestão da Casa foi dividida em Direção Administrativa, a ser exercida por um brasileiro, e em Direção Cultural, de responsabilidade de um Leitor. Os atuais coordenadores da CEG são, respectivamente, o filósofo e profes-
Alunos colocam em prática o aprendizado da sala de aula
Raphael Freire
B Biblioteca: DVDs, revistas, dicionários e romances estão disponíveis para usuários
sor Ernani Chaves e o Leitor Sigurd Jennerjahn. PROGRAMAÇÃO – Ambos estão empenhados em montar uma programação especial para comemorar as quatro décadas da Casa. “Nós queremos fazer entrevistas com pessoas que acompanharam a história da CEG”, conta Sigurd Jennerjahn. A ideia é montar um documentário que congregue depoimentos sobre esses quarenta anos de atividades, de forma que a história seja narrada pelas mesmas pessoas que a fizeram e a viveram. O professor Ernani Chaves, por sua vez, lembra um dado importante:
“Em 2009, completam-se vinte anos da queda do Muro de Berlim, um fato que marcou a história do mundo inteiro”. Em memória aos acontecimentos de 1989 na capital alemã, o professor planeja organizar uma série de eventos para refletir e discutir tais fatos e, principalmente, suas implicações vinte anos depois. Na programação, o professor já pensa em um evento: uma exposição de fotógrafos paraenses que tiraram ou tiram fotos de Berlim, como Otávio Cardoso, que possui registros de 1990; Reinaldo Lobato, que fotografou a cidade entre 1996 e 1998; e, mais recentemente, em 2008, o fotógrafo Mariano Klautau Filho.
n Certificado de Proficiência
Ernani Chaves e Sigurd Jennerjahn são responsáveis pelas atividades da Casa de Estudos Germânicos
n Programa de bolsa atende alunos e professores Além da programação especial dos 40 anos da CEG, as atividades cotidianas da Casa prosseguem. Como, por exemplo, a concessão de bolsas de estudos a alunos da graduação e da pós-graduação. “Nós temos convênios com muitas universidades da Alemanha, como a de Bremen, de Leipzig, de Erlangen, de Berlim, de Munique, entre outras”, afirma Ernani Chaves. Por meio desses acordos, é possível
oferecer programas de intercâmbio acadêmico tanto de estudantes como de professores e cientistas. Também está disponível para toda a comunidade a Biblioteca da CEG. Com um acervo estimado em 1.800 livros, mais DVDs e revistas, o local está aberto à consulta, de segunda a sexta-feira, das 9h às 13h e das 14h às 18h. Os títulos mais encontrados são de literatura, romances, dicionários e
livros de filosofia, com destaque para a Coleção Gesammelte Werke (Obras Reunidas) de Sigmund Freud. Para os interessados na área de saúde, a Biblioteca ainda dispõe do Atlas Digital de Medicina Sobotta, em alemão. E para atualizar o intercâmbio cultural, foi feita a assinatura da revista semanal Der Spiegel (O Espelho), é como uma revista Veja alemã.
Ainda que as atividades da Casa de Estudos Germânicos estejam cada vez mais diversificadas, o Curso Livre de Alemão continua sendo sua marca registrada. Disponível desde 1968, o curso possui seis etapas semestrais do nível fundamental da Língua Alemã. As etapas também podem ser feitas de forma intensiva nos meses de férias. O aluno ainda cursa uma sétima etapa de preparação para a prova que concede o certificado de proficiência na língua, emitido pelo Instituto Goethe, da Alemanha. No Pará, a única instituição que realiza o teste é a UFPA, por meio da CEG. Atualmente, estão matriculados 300 alunos no curso livre, divididos em 16 turmas. O corpo docente é formado por nove professores, dentre eles, alemães e graduados no curso de Letras, com habilitação em Língua Alemã. As inscrições acontecem na Secretaria da CEG, nos altos do bloco L, no Setor Profissional do Campus do Guamá, das 8h às 18h. O valor do curso varia de acordo com o vínculo do interessado com a UFPA. Estudantes da graduação em Letras ou em Filosofia pagam taxa única de R$75,00. Discentes em geral, professores e servidores pagam R$145,00. Para a comunidade externa, a taxa é R$ 195,00.
randing, logomarca, briefing, slogan, layout, brainstorm esses e outros termos são comumente usados na área da publicidade e, principalmente, em uma agência publicitária como a Oficina de Criação, que funciona há cinco anos na UFPA. As idealizadoras, Ana Petrucceli e Lívia Barbosa, pretendiam criar uma agência de comunicação que prestasse serviços de jornalismo e publicidade. No começo, a Oficina era uma pasta de ideias que percorria a Universidade à procura de serviços e clientes. Eis que, em outubro de 2003, a Oficina conseguiu sua primeira sede no então Centro de Letras e Artes, atual Instituto de Letras e Comunicação. Naquela época, não havia bolsistas, somente alunos voluntários. Com o tempo, percebeu-se que a demanda de serviços para publicidade e propaganda era bem maior, tornando a Oficina uma agência de publicidade. Atualmente, a agência funciona nos altos do prédio da Gráfica da UFPA com uma equipe de oito alunos bolsistas e dois publicitários, além das coordenadoras. A seleção de bolsistas ocorre duas vezes por ano e conta com uma prova prática que envolve habilidade com desenho à mão livre, domínio de programas gráficos de edição de imagem e desenho vetorial, como Photoshop e Corel Draw, que são usados no dia a dia da criação publicitária. Existem alguns pré-requisitos para estar apto a concorrer a uma vaga: o candidato precisa ser aluno do curso de Comunicação Social – habilitação em Publicidade e Propaganda e ter cursado a disciplina de Laboratório de Criação Publicitária I. PRÁTICA – A Oficina oferece a oportunidade de aprofundar o que foi aprendido em algumas disciplinas durante o percurso do aluno no curso. Como nas agências publicitárias, tudo é feito em função de prazos. Para o bolsista Haroldo França, o estágio é uma oportunidade de criar e inovar.
EM DIA
Mácio Ferreira
Casa de Estudos Germânicos completa 40 anos
Homologação
Layout de sites e projetos gráficos fazem parte do portifólio “Na Oficina, podemos respirar melhor para criar coisas diferentes, enfim, experimentar mais”. Entre os trabalhos que já foram desenvolvidos pela Oficina, estão cartazes – como o das Quintas de Ciências do NAEA – folders, panfletos, textos e campanhas publicitárias, projetos gráficos para capas e miolos de livros, criação de logomarcas, design de cardápios, calendários, layout de sites como o do Encontro Universitário de Diversidade Sexual, entre outros. A agência atende tanto quem está na Universidade quanto quem está fora dela. De acordo com a coordenadora Lívia Barbosa, todos os serviços e produtos são entregues no prazo e com um diferencial: os preços estão bem abaixo dos praticados pelo mercado. Alguns serviços, como a produção de materiais gráficos para a semana do calouro da UFPA, não são cobrados, pois fazem parte da política de colaboração institucional. O objetivo é que eventos, serviços e produtos da Universidade tenham uma divulgação mais eficiente para os públicos interno e externo, além de permitirem que os diversos setores aprimorem a sua comunicação.
As coordenadoras da Oficina almejam abrir outras frentes de trabalho, agora na área de jornalismo, para atender à demanda externa e interna, que hoje é maior que há cinco anos. Os alunos de Jornalismo produziriam textos, trabalhariam em cima de publicações, banco de dados, comunicação institucional, entre outros serviços. Mas isso ainda não está definido. “A Oficina de Criação precisa de infraestrutura maior, um coordenador que fique responsável por esses bolsistas de Jornalismo e o desenvolvimento de um projeto consistente”, esclarece Lívia Barbosa. Para Haroldo França, o contato entre alunos dessas duas habilitações na Agência seria enriquecedor, “seria muito bom dividir o ambiente da Oficina de Criação com estudantes de Jornalismo, eles acrescentariam um tom diferente à atmosfera de trabalho, sem falar na troca de experiências”. Com a aliança entre as duas áreas, poderia haver um trabalho que possibilitasse a integração entre linguagens diferentes, a elaboração de planos de comunicação mais completos, fazendo da Oficina de Criação uma agência de comunicação, como foi pensado inicialmente.
Como funciona uma agência publicitária A agência de publicidade é responsável pela criação, planejamento, produção e veiculação de campanhas publicitárias, ou seja, por todo o gerenciamento dos processos relacionados à publicidade e propaganda. Ela é responsável por assessorar o anunciante em suas necessidades de propaganda, executando trabalhos para a sua realização, coordenando o trabalho dos fornecedores e produtoras, e
intermediando as relações entre o cliente e o veículo de comunicação. Toda agência funciona em departamentos, conheça os principais: Atendimento – é responsável pela ligação entre o cliente (anunciante) e a agência. É quem traz todas as informações (briefing) sobre o cliente. Planejamento – trabalha com os planos de marketing, comunicação, utilização da verba, entre outros.
Em reunião extraordinária, o Conselho Universitário da Universidade Federal do Pará homologou o resultado da eleição para reitor e vice-reitor da Instituição, realizada em 03 de dezembro de 2008. Dos 81 membros presentes no Conselho, 47 votaram a favor da homologação do relatório da Comissão Eleitoral – que apontou o nome do Prof. Dr. Carlos Edilson de Almeida Maneschy como o candidato que obteve o maior número de votos na consulta à comunidade acadêmica, enquanto 30 se posicionaram em defesa do recurso que pediu a recontagem de votos e 4 se abstiveram. O novo reitor, após ser nomeado pelo Presidente Lula, tomará posse em julho deste ano.
Destaque O professor Júlio Augusto de Alencar Júnior, do Instituto de Tecnologia, recebeu o Prêmio Destaque Científico em mérito aos seus 20 anos dedicados à pesquisa científica. A iniciativa é do CREA, do Clube de Engenharia e do Sindicato das Indústrias da Construção Civil, três das mais expressivas representações de classe da engenharia civil no Pará.
Incentivo A dissertação “Casas de Saúde e Assistência Farmacêutica: desafios da saúde indígena em Belém e Macapá” recebeu a Menção Honrosa no Prêmio de Incentivo em Ciência e Tecnologia para o SUS, do Ministério da Saúde. O trabalho, de autoria de Jocileide Gomes, foi defendido no programa de Mestrado Multiinstitucional em Saúde, Sociedade e Endemias da Amazônia (FIOCRUZ/ UFPA/UFAM), sob a orientação do Prof.Dr. Flávio Leonel Abreu da Silveira.
Certificação Criação – responsável pela elaboração das ideias que serão utilizadas nas campanhas (anúncios impressos, filmes para televisão, entre outros). Engloba também a produção que materializa, ou seja, dá vida aos anúncios.
Mídia – área que estuda e indica os melhores meios, veículos, volumes, formatos e horários para veicular as mensagens publicitárias.
O Centro de Tecnologia da Informação e Comunicação da UFPA (CTIC) é a segunda instituição de ensino do país e a primeira da Região Norte a conquistar o Certificado de Qualidade da Melhoria de Processos de Software (MPS.BR), gerenciado pela Associação para Promoção da Excelência do Software Brasileiro. O Certificado reconhece a excelência da Universidade na produção de programas de computador.
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6 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Fevereiro, 2009
BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Fevereiro, 2009 –
Educação Musical
Escola dinamiza cena musical da cidade Alunos dos cursos básicos e técnicos encantam as platéias mais exigentes
Agora, Música é disciplina obrigatória Desafio é qualificar a mão de obra necessária para atender à nova Lei
Andréa Mota
No mês de dezembro, alunos da Escola de Música realizaram mais de 350 concertos em diversos palcos de Belém
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esde Aristóteles a teóricos modernos, a função da arte sempre foi motivo de questionamento e estudo. Entretanto, o que se conclui é que o homem tem uma disposição congênita para qualquer manifestação artística, para encontrar prazer intelectual e de reconhecimento nas artes. É um prazer inquestionável, de origem desconhecida, uma realização do próprio eu e com o outro, que contagia e completa. É isso que, há 45 anos, a Escola de Música da Universidade Federal do Pará (EMUFPA) proporciona aos seus alunos e à sociedade. “Cadastradas na Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica (Setec/MEC), incluindo as escolas vinculadas às universidades federais, só existem a Escola de Música da UFPA e a Escola de Música da Uni-
versidade Federal do Rio Grande do Norte, em Natal”, diz a diretora da Escola de Música da UFPA, Lúcia Uchôa, referindo-se ao privilégio da Instituição de poder contar com a Escola. Com uma equipe de 49 profissionais e 581 alunos, a EMUFPA é composta pelas orquestras infantil, infanto-juvenil e sinfônica; pelo coral infanto-juvenil e por vários grupos de música, como o Grupo de Percussão, Grupo de Flauta Doce Arlete Pinheiro, Banda Jovem, SAM BAND, Orquestra de Música Latina, Orquestra de Violoncelistas da Amazônia, Cantores Contemporâneos, entre outros. Em julho de 2008, em comemoração aos 50 anos da UFPA, a orquestra sinfônica se apresentou no Theatro da Paz e foi muito elogiada por várias autoridades presentes. “Todos ficaram encantados e disseram que nunca tinham visto no Brasil e
numa universidade uma orquestra tão boa quanto a nossa”, lembra Lúcia Uchôa. Em 2003, os professores da Universidade de São Paulo (USP) também ficaram entusiasmados com a produção da Escola e chegaram a pensar que os alunos eram da graduação. “Teve um professor que comentou comigo ‘puxa, professora, são tão jovens pra estar no bacharelado!’, aí eu disse que eles não eram do bacharelado, mas sim dos cursos básico e técnico”, conta a diretora. As apresentações não estão limitadas ao ambiente acadêmico. Em dezembro, foram mais de 350 concertos nos mais diversos palcos. Por isso, a Escola de Música tornou-se, ao lado do Conservatório Carlos Gomes, uma das maiores dinamizadoras da manifestação musical da cidade. Os professores da Escola de Música recebem qualificação diferenciada por meio de convênios
com outras instituições de ensino superior. De 2003 a 2007, 40 professores obtiveram o título de mestre em Musicologia, Artes Visuais ou Artes Cênicas pela USP e federais do Rio de Janeiro, do Rio Grande do Sul e da Bahia. “Os professores de outras universidades vinham aqui em Belém qualificar nossos professores. Eu, inclusive, fiz mestrado na USP graças ao convênio”, afirma Lúcia. Esse convênio ainda perdura. Atualmente, os professores mestres da EMUFPA estão fazendo doutorado na UFBA e os que não tinham pósgraduação estão no mestrado. Ainda neste semestre, a Escola receberá cerca de R$ 300 mil para construção da nova sede. O local ainda não foi decidido, mas é certo que o novo ambiente terá um laboratório de informática, que vem atender a uma antiga necessidade de alunos e professores.
n Seleção inclui testes teóricos e práticos
Música para os servidores
Para estudar na Escola de Música, o candidato deve participar da seleção e submeter-se a testes teóricos e práticos. Nos cursos básicos e técnicos, os alunos são avaliados pela frequência e devem ter média bimestral igual a seis. De acordo com Lúcia Uchôa, ficou constatado que o curso de Música, depois do de Medicina, é o que apresenta o maior custo para a Universidade, por isso os alunos dos cursos básicos pagam uma mensalidade. “A taxa é em torno de R$260 por ano. Cobramos esse valor porque a manutenção dos nossos instrumentos é altíssima, mas temos alunos que não têm condição de pagar e damos bolsa”, justifica. Os cursos básicos têm duração
Além do coral da Escola de Música, a UFPA tem o coral “Flor de Lótus”, composto por servidores de diferentes setores da Universidade. Criado em 2006, pela Pró-Reitoria de Desenvolvimento e Gestão de Pessoal (PROGEP), o “Flor de Lótus” está sob a regência do professor Dione Lima dos Santos. Os ensaios acontecem no Auditório do Prédio da Reitoria e estão abertos aos interessados. Segundo Maria Josefa Quadros, da Diretoria de Saúde e Qualidade de Vida, da PROGEP, o objetivo do Projeto Canto Coral é proporcionar conhecimentos sobre música, além de contribuir com a integração e o desenvolvimento de novas habilidades.
de quatro anos em todas as modalidades; já os cursos técnicos, de três anos; com exceção de alguns, como o de canto lírico, que dura dois anos. “Só pode entrar no curso técnico quem estiver cursando o Ensino Médio ou quem o tenha concluído, por mais que a pessoa tenha base e toque bem”, explica Lúcia Uchôa. As crianças do coral assistem à aula duas vezes por semana. É realizado um trabalho de percepção rítmica, vocal e corporal, além do trabalho de respiração. Nessa fase de preparação, buscam-se atividades lúdicas, ou seja, a criança aprende as técnicas por meio de brincadeiras e não por repetições. Já para a orquestra, os ensaios são duas vezes na semana. Há também
ensaios individuais para desenvolver questões de afinação e de aperfeiçoamento técnico. Para a professora do coral, Valdecíria Lamego, com dez anos de experiência nessa área, a música é importante para a vida de qualquer pessoa, “a música traz um amadurecimento na vida emocional, na questão da cognição, da alegria... Na segunda semana de aula, nós já sentimos certa modificação positiva nas crianças. Enfim, a música funciona como um remédio, que traz prazer e mais motivação para a vida”, revela. A professora diz que, além da música, outros aspectos são trabalhados, como a pontualidade, a disciplina, a responsabilidade e o trabalho coletivo.
Ouvimos música todos os dias, aquela que escolhemos ou aquela imposta pelo ambiente. A música já está tão presente na vida das pessoas, é difícil defini-la em uma frase. Entretanto, se questionados sobre o que ela representa na vida de cada um, um apanhado de lembranças, gostos musicais, instrumentos e muitos outros argumentos aparecem para embasar a resposta. Imagine, então, se música fizesse parte da vida das pessoas desde os primeiros anos, como parte da matriz curricular? Isso é o que prevê a Lei n. 11.769, publicada no Diário Oficial da União (DOU), em 18 de agosto de 2008. De acordo com essa lei, o ensino musical passará a ser obrigatório nos níveis Fundamental e Médio das escolas de todo o país. Como a maioria das leis já criadas, a Lei n. 11.769 é motivo de reflexão e discussões nada recentes. Ana Maria de Castro Souza, professora do curso de Licenciatura em Música da Universidade do Estado do Pará e regente do grupo Cantores Contemporâneos da Escola de Música da UFPA, afirma que os debates sobre a importância da educação musical no Brasil ganharam força pelas mãos do compositor Heitor Villa-Lobos, quando este foi nomeado Superintendente de Educação Musical e Artística, em 1932. “Ele considerava que a Educação Musical poderia contribuir para a elevação da cultura no Brasil e que a reforma do ensino seria solução
Elza Fiúza/ Agência Br
Acervo da EMUFRA
Música
Tatiara Ferranti
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Escolas públicas e particulares de todo o país terão três anos para adequar seus projetos pedagógicos para os problemas educacionais brasileiros”. O ensino das artes é parte do currículo escolar desde sua aprovação, em 1973. Com a nova Lei de Diretrizes e Bases (LDB), a obrigatoriedade da arte nas escolas foi reformulada pela Lei n. 9.394/96, ou Lei Darcy Ribeiro, que inclui o
ensino da arte como componente curricular obrigatório, nos diversos níveis de educação básica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos. Artes visuais, teatro, dança e até música fazem parte das propostas metodológicas que visam aproximar o aluno das artes. Para Ana Maria Souza, o que muda com a
obrigatoriedade do ensino musical é que a música passa a compor o quadro de disciplinas, juntamente com cantos cívicos nacionais, instrumentos de orquestra, danças folclóricas, dentre outras. Assim, os alunos passam a conhecer a diversidade cultural do Brasil e as demais disciplinas de arte permanecem em caráter optativo.
n Mais professores serão necessários para atender à demanda Mácio Ferreira
Ana Maria: desenvolvimento intelectual
Com nova lei, vêm os novos desafios. Durante os três anos de adequação – prazo dado para que todas as escolas públicas e particulares implantem a disciplina – o MEC terá uma missão: aumentar a mão de obra qualificada para ministrar o ensino de música. Segundo os dados recentes do Censo da Educação Superior do MEC, o Brasil tem 42 cursos de licenciatura em música, que oferecem 1.641 vagas. Entretanto, o desafio posto ao Ministério da Educação não é apenas quantitativo. Com um mercado do ensino musical em ascensão e o veto ao parágrafo que incluía a necessidade de professores com formação específica, quem será esse novo profissional e o que ele pode fazer para transformar obrigatoriedade em importante viés na formação do cidadão? Ana Maria afirma que, quanto à graduação, inúmeras reformulações já beneficiaram as licenciaturas. Dentre as habilidades que o profissional deve desenvol-
ver, há “o preparo e conhecimento em música, a questão didáticopedagógica e ainda o equilíbrio emocional para lidar com os relacionamentos interpessoais”. Além disso, deve ter domínio de regência de coral, de regência de banda e, pelo menos, de dois instrumentos entre flauta doce, violão, teclado e percussão. Vale ressaltar que cada região tem sua particularidade em se tratando de história e simbologia musical. O Brasil, por exemplo, abriga em seu território uma variedade de ritmos, estilos e danças. Essa diversidade foi objeto de estudo de Adelson da Silva Leal e Antônio Éder Palheta Moraes, graduandos em Licenciatura em Música. Orientados por Ana Maria, eles produziram “A Educação Musical nas Escolas de Ensino Fundamental no Município de Vigia de Nazaré” e “A música desenvolve o nível cultural e intelectual do cidadão, contribuindo para sua integração e realização na sociedade em que
vive” como Trabalhos de Conclusão de Curso. Com a finalidade de aprimorar e congregar a educação musical em cada região, em 1991, foi criada a Associação Brasileira de Educação Musical (ABEM), considerada um marco para o ensino de música no país. “A Associação tem gerado um grande número de publicações na área e favorecido a troca de experiências entre educadores musicais de várias regiões e contextos educacionais do Brasil”, afirma Ana Maria Souza. Hoje, a Associação trabalha na valorização e defesa do ensino de música nas escolas de todo o país. “Quando a educação musical se efetivar e todos os brasileiros tiverem a oportunidade de estudar música desde a infância, certamente os cidadãos reconhecerão o papel que a música representa na formação global do homem”, afirma Ana Maria Souza. Para o MEC, a nova lei deve articular a música com outros setores da vida do aluno.