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12 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Novembro/ Dezembro, 2012

Fotos Alexandre Moraes

Entrevista JORNAL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ • ANO XXVII • N. 109 • Novembro/Dezembro, 2012

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Walter Pinto

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scritor, poeta e tradutor, Marcos Bagno, professor da Universidade de Brasília (UnB), vem se destacando na defesa da democratização das relações linguísticas no Brasil. Suas posições polêmicas são confundidas como espécie de “valetudo” pelos críticos, aos quais chama de “puristas” por defenderem a “pureza” da língua contra todas as formas inovadoras. Em entrevista ao Beira do Rio, concedida durante o II Congreso Internacional de Dialetologia e Sociolinguística (Cids), realizado na Universidade Federal do Pará (UFPA), de 24 a 27 de setembro deste ano, Bagno mostra que a língua que falamos é resultado de 500 anos de invasão portuguesa, do massacre sistemático dos povos indígenas, do sequestro e escravização de africanos. Beira do Rio – Existe, de fato, um preconceito linguístico no Brasil? Como ele acontece? Marcos Bagno – Sim, existe. Ele faz parte do conjunto de preconceitos que circulam na nossa sociedade: o racismo, o sexismo, a misoginia, a homofobia, o desprezo pelos pobres etc. O preconceito linguístico é resultante do tipo de formação histórica da nossa sociedade, uma sociedade colonizada, em que tudo o que é considerado bom vem de fora, nunca é o que temos de autenticamente nosso. Daí a ideia, absurda, de que nós, brasileiros, não sabemos falar a nossa língua, porque, afinal, ela se chama “português” e, sendo assim, só um povo chamado “português” poderia falar bem a língua, já que há coincidência de nome entre povo e língua. Isso é um absurdo sob todos os pontos de vista. Beira do Rio – O subtítulo de seu livro “Não é errado falar assim!” é “em defesa do português brasileiro”. O que é o português brasileiro? Marcos Bagno – É a língua materna da imensa maioria dos cidadãos deste país. Uma língua falada por quase 200 milhões de pessoas, o que faz dela a 3a língua mais falada no Ocidente, depois do espanhol e do inglês. É a língua que se formou em nosso território depois de 500 anos de invasão portuguesa, do massacre sistemático dos povos indígenas e do

sequestro e escravização de africanos. É uma língua resultante de todos esses processos históricos, que não podem ser negados em favor de uma suposta “língua portuguesa” única, mítica e “pura”, que não existe nem jamais existiu. Beira do Rio – Quais os erros dos professores de língua portuguesa que seguem a doutrina gramatical normativa-prescritiva? Marcos Bagno – O erro único e central é justamente seguir essa doutrina. A gramática normativa (essa que ainda se pretende ensinar nas escolas) é uma doutrina ultrapassada, remonta ao século III a.C. Suas definições, seus termos, seus conceitos já foram criticados, revistos e até abandonados em grande parte pelas correntes das ciências da linguagem desde o século XIX. No entanto, por mera subserviência a uma tradição que, no fundo, é uma ideologia conservadora, as pessoas insistem em querer aprender e ensinar algo que não serve, rigorosamente, para nada. Por exemplo, os autores de livros didáticos, até hoje, insistem em dizer que as palavras “se flexionam em gênero, número e grau”, embora a investigação teórica consistente já tenha provado, há bastante tempo, que não existe “flexão” de grau, mas sim derivação, que é coisa bem diferente. Ainda se insiste em dizer que existe uma “3a pessoa do discurso”, quando é óbvio que ela não existe: o discurso se dá sempre entre EU e TU; a chamada “3a pessoa” não participa do discurso, ela é o assunto, aquilo sobre o que se fala. Por que condenar o advérbio “meia” (Como em “ela está meia cansada hoje”), se ele tem sido empregado há 500 anos por nossos melhores autores, desde Camões até Machado de Assis, e se é assim que os 200 milhões de brasileiros falam no dia a dia? O ensino sempre se pautou por um ideal de língua que parece ter medo ou nojo da língua falada pelas pessoas em geral, da língua viva, dinâmica, que varia no espaço e muda com o tempo. Beira do Rio – Afinal, qual é o objetivo do ensino de língua portuguesa nas salas de aula? Marcos Bagno – É promover o letramento ininterrupto de seus alunos. Letramento é um termo importantíssimo, hoje, na educação e na pesquisa linguística. Significa levar uma pessoa a se apoderar da leitura e da escrita e se tornar o mais competente possível nessas habilidades. Para isso, ninguém

precisa saber o que é uma “oração subordinada substantiva objetiva direta reduzida de infinitivo”. É preciso ler e escrever, reler e reescrever, re-reler e re-reescrever sem parar. Automaticamente, no processo de letramento, as regras de funcionamento da língua são adquiridas e interiorizadas, sem necessidade de decoreba de nomenclatura nem de análise sintático-morfológica. Beira do Rio – O senhor é um crítico dos professores de língua portuguesa que estão na mídia ensinando o que é certo e o que é errado. Explique o que há de errado com eles? Marcos Bagno – Tudo. O que eles dizem não tem fundamentação científica alguma. Eles se apoiam, exclusivamente, na tradição gramatical normativa e num modelo arcaico de “língua certa” que não corresponde, há mais de 100 anos, nem sequer à escrita literária consagrada. Além disso, fazem muita confusão com os termos que empregam. Esse modelo de língua “certa”, por exemplo, recebe denominações como “língua padrão”, “língua formal”, “língua oficial”, “norma culta”, “língua culta”, “variedade culta”, “língua padrão formal”, “dialeto culto”, como se todas essas expressões fossem sinônimas. Só que não são. Nos estudos sociolinguísticos, as palavras língua, dialeto, variedade, padrão, norma, formal etc. têm definições bem específicas, que não podem ser misturadas. Beira do Rio – Em conferência em Belém, o senhor apresentou resultado de pesquisa em que conclui que o português não deriva do latim, mas do galego. Mas, na mesma conferência, mostrou que o galego é uma derivação do latim vulgar. Então, não é lógico concluir que, em última instância, o português deriva do latim vulgar? Marcos Bagno – A discussão está no nome que damos às línguas. Se o português vem do galego e o galego do latim, é claro que temos uma continuidade histórica, só nos nomes mudaram. Porém os nomes das línguas não são inocentes. Quando os estudos históricos fazem o vínculo direto “português— latim”, eles passam por cima do galego, da história e da geografia. Foi todo um processo ideológico que tentou apagar as origens galegas da língua portuguesa, para que o português fosse considerado uma língua tão nobre e importante quanto a latina.

Pesquisadores do Campus de Cametá participaram de escavações arqueológicas no sítio de Tel Megiddo, em Israel

História

Urbanodiversidade

Relação do rio com a cidade norteia projeto Grupo do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos analisa os espaços de vivências ribeirinhas nas orlas das cidades médias. Páginas 6 e 7.

Saúde

Baixo Amazonas entra na Guerra Constitucionalista Dissertação defendida no Programa de História Social da Amazônia, da Universidade Federal do Pará

(UFPA), investiga a participação dos paraenses de Óbidos na revolta liderada por São Paulo. Página 10.

Acervo do Pesquisador

“O ensino parece ter medo ou nojo da língua falada pelas pessoas”

Alexandre Moraes

Luta contra o preconceito linguístico

fim de resgatar aspectos da História Oriental antiga diretamente da fonte, o professor Josué Berlesi e o bolsista Robson de Castro Nascimento, da Faculdade de História do Campus de Cametá, estiveram em Israel, em julho deste ano. A dupla representou a Universidade Federal do Pará (UFPA) nas escavações aqueológicas no sítio de Tel Megiddo. O lugar, que é patrimônio mundial pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco, na sigla em inglês) desde 2005, reúne 26 camadas dos escombros de antigas civilizações, a exemplo de Egito, Mesopotâmia e Canaã. Os pesquisadores da UFPA escaravaram uma área do Período Cananita, onde encontraram uma diversidade de cacos cerâmicos e utensílios domésticos, tais como antigos pilões usados na moagem de cereais. O sítio de Tel Megiddo também possui significado bíblico. Segundo a sagrada escritura, no local, ocorrerá o Armagedom. Página 11.

Acervo do Pesquisador

De Cametá para o Oriente Médio

Conhecimento popular ajuda a combater mal Pesquisa interinstitucional visa à criação de medicamentos contra a malária, com base em produtos naturais da Amazônia. Página 3.

Teatro

Trajetória das artes cênicas no Pará, em vídeo Motivos peculiares levaram Óbidos a entrar na Revolução Constitucionalista

Entrevista

Rio Tocantins margeia Cametá

Marcos Bagno, da Universidade de Brasília (UnB), sai em defesa da língua falada no dia a dia. Página 12.

Opinião Roselene Garcia assina o artigo sobre a implantação de novos sistemas de gestão organizacional. Página 2.

"Ribalta" resgata a história do teatro no Estado a partir da contribuição de artistas. Programa piloto foi sobre Cláudio Barradas. Página 9.

História na Charge Ilustração de Walter Pinto suscita o debate sobre o conceito antropológico de alteridade. Página 2.


BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Novembro/ Dezembro, 2012 –

Multicampi kkk

OPINIÃO Roselene Garcia

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informações obtidas pela observação das escolhas de outros, bem como sua própria análise para determinar qual a “melhor” escolha. Deste modo, para que ocorra o processo de institucionalização, é necessário que aconteça um processo de Sedimentação, no qual as ações mostram a propriedade de exterioridade, ou seja, desenvolvimento de aspectos socialmente compartilhados, quando ocorre a padronização e caracterização de atos tornados habituais por determinados tipos de atores. Dentro deste contexto teórico, a UFPA, a partir de 2002, foi marcada pelo desenvolvimento de uma nova forma de gestão, a colegialidade, por meio da criação de novos fóruns de decisão, organizando as representatividades por segmentos, constituindo espaços institucionais de interesse comum, por meio de pactuações. Assim, a UFPA conseguiu tornar suas Unidades homogêneas, especificamente, nas práticas administrativas, na busca de aperfeiçoar o sistema de

A História na Charge Walter Pinto

UFPA participa de escavações em Israel

rg@ufpa.br

A UFPA e a Modernização da Gestão Universitária

Universidade Federal do Pará (UFPA), a partir de 2001, iniciou a implantação de novos sistemas de gestão organizacional e a construção coletiva do Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) – uma obrigação ocasionada pelas mudanças na legislação (PDRE/1995 e LDB/1996), as quais trouxeram alterações e inovações na gestão universitária. O processo de criação e aprovação do PDI UFPA 2001/2010 refere-se ao Estágio de Habitualização - quando a organização desenvolve comportamentos padronizados para a solução de problemas específicos para dar início ao processo de planejar, de forma integrada, as ações institucionais. No segundo estágio, Objetificação, informações foram coletadas para avaliar os riscos de adoção da nova estrutura, com algum grau de incerteza, consequência das escolhas feitas. Acarretando a teorização dos resultados - quando os que têm poder de decisão usaram as

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planejamento das ações. Das 28 unidades, regimentalmente, constituídas até 2006, 19 (68%) elaboraram Planos (Gestão, Acadêmicos e Orçamentários - 2002 a 2009) e realizaram ações planejadas, utilizando instrumentos gerenciais padronizados. Já 9 unidades (32%) não constituíram os Planos de Gestão e Acadêmicos, apenas os Planos Orçamentários. Portanto, na UFPA, arranjos foram realizados, procedimentos foram preparados e modelos foram seguidos; adaptações e inovações foram realizadas e, em alguns casos, efetivadas; assim como padronização e caracterização de atos tornados habituais por determinados tipos de atores, como os seminários com assessoria técnica da Pró-Reitoria de Planejamento (Proplan), os quais auxiliaram na construção de Planos de Gestão das Unidades em consonância com o PDI 2001-2010 e com o Plano de Gestão 2005-2009; o estabelecimento de novos Estatutos

e Regimentos de cada unidade da UFPA, com constituição de novas estruturas nas unidades acadêmicas; novas denominações – Institutos, Faculdades e as Escolas, caracterizando que a UFPA encontrava-se, em 2009, entre os Estágios de Objetificação – Estágio de Semi-Institucionalização e Estágio de Institucionalização Total, pois, embora este novo modo de planejar estivesse, satisfatoriamente, difundido e existisse um consenso em torno de seus resultados, nem todas as unidades acadêmicas realizaram seus planejamentos por meio da proposta da Proplan. Roselene Garcia - Atua na área administrativa e financeira dos projetos do Laboratório de Estudos e Modelagem Hidro-Ambientais (LEMHA) do Instituto de Geociências, com formação de Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Sustentável do Trópico Úmido/ NAEA.

walterpinto.oliveira@gmail.com

Equipe de Cametá trabalhou para resgatar a História Antiga Oriental Mayara Albuquerque e Yuri Coelho

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om o objetivo de chamar atenção às temáticas da História Antiga Oriental, o professor Josué Berlesi e o bolsista Robson de Castro Nascimento, da Faculdade de História do Campus Universitário de Cametá, estiveram em Israel, no Oriente Médio, em julho deste ano, representando a Universidade Federal do Pará (UFPA) nas escavações arqueológicas no sítio de Tel Megiddo. A participação da equipe na região está vinculada ao Projeto “Análise Simplista do Oriente Frente ao Monopólio Ocidental: Uma Análise da História Antiga nos Livros Didáticos e nos Cursos de História”. Recursos do Programa Integrado de Apoio ao Ensino, Pesquisa e Extensão (Proint) custearam a viagem. A participação da equipe nas escavações em Tel Megiddo foi possível por conta do convite do professor Israel Finkelstein, da Tel Aviv University, em Israel. Segundo afirma, Megiddo é, hoje, a principal área da arqueologia realizada em Israel. Além disso, por conta das evidências reveladas no sítio, temse observado uma revolução no que tange à interpretação da história de Israel e da própria Bíblia. “Além da importância do sítio em si, os seus diretores são pesquisadores que gozam de grande respeitabilidade no cenário acadêmico internacional. Com essas credenciais, foi uma verdadeira alegria para nós, do Campus de Cametá, termos representado a UFPA nas escavações”, afirma. Tel Megiddo – Patrimônio mundial pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura

Acervo do Pesquisador

Alexandre Moraes

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Tel Meggido é um dos sítios arqueológicos mais importantes em Israel, pois abriga as ruínas de antigas cidades (Unesco, na sigla em inglês) desde 2005, Megiddo é uma tell (“colina”) feita de 26 camadas de ruínas de antigas cidades. Localizada numa posição estratégica, por lá, passavam várias civilizações, pois era uma das rotas possíveis entre o Egito e a Assíria, reino que ficava ao norte da Mesopotâmia – o que se reflete nos achados de múltiplas civilizações nas áreas de escavação. Na região, já foram encontrados artefatos egípcios, mesopotâmicos, cananitas e israelitas.

Fora do círculo acadêmico, o sítio de Megiddo também é muito conhecido pelo significado bíblico. Segundo o livro sagrado, este será o lugar onde ocorrerá o Armagedom. Segundo os pesquisadores, o sítio arqueológico é um dos mais importantes em Israel por sua extensão e pela importância histórica, teológica e geográfica. A dupla de brasileiros escavou uma área do Período Cananita, onde puderam encontrar uma diversidade de cacos cerâmicos e

utensílios domésticos, tais como antigos pilões usados na moagem de cereais. A equipe permaneceu em Israel de 13 de junho a 6 de julho de 2012. Segundo o professor Josué Berlesi, as escavações eram realizadas no horário das 5h até 12h30. “O trabalho no sítio foi muito árduo. Trabalhar nesses horários é obrigatório, pois não há como suportar o sol depois do meio-dia. Na parte da tarde, fazíamos a limpeza e catalogação dos artefatos encontrados”, explica.

Atividades revelaram fortificação em torno das inscrições O objetivo da expedição arqueológica foi estudar a História Antiga Oriental diretamente da fonte. O professor Josué Berlesi explica que, a cada área escavada, estabelece-se uma meta a ser cumprida. No caso do trabalho, o objetivo era revelar uma fortificação descrita em inscrições encontradas no Egito, a qual não chegou a ser exposta. Foram encontrados utensílios domésticos (jarros cerâmicos,

garrafas etc), ossos animais, joias e algumas inscrições. O artefato mais importante encontrado pela equipe foi um escaravelho de pedra, da dinastia do Faraó Tutmosis III, um dos mais poderosos do antigo Egito. No objeto, há hieróglifos que apresentam o nome do faraó. Este escaravelho identificava algo que era do faraó ou de alguém que estava seguindo ordens dele.

Trata-se de um achado arqueológico importante por estar inteiro, visto que a maioria dos objetos encontrados nessas escavações está quebrada ou incompleta. No entanto, segundo os arqueólogos, o mais importante nesse gênero de pesquisa é apresentar a dinâmica das construções palacianas, das casas, dos celeiros etc. O pesquisador do Campus de Cametá diz que, apesar de a herança

greco-romana ser gritante em nossa sociedade ocidental, há questões que só podem ser compreendidas após conhecer o passado véterooriental. “O surgimento do Estado, na Mesopotâmia antiga, ainda guarda fortes semelhanças com o Estado moderno, mesmo após cinco mil anos. Ambos estão baseados em um princípio muito simples: a maioria empobrecida está subordinada à minoria enriquecida.”

Tradição acadêmica do País não privilegia Oriente Médio

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ Rua Augusto Corrêa n.1 - Belém/PA cientificoascom@ufpa.br - www.ufpa.br Tel. (91) 3201-8036

Reitor: Carlos Edilson Maneschy; Vice-Reitor: Horácio Schneider; Pró-Reitor de Administração: Edson Ortiz de Matos; Pró-Reitor de Planejamento: Erick Nelo Pedreira; Pró-Reitora de Ensino de Graduação: Marlene Rodrigues Medeiros Freitas; Pró-Reitor de Extensão: Fernando Arthur de Freitas Neves; Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação: Emmanuel Zagury Tourinho; Pró-Reitor de Desenvolvimento e Gestão de Pessoal: João Cauby de Almeida Júnior; Pró-Reitor de Relações Internacionais: Flávio Augusto Sidrim Nassar; Prefeito do Campus: Alemar Dias Rodrigues Júnior. Assessoria de Comunicação Institucional Coordenação Luiz Cezar S. dos Santos; JORNAL BEIRA DO RIO Edição: Thaís Braga; Reportagem: Dilermando Gadelha/Flávio Meireles/Glauce Monteiro (1.869-SRT/PA)/ Helder Ferreira/Mayara Albuquerque/Pedro Fernandes/Walter Pinto (561-SRT/PA)/ Yuri Coelho; Fotografia: Alexandre Moraes/Laís Teixeira; Secretaria: Silvana Vilhena; Beira On-Line: Leandro Machado; Revisão: Júlia Lopes/ Cintia Magalhães; Arte e Diagramação: Rafaela André/Omar Fonseca; Impressão: Gráfica UFPA; Tiragem: 4 mil exemplares.

Josué Berlesi é o único pesquisador da UFPA que estuda História Antiga Oriental. “Esta é uma área pouco desenvolvida no Brasil”, destaca. Ele explica que o Brasil ainda carece de pesquisas sobre o tema. “Desde o início da disciplina em nosso país, houve uma predileção por Grécia e Roma. Em países próximos, como a Argentina, podemos observar que há uma forte tradição em estudos da

História Antiga Oriental”, relata. O pesquisador explica que a importância da pesquisa para a UFPA reside no fato de que a Universidade é a primeira instituição do País a estar representada em uma escavação arqueológica, exclusivamente, relacionada ao passado vétero-oriental. Segundo ele, outras universidades brasileiras já escavaram no Oriente Médio, porém, em sítios vinculados ao

passado greco-romano. Além disso, o professor afirma que, para a sociedade em geral, esse gênero de pesquisa pode auxiliar, entre outros elementos, a desconstruir uma matriz de pensamento fundamentalista que olha a narrativa bíblica como verdade absoluta, o que acabaria fornecendo munição para uma série de preconceitos. “Por exemplo, temos um discurso oficial do cristianismo - católico, ortodoxo

ou protestante - que condena as relações homoafetivas. No entanto um exame detalhado das páginas do Antigo Testamento sugere que o próprio herói nacional do Israel antigo, Davi, teve uma relação desse gênero com Jonatas. Desta forma, separar o que é fato do que é ficção, no Antigo Testamento, pode contribuir para que avancemos no respeito à diversidade religiosa”, conclui.


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Saúde

História

Paraenses na Guerra Constitucionalista

Ciência une-se ao conhecimento popular

Estudo analisa por que o Baixo Amazonas lutou por interesses paulistas

Pedro Fernandes Óbidos, no Baixo Amazonas, também foi palco da Revolução Constitucionalista, liderada por São Paulo tratava de uma história criada pelo romancista, construída por meio de diálogos fictícios”, conta Walter Pinto. Mas, no decorrer da leitura, o historiador percebeu que o autor mesclou real e fictício, tendo o cuidado de anexar, ao final do texto, alguns documentos, tornando claro que a

Revolução tratava-se, de fato, de um acontecimento real. A partir de então, o historiador passou a pesquisar a história nos jornais da época. Inicialmente, pretendeu identificar o que era real e o que era fictício na narrativa de Ildefonso. Durante o mestrado, aprofundou os

estudos, partindo em busca de respostas a várias questões suscitadas pela revolta, com destaque para as motivações por trás dos rebeldes do Baixo Amazonas e o alcance da reação do governo do Pará sobre a memória social como fator concorrente para o longo silêncio sobre a revolta.

a uma grande crise política no País, cujo clímax foi a eclosão da Revolução, em outubro de 1930. Os revolucionários depuseram Washington Luis, encerrando quatro décadas da Primeira República. O gaúcho Getúlio Vargas assumiu a presidência, logo dissolvendo o poder legislativo e tornando sem validade a Constituição. Interventores substituíram os governadores eleitos. O escolhido para governar o Pará foi o tenente Joaquim de Magalhães Cardoso Barata. Para São Paulo, foi nomeado também um tenente. À

crise econômica juntou-se a crise política. Descontentes com os rumos da Revolução, os paulistas uniram-se contra o Governo Provisório. Desta união nasceu o embrião do que viria a ser a Revolução Constitucionalista em 1932. Logo que o conflito teve início, Vargas pediu aos interventores o envio de tropas para combater os paulistas. Barata enviou 1.063 combatentes. Embora o interventor tenha construído sobre estes combatentes a representação de “patriotas preocupados com a defesa dos ideais

revolucionários de 30”, a pesquisa de Walter Pinto aponta para outra imagem: grande parte alistou-se nos pelotões patrióticos, porque lhes foram garantidas compensações pecuniárias ou porque poderiam barganhar emprego no Estado ao final do conflito. Porém, se a documentação encontrada no Arquivo Público do Pará possibilitou identificar quem eram os combatentes enviados para a luta contra os paulistas, sobre os rebeldes do Baixo Amazonas, que lutaram a favor dos mesmos paulistas, não havia informação alguma disponível.

Destituir o interventor do Pará não era a única motivação A pesquisa levou Walter Pinto aos arquivos de Óbidos, Manaus e Rio de Janeiro. Depois de dois anos, o pesquisador encontrou, enfim, o que procurava no Arquivo Histórico do Exército (AHEX), no Rio de Janeiro. Tratava-se de uma caixa contendo quatro inquéritos judiciais nos quais os rebeldes de Óbidos contam suas versões. As lideranças paulistas planejavam fomentar tumultos e revoltas nos Estados com vista a ocupar o Exército. Mas a estratégia não funcionou nos demais Estados. Óbidos destacou-se, neste contexto,

Possíveis danos serão monitorados

Medicamentos contra malária desenvolvidos no Projeto serão padronizados e, depois, registrados na Anvisa

Combatentes locais não constam na documentação oficial A Revolução Constitucionalista em São Paulo insere-se no contexto da grande crise mundial, ocorrida em 1929, quando a exportação do principal produto brasileiro da época, o café, entrou em declínio. O presidente Washington Luis não conseguiu controlar a crise instalada, deixando descontente a oligarquia cafeeira paulista. Em março de 1930, o candidato governista Júlio Prestes ganhou a eleição, derrotando Getúlio Vargas por uma margem grande de votos. Apoiadores de Getúlio alegaram fraude nas eleições, dando início

Projeto avalia o potencial das plantas medicinais para combater a malária Alexandre Moraes

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á 80 anos, o Estado de São Paulo declarou guerra ao Governo Provisório de Getúlio Vargas, exigindo o retorno do País ao Estado de Direito. A Revolução Constitucionalista, iniciada em 9 de julho de 1932, aglutinou 135 mil paulistas contra as forças governistas. Após três meses de guerra civil, cerca de 900 paulistas morreram em combate, vencidos pelas tropas federais. Essa é a historia que aprendemos nas escolas, registrada em livros e documentos oficiais. No entanto a dissertação defendida pelo historiador e jornalista Walter Pinto de Oliveira, no Programa de História Social da Amazônia, da Universidade Federal do Pará (UFPA), adiciona novos dados a essa página da História do Brasil: a participação dos paraenses em luta contra e a favor dos paulistas. Em Memórias de uma Revolta esquecida: o Baixo Amazonas na Revolução Constitucionalista de 1932, Walter Pinto analisa, entre outras questões, as causas que levaram um punhado de civis e militares (sargentos, cabos e soldados) da cidade de Óbidos a aderir à causa paulista. Além do sul do Mato Grosso, foi aquele o único apoio recebido por São Paulo durante o conflito em todo o Brasil. “Em 2006, li o romance 'Os dias recurvos' do escritor paraense Ildefonso Guimarães, sobre uma revolta ocorrida na cidade de Óbidos, em apoio à Revolução Constitucionalista. Inicialmente, pensei que se

Paul Le Cointe

Helder Ferreira

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por ser um foco revolucionário, sob a liderança de um civil enviado pelos constitucionalistas, o baiano Athenógenes Pompa de Oliveira. "Não se deve pensar que os rebeldes de Óbidos eram constitucionalistas preocupados com o retorno do País ao regime da lei", adverte o pesquisador. “Em relação aos militares, que, afinal, eram a maioria rebelde, o que os moveu foi a possibilidade de serem promovidos a oficiais, caso São Paulo vencesse." Ao chegar a esta conclusão, Walter vai de encontro à incipiente historiografia paraense sobre 1932,

segundo a qual o movimento constitucionalista na Amazônia teve como único objetivo destituir do poder o interventor do Pará. “Esta imagem apenas ecoa o discurso oficial, difundido pelos jornais, àquela altura, submetidos à censura e assimilado pelos autores, sem maiores análises." Memória social – Após a tomada do quartel de Óbidos, os rebeldes partiram, a bordo de dois navios, rumo ao Amazonas. Depois de conquistarem Juriti e Parintins, chegaram a Itacoatiara, onde foram derrotados numa

batalha naval, por tropas do Exército vindas de Manaus, em 24 de agosto. Foi aquela a primeira ação rebelde a ousar desafiar o poder dos revolucionários de 30, no Norte. Talvez, por isso, os protagonistas tenham sido comparados "a cangaceiros, liderados por um Lampião que tinha por único objetivo saquear o comércio no Baixo Amazonas”, conforme representação feita por Magalhães Barata. Assim, ao imputar ao movimento um sentido de bandidagem, o interventor pretendeu desqualificar o sentido político da luta.

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malária, doença causada por protozoários do gênero Plasmodium, é um sério problema de saúde pública em vários países, principalmente, nos de clima tropical ou subtropical e em desenvolvimento. No mundo, cerca de 500 milhões de novos casos são registrados por ano. A mortalidade é estimada entre dois e três milhões de pessoas. O maior número de fatalidades ocorre na África e as principais vítimas são crianças menores de cinco anos. No Brasil, a maior parte dos casos de malária ocorre na Amazônia. A cloroquina (CQ) ainda é o principal medicamento disponível

no mercado para tratamento contra a malária. Entretanto os parasitas do gênero Plasmodium (agentes causadores) e os mosquitos do gênero Anopheles (agentes transmissores) estão mais resistentes aos fármacos e aos inseticidas, respectivamente. Como consequência, tem-se observado um aumento de casos e de mortes provocadas pela malária. Por isso, a necessidade de novos medicamentos para combater a malária. Partindo dessa demanda, o Projeto de Pesquisa “Rede de Produtos Naturais para a Quimioterapia Antimalárica”, coordenado pela professora Alaíde Braga de Oliveira, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), avalia a atividade antima-

lárica (potencial antiplasmódico) de plantas medicinais utilizadas pelo conhecimento popular para tratamento contra a malária a fim de desenvolver, a partir destas espécies vegetais, medicamentos com um grau de qualidade, eficiência e segurança elevados. Trata-se de um projeto multidisciplinar e interinstitucional que compreende estudos fitoquímicos, toxicológicos, farmacológicos, farmacotécnicos, testes laboratoriais, ensaios com animais infectados, humanos sadios (voluntários) e acometidos pela doença. O projeto é financiado pelo Programa de Apoio a Núcleos de Excelência (Pronex), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Testes visam à obtenção de extrato único A integração das instituições visa a identificação das substâncias ativas (antiplasmódicas) nas plantas medicinais usadas pela fitoterapia popular no tratamento contra a malária e a produção, a partir destas espécies vegetais, de medicamentos padronizados. “O extrato ativo precisa ser padronizado, conforme pede a Resolução da Diretoria Colegiada (RDC-14/2010) da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Somente um extrato uniformizado, tecnologicamente desenvolvido, pode dar origem a um medicamento (fitoterápico). É este medicamento que poderá ser registrado na Anvisa”, explica o professor Wagner Luiz Ramos Barbosa, da Faculdade de Farmácia da UFPA, um dos responsáveis pelos estudos fitoquímicos no Projeto. Os estudos fitoquímicos têm funções específicas. Preparar os extratos, investigar a composição química, avaliar se possuem substâncias ativas e padronizá-los. Constatado o potencial antiplasmódico dos extra-

tos, estão aptos a ser padronizados ou fracionados. No primeiro caso, obtém-se diretamente um fitoterápico (ou fitomedicamento), que é uma forma alternativa de tratamento. No segundo, obtém-se uma fração a partir da qual se poderá produzir um fitoterápico. Além disso, a fração obtida do extrato pode conter uma substância ativa, a partir da qual poderá ser desenvolvido um alopático, medicamento que trata a doença de forma convencional. E, ainda, esta substância ativa pode ser sintetizada e produzir outra substância, a partir da qual se poderá desenvolver também um alopático, um medicamento sintético. Há, também, outro procedimento: a semissíntese. Por meio desse processo, uma substância não ativa, pertencente àquela fração, pode ser transformada em uma substância ativa. E esta, por sua vez, em um alopático. Após a validação e a padronização fitoquímica, o passo seguinte é analisar, do ponto de vista farmacoló-

gico, a viabilidade de esses remédios tornarem-se recursos terapêuticos fitoterápicos. Para isso, os possíveis medicamentos são submetidos a ensaios em laboratório e a testes em animais infectados com a doença (estudos pré-clínicos). Caso os testes com animais funcionem, a etapa seguinte é a fase clínica 1, com humanos, voluntários sadios. Nesta fase de testes, será utilizada uma formulação farmacêutica simples, ainda não industrializada, produzida em laboratório. O objetivo da fase clínica 1 é avaliar o nível de segurança do fitoterápico. “Vamos considerar um voluntário sadio que está tomando o medicamento. Se ele começar a apresentar algum tipo de transtorno, nas funções orgânicas, na digestão, na pressão, ou qualquer outro sinal ou sintoma, a formulação não é segura. Mas, se ele não apresentar problema algum, se o produto não mostrar qualquer efeito toxicológico, pode-se passar à fase 2”, esclarece Wagner Barbosa.

Na fase clínica 2, o fitomedicamento será avaliado quanto à sua eficiência. Para isso, serão realizados testes com humanos acometidos pela doença. A fase clínica 3 é a comparação do medicamento produzido em laboratório (fitoterápico), com um modelo terapêutico de uso consagrado no mercado. Após isso, o medicamento está apto ao consumo. Depois que o medicamento é liberado ao mercado, iniciam-se os estudos de utilização. O objetivo é verificar se, no uso cotidiano, o medicamento pode acarretar prejuízos à saúde dos usuários. A esses estudos, dá-se o nome de farmacoepidemiologia. O acompanhamento de possíveis danos causados pelo fitomedicamento cabe à Vigilância Sanitária. Caso seja verificado algum problema, o órgão pode intervir e exigir que o fabricante reveja a fórmula do fitomedicamento. “Às vezes, num estudo de utilização, pode-se constatar que um medicamento apresenta efeitos colaterais e reações adversas. Isso pode ocorrer porque o extrato ativo tem um conjunto de substâncias responsáveis pela atividade antimalárica e outras que podem produzir efeitos colaterais. Para contornar a situação, pode-se, por exemplo, fracionar o extrato ativo, ou seja, separam-se as substâncias que têm relação com a atividade desejada das outras presentes no extrato. A partir da fração padronizada, pode-se desenvolver um novo produto, com maior grau de eficiência, segurança e qualidade”, explica Wagner Barbosa. A fitoterapia, hoje, é uma terapia oficial. Há uma regulamentação que orienta o sistema de saúde a usar as plantas medicinais como recurso para recuperar e manter a saúde. Nesse sentido, a pesquisa é uma estratégia importante e promissora. Além de fornecer substâncias ativas, potenciais fármacos e modelos para novos antimaláricos, contribui para a validação do uso tradicional de plantas medicinais para o tratamento contra malária. “O Projeto tem duas vertentes. Primeiro, estudar a utilização das plantas medicinais pelas populações. Segundo, transformar esse uso ‘empírico’ num processo de aproveitamento para desenvolver fitoterápicos que possam ser colocados à disposição da população, por meio dos serviços do sistema de saúde”, afirma o professor. Desse modo, o estudo visa desenvolver medicamentos em menor tempo, com menor custo e mais acessíveis à população, a qual encontra dificuldade para arcar com os altos preços dos medicamentos produzidos a partir de fármacos sintéticos.


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BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Novembro/ Dezembro, 2012 –

Teatro

Odontologia

"Ribalta" resgata artes cênicas no Pará

Humanizada a espera por atendimento

Enquanto aguardam nas clínicas da UFPA, pacientes recebem informação

conforme o atendimento nas clínicas da UFPA. Por causa do trabalho extensivo, a equipe do Projeto conta com uma bolsista e 12 voluntários, inclusive, uma estudante de mestrado.

O restante da equipe é composto pela vice-coordenadora, professora Regina Feio; pelo professor de Psicologia Paulo Piani e por três assistentes sociais. Neste ano, além da renovação

das atividades pela Pró-Reitoria de Extensão (Proex/UFPA), a professora tentará parcerias com empresas odontológicas com o objetivo de obter doação de materiais educativos.

Após esses esclarecimentos, a equipe começou a elaborar o cronograma das atividades. Para isso, foi aplicado um questionário aos usuários a fim de saber quais eram os interesses sobre a saúde bucal, as dúvidas e até as opiniões a respeito dos serviços prestados. Dessas perguntas, surgiram temas variados a serem trabalhados: tratamentos preventivos, cuidados com o mau-hálito, prevenção de câncer bucal, esclarecimento de alguns

mitos, entre outros assuntos. Além da elaboração de folders e cartazes, a equipe produziu banners sobre diversos assuntos, entre eles, sobre o açúcar oculto que existe em alguns alimentos, a exemplo dos salgadinhos, que, segundo Danielle Emmi, têm um grande potencial para desenvolver cáries. "Realizamos atividades para o conhecimento de técnicas de higiene bucal. Para isso, foram utilizados macromodelos da

arcada dentária e macroescova para orientação das técnicas de escovação", esclarece. No que tange aos mitos, jogos de pergunta e resposta foram utilizados. Os pacientes tiravam as perguntas e respondiam a questões como "Será que todo mundo precisa fazer clareamento?", "Será que as mulheres ficam com os dentes estragados no período da gestação?", "A mamada noturna da criança causa cárie?".

Estímulo ao uso de material alternativo para higiene bucal Uma das preocupações do Projeto é discutir a utilização de material alternativo para a composição de objetos da higiene bucal. Algumas mesas demonstrativas ensinam como se faz um porta-escovas com garrafas de Politereftalato de Etileno (PET), escovas de dente com palito de picolé e bucha vegetal. Até fio dental é possível ser feito com os fios plásticos de sacas de 50 kg, geralmente, utilizadas para abrigar gelo, farinha ou batatas. "Nas clínicas, atendemos pessoas de diferentes condições sociais. Há pessoas que não têm condições, mesmo, de ter uma escova. A ideia dos alternativos é que o paciente não deixe de fazer a higiene", destaca Danielle Emmi. Outra mesa demonstrativa esclarece os diferentes tipos de produtos de higiene bucal que existem no mercado. Diferenças entre escova

Piloto trata de Cláudio Barradas

Estudantes do curso de Odontologia, supervisionados por professores, fazem os procedimentos bucais na clínica da UFPA

Tratamento demora porque envolve o serviço e a educação Segundo a professora Danielle Emmi, como são os alunos do curso de Odontologia que atendem nas clínicas, os processos são realizados lentamente. Às vezes, somente dois pacientes são atendidos numa manhã, ou seja, a espera é longa. "Os pacientes precisavam ser esclarecidos que não vão chegar aqui, hoje, e fazer uma restauração. Há vezes em que o tratamento demora o semestre todo e ele terá que passar por todos os passos", explica.

ETDUFPA desenvolve o Projeto em parceira com a Academia Amazônia

Acervo O Liberal

Q

uem tem medo de ir ao dentista, geralmente, foge do tratamento dos dentes ou, quando o procura, a saúde bucal passa por problemas graves. Se éir ao dentista é quase uma tortura para esses pacientes, imagine o que seria aguardar por esse atendimento. Pensando em humanizar o período de espera para ser atendido, a Faculdade de Odontologia da Universidade Federal do Pará (UFPA) criou o Projeto “A Promoção de Saúde e a Humanização na Espera pelo Atendimento Odontológico nas Clínicas da Faculdade de Odontologia da UFPA". O trabalho visa aproveitar o momento em que o paciente aguarda pelo atendimento a fim de torná-lo mais agradável, humanizado e informativo. Desse modo, os pacientes recebem instruções sobre o percurso que fazem nas clínicas de ensino, participam de palestras, oficinas e atividades lúdicas relacionadas aos cuidados com a saúde bucal. “Isso possibilita a construção coletiva do conhecimento entre acadêmicos e população usuária, reunindo experiências e saberes, científico e popular, em relação aos cuidados com a boca", explica a coordenadora do Projeto, professora Danielle Emmi. As atividades são realizadas todos os dias, pela manhã e pela tarde,

Alexandre Moraes

Flávio Meireles

9

dura e macia, bem como os diversos tipos de creme dental também foram abordados nas atividades. A professora afirma que, apesar de a humanização da saúde estar em voga, ultimamente, ainda é difícil encontrá-la em algumas clínicas. "É difícil de encontrar, mas não de fazer", ressalta. Para ela, as atividades não são caras e não precisam de grandes instrumentos. Saber acolher e chamar pelo nome, por exemplo, são ações que refletem no próprio bem-estar do paciente. "Às vezes, você entra num consultório e o médico sequer olha no seu rosto. Por quê? Porque ele tem vinte pacientes esperando. Para um atendimento humanizado, basta boa vontade do profissional.” É por isso, inclusive, que o Projeto Pedagógico do Curso de Odontologia tem disciplinas, cujas bases

estão na Antropologia, na Sociologia e na Psicologia, para que, justamente, os alunos saibam lidar com o medo e a ansiedade do paciente. Mesmo sem resultados formais, a professora garante que os pacientes saem satisfeitos. "Já ouvimos 'Ah, mas já acabou? Passou tão rápido'", relata. "Certa vez, um homem levantou no meio da conversa e disse: 'vocês estão vendo essas informações? Se eu tivesse tido isso na idade que vocês têm agora, eu não estava, hoje, sem dente'. Ouvir isso é gratificante.” Expectativas – A ideia é continuar com as atividades, criando um fluxograma do paciente, desde quando entra na clínica até o final do tratamento bucal, a fim de que as pessoas entendam todo o processo que deverão percorrer. "Queremos realizar

atividades mais lúdicas também. Ano passado, quase não fizemos", afirma a professora Danielle Emmi. Além disso, por ser um trabalho multidisciplinar, a equipe do Projeto pensa em firmar uma parceria com a Faculdade de Nutrição da UFPA. A proposta é que alguns alunos falem sobre a alimentação, visto que abordar o tema pode dar base para discussão a respeito de alimentos cariogênicos e protetores. “Não só os pacientes serão beneficiados. Como as atividades são feitas em uma sala aberta, os funcionários da Faculdade e os acompanhantes também ouvem. O melhor é que todas essas pessoas são agentes multiplicadores. Chegam a suas casas e contam o que aprenderam para suas famílias. O Projeto não se resume na sala de espera", finaliza a professora.

Professor Cláudio Barradas abordou a experiência dele como ator e diretor de teatro no programa piloto do "Ribalta" Dilermando Gadelha

E

m Belém, desde a década de 70, as artes cênicas já apresentavam um considerável crescimento, tanto técnico quanto teórico, em relação ao resto do País. Tal desenvolvimento possibilitou a criação das primeiras escolas de teatro e dança no Estado, assim como o surgimento de profissionais renomados na direção, na cenografia, no figurino, na coreografia e na atuação. A história das artes no Pará é vasta e complexa, no entanto, grande parte do material referente à memória das artes cênicas perdeuse, quando um incêndio destruiu o acervo artístico da Escola de Teatro

e Dança da UFPA (ETDUFPA), em 1969. A fim de contribuir para a reconstrução do percurso das artes cênicas a partir das pessoas que o protagonizaram, a equipe do Teatro Universitário Cláudio Barradas, juntamente com a coordenadora da Academia Amazônia, Maria Ataíde Malcher, idealizaram o Projeto “Ribalta”. De acordo com a diretora do Teatro Universitário, Margareth Refekalefsky, o Projeto surgiu da necessidade de utilizar o Cláudio Barradas não apenas como um local para abrigar espetáculos, mas também como um espaço para colocar em prática a pesquisa e a extensão. “O teatro, como parte integrante da UFPA, também tem a função de

possibilitar o diálogo entre academia e comunidade. Esse diálogo não deve ser feito apenas por meio das apresentações, produzidos tanto por alunos da ETDUFPA quanto por companhias de teatro da comunidade, mas também por meio de projetos de extensão”, afirma a diretora. O Projeto funciona a partir da produção de programas televisivos em que personalidades das artes cênicas são entrevistadas por outros artistas e profissionais de áreas afins. Ao todo, já foram criados dois programas pilotos, um sobre teatro e outro sobre dança. De acordo com Margareth Refekalefsky, os vídeos vão funcionar como um meio de captar recursos para o patrocínio dos programas futuros.

Nas gravações, público participa com perguntas O primeiro passo para a produção dos programas é recolher material sobre a carreira da personalidade escolhida. Após a coleta dos dados, são feitas reuniões entre o Teatro Universitário e a Academia Amazônia para decidir os aspectos técnicos do Projeto, como os ângulos da carreira do entrevistado que serão abordados e quem será convidado para fazer a entrevista. Para Margareth Refekalefsky, uma das maiores dificuldades do Projeto Ribalta, além dos recursos financeiros escassos, é a condensação de informações sobre os entrevistados. A maior parte dos dados está dispersa em locais como o Museu da UFPA (MUFPA) e na comunidade.

“Às vezes, nem o próprio artista tem um arquivo com suas produções. Por isso, estamos pensando, nos próximos programas, em fazer uma divulgação na sociedade. Pessoas que tenham alguma relação com os nossos entrevistados poderão ajudar na captação de informações, cedendo cópias dos materiais dos quais dispõem.” A entrevista é feita em formato de roda viva, durante a qual os participantes relembram momentos marcantes da carreira do entrevistado, além das contribuições para as artes cênicas. A gravação dos programas é aberta ao público, que também pode participar com perguntas e expor suas impressões. Os programas gravados são

transformados em DVD, os quais contêm, ainda, materiais especiais, como making off das gravações, cartazes de espetáculos, recortes de jornal, fotos e textos dos entrevistados, além de depoimentos de ex-alunos e colegas de trabalho. “Foi escolhido o formato de vídeo porque as artes cênicas precisam ser visualizadas. Você precisa da parte visual para ver as montagens, os espetáculos, os ensaios, os cartazes. Só ouvir não basta”, explica Margareth Refkalefsky. Os interessados em assistir aos programas poderão pegar os DVDs nas bibliotecas da Universidade a partir do início do ano que vem. Uma parte do material será vendida, a outra, doada para bibliotecas de escolas e campi da UFPA.

O primeiro programa foi gravado no dia 27 de janeiro deste ano e teve como convidado especial o ator e ex-professor da UFPA Cláudio Barradas. Participaram como entrevistadores os atores Maria Sylvia Nunes, Cleodon Gondim e Wlad Lima e os professores João de Jesus Paes Loureiro e Zélia Amador. No programa, o professor Cláudio falou sobre suas experiências como ator e diretor de teatro no Pará e fora do Estado, além de relembrar sua trajetória como um dos fundadores da Escola de Teatro e Dança da UFPA. Ao final do evento, fez, ainda, uma leitura dramática de uma peça do escritor paraense Benedito Monteiro. Segundo Margareth Refkalefsky, o professor foi escolhido para participar do primeiro programa porque “todo mundo que faz teatro tem alguma relação com o Cláudio, como ator ou como aluno. Ele é uma pessoa que sempre foi muito atualizada em termos de linguagem teatral, que sempre experimentou muito. É bem informado e um diretor espetacular, que fez uma escola de formação de direção, com experiências inovadoras em Belém.” O segundo programa foi gravado em 1º de julho. Desta vez, a história da dança foi relembrada a partir das memórias da bailarina, coreógrafa e professora Eni Corrêa, fundadora do Grupo Coreográfico da UFPA. Estavam presentes outras renomadas dançarinas de Belém, como Beth Gomes, Roberta Rezende, Sonia Massoud e Waldete Brito. Segundo Margareth Refkalefsky, ainda serão gravados programas com atores, como a atriz de rádio Iracema Oliveira, que dirige o grupo de teatro de pássaros juninos Tucano; dançarinos, como Augusto Rodrigues; diretores, a exemplo de Geraldo Sales e Maria Sylvia Nunes; cenógrafos, coreógrafos e dramaturgos. “O Ribalta está sendo um grande aprendizado tanto para nós, aqui, do Teatro Cláudio Barradas, quanto para a Academia Amazônia”, avalia a diretora do Teatro Universitário. O Projeto também é um campo de extensão para alunos das Faculdades de Comunicação e Artes Cênicas, que trabalham, diretamente, em todo o processo de produção dos programas. “Eu sempre tive curiosidade com relação às artes, mas não tinha muito contato, porque arte não é muito divulgada em Belém. Participando do Ribalta, abri minha mente para a experiência e o conhecimento que vou adquirindo sobre o campo”, afirma a estudante de Jornalismo, Caroline Soares. Serviços: Mais informações sobre o Projeto Ribalta e outros espetáculos do Teatro Universitário Cláudio Barradas podem ser encontradas em www.teatroufpa.co.cc e twitter.com/ teatroufpa.


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BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Novembro/ Dezembro, 2012 –

Extensão

Amazônia

Mayara Albuquerque

N

a Amazônia, o rádio é um importante meio de comunicação, principalmente, nas localidades mais afastadas dos centros urbanos. A mídia também contribui para a educação ribeirinha, a exemplo do que faz a Rádio Rural de Santarém, desde os anos 1960. Com o objetivo de investigar de que modo esta forma de aprendizagem alterou o cotidiano da sociedade do Baixo Amazonas, a discente do Programa de Pós-Graduação em Comunicação, Cultura e Amazônia da Universidade Federal do Pará (UFPA), Rosa Luciana Rodrigues, desenvolveu a Dissertação O Processo Comunicacional do Projeto Rádio pela Educação, sob a orientação do professor Manuel Dutra, entre os anos de 2010 e 2012. De acordo com o estudo, nos centros urbanos, diferentes mídias, como jornais impressos, noticiários televisivos e portais na Internet, influenciam as relações sociais. Já nos bairros periféricos – sem estrutura e habitados por pessoas de baixo poder aquisitivo –, bem como nas zonas rurais – as quais nem sempre são assistidas pelas políticas públicas governamentais –, a presença mais marcante é do rádio. “O isolamento de muitos povoados que, além da distância, sentem a falta de transporte regular e adequado para os centros urbanos, e a falta de sinais de telefonia ou precariedade do serviço em muitas comunidades constitui em uma realidade na qual se tem no rádio um meio de comunicação de acesso popular”, afirma Rosa Rodrigues. Por isso, a pesquisadora afirma que as experiências com o rádio em diversas regiões do País e, especificamente, na Amazônia podem ser vislumbradas como possibilidades de reedição do mundo e dos valores a

Mácio Ferreira

Ribeirinhos de Santarém alfabetizaram-se por meio de aulas radiofônicas

partir de um processo de formação no qual os agentes envolvidos se sintam sujeitos, além de representar, também, a abertura de espaços nos quais se evidenciem as formas culturais dessas populações. História – A Rádio Rural de Santarém, inicialmente, conhecida como Rádio Educadora, desenvolveu, primeiramente, as aulas radiofônicas do Movimento de Educação de Base (MEB), alfabetizando milhares de jovens e adultos de comunidades rurais da região, ao mesmo tempo em que motivava a organização popular por meio de associações, clubes e sindicatos. A iniciativa tinha como objetivo despertar o novo olhar edu-

cacional para além da sala de aula, por meio da comunicação popular, tanto na perspectiva radiofônica quanto na articulação dos comunitários. Com o fim das aulas do MEB, em Santarém, a Rádio Rural continuou a ação voltada à comunicação popular por meio de alguns programas da grade. Tendo como referência a iniciativa anterior, o novo projeto trouxe uma reformulação da proposta desenvolvida com as aulas radiofônicas. Entre as diferenças principais, estavam o envolvimento de crianças e adolescentes do ensino fundamental, depois do processo de alfabetização. O Rádio pela Educação não apresentou nem apresenta, nos dias atuais, aulas radiofônicas. A mobi-

lização principal é feita a partir de um programa educativo denominado Para Ouvir e Aprender, no qual professores e alunos acompanham nas escolas, com base nas orientações passadas por meio do Guia Pedagógico - cartilha entregue aos educadores. Além disso, outros projetos foram incorporados à grade, como a Rede de Repórteres Educativos - um grupo de crianças e adolescentes das escolas que recebem capacitação e equipamentos para produzir reportagens próprias que vão ao ar no Para Ouvir e Aprender; e as Rádios nas Escolas, que incentiva a implantação de rádios internas nas escolas e proporciona capacitações a comunicadores adolescentes.

dade da vida das pessoas envolvidas nas ações, começaram a ser produzidas cartilhas que traziam palavras como canoa, pote, boto, entre outras. Segundo Rosa Rodrigues, hoje, na construção do programa, verificase uma grande preocupação com a realidade local e com a diversidade cultural das comunidades, levando em consideração escolas de áreas quilombolas e comunidades indígenas, por exemplo. “Atualmente, na Rádio, há uma tentativa de se aproximar

bastante da realidade dos ouvintes, mas considerando a diversidade que é bem própria da Amazônia, mas ainda acredito que muitos passos precisam ser dados, como o olhar da equipe de produção a partir do lugar de recepção, das salas de aula, das comunidades. Sentir como isso acontece é necessário para o desenvolvimento de produções pautadas nas práticas desses lugares”, afirma. As ações do Programa Rádio pela Educação são direcionadas a

alunos do ensino básico de escolas municipais de Santarém. Os números atuais do Projeto apontam que são cadastradas 78 escolas, envolvendo, aproximadamente, 12 mil alunos nas ações do Programa Para Ouvir e Aprender e da Rádio nas Escolas. Quanto à audiência, além do público direto envolvido, podem ser contabilizados as famílias dos alunos e os ouvintes em geral, considerando que o Programa vai ao ar em horários importantes na comunicação da Rádio.

Mídia é fundamental para as trocas simbólicas na região Rosa Rodrigues explica que, atualmente, há dois grandes pontos de destaques na Rádio Rural. Um é a ação do Rádio pela Educação que, mesmo sendo um recurso alternativo, está diretamente ligado ao ambiente da educação formal, ou seja, à escola, na qual diversos temas transversais são colocados em discussão, além da ên-

Estudantes recebem orientações sobre o mercado

D

Material didático preocupa-se com a realidade amazônica Enquanto nas aulas do MEB os educadores eram urbanos e os materiais didáticos produzidos com base nas realidades das cidades, na experiência da Rádio Rural, ao longo das décadas, começou a ser desenvolvida uma iniciativa de incentivo à valorização da realidade amazônica. As cartilhas, antes produzidas em outros centros, apresentavam elementos que não faziam parte do cotidiano da região, falando em aviões ou trens, por exemplo. Para aproximar-se da reali-

Feira divulga Geociências

Pedro Fernandes

O rádio é um meio de comunicação de acesso popular, principalmente, nos bairros periféricos e na zonas rurais

fase dada à leitura, à produção textual e ao desenvolvimento da expressão comunicativa de alunos e professores e à questão da educação ambiental. Segundo a pesquisadora, a importância do trabalho está, principalmente, no papel essencial que a comunicação radiofônica exerce na realidade amazônica, além do desta-

que dado a esta relação entre comunicação e educação como uma forma de aprendizagem. “Em nossa realidade, com uma geografia continental e de multiplicidades culturais, identifico o rádio como um meio indispensável para o desenvolvimento dos processos comunicacionais midiáticos na região”, afirma. “Neste mesmo ponto

está a importância de estudá-lo no meio acadêmico, haja vista que o rádio faz e continua fazendo parte da história da comunicação midiática na Amazônia. Além disso, faz-se referência a esta relação criada entre a comunicação e a educação, que é uma discussão muito presente no meio acadêmico", conclui.

EM DIA

ivulgar as Ciências da Terra, as Geociências, nas escolas de ensino fundamental e médio do ensino público e privado do Pará. Esse é o objetivo do Projeto de Extensão “Feira Estadual de Geociências – Fegeo”, do Instituto de Geociências (IG) da Universidade Federal do Pará (UFPA). Segundo a professora Ellen de Nazaré Gomes, coordenadora do Projeto, a iniciativa é uma realização de alunos e professores do IG e visa suprir uma carência de informações sobre as áreas de Geofísica, Geologia, Meteorologia e Oceanografia nas escolas de ensino básico do Estado. “‘Cuidados com o meio ambiente’, ‘cuidados com a água’, ‘mudanças climáticas’, ‘pré-sal’, ‘exploração sustentável de recursos naturais’ são expressões que fazem parte do dia a dia dos estudantes. Mas percebe-se que ainda há uma deficiência de informações sobre esses tópicos nas escolas de ensino básico do Pará”, explica a coordenadora. De acordo com Ellen de Nazaré, a necessidade crescente, no Brasil, por pesquisadores nas áreas de Geociências, Geofísica, Geologia, Oceanografia e Meteorologia também é um fator que justifica a iniciativa. “Hoje em dia, o mercado de trabalho nessas áreas está supera-

Acervo do Projeto

Rádio Rural contribui para a educação

Fegeo usa modelos em dimensões reduzidas para simular fenômenos geofísicos quecido e em busca de profissionais. Há mais oferta que procura. Com este projeto, tentamos melhorar isso”, afirma. Como possível campo de trabalho, a professora menciona a própria Região Amazônica, diversa em reservas minerais, hídricas e energéticas. “Um aproveitamento responsável dessas reservas implica um conhecimento sobre as Ciências da Terra”, destaca a professora. A Fegeo surgiu em março de 2011, a partir da Exposição “O que é Geofísica?”, desenvolvida em 2006. Desde então, é apresentada

por alunos e professores do curso de Graduação em Geofísica da UFPA em escolas, feiras de ciências, feiras vocacionais e nas Semanas de Geociências da UFPA. Para as explicações, são utilizados modelos experimentais em dimensões reduzidas que simulam fenômenos geofísicos. Em 2007, a exposição foi apresentada na 59ª Reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), realizada em Belém. Em 2010, em Salvador (BA), no 11º Congresso Internacional da Sociedade Brasileira de Geofísica (SBGf).

José Brazão Rodrigues, Midori Makino e João Batista Ribeiro (Meteorologia); Evaldo Raimundo Pinto da Silva e Vladimir de Araújo Távora (Geologia); Ellen Gomes, Alberto Melo e Cristiano Mendel (Geofísica); Mary Elen Moraes Costa (Divisão Pedagógica) e alunos dos cursos de Graduação e PósGraduação em Geofísica, Geologia, Meteorologia e Oceanografia da UFPA resolveram ampliar a Exposição. Assim surgiu a Fegeo. A Feira é constituída de duas etapas. A primeira refere-se à 1ª Feira de Geociências, ocorrida entre 15 e 17 de junho de 2011, na UFPA. Ao todo, 17 escolas participaram. Escolas públicas e privadas da Região Metropolitana de Belém, Santa Izabel do Pará, Castanhal e Santo Antônio do Tauá. Às escolas públi-

cas mais afastadas de Belém, o IG disponibilizou ônibus para o transporte de alunos e professores. Os experimentos da 1ª Feira de Geociências foram idealizados pelo professor Alberto Leandro de Melo. “Nós tentamos retratar as Geociências de um modo mais visual, mais interativo e um pouco mais dinâmico para que as pessoas pudessem fazer inferências observando os experimentos. Então, nós temos vários modelos que descrevem, dentro de certa realidade, o que são as Geociências”, afirma. Além de apresentarem os experimentos físicos, os alunos do IG distribuíram, durante a Feira, cartilhas e folders com explicações sobre os cursos de Geociências da UFPA, mercado de trabalho e perfil profissional.

Dezoito projetos de pesquisa serão contemplados A segunda etapa do Projeto consistirá na realização da Feira Estadual de Geociências, em dezembro deste ano. Na Feira Estadual, alunos do ensino fundamental e médio apresentarão trabalhos (experimentos e pesquisas) relacionados às Geociências. É esperada a participação de escolas de 44 municípios do Pará. Os trabalhos serão avaliados por uma comissão e os 18 melhores receberão bolsas

Doutorado A Universidade Federal do Pará oferecerá, a partir de 2013, o curso de Doutorado em Letras. O Programa "Estudos Linguísticos e Estudos Literários" foi aprovado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), na última reunião do Conselho Técnico-Científico da Educação Superior (CTC-ES), realizada em novembro, e será o primeiro curso de Doutorado do Instituto de Letras e Comunicação (ILC/UFPA).

Extensão

Meta inicial era aumentar demanda da graduação De acordo com Ellen de Nazaré, a Exposição “O que é Geofísica?” foi articulada, a princípio, com a intenção de divulgar e aumentar a procura pelo curso de Graduação em Geofísica, criado em 2003. “Havia poucos estudantes interessados em fazer o curso. Conversando com outros cursos de Graduação em Geofísica do País, vimos que a baixa procura devia-se, entre outras coisas, à falta de divulgação. Então, decidimos fazer a primeira Feira de Geofísica na UFPA, na qual alunos de graduação mostraram um pouco da Geofísica para estudantes do ensino fundamental e médio”, conta a professora. No fim de 2010, os professores Odete Silveira e Alessandro Bérgamo (Oceanografia); Maria Aurora Santos da Mota, Hernani

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de Iniciação Científica Júnior, com duração de um ano. “Depois, os alunos responsáveis por esses projetos (trabalhos) irão trabalhar com algum tema de Geociências, na própria comunidade, sob a orientação de um professor do IG”, explica Ellen de Nazaré. As escolas de origem dos alunos premiados receberão um kit de experimentos de Geociências. Além disso, serão dados cursos sobre reciclagem, tópicos de Geociências e

manutenção dos kits aos orientadores dos trabalhos premiados na Feira. A Fegeo conta, hoje, com o apoio da Pró-Reitoria de Extensão (Proex), do Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq), da Sociedade Brasileira de Geofísica (SBGf), do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Geofísica do Petróleo (INCT – GP) e do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Ciências do Mar (INCT – MAR).

As ações norteadoras da UFPA, em 2013, serão baseadas no tema "Política Pública e Desenvolvimento Local". A proposta foi a mais votada na enquete realizada pela Pró-Reitoria de Extensão (Proex) e pela Pró-Reitoria de Ensino de Graduação (Proeg) – re recebeu 2.637 dos 4.915 votos computados. O próximo passo é o lançamento do edital temático de 2013, que deverá ofertar 100 bolsas de extensão para graduação.

Edital O Programa de Apoio à Qualificação de Servidores Docentes e Técnico-Administrativos (PADT) está com inscrições abertas até 30 de março de 2013. O edital contempla ações voltadas a cursos de pós-graduação que oferecem vagas para docentes e técnicos da UFPA e também os próprios servidores que realizam esses cursos dentro da Instituição. Para outras informações, consulte as informações disponíveis em http://www.propesp. ufpa.br/arquivos/editais/2012/ EDITAL%20PROPESP%20152012%20-%20PADT.pdf.

Engenharia A UFPA oferta, a partir do ano que vem, o curso de Engenharia Biomédica. A Instituição é a primeira a implantar o curso na Região Norte e vai disponibilizar 40 vagas – 20 no primeiro semestre e a outra metade no segundo semestre. Além das áreas de exatas, presentes em todas as graduações de engenharia, o curso oferece disciplinas voltadas para as áreas biológicas e de ciências da saúde, como Fisiologia e Anatomia.

UFPA 2.0 Criar um repositório digital da produção intelectual (acadêmica e artística) da UFPA. Esse é o objetivo do Projeto UFPA 2.0, coordenado pelo pró-reitor de Relações Internacionais, professor Flávio Nassar. No blog, estão hospedados tesouros da memória e da história da cidade. A ideia é transformar o espaço num portal de conteúdo acadêmico, artístico e cultural, de construção colaborativa, a longo prazo. Para acessá-lo, clique em http://ufpadoispontozero.wordpress.com/.


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Urbanodiversidade

Projeto analisa a relação de municípios paraenses com os grandes rios da região

Modo de vida ribeirinho permanece no cotidiano de Marabá, Cametá e Santarém, apesar dos processos de transformação na rede urbana regional

Comércio, atividades domésticas e interação entre grupos Fotos Lorena Filgueiras

Santarém, no Baixo Amazonas, combina a circulação fluvial com a rodoviária, sem que uma anule a outra, tampouco elimine os espaços de convivênvia ribeirinha

Cametá, no Baixo Tocantins, que passou por mudanças regionais menos marcantes, apresenta orla enraizada

Ocupação por rodovias não extinguiu os cursos fluviais "A base de que parte toda a pesquisa do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Ordenamento Territorial e Urbanodiversidade na Amazônia (Geourbam) é que há espaços urbanos que continuam a ter forte relação com o rio. Isso acontece, apesar dos processos recentes que mudaram as dinâmicas de ligação e interação das cidades na região, especialmente, os relacionados aos grandes projetos e políticas públicas que implantaram uma malha rodoviária na Amazônia. Mesmo com a nova forma de ocupação, orientada, principalmente, pelas rodovias e não mais pelos rios, ainda temos nas cidades intermediárias da rede urbana regional o modo de vida

ribeirinho, ou seja, uma interação das populações locais com os cursos fluviais", conta o aluno do Mestrado em Geografia da UFPA e ex-bolsista de Iniciação Científica da Universidade, Michel Lima. Os pesquisadores utilizam o conceito de urbanodiversidade para ajudar a expressar mudanças, permanências e coexistências de formas plurais de vida urbana na região, responsáveis por revelar especificidades dos núcleos urbanos e mostrar que, entre o rio e a estrada, há uma diversidade do fenômeno urbano na Amazônia. "A diversidade urbana ou urbanodiversidade é revelada não somente por diversos tipos de cidades e pela

existência de múltiplos tipos de urbanização, mas também por formas complexas de espaços urbanos que indicam a hibridização de relações marcadas por contatos e resistências em face da chegada na região de processos de diferentes naturezas", explica SaintClair Trindade Jr. A pesquisa voltou-se, então, para os espaços denominados de "orlas fluviais", aqueles apontados pelos moradores como "beiras" ou "frentes das cidades". "Trata-se de espaços que condensam relações e objetos socioespaciais/geográficos que, considerados em conjunto, traduzem, na atualidade, uma síntese dos tempos que presidiram a produção do espaço regional. São,

dessa maneira, tidos como espaços representativos das cidades ribeirinhas e definidos como espaços de contato imediato da cidade com o rio e, por esse motivo, singulares para os propósitos da pesquisa", relata o pesquisador do NAEA. Para o grupo, o modo de vida que caracteriza as cidades ribeirinhas ainda persiste mesmo em aglomerados urbanos maiores, especialmente, naqueles localizados às margens de grandes e importantes rios da região, como o caso de Santarém, nas margens do rio Tapajós; de Cametá, banhada pelo rio Tocantins; e de Marabá, situada no encontro do rio Tocantins com o rio Itacaiunas.

Nem toda cidade beira-rio é ribeirinha, diz pesquisador A pesquisa também atribui diferença entre as "cidades beira-rio" e as "cidades ribeirinhas". As primeiras possuem um forte apelo à paisagem e às formas espaciais, mas não a outros elementos que identificam as interações da cidade com o rio do ponto de vista da economia, das atividades lúdicas, da circulação e da dimensão simbólica e cultural desta interação. "Para além da localização, as cidades ribeirinhas também trazem consigo um conteúdo de fortes e múltiplas interações de sua população residente com o elemento hídrico que lhe está próximo. Nesse sentido, toda cidade ribeirinha é uma cidade beirario, mas nem toda cidade beira-rio é, necessariamente, ribeirinha", resume Saint-Clair Trindade Jr. Segundo o geógrafo Michel Lima, a pesquisa "Interfaces da cidade com o rio no Sudeste Paraense: Estudo

sobre a Orla Fluvial de Marabá", da qual foi bolsista de Iniciação Científica, mostrou que, embora a gradação das relações com as orlas fluviais exista, no caso de Marabá, a relação com o rio nos espaços de orla é mais intensa do que se esperava. "Analisamos a importância dos rios para o conjunto de aglomerados e diversos agentes que vivem na orla e os usos que estes agentes fazem destes espaços, ou seja, como fonte de alimento, fonte de água potável, uso doméstico (afazeres domésticos), lazer, transporte, comunicação, paisagem, local de encontro e interação entre grupos, entre outros aspectos. O vínculo com os rios ainda é muito significativo no cotidiano destas pessoas", assegura . Para ajudar a definir se as cidades analisadas estavam mais próximas ou distantes do perfil de cidades ribeirinhas ou de cidades beira-rio, o

projeto de pesquisa utilizou como um dos critérios a existência dos "espaços de vivências ribeirinhos" nas orlas fluviais. Esses espaços são locais nos quais os agentes e grupos locais interagem de forma mais intensa e multidimensional com o rio, de maneira que estes ‘usos’ e ‘hábitos’ em relação às orlas fluviais marcam a organização da infraestrutura urbana atual. "A existência de ‘espaços de vivência ribeirinhos’ mostrou-se muito mais presente, como era de se esperar, em realidades em que as frentes de expansão econômica recentes tiveram pouca inserção. Trata-se de espaços em que as relações mais modernas e de reprodução efetiva de processos capitalistas pós-1960 não demarcaram, de forma profunda, novas espacialidades e novas territorialidades", revela o docente do NAEA. Nos diversos municípios, os

pesquisadores, sob a orientação do professor Saint-Clair Trindade Júnior, realizaram observações sistemáticas do uso das áreas de orla, aplicaram formulários com os moradores sobre os usos que fazem destes espaços, realizaram entrevistas com habitantes da orla a respeito da sua percepção sobre esta faixa entre o rio e a terra e ainda fizeram entrevistas com representantes do poder público, sobre as políticas e os projetos pensados para esses espaços ou a resolução dos problemas dessas áreas. "Pretendeu-se, a partir dessas três realidades urbanas, em Cametá, Marabá e Santarém, destacar o papel que a cidade ribeirinha amazônica assume em realidades que se inseriram, de forma diferenciada, nas políticas de ordenamento territorial das últimas décadas", resume Saint-Clair Trindade Jr.

Segundo os dados preliminares da pesquisa, em cada cidade analisada, foi constatado o uso plural dos rios e sua importância econômica, social e cultural para os moradores, mas também destacada a relação destes espaços com outros agentes como os turistas. "Percebemos, em Marabá, que, nas políticas, há uma certa valorização das ações em relação ao turismo, sob as ações que se referem aos moradores. E parte do nosso objetivo era dar visibilidade aos outros agentes e à importância e necessidade de ações em outras áreas, como saneamento, água potável, energia e transporte", conta Michel Lima. Em Marabá, ao longo da orla, foram localizados nove pontos principais de convivência e interação que se referem a espaços de vivência ribeirinhos, mas também indicam os usos e significados da orla entre os habitantes. "O porto, o abastecimen-

to de peixes e de produtos diversos, a lavagem de roupa, as conversas durante esta atividade e o balneário configuram relações que formam os espaços que aglomeram os moradores e descrevem sua relação com os rios Tocantins e Itacaiunas", conta a estudante de Geografia da UFPA e bolsista de Iniciação Científica do Projeto, Débora Aquino. Segundo os pesquisadores, a relação com os rios é mais intensa e marcante do que eles esperavam. "Até mesmo o sistema de alagamentos ou inundações sazonais que eles têm neste local, que obriga os moradores a saírem de suas casas durante parte do ano, tem uma rede de interação e de significados surpreendente. Eles garantem que não têm interesse em mudar para áreas não alagadas e ressaltam as relações de solidariedade entre os moradores, tanto no que diz respeito ao aviso sobre a elevação das

águas, no que diz respeito à reorganização comunitária, no período em que eles não podem viver em suas residências", revela Michel Lima. Em Cametá, a relação com o rio Tocantins é ainda mais importante. "Até mesmo por conta da organização do núcleo urbano que, além de 3 km de orla, se articula a um número significativo de ilhas", explica Gesiane Trindade, também bolsista de Iniciação Científica do Projeto. A este cenário, a estudante de Geografia acrescenta a importância que a cidade tem na região, como ponto de troca da produção e de negociação e escoamento desses produtos vindos do interior de Cametá e de outros municípios, como Mocajuba e Limoeiro do Ajuru. "Por esse perfil, com alto enraizamento regional, Cametá possui um número menor de espaços de vivências ribeirinhos, mas esses espaços se

distribuem por áreas maiores e não tão pontuais. A cidade é marcada também pelas características desses pontos, que se referem, especialmente, a portos, trapiches e feiras. Podemos destacar, ainda, que os pontos convergem em torno da Feira e do Porto Pedro Teixeira", conta Gesiane Trindade. Já no Baixo Amazonas, área em que se encontra a cidade de Santarém, os processos de mudança foram menos intensos no passado recente e só agora eles vêm se expandindo. "A circulação fluvial e a rodoviária tendem, ainda, a se combinar e a se complementar, não anulando em definitivo os ‘espaços de vivências ribeirinhos’ existentes. Para essa realidade urbana, mesmo tendo sido cartografado e caracterizado um total de sete espaços em que a relação cidade e rio ainda é muito forte, há uma tensão relativamente marcante entre as mudanças e as permanências", reforça Saint-Clair Trindade Jr..

Espaços de vivências determinam a classificação da orla O coordenador da pesquisa destaca que os processos de mudanças e permanências urbanas nestas três cidades são diferentes. Em Marabá, as mudanças são mais intensas, razão pela qual os "espaços de vivências e de resistência ribeirinhos" apresentam-se de maneira puntiforme. Em Cametá, onde as transformações regionais são menos marcantes, aqueles tipos de espaço manifestam-se de forma mais zonal ou em manchas, ao longo da orla. Já em cidades como Santarém, as coexistências são mais presentes e os "espaços de vivências e de resistência ribeirinhos" manifestam-se tanto de uma quanto de outra forma, revelando certa tensão entre o que muda e o que permanece. Assim, "em que pese o maior número de espaços de vivências ribeirinhos existentes em Marabá, não é nele onde a vida ribeirinha está mais presente, mas sim em Cametá. Nesta, tais espaços são em

menor número e a configuração espacial assumida é muito mais zonal ou em manchas e, por essa razão, é mais extensa do ponto de vista territorial e menos residual do ponto de vista das relações, diferentemente do que acontece nas outras duas cidades", sintetiza o coordenador do grupo. Com base na investigação científica, as orlas foram definidas em três grupos de orlas fluviais: as orlas enraizadas, mais presente em Cametá; as orlas fluidas e as orlas padronizadas ou estandardizadas, mais presentes em Santarém e Marabá, respectivamente. Sendo que a classificação tem como parâmetro a maior ou a menor presença de espaços de vivências ribeirinhos no local. No entanto uma mesma cidade pode apresentar os três tipos de perfis, apesar de ter sido constatada, até o momento, a prevalência de um dos três grupos sobre os demais em cada orla estudada.

Mácio Ferreira

S

antarém, Marabá e Cametá. Em comum, têm a condição de serem cidades intermediárias da rede urbana regional e o fato de estarem localizadas às margens de importantes rios. O Projeto de Pesquisa "A cidade e o rio na Amazônia: mudanças e permanências face às transformações sub-regionais", coordenado pelo professor Saint-Clair Trindade Jr., do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos da Universidade Federal do Pará (NAEA/UFPA), estuda estes espaços urbanos em sua interação com os rios Tapajós, Itacaiunas e Tocantins, respectivamente. A urbanização da Região Amazônica seguiu o curso dos rios. Inicialmente, apenas pelas vias fluviais, passageiros e cargas podiam alcançar os distintos núcleos urbanos, os quais se aglomeravam, o mais próximo possível, do leito dos rios. Assim, reunindo habitantes e possibilitando as trocas de produtos, os habitantes passaram a ser conhecidos como ribeirinhos, aqueles que viviam próximos aos ribeiros, aos cursos d’água.

Alexandre Moraes

Glauce Monteiro

Marabá, no sudeste do Pará, tem espaços de convivência ribeirinha puntiforme


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