issn 1982-5994
12 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Janeiro/ Fevereiro, 2013
Fotos Laís Teixeira
Entrevista JORNAL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ • ANO XXVII • N. 110 • Janeiro/ Fevereiro, 2013
Fotografia
Ritual marca a passagem para a vida adulta
Laís Teixeira
Belém vulnerável a inundações Pesquisadora registra a cerimônia da "menina-moça", dos TeneteharaTembé, da Terra Indígena do Alto Rio Guamá (TIARG). Página 8.
Recursos Hídricos
Walter Pinto
A
lém de propiciar a circulação de informações que, geralmente, escapam às pautas da grande imprensa por meio das redes sociais, a internet pode estar determinando, praticamente, a morte da reportagem mais aprofundada em função do interesse do leitor por informação em tempo real. Essa é uma das observações da jornalista Christa Berger, professora do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), no Rio Grande do Sul (RS). A pesquisadora proferiu a palestra de abertura do 2º Encontro Regional Norte de História da Mídia, realizado na Universidade Federal do Pará (UFPA), de 12 a 13 de novembro de 2012. Beira do Rio – A chamada democratização dos meios de comunicação é possível no Brasil? Crista Berger – Este é um processo que está em curso apesar dos obstáculos que surgem ao longo do caminho. Um destes é o fato de os grupos de comunicação estarem concentrados em mãos de famílias. Esses grupos dominam os meios e elegem políticos nos Estados e nacionalmente. Então, é uma dificuldade dupla, porque aquilo que se pretende passar no Congresso Nacional encontra justamente a intervenção dos políticos, porque eles são os donos ou comprometidos com os donos das mídias. Então, temos um cenário muito pouco possibilitador desta democratização. Eu considero que o caminho para se fazer esse processo de democratização é por meio de políticas públicas. Mas, se temos o Conselho Nacional de Educação, o Conselho Nacional de Saúde, o Conselho Nacional de Mulheres, por que não conseguimos formar o Conselho Nacional de Comunicação? É nele o lugar onde deve germinar os projetos de políticas públicas de comunicação. Atualmente, o que existe são normas de concentração não cumpridas. As concessões, por exemplo, precisam ser revistas. Temos um problema diferente do dos outros setores: a mídia não cobre os problemas da mídia. Nunca vamos encontrar, na imprensa, abordagens sobre questões da imprensa. Os jornais até fazem a cobertura dos problemas da saúde, da cultura, da política, mas não fazem de si. E a nossa im-
prensa alternativa, que podia fazer isso, está muito subsumida, até porque todo o esforço foi para que ela não assumisse um lugar de exposição de ideias que não referendem a concentração. Então este é um longo processo que está em curso, mas os resultados ainda são pequenos. Beira do Rio – Os grandes grupos de comunicação se opõem ao Conselho Nacional de Comunicação sob a justificativa de que ele pode limitar a liberdade de imprensa por meio do exercício da censura. O que a senhora pensa sobre essa justificativa? Christa Berger – Essa é a justificativa ideológica dos grandes grupos. O que esses grupos fazem é nos censurar, censurar as vozes ativas, as vozes discordantes, a opinião que não venha ao seu encontro. Nós já vivemos essa censura. Então, o que a gente pensa com estes Conselhos, nacional e estaduais, é que eles possam estabelecer determinados controles públicos, não censura, mas controle público dos excessos. Então, eles funcionariam como lugares onde esses excessos possam ser questionados, criticados. Não temos ainda um modelo. Temos que pensar muito bem quem serão os representantes da sociedade nesses Conselhos para que eles possam, efetivamente, funcionar como uma fonte de conversação com os grupos de comunicação e não deixá-los que continuem como estão. Beira do Rio – É possível dizer que, no contexto atual, a internet se tornou a experiência mais próxima de democratização da informação? Christa Berger – Estamos vivendo um momento bastante particular. As redes sociais têm propiciado que circulem informações, às quais não tínhamos acesso antes. O problema é que não podemos comparar o jornalismo com a circulação de informações pelas redes. O jornalismo é uma modalidade de produção de informação que tem critérios de noticiabilidade, que tem pautas, que tem conselhos, que tem jornalistas escrevendo notícias. Então, o jornalismo não pode ser substituído pela informação circulante nas redes sociais, ainda que as redes sejam muito importantes por nos darem acesso, mas precisamos deste lugar que o jornalismo deve ocupar na sociedade, que
é fazer a mediação legitimada, digamos, deste reconhecimento do presente. Beira do Rio – De que forma a internet está influenciando o fazer jornalístico atual? Christa Berger – Por meio de coberturas mais ágeis, em cima dos acontecimentos. Isso é positivo e negativo, simultaneamente. Se a internet nos permite acesso à informação em cima dos fatos, falta, no entanto, o tempo da cobertura. Então, a reportagem, que é o lugar do jornalismo se fazer, pode estar praticamente morrendo em função de que os leitores buscam, pela própria lógica da internet, de mais informação em cima do que acaba de acontecer. Isso gera problemas de cobertura, de credibilidade, de aprofundamento, coisas que a internet ainda não permite, ainda que cumpra muito bem o papel de nos informar em cima do fato. Beira do Rio – Recentemente, o Congresso Nacional instituiu a não obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão de jornalista. A senhora acha que essa decisão pode, de alguma forma, influir na qualidade do jornalismo? Christa Berger – Eu defendo o diploma porque estou na universidade e porque vejo a questão como uma disputa corporativa e assumo que seja assim. Os donos dos grandes jornais, e não é por nada que a Folha de São Paulo organiza essa luta, têm interesses em contratar aqueles que produzem dentro da visão de mundo dos jornais. Então, o diploma é uma questão de disputa política também. Se eu pensasse no mundo ideal, diria que não precisaria de diploma, porque o jornalista, em grande parte, se forma na prática mesmo. Ele pode ter uma visão sensível do mundo, saber escrever e aprender com a rotina produtiva do jornal. Não seria preciso quatro anos para fazer isso. Mas os jornais não estão preocupados em contratar essas pessoas sensíveis. Além disso, não se deve ignorar que há constrangimentos organizacionais nas rotinas dos jornais para o enquadramento profissional. Então, se a universidade pode fazer, junto com a aprendizagem prática, a crítica do jornalismo, a partir de visão ética e humanista, é possível garantir que alguns profissionais irão para as redações menos afeitos a serem enquadrados pelas rotinas e pelos constrangimentos organizacionais.
Pesquisa revela que os líquidos contêm altos níveis de acidez e não podem, sequer, ser classificados como minerais. Página 3. Governos não contemplam as mudanças climáticas. O resultado são os alagamentos nas regiões de baixada da Metrópole.
D
issertação desenvolvida no Núcleo de Altos Estudos Amazônicos da Universidade Federal do Pará (NAEA/UFPA) aponta que as zonas periféricas da Região Metropolitana de Belém estão sujeitas a alagamentos em função da forte incidência de chuvas aliada a fatores, como maré alta e precária rede de saneamento. O estudo também revela que as secretarias municipais não dispõem de profissionais
qualificados para lidar com o problema, tampouco têm informações técnicas para planejar ações a longo prazo. Autora do trabalho, a cientista ambiental Glórgia Barbosa de Lima de Farias foi premiada com o título de melhor estudo na área ambiental de 2012, da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ambiente e Sociedade (ANPPAS). A orientação, do professor Claudio Szlafsztein. Páginas 6 e 7.
Meteorologia
"Remam" monitora os fenômenos atmosféricos
Grande Belém bebe água ácida
Entrevista Christa Berger, da Unisinos, avalia o jornalismo e a internet. Página 12.
Juventude
Projeto interinstitucional, do qual a Faculdade de Meteorologia do Instituto de Geociências (Famet/IG) faz
parte, rastreia eventos meteorológicos na Amazônia, com o objetivo de se prevenir contra os efeitos. Página 5.
Arquivo O Liberal
Pesquisadora defende mediação legitimada contra a soberania da internet
Laís Teixeira
Redes sociais podem findar a reportagem
Águas vendidas na Metrópole são impróprias
Dilemas enfrentados pelos jovens em oito campi serão registrados em vídeo e podem auxiliar a construção de políticas públicas. Página 10.
Extensão
História na Charge
Filosofia alia-se ao cinema para refletir ideias
Compra de escravos motiva ilustração de Walter Pinto. Página 2.
Opinião Sérgio Malcher comenta as transformações na fotografia. Página 2.
Alunos expõem o dia a dia na Universidade
Radares atentam para os eventos meteorológicos, a exemplo de chuvas fortes
"Troca de Olhares" exibe filmes a fim de despertar o senso crítico dos espectadores quanto a questões socioculturais. Página 11.
BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Janeiro/ Fevereiro, 2013 –
Extensão kkk
OPINIÃO
Sérgio Alexandre Oliveira Malcher
E
, então, chegam os sensores eletrônicos substituindo as películas de 35 milímetros como o fogo roubado dos deuses. Esse presente permitiu que nós, entusiastas mortais, trouxéssemos ao mundo novos registros, construindo e desconstruindo paradigmas, minando vaidades e, ao mesmo tempo, incomodando e alegrando muita gente. Fotografar significa escrever com a luz, mas não é só isso. Há muito o que ser experimentado por trás deste ato simples e tão prazeroso. Mas que coisa é essa que toma conta da vida das pessoas fazendo com que, literalmente, parem de respirar por alguns segundos na tentativa de conseguir uma recordação de uma cena cotidiana? Não faz muito tempo, o mundo era representado, visualmente, pela pintura ou por escassos registros fotográficos. Em pari passu com a tecnologia, a revolução da linguagem fotográfica chega aos limites da criatividade, uma consequência direta da facilidade com que as pessoas manipulam a imagem após sua captura. Hoje, é cada vez mais difícil a distinção
entre uma imagem nativa (original) e uma imagem manipulada (editada) por meio de sofisticados programas de computador. Como se não bastasse, em plena era da alta definição, o padrão cíclico das tendências sociais invade a fotografia com a atual modinha da “instagramização”, a qual imprime nos modelos digitais a volta às origens da fotografia, reproduzindo, artificialmente, aquele aspecto retrô nas imagens. Nunca, na história da humanidade, a imagem esteve tão ligada à vida das pessoas. É espantoso observar que qualquer criança, hoje em dia, possui mais registros fotográficos do que nossos pais ou avós ao longo de toda a sua vida. Essa geração digital terá o prazer de mostrar aos seus próprios netos retratos em 3D dos tempos em que habitavam o ventre materno, um luxo impensável na minha geração. Por certo, aquele breve lapso de tempo entre o enquadramento da imagem e o pressionar do obturador é uma experiência única, para cujo registro os olhos de Deus pegamos
Filosofia e cinema promovem reflexões
sergiomalcher@hotmail.com
O século da imagem
A História na Charge Walter Pinto
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emprestado. Neste exercício de reflexão e satisfação pessoal, o manuseio da câmera e a captura de uma imagem são impulsionados pelo sincero desejo de mostrar às pessoas queridas,aos amigos e aos familiares o quanto o mundo pode ser mais interessante do que supomos. Seja como for, fotografar requer concentração, inspiração, desejo, atenção aos detalhes finos, percepção das coisas simples a partir de um olhar filosófico do mundo. Fotografar é, sobretudo, uma brincadeira divertida e contagiante. Fotografar é poesia, é ter algo a dizer e dizê-lo com humildade e resiliência. Só para se ter uma ideia, neste exato momento em que você lê estas linhas, mais de cem milhões de “clics” estão sendo produzidos em todo o mundo e boa parte dessas imagens estão sendo descarregadas na “nuvem”, ou seja, no espaço virtual da internet, o qual reúne, pelo menos, 50% da informação disponível em forma de puramente imagem. E, assim, o velho hábito escoa dando lugar a novos olhares. Contudo,
Sessões do Projeto "Troca de Olhares" levantam problemas socioculturais para muitos de nós, “usuários avançados”, fotografar é um hobby, um luxo, uma terapia sem pretensões de destaque ou de lucro e é bom que seja assim, até mesmo porque não será uma dúzia de técnicas que lhe garantirá o título de profissional, há muita transpiração em jogo. Se serve de consolo aos que duvidam do poder da imagem sobre as palavras, o escritor Isaac Asimo, no livro Antologia, faz uma interessante reflexão a respeito de uma célebre frase que, há muito, já virou clichê: “uma imagem vale por mil palavras, mas sempre precisaremos de palavras para dizer isto”. Então, um brinde aos sensores eletrônicos. Sérgio Alexandre Oliveira Malcher - Formado em Ciências Biológicas, licenciatura plena e bacharelado, e Medicina. Mestre em Clínica de Doenças Tropicais, faz Residência Médica em Medicina de Família e Comunidade no Hospital Universitário João de Barros Barreto, freelancer em História da Ciência, Astronomia e Fotografia. Atualmente, é professor e médico.
walterpinto.oliveira@gmail.com
Mayara Albuquerque
P
romover a reflexão e o questionamento de questões filosóficas e socioculturais, por meio de exibições de obras cinematográficas, é o objetivo do Projeto de Extensão “Troca de Olhares: As Interfaces entre Cinema e Filosofia”. Desde 2011, coordenado pela professora Verônica Capelo, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Universidade Federal do Pará (UFPA), o projeto tenta articular a narrativa cinematográfica e as tecnologias da informação e, ao mesmo tempo, formar espectadores críticos, que vejam o cinema além dos traços estéticos. “Ao escolhermos o cinema como elemento de mediação no processo do ensino da Filosofia, procuramos evitar a instrumentalização didática do cinema, ou seja, usá-lo apenas para ilustrar ou reafirmar um conteúdo para deixá-lo mais digerível, atraente ou acessível. Nós fazemos uma análise que privilegia tanto o cinema quanto a Filosofia”, explica. Verônica Capelo afirma, ainda, que a ideia é desenvolver no público uma educação do olhar, que leve a conjugar o prazer e o encantamento proporcionado pela narrativa cinematográfica, com a atenção requerida por um saber, que é a Filosofia, de modo que abra caminhos para interpretar o que imagens, sons e discurso cinematográfico verdadeiramente expressam. “Assim como para fazer a análise de um livro é preciso saber quem é o autor, para fazer a análise
Alexandre Moraes
Acervo Pessoal
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Antes da exibição dos filmes, são distribuídas fichas para subsidiar os participantes para o debate, realizado após a sessão de um filme, é preciso saber sobre o diretor. O expectador precisa prestar atenção no discurso cinematográfico, ou seja, nos elementos que ele utiliza. Nós buscamos educar o olhar aprendendo a ver o cinema de uma forma diferente, mostrando qual a intenção e o porquê de determinados elementos serem utilizados. Há emoção na Filosofia e razão no cinema. É isso
que queremos passar”, afirma. Bolsista do projeto, Felipe Sampaio afirma que a união das áreas é um dos maiores atrativos, além da liberdade para a interação. “Nós procuramos estimular o intercâmbio de conhecimento, em debates após as sessões, refletindo sobre o filme exibido e as possibilidades de discussão provenientes. Essas dinâmicas, essa
troca de olhares são fundamentais para nós”. Para ele, o conhecimento adquirido e repassado também justifica o esforço com o projeto. “Eu era um leitor cinematográfico comum, o interesse pela Filosofia me trouxe esse interesse em saber mais sobre o cinema. O projeto também nos mostrou outro ramo no mercado de trabalho”, conta.
Exibição do filme, debate e minicursos são os três pilares A estrutura do projeto é formada por três eixos: a exibição dos filmes na UFPA, seguidos de discussão aberta ao público, a partir do viés filosófico; minicursos sobre cinema e atuação do grupo na Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Frei Daniel, localizada no bairro Guamá. A professora explica que os filmes são escolhidos de acordo com unidades temáticas ou constelações conceituais. Para a discussão, são utilizadas metodologias diferentes na UFPA e na Escola Frei Daniel, em virtude dos diferentes perfis do público-alvo. “Nós tentamos escolher um filósofo cuja
obra possa nos ajudar a analisar o filme. Por exemplo, no filme Escritores da Liberdade, de Richard LaGravenese, nós tomamos como eixo temático para o debate a violência na escola, a crise da autoridade do professor, o bullying e a descoberta do mundo por meio da leitura e da escrita. A partir desses eixos, o público inicia uma discussão levando em consideração o viés teórico dos autores que são levados por nós”, explica. Antes de cada exibição, são disponibilizadas, para cada um dos participantes, fichas técnicas, sinopses e uma bibliografia básica. Além
de Escritores da Liberdade, estão entre os filmes exibidos pelo grupo Cinema Paradiso, de Giuseppe Tornatore; Músicas do Coração, de Richard Trank; e O Garoto, de Charles Chaplin. Os minicursos, efetuados na UFPA, foram divididos em quatro módulos, com 12 horas de duração cada: “Breve História do Cinema”, que abordou os primórdios do cinema até a era do cinema digital; “Dados Introdutórios sobre o Discurso Cinematográfico”, os elementos do discurso cinematográfico, tais como argumento, roteiro, plano-sequência,
montagem, entre outros; “O Cinema Brasileiro de 1940 a 1960: As Aventuras da Atlântida e da Vera Cruz”, os primórdios do cinema nacional brasileiro e as companhias cinematográficas: Cinédia, Atlântida e Vera Cruz; e “Gêneros e Escolas Cinematográficas”, os gêneros cinematográficos drama, comédia, aventura, suspense e as escolas cinematográficas, como o expressionismo alemão e o naturalismo hollywoodiano. Ao final de cada módulo, foi aplicado um questionário para avaliar o trabalho, além de ter sido distriuído certificados para os participantes.
Atividade aproxima a comunidade externa da Academia
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ Rua Augusto Corrêa n.1 - Belém/PA cientificoascom@ufpa.br - www.ufpa.br Tel. (91) 3201-8036
Reitor: Carlos Edilson Maneschy; Vice-Reitor: Horácio Schneider; Pró-Reitor de Administração: Edson Ortiz de Matos; Pró-Reitor de Planejamento: Erick Nelo Pedreira; Pró-Reitora de Ensino de Graduação: Marlene Rodrigues Medeiros Freitas; Pró-Reitor de Extensão: Fernando Arthur de Freitas Neves; Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação: Emmanuel Zagury Tourinho; Pró-Reitor de Desenvolvimento e Gestão de Pessoal: João Cauby de Almeida Júnior; Pró-Reitor de Relações Internacionais: Flávio Augusto Sidrim Nassar; Prefeito do Campus: Alemar Dias Rodrigues Júnior. Assessoria de Comunicação Institucional Coordenação Luiz Cezar S. dos Santos; JORNAL BEIRA DO RIO Edição: Thaís Braga; Reportagem: Helder Ferreira/Mayara Albuquerque/Paulo Henrique Gadelha/Pedro Fernandes/Rafaela Justino/Walter Pinto (561-SRT/PA); Fotografia: Alexandre Moraes/Laís Teixeira; Secretaria: Silvana Vilhena; Beira On-Line: Leandro Machado; Revisão: Júlia Lopes/ Cintia Magalhães; Arte e Diagramação: Rafaela André/Omar Fonseca; Impressão: Gráfica UFPA; Tiragem: 4 mil exemplares.
Também bolsista do “Troca de Olhares”, Filipe Alves conta sobre os depoimentos dados pelos participantes do projeto. “Tivemos uma aluna moradora dos arredores da Universidade, a qual falou que, até então, nunca tinha vindo à UFPA por acreditar ser um ambiente intelectual, onde ela iria se sentir diminuída. Ela afirmou que, depois de participar do projeto, iria começar a participar dos projetos da Universidade. Que nós lhe ensinamos a ver o cinema de outra forma. Essa retribuição é
gratificante para nós,” relata. Além da discussão dos filmes e dos minicursos, o grupo promoveu a criação de um curta mostrando os diferentes processos de desenvolvimento do projeto; um artigo, que será encaminhado para publicação e, em 2011, a coordenadora Verônica Capelo orientou a primeira monografia, a qual reuniu os temas Cinema e Filosofia, na Faculdade de Filosofia (Fafil). Os próximos passos são criar um blog do projeto, para mostrar a união entre os dois temas e informar
as atividades sobre cinema realizadas em Belém, bem como reforçar a atuação na escola, por meio da adaptação dos minicursos para os estudantes. Para a professora Verônica Capelo, o projeto auxilia na formação acadêmica dos alunos na medida em que fornece subsídios para uma compreensão dos problemas, suscitando novas perspectivas de interpretação do real e possibilitando a escolha de temáticas sintonizadas com questões atuais.
Informações: O Projeto “Troca de Olhares: As Interfaces entre Cinema e Filosofia” realiza uma a duas sessões por mês, na Escola Frei Daniel e na UFPA. As datas são divulgadas por meio de cartazes espalhados pela Universidade, pelo site da UFPA e por avisos orais nos pavilhões. Interessados podem entrar em contato pelo e-mail: trocadeolhares@yahoo. com.br, pelo Facebook do projeto www.facebook.com/trocadeolhares ou pelos telefones 8144-1653 e 8315-3126.
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BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Janeiro/ Fevereiro, 2013 –
Recursos Hídricos
Juventude
Objetivo é ouvir demandas para ajudar na construção de políticas públicas Alexandre Moraes
Histórias serão gravadas em vídeo
Faculdade de Serviço Social identificou que parte dos jovens não conhece os serviços ofertados pela Instituição
G
rande parte dos jovens universitários não tem integração com as atividades que são oferecidas pela Universidade. Desconhecem até mesmo os serviços ofertados pela Instituição, a exemplo, assistência médica, psicológica e jurídica. Visando melhorar essa relação, a Faculdade de Serviço Social da Universidade Federal do Pará (FASS/UFPA) criou o Projeto “Juventude e Universidade: do Desconhecido ao Conhecido”, elaborado e coordenado pelos professores Ari de Sousa Loureiro e Carlos Alberto Batista Maciel, do Instituto de Ciências Sociais e Aplicadas (ICSA). A iniciativa surgiu no mês de setembro do ano passado, com a disponibilização de recursos que precisavam
ser implantados na Universidade. A partir da troca de experiências, os atuais coordenadores do projeto resolveram desenvolver um trabalho em que o jovem pudesse expressar a realidade que vivencia por meio de vídeos produzidos na localidade onde estuda. “A ideia surgiu a partir de uma experiência construída. Temos diversas tecnologias disponíveis. O jovem entende de uso de recursos tecnológicos e nós queríamos tratar isso de uma forma mais técnico-pedagógica”, lembra Ari Loureiro. A intenção é capacitar, pelo menos, 160 jovens universitários de oito campi da UFPA – 20 alunos por campus – para a produção de vídeos que versem sobre a diversidade de temas que tanjam à relação juventude e universidade pública no Estado do Pará. Os municípios de Abaetetuba,
Altamira, Belém, Bragança, Breves, Castanhal, Marabá e Soure participam da ação e têm atividades previstas para janeiro deste ano. Segundo o professor Ari Loureiro, o projeto é uma experiência de desenvolvimento teórico metodológico para a formação de debate em torno de uma temática necessária para a Universidade, no âmbito da formação acadêmica. “Os trabalhos vêm com a perspectiva de começarmos a descobrir e entender a condição humana, com foco na juventude, provocando debate em torno de temáticas que são pertinentes a essa fase da vida, expor as necessidades do jovem para a universidade, as particularidades e os desafios que passam a fim de que a universidade crie políticas direcionadas para resolver os problemas”, explica.
Universitário deve se integrar ao local onde estuda Carlos Maciel ressalta que a juventude na universidade é heterogênea, de diferentes níveis culturais, políticos e ideológicos. Por isso, há a necessidade de se construir uma identidade universitária a partir da relação jovem e universidade para trazer melhorias na qualidade da educação superior. “Estamos pegando um grupo menor dentro do campus para discutir as dimensões da vida dentro da Universidade e exercer uma cidadania plena, qualidade no estudo, no ensino e na pesquisa.” O professor também defende que os campi precisam se integrar com a comunidade local. Em contrapartida, a universidade precisa estar em serviço da sociedade. “As formas de ingresso no ensino superior são
meritocráticas, o que acaba tornando a universidade um espaço que precisa ser democratizado para acesso à educação, à informação e às novas tecnologias. Para muitos jovens, ter um curso superior é um desafio. Embora a Instituição tenha projetos a serviço da sociedade, precisamos trabalhar em cima do que o jovem espera da educação universitária do amanhã”, argumenta. O projeto teve boa aceitação nos campi onde objetivam fortalecer a formação local a fim de evitar a migração do jovem para outros locais onde há campus da Universidade. “A proposta é que se crie uma dinâmica entre os alunos. O jovem tem que se sentir parte do local, precisamos estimular a territorialidade da juventude
para que eles contribuam com o crescimento do seu local de origem.” As atividades do projeto serão norteadas a partir de cinco eixos: acesso e permanência na universidade pública; ingresso da primeira geração de famílias na universidade; a vida no campus universitário; o campus e o local em que se situa e novos rumos para a juventude e a Universidade. Estão previstas oficinas de formação para o exercício de cidadania, elaboração de roteiro, filmagem, direção, edição de vídeo e elaboração de papers, além de produzir um documentário que condense as experiências desenvolvidas pelos jovens atendidos no projeto, promovendo a compreensão da Instituição sobre a relação juventude e universidade.
Por meio das oficinas, os jovens vão contar histórias sobre os desafios que enfrentam para garantir o acesso e a permanência na universidade, relatar as dificuldades no processo de entrada, a questão da primeira geração de universitários na família, o valor cultural e a importância do ensino superior. Serão debatidas estratégias que a Universidade pode adotar para fortalecer a formação acadêmica com a vida no campus. Como o aluno participa de atividades culturais dentro do campus, também será discutida a importância de um espaço recreativo, por exemplo, e como ele se organiza dentro do espaço da Universidade. “Precisamos entender como está a vida no campus universitário, estreitar laços, desvendando como é dada essa relação e pensando em novas estratégias de melhorias, porque, às vezes, os alunos não sabem sequer os serviços disponíveis para eles na universidade e o universitário precisa participar de tudo isso”, defende o professor Carlos Maciel. A primeira fase do projeto, que durou de novembro a dezembro de 2012, realizou uma oficina com os jovens para discutir sobre a cidadania e os direitos. Na segunda oficina, realizada em janeiro deste ano, eles prepararam os temas para o audiovisual. O responsável vai acompanhar os roteiros, a produção, as filmagens, e a edição dos vídeos. Ao todo, 20 pessoas, entre coordenadores, educadores, professores, secretários e estagiários, trabalham no projeto que, na fase atual, já atinge, em média, 150 jovens distribuídos em oito campi da UFPA. Os professores que atuam no projeto são voluntários. Já os jovens participantes recebem uma bolsa de R$ 496,00, além de certificação. A ação pretende alcançar, ao final da formação, 45 Vídeos Tapes Sociais (VTS) sobre a relação juventude e universidade, um documentário institucional de exposição de experiências com entrevistas de gestores, além da elaboração de dois livros com papers produzidos acerca dos VTS realizados. A intenção é usar esses produtos como recursos tecnológicos de formação de debate social. A expectativa para o futuro é ampliar e consolidar o piloto como projeto permanente na Universidade, visando ao fortalecimento da relação multicampi, além de criar uma rede de municípios e de jovens vinculados ao projeto. “A proposta é fazer com que os campi consigam dialogar com os municípios do entorno, estabelecer o diálogo desse jovem com cada campus para debater a forma de acesso à Universidade e integrar os jovens que já estão na universidade com aqueles que ainda querem entrar”, conclui Ari Loureiro.
Acidez das águas minerais comprovada
A longo prazo, o consumo pode prejudicar a saúde, com câncer e úlcera Walter Pinto
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esquisa realizada pela engenheira agrônoma Érika Ferreira Rodrigues, para obtenção do título de especialista em Gestão Ambiental pelo Núcleo de Meio Ambiente da Universidade Federal do Pará (NUMA/UFPA), constatou que os belenenses continuam consumindo águas minerais com altos níveis de acidez. O resultado das análises físico-químicas realizadas em amostras de sete diferentes marcas comercializadas na Região Metropolitana de Belém indicou que todas estão impróprias para consumo e não podem ser classificadas como águas minerais. O estudo, apresentado na forma de monografia, foi concluído em junho do ano passado. A Portaria nº 2.914, de 12 de dezembro de 2011, do Ministério da Saúde, que dispõe sobre o padrão de potabilidade das águas, recomenda que o pH (potencial hidrodinâmico) da água própria para consumo seja mantido na faixa de 6,0 a 9,5. Nenhuma das marcas analisadas no Laboratório de Recursos Hídricos do Instituto de Geociências da UFPA está dentro deste padrão. Elas variam o pH entre 3 a 4,5, o que caracteriza águas ácidas, portanto, impróprias para consumo. A análise apresentou os seguintes resultados: Belágua, 3; Top Line, 3,75; Mar Doce, 3,80; Nossa Água, 3,89; Terra Alta, 4,14; Indaiá, 4,52. Como as empresas não permitiram a coleta de águas em suas fontes, a pesquisadora realizou exames em
Laís Teixeira
Alunos falam sobre o dia a dia no campus
Rafaela Justino
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Pesquisa realizada pelo NUMA corrobora que belenenses ainda consomem águas minerais com altos níveis de acidez águas à venda nos supermercados, ou seja, examinou amostras de águas comercializadas. “Uma água precisa ter um pH acima de 6,5 para ser potável. Abaixo disso, não é água potável, podendo, inclusive, causar problemas de saúde”, adverte o professor Milton Matta, orientador do trabalho. Ele explica que as águas comercializadas em Belém são ácidas. “Essa água, sendo consumida durante dez, vinte anos,
pode causar problemas gástricos, como gastrites, úlceras e câncer de estômago, doença cuja incidência coloca o Pará em segundo, entre os Estados da Federação.” O outro aspecto apontado por Matta é que as águas analisadas não podem ser classificadas como minerais. Água mineral é aquela que, além de ter as mesmas propriedades de qualquer água de poço, de qualquer água subterrânea que se conhece,
precisa ter um parâmetro em que sobressaia. “Por exemplo, uma água mineral cálcica é a que apresenta incidência de cálcio acima do valor médio das demais águas da região. Assim, temos água mineral potássica, água mineral férrica e assim por diante”. Matta conclui, então, que as águas envasadas e comercializadas em Belém não passam de águas comuns, não podendo, sequer, ser classificadas como águas potáveis de mesa.
Produtos envasados em Belém não cumprem exigências Em 2005, a imprensa paraense deu grande divulgação ao resultado do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) do estudante de Geologia Desaix Paulo Balieiro Silva, que se propôs a comparar amostras de águas coletadas nas fontes de quatro marcas – Belágua, Nossa Água, Mar Doce e Indaiá – e compará-las com amostras das mesmas marcas coletadas em garrafões comercializados em supermercado. Desaix objetivava verificar a possibilidade de os processos físico-químicos modificarem as águas depois da retirada da fonte, envasamento
e comercialização. O resultado, porém, foi surpreendente: nenhuma das marcas poderia ser classificada como “água mineral”, mas como “água potável de mesa”. O artigo 3º do Código de Águas Minerais, do Departamento Nacional de Produção Mineral, define água potável de mesa como “de composição normal, proveniente de fonte natural ou de fonte artificialmente captada, que preencha somente as condições de potabilidade para a região”. Ou seja, não precisa ter um parâmetro em que sobressaia, basta ser própria para consumo.
A repercussão na imprensa provocou manifestação do Ministério Público do Estado (MPE), que emitiu notificação dando prazo de 120 dias para que as empresas efetuassem mudança nos rótulos, com a retirada da classificação “água mineral” e substituição por “água potável de mesa”. Em outra ação, o MPE determinou a coleta nas fontes das quatro marcas pesquisadas por Desaix e realização de análise físico-química no Instituto Evandro Chagas. Embora o prazo tenha se encerrado, as empresas não realizaram a substituição dos rótulos,
nem se conhece ainda o resultado do exame. Para agravar ainda mais o quadro, a pesquisa de Érika Ferreira Rodrigues comprovou o alto nível de acidez das sete marcas d’águas envasadas em Belém, acrescentando três outras às quatro estudadas por Desaix (Top Line, Grenagua e Terra Alta). O resultado das análises mostrou que as “águas minerais” envasadas e consumidas em Belém não cumprem, sequer, as exigências mínimas para serem classificadas como “águas potáveis de mesa”.
Observações rumam para o desenvolvimento sustentável Além de atestar os níveis de acidez, a pesquisa de Érika Ferreira Rodrigues elaborou um quadro de propostas para o desenvolvimento sustentável das empresas que produzem e comercializam águas minerais em Belém, seguindo o tripé ambiental, social e econômico. O quadro foi traçado a partir da observação em cinco das empresas, considerando que a pesquisadora não foi autorizada a visitar as que produzem as marcas Grenagua e Indaiá. De maneira geral, ela aponta a necessidade de adequação às
determinações da legislação e das instruções normativas. Seguindo as recomendações da ISO 14001, que trata do sistema de gestão ambiental, a pesquisadora constatou que as empresas visitadas fazem uso de soda cáustica no processo de lavagem dos garrafões, o que é recomendado, assim como o uso de água a 50° C. No entanto observa a ausência de monitoramento dos impactos causados pelo processo de limpeza, haja vista a água voltar para o lençol freático. Como solução, aponta para a necessidade de construção de tanques
de lavagem. Outra recomendação é adequação do sistema de ozônio ao processo de limpeza microbiológica dos garrafões, que também gera impacto na sustentabilidade do entorno. Observou também a inexistência de coleta seletiva e de reciclagem dos resíduos industriais. Na parte social, a pesquisadora constatou a falta de creches e escolas para filhos de funcionários em quase todas as empresas, assim como de salas de descanso e ambulatórios para uso dos funcionários. Na parte econômica, observou que, apesar do uso de
uniformes completos, os funcionários necessitam de promoção de cursos de capacitação para o trabalho de manipulação de alimentos, assim como para os que trabalham no entorno das empresas e fontes. Outra necessidade diz respeito à contratação de pessoal mais qualificado para o controle do processo. Em relação aos garrafões, Érika Ferreira observou que todas as empresas produzem vasilhames, mas não estão organizadas para exercício do monitoramento sobre eles depois que saem da indústria. Assim, o retorno não é garantido.
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BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Janeiro/ Fevereiro, 2013 –
Sociologia
Educação
Arte responde à ocupação da Amazônia
Grupo visa à melhoria do desempenho
Paulo Henrique Gadelha Gemaz objetiva melhorar o ensino e a aprendizagem da Matemática nos primeiros anos, principalmente, entre ribeirinhos palmente, por aprendizagens práticas repassadas de geração a geração, por meio da oralidade. De acordo com a coordenadora do Projeto, a grande dificuldade dos alunos com os conteúdos do ensino médio está relacionada ao não domínio dos conteúdos do ensino fundamental. “Os anos iniciais de escolarização são de extrema importância para a sustentação do arcabouço de conteúdos e técnicas para o desenvolvimento
das atividades matemáticas, além de caracterizar um marco das construções afetivas em relação à matéria. A educação matemática, nos anos inicias, marcará o estudante ao longo da jornada escolar. É necessário dar muita atenção para esse tema”, explica. Para a coordenadora do trabalho, torna-se possível analisar as relações entre as condições didáticas e pedagógicas das escolas ribeirinhas, a formação dos professores e o desem-
penho matemático dos estudantes e, assim, desenvolver materiais pedagógicos para o trabalho docente a partir dos resultados encontrados, além de trabalhar com a formação continuada dos professores que atuam nessas escolas. “Uma formação que prime pelo estudo conjunto e debata com os professores onde podemos contribuir e o que podemos aprender com eles diante da realidade encontrada é o nosso objetivo”, afirma Isabel Lucena.
ladas, com acesso unicamente por meio de transporte fluvial; número reduzido de alunos, muitos deles com idade acima da média esperada para o ano de curso; além da falta de recursos tecnológicos e de professores com formação adequada e efetivos. Sob outra ótica, entretanto, a professora explica que, por meio das informações geradas nas escolas ribeirinhas, possibilidades didáticas
podem emergir da riqueza cultural e ambiental da região, as quais, muitas vezes, não são consideradas pelos professores e poderiam se tornar um diferencial para o aprendizado. “No cotidiano, as crianças convivem com construções e reformas de montarias e canoas. Há uma riqueza de informações matemáticas a serem exploradas, que podem desencadear curiosidades, elaboração de problemas, uso de instrumentos e relações
entre unidades de medidas não convencionais, estudos sobre espaço, simetrias e formas geométricas, por exemplo. Ou da geografia do local, é possível construirmos maquetes representando a complexidade da organização espacial do local, indicando distâncias, posicionamentos de rios, igarapés, moradias, escolas, entre outros. Inferimos que esse tipo de estratégia didática aproxima o estudante”, afirma.
Ciência deve primar pelo raciocínio, não por decorar regras Outro objetivo do trabalho é resgatar a necessidade de um ensino-aprendizagem de Matemática respeitoso, interessante e atual, e não somente decorar regras para o futuro do estudante. A professora Isabel Lucena explica que, a maioria das vezes, a alfabetização para os professores evoca aprendizagem da Língua Portuguesa e a aprendizagem de Matemática dos anos iniciais não pode ser limitada ao domínio de regras ou escrita e leitura de algarismos. “Matemática, acima de tudo, é raciocínio. É praticamente im-
Visão fechada simplifica a cultura
Tipificados, alguns ícones, como o tacacá, transformaram-se em legítimos representantes da identidade e cultura locais
Condições de estudo divergem entre a capital e o interior A professora Isabel Lucena destaca, ainda, a lacuna existente entre o ensino na capital e no interior. No que se refere às condições do fazer a Educação Matemática nos anos iniciais, segundo o trabalho, é possível identificar especificações que não são comuns às escolas urbanas, tais como classes multisseriadas; estudantes que nunca tiveram acesso à educação infantil; escolas distantes das residências, muitas vezes, iso-
Livro aborda a busca dos intelectuais por identidade, no final do século XX Ray Nonato/ Arquivo O Liberal
S
egundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), autarquia do Ministério da Educação (MEC), os índices sobre o desempenho matemático de estudantes da Região Norte, em especial os do Estado do Pará, têm-se mostrado abaixo da média nacional. Tal fato se deve ao ensino insuficiente nos anos escolares iniciais. Com o objetivo de transformar essa realidade, o Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Matemática e Cultura Amazônica (Gemaz), do Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências e Matemáticas, vem desenvolvendo pesquisas sobre a Educação Matemática em cidades ribeirinhas no Estado do Pará. O trabalho, intitulado “Alfabetização Matemática na Amazônia Ribeirinha: condições e proposições”, é coordenado pela professora Isabel Cristina Lucena e envolve, pelo menos, 15 escolas de comunidades ribeirinhas pertencentes à área insular do município de Belém, localizadas na Ilha do Combu, Ilha Piriquitaquara, Ilha Grande, Ilha do Cotijuba, e ao município de São Domingos do Capim. Nas áreas de ilhas ou em territórios próximos às águas, as escolas, geralmente, são subunidades de uma escola principal, reconhecida como escola-sede, localizada fora do contexto ribeirinho. As escolas são classificadas como ribeirinhas por localizarem-se em comunidades ribeirinhas, caracterizadas pela cultura cabocla e por formas de conhecimentos e experiências construídas, princi-
Acervo do Pesquisador
Ensino insuficiente da Matemática nos anos iniciais prejudica os posteriores Mayara Albuquerque
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possível querer que a criança realize uma conta com interesse e discuta-a em termos matemáticos se essa conta não tiver um significado para ela. A criança até responde por decorar regras. Mas, adiante, certamente, terá dificuldades com a exigência de raciocínios elaborados para outros conteúdos matemáticos. Precisamos investir num ciclo virtuoso por meio do incentivo à criação de estratégias de pensamento e de raciocínios que produzam conhecimentos matemáticos”, explica.
Como planos para o futuro, o Grupo prevê a elaboração de DVDs didáticos e de documentários que retratem e auxiliem o trabalho docente na área da Educação Matemática para escolas ribeirinhas a partir dos resultados obtidos das análises propostas pelo Projeto, voltados, em especial, para professores que atuam em área ribeirinha. Os DVDs contarão com depoimentos, imagens, entrevistas, entre outros, sobre as potencialidades matemáticas de referência local, próprias das condições da Amazônia
ribeirinha e suas possíveis relações com a Educação Matemática desejada em âmbito nacional. A equipe pretende divulgar os DVDs em fóruns de discussão acadêmico-científica e em eventos voltados para a formação de professores de Matemática atuantes nos anos iniciais, bem como entre as Secretarias Estaduais de Educação. O objetivo é buscar apoio para a distribuição dos DVDs nas escolas da região, além da disponibilização dos DVDs em sites próprios, vinculados ao MEC.
T
ransumância de populações nordestinas e sulistas, instalações dos chamados “grandes projetos”, forte investimento de capitais. Esses foram alguns dos fenômenos vivenciados intensamente pela Amazônia contemporânea, no contexto do regime militar. Tais fatos, por conseguinte, alteraram bruscamente – inclusive de forma predatória – a realidade espacial, econômica, social, demográfica e cultural da região, conhecida, outrora, por slogans como “terra sem homens para homens sem terra” e “vazio demográfico”. Essas profundas transformações, naturalmente, desencadearam, localmente, reações de diversas naturezas. Um dos fatores reativos é discutido no livro Entre o mito e a fronteira, do professor Fábio Fonseca de Castro, da Faculdade de
Comunicação e do Programa de PósGraduação em Comunicação, Cultura e Amazônia da Universidade Federal do Pará (UFPA). No ensaio, o docente defende que uma das respostas ao processo de ocupação da região foi dada pela classe artística e intelectual de Belém. “O final do século XX foi um período de angústias identitárias, no mundo inteiro. Neste momento, o Pará, e a Amazônia como um todo, vivia uma intensa penetração do capital do Sudeste do País, o que abria novas frentes de colonização, além de outras ações de ocupação pela sociedade nacional brasileira. O objetivo do livro é analisar a reação que fora engendrada por artistas, intelectuais e produtores culturais de Belém, os quais se sentiram compelidos a reivindicar uma suposta ‘identidade amazônica’. Esse processo, abordado pela obra, repercutiu na vida social
da cidade, durante as três últimas décadas do século XX”, esclarece o professor. O título da publicação foi escolhido no sentido de propor a existência de dois polos opostos. Assim, de acordo com Fábio Castro, fronteira seria a ameaça e a efetivação de “abrasileiramento” da Amazônia, enquanto o mito, a busca por demarcação de identidades regionais. “A sensação de estar entre o mito e a fronteira seria a ideia de que ‘tudo que é sólido desmancha no ar’. O que muitas pessoas julgavam como o seu lugar social, começou a se transformar, de forma extremamente acelerada e violenta, no final do século XX, em lago de Tucuruí, em Ferrovia de Carajás, em Transamazônica. Então, ao sentiremse desprotegidas, passaram a elaborar, a definir ou a reformular matrizes culturais e identitárias”, considera o pesquisador.
Intersubjetividade segue para política e economia Um dos pontos centrais da obra diz que a resposta dada por artistas e intelectuais da capital paraense foi uma reação intersubjetiva, ou seja, a produção de um sentido coletivo, comum. Esse ideal de coletividade, de acordo com o professor, gerou uma coesão social, fenômeno no qual um grupo social partilha de uma determinada expectativa de mundo. Assim, consoante o docente, quando se falava, no final do século XX, em Belém, em identidade paraense ou amazônica, referia-se a um fenômeno de intersubjetividade que surge e parte do campo das artes. Contudo esse processo vai espraiando-se em direção a outros setores da sociedade, como a política e a economia. Como decorrência da reivindicação liderada pela geração de artistas que estiveram entre o mito e a frontei-
ra, começa a ganhar força, na época, um discurso identitário dominante, que transforma a pretendida “identidade amazônica” em um processo de tipificação. “Tipificar algo é torná-lo banal, comum, simples, compreensível por todo um grupo social”, explica Fábio Castro. Caboclo – Ao longo de Entre o mito e fronteira, o autor faz menção a elementos que, durante as décadas derradeiras do século XX, poderiam ser facilmente encontrados em livros, discos, museus e jornais, os quais simbolizavam as referências identitárias locais. Na obra escrita pelo professor, o elemento considerado mais representativo da região, para a cena cultural e intelectual de Belém da época, exemplo da tipificação da “identidade amazônica’, é o “cabo-
clo”. A canção “Esse rio é minha rua”, destacada no ensaio, ilustra isso. A música narra as vicissitudes de um caboclo que se orgulha de ser um exímio conhecedor do rio por onde navega. Assim, segundo o pesquisador, era comum – e ainda é – referir-se a caboclos e ribeirinhos como sinônimos. Para Fábio Castro, o discurso que tipifica a identidade cabocla constitui uma generalização que reduz a diversidade e a experiência social amazônica, padronizando, na mesma tipologia narrativa, populações diferentes, como os quilombolas – além de desconsiderar a diversidade de tipos sociais ribeirinhos. “Os próprios ribeirinhos possuem experiências sociais e históricas muito diferentes entre si. Então, é preciso compreendêlas na sua variedade”, pondera.
O autor do livro acredita que é necessário superar a visão extremamente fechada que, comumente, as pessoas têm da ideia de identidade, o que, segundo ele, tende à totalidade e à unicidade. A pretensa definição de uma “identidade amazônica”, colocada como um problema por artistas, intelectuais e produtores culturais de Belém, nas três últimas décadas do século XX, na tentativa de tipificar a região, não levou em consideração a pluralidade e os processos híbridos vivenciados na Amazônia. Assim, “o fenômeno que na prática existe é a identificação social, ou seja, escolhe-se, produz-se, de forma fragmentada, a própria identidade e a identidade dos outros. A rigor, do ponto de vista sociológico, é mais coerente falar em identificação do que identidade”, defende Fábio Castro. O principal referencial teórico utilizado na obra é a sociologia fenomenológica do autor austríaco Alfred Schütz, criador deste campo de estudos. Esta corrente teórica, segundo o professor, tende a fazer uma grande crítica à crença de que existe um ideal de verdade, de essência, de identidade; pensamento que atravessa toda a civilização ocidental, no qual as pessoas foram educadas e convencidas a acreditar. Para o pesquisador, no entanto, o que concretamente existe é “o estar no mundo”. Fora isso, segundo ele, é possível ter fé e querer ter um pertencimento identitário, o que se encerra no plano utópico. Assim, a “identidade amazônica”, reivindicada de forma angustiante pela classe artística e intelectual de Belém, nas décadas finais do século passado, era tão somente um discurso, uma ideia em que apenas se acreditava como verdade. “A ‘identidade amazônica’ foi tipificada. O tacacá e o açaí, por exemplo, presentes em muitas canções produzidas na região, foram transformados em legítimos representantes da identidade e da cultura local. Dessa forma, cria-se um mal estar quando alguém, de Belém ou de algumas localidades do Pará, diz que não gosta de consumir esses alimentos ou que não se sente representado por eles. O que se percebe, portanto, é um processo de simplificação de toda a complexidade cultural da Amazônia”, finaliza Fábio Castro. Serviço: Livro Entre o mito e fronteira Autor: Fábio Fonseca de Castro Locais de venda: Livraria Humânitas, Livraria da UFPA, Banca do Alvino, Ná Figueiredo, e na internet, por meio do site da Livraria Cultura. Valor: R$ 36,00
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BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Janeiro/ Fevereiro, 2013 –
Meteorologia
Fotografia
Pedro Fernandes
P
ara o povo Tenetehara-Tembé, da Terra Indígena do Alto Rio Guamá (TIARG), no nordeste do Pará, o ritual da “menina-moça” é uma festa que simboliza a passagem à vida adulta, para meninos e meninas da comunidade. A reserva indígena do povo Tembé possui 28 aldeias e está situada entre o rio Guamá, no Pará, e o rio Gurupi, na fronteira do Pará com o Maranhão. É uma terra que abrange o nordeste e o sudoeste do Pará, passando pelos municípios de Santa Luzia, Capitão Poço e Paragominas até o rio Gurupi. Diante da importância coletiva do ritual para o povo Tembé, a professora Maria José da Silva Aquino e a aluna de doutorado Vanderlúcia da Silva Ponte, ambas do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (PPGCS) da Universidade Federal do Pará (UFPA), realizaram o ensaio fotográfico “Ritual da Menina-Moça Tenetehara-Tembé: identidade, saúde e defesa do território na ação local”. O objetivo do trabalho é mostrar os aspectos simbólicos e políticos do ritual indígena. O ensaio fotográfico integra um trabalho de pesquisa (artigo científico), o qual, por sua vez, compõe a tese de doutorado, em andamento, da pesquisadora Vanderlucia Ponte. A tese tem como assunto os efeitos da política de saúde indígena em algumas aldeias do povo Tenetehara-Tembé. O trabalho está sendo desenvolvido sob a orientação dos professores Maria José da Silva Aquino e Pierre Teisserrenc. Ao longo de um ano de pesquisa de campo, convivendo com o grupo, Van-
Acervo do Pesquisador
Para o povo Tenetehara-Tembé, trata-se da passagem para a vida adulta
derlúcia Ponte assistiu a momentos do ritual da “menina-moça”, uma das festividades mais significativas para os Tembé, e fotografou-os. Segundo a pesquisadora, o ritual simboliza a passagem das jovens Tembé à vida adulta, a qual inicia com a menarca, a primeira menstruação. A cerimônia é antecedida por uma fase pré-ritual, etapa de confecção dos
adornos, de preparação dos alimentos e do ensaio das músicas e danças. “Antes do ritual propriamente dito, as meninas são isoladas do convívio social e ficam sob os cuidados das mulheres mais velhas. Durante o ritual, as lideranças, a comunidade, os pajés e as mulheres mais velhas pedem proteção aos espíritos da floresta para que as meninas se tornem mulheres
férteis e tenham boa saúde”, explica a pesquisadora. A professora Maria José Aquino acrescenta que “o ritual é um momento de preparação, durante o qual a jovem é posta em um estado equilibrado de saúde, com o intuito de bem cumprir o seu papel de ‘mulher verdadeira’, ou seja, de bem procriar, reproduzir o grupo e mantê-lo vivo.”
bém uma ação política de afirmação da cultura e da identidade Tembé. A cerimônia é retomada pelos indígenas para marcar a distinção cultural e identitária em meio a estratégias de legitimação de demandas, de reivindicação de direito, em especial, a garantia da permanência no território. “Essa manifestação festiva é um contexto favorável à afirmação da identidade cultural e da tradição do povo Tembé. Além disso, eles usam o ritual para legitimar a permanência deles naquele território, para exigir participação política, direitos sociais
e acesso aos serviços públicos de saúde”, conta a professora Maria José. Vanderlúcia Ponte diz que, além de ser uma forma do povo Tembé manter vivos o saber tradicional e o modo de vida deles, o ritual da “menina-moça” é o meio pelo qual os indígenas podem demarcar, em processos híbridos, novas estratégias, novas etiquetas, novas formas de lidar com a saúde, com a natureza e com o mundo cultural. “Eles estão situados em um território em constante mudança, que permite intercâmbios com diversos atores sociais competentes.
Nesse sentido, o ritual permite que eles aprendam, transmitam conhecimentos, atualizem saberes e práticas tradicionais e integrem ações coletivas e locais”, explica a pesquisadora. Mas, segundo Maria José, essa interação do povo Tembé com outras culturas e experiências sociais não altera o sentido do ritual da “menina-moça”, pois eles ainda preservam os valores, o modo de vida, as celebrações e as cosmologias deles. “Não houve o desaparecimento de uma cultura ‘antiga’ e o estabelecimento de uma nova cultura, ‘moderna’”, explica.
Imagem ficou entre as finalistas do Prêmio Pierre Verger Em 2012, o ensaio fotográfico foi contemplado com o Prêmio Pierre Verger de Fotografia, da Associação Brasileira de Antropologia (ABA), na categoria “Foto Etnográfica”. Entre as cinco obras indicadas à final pela Comissão Julgadora do Prêmio, o ensaio fotográfico “Ritual da Menina-Moça Tenetehara-Tembé: identidade, saúde e defesa do território na ação local” foi o segundo lugar. “Nós trabalhamos juntas na
Ideia é antecipar-se aos efeitos das chuvas ou das secas
C
Cerimônia reafirma a cultura e a identidade dos indígenas Embora seja um ritual das mulheres, os homens também participam. Eles são preparados para serem futuros guerreiros e exímios caçadores. De acordo com Vanderlúcia Ponte, a aproximação entre moças e rapazes é incentivada durante a cerimônia para que eles se conheçam. “Dessa aproximação, é possível que surja uma relação conjugal”, conta. O ensaio fotográfico mostra que o rito de passagem da “menina-moça”, além de vincular homens e mulheres, casamento e fertilidade, saúde e alimentação, corpo e xamanismo, é tam-
Eventos climáticos monitorados
Helder Ferreira
Meninos indígenas também participam do ritual da "menina-moça", o qual prepara as jovens para a procriação na aldeia
seleção e na organização do material. Enquanto selecionávamos as fotografias, nós íamos construindo o artigo e pensando na tese da Vanderlúcia, vendo quais as categorias sociológicas mais interessantes para entender a vida e a cultura do povo Tenetehara-Tembé”, conta Maria José. Segundo Vanderlúcia Ponte, o ensaio fotográfico propôs novas questões para a tese dela. “Ele provocou discussões, apontou para certos as-
suntos que precisariam ser explorados na tese”, diz. Para a professora, “é delicada a questão da fotografia no trabalho de campo, principalmente, na pesquisa de campo com experiências sociais, como a dos indígenas. Afinal, por um descuido que seja, podemos recair na exploração do exótico. E não é isso o que queremos. Queremos respeitar a diferença. Devemos partir da ideia de que eles têm os mesmos direitos que
nós, ou seja, temos de respeitá-los”, pondera a professora. Em 2012, os cinco trabalhos fizeram parte de uma exposição itinerante em sedes da Aliança Francesa no Brasil. Ademais, o ensaio fotográfico vencedor do prêmio foi apresentado em duas exposições nas aldeias do povo Tenetehara-Tembé. “Essa foi uma forma de oferecer o nosso retorno a eles”, conclui Vanderlúcia Ponte.
EM DIA
om aproximadamente cinco milhões de quilômetros quadrados, se a Região Amazônica fosse um país, seria o sexto do mundo em extensão territorial. Esta dimensão torna-se um empecilho quando o objetivo é rastrear o clima da região, principalmente, quando há poucos radares disponíveis. Este é o pensamento de Maria Aurora Mota, pesquisadora de Estudos Observacionais do Projeto "Rede de Monitoramento e Pesquisa de Fenômenos Meteorológicos Extremos na Amazônia" (Remam), desenvolvido pela Universidade Federal do Pará (UFPA), por meio da Faculdade de Meteorologia do Instituto de Geociências (Famet/IG). Partindo desse princípio, o projeto iniciado em 2007 objetiva implementar uma rede de monitoramento e pesquisa sobre fenômenos meteorológicos extremos nos Estados da Amazônia, focando, principalmente, os eventos severos de curto prazo, como tempestades convectivas, tornados, vendavais, granizo e chuva intensa, bem como eventos climatológicos de longo prazo, a exemplo de enchentes, secas e estiagens prolongadas. Atualmente, o Remam está na segunda fase. A primeira baseou-se na aquisição dos equipamentos utili-
Laís Teixeira
Ensaio registra o ritual “menina-moça”
Equipamento adquirido durante o Remam I rastreia o clima da Amazônia zados no momento. Porém há outras metas. "A de número 7 é de fundamental importância, porque, nesta etapa, faremos integração e difusão da Rede de Monitoramento, criando um centro de alerta de eventos extremos, ou seja, a integração entre os cientistas e a Defesa Civil dos Estados do Norte", aponta Maria Aurora Mota. Além dessa meta, também estão previstos a implementação do sistema de monitoramento de raios, o desenvolvimento de um sistema de alerta de tempestades severas para
hidrovias, entre outros. A UFPA participa da rede nas metas: Desenvolvimento de um Sistema de Alerta para Tempestades Elétricas Severas; Modelagem Numérica e Previsão do Tempo; Modelagem Climática; Estudos Diagnósticos Observacionais e Monitoramento, Análise e Modelagem Hidrológica. A pesquisa sobre eletricidade atmosférica, popularmente conhecida como "raios", está sob a supervisão do professor José Ricardo Souza, da Famet/UFPA.
(Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos) e Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia). Todos esses órgãos estão localizados fora da nossa região", disse. A professora cita a fase inicial do projeto como preponderante nesta nova fase de diagnóstico de clima e tempo na Amazônia. "O Remam I foi a fase do projeto em que recebemos os equipamentos necessários para fazermos o diagnóstico de clima e tempo da Amazônia. Por exemplo, adquirimos um Cluster de velocidade de, aproximadamente, 56 nós (capacidade de velocidade de informação) que armazena terabytes
de informações, permitindo um melhor diagnóstico e bastante espaço para armazenar os dados coletados. Antes, éramos dependentes das previsões de órgãos de fora do nosso território." Segundo Maria Aurora Mota, apenas Belém, Manaus e Porto Velho têm a missão de cobrir toda a Amazônia. "Por conta do tamanho imenso, nós não temos uma quantidade significativa de radares para monitoramento do clima na região. O ideal é ter centros de monitoramento em todas as capitais do Norte para termos uma cobertura próxima de 100%."
Amazônidas podem sofrer fenômenos extremos No Brasil, algumas tragédias relacionadas ao tempo ainda estão na memória da população, como a provocada pelo Furacão Catarina, nos Estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, em março de 2004, bem como as chuvas fortes que ocorreram na região serrana do Rio de Janeiro, no início de 2012 e neste ano. Segundo Maria Aurora Mota, os Estados amazônidas não estão livres de receber eventos meteorológicos extremos, porém nem todos os fenômenos ocorrem na Amazônia. "A ocorrência de furacões nos moldes dos que acontecem nos Estados Uni-
Sustentabilidade "O papel do calouro da UFPA" visa à arrecadação do material utilizado pelos estudantes aprovados no Processo Seletivo 2013. Rascunhos, cadernos, apostilas e outros papéis sem condições de reutilização serão doados às cooperativas de catadores de materiais recicláveis, por meio do Programa da Coleta Seletiva Solidária. A ação está prevista para ser realizada durante a Semana do Calouro 2013, prevista para o período de 1º a 12 de abril.
Indígena
Equipamentos criam banco com dados da região O Remam, por meio do Laboratório de Modelagem da Amazônia (Lamaz), da Faculdade de Meteorologia (Famet) da UFPA, coordenado pelo professor Paulo Afonso Fischer Kuhn, permite que qualquer pessoa tenha acesso a imagens de satélite, as quais mostram a situação do tempo na Amazônia, no Brasil e no mundo. Além da UFPA, outros institutos no Norte também fazem previsões, como o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), em Manaus. Segundo Maria Aurora Mota, em um passado recente, isso não ocorria. "Antes, as previsões eram feitas somente pelo Cptec
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dos e na América Central é algo raro na Amazônia. Entretanto outras manifestações do tempo podem ocorrer, como chuvas de grande intensidade e tornados", afirma. Ela explica que, no caso dos tornados, a possibilidade de ocorrência é maior entre outros fenômenos extremos em função de uma nuvem chamada Supercélula, que provoca chuvas intensas na Região Amazônica e tem proporções gigantescas. Ela cita um caso ocorrido na Ilha de Mosqueiro, no ano de 2011. "Muitos que estavam na praia gravaram em celular uma tromba-d’água (um tornado, mas no rio) em
uma praia em Mosqueiro. Essa é uma prova de que a Amazônia não está totalmente livre destes eventos." A professora ressalta a importância do Remam para a detecção desses fenômenos antes que, em um caso extremo, ele possa ser um risco à segurança da população. "Queremos prorrogar por mais um ano o financiamento do projeto para termos uma ação rápida tanto no diagnóstico de um evento extremo quanto no contato com a Defesa Civil dos Estados da Amazônia a fim de dirimir qualquer consequência drástica que um fenômeno climático possa proporcionar", conclui.
O professor William Dominguez, da etnia Xacriabá, adotada pelos Assurini, tomou posse, no último dia 18 de janeiro, como professor efetivo da Universidade Federal do Pará (UFPA). O docente vai ministrar a disciplina "Antropologia da Saúde" no curso de Etnodesenvolvimento, do Campus de Altamira, localizado no sudoeste do Estado do Pará. Formado em Pedagogia pela própria UFPA, William Dominguez já foi presidente do Conselho de Saúde Indígena e, atualmente, é vice-presidente.
Mestrado O Programa de Pós-Graduação em Engenharia Química aceita inscrições para a turma de mestrado 2013 até 28 de fevereiro. Devem se submeter graduados em Engenharia Química ou áreas afins, como Engenharias, Química industrial, Química, Física e Matemática. As próximas etapas são: nivelamento, análise curricular e prova escrita. Está prevista para o dia 12 de abril a divulgação do resultado final. Outras informações em http://www.ascom.ufpa.br/links/edital_qui.pdf.
Extensão No dia 28 de fevereiro, a Pró-Reitoria de Extensão (Proex) vai divulgar o resultado do Programa Institucional de Bolsas de Extensão (Pibex 2012/13). O edital prevê a contemplação de 300 bolsas no valor de R$ 400,00 cada uma, por um período de doze meses, aos estudantes de graduação. Docentes e técnico-administrativos puderam submeter propostas com o objetivo de desenvolver atividades que fortaleçam a relação universidadesociedade. Outras informações no site www.proex.ufpa.br.
Monitoria Também no dia 28, serão divulgados os professores contemplados pelo Programa de Monitoria, ofertado pela Pró-Reitoria de Graduação (Proeg). Caberá aos responsáveis pelo projeto a seleção e a indicação dos alunos bolsistas, os quais receberão ajuda de R$ 360,00 para auxiliar o docente nas atividades de ensino. Ao todo, 100 bolsas serão distribuídas. Para conferir o resultado, acesse a área restrita do site do Sistema de Projetos On-Line (http:// www.sisprol.ufpa.br).
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Meio Ambiente
Mudanças climáticas expõem vulnerabilidade da Região Metropolitana de Belém
Premiada nacionalmente, dissertação do NAEA revela que as zonas de baixada não têm estrutura para reagir à força das inundações causadas pelas chuvas
Mapa evidencia precariedade no abastecimento de água Tarso Sarraf/ Arquivo Amazônia
Exceto por Belém, os municípios da Região Metropolitana são mais vulneráveis quanto ao abastecimento de água. Porém todos carecem de rede de esgoto pluvial.
Regiões periféricas da Metrópole são as que mais sofrem com os efeitos das inundações, revela a pesquisa do NAEA a dissertação recebeu o prêmio de melhor estudo na área ambiental de 2012, da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ambiente e Sociedade (ANPPAS). Trata-se de um estudo pioneiro sobre a RMB conjugando informações a respeito de saneamento, habitação, saúde e questões sociais, que podem servir de referência para
o desenvolvimento de outros estudos ambientais, além de fornecer dados para o planejamento de ações visando à melhoria da qualidade de vida dos moradores, sobretudo no momento em que a Metrópole passa por mudanças nas administrações municipais. Entre as conclusões do estudo, a pesquisadora constatou que as regiões de baixadas da RMB
ainda não estão preparadas para receber os impactos das inundações. Observou, também, que secretarias governamentais envolvidas com a questão não dispõem de informações e de corpo funcional qualificado para o desenvolvimento de diagnósticos que subsidiem planos e medidas de adaptação aos efeitos causados por mudanças climáticas.
Inexistem projetos para minimizar impactos ambientais Por mudança climática, deve ser entendida qualquer alteração nas características do ambiente, podendo ser de magnitude, como uma chuva mais forte do que as que caem regularmente, ou de frequência, por meio do aumento do índice pluviométrico. A carência de informações acerca do grau de vulnerabilidade e a adaptação das cidades às mudanças climáticas limitam a capacidade dos governos para o desenvolvimento de ações de combate aos impactos das inundações e dos alagamentos de áreas baixas. Nestas áreas, residem grandes concentrações populacionais, geralmente, carentes de serviços básicos, como saneamento
e abastecimento de água, fatores que podem “incidir na elevação da vulnerabilidade e limitar a capacidade de resposta adaptativa da população aos impactos causados pelas mudanças climáticas.” A situação tende a se agravar caso se confirmem as projeções do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), principal referência para estudos de mudanças climáticas que, apesar de não mostrar resultados em nível local, indicam a possibilidade de ocorrências na Região Amazônica de eventos extremos, como consequência do aumento das chuvas. Segundo o IPCC, para os próximos 100 anos, a Amazônia e o
Nordeste serão as regiões mais afetadas pelas mudanças no clima, com destaque para as áreas urbanas e costeiras. É neste sentido que apontam as leituras de Glorgia Farias acerca de mapas climatológicos da RMB, do Instituto de Meteorologia, dos períodos de 1931-1960, 1961-1990 e 2000-2011. Ela observou uma tendência de aumento no volume e na intensidade das chuvas que, embora pequeno, recomenda a realização de estudos para efetivação de ações com vista à adequação das áreas de baixadas e dos moradores que nelas habitam, “afinal, tais ações não vão trazer problema algum, pelo contrário, só irão melhorar a qualidade de vida da população.”
Por ser uma questão muito nova, como explica a pesquisadora, as mudanças climáticas ainda não estão no foco dos planos e projetos políticos das secretarias de governo. O estudo constatou a inexistência de projetos específicos governamentais no Estado e nos municípios voltados para a melhor adaptação das populações aos possíveis impactos das mudanças climáticas. “Existem projetos de saneamento e de drenagem, mas eles não possuem o foco das mudanças climáticas”, diz Glorgia. “Não há um setor que estude as possibilidades de se fazer drenagem de ruas que leve em consideração os impactos causados pelas mudanças climáticas.”
Falta profissional qualificado para produzir diagnósticos A pesquisa de Glorgia de Farias nas secretarias municipais foi realizada por meio de um questionário elaborado a partir de leituras de autores que tratam de assuntos relacionados a saneamento, à habitação, à política, às mudanças climáticas, às vulnerabilidades, às áreas de riscos, entre outros. Aplicado ao corpo técnico das secretarias, o questionário constou
das seguintes perguntas: 1) Quais os aspectos que você considera mais importantes para o aumento do grau de vulnerabilidade em relação ao atual quadro de mudanças climáticas? 2) Quais projetos, planos e medidas que visam à qualidade infraestrutural das habitações, dos sistemas de saneamento e dos aspectos sociais estão sendo desenvolvidos por sua
secretaria? 3) Quais os obstáculos para implementação dessas ações? Segundo a pesquisadora, as respostas conduziram a constatações importantes, com destaque à ausência de profissionais capacitados para trabalhar com a questão mudanças climáticas e a precariedade de dados que auxiliem na formulação de projetos. Glorgia Farias observou
a interdependência dos fatores. “A falta de profissionais capacitados que associem a questão do saneamento às mudanças climáticas torna difícil a produção de dados pelas secretarias. Se os órgãos responsáveis não dispõem dessas informações, como é que poderão desenvolver projetos que estejam voltados para a questão das mudanças climáticas?”.
Apesar das dificuldades na coleta de dados, Glorgia de Farias construiu um mapa do grau de vulnerabilidade por município, o qual nos dá uma visão espacial sobre a RMB. O maior grau de vulnerabilidade em Belém registrou-se no indicador “Domicílios em assentamentos subnormais”, ou seja, em áreas de risco ou em áreas com potencial de inundação. Já para os demais municípios, a vulnerabilidade é maior no quesito “Abastecimento por rede geral de água”, indicando aos gestores que a questão da água merece maior atenção. Outro elevado índice registrou-se no indicador “Habitações atendidas por rede geral de esgoto pluvial” para todas as cidades da RMB, incluindo Belém. Marituba é o município de maior índice de vulnerabilidade no
indicador “Saneamento e Habitação”, o mesmo se verificando quando este indicador é mesclado a outro, o “Social”, evidenciando as condições precárias de vida dos moradores das zonas de baixadas daquela cidade. Adaptação - Em relação à vertente “Adaptação”, a pesquisadora, ao constatar que o planejamento urbano das secretarias municipais não se pauta pela questão das mudanças climáticas, decidiu trabalhar com os projetos existentes, envolvendo habitações populares, remanejamento de pessoal e saneamento, os quais, de alguma forma, contribuem para melhorar a qualidade de vida dos moradores ou, na linguagem acadêmica, melhorar a adaptação. Entre os projetos em desenvolvimento, a maioria
deles relacionados ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do governo federal, alguns se encontram paralisados, por exemplo, o Conjunto Jardim Juruti, em Benevides, que, apesar de concluído, não foi entregue à moradia porque a água do poço possui alto teor de ferro. Em Belém, a principal cidade da RMB, a rede de esgoto atende a apenas 6% da população. O abastecimento de água, também reduzido, encontra-se em fase de ampliação para os conjuntos Jardim Sideral e Cordeiro de Farias. Em Santa Izabel e Benevides, há projetos de expansão dos sistemas de abastecimento de água e esgoto. Outro projeto financiado pelo PAC é o de eliminação das baixadas por meio de ocupação das áreas
inundáveis, via macrodrenagem. Com essa finalidade, estão em execução obras de urbanização integrada nas áreas do Riacho Doce, do Pantanal, do Mangueirão, do Igarapé Taboquinha, das comunidades da Pratinha, Fé em Deus, da Bacia do Paracuri, do Portal da Amazônia, da Vila da Barca e da Estrada Nova, todas voltadas à eliminação de problemas advindos das inundações. A pesquisadora observa que as secretarias municipais buscam remediar os problemas de obstrução de bueiros e canais causados pela deposição inadequada de resíduos. Ela atribui esta prática muito difundida entre moradores ao descumprimento de normas e de horários, por parte dos responsáveis pela coleta de resíduos.
Instituições públicas e privadas precisam trabalhar juntas Na conclusão do estudo, Glorgia de Farias sugere que sejam desenvolvidos planos integrados de adaptação entre os municípios que compõem a RMB, “de modo que se faça cumprir a ideia da existência de uma região metropolitana, de fato.” No entanto ela ressalta a necessidade de dotar as ações de um olhar mais técnico e crítico, cujo foco consiga associar o aspecto social à questão ambiental. “Por que não inserir nestes projetos a questão da adequação às mudanças climáticas?”, indaga. “É preciso que as instituições públicas e privadas consigam entender melhor de que forma estas mudanças climáticas globais podem interferir no plano local.” Segundo ela, há uma tendência em achar que os problemas causados por mudanças globais só acontecem em outros continentes, como a Europa e a Ásia. E, se viessem a acontecer na Amazônia, seria algo vivenciado por gerações muito posteriores. “Na verdade, nós já
Laís Teixeira
A
Região Metropolitana de Belém (RMB) apresenta uma geografia caracterizada pela presença de cursos d’água e alta incidência de chuvas diárias, particularmente, de janeiro a abril. A combinação dos fatores maré alta e chuva contribui para a ocorrência de inundações periódicas em áreas baixas, formada por terrenos abaixo da cota 4 m, onde reside grande parte dos dois milhões de habitantes da região. A situação tende a se agravar em função de mudanças climáticas, por exemplo, o aumento no índice pluviométrico e a ocorrência de chuvas mais fortes. Para analisar o grau de vulnerabilidade dos moradores aos riscos causados pelas inundações e auferir até que ponto os governos federal, estadual e municipais tomam medidas com vistas a preparar as áreas afetadas para enfrentar os possíveis impactos decorrentes de mudanças climáticas, a cientista ambiental Glorgia Barbosa de Lima de Farias realizou estudo nas zonas urbanas de Belém, Ananindeua, Marituba, Benevides e Santa Izabel do Pará. O estudo “Cidades, Vulnerabilidades e Adaptação às Mudanças Climáticas: um Estudo na Região Metropolitana de Belém”, orientado pelo professor Claudio Szlafsztein, valeu à Glorgia Farias o título de Mestre em Planejamento do Desenvolvimento pelo Núcleo de Altos Estudos Amazônicos, da Universidade Federal do Pará (NAEA/UFPA). Recentemente,
Laís Teixeira
Walter Pinto
Aviso é que os governos se preparem para lidar com as mudanças climáticas
estamos vivenciando isso, mesmo que não seja num nível drástico”, observa. O estudo de Glorgia mostra que se, em nível local, é possível visualizar algumas ações voltadas à melhoria das condições de vida nas zonas mais afeitas aos problemas de inundações, há muito a ser feito com vista ao enfrentamento de problemas de maior magnitude que advirão com as mudanças climáticas. Segundo ela, grande parte dos autores estudados na pesquisa é unânime em afirmar que as mudanças serão inevitáveis. “Como se trata de algo que vai acontecer mesmo, a gente precisa se preparar para lidar com as consequências”, avalia. Neste sentido, o papel dos gestores será dotar as secretarias de pessoal técnico qualificado e destinar investimentos ao planejamento em infraestrutura e em qualidade de vida, preparando a população e as cidades para a carga que virá. Ou, então, continuar mitigando os impactos por meios de ações desconexas e pontuais.