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12 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Janeiro/ Fevereiro, 2013
Fotos Laís Teixeira
Entrevista JORNAL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ • ANO XXVII • N. 110 • Janeiro/ Fevereiro, 2013
Fotografia
Ritual marca a passagem para a vida adulta
Laís Teixeira
Belém vulnerável a inundações Pesquisadora registra a cerimônia da "menina-moça", dos TeneteharaTembé, da Terra Indígena do Alto Rio Guamá (TIARG). Página 8.
Recursos Hídricos
Walter Pinto
A
lém de propiciar a circulação de informações que, geralmente, escapam às pautas da grande imprensa por meio das redes sociais, a internet pode estar determinando, praticamente, a morte da reportagem mais aprofundada em função do interesse do leitor por informação em tempo real. Essa é uma das observações da jornalista Christa Berger, professora do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), no Rio Grande do Sul (RS). A pesquisadora proferiu a palestra de abertura do 2º Encontro Regional Norte de História da Mídia, realizado na Universidade Federal do Pará (UFPA), de 12 a 13 de novembro de 2012. Beira do Rio – A chamada democratização dos meios de comunicação é possível no Brasil? Crista Berger – Este é um processo que está em curso apesar dos obstáculos que surgem ao longo do caminho. Um destes é o fato de os grupos de comunicação estarem concentrados em mãos de famílias. Esses grupos dominam os meios e elegem políticos nos Estados e nacionalmente. Então, é uma dificuldade dupla, porque aquilo que se pretende passar no Congresso Nacional encontra justamente a intervenção dos políticos, porque eles são os donos ou comprometidos com os donos das mídias. Então, temos um cenário muito pouco possibilitador desta democratização. Eu considero que o caminho para se fazer esse processo de democratização é por meio de políticas públicas. Mas, se temos o Conselho Nacional de Educação, o Conselho Nacional de Saúde, o Conselho Nacional de Mulheres, por que não conseguimos formar o Conselho Nacional de Comunicação? É nele o lugar onde deve germinar os projetos de políticas públicas de comunicação. Atualmente, o que existe são normas de concentração não cumpridas. As concessões, por exemplo, precisam ser revistas. Temos um problema diferente do dos outros setores: a mídia não cobre os problemas da mídia. Nunca vamos encontrar, na imprensa, abordagens sobre questões da imprensa. Os jornais até fazem a cobertura dos problemas da saúde, da cultura, da política, mas não fazem de si. E a nossa im-
prensa alternativa, que podia fazer isso, está muito subsumida, até porque todo o esforço foi para que ela não assumisse um lugar de exposição de ideias que não referendem a concentração. Então este é um longo processo que está em curso, mas os resultados ainda são pequenos. Beira do Rio – Os grandes grupos de comunicação se opõem ao Conselho Nacional de Comunicação sob a justificativa de que ele pode limitar a liberdade de imprensa por meio do exercício da censura. O que a senhora pensa sobre essa justificativa? Christa Berger – Essa é a justificativa ideológica dos grandes grupos. O que esses grupos fazem é nos censurar, censurar as vozes ativas, as vozes discordantes, a opinião que não venha ao seu encontro. Nós já vivemos essa censura. Então, o que a gente pensa com estes Conselhos, nacional e estaduais, é que eles possam estabelecer determinados controles públicos, não censura, mas controle público dos excessos. Então, eles funcionariam como lugares onde esses excessos possam ser questionados, criticados. Não temos ainda um modelo. Temos que pensar muito bem quem serão os representantes da sociedade nesses Conselhos para que eles possam, efetivamente, funcionar como uma fonte de conversação com os grupos de comunicação e não deixá-los que continuem como estão. Beira do Rio – É possível dizer que, no contexto atual, a internet se tornou a experiência mais próxima de democratização da informação? Christa Berger – Estamos vivendo um momento bastante particular. As redes sociais têm propiciado que circulem informações, às quais não tínhamos acesso antes. O problema é que não podemos comparar o jornalismo com a circulação de informações pelas redes. O jornalismo é uma modalidade de produção de informação que tem critérios de noticiabilidade, que tem pautas, que tem conselhos, que tem jornalistas escrevendo notícias. Então, o jornalismo não pode ser substituído pela informação circulante nas redes sociais, ainda que as redes sejam muito importantes por nos darem acesso, mas precisamos deste lugar que o jornalismo deve ocupar na sociedade, que
é fazer a mediação legitimada, digamos, deste reconhecimento do presente. Beira do Rio – De que forma a internet está influenciando o fazer jornalístico atual? Christa Berger – Por meio de coberturas mais ágeis, em cima dos acontecimentos. Isso é positivo e negativo, simultaneamente. Se a internet nos permite acesso à informação em cima dos fatos, falta, no entanto, o tempo da cobertura. Então, a reportagem, que é o lugar do jornalismo se fazer, pode estar praticamente morrendo em função de que os leitores buscam, pela própria lógica da internet, de mais informação em cima do que acaba de acontecer. Isso gera problemas de cobertura, de credibilidade, de aprofundamento, coisas que a internet ainda não permite, ainda que cumpra muito bem o papel de nos informar em cima do fato. Beira do Rio – Recentemente, o Congresso Nacional instituiu a não obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão de jornalista. A senhora acha que essa decisão pode, de alguma forma, influir na qualidade do jornalismo? Christa Berger – Eu defendo o diploma porque estou na universidade e porque vejo a questão como uma disputa corporativa e assumo que seja assim. Os donos dos grandes jornais, e não é por nada que a Folha de São Paulo organiza essa luta, têm interesses em contratar aqueles que produzem dentro da visão de mundo dos jornais. Então, o diploma é uma questão de disputa política também. Se eu pensasse no mundo ideal, diria que não precisaria de diploma, porque o jornalista, em grande parte, se forma na prática mesmo. Ele pode ter uma visão sensível do mundo, saber escrever e aprender com a rotina produtiva do jornal. Não seria preciso quatro anos para fazer isso. Mas os jornais não estão preocupados em contratar essas pessoas sensíveis. Além disso, não se deve ignorar que há constrangimentos organizacionais nas rotinas dos jornais para o enquadramento profissional. Então, se a universidade pode fazer, junto com a aprendizagem prática, a crítica do jornalismo, a partir de visão ética e humanista, é possível garantir que alguns profissionais irão para as redações menos afeitos a serem enquadrados pelas rotinas e pelos constrangimentos organizacionais.
Pesquisa revela que os líquidos contêm altos níveis de acidez e não podem, sequer, ser classificados como minerais. Página 3. Governos não contemplam as mudanças climáticas. O resultado são os alagamentos nas regiões de baixada da Metrópole.
D
issertação desenvolvida no Núcleo de Altos Estudos Amazônicos da Universidade Federal do Pará (NAEA/UFPA) aponta que as zonas periféricas da Região Metropolitana de Belém estão sujeitas a alagamentos em função da forte incidência de chuvas aliada a fatores, como maré alta e precária rede de saneamento. O estudo também revela que as secretarias municipais não dispõem de profissionais
qualificados para lidar com o problema, tampouco têm informações técnicas para planejar ações a longo prazo. Autora do trabalho, a cientista ambiental Glórgia Barbosa de Lima de Farias foi premiada com o título de melhor estudo na área ambiental de 2012, da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ambiente e Sociedade (ANPPAS). A orientação, do professor Claudio Szlafsztein. Páginas 6 e 7.
Meteorologia
"Remam" monitora os fenômenos atmosféricos
Grande Belém bebe água ácida
Entrevista Christa Berger, da Unisinos, avalia o jornalismo e a internet. Página 12.
Juventude
Projeto interinstitucional, do qual a Faculdade de Meteorologia do Instituto de Geociências (Famet/IG) faz
parte, rastreia eventos meteorológicos na Amazônia, com o objetivo de se prevenir contra os efeitos. Página 5.
Arquivo O Liberal
Pesquisadora defende mediação legitimada contra a soberania da internet
Laís Teixeira
Redes sociais podem findar a reportagem
Águas vendidas na Metrópole são impróprias
Dilemas enfrentados pelos jovens em oito campi serão registrados em vídeo e podem auxiliar a construção de políticas públicas. Página 10.
Extensão
História na Charge
Filosofia alia-se ao cinema para refletir ideias
Compra de escravos motiva ilustração de Walter Pinto. Página 2.
Opinião Sérgio Malcher comenta as transformações na fotografia. Página 2.
Alunos expõem o dia a dia na Universidade
Radares atentam para os eventos meteorológicos, a exemplo de chuvas fortes
"Troca de Olhares" exibe filmes a fim de despertar o senso crítico dos espectadores quanto a questões socioculturais. Página 11.