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12 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Março/ Abril, 2013

Fotos Laís Teixeira

Entrevista JORNAL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ • ANO XXVII • N. 111 • Março/ Abril, 2013

E

Thaís Mendonça

A

Física é uma ciência com base experimental que investiga a natureza. Segundo o coordenador do Programa de Pós-Graduação em Física (PPGF) da Universidade Federal do Pará (UFPA), Luís Carlos Bassalo Crispino, para desenvolver a ciência teórica, o custo normalmente não é tão alto. A ciência experimental, capaz de desenvolver pesquisas para melhorar diretamente a qualidade de vida das pessoas, no entanto, demanda um pouco mais: equipamentos e tecnologia de ponta. Em 2011, foi aprovada a instalação de uma subunidade, no Pará, do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), órgão do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). A medida, além de corroborar o fortalecimento da Física Experimental, une esforços aos do PPGF, que sedia o primeiro curso de Doutorado em Física da Região Amazônica. Em princípio, as atividades do CBPF seriam desenvolvidas dentro de um espaço na própria UFPA. Porém a efetivação da descentralização do CBPF caminha a passos lentos. Beira do Rio – No ano de 2011, foi aprovada a implantação de uma unidade do CBPF no Pará. O que falta, de fato, para a instalação desta unidade? Luís Carlos Crispino – De fato, houve a aprovação da implantação de uma unidade do CBPF no Pará pelo Conselho Técnico-Científico daquela instituição. Além disso, esta implantação consta como um dos três projetos estruturantes do Plano Diretor do CBPF para o período 20112015. Porém, na prática, ainda restam alguns trâmites burocráticos a serem realizados. Existe uma sinalização positiva de várias instâncias do MCTI, do governo do Estado do Pará, do Senado e, principalmente, da administração superior da UFPA, mas ainda aguardamos a oficialização do processo pelo governo federal, pois toda instalação de uma unidade do MCTI requer orçamento para a construção de prédios, contratação de pessoal, funções gratificadas, entre outros. Ou é feito desta forma, ou devem ser realocados recursos e vagas de servidores que já estão, previamente, em algum lugar. Mas isso tem que estar previsto

no orçamento da União. Quando nós começamos a discussão sobre o assunto, há mais de três anos, era um excelente momento para a ciência e tecnologia nacionais. Hoje, a configuração é um pouco diferente, pois tivemos cortes orçamentários no MCTI que vêm se reproduzindo, sucessivamente, ao longo dos anos. Da ideia inicial até hoje, esses cortes têm feito com que essa proposta caminhe lentamente. Propusemos, então, a cessão de um espaço da UFPA para que essa unidade começasse a funcionar e, depois, ele teria uma base própria. Nesse primeiro momento, haveria custo praticamente zero para o MCTI. Nos anos seguintes, haveria o desembolso de recursos pelo Ministério. Beira do Rio – Ainda que a instalação, de fato, não tenha ocorrido até então, as relações da UFPA com o CBPF continuam estreitas? Luís Carlos Crispino – Sim. Por exemplo, há um convênio de cooperação institucional entre CBPF e UFPA, por meio do PPGF, assinado em 2010. Promovemos um evento de formação do CBPF aqui, no Pará (a primeira das tradicionais Escolas do CBPF realizada fora do Rio de Janeiro), com mais de 500 inscritos, cuja programação era composta de minicursos, conferências, workshops, palestras, oficinas, entre outros. Estão em andamento Programas de Cooperação Acadêmica, chamados Procads, financiados pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), que envolvem CBPF e UFPA. Estes Procads preveem alocação de recursos para despesas gerais e também para passagens e diárias, tanto para a ida de pesquisadores da UFPA para o CBPF, quanto para a vinda de pessoal do CBPF para a UFPA, o que tem acontecido com frequência.Recentemente, também aprovamos um projeto que prevê recursos da ordem de R$ 4 milhões para a compra de equipamentos de ponta e realizamos programas de cooperação acadêmica com instituições estrangeiras. É importante destacar que, embora a instalação de uma unidade do CBPF no Pará seja importante, mais significativo é o próprio momento que estamos vivendo. Independente da instalação do Centro, a qualidade das pesquisas que estão sendo desenvolvidas aqui é significativa e isso é o fundamental. Dentro de um

ano, teremos a formação dos primeiros doutores pelo PPGF. Beira do Rio – Como o investimento em Física Experimental pode beneficiar os pesquisadores e a vida da população? Luís Carlos Crispino – A Física Teórica é de menor custo, pois precisa, grosso modo, de lápis, papel e cérebros. O custo operacional é, basicamente, o de computadores de alto desempenho, uma boa conexão com a internet e a assinatura de revistas científicas de alto nível. Mas a necessidade maior para o desenvolvimento científico, tecnológico e de inovação de um país é a ciência aplicada. O desenvolvimento desta vai beneficiar, direta ou indiretamente, o dia a dia das pessoas. É preciso dar um salto tecnológico com ciência experimental de ponta e isso só vai acontecer com muito investimento em equipamentos, em qualificação de pessoal experimental. Para tanto, precisamos de quantidades razoáveis de recursos. A vinda do CBPF para o Estado do Pará está associada ao planejamento estratégico do PPGF/UFPA, pois o salto do mestrado para o doutorado é grande. O mestre é um profissional qualificado, mas ainda não habilitado a orientar pesquisas científicas, já que o mestrado é normalmente associado a uma carreia ligada à docência, à licenciatura, à formação/instrução de jovens, e não, necessariamente, a pessoas capazes de produzir ciência nova. Um curso de doutorado é capaz de formar profissionais capacitados para o planejamento e desenvolvimento de pesquisa, ciência, tecnologia, que leva à inovação. Para a formação de doutores na área teórica, não são imprescindíveis tantos recursos financeiros. Na área experimental, é necessário maior investimento econômico – precisamos de infraestrutura adequada ao desenvolvimento dessa área, equipamentos de altíssima qualidade e de última geração. Não adianta termos somente equipamentos iguais aos de outras universidades e centros de pesquisa, porque os resultados serão iguais aos que centenas de grupos têm. Para sermos mais competitivos, é importante termos equipamentos de ponta para produzir resultados verdadeiramente inovadores e de maior valor para o momento que vivemos.

Caiena, capital da Guiana Francesa, chama atenção dos migrantes brasileiros por proporcionar melhor qualidade de vida

Genética

Artes Visuais

Mostra revela interpretações sobre a região Museu da UFPA sedia a Exposição "Amazônia, Lugar da Experiência", que difunde reflexões e diálogos de artistas engajados. Página 10.

História

Pesquisadores investigam a variabilidade do DNA Coordenado pelo professor Sidney Santos, o Laboratório de Genética Humana e Médica (LGHM) da UFPA

capacita peritos forenses desde 2005 e desenvolve técnicas úteis para as polícias técnicas do país. Página 10.

Laís Teixeira

Instalação da unidade do CBPF no Estado do Pará ainda não foi concluída

Acervo do Projeto

Descentralização caminha a passos lentos

m busca de melhores condições de vida, brasileiros arriscam-se na travessia, às vezes, clandestina para a Guiana Francesa. Lá, geralmente, ocupam os postos de trabalho da construção civil. A renda obtida no país estrangeiro serve para sustentar a família que ficou do outro lado da fronteira, em Oiapoque, no Amapá. O fluxo migratório, aliás, leva não apenas as pessoas e as mercadorias, mas também a cultura. Uma vez na Guiana Francesa, os migrantes fazem de tudo para conseguir a legalidade : alguns se casam com cidadãos franceses ou assumem filhos de franceses para obter os documentos de moradia. Essas são algumas constatações que Rosiane Martins, doutoranda em Ciências Sociais da Universidade Federal do Pará (UFPA), evidenciou ao realizar pesquisa em Caiena, capital da Guiana Francesa. A pesquisa constatou, também, que a naturalidade dos que se arriscam na travessia é variada. Eles vêm do Amapá, Pará e Maranhão. Páginas 6 e 7.

Acervo do Pesquisador

Guiana Francesa atrai migrantes

Estudo aborda o suicídio na Belle Époque Dissertação aponta as motivações e as variedades das mortes, assim como a apropriação pelos jornais para fins diversos. Página 3.

Literatura

Projeto atiça o prazer de ler e o senso crítico LGHM é um dos maiores centros de formação de peritos forenses do Brasil

Entrevista

Obras ficam expostas no MUFPA

Professor Luís Carlos Crispino destaca os avanços do Programa de Pós-Graduação em Física. Página 12.

SAPLI contribui para a formação dos estudantes de Letras e apresenta propostas de aprendizagem aos alunos da rede pública. Página 8.

Opinião

História na Charge

Homero Corrêa reflete sobre os desafios da educação ambiental no âmbito da Universidade. Página 2.

Tragédia do Brigue Palhaço é tema da ilustração de Walter Pinto nesta edição do Beira do Rio. Página 2.


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