Beira 70

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12 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Março, 2009

Entrevista

Jornalismo especializado em História é filão no mercado editorial

JORNAL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ • ANO VII • N. 70 • Março, 2009

Mácio Ferreira

UFPA nas ondas da Rádio Web

Texto narrativo é ferramenta para atrair público amplo e heterogêneo

de um modo extraordinário, para a difusão das pesquisas dos historiadores. Temas, até há pouco tempo, só acessíveis a especialistas, hoje, impressionam multidões, como, por exemplo, a inacreditável entrega de Olga Prestes, grávida, pelo governo de Getúlio Vargas aos nazistas alemães. Como o jornalismo democratiza o acesso a conhecimentos acadêmicos, parece-me que ele também dá uma nova dimensão à importância social do pesquisador de História.

inclusive, os dois primeiros prédios elevados de Belém – o Piedade e o Renascença, ambos na Praça da República – que deram início ao processo de crescimento vertical da cidade. Guardo, com ciúmes, as fitas com essas gravações, enquanto aguardo uma oportunidade para usá-las em outro livro.

BR - Na sua opinião, existe, em Belém, espaço de trabalho profissional para jornalistas que queiram ser pesquisadores e escritores? BR - Como jornaOC - Acredito que lista, o senhor teve exista, afinal, foi como alguma grande satisjornalista-pesquisador fação ao pesquisar o que o professor Abípassado da Engenhalio Cruz, diretor do ria na Amazônia? então Centro TecnoO C - Ti v e e t e n h o lógico da UFPA, me grandes satisfações. convidou, em 1992, Suponho que valha a a reconstituir o paspena mencionar algusado dos construtomas para que outras res do Pará. Foi na pessoas que gostem mesma condição que de escrever se sintam o colegiado da Facul“O jornalismo motivadas a ingressar dade de Engenharia no espaço da criação Civil me convidou, contribui para de narrativas não-ficdepois, a assumir duas cionais, sustentadas disciplinas do bloco a difusão das por longas pesquisas, de Formação Geral pesquisas dos no qual me situo hoje. – uma ligada à idenComo, por exemplo, a tidade socio-cultural historiadores” satisfação de penetrar do engenheiro civil na através da documentaAmazônia, outra ligação vasta e rica, guarda às dificuldades de dada no nosso Arquivo Público, na expressão verbal dos seus alunos. realidade sócio-econômico-cultural Foi como jornalista-pesquisador do Pará colonial, num momento que pude publicar, em Belém, três em que o Estado era gigantesco, livros sobre os nossos construtores pois abarcava o atual Amazonas e antigos, um livro sobre o ator Claúoutros Estados menores, e se consdio Barradas e outro, sobre o Golpe tituía numa unidade administrativa Militar no Pará. Esta condição de independente do Brasil, dentro do jornalista-pesquisador me lançou reino português. Essa aventura innuma nova área de atividades, a telectual me possibilitou escrever da Expressão Verbal, em que atuo um livro sobre um momento descocomo professor e escritor. Além nhecido do passado da Amazônia, disto, lembro-me, imediatamente, assim como uma longa reportagem de outro jornalista-pesquisador, veiculada no jornal O Estado de Carlos Rocque, que produziu liSão Paulo. Outra satisfação foi a vros indispensáveis a quem estuda de poder registrar mais de vinte temas ligados a Antônio Lemos e a horas de depoimentos de um grande Magalhães Barata, e mais de duas construtor paraense, Judah Levy, grandes enciclopédias de cultura antes de sua morte. Judah construiu, amazônica.

Mídia

Propagandas banalizam corpo feminino Anúncios proclamam a perfeição como uma necessidade, desconsiderando a diversidade regional e a miscigenação brasileira. Pág. 4

Observatório Mácio Ferreira

Beira do Rio - O que distingue por exemplo, temos, pelo menos, a pesquisa de um jornalista, no dois historiadores estilistas – o campo da História, da pesquisa Geraldo Coelho e o Aldrin Moura de um historiador? – capazes de oferecer a seus leitores Oswaldo Coimbra - Em princípio, algo buscado com obsessão pelos é o compromisso do jornalista com jornalistas: o prazer da leitura. a comunicabilidade. Quando colhe dados para um texto seu, em docuBR - Que consequências terá, mentos antigos ou numa entrevista, para o jornalismo, a absorção o jornalista tem sempre em vista de longas pesquisas do campo da o produto que pode gerar através História, notada hoje no Brasil? do seu trabalho com a linguagem OC -Uma consequência óbvia é a verbal, isto é, a confecção de um desmoralização de um argumento texto claro, preciso e atraente porcom o qual, comumente, alguns teque ele escreve para um público óricos da comunicação justificavam amplo e heterogêneo. Ele, portanto, o atual empobrecimento dos textos é movido por preocupações que são veiculados por nossos jornais, de próprias do caráter político do seu que os leitores não dispõem de ofício, voltado para a “pólis”, a tempo para leituras mais aprofuncidade. O historiador, naturalmendadas. Se esse fosse um argumento te, tem outras preocupações. Essa consistente, como se poderia exdiferença entre esses plicar o crescimento dois pesquisadores se do mercado editorial manifesta frequentesustentado por jormente pela forma de nalistas que fazem estruturação de seus pesquisas no campo textos. Um jornalista da História? Lembretenderá, sempre, para mos, para citar apenas a estrutura narrativa, brasileiros, Fernando que nos é familiar porMoraes, Ruy Castro e que convivemos com Jorge Caldeira, entre ela desde a infância, outros. No entanto quando ouvíamos as a consequência que historinhas contadas mais animadora “Quando colhe julgo pelos adultos, enquané o florescimento de to ao historiador pareuma área da produção dados, o jorce mais conveniente a cultural brasileira, nalista tem em estrutura dissertativa, aquela que alimenta própria da vida acaas edições de revistas vista o produto dêmica. e de DVDs com o jorque pode gerar” nalismo especializado BR - Por quê? em História. OC - Acredito que o historiador precisa BR - Essa invasão de demonstrar teses. Ele escreve, jornalistas num campo até recensobretudo, para seus pares. Isso, temente reservado somente para no entanto, não impede que alguns historiadores causa ciúmes? poucos historiadores sejam também OC - Possivelmente. Entretanto é talentosos escritores. Em Belém, inegável que o jornalismo contribui,

“Como perquisador, publiquei três livros sobre nossos antigos construtores”

Programação definitiva irá ampliar a divulgação científica e debater questões de interesse da sociedade

Masculinidade

Pesquisa

Projeto discute formas de prevenção à violência Considerar a subjetividade masculina pode ser assencial no trabalho de prevenção à violência doméstica. A

professora Adelma Pimentel afirma que os papéis sociais tradicionais reforçam a desigualdade. Pág. 8

Mulheres ainda buscam o grande amor

Pág. 3

Mônica: iniciativas ainda são tímidas

Coluna do Reitor Alex Fiúza de Mello escreve sobre a cooperação internacional na UFPA. Pág. 2

Opinião Theodomiro Gama Júnior fala sobre o reflorestamento no Igarapé Castanhal. Pág. 2

Entrevista O professor Oswaldo Coimbra discute novo filão no mercado editorial. Pág. 12

Alexandre Moraes

Jornalista, pesquisador e escritor. O professor Oswaldo Coimbra é, na verdade, um desbravador de novos campos de atuação que tenham como ferramenta a linguagem escrita ou oral. Responsável pelo Grupo de Memória da Engenharia, da Faculdade de Engenharia Civil da Universidade Federal do Pará, Coimbra já publicou cinco livros como resultado das suas pesquisas sobre a saga da Engenharia na Amazônia. Recentemente, editou “Cidade Velha, Cidade Viva”, em parceria com a Associação Cidade Velha, que reuniu artigos sobre o bairro mais antigo de Belém. Nesta entrevista ao JORNAL BEIRA DO RIO, Coimbra abre o debate sobre a atuação do jornalista como pesquisador e escritor, fala do crescimento do jornalismo especializado em História – cada vez mais presente nas bancas de revistas e situa o mercado paraense nesse novo filão para os profissionais que querem ir além das redações.

Fotos Alexandre Moraes

Rosyane Rodrigues

A

Universidade Federal do Pará acaba de ganhar mais um veículo de divulgação científica. Idealizado pela professora Luciana Miranda Costa, o projeto da primeira rádio universitária da UFPA foi desenvolvido com o apoio de alunos e professores da Faculdade de Comunicação. A programação definitiva estará no ar a partir de maio, ampliando a divulgação do conhecimento produzido pela Universidade e propondo um amplo e democrático debate sobre questões de interesse da comunidade acadêmica e da sociedade. O veículo também surge como um importante instrumento de formação profissional e espaço de ensino e pesquisa. Atualmente, professores, alunos e voluntários são responsáveis pela programação. Pág. 11

Lei Maria da Penha sob vigilância

Págs. 6 e 7


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