Beira 72

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12 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Maio, 2009

Entrevista

O Centro de Memória está de portas abertas

JORNAL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ • ANO VII • N. 72 • Maio, 2009

UFPA investe no ensino básico

N

Travessa Rui Barbosa, n. 491, bairro do Reduto, Belém, Pará. Esse é o endereço onde está guardado um tesouro que interessa a todos nós. Amontoadas em pacotes e amarradas com barbantes, pouco a pouco, estão sendo organizadas, catalogadas e ordenadas para consulta as 35 toneladas de papel, vindas do arquivo do Tribunal de Justiça do Estado (TJE). São processos cíveis e criminais que datam do século XVIII até 1970 e trazem a história de Belém contada, não pelos grandes nomes, mas pelos anônimos que fizeram o dia a dia da cidade. Estamos falando do Centro de Memória da Amazônia. Criado, há dois anos, por meio de parceria da Universidade Federal do Pará com o TJE, o Centro está instalado no prédio que já abrigou a Gráfica Universitária. Longe de ser um depositário de papel, ao andar pelos seus corredores, veem-se pessoas apaixonadas pelo que fazem: servidores, bolsistas, dirigentes, todos estão ali como guardiões da memória. Em entrevista ao JORNAL BEIRA DO RIO, o professor Otaviano Júnior, atual diretor do CMA, faz um balanço desses dois anos de trabalho e fala do que ainda está por vir. Beira do Rio – Qual o balanço após dois anos de existência do Centro de Memória da Amazônia? Otaviano Júnior – O balanço é muito positivo. Desde que o Centro de Memória foi criado, nós temos recebido apoio do motorista ao reitor, cada um ajuda do jeito que pode. Nós já organizamos 70% da documentação que recebemos inicialmente. Esse material serviu de fonte para 800 pesquisadores locais. Nosso site está há dois meses no ar, já teve 2.500 acessos e foi indicado como um dos sites interessantes na área da educação. Os nossos bolsistas estão tendo uma formação diferenciada porque eles não trabalham apenas na organização da documentação, mas fazem cursos, leituras, seminários internos de discussão. Todos estão capacitados para apresentar o Centro e isso é muito gratificante.

contundente para as demandas do presente. Nosso esforço é também chegar às crianças. É importante que elas entendam que trabalhar com a memória é trabalhar com a realidade em que elas estão inseridas. Beira do Rio – Há um ano, o Centro contava com nove bolsistas do curso de História e duas especialistas em arquivo para a organização do material. Atualmente, essa equipe é composta por quem? O.J – São 15 bolsistas, duas especialistas na área de arquivo, uma secretária executiva e mais duas pessoas na área da Administração, onde temos uma demanda muito grande para convênios, parcerias, além da própria burocracia do Centro de Memória. Agora temos um porteiro, que antes nós não tínhamos. Quanto a pessoal, nós estamos bem servidos. Obviamente, nunca é suficiente, mas é o que é possível. E o bom administrador tem que entender isso: a Universidade não se resume ao Centro de Memória, existem outras demandas.

Beira do Rio – O Centro de Memória é vinculado ao Gabinete do Reitor e seu dirigente é indicado pela Faculdade de História, ou seja, será sempre um historiador. Como é feita essa escolha? O.J – O dirigente é indicado pela Faculdade e esse nome é confirmado pelo reitor. É importante que a Faculdade de História tenha a administração do Centro porque Aqui, nós o historiador não está preocupado apenas com aprendemos que a preservação do docuo brasileiro tem mento, mas com o seu uso como instrumento memória e gosta de ação de cidadania. O passado não é apenas de tê-la curioso, ele é uma arma

Beira do Rio – Há um projeto de reforma pronto e a expectativa é de que ele saia do papel ainda este semestre. Além da preservação do patrimônio, o que está previsto? O.J – A Universidade destinou recursos na ordem de R$ 1.200.000,00 para a reforma do prédio. O projeto foi feito, inicialmente, pela arquiteta

Otaviano Júnior: “O passado é uma arma para as demandas do presente”

Joana Barreto, da UFPA, e a empresa R2 foi contratada para fazer os projetos complementares. Estão previstos: uma sala de pesquisa; um auditório multifuncional; um museu permanente gráfico; uma sala de índice e uma de consulta; um laboratório de restauro de documentos; uma sala de projetos e uma área para crianças. Recursos do Reuni garantirão a climatização e as estantes deslizantes. A sede do Centro de Memória é importante para que as pessoas venham até aqui, mas nós também queremos entrar na casa das pessoas e, principalmente, nas escolas públicas de qualquer lugar da Amazônia. Dizem que o brasileiro não tem memória, mas nós aprendemos que isso não é verdade. O brasileiro tem memória e gosta de tê-la. O que falta são políticas de ação patrimonial na área de memória e nós estamos fazendo isso.

africanos, uma exposição sobre GuinéBissau, além de palestras, oficinas e grupos de contadores de história, para três comunidades Quilombolas, próximas a Oriximiná. Esse projeto ainda depende de captação de recursos.

Beira do Rio – Os museus e os arquivos públicos são mais visitados pelos pesquisadores com algum interesse acadêmico. Como tornar esses espaços mais atraentes para o grande público? O.J – Querer que a criança ou o adolescente que tenha acesso à internet saia do seu computador cheio de imagens e de cores, com uma linguagem que eles conhecem, entre em um prédio antigo, empoeirado, para ler um documento do século XVIII, é ilusão! É preciso tornar o documento mais prazeroso. O projeto Leitura Musical traz um trecho do documento, por exemplo, o processo sobre o assassinato da Severa Beira do Rio – Quais são os projetos Romana, e depois fala sobre o período que hoje estão em anem que ela foi morta: o damento no Centro? que se ouvia em Belém? O.J – O projeto que E você terá as músicas estuda a presença da que tocavam naquela Inquisição na Amazôépoca. O que se vestia nia, por meio do qual em Belém? E você terá levantamos todos os imagens das roupas que processos, denúncias ou eram usadas. Como era habilitação de familiaa cidade de Belém? E res - que é uma espécie você terá fotos da cide espião da Inquisição dade. As pessoas pre- do Grão Pará e do Macisam de ferramentas ranhão. Agora, estamos para imaginar como era Queremos digitalizando e já temos Belém no passado. uma primeira leva de entrar na casa documentos disponíBeira do Rio – O site veis. Na prática, isso do CMA acabou de das pessoas significa que nenhum entrar no ar. Essa é e nas escolas pesquisador brasileiro mais uma tentativa de que queira pesquisar aproximação com o públicas essa temática precisará público? ir até Lisboa. Outro O.J – O nosso site é a projeto está estudando nossa casa virtual. Hoje, a história da população, entre 1700 e temos publicada uma coleção chamada 1940, por meio de registros paroquiais: “Fronteiras Impertinentes”, que traz certidões de batismo, casamento e óbiartigos de antropólogos e historiadores to. Existe uma parceria com a Univerescrevendo sobre diversos temas. É um sidade de Trento, onde pesquisadores livro de bolso, numa linguagem feita de lá e da UFPA estão estudando temas para o grande público e com imagens. como lazer, casamento, fotografia, no O primeiro foi sobre a cidade de Beperíodo de 1850 a 1920, para fazer um lém. O segundo volume está saindo estudo comparativo. Também temos o agora e é sobre migração na região. “Barco Cultural”, que vai levar a banda Essa é a nossa política para invadir as Tribo de Jah, uma mostra de filmes casas e as escolas.

Narrativa de contos de fada e lendas amazônicas ajudam as crianças a desenvolverem habilidades para a leitura Pág. 6

Juventude

Seminário discute infância e adolescência Evento reuniu grupos de pesquisa dedicados ao tema. Relatório será apresentado aos gestores públicos do Estado e dos municípios. Pág. 11

Testes comprovam que combinação tem efeito analgésico, diminuindo indicadores de dor

Pesquisa indica colo e água com açúcar

Estudo realizado pela professora e pediatra Aurimery Gomes Chermont, da Faculdade de Medicina da UFPA, revela que colo materno e água com açúcar diminuem, em até 50%, as dores de bebês recém-nascidos. Pág. 8

Cátedra

UFPA renova parceria com Unesco Pág. 10 Rede social

Avós garantem renda e afeto para família Pág. 5

Casamento

Infância

Cresce número de uniões Circulação de formais na capital paraense crianças é tema Fora de moda no final do século XX, o casamento “no civil e no religioso” volta a crescer na Região Metropoli-

tana. É o que indica a pesquisa “Casamento e família em Belém: estrutura e valores”. Pág. 9

de pesquisa

O projeto “Modos e Modas de Família” agrega estudos sobre as razões e personagens envolvidos no “ir e vir” de crianças na Amazônia. Pág. 4

Extensão

A arte como instrumento de intervenção Pág. 3 Na atualidade, muitas vezes o ritual vem formalizar a união já existente

Coluna do Reitor

Cuidado mistura prazer e dever

Alex Fiúza de Mello fala sobre a universidade como centro cosmopolita de debates públicos. Pág. 2

Opinião Maria do Socorro Coelho discute a participação de egressos na avaliação institucional Pág. 2

Entrevista Otaviano Júnior apresenta os projetos do Centro de Memória da Amazônia Pág. 12

Mácio Ferreira

Rosyane Rodrigues

Contação de história não é brincadeira

Alexandre Moraes

Fotos Mácio Ferreira

Imaginação

Alexandre Moraes

E convida a todos: pesquisadores, curiosos, jovens e crianças, a conhecerem um pouco mais da sua história.

Pará tem firmado parcerias com o governo para desenvolver a educação pública no Estado. A mais recente ação é a reserva de 50% das vagas das licenciaturas oferecidas nos campi do interior para professores da educação básica sem a qualificação adequada. Pág. 7

Mácio Ferreira

o Pará, 40 mil professores do ensino básico não têm curso superior e 22 mil possuem uma licenciatura, mas ministram aulas de outras disciplinas para as quais não têm a devida qualificação. Para melhorar esse quadro, desde 2006, a Universidade Federal do


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