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12 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Junho/Julho, 2009

Entrevista

Maneschy assume Reitoria da UFPA a partir de julho

Alexandre Moraes

teremos como alterar a rota para, se necessário, corrigirmos os desvios.

BR – Atualmente, duas questões têm sido debatidas nas universidades brasileiras: o sistema de cotas e o novo modelo do vestibular. Qual a sua opinião a esse respeito? C.M. – Sempre fui favorável ao sistema de cotas, por entender que ele não é uma solução em si, mas um meio de promover a participação da minoria. BR – Quais serão as prioridades Esse sistema já está instituído, o que para este primeiro ano de trabaprecisamos é avaliá-lo permanentelho? mente e corrigir os desvios. Com reC.M. – A prioridade é concentrar a lação ao novo exame de vestibular, teatenção na melhoria das atividades da nho posição favorável à ideia, em tese. graduação. Nós temos que garantir Compreendo algumas dificuldades que todos os cursos tenham profesque isso possa colocar, especialmente, sores suficientes e capacitados para em relação à disputa pelas vagas nos desempenhar suas atividades; precicursos mais concorridos. Mas isso samos garantir que a UFPA funcione, não pode ser motivo para desconsiverdadeiramente, como uma univerderar a possibilidade de unificar ou sidade multicampi, de maneira que as usar o Exame Nacional do Ensino ações desenvolvidas pelo interior não Médio (Enem) como método de verisejam consideradas de classe menor ficação de ingresso na universidade. em relação às atividades da capital. Considero positiva a possibilidade Daremos início a uma cultura de de comparar o desequilíbrio regional valorização das relações entre as pesnaquilo que, de fato, será o conteúdo soas. Esse foi um ponto comum para todos os mencionado na campaexames de vestibular. nha, pois dizíamos que Com o Enem, o govero patrimônio maior da no terá o retrato claro, Universidade são as qualitativa e quantitapessoas que aqui trativamente, das assimebalham. Laboratórios e trias regionais. Também prédios compõem e dão será possível melhorar condições melhores o que é a competência para que as atividades do ensino médio, pois sejam desenvolvidas, o sistema atual interfemas o patrimônio que re, negativamente, na deve ser valorizado são qualidade do ensino, “O patrimônio as pessoas. A relação com uma exigência de interpessoal precisa ser conteúdo muito elevada que deve ser qualificada internamene pautada no vestibular. te e esse é um ponto que E o que parece ser o valorizado são nós vamos olhar com grande questionamento as pessoas que atenção neste primeiro contra o exame, pode ano de gestão. aqui trabalham” ser removido. O MEC diz que as universidaBR – As propostas des podem usar o Enem apresentadas na camcomo uma das etapas de panha, agora, são metas a serem acesso, ou seja, podemos decidir que cumpridas? iremos usá-lo sem que pessoas de fora C.M. – Sim. Durante o processo de estejam disputando as nossas vagas. transição, realizamos várias reuniões Com o sistema nacional, teremos um para discutir, o que, de fato, daquilo vestibular mais barato, com possibique nos comprometemos na campalidade de ampliar as taxas de isenção, nha, será transformado em princípios, além de permitir a comparação regiodiretrizes e metas. Estabeleceremos nal dos resultados. Isso pode ser um um cronograma para o cumprimento instrumento utilizado pelo governo dessas metas, que fará parte da nossa federal para correção de desigualdaagenda permanente de gestão e, assim, des educacionais entre regiões.

Pororoca

Belém em dia de chuva: ocupação desordenada deixa população mais vulnerável durante as tempestades

Viajantes

Meio Ambiente

Múltiplos olhares sobre a floresta

Engenharia Civil propõe construção de casa ecológica

Após cinco séculos, o olhar estrangeiro presente em crônicas e relatos de viagem ainda contribui com a produção científica amazônica. Pág. 3

Grupos de pesquisa do ITEC/UFPA apresentam propostas ambientalmente viáveis para o reaproveitamento de

resíduos. Lajes de garrafa PET, telhas de lama vermelha e tijolo de lodo são alguns exemplos. Págs. 7 e 8

Umidade prejudica rotatividade

O professor Carlos Maneschy, eleito 12º reitor da UFPA, estará no comando da Instituição a partir de 02 de julho. Pág. 12

O reitor Alex Fiúza de Mello fala dos avanços da UFPA nos últimos 10 anos. Pág. 2

Opinião Victoria Nahum faz depoimento sobre as cheias na região do Baixo Amazonas. Pág. 2

Estudo revela que políticas públicas deram visibilidade, mas não favoreceram potencial econômico do município. Pág. 4

Cemitério

Entrevista

Coluna do Reitor

Turismo perde fôlego em São Domingos

Pág. 9

Mácio Ferreira

Beira do Rio – Hoje, qual é a imagem resultados daquilo que a Universidade que o senhor tem da Universidade produz possam ser compreendidos e e qual é a que o senhor vislumbra absorvidos pela sociedade; uma ação para daqui a quatro anos? institucional voltada para exploração Carlos Edilson de Almeida Manesde intercâmbios e parcerias, que bechy – A imagem que eu tenho, hoje, neficiariam todos os setores da UFPA, da UFPA é de uma universidade que além de consolidar cada vez mais a avançou em muitos aspectos, sobretusua marca. do, no que diz respeito à qualificação docente, aumentamos a oferta de proBR – A partir de julho, a Univergramas de pós-graduação, a estrutura sidade contará com uma nova física da Instituição foi significativaequipe na administração superior mente melhorada. Ampliamos nossa e isso sempre gera expectativas. O participação no interior, com a oferta que a comunidade acadêmica pode de novos cursos. Olhando por esses esperar? aspectos, vejo uma universidade que C.M. – A nova equipe chega com o se consolida cada vez mais no cenário compromisso de fortalecer as ações amazônico. Isso não significa dizer institucionais, de colocar suas expeque ela não tenha problemas. Talvez riências, competências e habilidades o aspecto preponderante dessa proem prol do fortalecimento da Univerblemática esteja naquilo que requer sidade. São pessoas com experiências maior investimento, que é a melhoria consolidadas e que trazem um legado do ensino de graduação. Nós poderíimportante, que poderá contribuir para amos formar profissionais, não apenas a melhoria das atividades e das iniciacom alta qualidade técnica, mas tamtivas que estão sendo desenvolvidas. bém com capacidade A comunidade pode esde compreender a reaperar muita dedicação lidade de forma crítica. e trabalho de pessoas Essa é uma das missões que têm a vida ligada, da Universidade. Nosdireta e inseparavelsos alunos deveriam ser mente, à UFPA. estimulados a utilizar suas competências e BR – Estaremos dianações empreendedoras te de um novo modelo para mudar a realidade de gestão? social. Isto é um pouco C.M. – Eu não diria do que eu vejo para um novo modelo. Não a Universidade mais se pode esquecer que “A prioridade adiante: uma integração a gestão é sequenciamaior com a sociedade, da, nada começa com é concentrar dando visibilidade àquialguém. A Instituição a atenção nas lo que é produzido interé resultado das experinamente; a valorização ências de pessoas que, atividades da e a profissionalização inclusive, já não estão da comunicação instimais aqui, mas que cograduação” tucional, de sorte que os locaram seus esforços e

assumiram o compromisso de fazer a Universidade crescer. Nesse aspecto, eu não diria que será um novo modelo, diria que será um modelo diferente, que irá incentivar a participação de todos na construção dessa Instituição. A nossa gestão vai valorizar o que foi feito ao longo do tempo e vai tentar corrigir o que for necessário. Tentaremos impor um novo ritmo institucional.

Acervo Projeto

A partir do próximo dia 02 de julho, a Universidade Federal do Pará dará início a um novo ciclo. O professor Carlos Edilson de Almeida Maneschy assumirá o comando da Instituição como o seu 12º reitor. Professor titular da Faculdade de Engenharia Mecânica/ITEC, Carlos Maneschy foi diretor executivo da Fundação de Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa (Fadesp) e membro do Conselho Universitário e Conselho Superior de Ensino e Pesquisa da UFPA. Em entrevista ao JORNAL BEIRA DO RIO, o reitor apresenta quais serão as prioridades no seu primeiro ano de administração e afirma que a UFPA está diante de um modelo diferente de gestão, que irá incentivar a participação de todos na construção da Universidade. Carlos Maneschy também expõe seu ponto de vista sobre o uso do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em substituição ao vestibular tradicional e o sistema de cotas, temas que vêm sendo amplamente debatidos nas universidades brasileiras.

A

lagamentos, enchentes, propagação de doenças, secas intensas, tempestades violentas. Esse cenário “apocalíptico” está cada vez mais próximo de nós. De acordo com os meteorologistas, neste inverno amazônico, os rios da região vivem a maior cheia dos últimos cem anos. São milhares de famílias desabrigadas, esperando que as chuvas parem e as águas diminuam. Registros globais mostram que a temperatura e o nível do mar estão aumentando, a cobertua de neve e gelo tem diminuído. Para 2050, há previsão de uma Amazônia mais seca e quente, de poucas chuvas e ventos fortes. Pesquisas realizadas pelos programas de pós-graduação do Instituto de Geociências trazem resultados contundentes que servem de alerta para as consequências do crescimento populacional, da ocupação desordenada e do desmatamento. Pág. 8

Maneschy: “tentaremos impor um novo ritmo institucional”

Mácio Ferreira

Rosyane Rodrigues

Amazônia mais quente e seca

Fotos Mácio Ferreira

“Colocaremos experiências, habilidades e competências em prol do fortalecimento das ações institucionais".

JORNAL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ • ANO VII • N. 73 • Junho/Julho, 2009

Exemplo de aplicação da lama vermelha em tijolos, telhas e revestimento

Antropologia

Diversão

Pesquisa Praça é espaço analisa práticas democrático de amorosas Pág. 11 lazer Pág. 5

Análise foi feita no Benguí e Tapanã


BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Junho/Julho, 2009 –

Antropologia

Coluna do REITOR Alex Fiúza de Mello

reitor@ufpa.br

Os avanços da UFPA na primeira década do milênio

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Alexandre Moraes

s principais conquistas da Universidade Federal do Pará, ao longo da primeira década do novo século, podem ser resumidas em cinco eixos: 1) Qualificação de pessoal 2) Reestruturação dos marcos regulatórios 3) Modernização da infraestrututura 4) Novo Modelo de Gestão 5) Consolidação da interiorização: Universidade Multicampi. Em termos de qualificação de pessoal docente, o salto foi expressivo. De cerca de 300 doutores, em 2000, a UFPA saltou para mais de 900, em 2009 (chegará a 1.000 em 2010), fruto dos investimentos em titulação de seu quadro permanente e da política de priorização de contratação de doutores por meio de concursos públicos. Triplicaram, também, em consequência, no mesmo período, os programas de pós-graduação em nível de doutorado, evoluindo de 6 para 20 – além da duplicação dos mestrados, de 20 para mais de 40. Isso significa que, dentro de três anos, a Universidade estará formando, em média, 150 doutores e 400 mestres por ano, assim contribuindo diretamente para uma mudança de patamar da base científica regional. A seu turno, o corpo técnico-administrativo, com a criação da Pró-Reitoria de Desenvolvimento e Gestão de Pessoal (PRO-

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GEP), passou a receber treinamento sistemático e permanente, nos vários níveis de formação, com desenvolvimento de habilidades e competências definido por uma agenda devidamente planejada conforme as necessidades de cada setor. A reforma completa do Estatuto e do Regimento Geral foi outro marco na história recente da Instituição. Os novos textos aprovados pelo CONSUN inovam e atualizam os marcos regulatórios da Universidade ao concebê-la como multicampi, definir o status e a estrutura dos campi do interior (que inexistiam nos documentos precedentes) e extinguir os departamentos. Da mesma forma e em consequência, a Reitoria e todas as Unidades Acadêmicas passaram por uma adequação de seus regimentos internos correspondentes. O crescimento, modernização e reforma da infraestrutura predial, da rede lógica (hoje em gigabytes), dos laboratórios de ensino e pesquisa, das salas de aula e bibliotecas, seja na capital seja no interior, apresentam-se como outro item de particular distinção. Um novo Centro de Convenções (com auditório para mil lugares) e investimentos no espaço urbano (do saneamento básico ao recapeamento de vias e reformas de calçadas e passarelas) transformaram a paisagem da Cidade Universitária, dando-lhe mais

beleza e funcionalidade. Em muitas áreas do conhecimento, a UFPA ganhou destaque nacional graças aos equipamentos de ponta adquiridos para seus laboratórios, similares aos das melhores universidades do País e, em alguns casos, do mundo. Mudou, também, o modelo de gestão institucional. Com base informacional avançada e um sistema mais completo de produção e armazenamento de dados (programa SIE), a Universidade passou a experimentar uma dinâmica de aperfeiçoamento progressivo de suas fontes de informação e de formulação de indicadores, permitindo uma melhor avaliação e planejamento de suas atividades, com impactos imediatos na economia de seus recursos e na racionalização dos gastos e dos investimentos. Nesse diapasão, a administração inovou com a criação da Agenda de Compras (hoje global e periódica), com a terceirização dos projetos de arquitetura e engenharia (via licitação pública), da manutenção predial e das áreas urbanas externas (também por licitação) e com a modernização do sistema de vigilância (recursos eletrônicos e inteligência preventiva), dentre outros avanços. A prática da colegialidade, exercida por meio dos chamados fóruns de decisão, com o envolvimento dos vários dirigentes universitários, nos vários níveis de gestão, conferiu um ambiente mais

OPINIÃO

Victoria Judith Isaac Nahum

democrático, transparente e interativo às principais decisões institucionais. Por fim, o programa de interiorização – concebido agora sob uma filosofia multicampi – ganhou sua definitiva consolidação, traduzida pela criação de mais de 70 novos cursos de graduação (com destaque para aqueles das áreas tecnológica, das ciências agrárias e das biológicas, antes inexistentes); pela implantação de programas de mestrado e doutorado, os primeiros no interior da Amazônia (a exemplo de Bragança, Santarém e Castanhal)); pela contratação de mais de 400 docentes e 150 técnico-administrativos para o quadro permanente dos campi (ampliando-o em mais de 200% em relação à situação anterior); pela descentralização de funções comissionadas e gratificadas, reduzindo as assimetrias históricas entre capital e interior e permitindo, agora, maior dedicação e profissionalismo à gestão universitária; e pela expansão da infraestrutura predial e laboratorial (incluído o Hospital Veterinário de Castanhal), num salto institucional sem precedentes na história da UFPA. São conquistas significativas que, hoje, colocam a UFPA na rota de seu definitivo amadurecimento acadêmico, com destaque nacional e internacional, apta a enfrentar os desafios do novo século com maior capacidade de inovação, talento e criatividade.

biologiapesqueira@yahoo.com.br

Inundações na terra das águas grandes

rio Amazonas sobe todo ano, ao sabor do ciclo hidrológico. De janeiro a maio, as chuvas castigam diariamente os moradores das beiras dos rios. Essas chuvas sazonais são importantes para garantir a produtividade das terras de várzea, pois carregam nutrientes alimentando os peixes e fertilizando os solos. Contudo, apesar da sua “previsibilidade”, muitas vezes, os habitantes ribeirinhos são pegos despreparados para as enchentes, por falta de recursos materiais ou tecnológicos. O fato é que eles não conseguem superar, de forma aceitável, as intempéries regulares do clima. Neste ano, os meteorologistas anunciaram uma das maiores cheias dos últimos cem anos. Todavia, imaginar o sofrimento dos habitantes ribeirinhos é difícil para quem mora

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ Rua Augusto Corrêa n.1 - Belém/PA beiradorio@ufpa.br - www.ufpa.br Tel. (91) 3201-8036

nos confortáveis condomínios das grandes cidades, protegido da chuva e do sol. O noticiário da TV plasma informa sobre as enchentes e sobre o número de pessoas desabrigadas, no entanto, isso fica na nossa mente, como um filme... o sofrimento do povo parece muito distante de nossa realidade cotidiana. Por motivo de trabalho, em abril, visitamos algumas das comunidades ribeirinhas dos municípios de Óbidos e Santarém. Nosso coração apertou ao ver a situação das moradias. Isoladas no meio de lagos e igapós, a única forma de comunicação entre as casas é de canoa. Quem não tem para onde fugir fica rezando para as águas não subirem mais ainda ou para parar de chover. As aulas foram suspensas, os barracões comunitários e as capelas ficaram alagados. Isolados

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e rodeados de água, foram fechados na esperança de não se danificarem mais ainda. As crianças, que não têm mais um quintal para brincar, olham tristes pela janela, pulam de rede em rede e só tomam banho em volta da casa, na presença de adultos, por medo dos jacarés e das cobras, que agora estão muito perto das residências, na busca de presas fáceis. Ao abordarmos com nossa embarcação perto das casas, alegram-se. Pensam que somos funcionários da Defesa Civil voltando com a madeira necessária para levantar mais um pouco o assoalho das casas e tirar os poucos móveis de dentro da água. Tristes e desiludidos, recebem-nos para ouvir o motivo de nossa pesquisa, que nada tem a ver com os problemas que hoje os afligem. Ao mesmo tempo, nos fundos

do IBAMA, em Santarém, descansam tábuas e troncos de madeira apreendida de infratores da Lei. Por que não usá-las nas casas afetadas pela enchente? Não sabemos os motivos burocráticos que impedem medidas simples e, certamente, eficientes como essa. Prevenção, organização social, planejamento seriam medidas adequadas para o futuro. Mas como reagir agora, quando já não há mais como prevenir. Só nos resta remediar. De que adianta termos pena se nada podemos fazer? Ou será que ainda podemos? Victoria Isaac Nahum é doutora em Ciências Marinhas pelo Institut Fuer Meereskunde e coordenadora do Laboratório de Ecologia Pesqueira e Manejo de Recursos Aquáticos/ICB.

Reitor: Alex Bolonha Fiúza de Mello; Vice-Reitora: Regina Fátima Feio Barroso; Pró-Reitora de Administração: Simone Baía; Pró-Reitor de Planejamento: Sinfrônio Brito Moraes; Pró-Reitor de Ensino de Graduação: Licurgo Peixoto de Brito; Pró-Reitora de Extensão: Ney Cristina Monteiro de Oliveira; Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-graduação: Roberto Dall´Agnol; Pró-Reitora de Desenvolvimento e Gestão de Pessoal: Sibele Bitar Caetano; Prefeito do Campus: Luiz Otávio Mota Pereira. Assessoria de Comunicação Institucional JORNAL BEIRA DO RIO Coordenação: Luciana Miranda Costa; Edição: Rosyane Rodrigues; Reportagem: Ana Carolina Pimenta (013.585-DRT/MG) Andréa Mota/ Glauce Monteiro (1.869-DRT/PA)/ Jéssica Souza (1.807-DRT/PA)/ Rosyane Rodrigues (2.386-DRT/PE)/ Suzana Lopes/ Tatiara Ferranti/ Walter Pinto (561-DRT/PA) ; Fotografia: Alexandre Moraes/Mácio Ferreira; Secretaria: Isalu Mauler/Elvislley Chaves/Gustavo Vieira; Beira on-line: Leandro Machado/Leandro Gomes; Revisão: Júlia Lopes/Glaciane Serrão; Arte e Diagramação: Rafaela André/Omar Fonseca; Impressão: Gráfica UFPA.

Discurso e prática amorosa no novo século Com algumas modificações, modelo ideal ainda é o conto de fadas

Jéssica Souza

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upidos, corações flechados, olhares apaixonados, bombons de chocolate, buquês de rosas... O amor está no ar. Mês de junho, mês dos namorados, é tempo de falar de amor. Diferentemente do que muitos pensam, o assunto não está restrito ao romantismo dos casais, dos filmes ou das mídias temáticas. O amor também é pauta de interesse acadêmico. “Falando de amor: discursos sobre o amor e práticas amorosas na atualidade” é o tema da tese de doutorado em Antropologia, que está sendo elaborada pela docente da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Federal do Pará (UFPA), Telma Amaral Gonçalves. Como desdobramento de sua dissertação de mestrado na mesma área, intitulada “E o casamento, como vai? Um estudo sobre a conjugalidade em camadas médias urbanas”, a pesquisadora sentiu necessidade de aprofundar a temática amorosa. “Entrevistei vários casais acerca do que eles pensavam sobre o casamento. E quando se falava de casamento, um tema que aparecia sempre era o amor. E quando as pessoas falavam de amor, elas diziam: o amor é respeito, é paixão, companheirismo, diálogo, compreensão, amizade... Então, me surgiu esse questionamento: em que consiste este sentimento de amor?”, explica a pesquisadora. O trabalho tem como metodologia a realização de entrevistas sobre o tema com pessoas que vivem uma parceria amorosa, tanto homo como heterossexual. São nove casais, sendo três parcerias heterossexuais, três parcerias homossexuais femininas e três parcerias homossexuais masculinas, provenientes de camadas médias. Cada casal mora junto e tem, no mínimo, um ano de relacionamento. “A meta é ouvir dessas pessoas como

Mácio Ferreira

LURDINHA RODRIGUES

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Os conflitos, a administração do cotidiano e os sentimentos são comuns em casais de diferentes gerações elas definem o amor. O que é o amor e como ele se reflete na prática amorosa que essas pessoas vivem. Isso implica pensar o amor teoricamente, enquanto conceito, e como ele se aplica na vida diária, como condiciona a forma de o ser humano ser e estar no mundo”. A tarefa é desafiadora, pois o assunto ainda está disseminado, socialmente, como algo próprio da intimidade e, de acordo com Telma Amaral, muitas pessoas se sentem retraídas ao serem abordadas sobre o tema. “As minhas questões indagam sobre o que as pessoas fazem para demonstrar o amor que dizem que sentem uma pela outra, se, cotidianamente, elas se beijam, se abraçam, fazem carinho, quem faz mais ou menos demanda sexual, se a vida sexual

tem se modificado com os anos de relação, por exemplo. Trabalho com um grupo inteiramente heterogêneo. São pessoas com idade, identidade sexual e tempo de relacionamento diferenciado. O tempo de parceria varia de três a 48 anos de vida em comum. Isso diferencia as demandas, as experiências, as histórias”, especifica. A pesquisa ainda não foi concluída, mas a fase de entrevistas já permitiu que a professora fizesse algumas observações. A priori, as conclusões indicam que as parcerias falam de amor, sim, no âmbito da intimidade, e que eles sempre falam de amor associando-o a outros sentimentos. Segundo a pesquisadora, a frase mais dita pelas parcerias entrevistadas é “que o amor não se define”, mas se

n Amor pode ser construído lentamente De acordo com as investigações de Telma Amaral, uma característica muito comum às relações do século XXI é a de que pessoas que se amam compreendem que esse amor, um dia, pode acabar. “Nas décadas de 50 e 60, a mulher tinha um papel bem definido: não trabalhava e vivia para o lar e para o casamento. As relações nasciam para serem perenes. Em função disso, nas parcerias com

tempo maior de relacionamento, ainda são muito presentes as características daquele modelo em que existiam papéis delimitados e em que o casamento não era, necessariamente, baseado no amor, apesar do amor poder surgir como uma consequência dele. O amor estava associado ao conceito de construção”, explica a professora. Isso era muito comum no pe-

ríodo em que existiam casamentos arranjados em que os cônjuges eram totalmente estranhos um ao outro. Ainda hoje, continua a pesquisadora, segundo o grupo entrevistado, mesmo sendo um requisito básico para a formação de um par (não, necessariamente, homem/mulher), o amor é algo que também pode ser construído lentamente, no dia a dia, a partir de um conhecimento mútuo.

n Fluidez e imprevisibilidade nas relações Sob a perspectiva da modernidade, os estudos de Telma sinalizam que a natureza social das relações sofreu muitas modificações e que influenciam diretamente na qualidade e durabilidade do sentimento amoroso. “Hoje, o sexo é mais informal, compartilhar o mesmo espaço é menos contratual, o assédio de outras pessoas é muito grande e há facilidade de se

envolver em múltiplos relacionamentos. As relações surgem e se diluem com maior fluidez e imprevisibilidade”, comenta. Segundo Telma Amaral, a necessidade humana de amor advém de um estímulo emocional que pressupõe o ser humano como um sujeito cultural que precisa se relacionar, não só por instinto ou por conven-

ção social. “Por isso que, quando as relações se rompem ou o amor deixa de ser recíproco, as pessoas tendem a desejar um outro relacionamento ou a desacreditar que um outro amor seja possível”. Hoje, a tendência é desmitificar algumas crenças, a partir da compreensão de que o amor não é único, não surge do nada, não é igual para todos e nem é definitivo.

concretiza na vivência amorosa, em que se tece uma teia de associações e ressignificações que remetem ao sentimento amoroso. Em alguns casos, um longo silêncio sucede à pergunta sobre o que é o amor, pois muitas pessoas têm dificuldade de defini-lo referencialmente. Outra percepção é a de que, apesar das diferenças geracionais ou de orientação sexual, resguardadas as especificidades de cada relação, a vida em comum apresenta inúmeras similaridades. Os conflitos, a administração da vida diária e os sentimentos são muito semelhantes quando se trata de amor. A tese estará concluída dentro de um ano, prazo em que as referidas observações poderão ser ou não comprovadas.

n E foram felizes para sempre Na avaliação da antropóloga, atualmente, o perfil de pessoas que se amam é o de pessoas carinhosas, que curtem dividir o tempo juntas, têm desentendimentos, mas entendem o amor como um sentimento que precisa ser cultivado diariamente. O amor é requisito para a felicidade, junto com a saúde, a realização profissional e financeira. É por isso que o relacionamento ideal ainda está baseado nos moldes dos contos de fada, em que príncipe e princesa têm todas as condições favoráveis para uma união estável, duradoura, frutífera e feliz. “O modelo de amor romântico é recorrente nas novelas, nos filmes e acaba se tornando referência. Se desprender desse modelo é a melhor receita para o sucesso, pois compreende que o amor é também realidade e vida prática. O amor ideal se constrói cotidianamente”, conclui a pesquisadora.


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BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Junho/Julho, 2009 –

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Amazônia

Paixão de LER

"Três Sentidos" na obra de Paulo Plínio

A obra, fruto de dissertação de mestrado, será lançada ainda neste mês

O

Reprodução

Laïs Zumero e Giselda Fagundes livro “Três sentidos fundamentais na obra de Paulo Plínio Abreu”, de autoria de Célia Coelho Bassalo, professora da Universidade Federal do Pará, é produto de sua dissertação de mestrado, recomendada para publicação pela banca composta Benedito Nunes, Ápio Campos e Francisco Paulo Mendes, professores eméritos da UFPA. A publicação é oportuna, pois seu lançamento segue a 2ª edição, pela Edufpa, de “Poesia”, única obra do autor, há muito exigida pela Academia e pelos círculos literários pela importância de seu texto poético e de suas traduções de Rilke e T.S. Eliot. O tema central da obra é a produção literária do reconhecido poeta paraense. Trata-se de uma crítica extensiva, uma verdadeira súmula de temas recorrentes do poeta – infância, viagem e morte. A professora Célia Coelho Bassalo estuda, prioritariamente, a prática artística de Paulo Plínio diante dos eventos, a natureza da formação espiritual do poeta e o objeto de sua indagação – a linguagem. É um texto contemporâneo, sob a ótica da estilística e da semiologia, que a Editora, com muito orgulho, entrega à comunidade. Paulo Plínio surgiu na literatura paraense entre os anos de 1940 e 1950. Seus primeiros poemas foram publicados no Suplemento ArteLiteratura, do Jornal Folha do Norte e nas revistas “Novidade” e “Terra Imatura”. O poeta parte de uma visão meditativa e transfiguradora do real, à semelhança dos grandes poetas românticos, sobretudo, de Rimbaud, que procuravam apreender, por meio da linguagem, aquilo que o mundo contém de mítico, místico, obscuro e inefável. Célia afirma que “o texto de Paulo Plínio é sempre (des)-velador de algo que pode estar dentro ou fora da própria realidade. Essa revelação ou (re)-velação nos é transmitida por meio de uma prática, a da escritura, a qual abarca o exercício de uma atividade voluntária e deformadora de tudo o que nos envolve”. “Nossa intenção é proceder a uma leitura em que os poemas de Paulo Plínio sejam interpretados não como códigos estáveis, conhecidos, estereotipados, mas como textos suscitadores, sempre, de outra escritura mental feita pelo leitor, pois, como escritura, possuem, também, um caráter único, autorreferencial, oferecendo ao leitor a marca e o gozo dos textos verdadeiramente literários”, explica a professora. Consciente de que o ser humano é livre para fabricar e manipular representações, atribuindo-lhes valores de acordo com sua própria vontade, Paulo Plínio cria e enriquece símbolos que, por sua vez, sublinearmente ou não, já representavam outros símbolos. Desse modo, para qualquer direção que o leitor volte os olhos encontrará um tecido não acabado, mas

Ilustrações de Hans Staden, André Thevet e Jean de Léry mostram o olhar do viajante diante da paisagem e população amazônicas

Viajantes ainda são fontes de pesquisa

Crônicas e relatos de viagem auxiliam produção científica sobre a região Ana Carolina Pimenta

A

partir de meados do século XVI, tem início, na Amazônia, uma intensa movimentação de viajantes europeus movidos, sobretudo, por um vivo desejo de conhecer as riquezas e desvendar os mistérios da floresta tropical. Nos primórdios, eram aventureiros e exploradores em busca do Eldorado e da Terra das Amazonas. Já no século XVIII, desenvolve-se um interesse científico pelo Novo Mundo e surge a figura do viajante naturalista. À medida que

De acordo com a autora, o livro ajudará o leitor a interpretar os textos do poeta paraense em constante processo de simbolização. Por meio de um criterioso e acurado trabalho, Célia Coelho Bassalo divulga, com brilho e originalidade, a obra do poeta, assim contribuindo para que todos desfrutem do talento deste escritor de mérito reconhecido e incontestável, de aguda sensibilidade e de concisa e delicada linguagem. “Três sentidos fundamentais na obra de Paulo Plínio Abreu” será lançado com a obra de Plínio “Poesia”, neste mês, em evento comemorativo coorganizado pelo Instituto de Letras e Comunicação.

PRÓXIMOS LANÇAMENTOS

Rua Augusto Corrêa, n.1, Campus Universitário do Guamá. Telefax: (91) 3201-7965 Fone: (91) 3201-7911

Livraria da Praça

n “MARAJÓ”, de Dalcídio Jurandir, com participação de Rosa Assis, responsável por esta edição crítica.

n RIO BRANCO: A CIDADE DA FLORESTANIA, Mâncio Cordeiro e Marianne Schmink.

n HISTÓRIAS DO XINGU, César Martins de Souza e Alírio Cardozo.

n 3 SENTIDOS DA OBRA DE PAULO PLÍNIO, Célia Bassalo.

n AS AMAZÔNIAS DO SÉC. XXI, Sérgio Rivero e Frederico Jayme Júnior.

n Parmenides e Filebo, COLEÇÃO DIÁLOGOS DE PLATÃO. Tradução Benedito Nunes.

n POESIAS, Paulo Plínio.

Livraria do Campus

Livraria da Praça: Instituto de Ciências da Arte da UFPA. Praça da República s/n Fone: (91) 3241-8369

aumentava o número de expedições, crescia, também, o número de relatos e de crônicas acerca da biossociodiversidade da região. Transcorridos quase cinco séculos, os registros, seja por meio da palavra escrita, seja por desenhos, seja por fotografia, podem ainda ser muito úteis na produção científica atual, em diferentes áreas. Apesar das interferências desordenadas entre populações e ecossistemas da região ao longo de todos esses anos, as correspondências e os diários de campo, com ou sem ilustrações, de cronistas, como Pero

Vaz de Caminha, Padre Anchieta, Hans Staden, André Thevet e Jean de Léry, e de viajantes, como frei Gaspar de Carvajal, Spix e Martius, Alfred Wallace, Henry Bates, Alexandre Rodrigues Ferreira, La Condamine, Henri e Octavie Coudreau, ainda são importantes fontes para as pesquisas sobre a Amazônia neste século. O biólogo e professor do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (Naea), Juarez Pezzuti, explica que os relatos dos viajantes europeus balizam estudos acerca da etnoecologia, da ecologia e do manejo da fauna na

Amazônia. Dos relatos de viagem, podem ser extraídas importantes informações sobre os hábitos e os conhecimentos tradicionais dos povos amazônidas de gerações passadas. Narrativas como as do viajante inglês Henry Bates mostram, por exemplo, que a caça indiscriminada não é um problema recente: ovos de tartarugas eram colhidos de forma predatória para serem usados na fabricação de óleo para manter a iluminação pública e os peixes-boi eram caçados por sua carne e couro, à luz dos séculos XVIII e XIX.

n Relação homem-natureza

n Turistas ou viajantes?

O professor esclarece que as fontes documentais desses naturalistas ajudam a compreender, por exemplo, como determinadas espécies animais sofreram redução drástica no estoque por desempenharem uma importância vital para certas populações humanas. Segundo as publicações de Bates, a tradição indígena garantia que, “nos primeiros tempos, tantas eram as tartarugas na água, quanto os mosquitos no ar.” Já a partir do século XVIII, ocorre uma drástica predação dos ovos. No período compreendido entre os anos de 1700 e 1860, estimase que foram colhidos de 12 a 48 milhões de ovos por ano (!) para a produção de óleo. Atualmente, as tartarugas fluviais são protegidas, mas a analogia relatada pelos indígenas já não é mais cabível. “Às vezes, para compreendermos como se dava a exploração dos recursos naturais em épocas passadas, os relatos de viagem são nossa única fonte”, observa o professor sobre a escassez de publicações científicas que retratam a relação homem-natureza nos séculos XVI ao XIX. Mas, apesar da importância das narrativas e dos registros iconográficos desses viajantes/naturalistas, Juarez Pezzuti diz que os relatos ainda são subaproveitados nas Ciências Biológicas.

As nacionalidades, os objetivos e a quantidade de viajantes são tão grandes que eles têm sido usados não só como fonte, mas também como objetos de estudo em si: a própria viagem, o próprio viajante. É o caso da tese “Viagem e Turismo, conceitos na literatura e nos relatos de viagem”, do professor do Naea, Silvio Lima Figueiredo. A obra procura compreender, por meio dos relatos e crônicas de viagem, verídicos ou ficcionais, como as ideias de viagem, turismo, viajante e turista foram sendo construídas ao longo dos anos. A tese parte do princípio de que as concepções de viajantes e turistas encontradas nos relatos e na literatura de viagem ajudaram a construir personagens e ações estereotipadas. Assim, o viajante seria aquele que viaja com propósito mais “nobre”, que procura na experiência da viagem a compreensão do mundo e de sua própria existência. No passado, seriam os descobridores e os naturalistas. Na atualidade, os cientistas com suas pesquisas de campo e, até mesmo, mochileiros em busca de novas aventuras e descobrimentos. Já o turista é visto como o falso viajante, uma alegoria dos monumentos e florestas. Silvio Figueiredo

Situação que não pode ser verificada no estudo da História, disciplina em que a produção dos viajantes ocupa lugar de destaque. A historiadora Moema de Bacelar Alves, que, atualmente, participa da produção de um livro sobre os viajantes na Amazônia brasileira, acredita que, nas últimas décadas, os relatos dos viajantes vêm sendo mais explorados por fornecerem informações sobre temáticas, como gênero, grupos étnicos e costumes. Alguns deles vêm ganhando destaque para a elaboração historiográfica por suas descrições pormenorizadas sobre a economia, a sociedade e a cultura. No entanto, a pesquisadora alerta que os relatos dos viajantes europeus que passaram pela Amazônia não são a pura expressão do real, mas, sim, representações elaboradas a partir de componentes ideológicos, conceitos, pré-conceitos, noções e toda uma carga cultural que condicionam o olhar e as impressões dos viajantes. “O discurso do exótico, que ainda se profere hoje, deita raízes nos inúmeros relatos de viajantes que, durante os séculos XVII, XVIII e XIX, estiveram por aqui produzindo as visões e interpretações do que era a nossa região no momento dessas ‘visitas’”, ressalta.

explica que, por trás desse discurso, repousa um preconceito classista; as críticas ao turismo e ao turista são fruto de uma leitura preconceituosa das viagens de turismo de massa, empreendidas pela classe média mundial. “O que se pôde constatar nos textos analisados é uma percepção do turismo como a contrapartida da viagem. Ou seja, se, por um lado, a viagem engrandece o espírito, por outro, o turismo é baseado em modelos de produção em série, em pacotes de entretenimento sem essência”, aponta o autor. Para o pesquisador, as agências de viagem, responsáveis pelo turismo-mercadoria, reforçam essa visão do turista como um sujeito alienado. Isso conduz a uma outra reflexão: quais são as opções oferecidas? Na Amazônia, por exemplo, são poucas as iniciativas que conduzem o viajante a uma experiência mais profunda e transformadora. O turismo sustentável, por exemplo, ainda é algo muito pontual e restrito para poucos, em sua maioria, estrangeiros. Déjà vu? O fato é que esses viajantes chegaram e continuam chegando à região, mas se, no passado, eram os relatos de viagem, hoje, são os artigos, as teses, as imagens de satélites, os blogs...


4 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Junho/Julho, 2009

BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Junho/Julho, 2009 –

Turismo

Cemitérios

Saponificação retarda rotatividade

Pororoca é cartão postal de São Domingos Políticas públicas desarticuladas não favoreceram a economia local

Enquanto a população local "apara" as ondas, os turistas usam jet ski, pranchas e lanchas

O

município de São Domingos do Capim começou a ganhar visibilidade na mídia regional, nacional e internacional a partir de 1999, ano da criação do Campeonato de Surfe na Pororoca. Desde então, com investimentos do poder público estadual, por meio da Secretaria Executiva de Esporte e Lazer (Seel) e da Prefeitura, vislumbrou-se a potencialidade do turismo no município e se iniciou a implementação de políticas para o desenvolvimento do setor. Na dissertação “Nas ondas da pororoca: repercussões socioespaciais da atividade turística no município

de São Domingos do Capim (Pará)”, orientada pelo professor Saint-Clair Trindade, Jorge Alex de Almeida Souza analisou os impactos das políticas de turismo sobre o espaço geográfico e o modo de vida local. Lançando mão da dialética espacial, método teorizado por Lefebvre, Jorge Alex fez um percurso pelo passado do município para entender como o fenômeno da pororoca era vivido pela população capimense antes da atividade turística mais intensa e como ele se constitui no presente, a fim de vislumbrar possibilidades para o futuro. Nessa volta à história de São Domingos do Capim, o pesquisador conta, com a propriedade de quem

viveu parte da infância no local, que, antes da pororoca se tornar conhecida pelo campeonato de surfe, a população do município já possuía uma prática social sobre as ondas. “Há muito tempo, as pessoas têm uma relação de lazer com a pororoca, que é o “aparar” a pororoca; elas se jogam no rio. Existe até uma relação de poder, na medida em que enfrentar a onda é considerado uma prova de coragem”. O turismo incorporou ao modo de vida local, essencialmente ribeirinho, experiências urbanas, modificando não só a paisagem do município, mas também o espaço das representações, ou seja, o uso, o lazer e as representações sobre a pororoca.

n O rio, o barco e o trapiche: objetos significativos É praticamente consenso entre os pesquisadores sociais da Amazônia que o modo de vida ribeirinho é composto de três objetos espaciais mais significativos: o rio, o barco e o trapiche. O rio é o meio de circulação de mercadorias e pessoas, um espaço de comercialização e transporte, mas também um rico desenrolar de valores simbólicos, vivências e mitos. Nas palavras de Jorge Alex, “são os cursos fluviais que movimentam sonhos, desejos, encontros e modos de vida. É por meio dos espelhos d’água que o homem amazônida cria seu próprio mecanismo de usar o espaço e o tempo”. O barco, por sua vez, além da dimensão material de veículo de transporte, contém aspectos culturais, como as cores, os nomes, o valor afetivo do dono pelo objeto. O trapiche é o espaço da convivência, do hibridismo dos modos de vida ribeirinho e urbano, onde se localiza o comércio,

o embarque-desembarque, as práticas sociais, as conversas. Na dissertação, Jorge Alex defende que, além desses três elementos, São Domingos do Capim possui mais dois objetos espaciais que caracterizam a sua vivência ribeirinha: as igrejas e a pororoca. “As igrejas e as capelas são referências porque são marcas da colonização feita pela Igreja Católica. Por exemplo: uma influência muito presente em São Domingos do Capim são as comunidades eclesiais de base, que ajudaram a formar várias organizações no município. Sem contar que a visão religiosa ainda se manifesta na explicação dos fenômenos, como a própria pororoca”, explica o pesquisador. Quanto à pororoca, Jorge Alex considera como um elemento ribeirinho marcante no município porque ela sempre faz parte da prática social dos capimenses, na atividade lúdica de “aparar” as ondas. O modo de vida de São Domingos sofreu alterações socioespaciais

com a implementação do turismo. O rio deixa de ser a única via de transporte, já que, para facilitar o acesso ao município, foi aberta e asfaltada a Rodovia PA-127. Ao lado dos barcos, outros tipos de embarcações e objetos se fazem presentes, como os veleiros, o jet ski e a própria prancha de surfe. O trapiche passa a ser um local de intensa hibridização de temporalidades, onde convivem práticas de estrangeiros e nativos que concebem e utilizam o espaço de diferentes maneiras. A religiosidade local perde espaço no período do turismo, pois o fenômeno acontece próximo à Semana Santa. Por fim, a própria pororoca ganha um significado e um uso diferente após o início da atividade turística em São Domingos do Capim. O fenômeno adquire a dimensão de natureza exótica e passa a ser mundialmente conhecido e vendido como o lugar do surfe na Amazônia. Em vez de se “aparar” as ondas, agora se passou a surfá-las.

Quando, em 1999, se iniciaram as políticas públicas de turismo em São Domingos do Capim, o poder e a população locais viam, na nova atividade, uma potencialidade e uma alternativa para a economia do município. Mas a falta de articulação entre as medidas municipais e estaduais e a forma excludente como o processo foi implementado contribuíram para que o turismo perdesse fôlego nos últimos anos. Enquanto o Estado se voltava para a promoção do Campeonato de Surfe na Pororoca, a Prefeitura organizava o Festival da Pororoca. Os eventos aconteciam simultaneamente, mas sem vínculo efetivo entre si. Ou seja, os poderes públicos atuavam de forma isolada, não implementando uma política consistente de turismo. Outro problema foi a relativa exclusão da população local das atividades turísticas. Os campeonatos eram pensados e executados para o público visitante e urbano. Os habitantes do município, no máximo, serviam de guias turísticos e comercializavam algumas mercadorias. O resultado é que, em 2005, o turismo começa a perder força e, em 2008, a Seel tira o foco do Campeonato de Surfe do município para outras localidades paraenses. Para Jorge Alex, seria necessário investir em outros atrativos turísticos. “Eu posso citar o patrimônio histórico, o ecoturismo e o turismo comunitário, pois existem localidades com grandes potenciais naturais e culturais”. O maior desafio é implementar um turismo que contemple e inclua o modo de vida local.

São Domingos do Capim e a Pororoca Município localizado no nordeste paraense, São Domingos do Capim tem como base econômica a pecuária, a produção e comercialização da farinha e o extrativismo. A partir de 1999, passou também a integrar atividades turísticas à sua economia, quando se tornou conhecido pelo Campeonato de Surfe na Pororoca. Pororoca é o nome indígena que designa o fenômeno natural de ondas fortes e estrondosas, causado pelo encontro das águas dos rios amazônicos com o mar. Antes de ser utilizada para a prática do surfe, a pororoca já fazia parte das atividades lúdicas da população local. As pessoas “aparavam” a onda, ou seja, jogavam-se contra o rio ou fixavam-se em um poste e deixavam que a onda passasse por elas. Atualmente, somente o Festival da Pororoca é realizado, com intensa programação cultural, em março.

Análise comprova fenômeno válido para toda a Amazônia

n Pioneirismo na Geofísica Forense

Mácio Ferreira

Saint-Clair Trindade

n Eventos não tinham vínculo

Suzana Lopes

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No cemitério do Tapanã, umidade excessiva do terreno faz da cova uma espécie de tanque de conservação cadavérica Walter Pinto

A

pesquisa científica quando sai dos laboratórios e faz do ambiente seu campo de prova, defronta-se, muitas vezes, com realidades que, por mais desagradáveis, não podem ser negligenciadas pelos pesquisadores, sob pena de se tornarem impactos ambientais de graves consequências. O estudo, coordenado pela professora Lúcia Maria da Costa e Silva, em 1996, por exemplo, comprovou que o cemitério do Benguí, em Belém, estava contaminando o fluxo de água subterrânea que segue para a área residencial vizinha. A pesquisa, junto com a análise da água, motivou o fechamento do cemitério. A legislação estadual que dispõe sobre requisitos e condições técnicas para implantação de cemitérios, a segunda implementada no Brasil, determina que, após o fechamento de um cemitério, seja realizado o monitoramento das águas subterrâneas por um período de dez anos. A Secretaria do Estado de Meio Ambiente deveria solicitar à Secretaria Municipal de Meio Ambiente a análise das águas

a cada seis meses. A lei estadual não está, contudo, sendo cumprida, observa Lúcia Costa e Silva, que participou da elaboração da referida lei. Os novos cemitérios públicos de Belém, como o do Benguí e o do Tapanã, foram implantados dentro do conceito de rotatividade. Periodicamente, a Prefeitura realiza a exumação observando o tempo de inumação – sete anos para homens e três para crianças até sete anos – período em que o processo de putrefação já teria cumprido suas quatro fases. Exumação – No entanto, pesquisadores da Faculdade de Geofísica da UFPA comprovaram um fenômeno no cemitério do Benguí: a saponificação dos corpos. Trata-se de processo de conservação cadavérica que interrompe qualquer um dos quatro estágios da putrefação, postergando-o e, consequentemente, retardando em vários anos qualquer tentativa de exumação. A saponificação é provocada pela umidade excessiva no terreno ao redor da cova, transformada, então, numa espécie de tanque de conservação. Lúcia Costa e Silva observa que a legislação

municipal, baseada em normas do período colonial, está em flagrante oposição à realidade amazônica e que, em outros países, onde a ocorrência da saponificação é remota, a exumação só é realizada após 25 anos. O cemitério do Benguí foi desativado em 1997. Ocupa uma área de 450x600 m² absolutamente imprópria para abrigar um cemitério, porque o nível hidrostático é inferior a 1,20 m no inverno, ou seja, a água entra nas sepulturas, caso não reportado na literatura. O que mais surpreendeu os pesquisadores da área de geofísica da UFPA é que o fenômeno da saponificação não está restrito ao baixo terreno do cemitério desativado. Também no Tapanã, edificado sobre um terreno alto, com nível hidrostático em torno de 7,5 metros, os estudos registraram o fenômeno. No Benguí, a exumação e a limpeza da área são necessárias para eliminar a contaminação e para uma futura reutilização em outra finalidade. Quanto ao Tapanã, a exumação é parte do processo de rotatividade, liberando sepulturas para novos enterramentos.

n Argila facilita saponificação no Tapanã Diferentemente da situação extrema do Benguí, o Tapanã, aparentemente, apresenta condições ideais para abrigar um cemitério, mas a análise da subsuperfície apresentou uma característica típica da Amazônia: a presença excessiva de argila. Impermeável, ela retém a água da chuva, formando um grande bolsão de lama em torno do cadáver, cujo desenvolvimento, durante vários meses, foi monitorado pelos pesquisadores com instrumentação sofisticada. É essa lama a responsável pela saponificação. Os coveiros do cemitério informaram aos pesquisadores que a saponificação está impedindo a rea-

lização de exumações periódicas. A situação tende ao agravamento, pois o cemitério já enfrenta problemas de superlotação, que motivaram o uso das passarelas de terra para sepultamentos, bem como a construção de um novo ossuário, eliminando, assim, o depósito num dos banheiros. A porção final do cemitério, por sua vez, não pode ser ocupada, porque o lençol de água subterrânea está muito próximo da superfície. “Nossos estudos mostram que a saponificação é frequente. Isso vale para a Amazônia inteira. A solução mais viável é o forno crematório”, alerta Lúcia Costa e Silva, diante da

proposta da Prefeitura de construir um cemitério vertical. Comparando os dois tipos, a pesquisadora ressalta que a cremação é rápida, eficiente, agride menos o ambiente e precisa, apenas, de um bom dispositivo para filtrar odores, enquanto o cemitério vertical requer tratamento de gases e líquidos produzidos. Pesquisa de opinião realizada pelos pesquisadores mostra que, ao contrário do que muitos podem pensar, a cremação é aceita pela população. O Pará é o único Estado brasileiro com dois crematórios particulares. Em muitos países, há centenas de crematórios, caso dos EUA, Japão e Alemanha, entre outros.

As recentes descobertas dos geofísicos no estudo de cemitérios foram realizadas com auxílio de uma nova tecnologia de leitura de subsuperfície, o radar de penetração do solo (GPR), modelo SIR – 3000, da GSSI com antena de 400 MHz. Semelhante a uma enceradeira, o radar atua como um escâner que faz leitura de subsuperfície até a profundidade de 15 metros. Empregando o GPR e o método Slingram, o professor Waldemir Gonçalves Nascimento realizou o estudo “Investigação geofísica ambiental e forense nos cemitérios do Benguí e do Tapanã”, sob orientação de Lúcia Costa e Silva. O trabalho tornou-se a primeira dissertação de mestrado em Geofísica Forense do Brasil. No Benguí, o GPR foi empregado na detecção do nível hidrostático, considerando que, na implantação de um cemitério, a informação mais importante é a profundidade do aquífero. No Tapanã, utilizou-se o GPR e o Slingram em levantamentos mensais a fim de detectar a profundidade do aquífero, monitorar a contaminação e, especialmente, encontrar alvos forenses num campo de testes instalado naquele cemitério, autorizado pela Prefeitura de Belém. O Campo de Testes Controlados de Geofísica (Foramb) ocupa uma área de 13x10 m. Foi construído de modo a permitir testes de interesse da criminologia, uma recente aplicação com vistas à detecção de covas clandestinas, restos mortais, pessoas vítimas de soterramentos, túneis subterrâneos e armamentos enterrados. Nele, foram enterrados o corpo de um indigente cedido pelo Instituto Médico-Legal; uma caixa oca, simulando um túnel para fugas construído em penitenciárias e uma caixa fechada contendo metais com peso equivalente a um conjunto de armas, a fim de simular armamento enterrado para despistar seu roubo.“Na literatura, são comumente encontrados campos de testes realizados com animais, em geral suínos”, informa Waldemir Nascimento. A pesquisa mostrou que a utilização do GPR na Geofísica Forense consegue localizar extremamente bem cadáveres e túneis. A caixa simulando armamentos não foi detectada nos primeiros meses, mas somente após o começo das chuvas. Além disso, evidenciou que a fase de decomposição humana também deixa registro, seja pela ampliação do sinal produzido pelo cadáver, seja pela observação do sinal que acompanha o fluxo hidráulico. Uma característica importante do campo de testes é que ele vem sendo usado por dezenas de alunos de graduação e de pós-graduação e está aberto para acompanhamento dos testes por profissionais relacionados à área forense.


8 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará –Junho/Julho, 2009

BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Junho/Julho, 2009 –

Políticas Públicas

Alexandre Moraes

Aquecimento Global

Praça é espaço democrático de lazer Estudo faz mapeamento das áreas de turismo e diversão em Belém

D

Aumento de temperatura e poluição concentrada são causas das fortes chuvas que atingem os grandes centros

Amazônia deve ficar mais seca e quente Consequências das mudanças climáticas já são sentidas nos centros urbanos

Tatiara Ferranti

F

uracões, chuvas prolongadas, ciclones, propagação de doenças, como malária e dengue, extinção de espécies animais e vegetais, enchentes, secas, alagamentos, estiagens prolongadas ou desertificação de algumas áreas e, principalmente, aumento da temperatura da atmosfera. Essas são as principais consequências do aquecimento global, fenômeno que se refere à elevação da temperatura média dos oceanos e do ar próximo à superfície terrestre. A dissertação de mestrado “Tempestades severas na Região Metropolitana de Belém: avaliação das condições termodinâmicas e impactos socioeconômicos”, de João

Paulo Nardin Tavares, defendida no Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais do Instituto de Geociências da UFPA, com apoio do Museu Paraense Emílio Goeldi e da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), aponta questões relevantes quanto à incidência de chuvas extremas no período de 1987 a 2007. A pesquisa revela que, nesse período, a cidade cresceu e as chuvas ficaram até duas vezes acima da média climatológica (que é de 2.000 mm por ano). Isso aconteceu em decorrência da elevação dos valores das condições termodinâmicas. “De 1987 a 2007, houve um aumento significativo de 0,5°C nas temperaturas máximas do dia em Belém devido ao aquecimento global, o que resultou em tempestades

mais intensas e frequentes”, informa João Paulo Tavares. Segundo o estudo orientado pela professora Maria Aurora Mota, a incidência de tempestades na capital aumentou a partir dos anos 80, quando o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) mostra o início do aquecimento global. Já em 1990, é constatada uma maior frequência de tempestades e o aumento da temperatura da terra. A partir de 1994, há um volume maior de chuvas que, segundo João Paulo Tavares, ocorre em decorrência do crescimento desordenado das cidades. “Os centros urbanos se tornam mais quentes do que a periferia e isso pode causar fortes chuvas por causa do aumento da temperatura e da poluição concentrada. Se continuar assim,

n Previsão é de calor e ventos fortes Engana-se quem pensa que a substituição da floresta por pastagem reduz as chuvas. A dissertação “A influência do arco do desmatamento sobre o ciclo hidrológico da Amazônia”, de Josivan Beltrão, apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais do IG/UFPA, indica que essa redução ocorre em determinadas regiões, mas aumenta em outras, tanto no período chuvoso como no período de estiagem. Segundo Josivan Beltrão, que considerou, na pesquisa, o modelo de superfície de terra com vegetação dinâmica, no Estado do Pará, há redução de 25% do índice pluviométrico no período chuvoso, tendo diminuído, em até 15%, na estiagem. Porém, no Estado do Amazonas, é no verão que acontece a maior redução de chuva, tanto em volume quanto em área de abrangência. Para o período de 1850 até 2000, registros globais mostram que a temperatura e o nível do mar estão

aumentando e a cobertura de neve e gelo tem diminuído. Considerando o cenário de desmatamento para o ano de 2050, a pesquisa aponta aumento da temperatura e do vento e diminuição, em 20%, de chuva na zona costeira. “Se os índices de desmatamento se mantiverem, podemos esperar uma Amazônia mais seca e quente nos próximos 50 anos”, estima Josivan Beltrão. O pesquisador ainda alerta ser necessário que a comunidade esteja atenta aos danos que a retirada da cobertura vegetal do planeta possa gerar, “as pessoas precisam ter consciência de que o desmatamento atual pode provocar uma seca mais violenta no futuro e dias mais quentes”. Os desmatamentos e as queimadas já são responsáveis pela maior parte das emissões brasileiras de CO2 na atmosfera. Segundo a professora e orientadora da dissertação, Julia Cohen, o estudo foi mais específico, pois

avaliou o impacto do desmatamento sobre o clima na Amazônia utilizando um modelo atmosférico de alta resolução (30 Km), o que permitiu examinar o papel dos rios, da topografia e de diferentes tipos de cobertura de vegetação. Também foram utilizados cenários de desmatamento, e não o desmatamento por completo. Mas, que outros problemas o aquecimento global pode causar? Segundo a professora Julia Cohen, alagamentos, doenças, problema com a produção de grãos, especialmente na Ásia, onde é crescente o risco de inundações, a perda da biodiversidade da Amazônia e a mudança no fluxo dos rios. O documentário “Uma verdade inconveniente”, dirigido por Davis Guggenheim e vencedor do Oscar, faz um questionamento instigante: “o planeta nos traiu ou nós traímos o planeta? Será esta a maior crise da história?”.

as tempestades ficarão cada vez mais severas”, alerta. De acordo com o pesquisador, o crescimento populacional e a ocupação desordenada aumentam a vulnerabilidade da sociedade aos eventos extremos. “Na estação chuvosa, as tempestades podem durar mais de 24 horas. Em tempo de seca, elas são mais intensas, com rajadas de vento, pancadas de chuva de curta duração, raios e, eventualmente, granizo”, avalia João Paulo Tavares. As consequências são: pessoas desabrigadas, cidades sem iluminação e prejuízos financeiros. João Paulo Tavares defende a preservação e a criação de áreas verdes na cidade, além da educação ambiental, que minimizaria os impactos das tempestades e amenizaria a temperatura da cidade.

Soluções para diminuir o aquecimento global • Colaborar para o sistema de coleta seletiva de lixo e de reciclagem; • Usar, ao máximo, a iluminação natural nos ambientes domésticos; • Não desmatar nem provocar queimadas nas florestas. Pelo contrário, plantar mais árvores; • Diminuir o uso de combustíveis, como gasolina, dísel e querosene, e aumentar o consumo de biocombustíveis e etanol; • Regular, constantemente, os automóveis para evitar a queima de forma desregulada e usar catalisador em escapamentos de veículos; • Instalar sistemas de controle de emissão de gases poluentes nas indústrias; • Ampliar a geração de energia por meio de fontes limpas e renováveis: hidrelétrica, eólica, solar, nuclear e maremotriz. • Deixar o carro em casa e usar transporte coletivo ou bicicleta, sempre que possível; • Usar técnicas limpas na agricultura para evitar a emissão de carbono. Fonte: (http: //www.suapesquisa.com/pesquisa/solucoes­_ aquecimento_global.htm)

e segunda a sexta, às 6h da manhã, Belém acorda. Trânsito, carrinhos de tapioca, Ver-o-Peso movimentado. É hora de trabalhar! Nos fins de semana, a cidade ganha outra dinâmica. Há quem vista sua melhor roupa na hora de sair e se divertir, aproveitando a folga da rotina. Mas, e se as pessoas pudessem ter lazer todos os outros dias em vez de só nos fins de semana, ? É com essa reflexão que a professora Jéssika Paiva França desenvolveu a dissertação “Políticas públicas de lazer no município de Belém-PA: concepções e intervenções”, apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Serviço Social, da Universidade Federal do Pará, sob a orientação da professora Olinda Rodrigues. Pensar o lazer como elemento do cotidiano faz parte de discussões recentes. Segundo a pesquisadora, o tema só passou a ser investigado pelas Ciências Sociais em meados do século XX, durante o processo de industrialização e urbanização no mundo. Entretanto, um lazer pensado ainda como “tempo livre, enquanto sobra do tempo de trabalho”. Acompanhando as concepções do tema, os debates sobre direito, cidadania e participação

EM DIA

Acervo Pesquisador

Andréa Mota

Rádio Web

Praça da República reúne diferentes culturas, religiões e faixas etárias impulsionaram as reflexões do lazer no âmbito das políticas públicas. Na constituição de 1988, o lazer se configurou como direito social, direito do trabalhador, práticas desportivas para promoção social e dever das famílias sobre crianças, jovens e idosos. Diante da compreensão de lazer no âmbito do direito social, a pesquisadora estudou as possibilidades de haver políticas voltadas à manutenção desse direito nos dias atuais. Em sua dissertação, Jéssika

Paiva França analisou, além das políticas públicas, características e concepções do tema, da criação e da organização de espaços públicos e fez o mapeamento das áreas de lazer e turismo existentes no município de Belém. Para a pesquisa, foram considerados como espaços públicos de lazer: praças, áreas verdes, teatros, igrejas históricas, museus, ou seja, “todos criados pelo poder público, mesmo que mantidos por outras organizações”, assegura a autora.

n Políticas não são comuns a todo o Estado O primeiro passo da pesquisa foi bater à porta de quem intervém nas dinâmicas do tema na cidade: o governo. Foram ouvidas a Secretaria de Estado, Esporte e Lazer (Seel); a Secretaria Municipal de Juventude e Lazer (Sejel); a Companhia Paraense de Turismo (Paratur) e a Coordenadoria Municipal de Turismo (Belemtur). Atualmente, esses órgãos funcionam como agentes provedores do esporte, lazer e turismo na região. Entretanto, grande parte das ações desenvolvidas é voltada às atividades desportivas e ao turismo. “A Seel tem um

orçamento anual de, aproximadamente, R$50 milhões, no qual uma média de 15 a R$20 milhões é utilizada com o lazer”, afirma a professora. Dessa investigação, uma constatação veio à tona: as políticas públicas de lazer não são comuns a todo o Estado. Mas, por quê? A justificativa da Seel seria a de que “a própria sociedade é responsável pela dinamização de seu lazer”. De acordo com a pesquisa, as praças foram apontadas como os principais espaços públicos de lazer, por serem gratuitas e democráticas. Além disso, con-

figuram como locais atrativos às diferentes culturas, religiões, faixas etárias e níveis socioeconômicos. “A gratuidade é o elemento principal no processo de escolha, uma vez que alguns espaços foram apontados como excludentes e segregadores por exigirem a cobrança de taxa”, assegura Jéssika França. A pesquisadora defende que a franquia de ingressos seja ampliada para os finais de semana, contemplando a realidade social, sem exclusão das classes trabalhadoras, com seus poucos recursos e tempo disponível.

n Sociedade não reconhece lazer como direito A pesquisa também investigou outras percepções sobre a temática “lazer”. Foram entrevistadas cerca de 30 pessoas, escolhidas aleatoriamente, nas praças Batista Campos e da República. Um dos questionamentos era: existem políticas públicas de lazer em Belém? 57% dos entrevistados afirmaram ignorar qualquer política nesse sentido. Os dados revelam que as reivindicações de ações nessas áreas são pequenas, pois o lazer ainda não é reconhecido como um direito. Mas, o que seriam políticas públicas de lazer? Para 63% dos entrevistados, política pública de lazer refere-se à

criação e manutenção de espaços públicos voltados para esse fim. Diante da multiplicidade de indagações, algumas questões aparecem: afinal, o que seria lazer? O lazer estaria diretamente relacionado à criação de espaços? Jéssika França defende o lazer como cultura em sentido amplo - qualquer atividade pode ser considerada lazer desde que gere prazer ao ser humano. Nesse sentido, Jéssika França trabalha na compreensão de que nem todo trabalho pode ser percebido como alienante e penoso nem todo lazer pode ser visto como prazeroso, “uma vez que é resultado da mes-

ma sociedade excludente e de seu modo de produção”. Para a professora, “a dinâmica dos espaços está sendo pensada dentro de uma lógica mercadológica de construção de redes de infraestrutura, deixando para último plano as experiências resultantes das vivências de lazer, as possibilidades de sociabilidade, a humanização e o exercício da cidadania”. Para modificar esse quadro, a pesquisadora incentiva maior participação da sociedade civil na construção de ações públicas no campo do lazer, a fim de melhor contemplar os anseios e as necessidades de todos.

Os ouvintes já podem conferir a programação definitiva da Rádio Web UFPA. Acessada por meio do Portal da Universidade, a Rádio está 24h no ar, com entrevistas, debates e boletins informativos. Fazem parte da grade os programas UFPA Pesquisa, UFPA Ensino, UFPA Comunidade, UFPA na Madrugada, Universidade Multicampi e o Boletim Beira do Rio. A inclusão de um jornal diário está prevista para o segundo semestre.

Seminário on line No período de 1º a 05 de junho, o Programa Pobreza e Meio Ambiente na Amazônia (Poema) promove o seminário on line “Barbárie ou o quê? Sobre o Futuro da Espécie Humana no Século XXI”. Os interessados devem acessar o site do Poema http://www.poema.org.br/ e ler os textos disponíveis. Mais informações: 3201.7700 ou poema@ufpa.br

Severa Romana I O Centro de Memória da Amazônia (CMA) realiza, no período de 31/06 a 02/07, o seminário “A Memória de Severa Romana: de mulher a santa popular”.A programação acontecerá sempre das 14h às 18h30, no Centro de Convenções da UFPA. As inscrições podem ser realizadas na sede do CMA até o dia 30 de junho.

Química De 12 a 18 de julho, Belém abrigará o XIV Congresso Regional dos Estudantes de Engenharia Química das Regiões Norte e Nordeste. A programação conta com minicursos e palestras que serão ministradas por professores da UFPA e da Universidade Federal de Alagoas. As inscrições podem ser feitas até o dia 26 de junho. Mais informações no site do evento http://www. coreeq2009.ufpa.br

Colóquio Kant Já estão abertas as inscrições para seleção de trabalhos a serem apresentados no “I Colóquio Kant e o Kantismo”, que ocorrerá nos dias 08 e 09 de outubro, em Belém, promovido pela Faculdade de Filosofia, da UFPA. Mais informações pelo site http://kant.kantismo.zip.net

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BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Junho/Julho, 2009 –

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Meio ambiente

Instituto de Tecnologia da UFPA propõe construção de casa ecológica

Pesquisadores da Faculdade de Engenharia Civil apontam soluções ambientalmente viáveis para reaproveitamento de resíduos

Problema: para moldar colunas e estruturas, as obras utilizam muita madeira. Solução: nova técnica de pré-moldagem que dispensa o uso de madeira.

O lodo gerado na Estação de Tratamento do Bolonha pode ser reaproveitado para fabricação de tijolos Glauce Monteiro

O

que uma garrafa de refrigerante, um vaso de cerâmica, uma folha de papel, um pedaço de alumínio e a água que chega a nossas torneiras têm em comum? Para produzir cada um deles, geramos rejeitos, substâncias que ameaçam o meio ambiente e que não possuem uma finalidade. Aliás, não possuíam. Pesquisadores da Universidade Federal do Pará estudaram cada um desses problemas e apresentam propostas para o uso

desses materiais como matéria-prima para a construção. Que tal construir uma casa feita com tijolos fabricados com o resíduo do tratamento de água? Suas paredes podem ficar mais resistentes utilizando o rejeito da indústria cerâmica misturado com cimento. Quer construir um segundo andar? Então façamos uma laje com garrafas PET. É mais leve e barato. As telhas podem ser fabricadas com a lama vermelha que sobra do processo de beneficiamento do alumínio, no nordeste do Pará. Seu lar doce lar

poderá ficar mais bonito se o mesmo resíduo for usado para colorir paredes e pisos em tons avermelhados, inclusive as calçadas. Mas, se sua preocupação é com os custos da construção, você pode economizar 30% do valor da obra adotando um novo método para moldar e escorar as colunas e paredes de sua casa, sem utilizar madeira. Essa casa ecológica está sendo “construída” diariamente, parte por parte, com as pesquisas realizadas pelos professores e alunos da Faculdade de Engenharia Civil, da UFPA.

n Paredes de lodo defendem o meio ambiente Problema: o beneficiamento de água gera um resíduo chamado lodo, que ameaça o equilíbrio ecológico em cursos d’água. Solução: transformar a ameaça em produto, utilizando o resíduo na fabricação de tijolos. Construir uma casa com tijolos fabricados com lodo tem o desafio de enfrentar dois graves problemas ambientais. De um lado, criar uma utilidade para o que sobra no processo de tratamento da água e que pode prejudicar os ecossistemas aquáticos de rios e igarapés. De outro, diminuir a extração desordenada de argila para uso cerâmico ou para a construção civil, prejudicando a várzea e os manguezais. Para que a água chegue até a torneira de nossas casas, ela passa por um processo de tratamento que retira resquícios de terra ou folhas. Essas impurezas formam o lodo. “É um subproduto que contém matéria orgânica, sílica e outros elementos, mas é composto, principalmente, das substâncias químicas utilizadas durante o processo de tratamento de água. Ele contém considerável

teor de alumínio, que é o produto químico utilizado em Belém, e tem um aspecto de lama, mas, praticamente, não apresenta mau cheiro”, explica a professora Luiza Girard, pesquisadora da Faculdade de Engenharia Sanitária e do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da UFPA. Para cada 100 litros de água que entra na Estação de Tratamento do Bolonha, restam 3,56 litros de lodo. Em um mês, são gerados, aproximadamente, 370.000 m3 desse resíduo, que precisa ter destinação adequada. O Grupo de Estudos em Gerenciamento de Águas e Reuso de Efluentes (Gesa) pesquisa este rejeito desde 2003. “Nosso objetivo é encontrar uma aplicação para o lodo a fim de evitar que ele seja despejado novamente no meio ambiente, prejudicando, inclusive, o abastecimento de água potável dos centros urbanos. O aproveitamento dessa substância para a indústria da cerâmica é uma alternativa viável que imobiliza o resíduo e lhe dá uma função benéfica na sociedade”, conta a professora. Cabe à Elzilis Muller, a tarefa

de propor uma forma de utilizar o lodo como componente de tijolos. Aluna do curso de Pós-Graduação em Engenharia Civil da UFPA, orientada pela sanitarista Luiza Girard, Elzilis testa fórmulas e formas de misturar o rejeito na composição das peças cerâmicas. O estudo é o segundo no Brasil, desenvolvido em escala real, ou seja, testa a possibilidade de ser aplicado em uma verdadeira escala de produção. A mistura de lodo e argila foi usada para a fabricação de 500 tijolos em uma empresa cerâmica localizada em Benfica, no nordeste paraense. “Analisamos a composição do material antes e depois da fabricação das peças e percebemos que ele atende inteiramente às normas, com uma excelente produtividade. É viável ambiental, estrutural e economicamente”, garantem as pesquisadoras. “Além de reduzir os impactos ambientais, esse produto teria um custo mais acessível, melhorando a oferta desse insumo para a construção, especialmente para pessoas de baixa renda”, defende Luiza Girard.

Se você passar em frente a uma obra durante a fase de construção das fundações e vigas, perceberá o uso excessivo de madeira para moldagem. Apenas no ano de 2004, foram extraídos cerca de 24,5 milhões de metros cúbicos de madeira em tora da Amazônia. Desse total, 63% foram comercializados para a construção civil. Pesquisadores da Faculdade de Engenharia Civil, da UFPA, desenvolveram um novo método de moldagem para colunas e fundações, utilizando elementos pré-moldados que dispensam o uso de madeira. Elementos pré-moldados são aqueles em que os elementos estruturais são formados fora do local da obra, o que traz a necessidade de transportar essas peças até a construção. Um desafio, se levarmos em conta o peso de uma coluna ou de uma viga, por exemplo. “Desenvolvemos um elemento pré-moldado que dispensa a madeira em todas as etapas, com a vantagem de ser mais leve que os outros modelos do tipo, o que soluciona o problema do transporte. O material é tão leve que dois homens são capazes de carregá-lo e sua resistência no estágio final da montagem é a mesma dos modelos tradicionais”, revela o engenheiro civil Dênio Ramam. Para usar essa tecnologia, é preciso ter o projeto da obra com as dimensões de cada peça. Então, é confeccionada uma espécie de molde com placas delgadas de concreto, do tamanho exato de cada parte da estrutura. Essa préforma já contém um espaço para que sejam encaixadas as armaduras de aço. O material, então, está pronto para ser levado até a obra, onde receberá, por fim, o concreto formando a viga ou coluna. O Grupo de Análise Experimental de Estruturas e Materiais (Gaema) já utilizou essa tecnologia para a construção de prédios, obras de saneamento, muros de contenção de cursos d’água e solo, cortinas e paredes. “Em uma obra comum, os custos com moldes de madeira podem chegar a 30% do valor total da estrutura da construção e tudo isso vai para o lixo depois. Com a dificuldade que temos para adquirir madeira, usar a disponível como molde descartável é uma prática complicada econômica e ambientalmente”, afirma Dênio Ramam.

n O colorido e a resistência da lama vermelha nas paredes e pisos Problema: a produção de alumínio gera, como resíduo, a lama vermelha. Solução: utilizá-la na produção de cimento, tijolos, telhas e insumos coloridos. Você já pensou em decorar sua casa com tijolos, azulejos, telhas, paredes, fachadas ou calçadas coloridas? Que tal fazer tudo isso ajudando a promover o desenvolvimento sustentável da região amazônica? O Grupo de Análise Experimental de Estruturas e Materiais (Gaema), da UFPA, mostra que isso é possível. O alumínio que encontramos em diversos produtos, como latas de refrigerante e panelas, é obtido pelo processo de beneficiamento do minério de bauxita. O Brasil possui a terceira maior reserva mundial desse material, sendo que 95% dele são encontrados no Estado do Pará. Para produzir alumínio, transformamos a bauxita em alumina por um método conhecido como “processo Bayer”. Mas, apesar das inúmeras utilidades do alumínio, ele representa um sério risco ambiental. Especialistas estimam que, para cada tonelada de alumina produzida na Região Norte, a mesma quantidade de lama ver-

n Garrafas PET para fazer a laje?

melha é gerada. Lama vermelha é um resíduo sólido prejudicial ao meio ambiente e à saúde humana que, sem destino, apenas pode ser continuamente armazenada. Entre os anos de 1999 e 2004, o Pará produziu 9,6 milhões de toneladas de alumina no município de Barcarena, no nordeste do Estado, o que significa que a mesma quantidade de lama vermelha foi produzida e estocada. “Precisamos propor alternativas para a utilização desse rejeito sob pena de que, ao explorarmos o minério paraense, além de perdermos as riquezas naturais, ainda tenhamos que dar um destino às milhares de toneladas de resíduos geradas pelo processo de beneficiamento da bauxita”, defende Alcebíades Macedo, pesquisador do Instituto de Tecnologia da UFPA e um dos coordenadores do Gaema. O Grupo de Pesquisa, em uma série de projetos e análises, estudou as possíveis aplicações da lama vermelha na construção civil. “Podemos obter quase todos os elementos de uma casa com a utilização de lama vermelha. Tijolos, telhas, cimentos, artefatos cerâmicos, ladrilhos de piso, blocos para pavimentação podem levar, em sua composição, percentuais de lama

Acervo projeto

Carlos Sodré/Ag. Pa

n O desafio da madeira

Lama vermelha pode ser usada em tijolos, telhas e artefatos cerâmicos vermelha, mantendo a mesma segurança que os materiais tradicionais oferecem, ao mesmo tempo em que apresentam uma utilidade para o resíduo da produção mineralógica paraense”, revela o pesquisador. Uma das aplicações da lama vermelha é seu uso como pigmento pozolânico, a pigmentação utilizada para a construção civil. Utilizar um concreto naturalmente colorido evita o uso de revestimentos e tin-

tas, diminuindo gastos com a obra. “A lama vermelha proporciona maior resistência e homogeneidade quando usada como pigmento pozolânico para ser misturada ao concreto”, garante Fádia Lima, em sua tese de mestrado, pela qual comprovou que a lama vermelha pode alcançar tonalidades de vermelho em vários materiais, oferecendo uma opção eventualmente mais barata e ecologicamente correta.

Seu lar doce lar pode ficar ecologicamente correto No teto:

Problema: em 2007, apenas 53,5% das garrafas PET que circularam no Brasil foram recicladas. Solução: utilizar o material na fabricação de lajes de plástico. Você quer construir um segundo andar em sua casa? Que tal utilizar garrafas PET? Fabricadas com Poli Tereftalato de Etila, as garrafas representam uma grave ameaça ambiental. Para o professor Adalberto Lima, é possível oferecer uma alternativa socioambiental para o problema. “Pensamos em um projeto que fosse uma alternativa ao acúmulo de garrafas que contaminam rios e causam sérios problemas urbanos, e que também gerasse emprego e renda. A produção de lajes fabricadas a partir das garrafas PET tem essa dupla natureza”. Foram coletadas cerca de três mil garrafas, que, depois de selecionadas e limpas, passaram por um triturador. Os flocos de plástico foram derretidos e colocados em uma fôrma padrão para a fabricação de blocos cerâmicos para laje. “Os próximos passos da pesquisa serão a análise do produto criado e a construção de uma laje no centro comunitário que nos ajudou a coletar as garrafas”, detalha Adalberto Lima.

n as telhas podem ser fabricadas com a lama vermelha que sobra do processo de beneficiamento do alumínio no nordeste do Pará

Na estrutura: n laje com garrafas PET. n tijolos fabricados com o resíduo do tratamento de água (lodo).

No revestimento: n lama vermelha para colorir paredes e pisos em tons avermelhados, que podem ser usados também na calçada.


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