Beira 78

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12 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Dezembro, 2009

Entrevista

“O livro é o melhor instrumento de transmissão de cultura”

JORNAL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ • ANO XXIV • N. 78 • Dezembro, 2009

Tecnologia local recria azulejos

Beira do Rio – A Edusp é uma das maiores editoras universitárias do País. Existe uma receita de sucesso? P.M.F. – Muito trabalho e dedicação, além da facilidade de termos acesso à melhor produção científica. Queira ou não, a Edusp representa a maior universidade do Brasil, que, hoje, está entre as 50 melhores do mundo. É evidente que a USP tem uma produção de alta qualidade. Agora, cabe à editora captar os melhores livros, publicá-los, divulgá-los bem e fazer com que circulem. Além disso, sou uma pessoa que defende o livro em qualquer circunstância, pois acredito que o livro é o melhor instrumento de transmissão da cultura. Tecnologicamente, não se inventou nada melhor, seus únicos inimigos são o fogo e a água, evitando isso, ele funciona em qualquer lugar.

Critérios de seleção claros ganham respeito e confiança da comunidade

Beira do Rio – Como as obras são selecionadas para publicação? P.M.F. – Em todas as universidades, é preciso ter critérios. Eles devem ser claros para ganher respeito e credibilidade na comunidade acadêmica. Todos os livros devem ser examinados por especialistas, que irão emitir um parecer. Este parecer será submetido à comissão editorial, que é a instância que aprova ou

Wagner Meier

Beira do Rio – A internet, com as vendas on line, facilitou o acesso dos leitores aos lançamentos de vocês? P.M.F. – A internet não é a solução total para o livro, mas é um instrumento de divulgação que não pode ser desprezado. Hoje, o ISBN permite que você localize um livro em qualquer canto do mundo. Num país de dimensões como o Brasil, a rede tem um papel fundamental, pois você localiza a obra daqui, tem como acessar a editora e há, sempre, mecanismos de se encomendar. No momento, ela auxilia muito mais as livrarias do que as editoras. Beira do Rio – De que maneira a experiência da Edusp poderá contribuir com o fortalecimento da Editora da UFPA? P.M.F. – Demonstrando que os problemas do livro são iguais em todo lugar, o que muda é o tamanho do problema. Nós somos órgãos públicos e temos as mesmas dificuldades, mas as pessoas precisam acreditar que podem fazer.

Beira do Rio – Lançar coleções é uma estratégia de mercado? Quais são as que têm maior repercussão? P.M.F. – A publicação em coleções tem benefícios tanto de produção como de imagem. Internamente, Beira do Rio – Como você garante o projeto as editoras universigráfico de todos os litárias podem contrivros que serão publicabuir com a difusão do dos, a obra tem maior conhecimento cienvisibilidade e durabitífico? lidade de permanênP.M.F. – Hoje, elas são cia num catálogo. Ao o melhor canal de dimesmo tempo, sendo vulgação científica. Os bem planejada, uma livros publicados por coleção é um cartão de uma editora são escoNa Edusp, visita e ajuda a criar a lhidos pelo mérito. A identidade da editora pergunta que se deve a receita do externamente. Mas é responder é: esse livro preciso avaliar quanestá contribuindo com sucesso é do vale a pena criar a novas descobertas? No trabalho e coleção. Se você tem Brasil, as editoras unidez títulos de peso na versitárias são a grande decidação área da Teoria Literánovidade no mercado ria, por que lançá-los editorial, por cumpriindividualmente se é rem um papel que o possível criar uma coleção de textos mercado não cumpre, o do investiliterários? É a demanda quem demento a longo prazo. Mas nós não termina. A nossa coleção mais bem podemos trabalhar com a lógica do sucedida é a “Coleção Acadêmica”, mercado, precisamos achar o caminho na área das Ciências Exatas, uma adequado para que o nosso produto área não explorada pelas editoras chegue a quem ele se destina. Para universitárias. É uma das coleções isso, precisávamos criar uma rede de mais premiadas pela Câmara Brasilivrarias entre as editoras universitáleira do Livro, que oferece o Prêmio rias para que os nossos livros circuJabuti de Literatura, justamente por lassem, respeitando as necessidades publicar coisas inéditas. de cada campus.

Na Boulevard Castilhos França, ainda é possível encontrar casarios com as fachadas azulejadas

Reduto

Mosqueiro

Pesquisa conta história da vila operária

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Cidade Velha

Tráfego intenso prejudica patrimônio

Migração

"Bucólicos" e "farofeiros" disputam praias da Ilha Dissertação defendida no Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFPA identificou a disputa por ter-

ritório entre os dois tipos de turistas que utilizam a orla oeste da Ilha, do Areião ao Ariramba. Pág. 8

Experiências da família Onuma revelam as dificuldades enfrentadas pelos migrantes japoneses que chegaram ao nordeste do Pará, em 1929. Pág. 9 .

Entrevista

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Desde o final do século XIX praia é opção de lazer e descanso

Fluxo de ônibus é excessivo

Os japoneses brasileiros de Tomé-Açu

Pajelança

Barragens

Religião e medicina na Amazônia

Os dramas dos deslocamentos compulsórios

O historiador Aldrin Figueiredo lança livro sobre as práticas da pajelança e de religiões afro-brasileiras entre os anos de 1870 a 1950. Pág. 3

Construção de hidrelétricas faz com que milhares de famílias percam a noção de espaço, tempo e organização social. Pág. 10

Plínio Martins Filho conversa sobre a importância das editoras universitárias para a divulgação científica. Pág. 12

Coluna do Reitor Carlos Maneschy discute sobre o papel das fundações no apoio às universidades. Pág. 2

Opinião Heliana Baía Evelin fala sobre mestiçagem e sistema de cotas no Brasil. Pág. 2

Alexandre Moraes

Beira do Rio – O desafio do projeto é ele ser bilíngue ou representar a grande mudança da Edufpa? P.M.F. – As duas coisas, pois elas são inseparáveis. Uma editora é o instrumento de publicidade de uma universidade. É ela quem dá a dimensão e o estágio de conhecimento que essa universidade está. Se você tem a possibilidade de reeditar um excelente produto e também reestruturar

todo o planejamento e a identidade visual da editora, essa é uma oportunidade única.

desaprova um livro. A decisão não é do diretor da editora. Diferente de uma editora particular, você tem procedimentos e eles precisam ser seguidos à risca para que haja confiabilidade e credibilidade. Você não pode publicar uma obra porque o autor é amigo, importante ou famoso. O que interessa, para a seleção de um livro, é o aspecto qualitativo, ou seja, o valor que esse livro tem, a contribuição que ele traz. Não devemos levar em conta critérios financeiros, pois que assim, a editora universitária perderá a sua razão de ser, que é publicar a melhor produção da universidade, além de trazer contribuições que possam melhorar o ensino e formar bibliografia para os cursos que a instituição oferece.

Wagner Meier

Beira do Rio – O senhor foi convidado para atuar como editor da edição bilíngue dos Diálogos de Platão, já traduzido por Carlos Alberto Nunes. Como será feito esse trabalho de forma a privilegiar a obra e seus leitores? Plínio Martins Filho – Uma edição bilíngue exige um projeto gráfico diferenciado. A minha função como consultor é achar a pessoa certa e orientá-la durante o projeto gráfico, considerando o público-alvo de uma editora universitária. Será uma obra de referência, por isso um trabalho permanente. Nossa ideia é que seja o ponto de partida para uma nova fase da editora, com uma nova cara. No fundo, essa mudança é uma adequação aos tempos. As editoras precisam, de vez em quando, se reciclar em função do público e das mudanças tecnológicas. Talvez eu tenha sido convidado em virtude da minha experiência com a Edusp, para mostrar que é possível fazer um bom trabalho quando se tem um bom produto.

"Você não pode publicar uma obra porque o autor é amigo ou importante"

Wagner Meier

Há 38 anos, ele mantem uma relação afetiva e profissional com o livro. Atualmente, à frente da Editora da Universidade de São Paulo (Edusp), seu trabalho é selecionar o que há de melhor entre a produção científica da universidade paulista e tornar esse material acessível ao público interessado, onde quer que ele esteja. À convite da Editora Universitária da UFPA (Edufpa), Plínio Martins Filho, esteve em Belém para as primeiras reuniões de planejamento da edição bilingue (português/grego) da obra Diálogos de Platão. A oportunidade também servirá para que a Editora da UFPA ganhe uma nova identidade visual. O editor encara a mudança como uma adequação aos tempos, necessária diante do surgimento de novas tecnologias e das exigências dos leitores. Para ele, as editoras universitárias funcionam como instrumento de publicidade das suas universidades."É a editora que dá a dimensão e o estágio de conhecimento em que a universidade está", afirma.

Fotos Alexandre Moraes

De acordo com Plínio Martins Filho, ainda não foi inventada nenhuma tecnonologia que supere a funcionalidade do livro. Rosyane Rodrigues

P

rofessores dos Institutos de Tecnologia e de Geociências da UFPA analisaram 19 amostras de azulejos portugueses, frenceses e alemães para verificar as características físicas, químicas e mineralógicas das peças. O objetivo é conseguir recompor as lacunas das fachadas de prédios históricos de Belém, utilizando técnicas de restauro mais apropriadas ao nosso clima. Os pesquisadores estudam possibilidades de fabricar réplicas dos azulejos em Icoaraci, criando uma nova atividade econômica para os ceramistas locais e tornando o serviço de restauração mais acessível aos proprietários. No final da década de 70, Belém era a cidade bresileira com a maior diversidade de azulejos em fachadas. Nos últimos 40 anos, mais de 60% desse material foi perdido pela ação do clima, por descuido ou pelo alto custo com a preservação ou substituição dos azulejos Pág. 4


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