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12 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Janeiro, 2010
Entrevista
“Devemos ter um respeito escrupuloso com a diversidade”
JORNAL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ • ANO XXIV • N. 79 • Janeiro, 2010
Mácio Ferreira
UFPA pesquisa câncer gástrico
Antonio Silva: "nossa missão é promover a equidade na formação universitária"
Beira do Rio – Qual a importância da cátedra para o intercâmbio cultural entre o Brasil e os países africanos? Antonio Correia e Silva – É uma medida de grande alcance, que vai beneficiar as relações acadêmicas centradas na temática africana. Agora, a cátedra pode ser usada para ações de extensão e dará aos estudos africanos uma nova visibilidade. Beira do Rio – Existem outros projetos de intercâmbio com outras universidades brasileiras? A.C.S. – Com certeza. O Brasil é uma referência no ensino. Nós temos uma parceria ampla e forte com algumas instituições, como a Universidade Federal do Rio Grande do Sul, com quem nós temos cursos de pós-graduação realizados em Cabo Verde e com professores cabo-verdianos como tutores, o que, para nós, é fundamental, pois permite investir na capacitação de docentes. Ainda temos parcerias com as Universidades Federais da Bahia e do Ceará e com a Universidade Estadual Paulista. São essas instituições que fazem parte do nosso rol de amigos no Brasil.
fizemos vários estudos, encomendamos outros e o nosso diagnóstico é que muitos candidatos não irão demandar um curso de graduação, mas cursos profissionalizantes, pois eles geram mais oportunidades de emprego. No início, essa proposta foi recebida com alguma estranheza pelo Ministério da Educação e pela sociedade – diziam que a universidade deveria oferecer, apenas, cursos de graduação e de pós-graduação. Alguns diziam que outra instituição deveria ofertar os cursos profissionalizantes. Mas é preciso pensar nas condições do nosso país. É mais fácil investir na estrutura que já existe do que criar outra, com todos os custos que isso implicaria. Quando criamos esse produto acadêmico, ficamos na expectativa, mas a juventude aderiu e os cursos têm tido muita procura. Esse é um sinal de que a juventude vê a educação não só como um bem de prestígio, mas também como um bem que viabiliza o seu projeto de vida. Há, aqui, um movimento de mudança em termos de mentalidade. E a universidade tem que estar na vanguarda, não pode ficar refém do passado.
"A liberdade, a autonomia, tudo se conquista na pós-graduação"
Beira do Rio – Qual o papel da Escola de Negócios e Governação? A.C.S. – O projeto é uma “coqueluche” na universidade. Cabo Verde é um país bem genuíno, conhecido internacionalmente pelo padrão da boa governança. E nós queríamos que houvesse uma escola que continuasse a formar os administradores públicos. Para criar o modelo econômico autossustentável, precisamos formar gestores, então, criamos uma escola que reúne a administração pública
e a privada, seguindo o pressuposto de que essas duas áreas não são mais dicotômicas, mas se encontraram e, hoje, são complementares.
em várias ilhas. Nós somos um país com desafios enormes: temos quatro mil quilômetros quadrados, não temos meio milhão de habitantes, não temos base agrícola e precisamos, urgentemente, produzir e dar um salto. Em 35 anos de independência, somos um país alinhado internacionalmente pela boa gestão, pela democracia, pelos direitos humanos, pelo investimento na educação, mas que precisa dar um salto em termos econômicos, pois continua a viver do transporte aéreo, das remessas de migrantes e da ajuda pública da Nova Guiné. Precisamos criar um modelo de desenvolvimento autossustentável.
Beira do Rio – Há seis meses, uma nova equipe de gestores tomou posse. Quais são os principais projetos dessa equipe? A.C.S. – Vamos iniciar um novo ciclo. Passaram os primeiros anos, quando precisávamos colocar a universidade para funcionar, mesmo em condições muito precárias. Hoje, a nova equipe tem o papel de consolidar a universidade. Avançamos na pós-graduação com o apoio de vários parceiros. Agora, é preciso começar a produzir de forma independente. Beira do Rio – O continente africano Precisamos consolidar a pós-graduação, é sempre visto como um “todo”, sem pois é aí que a universidade se autoconsque sejam discutidas as diversidades titui. A liberdade, a autonomia, tudo se econômicas e socioculturais entre os conquista na pós-graduação. Quando já seus países. O que a universidade tem é possível fazer pós-graduação, significa feito para modificar esse olhar? que a universidade atingiu a maioridade. A.C.S. – Nós temos incentivado o A reforma curricular na graduação tamconhecimento mútuo entre as sociedabém é necessária. Estamos formatando des. No acordo que fechamos com a os cursos, dando maior racionalidade aos Universidade Federal do Pará, há um currículos e propiciando o diálogo com ponto importante, que é a circulação outros sistemas de enside agentes culturais para no, o que irá propiciar que, pela Universidade mobilidade e reconhecide Cabo Verde, o mundo mento. Nossa geografia conheça Cabo Verde nas interna (arquipélagos) e suas especificidades e nossa geografia no munnós também conheçamos do (diáspora) nos deixam outras sociedades. Hoje, dispersos. Queremos que o que falta na cultura a nossa universidade chemundial é a diversidade. gue aos cabo-verdianos É preciso que a antropoque vivem na Ilha do diversidade se manifeste, Príncipe, na Europa, nos pois ela, assim como a Estados Unidos, em Anbiodiversidade, também "A universidade é riqueza. É certo que os gola ou na Argentina. É fundamental que o Enafricanos ficaram reféns dever estar na sino a Distância tenha a das idealizações em torno capacidade de mobilizar vanguarda, não das nações homogêneas, alunos e chegar a esses pois as nações multiétnipode ficar refém cas tiveram dificuldade países. em se constituir, resvado passado" Beira do Rio – Então, lando para o genocídio. hoje, o Ensino a DisDesde então, a diferença tância é um grande ficou sendo vista como desafio? algo perigoso, que pode detonar o A.C.S. – Sim. Nós estamos distribuídos conflito a qualquer momento. Muitas em ilhas, nove delas são habitadas. vezes, criam-se unidades artificiais, Portanto, com o Ensino a Distância, escamoteando a diferença. Mas a difevamos cumprir a nossa missão de rença pode ser compatível com a paz e formar com equidade – a igualdade de com a coparticipação. Todos os povos, oportunidade de formação universitária por meio das suas universidades, devem precisa estar apoiada em determinados se conhecer nas suas manifestações mecanismos e um deles é o EAD. Esculturais. A universidade deve ter um tamos instalando o campus virtual, que respeito escrupuloso pela diversidade e permitirá estarmos com nossos cursos pelo patrimônio cultural.
A
Rede Paraense de Genoma está buscando as causas para os altos índices de câncer gástrico entre a população amazônica. O Projeto, parceria entre o Instituto de Ciências Biológicas/UFPA, o Governo do Estado e a Embrapa, tem como objetivo identificar o sequenciamento genético das células para encontrar formas mais adequadas de tratamento. Em 2008, Belém foi a 13ª colocada no ranking mundial de cidades com maior incidência da doença. A ação da bactéria H. pilory, as condições sanitárias deficientes, o fator genético e a dieta alimentar estão entre as possíveis causas. Pág. 6 e 7
Moradia
Um jeito de viver e morar em Belém
Câncer: entre os fatores de risco, está a dieta alimentar à base de alimentos fermentados, como a farinha de mandioca
Poluição
Câncer
Rejeitos contaminam águas Pacientes terão atendimento dos rios da amazônia Há 20 anos analisando as águas de importantes rios da região, o Laboratório de Química Analítica só vê
aumentar o índice de contaminação por micro-organismos e metais pesados. Pág. 5
Mundo das Engenharias mais próximo Pág. 10
Educação
UFPA observa práticas pedagógicas voltadas para discussão de relações étnico-raciais em escolas de quatro Estados da Região Norte. Pág. 11
Unidade de Atendimento do Hospital Barros Barreto inicia atividades ainda em janeiro para 'desafogar' Ofir Loyola . Pág. 8
Extensão
Inventários e testamentos revelam aspectos da vida material da população da cidade no início do século XX. Pág. 3
Discussão racial não chegou à escola
ampliado
Em apenas dez anos, Rio São Joaquim virou esgoto a céu aberto
Coluna do Reitor Carlos Maneschy escreve sobre o desafio de alterar o cenário na Amazônia. Pág. 2
Opinião Jussara Martinelli apresenta o "corrupto" que habita as praias brasileiras. Pág. 2
Entrevista Antonio Silva conversa sobre os novos desafios da Universidade de Cabo Verde. Pág. 12
Alexandre Moraes
U
m lugar onde são construídos projetos de vida, que, mais tarde, irão culminar com projetos de uma nova nação. Criada recentemente, a Universidade de Cabo Verde não quer fórmulas prontas, mas também não rejeita bons exemplos, experiências bem sucedidas e parcerias. A Uni-CV quer encontrar o caminho para o desenvolvimento autossustentável do país. Para isso, tem investido em tecnologia e em modelos de cursos que atendam a sua geografia particular, tem buscado, na diáspora, os talentos para a construção desse projeto. Em visita ao Brasil para a inauguração da segunda Cátedra Brasil-África de Cooperação Internacional, sediada na UFPA, Antonio Correia e Silva, reitor da Universidade de Cabo Verde (Uni-CV), deu entrevista exclusiva ao Jornal Beira do Rio. De acordo com o reitor, esse intercâmbio cultural é saudável e vem preencher uma lacuna. “Hoje, o que falta na cultura mundial é a diversidade”, afirma Antonio Correia e Silva.
Wagner Meier
Rosyane Rodrigues
Beira do Rio – Além dos tradicionais cursos de graduação e de pós-graduação, a Universidade de Cabo Verde oferece cursos profissionalizantes. Esses cursos surgem a partir de demandas sociais, voltados para áreas em que há carência de mão de obra qualificada ou a partir de uma proposta da universidade? A.C.S. – Um pouco das duas coisas. Antes da instalação da Uni-CV,
Fotos Alexandre Moraes
Estabelecendo parcerias, Universidade de Cabo Verde busca maior visibilidade para os estudos africanos.