Beira 81

Page 1

issn 1982-5994

12 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Março, 2010

Entrevista

“O excesso de decoração está tomando o espaço do conteúdo”

os professores. Então, alguns livros, como História Integrada, possuem uma ótica que considero adequada, mas impossível de ser realizada.

de ótima qualidade. O historiador Stuart Schwartz, especialista em Brasil, autor de 15 excelentes livros, entre os quais, o recente Cada um na sua Lei, possui um livro didático Beira do Rio – Qual o problema de altíssima qualidade nos Estados que o senhor aponta em relação à Unidos, utilizado e vendido em História Temática? muitas universidades americanas. J.J.A.A.– A História Temática se No Brasil, há um ranço negativo aproxima mais da especificidade contra o “livro didático” nas univerdo professor. É a ideia de que se sidades. Ora, os livros didáticos não deve partir do mundo mais próximo são ruins; são instrumentos impora você, daquelas relações cotidiatantes. Mas, dependem de como são nas, provavelmente, mais fáceis produzidos e utilizados. Essa visão de serem entendidas pelos alunos, que há contra o livro didático está até atingir as questões mais gerais. relacionada, também, ao fato de o Ora, na verdade, qualquer método professor universitário se julgar um serve. Você pode sair do singular e pouco superior a tudo aquilo que se atingir o plural ou sair do plural e faz no ensino secundário. Eu conheatingir o singular. O problema é se ço muitos professores universitários você faz essa viagem ou não. Essa que começaram dando aula em faculé a questão. Porque, às vezes, você dades sem ter nenhuma experiência começa com um universo que é próde sala de aula no ensino secundário, ximo, mas não consegue ultrapassar numa escola de periferia. Então, são esse limite. Vou dar um exemplo: pessoas que acabam se considerando se preciso privilegiar a História um pouco superiores. Por outro lado, do Pará, faço uma hoje, há uma pletora de série de pesquisas e livros didáticos sendo descubro que há uma editados todos os anos. História do Pará que Então, vem a pergunta: não é a mesma Históo que esse material ria do Brasil. No Petodo tem de novidaríodo Colonial, eram de? Na verdade, é um dois mundos praticamaterial engessado. mente à parte, apesar Vou citar um exemplo de terem a mesma desse engessamento: metrópole conjugandentro do tema migrado os dois univerção portuguesa para sos. Em determinado o Brasil, há, no Pará, “Os exames momento, em busca numerosas coisas que de uma identidade absolutamente nosão obrigados a são paraense na História, vas em termos de miposso correr o risco trabalhar numa gração. Quando essas de deixar de buscar as coisas novas vão pasmediana do conexões do Pará com sar para os livros diaquele outro Estado conhecimento” dáticos? Eu respondo: brasileiro. Então, vou vai demorar. No livro deixar de ter um codidático, entram coisas nhecimento histórico que são generalizadas mais aprofundado, porque, afinal de por todos os outros livros didáticos, contas, o Pará não estava isolado do porque são aquelas cobradas nos resto do Brasil e, muito menos, do exames vestibulares, no Enem ou mundo. Esse é o risco da História em qualquer outro tipo de seleção. Temática. Todos esses exames são obrigados a trabalhar numa mediana do coBeira do Rio – Por que o livro nhecimento, nunca na ponta. Então, didático é tão criticado pelos protrabalhando com conhecimento fessores universitários no Brasil? consolidado, numa perspectiva de J.J.A.A.– Eu conheço alguns livroscontinuidade, serão sempre avessos -texto que são “livros didáticos” à inovação da História.

Eliseu Dias/ Ag. Pará

Pág. 10

Futsal

Projeto usa esporte para inclusão social

Times formados por crianças e adolescentes atendidos na Escola de Aplicação ganham medalhas em torneios nacionais. Pág. 5

Portel foi um dos municípios paraenses atingidos pelo surto de raiva entre os anos de 2004 e 2005

Excelência

Engenharia Naval forma primeira turma

Mercado de trabalho oferece ampla possibilidade de atuação e salários diferenciados aos recém-formados. Pág. 11

Nutrição

Pesquisa

Grupos fortalecem investigação científica

Pág. 4

Pará responde à Chamada Nutricional

Faculdade de Nutrição da UFPA é parceira em pesquisa que avaliou duas mil crianças em 15 municípios paraenses. Pág. 9

Cartografia

Mapas trazem diversidade da floresta

Pág. 3

Grupos de pesquisa envolvem professores, alunos e técnicos da UFPA

Coluna do Reitor

Recursos ampliam estrutura

Carlos Maneschy dá boas-vindas aos calouros 2010. Pág. 2

Opinião Professor Hilton P. Silva fala sobre as perspectivas da Formação Médica na UFPA. Pág. 2

Entrevista José Jobson de Andrade Arruda faz crítica aos livros didáticos de História. Pág. 12

Alexandre Moraes

chamado História Integrada. Do ponto de vista da informação, penso que se trata da forma mais eficiente, porque concilia a sequência cronológica sem separar os conteúdos. Na História Integrada, em vez da forma clássica, as Histórias da Europa e do Brasil surgem juntas. Foi assim que procedemos naquele livro. Quando se falou da Pré-História, introduzimos a Brasileira e a Americana. Com a expansão europeia, abordamos as Sociedades Pré-Colombianas. Quando tratamos da Revolução Industrial, inserimos questões da indústria em todo o mundo, inclusive no Brasil. Mas essa História Integrada encontrou um obstáculo: os professores não tinham treinamento para trabalhar Grécia, Mesopotâmia, Beira do Rio – A partir da sua Império Romano e Idade Média com experiência, comente as metodoa mesma desenvoltura com que tralogias utilizadas pelos autores, balhavam a História do Brasil. Os levando em conta a questão da professores são treinados dentro de informação. uma segmentação: os de História J.J.A.A.– Logo após o governo Geral e os de História do Brasil. militar, uma corrente vigente, duDentro desta última, há uma segunrante certo tempo, foi a História da segmentação: Brasil Colonial e Temática. Acontece que a opção Brasil Independente. Pessoalmente, por eixos temáticos apresenta todos não tive dificuldade em sala de aula os defeitos das demais com a abordagem insegmentações feitas tegrada, porque fui no estudo da História. professor de cursinho O grande problema durante trinta anos. O é que você tem que professor de cursinho escolher um ângulo não pode escolher. de ataque, tem que Começa dando Históescolher uma opção. ria da Grécia e acaba Como vou escrever tal na Segunda Guerra história? Vou fazê-la Mundial ou começa segmentada? Vou copelo Brasil Colônia e meçar pela História da termina na República. Europa e depois partir Acabei conquistando “Os livros para a História do Braum domínio geral das sil? - a forma clássitemáticas, o qual me não são ruins. ca. Ou vou fazer uma tornou capaz não só Depende de História Integrada? de fazer o livro, como - opção que tivemos também de ministrar como são num certo momento. os diferentes conteúSou autor de um livro, dos. Mas esta não é a utilizados” já não mais editado, experiência de todos

José Jobson Arruda é autor de dezenas de livros didáticos

Mácio Ferreira

Beira do Rio – A supervalorização de elementos gráficos nos livros didáticos atuais pode comprometer a qualidade dos conteúdos? José Jobson Andrade Arruda – Os livros atuais apresentam pouco texto e muitas imagens. Valoriza-se muito a decoração. Não seria um problema desde que os excessos imagéticos não prejudicassem o conteúdo, mas o trabalhasse no sentido de facilitar a compreensão dos alunos. Atualmente, os autores escrevem textos e, ao mesmo tempo, precisam reforçar a aprendizagem. Então, lançam mão de diferentes estratégias. O problema surge quando a decoração se torna excessiva e começa a tomar o espaço do conteúdo.

D

urante os anos de 2004 e 2005, alguns municípios paraenses, como Portel, Viseu e Augusto Corrêa, sofreram com um surto de raiva provocado por ataques de morcegos hematófagos. Na ocasião, milhares de pessoas receberam a vacina antirrábica. Atualmente, a Faculdade de Medicina da UFPA está coordenando pesquisa, cujo objetivo é monitorar, durante cinco anos, o nível de proteção das pessoas vacinadas. Após análise dos dados, o projeto deve propor formas e períodos de revacinação adequados, já que a superdosagem aumenta os riscos de efeitos colaterais.

Alexandre Moraes

Walter Pinto Professor aposentado da USP e titular do Instituto de Economia da Unicamp, Jobson Arruda é autor de História Moderna e Contemporânea, livro que atingiu a incrível marca de 15 milhões de leitores. Publicado durante o Regime Militar, o livro foi na contramão das interpretações impostas pelo regime policialesco instaurado, optando pelo materialismo histórico. Em entrevista ao Jornal Beira do Rio, o historiador critica os excessos imagéticos das produções gráficas; aponta a metodologia de transmissão de conhecimento que julga mais eficiente; comenta a relação nada pacífica entre professores universitários e livros didáticos e diz por que as editoras demoram a incorporar novos conhecimentos às obras para o ensino secundário.

Estudo avalia vacina antirrábica Fotos Alexandre Moraes

José Jobson de Andrade Arruda critica os excessos gráficos das obras para o ensino secundário

JORNAL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ • ANO XXIV • N. 81 • Março, 2010


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.