Beira 83

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12 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Maio, 2010

Entrevista

"O Brasil está na vanguarda da pesquisa em Museologia"

JORNAL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ • ANO XXIV • N. 83 • Maio, 2010

D

Beira do Rio – Por que os museus ainda amedrontam tanto o público comum? T. S. – Os museus precisam falar a linguagem da sociedade em que eles Beira do Rio – Quais são as áreas de se inserem. Eles podem conter bens de atuação do museólogo? valor fantástico, mas se utilizarem uma T. S. – Praticamente, em todas as áreas linguagem de aproximação que não esdo campo da cultura, teja sintonizada com os das ciências e das artes. códigos culturais daquePrimordialmente, em la sociedade onde estão museus, centros cultuinseridos, as pessoas não rais e áreas patrimoniais, se sentem representadas, mas ele atua também em não entendem o que está institutos de pesquisa que ali. Então, é fundamental trabalham com cultura e que os museus de todos patrimônio; em universios tipos saibam adequar dades, na área acadêmica; suas linguagens às realiem empresas, fazendo dades culturais e sociais consultoria para a gestão dos grupos sociais em de certas coleções; em que estão inseridos e É fundamental aos quais estão servindo institutos de conservação; nas mídias, existem ou devem servir, já que essa relação vários museólogos, por o museu é uma agência comunicacional de representação social exemplo, trabalhando na Rede Globo, pesquisando cultural a serviço da ser adequada às esociedade. indumentária, mobiliEntão, na ário, temas históricos verdade, as pessoas não sociedades alvo para novelas de época. têm medo dos museus.

Beira do Rio – De que maneira o museólogo pode contribuir para diminuir essa distância? T. S. – Fazem parte da formação do museólogo as teorias e as metodologias de comunicação e análise do discurso. Eles não só trabalham isso teoricamente, como também fazem um conjunto de práticas, aprendendo a definir discursos e narrativas que sejam adequadas às sociedades. Eles aprendem a usar as linguagens de comunicação de maneira adequada para museus, a trabalhar com as linguagens auxiliares da exposição, como marketing. Aprendem a fazer o uso adequado à museologia das linguagens visuais.

Beira do Rio – O dia 18 de maio é dedicado à comemoração internacioBeira do Rio – Podemos dizer que nal do Dia dos Museus. Temos o que visitar museus é como a leitura: um comemorar nacionalmente? hábito que precisa ser T. S. – Estamos entrando incentivado. Precisana segunda década do mos desenvolver uma século XXI com uma cultura de visitação? museologia brasileira T. S. – Eu sempre digo sólida, muito bem amque não há idade para parada em metodologias começarmos a visitar e teorias apropriadas. museus. É um equívoTeoricamente, o Brasil é co pensar que a criança um dos países que estão muito pequena, que não na vanguarda das pesquilê, não vá entender. Ela sas. Nós temos um lugar pode não entender alguns sólido no âmbito dos conteúdos cognitivos, estudos internacionais Museu é um mas ela estará exposda Teoria da Museolota a um ambiente com gia. Contribuímos para nome dado a um conjunto de formas o crescimento e a consoorganizadas e isso será um conjunto de lidação da Museologia apreendido pela criança. como campo disciplinar. representações É muito comum, em Do ponto de vista prooutros países, as famífissional, nós temos 14 sociais lias levarem bebês aos escolas de graduação, um museus. Há determicurso de Mestrado em nados museus que são Museologia e Patrimôpreparados e o discurso é feito também nio, o primeiro do Brasil e da América do para essa criança. Em países como o Sul. Temos uma estrutura que permitirá, nosso, onde ainda temos problema com no próximo decênio, o desenvolvimento a alfabetização, isso é contornado por de uma formação sólida e a pluralizaexposições exploratórias, que trabalham ção dos profissionais. Este ano, vamos com todos os sentidos e não apenas com comemorar o convite feito ao Conselho a leitura. A narrativa da Museologia não Internacional dos Museus para a reaé uma narrativa só da escrita, é visual, lização da próxima Conferência Geral perceptual, e isso pode estar oferecido no Brasil, em 2013 e que foi aceito, em para qualquer pessoa, de qualquer idade votação, por representantes de mais de e meio social. 160 países.

Aprender Geografia fora da sala de aula

Mitos reforçam a cultura local

Dissertação investiga em que medida as narrativas orais influenciam o cotidiano e as relações sociais no município de Santa Bárbara. Solidão, identidade, trabalho e lazer estão entre os temas das histórias contadas. Pág. 9

Novo modelo didático inclui trabalho de campo com visita e observação de pontos turísticos de Belém. Pág. 5

Tatiane Vidal

Beira do Rio – Com as novas mídias, estamos vivendo um tempo em que as visitas deixarão de ser contemplativas? T. S. – Isso também tem a ver com a organização das narrativas. Os museus muito pequenos não estão obrigados a comprar e a manter novas tecnologias que extrapolam as suas possibilidades reais. É possível fazer tudo isso com um custo muito baixo e, aqui, entra o knowhow do museólogo, que deve conseguir fazer essas narrativas de maneira plural e inclusiva, mesmo sem o implemento de aparatos sofisticados. Mas só a incorporação das novas tecnologias não garante a relação positiva com a sociedade. Você pode ter um museu pleno de equipamentos sofisticadíssimos e, ainda assim, não conseguir estabelecer narrativas que sejam inclusivas. Precisa haver, por parte do profissional, um compromisso ético com a inclusão social e comunicacional.

Amazônia

História

Diários são fontes de pesquisa

Pág.11

Memória

O legado de Pasquale Di Paolo

Seres encantados que protegem a floresta e as águas estão presentes no imaginário dos moradores Pág. 4

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Extensão

Entrevista A professora Tereza Scheiner conversa sobre a importância da qualificação e o mercado de trabalho para os museólogos. Pág. 12

Urbanização

Projeto ensina História do Brasil por meio da música Samba e Hip Hop são alguns dos ritmos ouvidos nas oficinas do Projeto "História em Cantos". Alunos do

ensino médio da Escola de Aplicação analisam letra, melodia e contexto histórico das canções. Pág. 3

Mudanças na paisagem do Icuí-Guajará

Pág. 8

Lilian Brito

Há um campo vasto de atuação. O que entendemos como museu é um conjunto de representações sociais muito mais amplo, então, para a Museologia, jardins zoológicos e botânicos, planetários, aquários, parques nacionais e estaduais são museus. Existem os museus virtuais/ digitais que também podem ser criados, elaborados e trabalhados por museólogos, enfim, é um campo vasto. E há, ainda, a atuação junto aos serviços nacionais e internacionais de segurança do patrimônio, para evitar a evasão de bens culturais dos países. E, nos últimos anos, museólogos têm se envolvido, cada vez mais, em trabalhos de desenvolvimento sustentável, planejamento ambiental. Esse é um campo da museologia brasileira que está em expansão.

Às vezes, elas não os frequentam porque eles não dizem que estão lá e o que há para ser visto e, quando chegam a entrar, percebem que a linguagem não lhes diz nada. Não é o que está ali, é o modo de dizer. É fundamental essa relação comunicacional ser adequada às sociedades alvo.

Didática

dida no Programa de Pós-Graduação em Teoria e Pesquisa de Comportamento UFPA. Típica dessa idade, a brincadeira de faz de conta imita os papéis sociais e está diretamente relacionada com o contexto cultural em que as crianças estão inseridas."Vendedor", "comidinha" e "mamãe e filhinho" estão entre os enredos mais frequentes. Págs. 6 e 7

Karol Khaled

A Universidade Federal do Pará criou, em 2009, o primeiro curso de graduação em Museologia da Região Norte. O objetivo é suprir a carência de profissionais qualificados nessa área. De acordo com o Ministério da Cultura, no Brasil, existem dois mil museus responsáveis pela geração de 17 mil postos de trabalho. Mais de 80% dos profissionais que atuam nesses estabelecimentos, porém, não têm formação específica na área. A professora Tereza Scheiner, coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Museologia e Patrimônio da UNIRIO/MAST, esteve em Belém a convite da coordenação do bacharelado em Museologia. Em entrevista ao Jornal Beira do Rio, Tereza Scheiner falou sobre o campo de atuação profícuo para os profissionais que estarão formados nos próximos anos e sobre o que temos para comemorar no próximo dia 18, Dia Internacional dos Museus.

e 2003 a 2006, a professora Sônia Regina dos Santos Teixeira acompanhou alunos da Educação Infantil da Unidade Pedagógica da Ilha do Combu. As crianças, com faixa etária entre três e seis anos, também foram observadas em seus momentos de lazer. Os resultados da pesquisa foram apresentados na tese de doutorado defen-

Karol Khaled

Tereza Scheiner: "profissional precisa ter compromisso com a inclusão social"

Rosyane Rodrigues

Beira do Rio – Somente na Região Norte, há mais de 122 museus e apenas 28 profissionais em atuação. Qual o impacto que o primeiro curso de graduação em Museologia, da região, trará para o mercado? Tereza Scheiner – É um fato muito importante a nova Escola de Museologia da UFPA, que ofertará 30 vagas por ano. A proposta é que todos esses egressos, efetivamente, trabalhem no campo da Museologia, desenvolvendo atividades em museus e em instituições similares. O museólogo atua não apenas em museus, mas também em outras instituições do campo cultural e patrimonial, utilizando a metodologia da Museologia. Eu tenho certeza de que, em médio prazo, 2015 ou 2020, vocês já estarão sentindo esse impacto na prática, com a inclusão e o aporte de profissionais especializados e o desenvolvimento progressivo de técnicas, procedimentos e ações adequados a cada museu desses.

Fotos Karol Khaled

Pesquisadores brasileiros têm contribuído com o crescimento e a consolidação da disciplina.

Brincadeira é coisa séria

Coluna do Reitor Carlos Maneschy discute os reflexos do ENEM na Universidade Federal do Pará. Pág. 2

Opinião Jane Beltrão e Carlos Caroso falam sobre a 27ª Reunião Brasileira de Antropologia Pág.2

Estudantes da Escola de Aplicação em aula de História da Música

Bairro tem cenário urbano e rural


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