issn 1982-5994
12 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Agosto, 2010
Entrevista
Pesquisador investiga relações amorosas transnacionais
JORNAL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ • ANO XXIV • N. 85 • Agosto, 2010
Beira do Rio – Do que trata a sua Tese “Putas, Pivetes e Gringos no Brasil Globalizado”? Samuel Veissière – Na verdade, essa é a primeira parte do título, a segunda parte fala do desejo, do sofrimento e da violência nas ruas de Salvador (BA). Então, muitas vezes, quando as pessoas me perguntam sobre o que é o meu trabalho, eu respondo, de maneira simples, que é sobre turismo sexual, mas, na verdade, eu examino questões muito mais amplas do que isso. O que me interessa é entender esse espaço diaspórico que eu chamo de “economia cultural do desejo transatlântico”, no qual, pessoas dos dois lados do Atlântico, procuram liberação e emancipação, procuram construir o que eu chamo de modernidade alternativa por meio do sexo ou das relações amorosas. Procuro entender o tipo de descontentamento sobre a condição pós-colonial e a busca de vidas alternativas mediadas pelo sexo e pelo relacionamento amoroso.
seu corpo e os seus atributos sexuais constituíam o principal meio de sobrevivência. Elas poderiam usar o corpo com a finalidade de mobilidade social e emancipação econômica. Mas será que isso é realmente tão diferente? Será que isso sai dos parâmetros normativos, dentro dos quais as relações entre homens e mulheres estão ligadas no capitalismo? Eu acho que não. Instituições como a família nuclear, a monogamia, o casamento são também formas de transações econômicosexuais. Em muitos lugares no mundo, por falta de oportunidades – sociais, econômicas e educacionais – muitas mulheres não têm outra opção a não ser arranjar um homem para conseguir dinheiro, para ser inserida na rede social. Esse não é um argumento que é só meu, acho que muitas feministas já falaram que o casamento monogâmico, no contexto capitalista patriarcal, não é só uma transação econômicosexual, como também uma forma de prostituição.
Beira do Rio – Explique melhor por Beira do Rio – É nesse contexto que que tanto a prostituição quanto o surge a "economia do coroa"? casamento podem ser considerados S. V. – Existem muitos lugares no transações econômicas? mundo onde, infelizmente, mulheres S. V. – Eu comecei a que não têm muitas pesquisar sobre o assunoportunidades serão to quando estava tentansocializadas para achar do achar uma definição que seus atributos mais do que significava ser importantes são os cortrabalhadora sexual. Na porais e os sexuais e pesquisa, eu uso a palaque encontrar um hovra puta porque muitas mem é a única saída. das minhas interlocutoA "economia local do ras, na Bahia, usavam coroa" é um fenômeessa palavra para se no que a antropóloga auto-identificarem. Ao Donna Goldstein idenexaminar a vida dessas tificou em seu trabalho Infelizmente, eu sobre gênero e sexuamulheres, percebi que aquelas que assumiam não posso falar lidade nas favelas do essa identidade eram Rio de Janeiro e eu do outro sem pessoas que tinham pastambém encontrei em sado por um processo Salvador. Passando falar de mim de conscientização, por muito tempo nas pemeio do qual estavam riferias e nas favelas, mesmo conscientes de que o conhecendo as histó-
rias das pessoas, me dei conta de que, para muitas dessas mulheres, não existem as chamadas “oportunidades tradicionais de mobilidade social”. Elas não terão muita chance de cursar uma universidade pública, de conseguir um emprego bom. Considerando o contexto do capitalismo patriarcal, também não terão oportunidade de conseguir um marido. Então, percebi que uma estratégia importante para quem não tinha emprego, mas tinha filhos, constituindo a típica família matrifocal, era conseguir um amante rico, “um coroa”. Sem querer generalizar, percebi que algumas mulheres sentiam um certo orgulho de conseguir os favores sexuais e econômicos. Mas também me dei conta de como era frágil essa “economia local do 'coroa'”, pois, sempre existem outras mulheres, crise financeira, problemas no trabalho. Para muitas mulheres, essa ideia de usar o corpo como meio de sobrevivência não constituía desvio ou transgressão.
processo como emancipatório e procurei saber como seria esse processo do lado dos gringos. Do que será que eles escapavam? Quais eram as realidades sociais, econômicas, históricas de que eles procuravam escapar?
Beira do Rio – Muitas outras ciências estão utilizando o método de pesquisa antropológico. Explique como seria essa experiência da etnografia experimental? Onde fica o autor nessa ficção etnográfica? S. V. – Eu acho que as relações entre etnografia e ficção, etnografia e literatura são muito importantes e ficaram famosas depois do “Writing Culture” de James Clifford. Nós, antropólogos, somos necessariamente escritores. Mas, infelizmente, trabalhamos dentro de uns parâmetros metodológicos bastante restritivos. A etnografia, como gênero literário, não nos dá muitas oportunidades de explorar a condição humana de maneira profunda por causa da herança positivista e científica, na qual o autor deve Beira do Rio – Quem seria essa prosse colocar como especialista e usar tituta transnacional? uma linguagem seca. S. V. – Seria uma muPor outro lado, temos a lher que passou por um revolução pós-moderna processo complexo de e pós-estruturalista que conscientização sobre paralisa – epistemologicondições de opressão camente – o autor. Uma e que procura sair dessa geração de jovens anrealidade com os únicos tropólogos norte-amemeios que ela percebe ricanos tem se recusado que tem. Eu procuro a fazer etnografia, pois não vitimizar as pesacredita que nós não soas com as quais eu temos como entrar no trabalhei, porque pude pensamento do outro, Meu interesse observar nelas um pencomo estar nas cabeças samento crítico. das pessoas, retomando é entender aquela imagem malinoBeira do Rio – Quem é wiskiana de entender o a economia esse gringo que busca ponto de vista do naticultural do amor e sexo? vo. A etnografia não nos S. V. – É difícil fazer dá essa oportunidade, desejo. uma generalização. E, mas a literatura, sim. estatisticamente, exisNa literatura, você pode tem muito mais transatudo: se imaginar denções românticas, amorosas, econômitro da pessoa, ler seus pensamentos, cas e sexuais entre gringos e brasileiras sofrer com ela. A minha forma de fora desse padrão institucionalizado, o fazer ficção etnográfica é um pouco chamado turismo sexual, e é isso que diferente da de outros autores, eu eu procuro entender. O padrão clásme coloco numa região mais central, sico de estudos sobre prostituição ou com cuidado para não ser narcisista. A turismo sexual, nas Ciências Sociais, Antropologia fala fundamentalmente de um lado, vitimiza a mulher e de sobre o outro, mas que também fala outro, criminaliza o turista sexual. sobre o encontro entre os seres. E, Procurei sair desse padrão. Não infelizmente, não posso falar do outro vitimizei as mulheres ao entender o sem falar de mim mesmo.
Diagnóstico indica diferenças sociais entre alunos dos diversos institutos da Universidade Federal do Pará
Turquesas
Saúde
Voluntariado
Esporte e lazer para crianças da comunidade
Encontrados novos veios em Carajás
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Entrevista O antropólogo Samuel Veissière conversa sobre turismo sexual e relações amorosas transnacionais. Pág. 12
Coluna da Reitoria João Cauby de Almeida Júnior discute a gestão com pessoas no serviço público. Pág. 2
Opinião O professor Gilmar da Silva fala sobre o Projeto Reuni e a interiorização da UFPA. Pág. 2
Há um ano, o Projeto Riacho Doce do Futuro atende crianças e jovens em escolinhas de karatê, judô, capoeira,
xadrez, balé, canto e futebol. A UFPA apoia o Projeto cedendo espaço para a realização das atividades. Pág. 10
Pará tem alto índice de câncer uterino
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Extensão
Proex agita cena cultural de Belém
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Alexandre Moraes
O governo brasileiro tem intensificado as campanhas contra o turismo sexual nas capitais, especialmente as que estão próximas ao litoral, destino certo de estrangeiros que buscam lazer, além dos circuitos turísticos tradicionais. Ao analisar a questão mais de perto, o antropólogo Samuel Veissière revela novos personagens envolvidos nessa história. Em entrevista do Jornal Beira do Rio, Samuel Veissière conversou sobre a sua Tese de Doutorado “Putas, Pivetes e Gringos no Brasil Globalizado”, resultado da pesquisa realizada em Salvador, na qual o autor analisa aquilo que chama de "economia cultural do desejo transatlântico".
Alexandre Moraes
Veissière: "a literatura torna o texto etnográfico mais acessível "
Karol Khaled
Rosyane Rodrigues
Fotos Karol Khaled
Estudo antropológico discute sexo, desejo e sofrimento entre estrangeiros e brasileiras em Salvador.
Grupo de Estudos em Educação e Direitos Humanos (GEEDH), do Instituto de Ciências da Educação (ICED) da Universidade Federal do Pará, lançou o Diagnóstico Socioeconômico e Cultural do Estudante da UFPA. O estudo analisou o Questionário Socioeconômico desenvolvido pelo Centro de Tecnologia da Informação e Comunicação, disponível no Portal da Universidade. O formulário foi respondido por mais de 12 mil pessoas. De acordo com a análise, estão no ICED os alunos que estudaram por mais tempo em escolas públicas (78%) e os que possuem filhos (22,3%). Os números podem indicar que esses alunos têm responsabilidades adicionais em relação aos que não precisam dividir o tempo dos estudos com cuidados com crianças e adoslescentes. De acordo com a professora Emina Santos, o diagnóstico é um instrumento importante de gestão para a direção da faculdade e para a própria Reitoria. Pág. 3
Alexandre Moraes
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O mapa social da UFPA
Aulas acontecem aos sábados, nas áreas do Campus Guamá
Sétima arte
Incubadora
UFPA lança Graduação em Cinema
Economia solidária em Marabá
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Exposição mostra evolução da roupa
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BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Agosto, 2010 –
Coluna da REITORIA João Cauby de Almeida Junior
da eficiência e para o desenvolvimento de novas habilidades gerenciais no serviço público, visando à inovação, à otimização dos recursos e ao alcance dos padrões de qualidade inerentes à iniciativa privada. O fato é que, ainda hoje, os dois modelos convivem no serviço público do mundo contemporâneo, convivência essa nem sempre harmoniosa, diga-se de passagem. Na administração pública brasileira, registre-se, predomina um modelo híbrido de gestão, ainda com fortes traços burocráticos, mas onde já se observa uma atenção especial ao destinatário último dos serviços prestados (o cidadão) e aos resultados da gestão pública, aliados a um menor formalismo nos processos e procedimentos. Nesse cenário, o governo federal tem implementado uma política de valorização e de profissionalização do servidor público, tentando aproveitar, talvez, o que de melhor cada modelo tem a oferecer, de modo a promover a melhoria dos serviços prestados à sociedade. E, para tanto, editou o Decreto nº 5.707/2006, que institui a política e as diretrizes para o desenvolvimento de pessoal da administração pública federal direta, autárquica e fundacional. Destacamos, nessa nova po-
lítica, o fato de não mais se apontar o servidor público como a causa das mazelas públicas, nem dos déficits fiscais, o que fundamentou os programas de diminuição de despesas e investimentos em pessoal, uma das bandeiras do gerencialismo puro, predominante na década de 1980 e 1990, e com efeitos deletérios no funcionamento do Estado, em face da diminuição de quadros no serviço público promovida naquele período, gerando enorme carência de pessoal, até hoje sentida no serviço público federal. A Universidade Federal do Pará, como autarquia da administração pública federal, alinhou-se à nova política de valorização e de profissionalização do servidor público proposta pelo governo federal. Nesse sentido, tem atuado no desenvolvimento de seu pessoal, aprimorando suas competências gerenciais, específicas e institucionais, sem perder de vista o princípio da humanização das relações de trabalho e tendo por escopo maior a melhoria dos serviços prestados à comunidade universitária e à sociedade em geral. A política de pessoal da UFPA tem levado em conta, dessa forma, não só os aspectos técnicos, mas também os sociais e os afetivos ligados ao trabalho, a fim de desenvolver em
OPINIÃO
Gilmar Pereira da Silva
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Conectando saberes e experiências
jcauby@ufpa.br
A gestão com pessoas no serviço público
aprimoramento da gestão pública a partir do final de 1970, quando a reforma do Estado foi propalada em quase todo o mundo como uma das formas de suplantar a grave crise econômica mundial iniciada naquela década, descuidou, em certa medida, de uma função organizacional estratégica, a gestão de pessoas. Um dos desafios primordiais dos processos de reforma do Estado e da administração pública, iniciados no citado período histórico, em que a recessão econômica (pós-crises do petróleo) se somou à crise fiscal dos Estados nacionais, era a diminuição do tamanho da engrenagem estatal, tida como pesada e ineficiente. Do ponto de vista do funcionamento administrativo do Estado, essas crises levaram ao questionamento do modelo burocrático weberiano de gestão, pautado na neutralidade e na rigidez dos procedimentos e do desenho organizacional, posto que ele não dava mais conta, segundo seus críticos, de responder às novas demandas da economia e da sociedade. Nesse momento, foi proposto um novo modelo de gestão: o modelo gerencial. Apregoado como mais flexível e voltado aos interesses do cidadão, o modelo gerencial volta-se para a busca
seu corpo funcional, além de conhecimentos e habilidades, atitudes de bem servir aos usuários dos seus serviços, o que também passa pela implementação de um programa de saúde e qualidade de vida voltado para docentes e técnico-administrativos. E, para tanto, firmou um termo de cooperação com a Secretaria de Recursos Humanos do Ministério do Planejamento para se tornar uma das unidades de referência da nova política de atenção à saúde do servidor público federal, a qual tem por objetivo coordenar e integrar ações e programas nas áreas de assistência à saúde, perícia oficial, promoção, prevenção e acompanhamento da saúde dos servidores. Um novo modelo de gestão com pessoas no serviço público exige, portanto, investimentos não somente em tecnologia, mas também, no elemento humano, a partir da elaboração de um sistema integrado de desenvolvimento e valorização dos servidores públicos, voltado para o alcance das metas e dos objetivos institucionais e, sobretudo, para as demandas e necessidades da sociedade. João Cauby de Almeida Junior, próreitor de Desenvolvimento e Gestão de Pessoal
gpsilva@ufpa.br
O Projeto Reuni e a interiorização da UFPA
Projeto de Interiorização da UFPA nasce da atitude corajosa e desbravadora de dirigentes da Instituição à época. Organizado de maneira mais sistemática a partir de 1987, teve como propósito inicial formar licenciados para atuar na educação básica. A Universidade Federal do Pará é, sem dúvida, o que temos de mais valioso em nosso Estado. Racionalmente falando, isso pode ser materializado na capilaridade que a Instituição vem consolidando ao longo dos anos em benefício do desenvolvimento do Estado, o que pode ser observado a partir de dois momentos: o primeiro, em sua origem, como espaço acadêmico centrado na capital; e um segundo momento, a partir de suas determinações de romper com as barreiras, não apenas imaginárias, quando resolveu sair de seu campo físico de origem. O Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI), a despeito das críticas feitas por aqueles contrários ao Projeto, vem apresentando, em curto espaço de tempo, um
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ Rua Augusto Corrêa n.1 - Belém/PA beiradorio@ufpa.br - www.ufpa.br Tel. (91) 3201-7577
significativo aporte à Universidade, seja em relação ao quadro de servidores técnico-administrativos e professores seja, ainda, em equipamentos e infraestrutura. Deve-se destacar a sensibilidade do conselho universitário, por meio de seus membros, em reconhecer a necessidade de aplicar grande parte dos recursos advindos do Projeto nos campi do interior. O resultado dessa ousadia da Instituição é um panorama bem mais animador, no qual o quadro de professores e técnicos se apresenta de forma mais consolidada. A infraestrutura vem sendo melhorada tanto em espaço físico como em equipamentos. Isso se materializa também num maior contingente de alunos, em cursos antigos e novos, com uma parte significativa sendo assistida por políticas de bolsas que visam a mantê-los durante a realização de seus cursos. Deve-se destacar, ainda, a consolidação dos campi com políticas de oferta de cursos que superam a prática inicial voltada mais especificamente para as licenciaturas, articulando novos cursos relacionados à vocação de cada microrregião do
Estado. O que se pode observar é que o Projeto REUNI, como foi estruturado na UFPA, tem apontado para a redução da assimetria entre o campus da capital e os campi do interior, permitindo, inclusive, a consolidação de uma política multicampi, que se apresenta de forma mais vigorosa na representação dos campi do interior nos conselhos superiores da UFPA, ou seja, na gestão política, administrativa e acadêmica da Instituição. Mas que conclusões se podem tirar, inicialmente, da relação Interiorização e Projeto REUNI na UFPA? Numa sociedade capitalista, fundamentada no conflito de classe, as relações sociais ocorrem por meio de disputas no interior do próprio Estado. O REUNI, a nosso ver, não é um remédio para resolver os males da Universidade; observa-se, ainda, que seu principal problema não são as metas exigidas pelo decreto presidencial, mas sim o risco de descontinuidade, uma vez que é um projeto, portanto uma política limitada a um governo. Todavia, abrir mão dele é abdicar da disposição de lutar, no interior do
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Educação
Estado, pelo acesso a bens que, por direito, são de toda a sociedade. Outro dado importante nos permite constatar, de maneira mais clara, que, no Brasil, existem "universidades e universidades" e que cabe aos intelectuais reconhecer isso e exigir tratamento diferenciado. Exemplo são as metas exigidas pelo Decreto Presidencial nº 6.096/2007, no Art. 1º, § 1º que preconiza que a relação aluno-professor deve ser de, no mínimo, um professor para 18 alunos. Na UFPA, sobretudo nos campi do interior, não foi necessário nenhum esforço para cumprir tal meta, uma vez que, na maioria deles, essa relação já era mais do que um professor para 50 alunos. Aqui nos parece que deve ser reivindicada uma política de discriminação positiva, ou seja, chegar à meta preconizada pelo Programa para os campi do interior da UFPA já se constituirá em uma conquista. Gilmar Pereira da Silva é doutor em Educação, professor adjunto da UFPA e coordenador do Campus Universitário do Tocantins - Cametá.
Reitor: Carlos Edilson Maneschy; Vice-Reitor: Horácio Schneider; Pró-Reitor de Administração: Edson Ortiz de Matos; Pró-Reitor de Planejamento: Erick Nelo Pedreira; Pró-Reitora de Ensino de Graduação: Marlene Rodrigues Medeiros Freitas; Pró-Reitor de Extensão: Fernando Arthur de Freitas Neves; Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação: Emmanuel Zagury Tourinho; Pró-Reitor de Desenvolvimento e Gestão de Pessoal: João Cauby de Almeida Júnior; Pró-Reitor de Relações Internacionais: Flávio Augusto Sidrim Nassar; Prefeito do Campus: Alemar Dias Rodrigues Júnior. Assessoria de Comunicação Institucional JORNAL BEIRA DO RIO Coordenação: Ana Danin; Edição: Rosyane Rodrigues; Reportagem: Ana Carolina Pimenta (013.585-DRT/MG)/Andréa Neves/Aretha Souza (1.758-DRT/PA)/Dilermando Gadelha/Glauce Monteiro (1.869-DRT/PA)/Igor de Souza/Jéssica Souza(1.807-DRT/PA)/Killzy Lucena/Moenah Castro/Raphael Freire/Rosyane Rodrigues (2.386-DRT/PE)/Yuri Rebêlo; Fotografia: Alexandre Moraes/Karol Khaled; Secretaria: Silvana Vilhena/Carlos Junior/ Felipe Acosta; Beira On-Line: Leandro Machado/Leandro Gomes; Revisão: Júlia Lopes/Karen Correia; Arte e Diagramação: Rafaela André/Omar Fonseca; Impressão: Gráfica UFPA; Tiragem: 4 mil exemplares.
Alunos promovem clube de leitura e orientação para vestibular n Faltam informações
Karol Khaled
Mácio Ferreira
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Lendo para ser feliz: Projeto incentiva a leitura entre alunos do ensino básico Ana Carolina Pimenta
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a Universidade Federal do Pará, cerca de 40% dos alunos matriculados são de origem popular. São mais de 12 mil alunos oriundos de escolas públicas, as quais superaram adversidades e ingressaram na universidade pública. Para permitir que esse acesso se amplie, a UFPA vem desenvolvendo alguns projetos destinados à democratização do ensino superior, fortalecendo os vínculos entre a Universidade e a comunidade.
Alguns dos exemplos são os Projetos de Extensão “Projeto de Apoio ao Vestibular” e “Circuito de Leituras: lendo para ser feliz”, ambos coordenados pela professora Maria José Aviz do Rosário, do Instituto de Ciências da Educação (ICED/UFPA). Os dois projetos estão ligados ao “Programa Conexões de Saberes: diálogos entre a Universidade e as comunidades populares” e receberam, este ano, o Prêmio Jovem Extensionista, cujo objetivo é incentivar a participação de estudantes na extensão universitária.
Na UFPA, o Conexões de Saberes está em execução desde 2005, por meio de projetos que oferecem aos universitários de baixa renda a possibilidade de produzirem conhecimentos científicos e de intervirem em favor das comunidades populares, principalmente junto a crianças, adolescentes e jovens, nas escolas públicas do ensino básico. Até 2009, o Programa atuou de forma singular na formação de 153 estudantes de origem popular, como agentes multiplicadores em sete campi da UFPA.
n Estreitando os laços com comunidades populares Só quem vivenciou dificuldades e superou obstáculos colocados no caminho para a universidade pública sabe o quanto o ingresso no ensino superior é sofrido e desigual. É o caso de alguns estudantes de graduação da UFPA. Oriundos do ensino público, eles conheceram de perto os percalços do acesso à Universidade e, ao passarem no vestibular, decidiram fazer alguma coisa por aqueles que, como eles, viam, na UFPA, um sonho possível, porém ainda distante. Esses acadêmicos, influenciados por suas histórias de vida, idealizaram o Projeto de Extensão “Projeto de Apoio ao Vestibular”. “O que enobrece ainda mais o Projeto é
que ele foi inteiramente concebido, organizado e executado pelos bolsistas”, esclarece a professora Maria José do Rosário. Em sua primeira edição em 2009, o trabalho investigou que ações podem ser geradas quando se amplia o contato entre universidade e comunidade e como informações relativas ao vestibular contribuem nas decisões e atitudes dos alunos assistidos. O estudo centrou-se, também, nos fatores que levam estudantes do ensino público a participarem ou não dos exames de seleção das universidades. A atividade desenvolveu-se por meio de oficinas sobre ações afirmativas, direitos humanos, juven-
tude e educação, sistema de cotas, isenções das taxas de vestibulares e aulas de redação, literatura e gramática. O Projeto é desenvolvido, desde o ano passado, com estudantes da 3ª série do ensino médio, da Escola Estadual Professora Consuelo Coelho e Souza, localizada no Bairro do 40 Horas, em Ananindeua (PA). Os universitários do Projeto elaboraram questionários com perguntas relativas às concepções dos alunos sobre universidade, expectativas com relação a cursos superiores, seus conhecimentos acerca do sistema de cotas nas universidades e atitudes com relação ao vestibular.
Lendo para ser feliz Outro projeto de extensão premiado e coordenado pela professora Maria José Aviz do Rosário é o Projeto de Circuito de Leitura: “Lendo para ser feliz”. Composto por vinte bolsistas, discentes de diversos cursos da UFPA, o Projeto buscou estimular nos estudantes do ensino básico o prazer pela leitura. Adolescentes da 5ª série da Escola Estadual Consuelo Coelho e Souza foram
os escolhidos para ser o público assistido pelo Projeto. Eles recebem ações voltadas à distribuição de livros, a tutorias de leitura, a vídeos educativos, às atividades de letramento, à exposição de obras literárias, à aplicação de questionários e discussões conjuntas. “Funcionamos como uma espécie de clube de leitura. Escolhemos livros destinados a um público específico, ou seja, respeitamos as
diferentes faixas etárias e consideramos o contexto sociocultural das crianças atendidas", explica a professora Maria José do Rosário. Ao término das leituras, os participantes apresentam suas impressões sobre as obras. Os alunos, sob o olhar atento dos pais, professores e dos universitários, realizam perfomances teatrais, apresentação de cartazes e exposições orais.
Logo nos primeiros contatos, foram identificadas as primeiras fraquezas dos estudantes atendidos. Elas compõem um cenário marcado pela baixa autoestima, pela falta de conhecimento e pela vulnerabilidade socioeconômica. “Para mim, a maior fraqueza encontrada é a falta de perspectiva dos alunos em relação ao ingresso na Universidade. Ou seja, entre conseguir um emprego que lhes dará um salário mínimo ou cursar uma graduação, eles não têm dúvida em optar pela primeira alternativa”, conta a professora Maria José do Rosário. O despreparo quanto à elaboração de redação, tradicionalmente exigida nos vestibulares, foi outro fator problemático encontrado. Assim, o Projeto priorizou as oficinas de Produção de Texto, Gramática (para ajudar com a escrita), Literatura e Redação. Ao final, as atividades de apoio ao vestibular estimularam as habilidades textuais dos alunos, tornando-os mais seguros quanto à escrita. Uma pesquisa realizada pelo Projeto em sua primeira edição revelou que, antes das intervenções dos acadêmicos, 96% dos alunos atendidos pelo Projeto não desejavam fazer vestibular (!). Apesar dos avanços tecnológicos e da democratização da internet, o desconhecimento de informações básicas quanto aos processos seletivos da UFPA e de outras universidades do Estado foi identificado como um dos empecilhos para que os estudantes não participassem das seleções. “Os alunos têm acesso à internet, têm Orkut, Twitter, navegam por sites de relacionamento e de entretenimento, mas desconhecem as informações acerca das universidades locais e do acesso a elas”, conta a professora Maria José do Rosário, ressaltando as limitações socioculturais dos estudantes. Por conta disso, outro foco de ações do Projeto foi o fornecimento de informações sobre inscrições, isenções das taxas, sistema de cotas, cursos ofertados e a dinâmica dos vestibulares. As oficinas de orientação ofertadas pelos bolsistas modificaram o panorama inicial e se desdobraram em dados concretos. “Após as oficinas, 50% dos alunos se inscreveram em diversos vestibulares e tivemos dois aprovados na UFPA”, destaca a estudante de Artes Visuais Silvia Lucena, uma das vinte bolsistas do Programa e coidealizadora do Projeto. Silvia Lucena afirma que tem planos para que o Projeto seja expandido. “Ainda é um sonho, mas gostaria muito de atender mais alunos vulneráveis socioeconomicamente do Bairro Guamá, repassando, também, conhecimentos em outras áreas do saber”, diz a graduanda que também é moradora do 40 Horas.
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BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Agosto, 2010 –
Voluntariado
Diagnóstico
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omunidade Riacho Doce. Pelo nome, você pode até imaginar um lugar onde as pessoas vivem no cenário de uma bela paisagem, felizes e tranquilas. Infelizmente, não é bem assim. A comunidade Riacho Doce está localizada nos limites dos Bairros Terra Firme e Guamá, conhecidos como os mais violentos da Região Metropolitana de Belém. Um projeto sem fins lucrativos, de iniciativa da própria Associação de Moradores da Comunidade, visa, porém, mudar essa realidade. A ideia inicial era desenvolver um trabalho de resgate social, tendo como alvo crianças na faixa etária de 8 a 16 anos, em condição de vulnerabilidade, impedindo que pudessem entrar em contato com o crime, o tráfico de drogas ou a prostituição. As ações iniciaram de forma tímida e contida, com cerca de 30 crianças cadastradas. Hoje, após um ano em funcionamento, o Projeto Riacho Doce do Futuro atende cerca de 300 pessoas, entre crianças, jovens e
Alexandre Moraes
Riacho Doce do Futuro atende cerca de 300 pessoas no Campus Guamá
Karatê é uma das modalidades ofertadas pelo Projeto adultos. O Projeto oferece escolinhas de karatê, judô, capoeira, xadrez, balé, canto e futebol de forma inteiramente gratuita, embora algumas atividades estejam suspensas por falta de infraestrutura, como é o caso do futebol, pois não há quadra adequada ao treinamento dos alunos.
Assim, o jeito é aproveitar os recursos disponíveis e buscar parcerias que possam diminuir as dificuldades, como o acordo estabelecido com a Universidade Federal do Pará, que cede espaço no Campus do Guamá para o desenvolvimento de algumas das atividades ofertadas. Segundo conta José Maria
n Pais e filhos têm momentos de convivência A participação em competições se dá a partir da interação com outros projetos sociais desenvolvidos, por exemplo, em Mosqueiro, Outeiro e em escolas da capital. “Participar de jogos externos é uma experiência gratificante por vermos as crianças empolgadas, realmente envolvidas, esquecendo completamente do desejo de estar nas ruas", conta José Maria Rodrigues Sampaio. E o Projeto tem tudo para crescer ainda mais. “Estamos abertos a parcerias e a qualquer tipo de colaboração, seja financeira, seja com o esforço voluntário", complementa. Ainda que em um ano de funcionamento tenham sido muitas as conquistas, ressalta José Maria Sampaio, permanecem alguns obstáculos que precisam ser ultrapassados, como a carência de espaços. "Mais do que tirar as crianças das ruas, a intenção é propiciar a elas, e a suas famílias, momentos de convivência e lazer", diz o coorde-
nador. "Às vezes, sentimos falta de um espaço que possa nos servir aos domingos ou feriados, pois estes são os únicos dias que temos para contar com a participação dos pais das crianças, que, com uma rotina dura de trabalho, só têm tempo para acompanhar nossas ações nessas horas de descanso”. Um caso bem sucedido de criança atendida pelo Projeto é o do Rogerinho, que começou a jogar futebol na comunidade e, depois, tornou-se jogador do Clube do Remo. Hoje, ele joga no Clube Bahia. Tem também o Romeu, que começou na comunidade e atualmente é jogador do Paysandu. "Então, é um trabalho de resgate social, pois esses meninos poderiam ter seguido outros caminhos. Muitas crianças estão por aí com um potencial enorme, só precisam de uma oportunidade", continua José Maria Sampaio. A p a r c e r i a c o m a U F PA também possibilita às crianças
atendidas assistência médica e odontológica. Para o prefeito da Cidade Universitária, Alemar Rodrigues, a colaboração da UFPA com o Projeto Riacho Doce do Futuro não se dá apenas em função do sentimento de solidariedade, mas também como investimento da Instituição em sua comunidade de entorno no sentido de resgatar essas crianças de uma situação de risco e, assim, garantir a segurança da comunidade acadêmica ao fazer dos Bairros Terra Firme e Guamá lugares melhores para se viver. A expectativa é que o Projeto Riacho Doce do Futuro, muito em breve, venha a se tornar um projeto de extensão da Universidade. Por enquanto, a parceria se dá apenas mediante acordos informais com a Prefeitura do Campus, a Pró-Reitoria de Gestão de Pessoal (Progep), por meio da sua Coordenadoria de Qualidade de Vida, e a Pró-Reitoria de Extensão (Proex), mantendo a coordenação externa.
n Primeiro passo: mapear perfil das famílias O Projeto surgiu da iniciativa do professor Arnaldo Pereira, orientador educacional, que procurou, espontaneamente, a comunidade Riacho Doce para ofertar aulas gratuitas de karatê. A partir desse primeiro contato, a comunidade se mobilizou para criar a Associação de Moradores e fundar a sede do Riacho Doce do Futuro. Do karatê, foram surgindo outras modalidades e o Projeto foi crescendo. O grupo começou com o esforço de seis pessoas e, hoje, já conta com cerca de 15 voluntários,
gente da comunidade e de fora dela. Segundo o idealizador Arnaldo Pereira, a iniciativa nasceu da vontade pessoal de contribuir com a formação educacional de crianças em situação de risco. Ele, então, deu o primeiro passo, tendo como referência o Riacho Doce, e logo conseguiu outras mãos para ajudar. "A ideia era atuar nas bases de uma política voluntária, pois as políticas públicas dificilmente alcançam essas áreas", destaca o professor. De todas as pessoas que atuam
no Projeto, nenhuma recebe qualquer tipo de remuneração financeira, apenas a satisfação pessoal em ajudar as pessoas. Arnaldo conta que foi bem recepcionado pela comunidade e isso facilitou o processo de mapeamento das famílias moradoras da área e o perfil das crianças em situação de vulnerabilidade. Os voluntários também orientam os pais das crianças a estarem atentos ao desempenho escolar de seus filhos, para que estes cultivem boas notas e não se afastem das atividades educacionais.
Rodrigues Sampaio, coordenador do Riacho Doce do Futuro e presidente da Associação dos Moradores do Riacho Doce, antes de conseguir a autorização da Prefeitura do Campus para poder utilizar a área da UFPA no desenvolvimento das ações do Projeto, as atividades aconteciam, por exemplo, no pátio da Seccional do Guamá, também inadequado às necessidades de espaço da comunidade, principalmente em função do aumento de público interessado nas escolinhas. Agora, o atendimento ocorre todos os sábados, no território da Universidade, das 8h às 10h e das 16h às 18h, no hall da Reitoria, e em alguns dias da semana, na sede do Centro Comunitário. Além da UFPA, há parcerias com a Associação de Moradores do Riacho Doce, a qual ajuda as crianças que não têm condições de comprar equipamentos para a prática do esporte ou de pagar o transporte para se deslocarem ao local das atividades, e com a empresa Bureau de Mídia, que fornece lanches e, em casos de competição, infraestrutura de transporte e uniformes.
n Resultados em casa e na escola Outra frente de ação do Projeto é a realização de visitas domiciliares, a fim de identificar as dificuldades das famílias atendidas e auxiliar na formação humana das crianças na condição de cidadãs, preparando-as para a vida. Foi assim que a coordenação da Associação de Moradores encontrou Daniele Gomes, 29 anos, mãe solteira que mora, há 19 anos, na comunidade. "Eu saía todos os finais de semana, não tinha proximidade com meus filhos. Depois que recebi a visita da equipe de voluntários, percebi o quanto isso era prejudicial para a minha família e decidi participar do Projeto, inclusive, para melhorar a convivência com meus meninos", relata a moradora. Daniele é mãe de um menino e duas meninas. Daiana Gomes Sales, 12 anos, Diana Gomes Sales, 10, e Valderi Gomes Sales, 9, participam das aulas de karatê e capoeira. Todos tiveram seus quimonos adquiridos com ajuda do Centro Comunitário. Além de participar também das escolinhas, como aluna, Daniele é voluntária na preparação de lanches e ajuda na coordenação do Projeto. "O Riacho Doce do Futuro evita que meus filhos se envolvam com a criminalidade. Além disso, o esporte deixa as crianças mais dispostas e dedicadas, tanto em casa, como na escola", conta a mãe orgulhosa. Serviço: Crianças que tiverem interesse em participar devem entrar em contato com o Centro Comunitário, na Rua da Olaria, 805, ou procurar, aos sábados, a coordenação na UFPA.
Pesquisa mapeia perfil de estudantes Levantamento mostra diferenças sociais entre público dos institutos
Aretha Souza
O
Grupo de Estudos em Educação em Direitos Humanos (GEEDH), do Instituto de Ciências da Educação (ICED) da Universidade Federal do Pará, acaba de lançar o Diagnóstico Socioeconômico e Cultural do Estudante da UFPA (Disec) do campus de Belém. Segundo a pesquisa, alunos matriculados nos cursos da área de educação são os que mais enfrentam dificuldade para concluir a graduação. O ICED concentra, percentualmente, a maioria dos alunos casados, com filhos, que estudaram por mais tempo em escolas públicas e viveram em áreas rurais até os 14 anos de idade. Do outro lado, a situação é mais favorável para estudantes do Instituto de Ciências Jurídicas (ICJ) e de Ciências da Saúde (ICS), os quais oferecem os cursos que, tradicionalmente, têm corpo discente com maior poder aquisitivo em relação aos demais. Realizado a partir da análise do Questionário Socioeconômico e Cultural dos Estudantes da UFPA (QSEC), desenvolvido pelo Centro de Tecnologia da Informação e Comunicação (CTIC), e o primeiro no Brasil a abordar a orientação sexual dos alunos, o Disec foi respondido por mais de 12 mil alunos. O formulário está disponível na página principal do site da Universidade e é constituído por 33 questões relativas à escolaridade, estrutura familiar e econômica dos discentes. Deste total, sete perguntas foram selecionadas para análise do GEEDH: Onde viveu maior parte do tempo até os 14 anos? Em que tipo de estabelecimento cursou o
Alexandre Moraes
Sábados dedicados ao esporte e ao lazer
Jéssica Souza
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No Instituto de Educação, está a maioria casada e com filhos, e no ICJ, aqueles com a maior renda líquida mensal ensino fundamental e o médio? Qual o estado civil? Quantos filhos possui? Qual a renda líquida mensal pessoal e da família? Para a estruturação do diagnóstico, o Grupo de Estudos criou um módulo de análise de microdados, com o intuito de reunir as informações por unidades acadêmicas. Segundo a educadora Emina Santos, uma das coordenadoras do GEEDH, o diagnóstico é um importante instrumento de gestão para a direção
n Alto índice de concluintes Conforme uma simulação da taxa de conclusão de cursos de graduação, a partir da Plataforma de Integração de Dados das Instituições de Ensino Superior (PingIfes/2005), a média nacional era de, aproximadamente, 63%, mantendo o índice do século passado praticamente intocável. No caso da UFPA, essa taxa é superior, 70,71%, uma vez que a quantidade de ingressantes é de 5.811 estudantes/ano e de concluintes, 4.109 estudantes/ano, o que garante à Instituição paraense a 15ª colocação no ranking das 50 Ifes brasileiras. Em relação ao número de ingressantes, a Universidade ficava em 3º lugar e, quanto ao número de concluintes, era a que mais graduava no País. “Ao reconhecer o seu corpo discente, a UFPA tem a possibilidade de tratar as diferenças sociais com políticas públicas e, também, aplicar os seus recursos em demandas que correspondam às reais necessidades dos estudantes”, argumenta Emina. Para o professor Alberto Damasceno, também coordenador do GEEDH, o diagnóstico deixou claro que “este tema se reveste de grande relevância e atualidade, uma vez que outros estudos têm comprovado que a
pobreza e a miséria em nosso país não são resultantes apenas da escassez de recursos, mas também de fenômenos que, na verdade, refletem o perverso padrão de distribuição de renda, sobretudo porque, além de elevada, a desigualdade no Brasil tem demonstrado uma impressionante rigidez”. Segundo o levantamento, os cursos de Pedagogia e Educação Física concentram o maior número de estudantes que viveram em áreas rurais até os 14 anos: 8,76%. Isso significa que, em tese, eles não contaram com uma rede de serviços que pudesse garantir melhores oportunidades para a sua formação básica. Quando analisados os dados por instituto, também estão no ICED os alunos que estudaram por mais tempo em escolas públicas (78%) e os que já possuem filhos (22,3%). A partir desses dados, é possível concluir que esses estudantes têm responsabilidades adicionais em relação aos que não precisam dividir o tempo dos estudos com cuidados com crianças e adolescentes. Em contrapartida, dos 11 institutos da UFPA, o ICJ é o que concentra a maioria dos estudantes com renda líquida mensal acima de dez salários mínimos (3,53%).
da Faculdade e para a própria Reitoria. Por meio dele, é possível identificar o perfil da maioria dos alunos, planejar ações que contribuam para o seu êxito acadêmico e, ao mesmo tempo, apurar prioridades para a maioria do corpo discente, orientando políticas que vão além de reivindicações históricas já superadas pela realidade multicampi da Instituição. São fatores elementares para que isso ocorra: a capacidade de
prover permanência na universidade (moradia, alimentação e saúde, por exemplo), desempenho acadêmico (material didático-científico, estágio, inclusão digital, ensino de línguas e participação político-acadêmica) e formação cultural (acesso a manifestações artístico-culturais, desportivas e de lazer, prevenção a problemas de meio ambiente, sexualidade e dependência química, além de orientação pré-profissional).
Grupo dissemina indicadores educacionais e sociais O Diagnóstico Socioeconômico e Cultural do Estudante (Disec) integra a coleção de Cadernos do GEEDH, que está em sua segunda edição. O primeiro trabalho abordou o controle social e a relevância política e social dos Conselhos Municipais na Educação. O objetivo do GEEDH é desenvolver estudos e pesquisas sobre Direitos H u m a n o s n a s o c i e d a d e, e m especial, nos sistemas educacionais de diferentes níveis e modalidades. A intenção é subsidiar e capacitar estudantes, educadores, técnicos e gestores da educação, lideranças comunitárias e profissionais ligados às cinco temáticas do Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos a atuarem em seus locais de moradia e de trabalho como agentes de promoção da dignidade humana e defensores intransigentes dos direitos das pessoas. Outro estudo recém-lançado pelo GEEDH, dessa vez por meio do Projeto de Extensão
Obser vatório Amazônico da Criança e do Adolescente (OCA), foi o mapeamento dos casos de violência sexual atendidos pelo Programa Propaz Integrado, do governo do Estado. As informações sobre as mais de 1,2 mil denúncias registradas em 2009, em 48 dos 144 municípios paraenses, subsidiaram a criação de um folder informativo sobre abuso sexual, o qual está sendo distribuído nas escolas da rede pública pela Secretaria de Estado de Educação (Seduc), em parceria com a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação no Pará. O material detalha o perfil das vítimas e dos abusadores, identifica os sintomas que indicam que uma criança está sendo abusada e também traz os canais de denúncias deste tipo de crime. A ação é apoiada pelo Programa Educamazônia, do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).
4 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Agosto, 2010
BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Agosto, 2010 –
Economia
Saúde
V
ocê já ouviu falar em incubadora tecnológica? A incubação pode ser compreendida como processo de desenvolvimento de empreendimentos e cooperativas populares, com base nos princípios da economia solidária. Atender a demandas de agricultores familiares, grupos de artesãos, associações de moradores, entre outros públicos, é o objetivo do “Programa de Extensão Incubadora Tecnológica de Empreendimentos Solidários do Sul e Sudeste do Pará”, desenvolvido no Campus Universitário de Marabá, desde 2008. O Projeto é fruto de um convênio firmado entre a Universidade Federal do Pará (UFPA) e o governo do Estado para executar a incubação de empreendimentos solidários atendidos pelo Programa Bolsa Trabalho. As regiões do sul e sudeste paraenses apresentam um número elevado de cooperativas populares e de empreendimentos solidários que demandam assessoria técnica, acompanhamento e aprimoramento de seu processo de produção e comercialização de produtos e serviços. O Programa de Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares e Empreendimentos Solidários (PITCPES/UFPA) de Belém, desenvolvido pelo Instituto de Ciências Sociais Aplicadas (ICSA), acompanhou o movimento de interiorização multicampi da UFPA. “A nossa experiência surge inspirada no Projeto
Acervo Projeto
Parceria entre UFPA e governo do Estado cria empreendimentos solidários
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Marabá: grupo de mulheres decidiu trabalhar com empreendimento na área da alimentação da Incubadora de Belém e progressivamente ganha características locais na medida em que, na dinâmica de encontros com os grupos populares e da produção de conhecimentos científicos sobre a experiência, vamos nos refazendo como incubadora universitária”, explica Thaisa Ferreira Campos, vice-coordenadora do Programa em Marabá. A "Incubadora de Tecnologia
Social do Sul e Sudeste do Pará" desenvolve um conjunto de ações educacionais com grupos populares utilizando uma metodologia participativa que valoriza o encontro e o diálogo entre os saberes científico e popular. Por meio de práticas extensionistas, a Incubadora atua no acompanhamento técnico-científico, na organização socioprodutiva e na comercialização de produtos e servi-
ços de empreendimentos solidários. As discussões abordam os seguintes eixos temáticos: economia solidária, cidadania e inclusão social, leitura crítica da realidade e modelo produtivo autogestionário, comércio justo e cidadania coletivizada, geração de renda e agregação de valor a produtos, organização solidária do trabalho, novas tecnologias, cidadania e meio ambiente.
do campo. O processo de incubação iniciase com a mobilização e elaboração de diagnóstico da região, levantamento das características socioeconômicas do público-alvo e a formação básica, por meio de ciclos de palestras, oficinas sociais e módulos de formação contínua. Em 2008, trabalhou-se com um grupo de mulheres. Após o processo de formação e as pesquisas a respeito das cadeias produtivas na região, foi realizado um levantamento de interesses das participantes do
projeto. Depois de vários encontros e discussões, decidiu-se por cinco empreendimentos: “Cuidador de Idosos”, por ser um serviço que apresenta demanda crescente; “Estética e Beleza”, por ser uma atividade em expansão e com a qual as participantes se identificavam; “Alimentação”, demanda em expansão contínua, a qual conta com a identificação de um grande número de mulheres; “Turismo”, indicado como uma demanda premente para a região devido aos seus atrativos turísticos;
o empreendimento de “Serviços Gerais” não pôde ser efetuado por falta de recursos. Os grupos produtivos com os quais a incubadora trabalha são oriundos das camadas populares e muitos deles se encontram em situação de vulnerabilidade social, desempregados e vivendo em condições precárias. A proposta da Incubadora é promover um processo educativo dialógico, no qual a Universidade e os grupos experimentam a integração dos saberes científicos e populares.
n Proposta prevê trabalho emancipado e mais humano “A concepção extensionista que fundamenta a nossa atuação consiste em contribuir com a realidade social, dialogando com os sujeitos sobre suas condições materiais de vida, a situação de opressão que os exclui no sistema capitalista de produção e a necessidade de sua emancipação. O significado deste trabalho é a conquista de uma vida mais digna e um trabalho humanizante e emancipado, em que a geração de renda, e não o lucro, é a meta”, ressalta Lucélia Cardoso C. Rabelo, coordenadora do Programa. Desde sua implantação, o Pro-
Equipe multidisciplinar reforça importância do exame preventivo
Moenah Castro
n Diagnóstico, formação e pesquisa das potencialidades O objetivo principal do Programa é contribuir com políticas de inclusão social da mesorregião do sul e sudeste paraense. O Programa estabelece diálogos com grupos que variam quanto à localidade: Marabá e municípios adjacentes; quanto à natureza das atividades produtivas: artesanato, agricultura, apicultura, piscicultura, malharia, alimentação, serviços, entre outros; quanto à constituição: há grupos de mulheres do campo e da cidade, povos indígenas, grupos mistos dos centros urbanos e
Pará tem alto índice de câncer uterino
jeto tem avançado. Em 2009, foram conquistadas duas novas bolsas de extensão e o Prêmio Jovem Extensionista na área temática "Educação”, durante a 12ª Jornada de Extensão da UFPA. Para Loyane Feitosa, discente do curso de Agronomia e ex-bolsista do Projeto, a conquista do Prêmio significa a valorização do esforço e a dedicação de quem se envolveu de forma plena nas atividades. “É o reconhecimento do nosso trabalho como equipe e a representação da união, do esforço e da dedicação de todos. Além de ser um incentivo para buscarmos novas conquistas pautadas
na incubação de empreendimentos solidários”, afirma. Os discentes envolvidos participam de atividades de estudos em grupos sobre os fundamentos teóricos e metodológicos da economia solidária e processos de incubação, do planejamento de oficinas e módulos de formação, da realização de eventos em economia solidária, reuniões com os grupos populares, sistematização de dados sobre cadeias produtivas. Os alunos são incentivados a produzirem artigos e Trabalhos de Conclusão de Curso sobre a experiência do Programa. Atualmente, o Projeto conta com
seis bolsistas dos cursos de Ciências Sociais, Pedagogia, Agronomia e Sistemas de Informação. Recentemente, com o apoio da Pró-Reitoria de Extensão, a equipe aprovou novo projeto – “Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares e Empreendimentos Solidários do Sul e Sudeste do Pará: fortalecendo a formação acadêmica e políticas de inclusão social na região" – pelo Programa de Extensão Universitária/2010. A conquista contribuirá com as ações extensionistas no Campus Universitário de Marabá.
tipo de câncer que mais atinge as mulheres paraenses é o segundo com maiores índices em todo o Brasil. O câncer de colo do útero (CCU) pode passar despercebido por bastante tempo, pois não apresenta sintomas em sua fase inicial. Mas pode alcançar níveis de gravidade em que a única alternativa de tratamento é a retirada do órgão. A maior arma para combater a doença é o exame Preventivo do Câncer de Colo Uterino (PCCU). Por isso, o Ministério da Saúde recomenda que toda a mulher faça esse exame, anualmente, a partir do início da sua vida sexual. Mas, no Pará, apenas 30% das mulheres seguem essa recomendação. O câncer de colo do útero é o segundo mais comum entre as mulheres em todo o mundo, ficando abaixo, apenas, do câncer de mama. De acordo com dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca), a cada ano, surgem 510 mil novos casos da doença no Brasil e a maioria deles, na Região Norte. O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece o exame gratuitamente, não há contraindicação e o resultado sai em duas semanas. A única recomendação é que a mulher não tenha mantido relação sexual nas últimas 72 horas e que não esteja menstruada, pois no exame coleta-se a secreção vaginal, que será analisada em laboratório. Mesmo com a oferta gratuita, o Pará é o único Estado brasileiro em que esse tipo de câncer é o mais comum. Por isso professores e estudantes da Uni-
Karol Khaled
Incubadora propõe inclusão social
Raphael Freire
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Informações sobre o exame, feito gratuitamente pelo SUS, são repassadas nas unidades municipais de saúde versidade Federal do Pará estão analisando o serviço em unidades básicas de saúde e pesquisando ações que possam solucionar esse problema. Eles apostam na informação para aumentar a procura pelo exame. Várias campanhas de cons-
cientização são feitas anualmente. O exame é rápido e gratuito, portanto a melhor arma para combater a doença. Se detectada em estágio inicial, a lesão do câncer pode oferecer 100% de cura a paciente, com tratamento rápido, fácil e eficaz. Não há necessidade de quimiote-
rapia, apenas um tratamento cirúrgico pequeno. Liele Gonçalves, bolsista do Projeto, afirma que “a falta de informação das mulheres é o que mais contribui para esses altos índices. Até entre as mulheres que o fazem, há as que não sabem ao certo porque estão fazendo."
n Orientação na sala de espera
n Cuidados com higiene pessoal
Sob a coordenação da professora Isabel Rosa Cabral, foi implantado na UFPA, no início de 2009, o Programa de Educação pelo Trabalho para Saúde (PET-Saúde), em convênio com a Secretaria Municipal de Saúde de Belém. O Programa tem equipes multiprofissionais promovendo educação e pesquisas relacionadas à atenção primária à saúde. Participam estudantes e professores dos cursos de Biomedicina, Enfermagem, Farmácia, Medicina, Nutrição, Odontologia e Psicologia. Ao todo, atuaram cerca de 90 estudantes da graduação, divididos em três grandes grupos, sendo cada um com seis preceptores, que são funcionários de Unidades Municipais de Saúde (UMS) e um tutor, professor da Universidade. Os grupos atuaram nas Unidades Municipais de Saúde (UMS) do Jurunas, do Guamá, da Terra Firme, da Cremação, da Condor, do Riacho Doce, do Parque Amazônia I e da Pirajá. Um desses grupos está traba-
Analisando os questionários, já se podem ver dados alarmantes: mais de 50% das mulheres não usam camisinha em suas relações sexuais. Além disso, as mulheres dizem não ver relação do uso de preservativo com a prevenção do câncer, o que reforça ainda mais a necessidade de políticas públicas de informação e conscientização. Cerca de 90% dos casos de câncer de colo uterino têm origem nas lesões causadas pelo vírus papiloma humano, o HPV. E o vírus é transmitido principalmente por relação sexual. As informações obtidas pelos questionários estão sendo sistematizadas e, após análise, subsidiarão as ações da Secretaria de Saúde de Belém. São mais propensas a ter esse tipo de câncer as mulheres que iniciam muito cedo a atividade sexual, possuem muitos parceiros, são fumantes, fazem uso da pílula anticoncepcional por muito tempo e não têm cuidado com a higiene. "Só no Bairro Guamá, moram mais de 400 mil mulheres e a maior unidade de saúde do bairro distribui apenas 30 fichas por dia, o
lhando para traçar o perfil epidemiológico, microbiológico e citológico cérvico-vaginal de mulheres atendidas nas UMS dos bairros do Jurunas e Guamá. O objetivo é gerar informações para formulação de novas estratégias, que venham aumentar a cobertura do PCCU em Belém e, também, realizar ações educativas com o intuito de incentivar a procura pelo exame. Utilizando as salas de espera das unidades de saúde, a equipe conversa com a população e apresenta o Projeto. Após a distribuição do material educativo e de uma breve palestra sobre a prevenção de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) e do câncer de colo uterino, é feito o convite para que as mulheres interessadas participem do Projeto. Elas respondem a um questionário com 47 questões, que, posteriormente, irão compor o perfil epidemiológico, microbiológico e citológico cérvico-vaginal de mulheres atendidas. “A aceitação é muito grande, a população gosta do nosso trabalho”, diz a coordenadora.
que, com certeza, não é suficiente", comenta Isabel Rosa Cabral. Danuza Pereira, usuária do SUS, reclama da falta de ações educativas nas unidades de saúde, “a gente não recebe nenhuma informação. Mal sabemos o dia que deve buscar o resultado e para quem devemos encaminhá-lo. É muito bom quando explicam tudo direitinho”. Dados preliminares foram apresentados pela bolsista Liele Gonçalves, aluna do curso de Biomedicina, na 12ª Jornada de Extensão organizada pela Pró-Reitoria de Extensão da UFPA, no fim do ano passado. Ela venceu o Prêmio Jovem Extensionista, na modalidade pôster, e o Programa PET-Saúde/UFPA-Belém recebeu aprovação para manter suas atividades por mais dois anos. Muitas doenças podem ser prevenidas com pequenas mudanças nos hábitos de higiene pessoal. Isso garante a eficácia de projetos educativos que ensinam a população a cuidar da sua saúde e custam bem menos aos cofres públicos do que tratar doenças complexas, como o câncer.
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BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Agosto, 2010 –
Direitos Humanos
Geociências
No Pará, também já foram encontradas malaquita, ametista e diamante
Pedras preciosas podem ser apreciadas na exposição permanente do Museu de Geociências da UFPA Glauce Monteiro
P
edras com brilhos e cores que impressionam. Escondidos sobre o solo amazônico por milhões de anos, elementos químicos formaram grandes jazidas de minerais, como alumínio e ferro, mas também moldaram pedras preciosas, como quartzo, malaquita, ametistas, turquesas e até diamantes. Suas propriedades, ocorrências e composição são objeto de estudo de pesquisadores do Instituto de Geociências (IG) da Universidade Federal do Pará e muitas destas pedras e
outros minerais estão expostos para visitação no Museu de Geociências da Instituição. Apesar de ter sua riqueza mineral reconhecida, a região amazônica não tem expressão gemológica. "No passado, fomos produtores de diamantes, mas esta pedra preciosa foi exaurida. O pouco que ainda temos está submerso no Rio Tocantins, na área da barragem da Hidrelétrica de Tucuruí. Entre os anos de 1979 e 1985, no município de Curionópolis, também tivemos extração de toneladas de malaquita, uma pedra preciosa de tons verdes, mas seus
veios também estão esgotados", revela Marcondes Lima da Costa, professor da Faculdade de Geologia e curador do Museu de Geociênicas do IG/UFPA. O pesquisador explica que, hoje, ainda há grande produção de ametista - pedra violeta ou púrpura - em Alto Bonito, região de Carajás. A comercialização é voltada, principalmente, para a Região Sul do País e para o mercado internacional. O mineral também já foi encontrado e extraído na região de Pau D'arco, com qualidade reconhecida em termos de cor.
n Novos veios podem ser encontrados em Carajás Entre as pedras mais raras encontradas em solo paraense, estão as turquesas, gemas preciosas que variam da cor verde até o azul, conhecido como azul turquesa. Esta pedra tem em sua composição vários elementos, como o fósforo, o alumínio e o cobre, sendo este último o responsável pelas tonalidades de cor que o mineral assume. “Entre os três elementos, o cobre é o mais raro de ser encontrado. Mas, ainda que todos eles estejam presentes no ambiente, isso não garante que a turquesa irá formar-se. Sua estrutura mineral exige condições muito especiais que a natureza não obtém facilmente. A formação de turquesas está sujeita a especificidades geológicas, geoquímicas e meteorológicas ligadas à formação dos solos e de veios hidrotermais na área”, detalha o geólogo da UFPA. Marcondes Lima da Costa conta que essas pedras preciosas são encontradas em ambientes hidrotermais, ou seja, com águas quentes, em áreas próximas à superfície, onde a água é rica em fosfato, alumínio e cobre. No Brasil, há ocorrência de
turquesas no Rio Grande do Norte e em Minas Gerais, mas não temos uma produção comercial expressiva. “Encontramos duas ocorrências de turquesas no Pará: em Maicuru, ao norte do município de Monte Alegre, no oeste do Pará; e na Ilha de Itacupim, no nordeste paraense. As duas regiões são ricas em fosfato. Além de estarem em pequena quantidade, os veios encontrados no Pará não podem ser explorados por estarem localizados em áreas de reserva ambiental", revela o professor. Os veios foram localizados em áreas que apresentaram erosão. "Maicuru é uma serra com 600 metros de altitude e as turquesas foram encontradas nos seus profundos vales. Em Itacupim, as pedras aparecem no litoral onde a maré desgasta a rocha. Não há moradores na região de Maicuru, mas na Ilha de Itacupim, há duas colônias de pescadores e ninguém havia percebido a existência das gemas. Os moradores viam a coloração distinta das rochas apenas como mais um elemento da paisagem da Ilha”, conta o pesquisador. Marcondes Lima da Costa
acredita que há chances de encontrarmos mais veios de turquesas no Pará, especialmente na região de Carajás, “nessa área, temos a maior jazida de cobre do País e, em locais como o Igarapé Bahia, encontramos grandes quantidades de fosfato. Porém, as pedras mais interessantes localizadas na área são a libhetenita e o neodímioflorencita, minerais raros que não são adequados para a lapidação, ou seja, não são aproveitáveis como gemas, mas muito utilizados como artefato por colecionadores de pedras”. Além de indicar locais onde há maior probabilidade de ocorrência de gemológicas e mineralógicas, a descoberta de gemas e minerais raros no Estado tem importância acadêmica e econômica. “Nestes casos, não é possível a exploração, mas a localização de novos veios é importante para entendermos a história e a composição dos solos na Amazônia e para indicar novas atividades econômicas às populações que vivem nesses locais, não apenas pela exploração direta de gemas, mas também pelo artesanato e turismo, por exemplo", defende o pesquisador da UFPA.
As pedras preciosas em estado bruto podem passar despercebidas diante de um olhar leigo. "A beleza da maioria delas aparece, apenas, após a lapidação. Nesse processo, cada mineral ganha dimensões simétricas e tem suas faces polidas. Só então, elas começam a refletir à luz, ganhando o brilho e a transparência pelos quais são famosas", explica Marcondes Costa. De acordo com o Instituto de Gemas e Jóias da Amazônia (Igama), em território paraense, já foram registradas mais de 250 ocorrências de gemas minerais, com destaques para as ametistas, citrinos e cristais de rocha. A beleza está relacionada com a raridade de cada pedra preciosa. Uma das especificidades da turquesa é que a pedra é microporosa e não tem brilho como os cristais. Elas são mais opacas e não podem ser lapidadas e sim "boleadas", como se seus contornos fossem aperfeiçoados não para serem simétricos e geométricos, mas para assumir em um formato mais abobadado. A raridade e valor estão associados a sua forma e cor que, por sua vez, dependem da composição da gema. "Cada gema de turquesa é única. As azuis são mais valorizadas que as verdes por terem menor ocorrência, mas a cor é influenciada pelos outros minerais que estão presentes no solo e na pedra. A azurita é uma pedra de cor azul, a malaquita é verde e ambas podem ser encontradas misturadas com a turquesa, que, certamente, é a gema mais interessante encontrada, no momento, na região amazônica”, assegura o pesquisador da UFPA. Serviço: Museu de Geociências da UFPA. Campus da UFPA, Horário: 9h às 17h (segunda a sexta). Contato: 3201.7428. Polo Joalheiro São José Liberto. Próximo à Praça Amazonas, Jurunas. Horário: 9h às 19h (terça a sábado). Contato: 3344.3510. Alexandre Moraes
Karol Khaled
n Composição, forma e cor
Gemas passam despercedidas
UFPA capacita líderes comunitários
Riacho Doce, Ji-Paraná e Pantanal serão os próximos a serem atendidos Dilermando Gadelha
R
uas sem asfalto e seus moradores tendo que conviver, diariamente, com a poeira ou com a lama que se forma em consequência das chuvas. Casas invadidas pela água vinda dos esgotos, que, muitas vezes, estão a céu aberto. Ao lado disso, leis que garantem habitação e saneamento básico. Capacitar os movimentos sociais para que possam compreender a realidade em que vivem e modificá-la, formar pessoas que sejam protagonistas dentro de suas comunidades são os principais objetivos do "Programa Universidade Popular em Direitos Humanos" (PUPDH), criado em 2006, como um projeto vinculado ao Programa de Apoio à Reforma Urbana (Paru), da Faculdade de Serviço Social, em parceria com a Faculdade de Direito. Em 2008, o Projeto ganhou estatuto de programa e passou a constituir uma frente própria de extensão e campo de estágio para os alunos da Faculdade de Serviço Social. As ações do Projeto são feitas a partir de cursos de extensão que provocam a articulação entre o conteúdo científico e a realidade viven-
EM DIA
Acervo Projeto
Turquesas: gemas raras na Amazônia
Observatório UFPA, UEPA e UFRA lançam o Observatório da Educação Escolar Indígena. Aprovada pela Capes, a iniciativa faz parte da Rede de Instituições de Ensino Superior Amazônicas para Estudos Sobre as Populações Indígenas (RIESAPI). Atualmente, o Observatório compõese de 10 professores doutores, dois doutorandos, quatro mestrandos, 18 graduandos e seis professores indígenas. Alunos do curso de Serviço Social durante pesquisa de campo ciada nos movimentos. Os cursos são divididos em três módulos, além de oficinas e palestras oferecidas como atividade complementar. Para ministrar as disciplinas, são chamados professores da Universidade e profissionais de outras instituições, como a Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (Fase), que sejam
referência nas temáticas tratadas. "O Programa convida profissionais da UFPA e de outras instiuições parceiras na defesa dos direitos humanos para discutir os temas e compartilhar as suas experiências. Isso é bastante enriquecedor para a construção do conhecimento", afirma a professora Silvana Brito, participante do Projeto.
n Formando lideranças populares em Belém Segundo Silvana Brito, desde sua criação, o PUPDH já realizou dois processos de capacitação e está na sua terceira turma. A primeira capacitação foi em 2007 e tinha como objetivo qualificar as lideranças de alguns movimentos sociais da Região Metropolitana de Belém para que eles pudessem contribuir com o processo de construção da cidade. O primeiro curso oferecido pelo Programa foi "Políticas de Direitos Humanos e Desenvolvimento Urbano na Amazônia". O curso
tratou de diversas temáticas, como direito fundiário e ambiental, direito à família, à infância, à velhice no âmbito da cidade, políticas públicas e participação social na Região Metropolitana de Belém. Foram capacitadas lideranças de 22 entidades, como a Associação de Moradores do Bairro Benguí, a União de Mulheres Brasileiras, o Movimento Novo Horizonte e a Federação Metropolitana de Centros Comunitários e Associação de Moradores.
Ao final da capacitação, os participantes, bolsistas e professores confeccionaram duas cartilhas sobre a plataforma urbana para a Amazônia, política habitacional e consórcio solidário. As cartilhas foram distribuídas nas próprias comunidades em que as entidades atuam. "A cartilha é um instrumento de trabalho estratégico que os próprios movimentos utilizam nas suas formações posteriores, pois contém um conteúdo acessível", explica Silvana Brito.
n Próximo curso terá juventude como tema Na etapa que acontece ainda em 2010, o Programa abordará o tema "Juventude e participação popular: formando novos líderes comunitários". Segundo a professora Olinda Rodrigues, coordenadora do Programa, a proposta surgiu a partir das avaliações feitas ao final de cada etapa do PUPDH e também das demandas apresentadas pelas próprias comunidades. “Nós percebemos a necessidade de formação de uma juventude organizada que tenha uma participação política relevante dentro da sua comunidade e possa fazer uma leitura da conjuntura na hora de escolher um representante,” afirma a professora. O curso também será dividido em três módulos, com várias disciplinas, como “Direitos Humanos na História”, “Os poderes da República” e “A participação da juventude
nos movimentos sociais”. Para a professora Silvana Brito, “o grande diferencial desta terceira etapa é que as próprias comunidades vão poder escolher algumas das disciplinas, oficinas e palestras. A gente vai ter um momento específico para que eles possam apresentar suas propostas”. Dessa vez, as comunidades atendidas pelo Projeto serão Riacho Doce, Ji-Paraná e Pantanal. Poderão participar não apenas as lideranças, mas também jovens que façam parte de algum grupo que desenvolva atividades cívicas nessas comunidades. No final do curso, os jovens participantes serão orientados para elaborar dois minicursos sobre as temáticas debatidas. Eles também irão escolher o público para quem os minicursos serão ministrados. De acordo com Silvana Brito, os minicursos surgiram com a
necessidade de um monitoramento de resultados após o término dos cursos. "Até agora, esse monitoramento foi feito por meio de Trabalhos de Conclusão de Curso. O TCC de uma ex-bolsista mostrou várias contribuições do Projeto nas comunidades, como a qualificação dos discursos dos movimentos, além de atividades desenvolvidas nas próprias comunidades utilizando os conhecimentos adquiridos”. O Programa Universidade Popular em Direitos Humanos foi um dos vencedores do Prêmio Jovem Extensionista deste ano. Segundo Pamela Almeida, bolsista do Programa, uma das maiores contribuições do PUPDH é "a troca de conhecimento. Nós não ficamos apenas dentro dos muros da Universidade discutindo a teoria. Temos a oportunidade de observar o que aprendemos a partir da vivência nessas comunidades".
Inclusão A Orquestra Juvenil de Violoncelista da Amazônia foi o único grupo brasileiro selecionado para participar da 29ª Conferência da Sociedade Internacional de Educação Musical (ISME), que acontece entre os dias 1º e 6 de agosto, em Pequim. O grupo é coordenado pelo professor Áureo DeFreitas da Escola de Música da UFPA. Além da participação musical, os pesquisadores do Programa Transtornos do Desenvolvimento e Dificuldades de Aprendizagem da EMUFPA aprovaram oito artigos científicos que abordam a inclusão de crianças e adolescentes diagnosticadas com autismo, dislexia e déficit de atenção e hiperatividade.
Amazônica O periódico científico Amazônica está recebendo artigos para o número especial que será publicado em março de 2011. Os trabalhos terão como foco a Rodovia BR-230: Transamazônica, especialmente a região de Altamira. Os artigos podem ser enviados para o e-mail denise@marajoara.com. As normas para publicação estão no site http://www.periodicos.ufpa.br/
Nanociência Entre os dias 9 e 13 de agosto, acontece, em Belém, a Escola de Nanociência e Nanotecnologia da UFPA. O evento faz parte da VII Escola do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) e é a primeira edição fora do Rio de Janeiro. Na programação, minicursos sobre métodos e técnicas utilizadas na manipulação e no estudo de objetos em escala nanométrica. Para mais informações, acesse o site www.cbpf.br/e2010.
Nova coluna A partir desta edição, a Coluna do Reitor muda seu nome para Coluna da Reitoria e passa a ser um espaço compartilhado por todos os pró-reitores. O objetivo é ampliar a oferta de informações à comunidade acadêmica.
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6 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Agosto, 2010
BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Agosto, 2010 –
Extensão
Quando a sétima arte vira profissão
UFPA tem primeira graduação em Cinema e Audiovisual da Região Norte n IAP: parceiro desde o início
Fotos Roger Elarrat
O
cinema em Belém tem uma história de quase 100 anos e, de acordo com os registros históricos, foi a quarta capital brasileira a ter contato com a sétima arte. Os primeiros passos foram dados, aqui, em 1909 e, em abril de 1912, ainda na época do cinema mudo, o Cine Olympia foi fundado. Hoje, a cidade tem o cinema mais antigo do Brasil em funcionamento e o primeiro curso de Cinema e Audiovisual da Região Norte, ofertado pela Universidade Federal do Pará (UFPA), que começará a funcionar em janeiro de 2011, com o vestibular previsto ainda para o segundo semestre de 2010. Cinema é uma área com uma diversidade de funções bastante interessante. Os profissionais podem atuar na direção, no roteiro, na produção, na fotografia, na edição/ montagem, na cenografia, no figurino, no som, na animação, na infografia e na finalização, nas áreas de pesquisa, teoria, análise e crítica, preservação, acervo e memória do cinema e do audiovisual. Formado em Cinema pela Academia Internacional de Cinema e com doutorado em Comunicação e Semiótica, o professor Erasmo Borges de Souza Filho é quem está coordenando
Direção, produção e fotografia são algumas das áreas de atuação o curso de Bacharelado em Cinema e Audiovisual. De um modo geral, as Artes Visuais abrangem qualquer forma de manifestação visual e de representação da imagem. De acordo com o professor, estão compreendidas, aí, pintura, desenho, gravura, fotografia e o próprio cinema, “embora este último guarde particularidades por envolver outras formas visuais do ponto de vista da dramaturgia, e o sincretismo das linguagens visual, sonora e gestual”. “Objetivamos a sistematiza-
ção e a divulgação do conhecimento estético-artístico em todas as suas modalidades (sonoras, visuais, verbais e cênicas), seguindo as diretrizes do Instituto de Ciências da Arte (ICA), que visa à formação de profissionais da arte e do seu ensino, mediante processos integrados de pesquisa, ensino e extensão. Isso envolve uma formação profissional crítica, reflexiva e investigativa, particularmente na apreensão e (re)significação da complexa identidade do ser amazônico”, reflete Erasmo Borges.
n Primeiras turmas serão no sistema intervalar Afonso Medeiros, diretor do Instituto de Ciências da Arte (ICA), afirma que, com o curso de Cinema e Audiovisual, está completa a oferta de cursos superiores na área de Artes. A UFPA é a única instituição do Norte do Brasil que oferece todos os cursos na área, além da graduação em Museologia e do Mestrado em Artes. "A formação acadêmica é um diferencial. No caso de Cinema e Audiovisual, trata-se do único espaço (até o momento) para aquisição e sistematização de conhecimentos mais abrangentes e aprofundados sobre técnica, linguagem e teoria. Sem isso, o futuro profissional teria que buscar formação em cursos e oficinas de curta duração ou, então, sair do Estado”, avalia. Nas discussões para criação
Fotos Alexandre Moraes
Cinema
Killzy Lucena
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do curso no Conselho Superior de Ensino, Pesquisa e Extensão (CONSEPE), muito se falou da demanda que Belém já tem por uma graduação desse gênero. Sendo assim, as três primeiras turmas funcionarão em período intervalar, nos meses de julho e agosto, janeiro e fevereiro, em regime integral, com aulas no período diurno. Ainda de acordo com Afonso Medeiros, a compra de boa parte dos equipamentos está em processo de licitação e a ampliação do Atelier de Artes, na Faculdade de Artes Visuais (FAV), que receberá alunos, equipamentos, biblioteca e laboratórios do novo curso, deve ser licitada brevemente. "Há uma grande demanda no mercado de pessoas que atuam no campo do cinema e do audiovisual
sem qualificação específica. Temos sido procurados, frequentemente, por pessoas interessadas pelo curso, algumas com formação em outras áreas de conhecimento, particularmente na Comunicação Social", conta Erasmo Borges. O coordenador considera o mercado da região amazônica emergente e promissor, com possibilidades infinitas de realizações audiovisuais nos mais diversos segmentos, o que torna grande a expectativa por um curso como este, “e é nesse sentido que o Instituto de Ciências da Arte (ICA) e a FAV, com o apoio da administração superior e dos recursos do REUNI, vêm envidando esforços para a implantação do curso e adequação dos espaços da FAV para o seu efetivo funcionamento”, afirma.
Imagens do set de filmagem de "Miguel, Miguel", curta-metragem do diretor Roger Elarrat
Um dos grandes parceiros para a concretização do curso de Cinema foi o Instituto de Artes do Pará (IAP). De acordo com Erasmo Borges, o IAP teve participação na formulação da proposta inicial de criação do curso, que, depois, foi analisada, aprofundada, reformulada e ampliada a partir das diretrizes propostas pelo Ministério da Educação (MEC). Mas não é só por ter participado da concepção da ideia que o Instituto é importante. Na visão de Erasmo Borges, além do IAP abrigar o Núcleo de Produção Digital – importante para a cena do audiovisual de Belém - é um espaço de reflexão e produção que, durante o funcionamento da graduação, entrará com parcerias técnicas e projetos em comum. Outros parceiros serão as próprias unidades acadêmicas da UFPA, como a Faculdade de Comunicação Social (Facom), os Institutos de Ciências Jurídicas (ICJ), de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) e o Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (Naea), que, inicialmente, cederão professores com conhecimentos nas áreas de interesse do curso. Para o diretor do Instituto de Ciências da Arte (ICA), Afonso Medeiros, outras parcerias podem ser feitas em diversos níveis. "Já imaginaram que nossos alunos de Cinema e Audiovisual poderão estagiar nas diversas unidades acadêmicas da UFPA, ajudando a conceber e produzir material audiovisual para os cursos a distância, por exemplo? Ou o impacto que estudantes e professores de Cinema podem produzir na divulgação de trabalhos dos grupos de pesquisa? Na pesquisa, produção e confecção de material didático, de caráter audiovisual, nos mais diversos níveis de ensino?", provoca. Para Joaquim Araújo, jornalista por formação, mas apaixonado por cinema, a graduação fará uma grande diferença na vida profissional de quem escolhê-la, além de ser uma oportunidade única de formar mais profissionais especializados na área, evitando que, quando haja produções locais maiores, seja necessário buscar equipe de fora do Estado, como ocorre atualmente. "Os alunos não vão aprender apenas a parte técnica de como fazer um filme, mas também vão aprender a pensar o cinema de um modo geral. Eles terão estrutura e apoio de professores para experimentar, fazer e aprender", explica. Ator desde os nove anos e produtor de curtas-metragens, Joaquim Araújo já dirigiu seis curtas e um videoclipe, os quais já participaram de mostras e festivais pelo Brasil. A paixão pelo cinema e o desejo de formação levou-o, recentemente, aos Estados Unidos, onde passou quatro meses estudando em Los Angeles. Para ele, uma experiência única.
Cenas dos espetáculos e exposições do Projeto Cena Aberta apresentadas durante a Quarta Cultural, no Campus Guamá
UFPA democratiza acesso a bens culturais Projetos apoiados pela PROEX já fazem parte da agenda cultural paraense
Andréa Neves e Igor de Souza
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e acordo com o Artigo 207 da Constituição Federal Brasileira, as universidades devem obedecer ao princípio de indissociabilidade entre extensão, pesquisa e ensino. Este é o chamado tripé universitário, uma oportunidade de diálogo entre o que é produzido na universidade e os diversos saberes disponíveis na sociedade. Para o professor Celson Gomes, diretor da Diretoria de Apoio à Cultura da Pró-Reitoria de Extensão da UFPA (DAC/PROEX), "pensar em políticas culturais é pensar de que maneira nós devemos executar esse tripé. Para isso, o conceito de cultura não pode ser estreito". Ao falar em políticas culturais,
estamos tratando de mecanismos de consideração à diversidade. Por possibilitarem à população o acesso a bens culturais, simbólicos e materiais, as políticas culturais constituem-se como importantes meios para a democratização da cultura e para o combate às desigualdades sociais. Entretanto, essas ações devem ir além, devem procurar estabelecer movimentos de circularidade e de troca. Mas como conciliar todos esses aspectos? As estratégias, para a Pró-Reitoria de Extensão, seriam: promover atividades culturais em que o público seja participante ativo, dinamizar a cultura local a partir de suas referências e pensar a cultura de uma forma mais ampla, sem se limitar ao antagonismo “cultura eru-
dita versus cultura popular”. Neste sentido, o mais importante deixa de ser o acesso aos bens culturais e passa a ser a participação da sociedade nesses processos. “Quando você compreende essa dimensão, percebe que é importante estar a par dessas diversas conexões, então, começa a fazer política cultural, de fato", afirma o professor Celson Gomes. É desta forma que a Pró-Reitoria tem focado suas ações e alcançado resultados positivos, como a Revista Tucunduba, o Prêmio PROEX de Literatura, as Quartas Culturais, as Sextas de Arte, os Corredores Culturais, os Encontros de Arte e Cultura nos diversos campi da Universidade e, mais recentemente, o Cine Guamá. De acordo com Celson Gomes,
o principal papel da Diretoria é fomentar essas iniciativas. Entretanto o envolvimento da comunidade na criação de programas e projetos também é importante. “Não queremos que as pessoas fiquem dependentes da PROEX, até porque não temos como apoiar financeiramente os diversos grupos existentes na Universidade, contudo podemos indicar caminhos”, declara. Ao visualizar esses projetos e programas e ao entender a sua dimensão social como atividade extensionista, a Diretoria de Apoio à Cultura busca contribuir para que eles tenham, além dos recursos financeiros, suporte técnico e de divulgação, e que tenham alcance social de acordo com as reais necessidades da sociedade.
n Projeto "Cena Aberta" é um exemplo bem sucedido Sobre arte, já dizia o filósofo húngaro Georg Lukács: "uma arte que seja por definição sem eco, incompreensível para os outros, uma arte que tenha o caráter de puro monólogo só seria possível num asilo de loucos...". O que o filósofo quis ressaltar, nesta frase, foi a necessidade da arte, como fenômeno social, se propagar, ser socialmente percebida pela sociedade. Tal meta é a base do "Cena Aberta", projeto de extensão do Instituto de Ciências da Arte da UFPA (ICA) que, desde 2007, vem se consolidando como um espaço cultural e artístico
na capital paraense. O Projeto surgiu em 2004 como uma forma de integração entre alunos e professores da Escola de Teatro e Dança da UFPA (ETDUFPA), com a perspectiva de socializar os trabalhos realizados pelos discentes dos Cursos Técnicos de Teatro, Dança e Cenografia, existentes na Escola. Em 2007, a professora do ICA Ézia Neves assume a coordenação do "Cena Aberta" para transformá-lo em projeto de extensão, abrindo a possibilidade de participação da comunidade externa à Universidade.
Dessa forma, o Projeto ganhou a sua atual formatação, com duas versões anuais que acontecem em abril e setembro, sempre no último sábado desses meses. As apresentações acontecem, simultaneamente, em diferentes espaços da ETDUFPA, intercalando peças teatrais, danças, performances, exposições fotográficas, instalações, caricaturas, curtas metragens, apresentações de bandas musicais variadas, entre várias outras modalidades de expressões artísticas e culturais. Além disso, o evento promove uma área de vendas, com oferta
de produtos artesanais, roupas, bolsas, bijuterias e comidas. Devido à diversidade da programação e ao crescente interesse das pessoas em divulgar seus trabalhos artísticos, o "Cena Aberta" disponibiliza apenas 15 minutos para cada apresentação, por isso, raramente, estas ocorrem na íntegra, com exceção das que são realmente curtas, o que justifica as reticências (...) serem adotadas como símbolo do Projeto, uma vez que a intenção é mostrar um pequeno trecho de um espetáculo que pode ser maior.
n Teatro, dança e performance: tudo ao mesmo tempo Na sua 11ª edição, realizada em abril deste ano, mais de 60 trabalhos foram apresentados. "Tivemos, por exemplo, uma exposição das atividades da disciplina 'Indumentária I', do curso de Figurino, cujo objetivo foi mostrar a evolução histórica da roupa. Para isso, foram utilizadas bonecas vestidas de acordo com cada período histórico estudado em sala de aula", exemplifica a coordenadora Ézia Neves. Quanto à participação de grupos externos à UFPA, a coordenadora destaca a "EntreAtos Companhia de Artes", a "Ribalta Cia de Dança", a "Cia de Dança Marina Benarrós", o “Movimento Cultural Lapidação Po-
ética" e a "Trupe Nós os Pernaltas", tradicionais do cenário artístico de Belém. Grupos de outros municípios também participam. “O grupo de teatro 'Circo-Teatro Imaginário' vem de Igarapé-Açu trazendo, inclusive, seus familiares, visto que no seu município não existe um evento que reúna teatro, dança e performances acontecendo ao mesmo tempo", afirma Ézia Neves. Para a professora, a própria capital do Estado precisaria rever os locais destinados às apresentações artísticas e o suporte ofertado pelo poder público, os quais têm se revelado insuficiente, em sua opinião. "Por exemplo, a cidade tem algumas praças com anfiteatros, mas estes espaços
não possuem manutenção, iluminação nem segurança necessárias para que os artistas possam realizar suas apresentações. Utilizar estes espaços gera um custo para os artistas; e o poder público municipal não oferece nenhum tipo de suporte. Então, o 'Cena Aberta', de certa forma, disponibiliza um espaço alternativo para a cena artística da cidade oferecendo infraestrutura e divulgação, pelo menos uma vez a cada semestre", analisa a professora. O Projeto continuará com as suas edições semestrais, e a perspectiva é que o evento agregue, no futuro, seminários e palestras sobre Teatro, Dança, Cenografia e Figuri-
no. “Neste ano, tivemos a primeira edição do Cena Aberta Campus, que aconteceu em maio, no Campus da UFPA, a convite da PROEX, participando do Projeto Quartas Culturais. Foi a primeira vez que o Projeto saiu da ETDUFPA. Outra possibilidade seria levar o ‘Cena Aberta’ para outros campi, propiciando um intercâmbio com os artistas locais. Para isso ocorrer, é necessário suporte financeiro", pondera a coordenadora Ézia Neves. Serviço: A 12ª edição do Projeto "Cena Aberta" acontece em setembro. Informações: ezianeves@ufpa.br e (91) 3031-0013/ezianeves@ufpa.br