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12 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Dezembro, 2011
Fotos Karol Khaled
Entrevista JORNAL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ • ANO XXVI • N. 100 • Dezembro, 2011
Karol Khaled
Nem tráfico, nem prostituição
Pós-Graduação cresce na Região Norte
Para diminuir as assimetrias, o crescimento precisa ser mais acelerado
Beira do Rio – O Brasil já consegue formar o número de mestres e doutores necessário para o desenvolvimento do país? Lívio Amaral – Não. A cada ano, nós estamos formando 12 mil doutores e 40 mil mestres. É um número considerável, entretanto muito aquém daquilo que o Brasil deveria ter. Alguns estudos mostram que o Brasil tem 1,4 doutores para cada mil habitantes; Portugal, quatro; o Canadá, quase oito; os EUA , 20, a Alemanha, 23 doutores por mil habitantes, e a Suécia, 30 doutores. Portanto, nós temos um número ínfimo. Para que o Brasil seja tão desenvolvido quanto os outros, precisaríamos multiplicar o número de doutores por 15 ou 20, assim, teríamos uma realidade comparável com essas outras. O novo Plano Nacional de Pós-Graduação 2011-2020 traz um capítulo sobre quais as perspectivas e projeções de formação de doutores e mestres no Brasil nesse período, além de uma série de propostas dizendo que se o Brasil conseguisse aumentar em X o número de profes-
Beira do Rio – Qual a situação da pós-graduação no Brasil, hoje? Lívio Amaral – A pós-graduação, naquilo que nós chamamos de Sistema Nacional de PósGraduação (SNPG), é o conjunto de cursos que submeteram uma proposta para aprovação da Capes. Caso a proposta esteja adequada, ela será uma pós-graduação recomendada pela Capes e receberá uma nota, que varia de três a sete. Atualmente, o Sistema tem 4.700 cursos de pósgraduação em todas as regiões do País. Esses cursos são reavaliados a cada três anos – isso se chama Avaliação Trienal – e a nota com a qual ele entrou no Sistema poderá aumentar ou diminuir. Se no processo da avaliação trienal a nota for um ou dois, o curso será desativado, não poderá emitir diplomas e aceitar novos alunos. A nota três é o mínimo para que o curso seja considerado bom, nesse caso, ele cumpriu todas as exigências de qualidade necessárias para um curso de pós-graduação. Beira do Rio – Essa avaliação é comum para todos os programas de pós-graduação do Brasil? Lívio Amaral – Nesse momento, durante quatro semanas, todas as áreas do conhecimento – são 48, de acordo com o atual recorte feito pela Capes – foram acompanhadas. A avaliação é feita com uma ficha comum para todos os programas de todas as instituições cadastradas no Sistema Nacional de Pós-Graduação (SNPG). Essa ficha de inscrição examina como estão a estrutura curricular, as disciplinas realizadas nos últimos três anos, avalia a produção científica do programa e a sua participação naquilo que chamamos inserção social. Beira do Rio – Qual o quadro da pós-graduação na Região Norte? Lívio Amaral – Quando olhamos o Brasil e per-
guntamos: onde está o maior número de cursos de pós-graduação? Onde a pós-graduação está mais consolidada? As respostas nos levam às Regiões Sudeste, Sul e Nordeste, nessa ordem. Os menores números estão no Centro Oeste e no Norte, agora isso não é diferente dos demais indicadores socioeconômicos quando se trata do Brasil: Índice de Desenvolvimento Humano, renda per capita, PIB social, são todos diferentes entre as regiões. Portanto, a Região Norte tem um menor número de cursos de pós-graduação, e os que existem são muito mais recentes, quando comparados com os de outras regiões. É desigual, mas, nos últimos anos, algumas políticas e ações estão tentando estimular os cursos no Norte. Na avaliação trienal de 2010, o número de cursos de pós-graduação cresceu na Região Norte com um fator dois em relação ao Sudeste. É possível afirmar que as ações e editais do tipo Procad, Procad Casadinho, Minters e Dinters, Programa Bolsa Para Todos foram políticas que obtiveram êxito. Os objetivos foram alcançados, ou seja, crescemos mais no Norte do que nas outras regiões. No entanto, o número de cursos ainda é menor do que o de outras regiões. Por isso daremos continuidade a essas ações, talvez com um ritmo mais acelerado. Beira do Rio – Um dos temas debatidos no Encontro Nacional de Pró-Reitores de Pesquisa e Pós-Graduação (ENPROP) é a internacionalização da pós-graduação. Qual a importância de internacionalizarmos os cursos? Lívio Amaral – Trata-se da própria natureza do conhecimento, que pode surgir em qualquer país, em qualquer região. A pós-graduação trabalha para formar pessoas que vão produzir o conhecimento, isso feito, aquilo que foi produzido precisa ser contado e levado para o mundo. A internacionalização é necessária para agregar conhecimentos e trazer para o Brasil pessoas de excelente formação e lideranças científicas. Muitos países, em determinados momentos, fizeram políticas no sentido de tentar trazer grandes cientistas para seu território. Tipicamente, os Estados Unidos, por exemplo, fizeram uma política forte e consistente no pós-guerra, muitos dos grandes pensadores que estavam na Europa vieram para os EUA, ajudaram a avançar e a produzir conhecimento.
A
Pesquisa identificou dois fluxos migratórios mais marcantes: um deles leva ao Suriname e o outro, à Europa
migração internacional de mulheres é um fenômeno que cresce na Amazônia. De acordo com a pesquisa realizada por Marcel Hazeu no Programa de Pós-Graduação do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA), é cada vez maior o número de migrantes nas periferias de Belém, nem todas são vítimas do tráfico, nem saem
para exercer a prostituição. São mulheres jovens, que tomam a decisão de deixar o país diante de um momento díficil: divórcio, maternidade, desemprego, por exemplo. Entre as 27 famílias que participaram da pesquisa, foi possível verificar que há uma 'pioneira', a qual traça o trajeto e cria a rede de apoio para as 'seguidoras'.Pág. 11
Religião
Saúde
Esmolação e marujada em Bragança.
Projeto investiga consumo Agricultura de drogas entre adolescentes urbana é fonte
Pág. 9
Entrevista O professor Lívio Amaral diz que é preciso acelerar o crescimento da pós-graduação. Pág. 12
Levantamento é coordenado por equipe multidisciplinar formada por professores dos campi de Bragança,
Santarém
Breves e do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) do Campus do Guamá. Págs. 6 e 7
de renda.
Pág. 8
Acervo do Pesquisador
S
ão mais de 4.000 cursos de pós-graduação por todo o Brasil, entre mestrados, doutorados e mestrados profissionais. O País já é o 14º do mundo em relação à produção científica. Qual a contribuição da região amazônica para esse cenário? A resposta é sintomática: apenas 5% desses cursos estão na região. De acordo com a Avaliação Trienal da pósgraduação brasileira, realizada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), no último triênio, os cursos de educação superior continuada cresceram cerca de 30% na Região Norte. Entretanto os especialistas afirmam que esse crescimento precisa ser ainda maior para que o Brasil consiga desenvolver, de maneira equilibrada, as suas diversas regiões. Esse foi um dos temas debatidos pelos participantes do XXVII Encontro Nacional de Pró-Reitores de Pesquisa e Pós-Graduação. Em entrevista ao Jornal Beira do Rio, o professor Lívio Amaral, coordenador de Avaliação da Capes, conversou sobre o desafio de diminuir as assimetrias do desenvolvimento científico.
sores, de recursos e de bolsas de pós-graduação poderia se aproximar de Portugal em 2015. Em outro cenário, com investimentos Y, poderíamos chegar ao patamar do Canadá. Nós esperamos alcançar uma situação sensivelmente melhor para o Brasil nesse período.
Acervo do Pesquisador
Dilermando Gadelha e Rosyane Rodrigues
Coluna da Reitoria O reitor Carlos Maneschy fala sobre as realizações de 2011 na UFPA. Pág. 2
Opinião Oswaldo Coimbra traz memórias da primeira Escola de Engenharia do Pará. Pág. 2
Cada escola recebe um kit para auxiliar as discussões sobre o assunto
Flores e hortaliças são cultivadas