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12 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Janeiro/Fevereiro, 2012
Fotos Karol Khaled
Entrevista JORNAL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ • ANO XXVI • N. 101 • Janeiro/Fevereiro, 2012
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Programa envolve universidades da América Latina e União Europeia
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a Amazônia, temos um cenário permanente de violação de Direitos Humanos: o direito de ir e vir, comprometido pelo trabalho escravo; o direito à integridade, comprometido pelas torturas; o direito fundamental à vida, violado pelas execuções extrajudiciais, são alguns exemplos. Hoje, o Programa de Pós-Graduação em Direito, da Universidade Federal do Pará, é uma referência no assunto, tanto pela pesquisa e produção de conhecimento quanto pela formação de pessoas que irão promover a proteção dos Direitos Humanos. O PPGD acaba de ter o Projeto Rede de Direitos Humanos e Educação Superior aprovado pelo ALFA, principal programa de cooperação acadêmica da União Europeia com a América Latina. Assim, a UFPA e a Universidade de Pompeu Fabra irão coordenar um grupo que reúne 14 universidades de nove países. O Jornal Beira do Rio conversou com o professor Antônio Maués sobre o assunto. Beira do Rio – Como surgiram essas parcerias? Antônio Maués – O ALFA existe desde 2000 e é um edital aberto a qualquer área do conhecimento. Este é o segundo projeto que o PPGD aprova. Em 2004, a nossa rede era menor, formada por Brasil – Colômbia – Chile – Portugal – Itália – Espanha, e coordenada pela UFPA e pela Universidade Carlos III, de Madri. Então, desde 2004, mantemos essa articulação com universidades europeias em torno do Programa. Neste novo Projeto, a Universidade de Pompeu Fabra, em Barcelona, fará a coordenação administrativa e a gestão de recursos. Juntos, faremos a coordenação acadêmica. Para submeter um projeto como este, você não começa do zero, pois as exigências são muitas e é preciso algum tipo de articulação anterior entre os parceiros. Na América Latina, temos o Consórcio Latino-Americano de Pós-Graduações em Direitos Humanos, outro projeto administrado pelo PPGD da UFPA desde 2007. O Projeto conta com recursos da Fundação Ford para montar uma rede de universidades latino-americanas que trabalhem com pesquisa e pós-graduação em Direito. Oficialmente, o consórcio existe desde 2008.
Hoje, somos 13 universidades em seis países. Para participar do edital, utilizamos a mesma rede do consórcio. Nós somos 10 universidades sócias e quatro colaboradoras. Beira do Rio – Institucionalmente, qual a importância de um projeto como este? Antônio Maués – O Projeto permite que a UFPA consolide uma posição de liderança acadêmica na área de Direitos Humanos na América Latina. O nosso Programa de Pós-Graduação em Direito já foi bem avaliado pela Capes duas vezes, recebendo nota cinco. Hoje, somos uma referência na área de Direitos Humanos no Brasil. Com o consórcio, passamos a liderar uma rede latino-americana, mas só havia recursos para fazer reuniões entre si. O ALFA permite expandir as atividades de intercâmbio sobre Direitos Humanos em toda a América Latina. Beira do Rio – Quais são os objetivos do Projeto? Antônio Maués – Fortalecer os Direitos Humanos no ensino superior, com a produção de material didático. Teremos recursos para treinar professores, produzir material, comprar livros e desenvolver uma série de atividades, a qual irá permitir que essas instituições ampliem suas ações em DH. Beira do Rio – Quais atividades estão sendo planejadas? Antônio Maués – O ponto de partida será a produção de materiais didáticos para a reforma dos currículos a fim de que os Direitos Humanos sejam integrados com alguns cursos específicos ou como tema transversal em vários cursos. Para você ter uma atividade mais prática, como é o caso das clínicas, é preciso ter esse fundamento teórico. Então, as primeiras atividades serão reuniões com a equipe – são dois professores por universidade – que participará permanentemente do Programa e com os outros colegas que participarão de atividades específicas. Esse grupo irá discutir os currículos das universidades envolvidas e produzir manuais e guias para professores, procurando a expansão dos DH no ensino superior a partir das universidades sócias. Daí, teremos a base para as atividades práticas, como discutir a
acessibilidade, ou seja, como desenvolver políticas para garantir o acesso à educação superior. No terceiro ano, estaremos preocupados com a difusão dos resultados. Estamos prevendo encontros nas universidades latino-americanas abertos para a sociedade - outras universidades, agentes políticos, ONGs - para difundir os resultados do trabalho. Beira do Rio – Um dos objetivos específicos é transferir os resultados do Projeto para instituições públicas e ONGs que trabalham na defesa dos Direitos Humanos. Qual a estimativa de tempo para que tenha início esse trabalho? Antônio Maués – A partir do segundo ano, os primeiros materiais didáticos devem estar disponíveis na rede. Nosso compromisso é com a elaboração de materiais e a preparação de pessoal. O que pode ser feito para ampliar o impacto dessas atividades acadêmicas? Chamar ONGs, órgãos públicos para as atividades da rede. Nós temos a previsão de realizar conferências e seminários convidando o mundo “não acadêmico” para que eles tenham conhecimento do trabalho que está sendo desenvolvido e possam utilizar esse material. Mas não temos controle sobre como as entidades (governamentais ou não) vão usá-lo efetivamente. Beira do Rio – Com relação ao respeito pelos Direitos Humanos, como estamos na Amazônia? Antônio Maués – A importância de trabalhar essa temática na Amazônia deve-se, justamente, às graves violações a que assistimos cotidianamente. O fato do PPGD ter conseguido se consolidar como um programa de Direitos Humanos também decorre das pessoas saberem dos problemas que afetam os DH na região e acharem importante apoiar um programa de pesquisa e pós-graduação que tenta discutir e encaminhar soluções. Nós temos um trabalho importante de formação, pois muitos alunos são ou serão membros do Ministério Público, da Magistratura, além de exercerem outras profissões jurídicas. Depois de fazer a pós-graduação nessa área, eles modificam a maneira de conduzir as suas atividades.
Museologia
Discursos sobre Belém e a Belle Époque
Em muitos casos, a venda de mídia pirata é a alternativa para quem não tem oportunidade em outros mercados
Turismo
Acervos do Museu de Arte de Belém e do Museu Paraense Emílio Goeldi revelam diferentes olhares sobre a capital. Pág. 4
Enfermagem
Estudantes criam Liga Acadêmica
Multicampi
Pesquisa propõe roteiro de visitação aos coretos Símbolos da urbanização da capital paraense no período conhecido como "Ciclo da Borracha", os coretos fazem
parte do nosso patrimônio histórico e simbólico. Alguns exemplares ainda resistem ao tempo. Pág. 3
Pág. 9
Projeto transforma lixo em brinquedos Oficinas e minicursos capacitam professores e alunos de graduação em Abaetetuba, Barcarena e Belém. Pág. 11
Músico
Acervo do Projeto
Rosyane Rodrigues
Karol Khaled
UFPA coordena rede de Direitos Humanos
stranhar o olhar para um local por onde estamos habituados a circular. Suprir a carência de estudos mais densos sobre esses ambientes. Analisar as relações de sociabilidade em espaços que são centrais na construção da cidade. Essas são algumas das razões que levaram as professoras Carmem Izabel Rodrigues e Wilma Leitão, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), a implementarem o Projeto "Mercados Populares em Belém: sociabilidades, práticas e identidades ribeirinhas em espaço urbano". O Projeto integra estudantes de graduação e pós-graduação da UFPA que, atualmente, desenvolvem pesquisas em Belém e em Caiena, capital da Guiana Francesa. Págs. 6 e 7
Alexandre Moraes
As feiras, os mercados e a cidade
A trajetória de Waldemar Henrique No Parque da Residência, temos o típico coreto do início do século XX
Entrevista
Estudo sobre trauma é prioridade
Professor Antônio Maués fala sobre o fortalecimento da Rede de Direitos Humanos. Pág. 12
Opinião É possível voltar no tempo? Quem responde é o professor Theodomiro Gama Júnior. Pág. 2
Análise antropológica mostra o percurso do compositor paraense até ser nacionalmente reconhecido. Pág. 8
Coluna da Reitoria Nesta edição, Edson Ortiz Matos, pró-reitor de Administração, é quem assina a coluna. Pág. 2
BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Janeiro/ Fevereiro, 2012 –
Multicampi kkk
Coluna da REITORIA
Edson Ortiz de Matos - Pró-Reitor de Administração
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Mácio Ferreira
Sucata transformada em recurso didático
proad@ufpa.br
Satisfação traduzida em números
o final do ano, quando se encerra o exercício financeiro na administração pública, especificamente nas unidades de gerência financeira e contábil, o trabalho se torna tenso, pelos prazos inadiáveis a cumprir, e de grande expectativa. Aqui, na UFPA, não é diferente. Este ano de 2011, seguramente, foi o que nos trouxe maior satisfação, porque comprovamos, no final de dezembro, que o resultado de um esforço coletivo foi a execução total do orçamento deste ano – acima dos 173 milhões de reais repassados pelo Tesouro. Este fato positivo é resultante de uma série de medidas adotadas na PROAD e absorvidas nas unidades da Instituição, nos campi de Belém e do interior, para que a eficiência nos procedimentos administrativos tivesse reflexo positivo na administração equilibrada dos recursos financeiros destinados a cada uma delas. Para a administração superior, executar 100% o orçamento da UFPA não pode ser avaliado com um mérito isolado da PROAD ou de suas diretorias, mas, além disso, indica o surgimento de um favorável entrosamento entre as várias esferas administrativas, de coordenação e gestão para a administração dos recursos. Diversas medidas foram necessárias para se alcançar este e outros resulta-
dos positivos. Apostamos que a solução mais adequada está na descentralização dos recursos para autonomia das unidades, que passam a gerenciar demandas e necessidades mais de perto. Para atingir esse patamar na administração, é fundamental, de início, investir na capacitação do quadro técnico, especialmente dos mais diretamente envolvidos na gestão dos recursos financeiros, do planejamento, da licitação e da aquisição. Nesse aspecto, continuamos realizando, anualmente, a capacitação para os servidores pela Semana Orçamentária, que, este ano, alcançou a oitava versão, reunindo mais de 500 servidores públicos em Belém. Somente da UFPA foram 150, que puderam escolher entre as 96 oficinas realizadas pela Escola de Administração Fazendária (ESAF). Também promovemos treinamentos específicos para servidores, individualmente ou em grupo, como o que precedeu à implantação do Sistema de Controle de Diárias e Passagens, para unidades de Belém, dos campi do interior e da UFOPA; outros sobre procedimentos a serem adotados em pregões eletrônicos; sobre as recentes atualizações no sistema de gerenciamento de licitações e sobre legislação e normas que regem a guarda e o controle do patrimônio institucional. Dados do orçamento de 2011 registram a aplica-
ção de R$ 738.190,00 na capacitação de nossos servidores. Para o ano de 2012, uma de nossas metas será o estabelecimento de novas estratégias para viabilizar, de maneira segura e eficiente, a autonomia das unidades. Outra meta é a capacitação de servidores técnicos para atuarem como pregoeiros nas respectivas unidades. Já existem iniciativas isoladas nessa atividade, mas pretendemos estendê-las até alcançarmos todas, incluindo os campi do interior e aquelas que demandam aquisições sistemáticas de produtos e equipamentos específicos. O que vamos continuar perseguindo, continuamente, é um planejamento cada dia mais eficaz, o qual torne os procedimentos de compras e aquisições para a Instituição bem mais seletivos e aperfeiçoados, além de transparentes, traduzindo-se, ao final, em economia e equalização dos gastos públicos, ampliação do leque de opções para a escolha de produtos de qualidade, bem mais adequados às reais necessidades da Instituição e a custo reduzido. Nossa Instituição teve um volume anual de compras de materiais e equipamentos que ultrapassaram 32 milhões de reais. Aparelhos, utensílios e diversos equipamentos adquiridos para a área da saúde somaram, em 2011, mais de 10 milhões de reais; investi-
OPINIÃO
Theodomiro Gama Júnior
mentos na aquisição de equipamentos de processamento de dados somaram 9 milhões e 600 mil; em aparelhos e utensílios domésticos para as diversas unidade e Restaurante Universitário, foram aplicados 2 milhões e 600 mil reais; em coleções e materiais bibliográficos, 1 milhão e 100 mil; em equipamentos para áudio, vídeo e foto, foi utilizado mais de 1 milhão de reais. Com esses dados, percebemos mais claramente a responsabilidade que todos devemos ter como administradores e gerenciadores do bem público ao iniciarmos um processo de aquisição, optando por produtos ou bens que satisfaçam as reais necessidades institucionais. É mais um papel da UFPA, como instituição pública: a preocupação de adotar procedimentos adequados à nova realidade mundial, que indica a aquisição de materiais e equipamentos ecologicamente corretos. O ano de 2012 foi definido pela Organização das Nações Unidas (ONU) como o Ano Internacional da Energia Sustentável, então, vamos nos organizar, criar e difundir mecanismos de participação e demonstrar para a sociedade que somos uma instituição de ensino não só preocupada com o desenvolvimento sustentável do planeta, da região amazônica e de nosso Estado, mas também voltada para ele.
gamajr@ufpa.br
É possível voltar no tempo?
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h, o tempo! Que conceito tão belo e, ao mesmo tempo, tão misterioso. Quem já não teve o seu momento dejà vu? Quem não relembra os seus momentos bons e outros difíceis vividos no tempo passado? E quem não pensa, planeja e projeta o futuro? Assim, o tempo faz parte da vida de todos nós e está atrelado ao nosso espaço. O tempo tem sido pensado, escrito e falado já faz muito tempo. Talvez, desde quando o homem se entende por gente. Ou mesmo, quem sabe, quando estava passando de um animal híbrido e irracional para o humano, que se diz racional, porém, muitas vezes, não demonstra tal habilidade. O tempo surgiu no momento em que o Universo se formou. Foi um lapso de tempo esplêndido e de muita energia. A partir daí, tudo começou. Inicialmente, pura energia, seguida da matéria e
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ Rua Augusto Corrêa n.1 - Belém/PA beiradorio@ufpa.br - www.ufpa.br Tel. (91) 3201-8036
antimatéria, até chegar à forma de vida complexa, que somos nós, humanos. Mesmo os animais irracionais têm o seu próprio tempo. Vejam os pássaros. Acordam com o raiar do Sol, voam, cantam e comem até próximo ao meio-dia. Descansam até as três horas da tarde, voam, cantam e comem até o pôr do Sol e voltam a dormir. No dia seguinte, repetem o mesmo ritual. Existe o tempo para tudo. O tempo para nascer, o tempo para viver e o tempo para morrer. E essas passagens do tempo são percebidas por todos os seres vivos. Existe o tempo para arar a terra, semear, irrigar e colher o que se plantou. Assim como existe também o tempo para amar, copular, gerar a vida e parir. Toda forma de vida tem uma ordem regida pelo tempo. A maior dificuldade criada pelo homem foi quando ele tentou quantificar o tempo. Antes desse momento, o
homem vivia em harmonia, respeitava a vida e a natureza. Olhava para o rei Sol, contemplava o espaço e definia sua maneira de vida. Sabia o tempo certo para dormir, acordar, plantar, comer, brincar, mas não sabia quanto tempo ainda iria viver. Ao olhar a trajetória do Sol, o homem – de maneira errada – estabeleceu que a sua vida seria controlada pelo tempo no sentido horário. Mas não percebeu que a Terra gira em torno do Sol, e, portanto, no sentido anti-horário. Essa desarmonia obrigou o homem a remar contra a maré. A partir daí, estabeleceu-se o caos que vivemos hoje: individualismo, violência, consumismo, desarmonia familiar, crise de identidade, social e por aí vai. Mas existe alguma esperança de minimizar esse caos? Sim, existe. Basta o homem querer e entender o conceito de espaço-tempo. Tanto o espaço como
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Projeto envolve professores de Abaetetuba, Barcarena e Belém
Fotos Jéssica Maia
Karol Khaled
2 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Janeiro/ Fevereiro, 2012
À esquerda, aluno da Escola de Aplicação confeccionando a Cobra Maluca, com cuba de ovos. À direita, professores na oficina de brinquedo reciclado Ericka Pinto
I
magine uma simples garrafa PET dando origem a bonecos, a jogos e a outros brinquedos que a criatividade permitir. Se o destino desse material era o lixo, isso começa a mudar nas escolas de ensino básico e fundamental dos municípios de Abaetetuba e Barcarena e na Escola de Aplicação, em Belém. A iniciativa é do Grupo de Estudo e Pesquisa em Educação, Infância e Filosofia (GEPEIF) do Campus da Universidade Federal do Pará, em Abaetetuba.
Tudo começa a partir de atividades lúdicas que envolvem professores e alunos. Eles utilizam papelão, palito de churrasco, cuba de ovos, latas, vidros, rolhas de cortiça, entre outros materiais que seriam descartados nas lixeiras ou no meio ambiente. Para auxiliar na confecção dos brinquedos, tesoura, cola e tintas guache e para tecido não podem faltar. Com o material em mãos, basta a garotada soltar a imaginação. Alguns brinquedos transformam-se em personagens, entre eles,
estão: Cavalo Marinho (feito com garrafa PET), Garota Vareta (palito de churrasco e rolha de cortiça), Senhor PET (palhaço feito de garrafa PET), Palhaço Maluco (garrafa de iogurte e tampinhas de PET), Cobra Maluca (cuba de ovos), Jogo de Pega (feito com PET e bola de papel), Jogo de Vai e Vem (PET e barbante). Mostrar que a reciclagem pode contribuir para a preservação do meio ambiente é a proposta desenvolvida pelo GEPEIF, por meio do Projeto de Extensão "Reciclando para preservar
e educar: transformando sucatas em brinquedos para educação das crianças das escolas de educação infantil e ensino fundamental". "O objetivo é continuar implementando práticas metodológicas inovadoras, utilizando o brinquedo para educação e inclusão social. Ao mesmo tempo, contribuir para a construção de uma consciência ecológica sustentável e ambientalmente responsável entre os alunos da Escola de Educação Básica", ressaltou o coordenador do Projeto, professor Waldir Ferreira de Abreu.
Alunos dos cursos de Licenciatura são multiplicadores o tempo podem ser deformados e, portanto, modificados. Cada indivíduo estabelece o seu próprio tempo. O tempo só é o mesmo para todos quando estamos parados. Daí, basta aplicar a consciência alerta para viver no sentido anti-horário, através de exercícios diários de deformação do seu espaço-tempo, do espaço-tempo coletivo e do Universo. E, assim, passar a viver em harmonia com os movimentos de rotação da Terra, com a expansão do Universo e com a própria vida. Deseja ter qualidade de vida e ser feliz? Então, aprenda a deformar o espaço-tempo, no sentido anti-horário. Volte no tempo e fique mais jovem. Eis o segredo da consciência viva. Theodomiro Gama Júnior é doutor em Geologia e professor da Universidade Federal do Pará, Campus Castanhal.
Reitor: Carlos Edilson Maneschy; Vice-Reitor: Horácio Schneider; Pró-Reitor de Administração: Edson Ortiz de Matos; Pró-Reitor de Planejamento: Erick Nelo Pedreira; Pró-Reitora de Ensino de Graduação: Marlene Rodrigues Medeiros Freitas; Pró-Reitor de Extensão: Fernando Arthur de Freitas Neves; Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação: Emmanuel Zagury Tourinho; Pró-Reitor de Desenvolvimento e Gestão de Pessoal: João Cauby de Almeida Júnior; Pró-Reitor de Relações Internacionais: Flávio Augusto Sidrim Nassar; Prefeito do Campus: Alemar Dias Rodrigues Júnior. Assessoria de Comunicação Institucional Coordenação Luiz Cezar S. dos Santos; JORNAL BEIRA DO RIO Edição: Rosyane Rodrigues; Reportagem: Anne Beatriz Costa/Dilermando Gadelha/Ericka Pinto(1.266DRT/PA)/Flávio Meireles/Helder Ferreira/Jéssica Souza(1.807-DRT/PA)//Rosyane Rodrigues (2.386-DRT/PE)/Vito Ramon Gemaque; Fotografia: Alexandre Moraes/Karol Khaled; Secretaria: Silvana Vilhena; Beira On-Line: Leandro Machado; Revisão: Júlia Lopes/Cintia Magalhães; Arte e Diagramação: Rafaela André/Omar Fonseca; Impressão: Gráfica UFPA; Tiragem: 4 mil exemplares.
O Projeto, atualmente na terceira etapa, tem o apoio da PróReitoria de Extensão da UFPA (Proex) e da Coordenação de Pesquisa e Extensão (Copex) da Escola de Aplicação. A primeira etapa foi a preparação de doze estudantes do curso de Graduação em Pedagogia para atuarem como multiplicadores. As atividades tiveram início em junho de 2011. A segunda etapa envolveu professores da rede pública de ensino e alunos dos cursos de licenciatura do Campus de Abaetetuba. Eles são capacitados por meio de oficinas ministradas pelo Grupo de Pesquisa para uso do brinquedo reciclado como recurso didático em sala de aula. A terceira e última fase do Projeto corresponde à capacitação das crianças, sendo, desta vez, os professores os responsáveis pelas oficinas, sob a orientação do Grupo de Pesquisa. Em Belém, as três etapas já ocorreram na Escola de Aplicação. Em Barcarena, 80 professores e 30 alunos participaram das oficinas no mês de dezembro, na Casa do Professor. A próxima atividade no município deve ocorrer em fevereiro deste ano, com a participação de crianças de 30 escolas. "Nossa meta era atingir 100 professores, 150 alunos dos cursos de Pedagogia,
Letras e Matemática e 300 crianças. No momento, já atingimos boa parte do público-alvo. Acredito que, até o final do Projeto, em junho do ano que vem, vamos ultrapassar a meta", comemora o professor Waldir Ferreira de Abreu. Atividades – As atividades do Projeto envolvem: oficinas de novas metodologias de ensino com o uso do brinquedo na sala de aula; curso de reciclagem de sucatas e construção de brinquedos e brincadeiras para os alunos dos cursos de Pedagogia, Matemática e Letras nos campi de Abaetetuba e Barcarena; palestras sobre reciclagem e preservação do meio ambiente e minicursos, oficinas e vivências pedagógicas para professores. O Projeto também prevê a realização de cursos de formação continuada para os professores da rede de ensino de Abaetetuba e Barcarena; seminário sobre criança e preservação do meio ambiente e elaboração de cartilha-livro ensinando a confeccionar brinquedos a partir da sucata. De acordo com o professor Waldir Ferreira de Abreu, a experiência de transformar sucata em brinquedo e utilizá-lo como recurso pedagógico já existe em escolas do
Em Abaetetuba, alunos jogam Vai e Vem feito com garrafa PET e barbante Rio de Janeiro e de Porto Alegre. Um dos projetos foi desenvolvido pela Universidade do Estado do Rio (UERJ). "O retorno desse trabalho é uma maior consciência ecológica e ambiental por parte daqueles que estão envolvidos no Projeto. Eles desenvolvem uma relação diferente com aquele material que se tornaria lixo. Além disso, o professor percebe o potencial do brinquedo como
recurso metodológico para as crianças", avalia. A estudante Jéssica Maia de Souza, do curso de Pedagogia, participou das oficinas como multiplicadora. "Mostramos, de forma lúdica, como é possível transformar esses objetos que seriam descartados. Participar dessa iniciativa foi, sem dúvida, uma experiência enriquecedora", afirmou a aluna.
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BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Janeiro/ Fevereiro, 2012 –
Turismo
Memória
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onversando com meus colegas da Faculdade de Direito, descobri que, salvo os mais experientes que não ocultam a idade, poucos lembram que o Direito era no Largo da Trindade, onde hoje funciona a Ordem dos Advogados do Brasil, Secção Pará. Aquele casarão de muitas janelas, que chamamos sobrado, característico da herança colonial portuguesa, o qual ocupa o canto (a esquina) da Praça Rio Branco com a Gama Abreu, continuação da Almirante Tamandaré. Sobrado dos moços de muitas jornadas pela liberdade do e no Pará. Não sei onde começou a Faculdade, pois escrevo a partir do território da memória e não da busca histórica, mas, no Largo da Trindade, os acadêmicos do Direito reinaram como referência por mais de meio século. Por lá, passaram mestres (no amplo sentido do termo) que se formaram na Trindade e passaram a integrar o quadro de catedrático (assim se chamavam os respeitáveis mestres dos anos 50, 60 e 70 no século passado), na época, não se formavam apenas Bacharéis em Direito, mas Bacharéis em Ciências Jurídicas e Sociais, muitos dos quais se desdobravam entre o Direito e a antiga Faculdade de Filosofia Ciências e Letras da também Universidade Federal do Pará. Muitos nomes podem ser lembrados e, por certo, cada um tem uma interminável lista de preferências. Faço minhas anotações pensando em alguns dos notáveis com quem tive o prazer de conviver em diversas circunstâncias, alguns foram meus professores, outros, autoridades universitárias, importantes não pelo cargo, mas pela visão de futuro que tinham e que emprestaram à UFPA. Os "Sílvio(s)" Hall de Moura e Meira, a quem se fazem os maiores elogios, formadores de gerações de bacharéis. Daniel Queima Coelho de Souza, o reitor da transição, ponderado e diplomata, que, exemplarmente, com a ajuda de muitos, mudou os destinos da Universidade. Otávio Mendonça, Simão Bittar, Daniel Coelho de Souza, Benedito Nunes e Roberto Santos, oriundos do Direito, foram mestres na Filosofia e ensinaram gerações. Alguns foram para a hoje Cidade Universitária Prof. José da Silveira Netto, quando o lindo território era uma promessa de Campus, contra o qual muitos atiravam pedras. Imagino quão "violento" foi à geração, acostumada à austera cátedra, deslocar-se ao Núcleo Pioneiro do Guamá, como se chamava o embrião da Cidade Universitária. As salas na Trindade eram integradas por bancadas e cadeiras, muitas delas feitas em jacarandá da Bahia, elevadas do "rés do chão" indicando a autoridade dos ocupantes, dispostas em salões de tábuas corridas, trabalhados em pau-amarelo e acapu, formando lindos desenhos que distraíam os estudantes encabulados por não saberem responder aos mestres. Os mestres falavam do "púpito", como sacerdotes do saber, com voz impostada e forte como se estivessem a proferir aulas magnas quotidianamente. Lembro colegas e amigos do Direito informando sobre as aulas que, à época, eram ministradas em salas com pé direito alto, paredes desenhadas em florões (atualmente, as paredes não são decoradas), finamente acabadas com rodapés estruturados em madeira trabalhada, como não mais se veem. "Deslocados" do Largo para o Campus – espaço despojado e moderno, sem pompa e muito menos circunstância – em face da reforma universitária imposta pelos ditadores que cortaram os sonhos dos jovens que imaginavam a via socialista como trajeto e mudanças radicais. Os moços sonhadores se deixavam ficar nos bancos da praça para articular, politicamente, os destinos do Brasil. Quantas conversas não foram ouvidas no Largo, dando continuidade aos sonhos de
Alexandre Moraes
Crônica comemora os 110 anos da Faculdade de Direito
Pesquisa propõe visita aos coretos
No início do século XX, eles marcaram o progresso e a urbanização Flávio Meireles
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ocê já imaginou Paris sem a Torre Eiffel? Londres sem o famoso Big Ben? Ou até mesmo o Rio de Janeiro sem o Cristo Redentor? Como diz a estudiosa em paisagem e espaço público, professora Raquel de Castro Almeida, "é importante para determinar o caráter e o valor do lugar perguntar-se ou imaginar como seria a cidade sem ele". É por esse motivo que não podemos imaginar a cidade de Belém sem o Mercado Ver-o-Peso, o Theatro da Paz ou a Estação das Docas. Mas estes não são os únicos símbolos da capital paraense. Os coretos das praças também fazem parte do patrimônio histórico e simbólico da cidade. Percebendo a falta de uma publicação que reunisse informações sobre todos esses monumentos, a professora Marlene Schlup Santos, da Universidade Estadual de Roraima (UERR), desenvolveu a pesquisa "Estética e História no Roteiro dos Coretos: um olhar sobre as praças de Belém – PA", entre os anos de 2001 e 2002. O estudo foi resultado do curso de Especialização em Ecoturismo do Núcleo de Meio Ambiente da Universidade Federal do Pará (Numa/ UFPA). Além de compilar informações por meio de pesquisa bibliográfica, a professora visou, neste trabalho, identificar, in loco, a importância destes espaços e equipamentos para a cultura local, considerando, principalmente, as
Karol Khaled
Entre o Largo da Trindade e o Guamá Jane Felipe Beltrão
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Manutenção adequada garante beleza do coreto instalado na Praça Batista Campos perspectivas turísticas. Uma parte da pesquisa encontra-se também no livro Belém do Pará: História, Cultura e Sociedade, publicado pelo Núcleo de Altos Estudos Amazônicos. "Quis construir um roteiro de visitas a esses coretos. Quando nos damos conta das riquezas do patrimônio de Belém, percebemos que elas devem
ser divulgadas. Há um enriquecimento quando se conhece um espaço por inteiro, principalmente, quando esse espaço, além de envolver a natureza, também envolve a natureza construída", explica a professora. No estudo, a professora faz uma análise de coretos de cinco locais de Belém: as Praças da República, Batista
Campos e Magalhães Barata, o Parque da Residência e o Bosque Rodrigues Alves. A ideia era descobrir a origem, o estilo, a influência, o material usado na construção, o valor simbólico da arquitetura e a utilização social da obra, tanto no período em que foram construídos quanto na sua conservação e utilização hoje.
Ferro fundido e vidro eram materiais mais utilizados estudantes secundaristas, oriundos dos colégios de prestígio, como o Paes de Carvalho, que "domina" a Praça da Bandeira – aliás, os casarões se parecem na prática e na tradição – onde também estávamos acostumados à cátedra e aos notáveis mestres! Muitos dos articuladores foram presos durante os Anos de Chumbo, alguns desapareceram e outros foram resgatados pela "resistência" dos movimentos sociais que se valiam de célebres advogados de presos políticos, saídos do Largo da Trindade. Alguns deles, durante muito tempo, tiveram dificuldades políticas ao fazerem concurso para a UFPA, como José Carlos Castro. Outros tantos recorreram aos mestres Itair Silva e Roberto Santos, pois os tempos não eram de brincadeira e cedo os moços foram chamados à responsabilidade. Não apenas os estudantes de Direito padeceram com a Ditadura, outros mais que vinham de outros casarões da UFPA para articular, como os futuros médicos do Largo de Santa Luiza, os professores que estavam a formar-se no casarão da Generalíssimo, os aprendizes do ofício de cirurgião-dentista que iam do casarão da Batista Campos. Os atores da Escola de Teatro da Quintino, os estudantes de Farmácia da Generalíssimo e tantos outros visionários que faziam da utopia a política necessária à democracia dos cidadãos de hoje! As conversas eram muitas e em época em que fast food, em Belém, era banca de tacacá e cachorro-quente do Pernambucano, a tacacazeira mais famosa da cidade, a Judith, "colocou" sua modesta banca na calçada lateral da Faculdade e, por lá, os estudantes e seus convidados, às rodas de conversa, "matavam" fome com tacacá, maniçoba,
caruru, vatapá, café e bolinho de estudante. As sociabilidades se cristalizaram a ponto de a banca da Judith ficar conhecida como A Jurídica. Título que a distinta senhora mandou bordar nos uniformes brancos que a vigilância sanitária passou a exigir. Se alguém quer lembrar o sabor dos quitutes, é só chegar por lá, a banca só se deslocou do canto da Praça para um recuo mais abaixo, pela Gama Abreu, quando da reforma do prédio, pois a Judith faz parte do patrimônio da Trindade. Talvez o terreno livre da Trindade seja o único lugar onde as bancas de advogado e de tacacá se juntam em patrimônio e, felizes somos nós, na inovação e na consideração do patrimônio da memória de muitos paraenses. Recordar é viver e reviver. O casarão da Trindade ficou com a Ordem e, felizmente, não teve o destino de tantos outros que, demolidos, não mais permitem sonhar com os tempos bons que não voltam mais. Afinal, 110 anos faz a Faculdade de Direito, que se multiplicou pelos campi da Instituição, desdobra-se no Programa de Pós-Graduação em Direito (PPGD) e ganhou, há pouco, seu próprio prédio na Cidade Universitária. Os jovens de agora que, jocosamente, denominam de "Banco Central" o novo prédio do Instituto de Ciências Jurídicas (ICJ), herdeiros que são da irreverência que veio do Largo da Trindade, podem pensar no lugar de antes como memória. Aos que usam do estatuto dos cabelos prateados, é permitido ter saudades. Jane Felipe Beltrão é antropóloga, docente do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da UFPA e pesquisadora do CNPq.
Para a compilação de informações, dados e imagens, a professora contou com o apoio do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN); da seção de Obras Raras da Fundação Cultural do Pará Trancredo Neves (Centur); da Fundação de Parques e Áreas Verdes (Funverde); da Biblioteca do Museu Histórico do Estado do Pará (MHEP) e do Arquivo Público do Pará. Segundo Marlene Schlup Santos, para compreender a singularidade dos processos destas construções na cidade de Belém, é preciso que se volte
no tempo e entenda as consequências do passado no nosso presente. O tempo áureo da borracha, a Belle Époque, a ideologia do progresso, a maneira como eram introduzidas as técnicas de construção permitidas pela Revolução Industrial são contextos que devem ser levados em consideração. Pode-se afirmar que a implantação de coretos foi resultado do processo de urbanização da cidade entre os séculos XIX e XX, quando a capital paraense ganharia muitas praças e seria radicalmente embelezada. A iniciativa de criar jardins, praças,
coretos, quiosques e chafarizes seguiu o modelo europeu imposto na época. Durante a pesquisa, a professora percebeu que a maioria dos coretos de Belém foi construída com ferro fundido. A utilização deste material e do vidro plano deve-se a um conjunto de fatores ligados ao próprio Ciclo da Borracha. "O poder aquisitivo do Estado, na época, e da classe enriquecida permitia a escolha dos produtos mais sofisticados e de melhor qualidade. Todas essas condições eram preenchidas pelos produtos pré-fabricados em
ferro, entre outros", explica. Por serem de ferro, os coretos mantiveramse em bom estado até hoje, apesar de estarem abandonados. Mas as obras não devem ser compreendidas somente por aspectos históricos. É preciso conhecer as personalidades que moldaram a paisagem política de Belém, tanto para explicar a existência dessas obras quanto para justificar a destruição de alguns dos espaços. Nesse sentido, destaca-se a importância do intendente Antônio Lemos, que governou Belém de 1897 a 1911.
Largo de Nazaré possuía coretos em seus quatro cantos O mandato de Antônio Lemos privilegiou a execução e manutenção da política de ajardinamento e arborização da cidade. "Antônio Lemos teve uma estrutura que permitiu sua ascensão. O momento histórico com o apogeu de produção e exportação da borracha deu a ele o sustentáculo econômico necessário para imprimir na cidade as reformas que estampavam a Belle Époque", esclarece a professora. Mesmo com praças impecáveis, os espaços embelezados e monumentalizados precisavam ser mais frequentados e valorizados pela população. Então, o governo da época passa a
pensar nos coretos como uma forma de atrair famílias para os locais. Os pavilhões eram usados para a apresentação de bandas de músicas estaduais e municipais. Largo de Nazaré – Durante o estudo, a professora encontrou diversas informações sobre atividades culturais que aconteciam nos coretos do Largo da Igreja de Nossa Senhora de Nazaré, hoje chamada de Praça Santuário. No total, eram quatro coretos, um em cada canto do Largo. Hoje, estes espaços não existem mais. Atualmente, é possível perceber a diferença de uso e cuidado que muitas
praças receberam ao longo dos anos. Dependendo da localização, da atenção do poder público com manutenção e restauração, bem como dos cuidados da população que os frequenta, muitos coretos estão fechados ou em completo abandono. Uns continuaram nobres, outros foram relegados. Em decorrência do clima amazônico, com muito calor e umidade, o material utilizado para a criação dos monumentos (tinta sobre ferro) não facilita a manutenção. Mesmo passando por restauração, logo começam a deteriorar. "Temos uma 'ajuda', às vezes, da própria população com pichações, por exemplo", acrescenta a professora.
"Não temos, no Brasil, uma política de manutenção constante das construções históricas, como se vê em alguns países, onde há equipes trabalhando constantemente na recuperação, a exemplo da Índia. No nosso caso, o mais comum é licitar uma restauração só depois de estar bem deteriorado ou esquecido", avalia. A estrutura urbana de Belém possui diversos problemas. Entre eles, estão o desemprego ou a falta de moradia. Isso faz com que os espaços sejam tomados como área de lazer para alguns ou como um meio de subsistência e "moradias invisíveis" para outros.
4 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Janeiro/ Fevereiro, 2012
BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Janeiro/ Fevereiro, 2012 –
Enfermagem
Museologia
Estudantes criam Liga Acadêmica
O olhar nativo e o olhar estrangeiro
Objetivo é aprofundar estudos sobre trauma, com pesquisa e extensão Fotos Acervo do Projeto
U
ma cidade localizada nos trópicos, mas onde era possível encontrar linhos, sedas e arremates europeus para a confecção de roupas de pessoas da elite, a qual adotava hábitos, costumes e modas parisienses. Essa cidade é Belém do final do século XIX até o início do século XX, quando vivia a sua Belle Époque e tinha Paris como referência de modernidade e desenvolvimento. A partir de uma pesquisa iniciada em 1999, para sua dissertação de mestrado, Luiz Tadeu da Costa, professor da Faculdade de Museologia da Universidade Federal do Pará (UFPA), começou a estudar os acervos do Museu de Arte de Belém (MABE) e do Museu Paraense Emilio Goeldi (MPEG), especialmente as telas e fotografias que retratam Belém entre as últimas décadas do século XIX e as duas primeiras do século XX. Parte da pesquisa, intitulada "Iconografias da Belle Époque de Belém: Acervos do MABE e do MPEG", foi publicada em forma de artigo no livro Belém do Pará: História, Cultura e Sociedade. O livro, organizado pela professora Ligia Simonian, do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA), agrega textos apresentados no colóquio com o mesmo nome. No século XIX, houve uma fixação nos belenenses por esse sonho de uma cidade esplendorosa e próspera, pela ideia de modernidade e pela utopia da Idade de Ouro de Belém. A cidade passa por um processo
Fotos Reprodução Luiz Tadeu da Costa
Acervos do MABE e MPEG mostram diferentes discursos sobre a capital Anne Beatriz Costa
Membros da Liga Acadêmica Paraense de Enfermagem do Trauma realizam treinamento com a Cruz Vermelha Jéssica Souza
E
No sentido horário: fotografias do acervo do MPEG e o óleo sobre tela Regando o Jardim, de Benedicto Calixto de Jesus de representação quando começa a importar modas e "trazer" Paris para a Amazônia, com seus coretos e ruas largas. De acordo com o professor, a representação "é a projeção de algo,
quase uma holografia. É a imagem em si, praticamente". Num segundo momento, começa a simulação, que é a constituição de algo a partir de referências. "É uma espécie de 'faz
de conta' em que eu me visto daquilo. As pessoas começam a absorver aquele estilo de vida, elas começam a viver como se estivessem em Paris", explica.
les ultrapassam obstáculos, correm contra o tempo, ajudam a salvar vidas e a diminuir o risco de acidentes. Eles promovem ações educativas, assistência à comunidade e pesquisas científicas. Eles são a Liga Acadêmica Paraense de Enfermagem do Trauma (LAPAET), da Faculdade de Enfermagem do Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Federal do Pará. Qualquer semelhança com a Liga da Justiça – equipe de super-heróis criada pela editora americana DC Comics – pode não ser mera coincidência.
A Liga é uma entidade primordialmente estudantil, a qual tem à sua frente um grupo de estudantes dedicados a aprofundar-se na temática do trauma e atender as demandas da população e da comunidade acadêmica sobre o assunto. A Lapaet foi criada em 2011 com o objetivo de complementar as atividades curriculares e colaborar para a melhoria do Projeto Político Pedagógico do curso de Graduação em Enfermagem da UFPA, proporcionando a aplicação prática da teoria estudada em sala de aula. Em outubro passado, o grupo atuou com a Cruz Vermelha realizando atendimentos durante o Círio de Nazaré.
Inspirados nas atividades já desenvolvidas pela Liga Acadêmica de Urgência e Emergência do Pará (LAUEP) e pela Liga Paraense do Trauma (LPT), vinculadas ao curso de Medicina da Universidade, os estudantes do curso de Enfermagem formaram a sua própria Liga. Na área de Enfermagem, a LAPAET é a terceira da Região Norte e a primeira do Pará. O grupo tem 21 membros, 15 efetivos e seis integrantes da Diretoria. A professora Thalita Fernandes, da Faculdade de Enfermagem da UFPA, é a preceptora da LAPAET e o professor Adson Hugo Soares é professor-colaborador. "Escolhemos o trauma para
ser o assunto principal da nossa Liga devido à necessidade da própria Faculdade de complementar a grade curricular sobre o assunto. Além disso, a escolha justifica-se diante da incidência do trauma. Fizemos uma pesquisa e verificamos que é possível prevenir o trauma em 100% dos casos e que o custo com o tratamento do paciente traumatizado é bem maior do que com campanhas de prevenção. A nossa Liga quer prevenir o trauma e oferecer capacitações práticas para que cada vez mais pessoas possam assistir esses pacientes", explica Jéssica Gomes, estudante do sexto semestre de Enfermagem e presidente da LAPAET.
Cidade com ruas largas, praças, arborização e teatro
Grupo cria oportunidades para unir teoria à prática
O intendente municipal à época, Antônio José Lemos, contratou pintores renomados nacionalmente, como Antônio Parreiras, Benedito Calixto e Teodoro Braga, para retratar situações que reforçavam o discurso político-administrativo dele e, assim, constituir a coleção fundante da Pinacoteca Municipal, hoje, MABE. Segundo Luiz Tadeu da Costa, "ele 'edita' uma cidade, faz um recorte da realidade usando lugares que iam ao encontro do desenvolvimento e da
O foco da LAPAET é a assistência em saúde, por isso também trabalha com aulas e demonstrações práticas de socorro, resgate e salvamento de um modo geral. "A Liga também oferece oportunidades de pesquisas aos estudantes. Dentro da Liga, poderemos desenvolver Trabalhos de Conclusão de Curso e projetos de extensão", continua Jéssica. "Realizamos, ainda, cursos de capacitação para agentes de saúde em Belém e no interior", acrescenta. Entre as ações de 2011, o grupo promoveu o I Simpósio de Trauma-
prosperidade. Ruas largas, praças, arborização, teatro, bosque tinham esse significado". Essa visão da cidade de Belém, a qual está presente nas telas do MABE, é chamada de "olhar nativo" pelo professor Luiz Tadeu da Costa em sua dissertação. Este olhar faz um paralelo com o que ele chama de "olhar estrangeiro", aquele que está presente nas fotografias do MPEG. Segundo o professor, o acervo iconográfico do MPEG é pouco
conhecido e pouco estudado, porque raramente estiveram em exposições. Essas imagens revelam, sob a ótica de fotógrafos naturalistas estrangeiros, outra cidade e outras populações da Amazônia, as quais tinham sido esquecidas nas telas encomendadas por Antônio Lemos, como o índio. "O discurso estrangeiro busca o exótico, busca, na cidade, aquilo que talvez não existisse em nenhum outro lugar", afirma Luiz Tadeu da Costa. A cidade retratada nas fotogra-
fias naturalistas é uma cidade em processo, a qual ainda está se arrumando. Diferentemente dos artefatos produzidos e coletados pela elite burguesa, os quais representam uma cidade já desenvolvida, como uma "Paris dos trópicos". "É como se eles retratassem uma realidade que a intendência municipal não queria mostrar", explica o professor. A partir desse cruzamento de diferentes visões sobre a cidade é que se elaboram reinterpretações da história.
Discurso metonímico é comum no início do século XX As duas visões não retratam a realidade absoluta daquela época, mas ajudam a refletir não só sobre o passado, mas também sobre a época atual, já que muita coisa não é falada ou sofre uma edição, uma estetização. Para o professor Luiz Tadeu da Costa, a pesquisa é uma provocação para que as pessoas possam refletir sobre que medida participam desse processo de esquecimento. "A memória é seletiva. Individualmente, nós também fazemos isso, por motivos e interesses distintos", explica o professor, para quem a relação entre memória e esquecimento é algo natural, uma conversa frequente.
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As figuras de linguagem também são abordadas na pesquisa do professor Luiz Tadeu da Costa. Segundo ele, existe uma cultura, fruto do século XX, de ser metonímico, ou seja, de tomar a parte pelo todo. Essas obras, principalmente as telas do MABE, vão ao encontro do discurso da modernidade metonímica, já que se toma aquela parte da cidade como a história de fato. Aquele é o imaginário construído sobre o que era Belém no final do século XIX – uma pequena Paris. Pequenos pedaços são tomados como o todo e qualquer coisa que seja divergente a isso, como
as fotografias do MPEG, pode parecer muito estranha, como uma cidade que ninguém viu ou mostrou antes. Como símbolo da modernidade, é importante que o museu represente a vida social, cultural, econômica e política daquele lugar e contextualize de que maneira aqueles elementos estão relacionados com o mundo. "A articulação do museu é o passado, o presente, mas, sobretudo, o futuro. O grande objeto do museu é a preservação da história, da memória. Se é preservar, isso é futuro", avalia o professor.
Visitação aos acervos Museu de Ar te de Belém – 3ª a 6ª feira, das 10h às 18h. Sábados, domingos e feriados, das 9h às 13h. Mais informações: mabe@belém. p a . g o v. b r e ( 9 1 ) 3 1 1 4 1026 M u s e u Pa r a e n s e E m í l i o Goeldi – 3ª a domingo, das 9h às 17h. Mais informações: (91) 3219-3313
tologia, o I Seminário das Ligas em Evidência, a I Jornada do Trauma, o I Curso Teórico-Prático do Trauma e o I Simpósio de Urgência e Emergência Pediátrica. Segundo Jéssica Gomes, há quem pense que o trauma acontece somente quando há alguma fratura ou machucado, quando, na verdade, queimaduras, afogamentos e intoxicações também fazem parte do trauma. Desse modo, a Liga dá visibilidade à Enfermagem, profissão que nem sempre recebe a atenção que merece. "A Enfermagem forte.
É isso o que nós queremos", ressalta a presidente da LAPAET. Para 2012, a meta do grupo é estabelecer parcerias com a Secretaria do Estado de Saúde Pública (Sespa) para que os membros da Liga possam estagiar no Hospital Metropolitano de Belém. A ideia é intensificar o aprendizado sobre o atendimento ao paciente traumatizado. A inserção no Hospital Metropolitano deve favorecer pesquisas de levantamento de dados epidemiológicos e a elaboração de projetos de extensão.
No Brasil, a primeira liga foi criada em 1920 A LAPAET foi estruturada para ser um grupo permanente. Haverá eleições anuais para a presidência e para os membros da Diretoria, embora os fundadores da Liga sejam membros vitalícios. Atualmente, o grupo se prepara para participar de congressos apresentando trabalhos sobre o trauma, além de iniciar um projeto de pesquisa voltado para a assistência à saúde da população ribeirinha. A proposta é desenvolver técnicas que possam favorecer o pronto atendimento, em casos de urgência, com recursos existentes na
própria comunidade e na natureza. De acordo com o diretor científico, Marcelo Silva, a primeira liga acadêmica, a Liga de Combate à Sífilis, foi criada no Brasil, em 1920, com a finalidade de prestar assistência e informação às comunidades sobre a doença. A segunda foi a Liga de Trauma da Faculdade de Medicina de Botucatu (FMB), da Universidade de São Paulo (USP), desde então, as ligas acadêmicas começaram a surgir em maior número, sempre vinculadas aos cursos de Medicina.
"Até antes da Ditadura, as ligas não tinham reconhecimento ou legitimidade. Com o surgimento de movimentos sociais no momento Pós-Ditadura e com a Constituição, que estipulou os princípios e as diretrizes da Educação, criou-se o princípio de indissociabilidade entre Ensino, Pesquisa e Extensão e as ligas puderam mostrar suas ações para suas universidades e para o próprio Ministério da Educação, ganhando, dessa forma, legitimidade e reconhecimento como ferramenta útil para o Ensino", explica Marcelo Silva.
Tradicionalmente, os enfermeiros são comparados com anjos, salvadores e até com super-heróis. É aquele que está diretamente ligado ao paciente e sempre pronto para ajudar. Os integrantes da LAPAET acreditam que podem ser super-heróis. "Eu me comparo a um super-herói, porque tenho que fazer várias coisas ao mesmo tempo. Se eu pudesse, seria o Naruto, que se multiplica. Às vezes, gostaria de ser mais de uma pessoa para dar conta de tudo que tenho que desenvolver", afirma Marcelo Silva, diretor científico da Liga.
Enfermagem na UFPA Na UFPA, o curso superior de E n f e r m a ge m fo i c r i a d o e m 1975, pela Resolução nº 322 do Conselho Universitário, e tem a duração de quatro anos e meio. A Universidade também dispõe de um curso de Mestrado em Enfer magem. Para mais informações, acesse o site do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem < www.ppgenf. ufpa.br>
8 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Janeiro/ Fevereiro, 2012
BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Janeiro/ Fevereiro, 2012 –
Arqueologia
Música
Vito Ramon Gemaque Certa vez de montaria eu descia um paraná e o caboclo que remava não parava de falar Que caboclo falador! Me contou do lobisomem da mãe d’água e do tajá disse do Jurutaí que se ri pro luar Que caboclo falador Que mangava de visagem que matou surucucu e jurou por pavulagem que pegou o uirapuru Que caboclo tentador (...)
Karol Khaled
Análise antropológica mostra trajetória do músico paraense
B
Na década de 60 do século passado, o Theatro da Paz esteve sob a direção do maestro Waldemar Henrique pação ativa na construção da sua imagem e Michelly Martins procurou entender como isso aconteceu. “O maestro Waldemar Henrique diz que foi coisa do destino, que simplesmente aconteceu. Esse estudo antropológico mostra que não, que ele se empenhou para isso acontecer. Saiu daqui e foi para o Rio de Janeiro, o centro cultural da época.
Se um artista quisesse ter renome nacional, acabava indo para lá", afirma a pesquisadora. Um dos aspectos que chamou a atenção da pesquisadora foi a difícil classificação da obra de Waldemar Henrique. Ao mesmo tempo em que é uma música feita para orquestra e piano, expressa também o folclore paraense e amazônico. Desta manei-
ra, a obra do maestro acaba se situando entre o clássico e o popular. "Ele não se enquadra nas classificações musicais e esta é a sua singularidade. Alguns classificam a sua música como folclore; outros, como erudita ou até como erudita popular. Hoje, Waldermar Henrique é um ícone da música paraense”, afirma a pesquisadora.
Valorização do folclore reflete momento histórico O folclore está presente em várias composições do maestro. Referências às lendas contadas por nossos avós, como o Uirapuru, a Tajapanema e o Boi-Bumbá, são exemplos da influência da cultura popular. Segundo Michelly Martins, a análise antropológica não considera a obra e a vida do compositor separadamente, mas como uma relação direta. A produção cultural é uma representação das condições sociais em que foi criada, refletindo na
linguagem e na estética da canção. Portanto, a música pode ser considerada um discurso social. A partir deste ponto, é possível entender as composições de Waldemar Henrique como um retrato da sua época histórica. Naquele momento, o Brasil se encontrava sob os efeitos da Semana de Arte Moderna e da aspiração do governo a construir uma nação unificada. As canções amazônicas vieram suprir um espaço destinado ao folclore. "Ficava mais fácil trabalhar o
regional, já que não havia muitos compositores discutindo essa temática. Como é que o maestro poderia ganhar espaço? Justamente levando o amazônida, o regional para dentro do contexto histórico”, esclarece a pesquisadora. À primeira vista, um estudo antropológico sobre a vida de alguém pode ficar muito próximo a uma biografia, mas existem diferenças fundamentais. Na biografia, o autor pode se deixar influenciar pelo biografado e não focar as re-
lações sociais que criaram aquele personagem. O estudo sobre trajetória tenta compreender o ponto de vista do próprio compositor sobre sua vida, investigando o sentido que ele conferia a seus atos nos diferentes momentos de sua existência. É possível entender que, mesmo se achando predestinado, o autor jamais deixou de lutar para ocupar um espaço na música e na sociedade. O maestro soube colocar sua criatividade e suas músicas a seu favor no jogo social.
Biografias trazem mitos sobre infância e adolescência Para entender o quanto a fama de "gênio desde o nascimento" foi criada em torno de Waldemar Henrique, Michelly Martins precisou pesquisar biografias e reportagens publicadas em jornais, disponíveis em arquivos públicos e particulares, além de entrevistar pessoas que conheceram o músico. Foram fontes de pesquisa os livros biográficos, como Waldemar Henrique da Costa Pereira e Waldemar Henrique: só Deus sabe por quê,
Artefatos indicam ocupação por outras civilizações
Helder Ferreira
Q
uem lê o trecho da música Uirapuru tem a sensação de estar navegando pelos rios amazônicos e ouvindo as histórias de caboclo. A música, conhecida pelas interpretações de artistas paraenses, como Lucinha Bastos e Nilson Chaves, é uma das várias composições do maestro Waldemar Henrique que entrelaçam a música erudita e o folclore da Amazônia. Mas o percurso até o reconhecimento nacional como um compositor amazônico por excelência não foi fácil. É o que afirma a pesquisadora Michelly de Jesus Martins, autora da Dissertação Waldemar Henrique: só Deus sabe por quê. Uma análise antropológica a respeito da construção da trajetória de um músico paraense, orientada pela professora Diana Antonaz e defendida no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal do Pará (UFPA). Waldemar teve uma partici-
Uma outra história de Belém
de Sebastião Godinho; Encontro com Waldemar, livro de entrevistas com o compositor, de João Carlos Pereira; e Waldemar Henrique: o Canto da Amazônia, de Cláver Filho. É neste último livro, principal referência sobre o maestro, que aparecem os mitos sobre a infância e a adolescência do músico. O relato dos primeiros anos, traçado por Cláver Filho, "é um artefato que nos diz muito da imagem que o próprio Waldemar Henrique desejava que
fosse produzida de si". Na época, o próprio músico teria ficado muito feliz com o trabalho de Cláver Filho, participando, inclusive, do lançamento do livro. Para a pesquisadora, o biógrafo poderá ver o biografado como o melhor em sua atividade, “fazendo com que o pesquisador/biógrafo não revele tudo. O biografado acaba dizendo o que quer que pensem sobre ele, ajudando a construir uma imagem sobre si”, explica Michelly Martins.
Mesmo não tendo conseguido alcançar a fama de Villa-Lobos, compositor erudito, brasileiro, reconhecido mundialmente, Waldemar Henrique conseguiu conquistar seu espaço em um momento precioso de construção da identidade nacional. A cultura amazônica, característica singular de sua obra, foi uma vantagem frente a outros compositores e artistas. Em contrapartida, o maestro fez com que as histórias da Região Norte ficassem conhecidas no país inteiro.
elém está comemorando 396 anos de fundação e toda vez que chegamos à data de 12 de janeiro, voltamos nossa atenção para a história da cidade. Retornam às nossas mentes as aulas de História sobre a chegada da frota de Francisco Caldeira Castelo Branco nas terras que, mais tarde, seriam paraenses. Entretanto a memória apenas registra a história de Belém de 1616 para cá, mas, antes disso, já havia uma trajetória construída por outros povos. Para saber quem eram esses povos e como viviam antes da capital do Pará ser fundada, Fernando Luiz Tavares Marques, doutor em História pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC- RG) e pesquisador do Museu Paraense Emílio Goeldi, desenvolve estudos no âmbito da Arqueologia Histórica. Alguns resultados estão no artigo Um sítio indígena sob a Feliz Lusitânia: Descobertas recentes em arqueologia urbana, em Belém do Pará, incluído no livro Belém do Pará: História, Cultura e Sociedade, publicado pelo Núcleo de Altos Estudos Amazônicos da Universidade Federal do Pará. Segundo Fernando Tavares Mar-
Mácio Ferreira
Waldemar: o gênio desde o nascimento
EM DIA
Artefatos encontrados durante obra estão em exposição no Forte do Castelo ques, o trabalho resulta da percepção de um potencial arqueológico encontrado no solo de prédios e monumentos históricos, como Forte do Presépio, Estação das Docas e Largo do Carmo. Restos de vasilhas cerâmicas pintadas e alguns artefatos de pedra associados a uma considerável área com solo de coloração escura evidenciam que esses lugares foram habitados por civilizações indígenas de um período
até anterior à chegada dos europeus na região. “Já conhecíamos alguns relatos históricos sobre a presença desses povos nesta terra, mas ainda não tínhamos nada de concreto nas mãos. Foi depois de encontrarmos esses vestígios, enterrados em uma camada de terra escura no entorno do Largo da Sé, que levantamos uma hipótese real da existência desses povos que remontam mais de 500 anos,” explica o pesquisador.
esqueletos com características indígenas, como a presença de dentes incisivos com predominância de pá (dupla e simples). Evidências que indicam a existência de um cemitério indígena no local relacionado pelo menos à época do contato entre os portugueses e os nativos. Regiões com boas condições de sobrevivência, como aquelas próximas aos rios, protegidas de inundações e fartas em comida e água potável, possuem maiores chances de terem sido habitadas por outras civilizações. A imensa área que compreende Belém e sua Região Metropolitana é, portanto, uma região propícia para estes achados. Fernando Luiz Tavares Marques apontou outros lugares em que já foram encontrados vestígios históricos, como nos municípios de Marituba, Barcarena
e na região de Jaguarari, no Rio Moju, próximo a uma das pontes da Rodovia Alça Viária. Segundo o pesquisador, a prospecção na região de Jaguarari revelou o sítio de um antigo engenho onde, antes, havia existido uma missão jesuítica com cerâmicas datadas em mais de 700 anos, portanto referente a uma aldeia anterior. “É muito provável terem existido muitas aldeias indígenas e, com a chegada dos europeus, algumas se transformaram em missões e depois se tornaram cidades, como Santarém. Em Lugares que reúnem todas as condições para a sobrevivência de grupos humanos, podemos imaginar o quanto de história tem em seu solo. Esse é o nosso trabalho. Descobrir esse passado, investigá-lo e trazê-lo à tona”, explica.
Preservação do local preocupa pesquisadores Para os pesquisadores, a grande preocupação, quando a cidade é o local de prospecção, é conservar o lugar em que os objetos ficaram enterrados e foram descobertos. Para a Arqueologia, é imprescindível a conservação desses achados, pois qualquer dano pode ser desastroso, prejudicando o estudo em laboratório para saber a origem, a idade e como o objeto foi parar naquele local. “Quando a Prefeitura de Belém estava construindo um restaurante popular no centro da cidade, alguns operários acharam vestígios arqueológicos enquanto faziam as fundações do prédio. Imediatamente,
A Biblioteca Central da UFPA comemora 50 anos este ano. De acordo com Graça Pena, diretora da Unidade, a digitalização dos acervos autorizados é a principal meta para 2012. A informação eletrônica não só amplia as possibilidades de acesso às obras, como também garante um diálogo mais eficiente com os jovens alunos da Universidade.
Prêmio
Descobertas surgem a partir de restaurações Algumas dessas descobertas arqueológicas se deram a partir de obras de reforma e restauração de monumentos e locais turísticos de Belém, como o Forte do Castelo, onde foram encontrados os alicerces da antiga capela de Santo Cristo, que existiu até o final do século XVIII, e cerca de 100 mil amostras de material arqueológico, entre as quais, 25% constituem-se de fragmentos e utensílios com traços da cultura indígena. Na pesquisa realizada na área da Estação das Docas, foram coletados quase 3 mil fragmentos de cerâmica relativos a utensílios, como tigelas e panelas antigas que remontam a uma civilização indígena que habitava o local. Já no Largo do Carmo, foram encontrados moedas e outros materiais oriundos do Período Colonial e também
Digitalização
eles acionaram os órgãos competentes para fazer a retirada desses materiais”, lembra Fernando Marques. Entretanto isso nem sempre acontece. “Em outros casos, a retirada desses materiais é apontada como um empecilho, pois a obra precisa ser paralisada para não prejudicar a pesquisa. Seria recomendável estabelecer ações de parceria entre os órgãos que licenciam obras e as instituições de pesquisas arqueológicas para que isso possa ser resolvido rapidamente”, avalia. O Forte do Castelo e a Estação das Docas têm áreas destinadas para exposição de material arqueológico
encontrado durante a reforma dessas áreas para fins turísticos. Fernando Marques aponta que estes dois lugares são bastante visitados, sendo que o Forte do Castelo é o primeiro em visitação. Estes são exemplos de que a população tem, sim, interesse em visitar e conhecer um pouco mais da sua história. “O que falta é a divulgação entre o grande público ou a criação de espaços musealizados no entorno desses sítios, para que a população local e o turista conheçam mais a respeito das civilizações que, antes de nós, já viviam em solo amazônico”, conclui.
Estão abertas, até o dia 16 de abril, as inscrições para o “II Prêmio Daniel Coelho de Souza de Monografias Jurídicas”, promovido pelo Instituto de Ciências Jurídicas (ICJ) da UFPA, em parceria com o Escritório Coelho de Souza Sociedade de Advogados. Os trabalhos inscritos devem contemplar os seguintes temas: Teoria Geral do Direito, Direito Civil, Processual Civil e Deontologia Jurídica. As três melhores propostas receberão R$ 2.500, R$1.500 e R$1.000, respectivamente. Mais informações pelo telefone (91) 3201-7666.
Exposição I Gravuras, painéis, objetos, desenhos e livros de Oswaldo Goeldi podem ser vistos na Exposição “Poesia Gravada”, em cartaz no Museu da UFPA até o dia 19 de fevereiro. A mostra, patrocinada pela empresa Vale, reúne obras de todas as fases do artista, desde os desenhos até as gravuras em preto e branco e coloridas. A visitação acontece de terça a sexta-feira, das 9h às 17h; aos sábados e domingos, das 10h às 14h, exceto feriados. Mais informações: (91) 3224-0874 ou pelo site www.ufpa.brr/museufpa
Exposição II Oswaldo Goeldi nasceu na cidade do Rio de Janeiro, em 1895. Até os seis anos de idade, morou em Belém, com seus pais, Adelina Meyer Goeldi e Emilio Augusto Goeldi. Seu pai, renomado zoólogo e naturalista suíço, foi diretor e deu nome a uma das mais importantes instituições de pesquisa do País: o Museu Paraense Emílio Goeldi. A mostra relembra os 50 anos da morte do desenhista, ilustrador, gravador e professor. A curadoria é de Lani Goeldi, sobrinha-neta do artista e presidente do Projeto Goeldi, e a produção é assinada pela Cult Arte Comunicação.
Revista Artifícios A Revista Artifícios está recebendo, até o dia 19 de fevereiro, trabalhos para publicação em seu próximo número. Podem ser submetidos artigos, entrevistas ou experiências de escrituras ( ensaios, poesias, contos, crônicas, traduções, fotografias, entre outros). A Revista é uma publicação semestral do Grupo de Pesquisa Diferença e Educação do PPGED∕ICED∕UFPA. Mais informações no site http://www.artificios. ufpa.br/
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BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Janeiro/ Fevereiro, 2012 –
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Cultura
Olhando as cidades a partir das feiras e dos mercados populares
Freguesia: além do valor econômico, a lealdade também está presente
O Projeto integra estudantes de graduação e pós-graduação da UFPA. Entre eles, estão os trabalhos dos alunos de graduação em Ciências Sociais Rogério Sousa, que pesquisa a Feira 25 de Setembro; e José Julierme Santos, que trabalha com a Feira do Guamá; a doutoranda Rosiane Martins, que pesquisa uma feira em Caiena, capital da Guiana Francesa; o mestrando Marcos Borges, que pesquisa o Porto do Açaí; e a graduanda Suelem Nascimento dos Santos, que, sob a orientação da professora Wilma Leitão, pesquisa a transmissão das barracas de venda de farinha no Mercado Ver-o-Peso. O trabalho do estudante Rogério Sousa, intitulado "Atos de sociabilidade na Feira 25 de Setembro: mistura de valores e costumes no cotidiano da cidade Belém", procura analisar as interações entre os feirantes do local – mais de 420, distribuídos em 415 equipamentos -, desses feirantes com os seus fregueses e também as relações dos feirantes com a sociedade em seu entorno, objetivando perceber como essa sociabilidade influencia na prática cotidiana dessas pessoas. De acordo
Acervo do Projeto
Há 40 anos, feirantes foram remanejados de São Brás
Reformada recentemente, a Feira da 25 de Setembro tem 420 trabalhadores
com o estudante, a Feira teve um início turbulento. "A Feira tem 40 anos e se originou partindo de conflitos. Um grupo de feirantes foi remanejado de São Brás e da frente do Colégio Berço de Belém e realocados para a área número um da 25, entre a Travessa Jutaí e a Travessa das Mercês. Então, essa problemática de abandono teve início nesse período. Eles foram retirados de um local onde já tinham estabilidade econômica, seus fregueses e foram levados para um lugar em que não havia uma estrutura para se estabelecer uma feira", conta Rogério Sousa. Demoraram alguns anos para que os feirantes se estabelecessem no local e criassem sua rede de comercialização nos arredores. Segundo o estudante, no início, eram cerca de 50 feirantes no espaço. Quinze anos após o início da Feira, começaram a se agregar mais pessoas. Entretanto, de acordo com a professora Carmem Rodrigues, a sociabilidade vai além das relações estritamente comerciais mantidas entre esses feirantes e, algumas vezes, chega mesmo a sobrepujá-las.
Relações comerciais mediadas pela amizade e confiança Nas feiras, como a 25 de Setembro, as relações comerciais são mediadas pela amizade e pela confiança. "Nesses locais, as relações são face a face. São relações de confiança, lealdade, fidelidade. Elas são morais, são valores, mesmo que o valor econômico esteja presente. Então, entre fulano e beltrano, pode não circular dinheiro, mas existe um crédito, é possível comprar fiado para pagar
depois. É a reprodução da máxima do sociólogo Karl Polanyi, a qual diz que as relações econômicas estão imbricadas nas relações sociais", explica a professora Carmem Rodrigues. Segundo Rogério Sousa, com as entrevistas, foi possível verificar que os feirantes mantêm uma boa relação entre si. Esse comportamento é encorajado pela própria Associação dos Feirantes, a qual faz tanto os
mais novos quanto os mais antigos interagirem, seja no dia a dia, seja nas festividades. As relações de sociabilidade entre os atores da feira geram mudanças nas próprias práticas diárias. A troca de saberes é outro ponto discutido pelo estudante e acontece, por exemplo, quando um feirante ensina a outro como tratar as mercadorias e este último incorpora esta técnica à
sua atuação diária. A troca de saberes extrapola o campo do trabalho e perpassa a vida pessoal dos feirantes, como quando precisam de informações acerca de como obter documentos ou orientações para irem a lugares desconhecidos. "Existe toda uma rede de circulação desses conhecimentos, dessas experiências", acrescenta a professora Carmem Izabel Rodrigues.
Mídia pirata: do Comérico para as bancas do Guamá O estudante José Julierme Furtado dos Santos, com o trabalho "Vendedores de CDs e DVDs piratas: identidades socioculturais dos (as) vendedores (as) na feira do bairro Guamá", também participa do Projeto que pesquisa feiras populares. Em seu trabalho, ele procura mostrar um pouco da história da feira do bairro Guamá, levando em consideração as dinâmicas da venda de mídias piratas no local. "A pirataria surgiu na década de 1990, quando Jon Lech Johansen, um nerd e hacker norueguês de apenas 15 anos de idade, descobriu como burlar o código de proteção do DVD", explica o estudante. De acordo com Julierme, os vendedores de CDs e DVDs piratas costumam morar no Guamá ou em bairros próximos, como Jurunas e Cremação. "Eu descrevo o processo de trabalho deles, como eles organizam a barraca, como vendem e onde compram os CDs e DVDs", explica. A produção - "falsificação" dos discos, na maioria das vezes, não é feita pelo próprio vendedor, mas sim comprada e, depois, revendida por eles. O principal ponto de compra de mídias piratas é na Avenida João Alfredo, bairro Comércio. Após a compra dos produtos para revenda, os quais custam barato, cerca de R$ 0,50 cada CD ou DVD,
Alexandre Moraes
U
ma profusão de cores, sabores, cheiros, pessoas, sotaques. Isso é um clichê, sim, mas representa bem aquilo que, primeiramente, percebemos quando chegamos a uma feira ou a um mercado. É comum ir a esses locais comprar temperos, frutas, carnes, peixes e produtos industrializados. Tão comum que, às vezes, não percebemos a riqueza que essas feiras e mercados apresentam do ponto de vista comercial e sociológico. Justamente com o objetivo de nos dar densidade sociológica sobre o ambiente das feiras populares da cidade é que foi criado o Projeto "Mercados Populares em Belém: sociabilidades, práticas e identidades ribeirinhas em espaço urbano", vinculado ao Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Universidade Federal do Pará (UFPA), coordenado pela professora Carmem Izabel Rodrigues. O Projeto iniciou, em 2009, como desdobramento de outras duas pesquisas: uma sobre o Mercado Ver-o-Peso, realizada pela professora Wilma Leitão, e outra sobre sociabi-
lidade e festas na Feira do Jurunas, coordenada pela professora Carmem Rodrigues. A ideia de estudar as feiras surgiu pela pequena quantidade de trabalhos que tratassem do seu aspecto social. "Aliamos o fato de que faltava um estudo mais denso sobre esses ambientes, do ponto de vista das Ciências Sociais, aqui, em Belém, à existência de algumas feiras extremamente importantes para a cidade – pelo número de feirantes, de famílias e pelo grande fluxo econômico gerado. As feiras têm um lugar central na construção da cidade se você olhar a história de Belém, sua ocupação, sua história comercial", explica a professora Carmem Izabel Rodrigues. A facilidade de se fazerem pesquisas nas feiras populares também é um dos motivos para a realização do Projeto nesses espaços. Segundo a professora Wilma Leitão, do ponto de vista metodológico, é mais simples levar os alunos para fazerem pesquisas de campo e coleta de dados nas feiras. "Além do estranhamento de voltar a um lugar com uma preocupação mais teórica", complementa a professora.
Mulheres são minoria entre os vendodores de CDs e DVDs piratas na Feira do Guamá os vendedores voltam para a Feira do Guamá e montam sua "barraca", geralmente, um carrinho de madeira, coberto por lona. "É interessante como eles criam meios de atrair a clientela para a barraca. De manhã, quando
começa o movimento, eles ligam os amplificadores aos aparelhos de DVD e televisão para testarem os produtos. Esses CDs e DVDs, geralmente, são de baixa qualidade e, algumas vezes, não têm nada gravado. Ao fazerem o teste, eles chamam a atenção dos fre-
gueses que passam pelo local", explica o estudante. O trabalho de venda de CDs piratas é tipicamente masculino, pois, além de vender, é preciso montar e desmontar a barraca. Isso não exclui as mulheres, que, às vezes, substituem seus companheiros.
Vendas chegam a render até R$ 50,00 por dia A venda de CDs e DVDs piratas acontece, muitas vezes, por causa da falta de oportunidades de trabalho em outros mercados econômicos. A professora Carmem Rodrigues explica que, apesar dos preços baixos dos produtos piratas – um CD ou um DVD são vendidos por R$ 2,00, ou três por R$ 5,00 – o volume de vendas faz com que esses vendedores ganhem até R$ 50,00 por dia. De acordo com a pesquisa, em alguns finais de semana e datas comemorativas, eles podem ganhar até R$ 200,00. "Em muitos casos, eles já
experimentaram vender outro produto e perceberam que é mais lucrativo vender CD e DVD baratos, porque vendem muito", afirma a professora. Uma das coisas interessantes, quando se trata do comércio de mídias pirateadas, é a questão da criminalização. Na ótica do Estado (a visão corrente), a pirataria está relacionada ao crime organizado, porque ela cria prejuízos para a sociedade, uma vez que não paga os impostos devidos e também prejudica o mercado do entretenimento. "Entretanto alguns autores, como Pinheiro-Machado (2008), Ribeiro
(2009) e Silveira (2009), falam que isso não é negativo, porque a pirataria e a informalidade complementam o capitalismo, já que as pessoas que fazem esse comércio são potenciais consumidores em estabelecimentos comerciais legais: lojas, supermercados e shoppings centers", explica José Julierme Furtado dos Santos. Por ser identificado como crime, é comum acontecerem batidas policiais para apreensão de mercadorias piratas na feira. Os vendedores comunicam-se por meio de celulares, para informar quando está ocorrendo a "batida", para
que eles possam recolher seus produtos. Quando são pegos, o mais comum é a apreensão dos CDs e DVDs, os vendedores só são presos caso resistam à ação policial. Tanto o estudante Rogério Sousa quanto José Julierme Furtado dos Santos realizaram seus trabalhos no âmbito do Programa de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic), que é realizado pela UFPA, em parceria com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Pará (Fapespa). Este ano, os dois trabalhos foram apresentados no XXII Seminário de Iniciação Científica da UFPA.
Fotos Alexandre Moraes
Dilermando Gadelha
Acervo do Projeto
Grupo do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas analisa sociabilidade e identidade na Guiana Francesa e em Belém
Nas barracas, o movimento começa pela manhã. Títulos recém-lançados, a preço baixo, atraem a clientela.