Beira 105

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12 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Junho/ Julho, 2012

Fotos Karol Khaled

Entrevista JORNAL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ • ANO XXVI • N. 105 • Junho/ Julho, 2012

Vacina contra amebíase em teste

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egundo a Oganização Mundial de Saúde (OMS), 50 milhões de pessoas são diagnosticadas com amebíase todos os anos. A ameba intestinal é a segunda causa de morte por doenças parasitárias, ficando atrás apenas da malária. Dados do Núcleo de Medicina Tropical

Intercâmbio

"Geo-turismo"

52 bolsas para Doutorado Sanduíche

Belle Époque ganha roteiro especial Depois de passear pelas ruas da Cidade Velha e pelas barracas do Ver-o-Peso, o Grupo de Pesquisa em Geografia do Turismo da UFPA propõe roteiro a pé pelos símbolos do Ciclo da Borracha Pág.4

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ada vez mais, os temas do cotidiano estão ganhando espaço na Academia. A pesquisa realizada pela professora Telma Amaral Gonçalves, defendida no Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais, é um exemplo disso. Transformar o amor – tema corriqueiro e banal – em tese de doutorado exige coragem. Em entrevista ao Jornal Beira do Rio, Telma conversou sobre a pesquisa que investigou parceiros heterossexuais e homossexuais das camadas médias urbanas de Belém. "Trabalhando os dois universos em conjunção, percebi que não há diferença. É evidente que existem as especificidades, mas, na vivência cotidiana do amor, o fato de serem dois homens, duas mulheres, um homem e uma mulher não é o elemento mais importante. A rotina, a divisão de tarefas e as queixas são idênticas", afirma a professora. Beira do Rio – O antropólogo Anthony Seeger diz que a escolha dos temas é uma escolha pessoal. No seu caso, o amor sempre esteve presente na sua trajetória acadêmica, não? Telma Amaral – No mestrado, eu pesquisei o casamento. Na época, eu estava às vésperas de casar, então, esse era um incômodo pessoal. E pesquisando o casamento, o amor se colocou, pois, para falar de casamento, as pessoas falam de amor. É quase um critério básico: para casar, tem que amar. Na época, escrevi um capítulo sobre isso. No doutorando, para vincular os temas e dar uma continuidade ao trabalho anterior, lembrei-me do amor. Sem contar que esse tema tem a ver com a nossa vida. Afinal, o que é o amor? Ele se constrói ou não? Como é no dia a dia? Também é um tema pouco discutido academicamente. Mas por que ninguém discute o amor? Porque amor é coisa do cotidiano, é o clichê, todo mundo ama e fala de amor. Por ser tão banalizado, ele é pensado como não acadêmico. Existem alguns trabalhos nos campos da Antropologia e da Sociologia, mas não são muitos. São temas que estão "ao redor" do amor, como conjugalidade, família, vínculos, sexualidade. Decidi fazer o inverso. Na minha pesquisa, o amor é o tema central. Beira do Rio – Antes de partir para o campo, fizeste uma revisão das referências sobre o amor. Quais foram as descobertas nesse momento da pesquisa?

Telma Amaral – Eu trabalhei referências da Antropologia, da Sociologia. Algumas no campo da História e da Psicologia. Na Antropologia, mostrei que os clássicos já apontavam para o estudo da relação afetiva, desde Malinowisk, com A vida sexual dos selvagens e Margaret Mead, com Sexo e Temperamento. Esses dois antropólogos já tinham a preocupação com esses temas considerados "menores" diante dos temas clássicos: religião, organização social, parentesco e magia. Mais recentemente, você tem uma leva de estudos, entre os quais, eu destaco os da Maria Luiza Heilborn e os da Marlise Matos. Um dado interessante é que esses pesquisadores não incorporam só o universo heterossexual. Quando se pensava em amor, era sempre a relação homem- mulher, e esses novos trabalhos discutem o amor entre homem e mulher, homem e homem, mulher e mulher. Essa foi uma percepção que eu também tive. Não dá mais para falar da vida social sem enxergar essas variações. Beira do Rio – A contemporaneidade permite outras formas de amar? Telma Amaral – Sim, permite. Essa discussão está em pauta, diferente de algumas décadas atrás. Não dá para ignorar esse universo tão amplo como o termo "homoafetivo" contempla. Hoje, é possível ver as pessoas expressando o afeto, que, no universo heterossexual, sempre foi uma marca registrada. Amar implica pegar, beijar, abraçar, falar sobre o amor. No universo homossexual, devido ao forte preconceito, há um tabu que proíbe a manifestação pública desse afeto. Todos os entrevistados colocaram claramente esta dificuldade. E eles incorporam esse discurso do "não pode" dizendo que é preciso "se dar ao respeito" e respeitar as pessoas. Assim, eles encontram estratégias para fugir do preconceito, mas de uma forma terrível, pois inibem aquilo que o amor tem de mais forte: a manifestação do sentimento amoroso. Por outro lado, os mais jovens têm se mostrado muito mais corajosos e ousados. Beira do Rio – Letras de músicas foram usadas para nomear os capítulos. Músicas, cinema e literatura servem para nos "alfabetizar" nesse aprendizado sobre o que é o amor? Telma Amaral – Não foi essa a minha intenção. Eu quis romper um pouco o rigor acadêmico e trazer a linguagem da arte, que é menos formal. A percepção que as pessoas têm é que uma tese de doutorado é uma leitura inacessível. Ao incorporar a linguagem do cinema, da música e da poesia, eu quis tornar a

leitura da tese fácil e agradável. Algumas músicas foram indicadas pelos entrevistados, pois marcaram a relação; outras foram selecionadas por mim. Os poemas também foram citados pelos entrevistados. A literatura é um campo que eu aprecio e acabei trazendo para o trabalho como estratégia para nomear as pessoas e manter o anonimato pedido por elas. Beira do Rio – Quais foram as práticas e os discursos revelados? Telma Amaral – O amor é ponto de partida, mas ele vai sofrendo transformações ao longo do tempo. Daí, as práticas que eram comuns no namoro, como a troca de correspondências, presentes, beijos e abraços intermináveis, com o casamento, elas reduzem. Ao serem perguntados sobre isso, eles se dão conta da mudança e elaboram um discurso que diz que o amor se constrói e se reconstrói, diariamente, na convivência. Práticas comuns na época do namoro vão sendo deixadas de lado e substituídas por outras. Um entrevistado dizia que uma convivência tão intensa faz com que não sejam necessárias tantas cartas de amor, mas, por outro lado, se você não cuidar da relação, o amor tende a desaparecer. Eles usam a metáfora da planta que precisa ser regada para continuar viçosa, bonita e viva. Apontam o diálogo como uma ferramenta metodológica para você lidar com o dia a dia. O que não está bem precisa ser conversado. Esse "conversar sobre" é um elemento da contemporaneidade, não deixar as coisas acumularem. Trabalhando os dois universos em conjunção, percebi que não há diferença. É evidente que existem as especificidades, mas, na vivência cotidiana do amor, o fato de serem dois homens, duas mulheres, um homem e uma mulher não é o elemento mais importante. A rotina, a divisão de tarefas e as queixas são idênticas. Beira do Rio – Esses temas "menores" estão ganhando cada vez mais espaço? Telma Amaral – Sim, primeiro você tem que ter a ousadia de dizer que vai estudar esses temas e uma das formas de fazer isso é divulgando-os aos alunos. Por exemplo, ministrei uma disciplina voltada para Gênero, Afetividade e Sexualidade. Usei referências que normalmente são lidas na pós-graduação e, a partir dali, três alunos já me procuraram querendo escrever o Trabalho de Conclusão de Curso sobre esses temas. Ao ousar discutir o assunto e colocálo em pauta, abrimos um campo de debate desde a graduação.

Engenharia da Computação é premiada

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Theatro da Paz (foto), Edifício Manoel Pinto da Silva e o Cinema Olympia estão no roteiro

Meio ambiente

ICB faz mapa Moradores e turistas são público-alvo do Praia Limpa da hanseníase

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Entrevista Telma Amaral fala sobre discursos e práticas amorosas na contemporaneidade. Pág. 12

Coluna da Reitoria

Saúde

Com o Projeto de Extensão, professores e alunos da Faculdade de Oceanografia da UFPA estão desen-

volvendo ações de conscientização socioambiental ao longo da zona costeira paraense. Pág. 3

Alexandre Moraes

Rosyane Rodrigues

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Discursos e práticas amorosas na contemporaneidade

Alexandre Moraes

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O amor nosso de cada dia

(NUMET) da UFPA indicam que cerca de 29% da população paraense hospeda o parasito. Diante desse cenário, o NUMET estabeleceu parceria com o Weizmann Institute, de Israel, para realizar os primeiros testes da vacina contra a amebíase humana. Pág. 7

Além de portadores da doença, também foram examinadas pessoas que compõem a rede de contatos e alunos da rede pública. Pág. 10

Pesquisa

Pró-Reitor Emmanuel Tourinho discute os desafios da pósgraduação na UFPA. Pág. 2

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Opinião Coluna traz artigo da professora Luanna Tomaz sobre Direito Penal e Democracia. Pág. 2

no Estado

Praia de Cotijuba será atendida com ações do Projeto

Pesquisa com ratos indica que o óleo de copaíba tem bons resultados para tratamento de doenças do sistema nervoso central. Pág. 6


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