Beira 117

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ISSN 1982-5994

UFPa • aNo XXViii • N. 117 • FeVereiro e MarÇo, 2014

Cotas garantem a diversidade

Páginas 6 e 7

Saúde

Cuidados especiais Estudo propõe atenção para com os pés de pacientes diabéticos. Páginas 8 e 9 Entrevista

Charles Wagley Samuel Sá conversa sobre o legado do antropólogo norte-americano. Páginas 10 e 11


UniVeRSidAde FedeRAL dO PARÁ JORNAL BEIRA DO RIO cientificoascom@ufpa.br Coordenação: Prof. Luiz Cezar Silva dos Santos Edição: Rosyane Rodrigues (2.386-DRT/PE) Reportagem: Amanda Pinho, Marcus Passos, Valéria Linhares e Vitor Barros (Bolsistas). Glauce Monteiro (1.869-DRT/PA), Hellen Lobato (2.353-DRT/ PA) e Walter Pinto (561-DRT/PA) Fotografia: Alexandre Moraes e Laís Teixeira Fotografia da capa: Laís Teixeira Ilustrações: Benelton Lobato/CMP/Ascom Charges: Walter Pinto Projeto Beira On-Line: Danilo Santos Atualização Beira On-Line: Rafaela André Revisão: Júlia Lopes e Cintia Magalhães Projeto gráfico e diagramação: Rafaela André Marca gráfica: Coordenadoria de Marketing e Propaganda CMP/Ascom Secretaria: Silvana Vilhena Impressão: Gráfica UFPA Tiragem: Mil exemplares

Reitor: Carlos Edilson Maneschy Vice-Reitor: Horácio Schneider Pró-Reitor de Administração: Edson Ortiz de Matos Pró-Reitor de Desenvolvimento e Gestão de Pessoal: João Cauby de Almeida Júnior Pró-Reitora de Ensino de Graduação: Marlene Rodrigues Medeiros Freitas Pró-Reitor de Extensão: Fernando Arthur de Freitas Neves Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação: Emmanuel Zagury Tourinho Pró-Reitora de Planejamento: Raquel Trindade Pró-Reitor de Relações Internacionais: Flávio Augusto Sidrim Nassar Prefeito: Alemar Dias Rodrigues Junior Assessoria de Comunicação Institucional - ASCOM/UFPA Cidade Universitária Prof. José da Silveira Netto Rua Augusto Corrêa n.1 - Prédio da Reitoria - Térreo CEP: 66075-110 - Guamá - Belém - Pará Tel. (91) 3201-8036 www.ufpa.br


Índice

Da foto acima às reportagens que estão nas páginas seguintes, esta edição foi pensada para dar as boas-vindas aos alunos da UFPA, veteranos e calouros. Na página 4, o pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação, Emmanuel Zagury Tourinho, assina artigo no qual discute os resultados alcançados pelos programas de pós-graduação da Universidade. O aluno da UFPA tem 86 opções de mestrados e doutorados para seguir em frente com seus estudos. Esse número deve chegar a 92 ao longo de 2014. Quem ainda duvida dos resultados positivos que a Lei de Cotas pode trazer deve ler a reportagem “Universidade com a cara do Brasil”, assinada por Vitor Barros. O texto mostra a análise das políticas afirmativas feita pela pesquisadora Thaiana Bitti e apresentada no Programa de Pós-Graduação em Direito. Quem foi Charles Wagley e qual a sua contribuição para os estudos antropológicos no Brasil são, entre outras, as perguntas respondidas por Samuel Sá, em entrevista ao jornalista Walter Pinto. A conversa foi tão boa que rendeu conteúdo exclusivo para a edição on-line, na qual o leitor também encontra outros depoimentos sobre o antropólogo norte-americano. Diabetes, obesidade, inovação e maternidade também são temas nesta edição. Sejam muito bem-vindos e boa leitura!

Expansão do Campus de Altamira da UFPA .......................... 18

Rosyane Rodrigues Editora

Imagem com a vista aérea da cidade universitária José da Silveira Netto, em Belém.

Resultados da Avaliação da Pós-Graduação da UFPA ................4 Novos recursos de comunicação ........................................5 Universidades com a cara do Brasil .....................................6 Diabetes exige cuidados especiais ......................................8 O legado de Charles Wagley ........................................... 10 Controle remoto é coisa do passado .................................... 12 O lado avesso da amamentação ...................................... 13 Arte, lazer e educação ................................................. 14 Exercício é o melhor remédio ......................................... 16


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MÁCIO FERREIRA

OPiniãO Resultados da Avaliação da Pós-Graduação da UFPA Desenvolver pesquisa científica e tecnológica de ponta é essencial (ainda que não suficiente) para consolidar uma universidade, daí o esforço empreendido para recrutar docentes que, além do ensino, estão capacitados para a investigação científica. Uma condição que favorece o enraizamento da pesquisa em uma universidade, assim como o seu desenvolvimento com qualidade e impacto crescentes é a existência de programas de pós-graduação, preferencialmente nas mesmas áreas em que oferece a graduação, de modo que se tenha um sistema integrado e eficiente de formação. Montar (e manter) um sistema de pós-graduação de alto nível é tarefa desafiadora para qualquer instituição, em qualquer lugar do mundo, mas especialmente em regiões onde são limitados os recursos humanos para a pesquisa, como é o caso da Amazônia. Em 2013, na comemoração dos quarenta anos de criação do seu primeiro programa de pós-graduação, da área de Geociências, a UFPA alcançou um resultado que atesta, de modo inequívoco, o bom momento de seu sistema de pós-graduação. Na Avaliação Trienal da Capes, dezesseis programas, responsáveis pela oferta de vinte e quatro cursos de mestrado e doutorado, aumentaram sua nota, um deles, Genética e Biologia Molecular, passou à nota 6, que indica padrão internacional de qualidade, a mesma nota mantida pelo Programa de Geologia e Geoquímica. Outros três programas subiram para a nota 5, alcançando a condição de consolidados; três programas que oferecem mestrado e doutorado, que haviam recebido nota 3 no triênio anterior, voltaram à nota 4; e nove programas que oferecem apenas o mestrado subiram da nota 3 para a nota 4, permitindo que apresentem propostas de curso de doutorado. Como a avaliação é comparativa e todo o sistema nacional está evoluindo, o resultado significa não apenas que muitos cursos melhoraram, mas também que melhoraram mais do que seus congêneres no País. O crescimento da pós-graduação da UFPA, ao longo da última década, foi considerável, passando-se de trinta mestrados e doutorados, em 2003, para oitenta e seis, em 2013. No mesmo

período, a Instituição alcançou maior reconhecimento científico dentro e fora do País, com elevado grau de internacionalização de sua produção. Apenas entre a Avaliação Trienal de 2010 e a Avaliação Trienal de 2013, um intervalo de três anos, o número de cursos de pós-graduação da UFPA cresceu 29% (dezenove cursos a mais). No doutorado, esse crescimento foi de 42%, passando de dezenove para vinte e sete cursos, o que novamente atesta que a expansão está acontecendo com qualidade e reconhecimento externo dos programas. Vários pesquisadores da UFPA, docentes e discentes da pós-graduação ganharam, nos últimos anos, prêmios e títulos nacionais e internacionais. Seus artigos circularam em maior número de revistas internacionais e seus projetos de pesquisa passaram a ser desenvolvidos em cooperação com maior número de pesquisadores de outras instituições do Brasil e do exterior. Em vários editais de agências de fomento nacionais, a UFPA também se destacou pelo número de propostas aprovadas. O processo de expansão quantitativa e qualitativa não encerrou. Em 2014, já serão noventa e dois cursos de mestrado e doutorado (trinta e três a mais do que em 2009). Avançaremos, entre outros, na interiorização da pós-graduação, com a abertura de mestrados acadêmicos em Altamira (Biodiversidade e Conservação) e Cametá (Educação e Cultura), e na verticalização, com a abertura do Doutorado em Oncologia e Ciências Médicas, o primeiro, na Amazônia, em sua área. Há ainda vários desafios a serem vencidos e muitas limitações a serem superadas, incluindo um avanço maior dos programas que mantiveram a nota 3 na última avaliação. Por outro lado, não há dúvida de que um trabalho eficiente foi realizado por pesquisadores e gestores ao longo da última década, resultando em ganhos importantes para a UFPA. Estamos mudando de patamar no cenário acadêmico e científico do País, o que também impõe novas exigências e responsabilidades às nossas lideranças científicas, institucionais e regionais. O mais importante do incremento do sistema de pós-graduação da UFPA é que ele responde, de modo mais eficiente, a um conjunto amplo de

demandas internas e externas. Com o fortalecimento dos grupos de pesquisa, o número de discentes de graduação em treinamento com bolsa na iniciação científica quase triplicou nos últimos cinco anos. O número de mestres e doutores titulados cresceu de 53% (no mestrado) a 140% (no doutorado). O volume de recursos captados para a infraestrutura de pesquisa, que serve à graduação e à pós-graduação, cresceu exponencialmente. Entre os desafios que temos pela frente, incluem-se a maior integração entre pós-graduação e graduação, a fim de que a excelência na atividade de pesquisa impacte mais fortemente a formação nos dois níveis; a criação de melhores condições para o acolhimento de pesquisadores (docentes e discentes) estrangeiros, de modo que a cooperação internacional possa se desenvolver amparada por condições institucionais suficientes e eficientes; uma maior integração do sistema com as atividades de inovação e de extensão, garantindo que o conhecimento de ponta produzido na UFPA chegue rapidamente aos setores não acadêmicos da sociedade que podem fazer uso dele para gerar riqueza e renda para a população; e um sistema mais ágil de gestão dos recursos captados. Com o fortalecimento da pós-graduação, portanto, é a cultura da pesquisa que vai se institucionalizando e influenciando positivamente todo o ambiente de formação e de interação da universidade com a sociedade; em outras palavras, vai contribuindo para que a universidade cumpra, com maior eficiência, suas funções sociais. Nesse terreno, trabalha-se com metas de médio e longo prazos e os resultados vão aparecendo gradualmente, raramente com grandes saltos. As conquistas da última década são, nesse contexto, extraordinárias. Já estamos, agora, trabalhando por novos avanços em 2014, que certamente virão e contribuirão para que a UFPA continue sua trajetória de grande sucesso como instituição acadêmica e de pesquisa, e de liderança regional e nacional. Emmanuel Zagury Tourinho - Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação. E-mail: tourinho@ufpa.br


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Inclusão

Novos recursos de comunicação Terapia Ocupacional muda realidade de crianças com deficiência Alexandre Moraes

Marcus Passos

Os recursos de baixo custo são utilizados pelos terapeutas no consultório e, em casa, pelos responsáveis pelo paciente.

A

o longo do seu desenvolvimento, o ser humano criou várias formas de se comunicar e de interagir com seu meio social. Entre elas, estão as possibilidades de comunicação oral, escrita e gestual. A perda ou o não desenvolvimento de uma dessas habilidades acarreta ao indivíduo, criança ou adulto, sérios problemas de convivência e de inserção em ambientes sociais. Atualmente, estima-se que 1.3% da população apresente alguma dificuldade de comunicação oral. E uma das medidas que atenuam essas dificuldades são os recursos e as estratégias criados pela Comunicação Alternativa e Ampliada (CAA). O projeto de extensão “Comunicação Alternativa e Ampliada - possibilidades de comunicação e de inclusão para crianças com deficiência: Uma atuação do Terapeuta Ocupacional”, sob a coordenação da professora e terapeuta ocupacional Mariane Sarmento, da Universidade Federal do Pará (UFPA), dedica-se à criação de várias formas de comunicação para pacientes com problemas comunicacionais. O objetivo é construir re-

cursos da comunicação alternativa e ampliada de baixos custos, possibilitando a inclusão social de crianças que foram impedidas de se comunicar por fatores neurológicos, físicos, emocionais e/ou cognitivos. O programa também está vinculado ao Projeto Pedagógico do curso de Terapia Ocupacional da UFPA. O trabalho teve início em março de 2013, com a seleção e preparação de bolsistas e voluntários envolvidos no projeto. Após a seleção dos pacientes, chega o momento de explicar para o respon-

sável pela criança, normalmente a mãe, a importância do programa e a sua relevância para o processo de comunicação da criança. Durante o atendimento, as mães não saem do consultório. Os terapeutas aproveitam a oportunidade para reforçar as informações sobre a forma correta de utilização dos recursos da CAA. “Se a criança for estimulada no consultório, mas não reproduzir as atividades ao chagar em casa, não haverá progresso na comunicação”, diz Mariane Sarmento.

Avaliação garante atendimento individualizado As crianças atendidas pelo Projeto são selecionadas por meio de parceria com o Hospital Universitário Bettina Ferro de Souza (HUBFS). O perfil utilizado para a seleção é bem amplo, basta que a criança apresente alguma dificuldade de comunicação. Após a seleção, os terapeutas realizam avaliação para identificar qual o melhor recurso a ser utilizado com cada um dos pacientes, pois muitos não tinham contato com os recursos da Comunicação Alternativa e Ampliada antes de entrar no Projeto. Cada recurso da CAA é pensado

especificamente para cada criança e, ao final da sessão, o responsável leva o recurso para casa, onde continuará a estimular o paciente. “Muitas pessoas não conseguem se comunicar e nós viabilizamos isso com a produção de recursos a baixo custo. Esse é o intuito do projeto”, comenta Sally Carol da Silva, aluna de Graduação em Terapia Ocupacional e voluntária no projeto. Segundo Carla Socorro Silva, mãe de uma paciente, o atendimento ajudou bastante o processo de comunicação de sua filha. Atualmente, a equipe é for-

mada por uma coordenadora e oito alunos (um bolsista e sete voluntários), que atendem quatro crianças, duas vezes por semana. Em um levantamento feito para ver o progresso das crianças durante o período em que estão sendo atendidas, foram constatados resultados positivos nas seguintes habilidades: identificação dos familiares e identificação das atividades diárias. “Nosso objetivo maior é este: fazer com que a criança saiba se expressar e saiba mostrar o que quer fazer”, revela a professora Mariane Sarmento.

Perfil Em estudo que analisou a percepção e o nível de conhecimento de mães de crianças com deficiência e de profissionais que atuam diretamente com essas crianças acerca dos recursos da Comunicação Alternativa e Ampliada, verificou-se que 75% das mães entrevistadas desconheciam os recursos da CAA e 66,7% dos profissionais já utilizaram algum desses recursos.


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Direito

Universidades com a cara do Brasil Lei de Cotas iguala oportunidades e combate discriminação Fotos Alexandre Moraes

A UFPA já disponibiliza 50% de suas vagas totais para cotistas.

Meta Alcançada Com a aprovação da lei, todas as universidades e institutos federais devem disponibilizar 50% das vagas para pretos, pardos e indígenas, dentro das cotas sociais, até 2016. A boa notícia é que 34% das universidades e 83% dos institutos já alcançaram a meta.

Vitor Barros

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epois de pouco mais de um ano, a constitucionalidade das políticas afirmativas e a Lei de Cotas – esta última promulgada em 2012 – provaram que este sistema deu certo. Os estudantes pretos, pardos e indígenas apresentaram bom desempenho e, hoje, podem comemorar um direito que, por muito tempo, foi negado a eles: o acesso à educação superior. Apesar de as cotas ainda dividirem opiniões entre especialistas, a iniciativa é fundamentada nos princípios de justiça e igualdade, segundo Thaiana Bitti de Oliveira, mestre em Direito pela Universidade Federal do Pará (UFPA). Na Dissertação “Ações afir-

mativas: a constitucionalidade da política de cotas para negros em universidades brasileiras”, orientada pelo professor Raimundo Wilson Gama Raiol, a pesquisadora buscou analisar a implementação das cotas para negros em universidades brasileiras e como o recente sistema pode promover a igualdade material a partir de ações afirmativas. Para Thaiana Bitti, que estuda o tema desde a graduação, as cotas são formas de minimizar as consequências dos preconceitos que foram historicamente cultivados e ainda estão presentes no Brasil. “As pessoas ainda vivem o mito da democracia racial, isto é, fingem que o preconceito e a discriminação não existem. O preconceito velado, ‘teoricamente’, não incomoda

ninguém, mas, para quem é atingido pela exclusão, esperar anos por uma oportunidade é decisivo para a sua qualidade de vida”, avalia. A pesquisadora analisou as experiências das universidades brasileiras que adotaram o sistema, antes e a partir da criação da Lei de Cotas. Por meio das teorias de justiça e de critérios de implementação de cotas defendidos por autores como John Rawls e Ronald Dworkin, a pesquisadora foi a fundo em sua análise. Buscou nas origens do sistema, desde os primeiros documentos, como o apresentado com apoio do Movimento Negro no Brasil, na Conferência de Durban, na África do Sul, até os mais recentes, com a Lei de Cotas, para fundamentar a eficácia dessa modalidade de ação afirmativa.


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Política de cotas avança contra preconceito Segundo Thaiana Bitti de Oliveira, o julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF), que considerou a política de cotas como constitucional, “foi decisivo no rumo das políticas afirmativas voltadas às minorias, dando oportunidade de acesso igualitário à universidade aos negros de baixa renda”. Para ela, o reconhecimento desse sistema, pela maior corte de justiça do País, representa um avanço na luta contra o racismo velado no País. Ainda de acordo com a pesquisadora, as consequências da posição do STF, do Estatuto da Igualdade Racial e da Lei de Cotas espraiam-se por toda a sociedade, “trata-se de demonstrações de uma postura ativa e concreta do Estado brasileiro, aguardada por séculos e destinada a reduzir os efeitos do racismo, que desumaniza suas vítimas, dando esperança de uma distribuição mais justa dos recursos sociais a todos, independentemente da cor da pele”. A partir do princípio da igualdade, o Estado deve garantir a real isonomia, capaz de dirimir as desigualdades que são construídas ao longo do tempo. Segundo a autora, é preciso possibilitar que todos, sem distinção, estejam em todos os espaços, inclusive, nos espaços acadêmicos. “Eu costumo dizer que a universidade pública tem um papel social muito grande e nela deve estar representada a sociedade brasileira, que é predominantemen-

te negra, 50,7%, segundo o IBGE”, afirma Thaiana Bitti. As universidades ainda têm um percentual baixo de pessoas que se declaram negros e pardos. De acordo com o IBGE, em 2011, o percentual de negros nas universidades era de 35,8%. Antes das cotas, não

se tinha esse reflexo da população brasileira no ambiente acadêmico. Os trabalhos científicos que analisam as cotas demonstram que elas deram certo e ajudam a refletir os ganhos e as falhas que existem no sistema para que ele seja melhor aparelhado.

Números derrubam argumentos contrários As ações afirmativas, principalmente as cotas, são questionadas com base em argumentos pouco sólidos, sem fundamentação científica. Os argumentos contrários, segundo explica Thaiana Bitti, tendem a aumentar o preconceito já existente contra os negros. Um desses argumentos diz que o ingresso de

cotistas na universidade diminuiria a qualidade do ensino superior. Dados do Ministério da Educação (MEC) jogam por terra o argumento. De acordo com o MEC, a diferença entre as notas de cotitas e não cotistas diminuiu significativamente no Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade). Os dados mostram que a diferença

foi de 2,3% em 2011, em comparação a 2008, que foi de 10,6%. No Sistema de Seleção Unificada (Sisu) de 2013, as diferenças entre as notas de corte de cotistas e não cotistas foi mínima. Em Medicina, a diferença foi de 3,3%, enquanto em Engenharia, 4,7%. Em Pedagogia, 3,3%, e nos cursos de Licenciaturas, 4,5%.

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Prevenção

Diabetes exige cuidados especiais Falta de informação favorece incidência de quadro mais grave Ilustrações Benelton Lobato

Pacientes precisam de atendimento contínuo que envolve: alimentação balanceada, atividade física e medicação.

Amanda Pinho

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egundo dados da International Diabetes Federation (IDF) publicados no Atlas da Diabetes, de 2013, a doença atinge 382 milhões de pessoas no mundo inteiro e estima-se que, dessas, metade ainda não tenha sido diagnosticada. A maioria dos casos sem diagnóstico é de diabetes tipo 2, caracterizada pelo aumento descontrolado dos níveis glicêmicos no organismo. Apesar

de ser mais comum em adultos, a doença tem se mostrado cada vez mais frequente entre as crianças e os adolescentes. As causas da diabetes tipo 2 ainda são desconhecidas, mas o Atlas aponta alguns fatores de risco: má alimentação, obesidade, falta de exercício físico, idade avançada e histórico familiar de diabetes. O documento afirma, ainda, que este tipo de diabetes está crescendo em todos os países e calcula que, até

2035, 10% da população mundial será portadora da doença. As complicações ocasionadas pela diabetes podem levar à morte. Em 2013, a doença fez cerca de cinco milhões de vítimas fatais, entre 20 e 79 anos, ao redor do mundo. Segundo o Atlas da Diabetes, esse número compara-se a uma morte a cada seis segundos. Em quarto lugar entre os dez países com maior número de casos da doença (atrás apenas da China, da Índia e dos Estados Unidos), o Brasil possui, atualmente, 12 milhões de diabéticos entre 20 e 79 anos de idade. A previsão para 2035 é que esse número ultrapasse os 19 milhões, entre os brasileiros dessa faixa etária. Em 2013, mais de 100 mil mortes foram atribuídas à doença, também considerando brasileiros entre 20 e 79 anos de idade. Foi visando à conscientização dos pacientes sobre os riscos da doença que a enfermeira Odenilce Vieira Pereira desenvolveu a Pesquisa “Percepções do diabético sobre complicações com os pés e as implicações para o autocuidado”, orientada pela professora Mary Elizabeth de Santana. O trabalho foi a primeira dissertação do Programa de Pós-Graduação de Enfermagem (PPGEnf) da Universidade Federal do Pará (UFPA).

Cuidado com os pés teve atenção especial Atlas Versões em inglês e espanhol do Atlas da Diabetes da IDF disponíveis para download aqui: http:// www.idf.org/ diabetesatlas/ download-book

Com 21 anos de atuação no Hospital Universitário João de Barros Barreto, Odenilce Pereira atualmente trabalha no setor de Oncologia, além de fazer parte da Comissão de Prevenção e Tratamento de Feridas. A motivação para a realização da pesquisa surgiu a partir da observação dos pacientes do hospital. Uma das complicações ocasionadas pela diabetes é a diminuição da sensibilidade dos pés. Tal comprometimento favorece a incidência de traumas que passam despercebidos, os quais, uma vez

não tratados, podem levar até mesmo à amputação do membro. O grande desafio é trabalhar a prevenção dos comprometimentos da diabetes aos pés quando esse paciente já está internado, uma vez que o setor de internação é entendido como curativo e não preventivo. “Sinto-me incomodada em ver que não há um tratamento diferenciado para pacientes que ainda não têm o comprometimento nos pés”, diz a enfermeira. Na tentativa de identificar a compreensão que os diabéticos

tinham sobre a doença, Odenilce Pereira considerou as condições sociais e econômicas desses pacientes. Para tanto, a pesquisadora contou com 30 entrevistados, a partir do seguinte perfil de inclusão: pacientes portadores da diabetes tipo 2, diagnosticados há mais de um ano, internados, maiores de 18 anos, de ambos os sexos. Os entrevistados tinham, em média, 60 anos. Um deles possuía nível superior incompleto, os demais não haviam terminado o ensino fundamental e a maioria tem renda de um salário mínimo.


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Tratamento precisa estimular o autocuidado O estudo comprovou que o nível de escolaridade do paciente influencia no seu aprendizado sobre a doença e que há uma relativa ineficácia na forma como a equipe de enfermagem repassava informações preventivas aos pacientes internados. “Ficou claro que a equipe apresentou um tratamento pouco eficiente de atividades que pudessem estimulá-los ao autocuidado”, afirma Odenilce Pereira, que agora deve apresentar seus resultados à chefia de Enfermagem do hospital, em busca da melhoria desse atendimento.

As condições socioeconômicas descritas pela pesquisa interferem, também, em outros cuidados que os pacientes diabéticos devem ter. A enfermeira explica que “o paciente precisa de um acompanhamento mais contínuo. Ele precisa de atividade física, do controle da alimentação e da medicação”. Outro fator que compromete os cuidados com os pés é a cegueira, outra complicação da diabetes. “Um dos fatores que os impedia de cuidar dos pés eram as dificuldades visuais. Alguns já

eram cegos, outros já tinham a visão embaçada, sentiam tontura”, explica Odenilce. Segundo a pesquisadora, a conscientização precoce sobre a doença e seus possíveis riscos é fundamental ao tratamento adequado. “A ideia é você traçar um plano de assistência que estimule, cada vez mais, esse paciente a ter consciência das consequências da doença. Normalmente, eles só ficam alerta quando conhecem alguém prejudicado ou quando sofrem alguma lesão”, avalia.

Perfil dOs entreVistadOs GÊneRO

eScOLARidAde

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Superior Incompleto

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Médio Completo

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Médio Incompleto

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Fundamental Completo

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Sem renda

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Menor que um salário mínimo

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Um salário mínimo

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Fundamental Incompleto

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Acima de três salários mínimos

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Analfabetos Funcionais

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Entrevista

Samuel Sá

O legado de Charles Wagley Das pesquisas inovadoras à formação de antropólogos brasileiros Alexandre Moraes

Walter Pinto

O

ano de 2013, recentemente encerrado, assinalou o centenário do antropólogo norte-americano Charles Wagley (1913-2013), cujo nome está ligado à Amazônia por uma trajetória marcante, iniciada no final da década de 1930, e estendida por cerca de trinta anos. Entre as muitas contribuições de Wagley para a Antropologia brasileira, destacam-se suas pesquisas inovadoras sobre comunidades rurais, o trabalho desenvolvido na saúde pública e a ação como formador e orientador de jovens antropólogos. Na UFPA, o centenário foi assinalado pela realização do Seminário “Os legados de Charles Wagley na Amazônia”, coordenado pela professora Wilma Leitão. O Jornal Beira do Rio conversou com o professor Samuel Sá, um dos jovens discípulos de Wagley, sobre a trajetória deste notável antropólogo, considerado um dos fundadores da Antropologia brasileira.

Primeiro contato Meu primeiro contato com Charles Wagley ocorreu antes de conhecê-lo pessoalmente. Foi por meio do seu Livro Uma Comunidade Amazônica. Eu era graduando do curso de Ciências Sociais, entre 1964 e 1967. Na faculdade, que funcionava em prédio localizado na Avenida Generalíssimo Deodoro, os professores Orlando Costa, Napoleão Figueiredo e Roberto Santos falavam de Wagley e de seu livro, que encontrei na biblioteca da faculdade. Era um dos volumes da Coleção Brasiliana, depois reeditado pela EDUSP. Imediatamente, ele me encantou, como até hoje me encanta, a tal ponto de sempre relê-lo.

Interdisciplinaridade Durante a graduação, aconteceu, em Belém, no auditório da antiga Faculdade de Filosofia, uma reunião da Associação Brasileira de Antropologia, então presidida pelo antropólogo Eduardo Galvão. Este evento trouxe a novidade de juntar alguns pesquisadores

brasileiros e estrangeiros na Amazônia. Lá eu tive o prazer de ver o Wagley, o Galvão, antropólogos, linguistas, biólogos discutindo, numa seção que intitularam Biota Amazônica, não somente a floresta em si, mas também ela em relação ao ser humano, às tradições, às interpretações. Foi, então, que presenciei algo que muito me

impressionou: a experiência de uma discussão interdisciplinar entusiasmada, cheia de vida e cordial. A questão da interdisciplinaridade, naquele momento, era algo totalmente novo. A proposta era não restringir os estudos de populações humanas às Ciências Humanas, mas buscar as contribuições de outras ciências, como a Biologia.


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Desenvolvimento Wagley era um leitor sensível da Amazônia. Ele havia escutado o famoso discurso do rio Amazonas, proferido por Getúlio Vargas, na fase inicial da SPVEA. O desenvolvimento era uma constante nos discursos do governo e dos economistas. Penso que a grande contribuição de Wagley ao debate foi ter dito em seu livro que o desenvolvimento era possível, desde que formulado com relação à realidade dos nativos. Para tanto, era necessário chegar perto deles, de seus locais, de suas experiências. Só assim seria possível ver como vivem e como utilizam os seus próprios recursos recombináveis com novas possibilidades para gerir suas vidas, desafiadas à nova ênfase entre a realidade local e a nação. O trabalho do antropólogo é este. Ele não trabalha para o índio, para o caboclo, mas com o índio, com o caboclo. Então, precisa conhecer o que o índio e o caboclo sabem e fazem. Não é à toa que ambos vivem, há tanto tempo, na Amazônia. Eles conhecem o meio ambiente em que vivem, sabem onde estão os recursos necessários à sobrevivência. Tais recursos, que “as gentes” das cidades nem sempre sabem que existem, permitem olhar a Amazônia não como um inferno verde ou um paraíso, mas como um lugar em que o ser humano pode se situar, dotada de uma paisagem natural intocada e de outra retocada pelos seres humanos, que fazem cidades, constroem embarcações, retiram alimentos, extraem madeiras, engendram diversas possibilidades de lidar com a fauna e a flora.

O determinismo biológico Antes de Wagley chegar à Amazônia, havia teorias da Geografia Humana que admitiam o desenvolvimento apenas nos países de clima temperado, por possuírem as quatro estações bem definidas, nos quais

as mudanças climáticas não impedem as pessoas de trabalhar continuamente. Nos países tropicais, com apenas duas estações, as chuvas e o forte calor impossibilitariam o trabalho contínuo. Corroborando com a tese, os geógrafos apontavam o mapa e diziam que, nas zonas temperadas, ficavam os países mais adiantados, enquanto, nas zonas tropicais, ficavam os subdesenvolvidos. O desenvolvimento era, então, uma dependência do clima. Assim, era o determinismo biológico. Wagley nunca aceitou tais pressupostos. Para ele, a experiência de índios, caboclos e migrantes na Amazônia era uma prova inequívoca da inaplicabilidade da tese determinista. Afinal, morando há séculos na região, como, então, os nativos não morriam de sede e fome? Como enfrentavam os perigos? Os defensores do determinismo, que é outra forma de racismo, estavam tentando dizer: a Amazônia não tem jeito. Para Wagley, a experiência do nativo na região, engendrando possibilidades de sobrevivência, era uma prova inequívoca de erro daquela interpretação.

Comunidades rurais Recentemente, por ocasião do centenário de Wagley, seu Livro Uma Comunidade Amazônica ganhou nova edição em inglês. Ela traz introduções escritas por Konrad kottak e por Richard Pace e tem a vantagem de fornecer novos dados sobre o antropólogo. Em conversa com colegas americanos, comentei que livros de Antropologia, quando tratam de teoria, não fazem nenhuma referência a Wagley. Pois bem, nesta edição do centenário, o Dr. Kotttak faz um reparo importante: Wagley não se deteve na teoria convencional, mas, sim, numa teoria que afetou outros antropólogos. Até um dado momento, conhecia-se o antropólogo como o profissional que trabalhava no domínio do

exótico – tribos indígenas e esquimós, por exemplo. Mas, a partir do processo mundial de descolonização, o campo de estudo do exótico diminuiu. Wagley percebeu isso. Claro, não se vai deixar de estudar o índio, mas ele, que já havia estudado uma população rural na Guatemala, percebeu que era possível usar o arcabouço da Antropologia para estudar comunidades rurais, a partir de um conceito de comunidade que vê o homem ligado aos companheiros de experiência, sendo capaz de sobreviver em grupos menores, não tão pequenos como uma tribo, nem tão grandes como uma cidade. Essa foi uma mudança muito significativa de foco. Não era mais a teoria do determinismo geográfico, nem uma teoria convencional. Era a teoria que dizia que o lugar do antropólogo é também o meio rural ou mesmo a cidade. Wagley muito contribuiu para a crítica do exótico.

Saúde na Amazônia Mário de Andrade, em Macunaíma, já tinha chamado a atenção para o fato de a cidade ainda não acolher esse não citadino. Ele vem para a cidade, mas ela não é a sua casa. Sua casa é no meio rural, onde tem terra, água, ar, alimentos, peixes, árvores domesticadas ou em paisagens naturais, animais com quem convive. É possível manter o caboclo em seu habitat. Certamente, ele sobreviverá. Mas há muitas parcelas da civilização que podem ser metabolizadas por ele. E aí entra outra contribuição do Wagley: a atuação do Serviço Especial de Saúde Pública. O SESP era resultado de um acordo entre o Brasil e os Estados Unidos no esforço de guerra. Basicamente, os americanos estavam interessados em alguns minerais e na borracha, por isso, estimularam a migração de nordestinos à Amazônia para a chamada

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Batalha da Borracha. O SESP almejou ser um serviço de saúde modelar para a Amazônia. Por isso, Wagley estudou como era a vida numa comunidade amazônica, em Gurupá (Itá). Ele foi um dos administradores do SESP e ajudou a “tirar de letra” essa ideia de que o antropólogo pode contribuir em uma área tão diferente como a saúde. Foi o SESP que, pela primeira vez, tentou uma forma de trabalho mais intenso na Amazônia ao introduzir o tempo integral e a dedicação exclusiva, assim como a possibilidade de médicos da Amazônia irem se especializar em saúde pública nos Estados Unidos. Havia a preocupação de preparar gente nativa para o trabalho de saúde e saneamento. Então, foram enviados para estudar não somente profissionais de saúde, mas também engenheiros e educadores. A busca pela formação de um serviço modelar passava também pela garantia de bons salários. Já naquela época, o SESP tinha uma frota de barcos que transportava material e gente para atendimento das comunidades. Havia as visitadoras, enfermeiras que atendiam os doentes em suas casas, mas também viam como estava a vida dos sadios. O serviço de saúde ficou mais dinâmico depois que os sanitaristas descobriram que muitas doenças podiam ser enfrentadas não só com remédios, mas também com a utilização de vacinas. Era a saúde pública preventiva. Charles Wagley gastou um pouco dos seus neurônios ajudando a inserir essa nova visão de saúde pública na Amazônia, que não estava presa à vitrine de remédios da farmácia, mas muito mais ligada à relação das pessoas com a água, com a limpeza, com a possibilidade de se alimentar e de viver bem, aproveitando os recursos que o ambiente oferece. Leia mais: http://www.jornalbeiradorio.ufpa.br/novo/


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Inovação

Controle remoto é coisa do passado Iluminação e clima do ambiente, agora, são controlados pelo tablet Acervo do Projeto

Thiêgo Nunes, sócio fundador da Syanz, faz apresentação do produto de automação residencial na Casa Cor.

Hellen Lobato

“D

emonstrar a tendência e o conceito dos produtos desenvolvidos pela Syanz, em um ambiente que reúne os principais arquitetos, decoradores, paisagistas e construtoras da Região Norte, como a Casa Cor, foi um grande desafio”, definiu Thiêgo Nunes, um dos sócios fundadores da empresa. A Syanz foi destaque no espaço em homenagem ao arquiteto Paulo Chaves, por apresentar aos

visitantes da feira várias inovações tecnológicas. Durante o evento, a empresa fez o lançamento dos seus produtos de automação residencial. No espaço, por meio de um tablet, pôde-se controlar as luzes do ambiente, abrir os armários, além de deixar fosco ou transparente o vidro que dividia os ambientes. Segundo o engenheiro Humberto Leão, um dos idealizadores do espaço da Syanz na feira, a tecnologia touch screen deve chegar às tomadas e aos interruptores, “a proposta é que essa nova tecnologia substitua a

tomada convencional por uma tela touch screen, pela qual a pessoa irá controlar iluminação, climatização, música e outras utilidades”. A empresa foi criada em 2010, quando Humberto Leão e Thiêgo Nunes eram mestrandos em Engenharia Elétrica. Inicialmente, conhecida como Neoradix, a empresa atuava em três segmentos: automação residencial e industrial, mais especificamente para agroindústria, e monitoramento ambiental inteligente. O enfoque principal era o desenvolvimento de serviços e tecnologias aplicadas às particularidades biológicas e sociais da Amazônia, com o objetivo de desenvolver soluções de alto valor agregado na região. Ano passado, a empresa reformulou sua identidade visual, passando a ser conhecida como Syanz. Além de ter sido uma alternativa para evitar problemas legais no futuro, já que há outra empresa com marca registrada semelhante à da Neoradix, a equipe buscava por uma marca que transmitisse melhor o conceito de qualidade e inovação em soluções de automação. Assim, nasceu a Syanz. Para reforçar esse time, ainda em 2013, entraram mais dois sócios, João Loureiro e Roberto Sato, que atuam nas áreas de Business e P&D, respectivamente.

Syanz já ganhou prêmios regionais e nacionais

Leia mais http://www. jornalbeiradorio. ufpa.br/novo/

A Syanz está instalada na Incubadora PIEBT/Universitec, que, além de disponibilizar o espaço a custo baixo de mercado, também apoia a gestão empresarial do negócio. Segundo a equipe, o PIEBT tem papel fundamental para o desenvolvimento da empresa, ajudando na gestão, na contabilidade, no planejamento estratégico e apoiando a participação da empresa em eventos importantes para o negócio. Com os custos iniciais reduzidos, os novos empreendedores

podem investir mais recursos no desenvolvimento de seus produtos. Em 2010, a Syanz foi finalista no Desafio Brasil, competição nacional de start-ups de base tecnológica, que garante acesso às agências de fomento e aos investidores, além de ter sido premiada na categoria Empresas para a Amazônia, no Prêmio Samuel Benchimol e Banco da Amazônia de Empreendedorismo Consciente. Já em 2011, a empresa apresentou proposta dentro do Fó-

rum de Investidores, realizado na Feira Internacional da Amazônia, promovida pela Superintendência da Zona Franca de Manaus. Ano passado, foi semifinalista regional do Desafio Brasil. Atualmente, o objetivo é captar recursos financeiros e dar início à produção e distribuição do seu primeiro produto de automação residencial. O próximo passo é entrar no mercado com algumas parcerias estratégicas, frutos da participação na Casa Cor.


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Saúde

O lado avesso da amamentação Falta de informação é a principal causa do adoecimento de mães Mácio Ferreira

Valéria Linhares e Glauce Monteiro

“O manejo adequado na amamentação é imprescindível, pois, quando os problemas da mama não são tratados adequadamente, pode levar ao desmame precoce. A maioria dos problemas pode ser prevenido com o esvaziamento adequado das mamas. É um processo aprendido, as mulheres mais novas aprendem com as mães e as avós”, explica a pesquisadora. O projeto conta com a participação das pesquisadoras Mara Lucina Amaral e Cynara Gonçalves, além da estudante de Nutrição Lívia Dickson. Durante três meses, elas entrevistaram dezenas de mães atendidas no Hospital e descobriram que os problemas com a lactação são mais comuns do que se imagina. “Neste período, que é pequeno, encontramos 26 mães que foram internadas por conta de algum tipo de problema com a amamentação. Esse é um número alto, pois não precisava chegar a esse quadro”, conta Luisa Carneiro.

A

mamentar é um momento único entre mãe e filho. O leite materno fortalece o sistema imunológico da criança e também protege a mulher contra vários tipos de doenças. Mas o processo, apesar de natural, precisa de atenção e cuidados. Na Santa Casa de Misericórdia, em Belém, hospital de referência no tratamento de recém-nascidos e suas mães, todos os meses, várias mulheres buscam orientação. Em razão dos problemas relacionados às dificuldades durante a amamentação, algumas mulheres desenvolvem quadros mais graves, incluindo internações e cirurgias. Em contato com essas pacientes, a nutricionista da Faculdade de Nutrição da Universidade Federal do Pará (UFPA), Luisa Margareth Araújo Carneiro, criou o Projeto de pesquisa “Problemas de Mama em uma Maternidade de Referência de Belém”.

Desmame precoce coloca a criança em risco Entre as principais dificuldades encontradas, está a mastite, ou seja, a inflamação das glândulas mamárias que trabalham para a produção do leite materno; e o ingurgitamento mamário, quando o bebê não consome completamente o leite armazenado na mama, o órgão produz mais leite e causa “vazamento” do líquido. O que, por sua vez, traz dor à mãe e provoca o “endurecimento dos seios”. “Cerca de 50% das entrevistadas sofriam com mastites e, pelo menos, 45% delas percebiam o ingurgitamento

mamário. Quando há ingurgitamento, o seio da mãe empedra, o que poderia ser resolvido com massagem e retirada do leite. Mas, se o problema não for cuidado em até dois dias, começa o processo inflamatório, a mãe pode ter febre e precisará de antibióticos. Se nada for feito, ela precisará ser internada e até passar por uma cirurgia. Com esse quadro grave, ela fica dias ou semanas ocupando um leito que poderia ser destinado a outras mulheres em condições de urgência”, avalia Luisa Carneiro. Para a pesquisadora, a

mãe que sente dor interrompe a amamentação, e desmame precoce coloca a criança em risco, “um bebê amamentado terá menos cólica, menos diarreia e terá um sistema imunológico mais forte. Também estará mais protegido contra diabetes, obesidade e terá boa dentição. Além disso, o processo fortalece o vínculo afetivo entre mãe e filho”. De acordo com Luisa Carneiro, após um período de interrupção, para que a mãe recupere a saúde, o bebê pode voltar a ser amamentado. “Se isso não acontecer naturalmen-

te, é preciso procurar orientação médica”, recomenda a pesquisadora da UFPA. O Pará é pioneiro no cuidado com a amamentação graças ao “ProAme”, Programa de Incentivo à Amamentação Exclusiva, fundado há 15 anos e instalado em mais de 90% dos municípios do Estado. “Porém ainda precisamos intensificar a qualidade deste trabalho, capacitando profissionais que possam atuar na prevenção durante o pré-natal e no pós-parto. A prevenção é a melhor medida em todas as áreas da saúde, avalia.


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Lacor

Arte, lazer e educação Grupo comemora 10 anos de pesquisas sobre a cultura do corpo FOTOS LAÍS TEIxEIRA

Brinquedoteca é um dos espaços de aprendizagem criados pelo Projeto.

Amanda Pinho

O

nome completo é Grupo de Estudos e Pesquisas em Cultura do Corpo, Educação, Arte e Lazer, mas também pode chamar de LACOR. Criado em 2003, o grupo vem promovendo diversas ações, não só dentro da Universidade Federal do Pará (UFPA), mas também fora, oferecendo várias atividades à população. A criação do LACOR, hoje grupo de pesquisa filiado à Facul-

dade de Educação Física, é anterior até mesmo à criação do curso na UFPA, instituído somente em 2006. O professor Paulo César de Lima, criador e coordenador do projeto, conta um pouco dessa história. “Em 2003, nós tínhamos um Departamento de Educação Física, que funcionava dentro do antigo Centro de Educação. Os professores de Educação Física estavam se qualificando, em nível de mestrado, e começaram a apurar o olhar sobre a dimensão do corpo a partir

da relação com a cultura. Veio daí o desejo de nós constituirmos um grupo de estudos sobre as práticas corporais mais especificamente. Na época, a Educação Física lidava com o jogo, a ginástica, a dança, o esporte e as lutas”. Era criado, então, o Laboratório de Linguagem Corporal, nome que originou a sigla que perdura até hoje e foi mantida, segundo o professor, porque “já tinha uma ressonância mais significativa, as pessoas já se referiam ao LACOR sabendo o que era”, afirma Paulo. A mudança de Projeto de Extensão a Grupo de Pesquisa deu-se em 2009, a partir de uma proposta do Ministério do Esporte. O convite veio por ocasião da implementação de um projeto de pesquisa maior, que analisava o esporte e o lazer no Pará e na Região Norte do Brasil, em parceria com os Estados do Pará, do Amazonas e de Rondônia, sob a coordenação do Projeto LACOR. A pesquisa resultou em um livro publicado online, intitulado Diagnóstico do Esporte e Lazer na Região Norte Brasileira – O Existente e o Necessário, cujo download é gratuito.

Os PrOJetOs e seus resultadOs

leia Mais Acesse o Livro

Diagnóstico do Esporte e Lazer na Região Norte Brasileira - O Existente e o Necessário no link http://goo. gl/JvCTlQ

Diálogos sobre Cultura Corporal e Educação: A Série Diálogos é um projeto de extensão que tem como objetivo divulgar o conhecimento adquirido durante as pesquisas do grupo por meio de palestras, oficinas e eventos. Segundo o professor Paulo César, “é importante não apenas produzir conhecimento, mas também ter uma política de difusão dele”. Entre os trabalhos desenvolvidos pela Série Diálogos, encontra-se a oficina permanente de Dança de Salão para a terceira idade, promovida em parceria com o Programa Universidade na Terceira Idade (Uniterci), que busca estimular a memória trazida pelo corpo em

ritmos musicais contemporâneos. Rullien Polizeli, aluno do segundo semestre de Educação Física e bolsista do programa, descreve o trabalho com empolgação: “Eu estou amando trabalhar com a terceira idade, eles têm uma energia que os adolescentes não têm! É um projeto incrível!”. Atividades físicas no Campus: Dois projetos em fase de implantação envolvem a prática de atividade física orientada dentro do Campus da UFPA. O primeiro deles, coordenado pelo professor Flávius Cunha, envolve atividades aquáticas. O segundo, coordenado pela professora Mônica Rezende, é voltado à orientação da

caminhada e da corrida de pessoas que se exercitam dentro do campus. O projeto deve contar, ainda, com a disponibilização de bicicletas, destinadas à atividade física orientada. Os dois projetos são abertos à comunidade. Brinquedoteca: Estruturada durante as atividades do Projeto “Lugar do Brincar”, atualmente, a brinquedoteca está “à disposição dos professores que queiram utilizá-la para promover ações pedagógicas”, explica o professor Paulo César, e lembra, também, que se trata de um espaço aberto a toda a comunidade acadêmica.


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Ações geram interesse da comunidade Quando perguntado sobre os fatores que contribuíram à longevidade do Projeto LACOR, já em seu décimo ano de atividades, o professor Paulo César cita duas possíveis razões: o forte apelo da temática do grupo perante a comunidade e o envolvimento de seus bolsistas e pesquisadores com os trabalhos desenvolvidos. “Em primeiro lugar, o fato de nós militarmos dentro do campo das práticas corporais. Essa temática tem um apelo social muito grande. A gente vive uma cultura que é evidenciada e materializada nas práticas dos jogos e de dança”, comenta o professor. Ele afirma, ainda, que, apesar da carência de políticas públicas voltadas à qualificação dessas ações, “a própria comunidade vive o jogo e a cultura popular por meio do corpo”. Assim, os projetos destinados à comunidade costumam ter respostas sig-

nificativas, sendo frequentemente procurados. “Isso é um dado significativo que contribuiu para essa longevidade. O outro é a procura dos alunos para fazerem trabalhos de conclusão de curso nessa área, não só alunos do curso da Educação Física, mas também alunos dos cursos de Letras, Pedagogia e Artes. Além de os professores envolvidos terem uma grande entrega a esse projeto. Tudo isso vem colaborando para que a gente venha trabalhando ao longo desse tempo”, comemora o coordenador do projeto. Atualmente, o LACOR encontra-se sob a coordenação do professor Paulo César, e conta com a colaboração de mais sete professores, são eles: Fátima Moreira, Lucília Matos, Mônica Rezende, Conceição Santos, Gabriel Paes, Flavius Cunha e Patrícia Pinheiro. A composição do grupo já

apresentou certa rotatividade durante esses dez anos de projeto, mas o professor Paulo César afirma que os pesquisadores se unem a partir de interesses temáticos semelhantes e, entre as afinidades, encontra-se “o interesse pela discussão da cultura do corpo dentro de três eixos: corpo e educação; corpo e arte e corpo e lazer”. Para o coordenador do projeto, a criação do curso de Educação Física pode ser entendida como um reconhecimento do valor educativo das práticas corporais. “O corpo veicula valores, pensamentos, normas, comportamentos, sentimentos e preconceitos. Devemos entender o corpo como um espaço educativo, para além das teorias e dos livros. Essa é uma mudança que percebemos no discurso dos professores, e nós, de alguma maneira, tivemos uma parcela de contribuição”.

LACOR em 10 anos - 17 mil pessoas atendidas - 103 trabalhos publicados - 90 TCCs defendidos - 60 bolsistas beneficados


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Extensão

Exercício é o melhor remédio Projeto Liga da Obesidade atende comunidade em Castanhal Fotos Acervo do Pesquisador

As aulas de ginástica são ministradas por alunos do curso de Graduação em Educação Física.

Vitor Barros

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excesso de peso mata mais do que a subnutrição no mundo. Uma pesquisa feita em 187 países pela Global Burden of Disease (“Peso Global das Doenças”), entre os anos de 1990 e 2010, constatou que, embora a expectativa de vida tenha aumentado em todo o planeta, a obesidade está em sexto lugar no ranking de doenças que tiram anos de vida saudável da humanidade. A subnutrição encontra-se na oitava posição. O Brasil tem 51% da sua população acima de 18 anos com sobrepeso. O resultado da Pesquisa “Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico 2012” foi publicado pelo Ministério da Saúde em 2013. Belém não fica em boa posição

nessa lista. Na capital paraense, o resultado aproxima-se da média nacional, isto é, 50,4% das pessoas acima de 18 anos têm excesso de peso e 16,1% são obesos. “Embora esses dados sejam referentes a Belém, a situação repete-se em todo o Estado”, afirma a professora Juciléia Barbosa, da Faculdade de Educação Física da Universidade Federal do Pará (UFPA), no Campus Castanhal. A professora coordena o Projeto de pesquisa “Liga da Obesidade”, que observa os efeitos dos exercícios físicos aeróbicos para a melhoria da qualidade de vida de moradores da cidade de Castanhal que apresentam excesso de peso ou obesidade. A pesquisa teve início em 2012, como um projeto piloto, e passou a contar com um bolsista de iniciação científica a partir de 2013. “O que me levou a criar um

projeto como este foi observar o crescimento da obesidade e o fato de esta doença ser considerada um problema de saúde pública global”, explica Juciléia Barbosa. Em 2012, a iniciativa atendeu pouco mais de 60 pessoas e, no ano seguinte, esse número chegou a 79. A obesidade é uma doença caracterizada pelo acúmulo de gordura no corpo, apontada pelo Índice de Massa Corpórea (IMC), cujos fatores de risco incluem a propensão ao desenvolvimento de doenças cardiovasculares, hipertensão e diabetes. Essas doenças são as principais responsáveis por morte no mundo e suas causas são multifatoriais, envolvem desde o estilo de vida até fatores genéticos. O seu tratamento inclui a administração de medicamentos, a mudança de hábitos alimentares e a prática de exercícios físicos.


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Público feminino ainda é o mais interessado Antes e depois dos exercícios, as participantes hipertensas têm a pressão arterial aferida.

O Projeto “Liga da Obesidade” faz a seleção dos participantes a partir do questionário de anamnese, usado para saber se, além da obesidade, a pessoa apresenta doenças crônicas, como diabetes e hipertensão. Também é fundamental conhecer o histórico de doenças familiares e confirmar se o interessado está sendo acompanhado por um médico (fator importante para participar deste projeto). Além disso, é feita a avaliação física dos participantes. Uma vez selecionadas, as pessoas realizam aulas de ginástica, ministrada pelos alunos da Faculdade de Educação Física, orientados pela professora Juciléia Barbosa. As aulas

ocorrem três vezes por semana, durante uma hora no campus da UFPA, em Castanhal. Os exercícios físicos cumprem uma carga de intensidade, que vai de baixa a moderada, própria para pessoas que se encontram em condição de obesidade. Os dados divulgados pelo Ministério da Saúde mostram que, entre os homens entrevistados, 57,2% têm excesso de peso e 17 % são obesos. Já entre as mulheres, 44,6% estão acima do peso e 15,3% apresentam obesidade. Apesar de o projeto ser aberto a homens e mulheres, a procura tem sido do público feminino. Antes e depois dos exercícios, nas mulheres hipertensas, a pressão

arterial é aferida e, uma vez por semana, é medido o nível de glicemia das participantes diabéticas. “Apesar de as participantes serem acompanhadas por seus médicos e serem medicadas, fazemos a aferição por motivos de segurança”, destaca a coordenadora. A pesquisa constatou, por meio das medições feitas, que os exercícios físicos diminuem os níveis pressóricos das voluntárias. A professora explica que a atividade física causa hipotensão. Isso quer dizer que pacientes com hipertensão diminuem os níveis de pressão arterial após o exercício, quando feito corretamente e sob orientação profissional.

Estudo aponta para resultados significativos Um estudo de caso realizado pelo Grupo de Pesquisa confirmou os benefícios da prática de atividade física. A senhora era obesa e hipertensa. Inicialmente, apresentava 75 quilos, três meses depois, ela estava com 69 quilos. Ela não apenas reduziu o peso, como também os valores da pressão arterial e o IMC. “A partici-

pante passou da condição de obesidade para a condição de sobrepeso”, comemora a pesquisadora. O projeto tem uma meta ambiciosa. Ao longo do prazo, quer diminuir o número de internações de pessoas com doenças decorrentes da obesidade. No Brasil, anualmente, as doenças relacionadas à obesidade

custam ao governo R$ 488 milhões, segundo dados do Ministério da Saúde. Só os pacientes com obesidade mórbida custam cerca de 60 vezes mais que uma pessoa obesa sem gravidade. Juciléia Barbosa afirma que, seguindo as orientações médicas e adotando hábitos saudáveis, pode haver a redução do medicamento.

Cuidados - Consultar o médico regularmente. - Praticar exercícios físicos. - Fazer dietas balanceadas após consultar um nutricionista. - Ter o cuidado com remédios que prometem emagrecimento rápido e fácil. - Lembrar que não existe fórmula mágica para emagrecer. - Manter hábitos de vida saudável é a opção mais segura.


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Fotos Alexandre Moraes

Opinião Expansão do Campus de Altamira da UFPA

H

á pouco mais de três anos, em meados de 2011, professores, estudantes e técnicos do Campus Universitário de Altamira da Universidade Federal do Pará (UFPA) aprovavam o Plano de Expansão do Campus, o qual contém ações de investimento para criação de 14 novos cursos de graduação, entre eles: Administração, Ciências Sociais, Direito, Engenharia Civil e Elétrica, Medicina e Enfermagem; melhoria acentuada dos oito cursos de graduação então existentes; quatro propostas de programas de mestrado (Letras – Linguística e Literatura, Agronomia, Educação e Ciências Biológicas); assim como a construção de laboratórios experimentais e prédios; abertura de concursos públicos para 262 cargos de professores e técnicos e aquisição de equipamentos. No âmbito financeiro, o plano foi orçado em R$ 64 milhões. No plano político-acadêmico, foi definido que possibilitará a consolidação do Campus na região do Xingu, para atendimento efetivo aos 11 municípios que têm Altamira como cidade-polo, oferecendo qualificação universitária de qualidade e desenvolvendo pesquisas e práticas extensionistas de ampla repercussão e apropriação social. Certamente, isso não ocorre por acaso. No contexto da construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte (UHE Belo Monte), do asfaltamento da BR-230 (Rodovia Transamazônica), da futura instalação do linhão da UHE Belo Monte e dos projetos de mineração em instalação ou estudo, o cenário dos problemas socioambientais (sobretudo o aumento populacional e os impactos das políticas de desenvolvimento) e das oportunidades de investimento (como o Plano Básico Ambiental/PBA, o Plano de Desenvolvimento Regional Sustentável do Xingu/PDRSX e os oriundos do governo federal, de maneira geral) define uma conjuntura de expansão da demanda pela qualificação universitária e, ao mesmo tempo, de pressão sobre a atuação da Universidade nos jogos de poder que envolvem a disputa pelas possibilidades de desenvolvimento regional.

O Plano de Expansão torna-se, nesta configuração, condição para o fortalecimento institucional aliado à ampliação das formas de intervenção da Universidade no cenário atual e futuro, cujas consequências são cruciais para os rumos da Instituição na região, sobretudo tendo em vista os debates sobre a ligação entre o Plano de Expansão e uma provável transformação do Campus Universitário em universidade independente, almejada por muitos, mas ainda pouco discutida no meio acadêmico. No entanto o que garantirá o sucesso deste plano é menos uma questão técnico-institucional, pois as propostas já estão consolidadas em seus aspectos estruturais básicos, e mais uma situação de pressão política e legitimidade social. Dizendo de outro modo, é necessário popularizar o Plano, colocá-lo em debate com a sociedade e as instituições da região para que se configure não com a cara da comunidade acadêmica, mas com os sonhos e os anseios da população da região, isso trará a legitimidade social, igual ocorreu na audiência pública “Plano de Expansão da UFPA”, em 25 de outubro de 2012, realizada no auditório da Casa da Cultura, em Altamira. Por outro lado, é preciso sinalizar que, apesar de todos os investimentos públicos e privados que a região possa adquirir no momento, o responsável prioritário dos

investimentos do Plano é, e sempre será, o Ministério da Educação (MEC), a quem cabe o papel-dever de garantir os subsídios financeiros para que as propostas saiam do papel, ainda que, não podemos negar, alguns dos pontos elencados possam ser custeados por outras vias, a exemplo do Curso de Medicina, que obteve verba de dois milhões de reais, via PDRSX, para o custeio do prédio que garantirá a instalação inicial, prevista para ocorrer em 2014. Num segundo momento, essa pressão reverteu-se numa articulação política entre as universidades públicas para fortalecimento do pleito pela educação universitária pública, gratuita e de qualidade na região do Xingu. Nesse sentido, a realização do I Fórum da Graduação da Transamazônica e do Xingu, ocorrido em agosto de 2013, com a participação de docentes, técnicos e discentes da UFPA, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará (IFPA) e da Universidade Estadual do Pará (UEPA), sinalizou que os desafios de melhoria das instituições universitárias perpassam pela aglutinação das pautas comuns e pela atuação em conjunto, para lograr, dos responsáveis, eficácia e celeridade no atendimento às demandas traçadas, entre as quais o do Plano de Expansão da UFPA. Sem dúvida, a educação universitária como um todo será cada vez mais exigida a apresentar estudos que consigam qualificar o debate em torno dos problemas socioambientais existentes na região do Xingu e a qualificar profissionais com uma atuação técnica, ética e socialmente coerente com os dilemas e os desafios traçados, mas a UFPA larga na frente ao conseguir cristalizar e transformar as demandas sociais em propostas objetivas de melhoria institucional. Resta, agora, fazer com que a “universidade ideal no papel” constitua-se, de fato, na universidade que a população xinguana quer e à qual tem direito. Assis da Costa Oliveira - Professor da Faculdade de Etnodesenvolvimento Campus Altamira. E-mail: assisdco@gmail.com


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A História na Charge

Em Tempo Ipixuna

Ipixuna II

Intercâmbio

Foram retomados os trabalhos do cadastramento físico e territorial do bairro Vila Nova, em Ipixuna, pela Comissão Fundiária da UFPA, juntamente com o GT Municipal do Projeto Moradia Cidadã de Ipixuna do Pará. Iniciada em 2013, a regularização já validou 35 quadras do bairro.

Uma vez finalizada, a regularização fundiária deve beneficiar mais de cinco mil pessoas, residentes de 1.364 lotes, que ocupam mais de 73 hectares na cidade. Falta, ainda, o cadastramento de 18 quadras do bairro para a consolidação do levantamento.

Em 2013, cerca de 237 alunos da UFPA participaram de mobilidade acadêmica internacional. Para 2014, a previsão é que a Universidade ofereça a oportunidade de intercâmbio por meio dos Programas Erasmus Mundus, Capes-FIPSE, Santander Universidades, além do Ciência sem Fronteiras.

Intercâmbio II

Prevenção

Mestrado

A Universidade Federal do Pará assinou, em janeiro, um memorando de entendimento com a Universidade de Salford, na Inglaterra, durante a visita do vice-reitor, Horácio Schneider, e da diretora de Pós-Graduação da Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (Propesp), Maria Iracilda Sampaio, à universidade inglesa.

O Hospital Universitário Bettina Ferro de Souza (HUBFS) está com a agenda trimestral aberta para a realização do Teste do Olhinho. Obrigatório desde 2011, o teste deve ser realizado nos primeiros dias de vida do bebê e possibilita o diagnóstico precoce de diversas patologias oculares, como a catarata congênita.

A criação do Mestrado Profissional em Recursos Hídricos na Universidade Federal do Pará (UFPA) foi aprovada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). O programa de pósgraduação ainda está em fase de estruturação e deve iniciar suas atividades acadêmicas no terceiro período letivo de 2014.



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