issn 1982-5994
UFPA • Ano XXIX • n. 123 Fevereiro e Março, 2015
anos
Mestre-sala e porta-bandeira: a dança autoral que encanta a avenida.
Páginas 14 e 15
Nesta edição • Instagram • Mercados públicos • Massimo Canevacci
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Universidade Federal do Pará JORNAL BEIRA DO RIO cientificoascom@ufpa.br Direção: Prof. Luiz Cezar Silva dos Santos Edição: Rosyane Rodrigues (2.386-DRT/PE) Reportagem: Brenda Rachit, Juliana Theodoro, Marcus Passos e Rafael Rocha (Bolsistas), ; Walter Pinto (561-DRT/PA) Fotografia: Adolfo Lemos, Alexandre Moraes e Mácio Ferreira Fotografia da capa: Alexandre Moraes Ilustrações: Newton Corrêa/CMP/Ascom Charges: Walter Pinto Projeto Beira On-line: Danilo Santos Atualização Beira On-Line: Rafaela André Revisão: Júlia Lopes e Juliana Couto Projeto gráfico e diagramação: Rafaela André Marca gráfica: Coordenadoria de Marketing e Propaganda CMP/Ascom Secretaria: Silvana Vilhena Impressão: Gráfica UFPA Tiragem: Mil exemplares
Reitor: Carlos Edilson Maneschy Vice-Reitor: Horácio Schneider Pró-Reitor de Administração: Edson Ortiz de Matos Pró-Reitora de Desenvolvimento e Gestão de Pessoal: Edilziete Eduardo Pinheiro de Aragão Pró-Reitora de Ensino de Graduação: Maria Lúcia Harada Pró-Reitor de Extensão: Fernando Arthur de Freitas Neves Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação: Emmanuel Zagury Tourinho Pró-Reitora de Planejamento: Raquel Trindade Borges Pró-Reitor de Relações Internacionais: Flávio Augusto Sidrim Nassar Prefeito: Alemar Dias Rodrigues Junior Assessoria de Comunicação Institucional - ASCOM/UFPA Cidade Universitária Prof. José da Silveira Netto Rua Augusto Corrêa, n.1 - Prédio da Reitoria - Térreo CEP: 66075-110 - Guamá - Belém - Pará Tel. (91) 3201-8036 www.ufpa.br
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2015 será um ano de comemorações para a nossa equipe. O Jornal Beira do Rio celebra seus 30 anos. São três décadas divulgando a produção científica da Universidade Federal do Pará. O selo que ilustra a capa, a partir desta edição, é a primeira das ações comemorativas. Até dezembro, teremos textos escritos em parcerias, pautas revisitadas e homenagens aos que nos acompanham ao longo desses anos. Com a fotografia acima, Karol Khaled abre as homenagens aos fotógrafos que passaram por aqui. A reportagem “Ô abre alas”, que eles vão passar apresenta os resultados da pesquisa realizada por Arianne Gonçalves, sobre o repertório coreográfico dos casais de mestre-sala e porta-bandeira das escolas de samba de Belém. De acordo com a pesquisadora, os casais apresentam um bailado autoral e com assinatura. Em entrevista ao Beira do Rio, o antropólogo Massimo Canevacci afirmou que estamos caminhando rumo à metrópole comunicacional. Nessa “nova” cidade, vive o multivíduo, sujeito que modifica seu estilo de acordo com o contexto. A página 19 traz uma nova seção realizada em parceria com o perfil oficial da UFPA, no aplicativo Instagram. Nesse espaço, vamos divulgar as melhores fotografias publicadas por seguidores e marcadas com a hashtag sugerida. Este mês, a #missão foi #calouroufpa2015. Siga o @ufpa_oficial e fique atento às próximas #missões. Comemore conosco e boa leitura! Rosyane Rodrigues Editora
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Índice Gestão por competências e desenvolvimento pessoal ..............4 Pará e Amapá são alvo de pesquisa ....................................5 Lago Água Preta tem superbactérias......................................6 A história contada pelos mercados .....................................8 Rumo à metrópole comunicacional ................................... 10 Imagem e memória na era digital . ................................... 12 “Ô abre alas”, que eles vão passar ................................... 14 Punição não resolve conflito ........................................... 16 Mobilização, resistência e protagonismo na Amazônia ............ 18
“O Jornal Beira do Rio me presenteou com novos horizontes. Uma experiência inesquecível para a minha vida profissional e pessoal”. Karol Khaled, fotógrafa
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Alexandre Moraes
Opinião Gestão por competências e desenvolvimento pessoal
O
sucesso na implantação do modelo de Gestão por competências está relacionado à cultura organizacional (crenças compartilhadas pelos membros da organização), ao clima organizacional (conjunto de valores ou atitudes que afetam a maneira como as pessoas se relacionam umas com as outras e com a organização) e à política organizacional (no sentido de direcionamento do corpo dirigente), que são diferentes em cada organização. Gestão por competências é a combinação sinérgica (simultânea) de conhecimentos (saber acumulado), habilidades (saber fazer de acordo com o conhecimento) e atitudes (querer fazer), evidenciada pelo desempenho do indivíduo em seu contexto profissional, que agrega valor tanto à pessoa quanto à organização em que atua (Carbone et al.,2009), sendo o seu objetivo gerenciar a lacuna de competências existentes na organização, que é a discrepância entre as competências de que a organização dispõe e as competências necessárias à consecução dos objetivos organizacionais (Brandão e Guimarães, 2001). A Gestão por competências pode subsidiar os processos na área de Gestão de pessoas: seleção, desenvolvimento (capacitação/ qualificação), avaliação e remuneração por competências, alocação de vaga e construção do Plano de Carreira (Sarsur et al., 2012). Sua implantação requer um proces-
so denominado mapeamento de competências, que é subdividido em mapeamento de competências organizacionais e mapeamento de competências individuais. No mapeamento de competências organizacionais, são analisados a missão, a visão de futuro e os objetivos estratégicos da organização. O mapeamento está relacionado ao planejamento estratégico, que introduz a discussão nas organizações sobre os conceitos de visão de futuro e objetivos organizacionais. Já o mapeamento de competências individuais envolve cada servidor da organização, as tarefas que realiza, o nível de formação, a preparação para realizar tais tarefas e, ainda, a motivação de executá-las. A Gestão por competências emergiu no cenário internacional na década de 1960, despertou interesse de estudiosos brasileiros da área de Gestão, em 1980. Foi instituída, oficialmente, como instrumento da política de desenvolvimento de pessoal da Administração pública federal direta, autárquica e fundacional, por meio do Decreto nº 5.707, de 23/02/2006, que a conceitua como a gestão da capacitação orientada para o desenvolvimento do conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes necessárias ao desempenho das funções dos servidores, visando ao alcance dos objetivos da instituição. Conforme relato da mesa-redonda organizada pela Escola Nacional de Administração Pública (ENAP), 16 (dezesseis) órgãos da Administração direta e indireta estavam construindo ou implantando modelos de Gestão de pessoas por competências. Na Caixa Econômica Federal, na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária e no Tribunal de Contas de União, que iniciaram o processo de implantação de Gestão por competências em 2000, 2001 e 2003,
respectivamente, a ordem dos subprocessos da área de Gestão de pessoas utilizados na implantação da Gestão por competências foi a seguinte: Caixa Econômica Federal: 1º Avaliação de desempenho (comportamento de entrega); 2º Capacitação; 3º Qualidade de vida; 4º Progressão e promoção; 5º Avaliação 360°; 6º Automação Gerencial. Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (duas tentativas de Implantação da Gestão por Competências): 1ª Tentativa: 1º Plano de Cargos e Salários; 2ºPlano de elevação de escolaridade; 3º Plano de carreiras; 4º Progressão e promoções salariais. 2 ª tentativa (2008, após o Decreto nº 5.707/2006): 1º Capacitação Tribunal de Contas da União: 1º Política de Gestão de pessoas; 2º Manual de avaliação dos perfis profissionais; 3º Soluções de tecnologia da informação para manutenção dos sistemas de gerenciamento de RH; 4º Seleção; 5º Avaliação de desempenho; 6º Capacitação; 7º Definição de escala individual de trabalho; 8º Flexibilização de horário. Considerando o exposto e o Decreto nº 5.707/2006, que nomeia a ENAP como a responsável pela promoção, elaboração e execução das ações de capacitação dos instrumentos da Política Nacional de Desenvolvimento de Pessoal: I - plano anual de capacitação; II - relatório de execução do plano anual de capacitação e III - sistema de Gestão por competência, questiona-se por que o Decreto em epígrafe enfatiza apenas a Gestão por competências por meio de capacitação? O que ocorreu com os demais subprocessos de Gestão de pessoas utilizados na Gestão por competências? Rosana Augusto Chagas - administradora, lotada na PROGEP/DDD/ CAPACIT, mestre em Planejamento do Desenvolvimento Sustentável. rachagas@ufpa.br
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Hepatite
Pará e Amapá são alvo de pesquisa Brenda Rachit
M
undialmente, as infecções causadas pelos vírus das hepatites B (HBV) e C (HCV) são as principais responsáveis por casos de cirrose, câncer e transplante de fígado. Na América do Sul, o Brasil lidera em número de infectados. O HBV é potencialmente transmissível pela via sexual. Já o HCV é transmitido preferencialmente pelo contato sanguíneo. Por isso, não são raros os casos de pessoas que adquirem uma dessas infecções por meio de lesões com alicates de unha, lâmina de barbear, agulhas contaminadas e relações sexuais sem o uso de preservativo. Na Região Norte, há uma elevada prevalência de infecções pelo HBV e HCV, principalmente, entre grupos de vulneráveis. Entre eles, destacam-se os usuários de drogas ilícitas. O professor Aldemir Branco de Oliveira Filho, do Instituto de Estudos Costeiros (IECOS) da UFPA,
Acervo do Projeto
Objetivo é analisar fatores de risco entre usuários de drogas
Campus de Bragança, desenvolve a Pesquisa Aspectos epidemiológicos das infecções pelo HBV e HCV em usuários de drogas ilícitas nos Estados do Pará e do Amapá, que analisa a vulnerabilidade dessa população com relação às hepatites B e C. Entre 2011 e 2014, o projeto já abordou 901 usuários de drogas no Pará. O perfil desses usuários com-
Cachimbos feitos com tampas de garrafa PET, papel e tubo de alumínio apresentaram amostra viral.
preendeu, em sua maioria, homens (76,5%) com escolaridade de até dez anos (60,8%), renda mensal de até três salários mínimos (66,1%) e declarados heterossexuais (88,6%). Todos os usuários utilizavam drogas não injetáveis (maconha, pasta de cocaína, crack e cocaína), 13,2% deles já experimentaram drogas injetáveis pelo menos uma vez.
Uso coletivo de equipamentos é fator de risco A prevalência de infecções pelo HBV e HCV entre usuários de drogas ilícitas é elevada. Até o momento, cerca de 31% dos usuários apresentaram resultados positivos para HBV e 28%, para HCV. “A dependência química provoca uma mudança no estilo de vida das pessoas. Muitos usuários compartilham equipamentos para uso de drogas e mantêm relação sexual sem preservativo. Esses fatores facilitam
a transmissão de inúmeros microrganismos”, afirma Aldemir Branco. A equipe de pesquisa propôsse a analisar a presença e transmissão do HBV e do HCV a partir dos equipamentos disponibilizados em bocas de fumo. Os usuários afirmam que os equipamentos são de uso coletivo e ficam disponíveis para o comprador nos pontos de venda de drogas. Exemplo disso são os cachimbos feitos com tampas de garrafas
PET, papel e tubo de alumínio, para inalação de crack. Ao ser aquecido, o cachimbo pode provocar lesões na boca e no nariz dos usuários, o que pode servir como via de transmissão dos vírus da hepatite. Analisando os equipamentos, foi detectada amostra viral. A próxima etapa será avaliar, concomitantemente, a presença de ácidos nucleicos virais nos equipamentos e amostras da mucosa nasal e oral dos usuários.
Bairros da periferia e clínicas de reabilitação O projeto ocorre em parceria com o HEMOPA e a USP, os quais colaboram com a realização do diagnóstico e da análise genética dos vírus, e conta com financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico e do Ministério
da Saúde. O trabalho acontece em duas frentes, em bairros periféricos e em clínicas de tratamento para dependentes químicos. Em ambos os casos, há um contato prévio com os usuários, por meio de lideranças comunitárias da localidade ou do su-
pervisor da clínica. Após essa etapa, a coleta de materiais e de informações é realizada. O objetivo é contribuir para o planejamento e a execução de políticas públicas de controle e prevenção dessas infecções do norte do Brasil.
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Meio ambiente
Lago Água Preta tem superbactérias Dados indicam contaminação dos mananciais de Belém Rafael Rocha
A
ausência de medidas conservacionistas e o uso indevido dos recursos hídricos trazem consequências negativas para a população, como a contaminação das águas dos mananciais que abastecem as cidades. Na capital Belém, o lago Água Preta é um dos principais fornecedores de água superficial para o abastecimento público da Região Metropolitana. Localizado em uma área de ocupação urbana, desordenada e susceptível ao despejo de efluentes domésticos e industriais, processos degradantes nesse manancial podem colocar em risco a vida da população. O Laboratório de Genômica, da Universidade Federal do Pará
(UFPA), juntamente com o Programa Pesquisador Visitante Especial (PVE),da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), estão realizando pesquisa sobre bactérias resistentes a antibióticos no lago Água Preta. Em ambientes naturais, como o aquático, a disseminação de bactérias resistentes a antibióticos, bem como seus genes de resistência constituem uma grande preocupação por estarem associados a doenças infecciosas. O potencial de genes de resistência incide essencialmente em resistências comuns aos antibióticos de uso frequente. Dessa forma, a utilização de antibióticos de último recurso, como carbapenêmicos, tem sido restringida para prevenir a disseminação de bactérias resis-
tentes a esses medicamentos. Em vários países, os carbapenêmicos estão restritos aos ambientes hospitalares. Assim, coloca-se a hipótese de que a dispersão da resistência a esses antibióticos em ambientes naturais está certamente no início, o que constitui uma oportunidade para estudar e compreender o processo de disseminação e de evolução deste fato. A resistência a carbapenêmicos é geralmente mediada por carbapenemases, consideradas a maior ameaça em termos de resistência a antibióticos. A caracterização dos genes que codificam para carbapenemases em ambientes naturais contribuirá para antecipar cenários de disseminação de resistência e prever riscos inerentes.
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Bactérias são resistentes a Cefotaxima e Imipenem Fotos Adolfo Lemos
A Pesquisa Ambientes naturais como reservatórios de resistência a antibióticos de último recurso tem como objetivo caracterizar o reservatório de genes que codificam para carbapenemases num sistema aquático (no caso, o lago Água Preta, que faz parte do Complexo Hídrico do Utinga); integrar dados de abundância, diversidade de genes e dados ambientais para elucidar vias de disseminação e de evolução desses genes e avaliar o potencial da resistência a carbapenêmicos como indicador de disseminação de resistência e de risco para a saúde humana. O trabalho está sendo desenvolvido no Laboratório de Polimorfismo de DNA, do Instituto de Ciências Biológicas (ICB/UFPA), e no recém-inaugurado Laboratório de Genômica da UFPA. Além da professora visitante Isabel da Silva Henriques, da Universidade de Aveiro, a equipe dos pesquisadores é formada pela professora Adriana Ribeiro Carneiro, da Faculdade de Biotecnologia; por Artur Luiz da Costa da Silva, coordenador do Laboratório de Genômica; e pelos alunos de pós-graduação Rafael Azevedo Baraúna, Jorianne Thyeska Castro Alves e Larissa Maranhão Dias.
A coleta das amostras de água foi realizada em agosto passado, em seis diferentes pontos do lago Água Preta. As amostras foram tratadas com os carbapenêmicos Cefotaxima e Imipenem, que identificaram, por meio de antibiograma, linhagens de bactérias resistentes a esses antibióticos. A segunda parte da pesquisa é o reconhecimento das espécies dos microrganismos, etapa que será realizada, posteriormente, pelo procedimento de identificação molecular.
Segundo Isabel Henriques, a falta de saneamento e o despejo de esgotos nesses reservatórios contribuem para a resistência das bactérias. “Apesar de a resistência a antibióticos ser uma característica natural em algumas bactérias, a sua disseminação para outros grupos bacterianos tem sido promovida pela ação do homem. Cria-se um ciclo em que esgotos são lançados nas águas e isso acaba conferindo resistência a essas bactérias, de sobreviver na presença de antibióticos”, explica a professora.
Resultados irão apoiar gestão de ecossistemas A pesquisadora ainda enfatiza que sistemas aquáticos, como o lago Água Preta, apresentam fácil disseminação das bactérias resistentes e são fonte de contaminação para humanos, uma vez que as pessoas têm contato contínuo com essas águas contaminadas, que, mesmo após tratamento, ainda podem conter bactérias resistentes. Os resultados preliminares da pesquisa já apontam a presença de bactérias com resistência aos carbapenêmicos no lago estudado, indicando a disseminação desses microrganismos nos mananciais que abastecem a Região Metropolitana de Belém. Sobre ambientes contaminados, Isabel Henriques destaca que, “infelizmente, nos tempos mais
recentes, esta resistência saiu dos hospitais. Neste momento, temos ambientes como solo e água contaminados com bactérias resistentes a antibióticos que conseguem transferir esta resistência para outras bactérias”. Para Artur Silva, coordenador do Laboratório de Genômica, esta parceria entre a Universidade de Aveiro e a UFPA é importante para contribuir para os estudos sobre a biodiversidade local. “Uma das deficiências que eu vi é o fato de não trabalharmos com a biodiversidade local. Pela primeira vez, estamos trabalhando com isso, aliando uma tecnologia de interesse a um problema local”, observou o coordenador.
A análise do resultado final da pesquisa permitirá responder a questões centrais relacionadas com ocorrência, incidência, diversidade e dispersão da resistência em ambientes naturais, permitindo tirar conclusões acerca dos fatores que podem determinar a disseminação de resistência a antibióticos. Contribuirá, ainda, para elucidar a origem e evolução dos genes de resistência e antecipar os riscos para a saúde humana e para o equilíbrio dos ecossistemas. O conhecimento obtido na pesquisa fornecerá bases sólidas para a tomada de decisões por parte das autoridades, no que diz respeito não só à gestão dos ecossistemas aquáticos mas também a políticas de prescrição de antibióticos.
A professora Isabel Henriques, da Universidade de Aveiro, está desenvolvendo o estudo em parceria com a UFPA.
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Arquitetura
A história contada pelos mercados Espaços públicos resistem aos novos hábitos de consumo Juliana Theodoro
P O Ver-o-Peso e o seu entorno, com a feira e o porto, tornaram-se lugar de tradição e cultura local.
resentes na paisagem urbana de Belém, os mercados públicos da cidade remontam aos tempos da colonização portuguesa. Com diversas características arquitetônicas, as construções contam a história da capital paraense. O Projeto de Pesquisa Mercado Público em Belém: estudos de tipologias arquitetônicas e de sua dinâmica histórica, urbanística e sociocultural, vinculado à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Pará, estuda esses aspectos arquitetônicos, socioculturais e urbanísticos dos edifícios, além da sua importância para a história da cidade.
Coordenado pela professora Celma Chaves, o projeto realizou sua primeira etapa, financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), de 2012 a dezembro de 2013. Em 2014, o projeto desenvolveu outros dois seguimentos de pesquisa: a apresentação de dissertações que abordam o tema no Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo (PPGAU) da UFPA e o estágio sênior pós-doutoral, desenvolvido pela coordenadora na Universidade Politécnica da Catalunha, na Espanha, sobre os mercados de Belém e Barcelona. Compõem a equipe de pesquisa dois bolsistas do PPGAU,
Hélio Canto dos Santos e Laura Monte Palma; a professora Wilma Marques Leitão; além dos professores colaboradores Manuel Guàrdia Bassols e José Luis Oyón, da Escola Técnica Superior de Arquitetura de Barcelona, da Universidade Politécnica da Catalunha. Celma Chaves explica que “não existiam, até o momento, outros trabalhos que tratassem amplamente a questão dos mercados públicos em Belém, suas tipologias arquitetônicas, sua história, sua inserção na cidade e seus aspectos socioculturais e também a situação de abandono que alguns apresentavam, e ainda apresentam”. Mácio Ferreira
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Dez mercados, da Cidade Velha ao Marco Alexandre Moraes
O projeto de pesquisa abrange as construções da Primeira Légua Patrimonial – área de ocupação que vai desde o Forte do Presépio até o bairro Marco –, que totalizam 10 mercados. São realizados os levantamentos arquitetônicos, o redesenho em meio digital para aprimorar a visualização organizacional espacial e a pesquisa empírica, a partir de entrevistas com vendedores e frequentadores das construções. Os mercados públicos surgiram nas cidades medievais, mas a estrutura de mercados cobertos que conhecemos hoje, começou apenas no século XIX, na Europa. O primeiro mercado de Belém foi o Mercado de Carne, ou Mercado Francisco Bolonha, inaugurado em 1867. “Internamente, dispõe de quatro pavilhões em ferro, para a venda de carne, e outro pavilhão maior destinado aos sanitários públicos. Seus ornamentos florais e a sinuosa escada helicoidal evidenciam o Art Noveau. Na área externa, predomina a sobriedade do neoclássico, destituída de qualquer decorativismo”, explica a professora. Já o mais famoso ponto tu-
rístico paraense, o Mercado do Ver-o-Peso, teve sua estrutura de ferro inaugurada em 1901, “atribui-se o projeto do mercado aos engenheiros Bento Miranda e Raymundo Vianna, que, além de serem os responsáveis pela obra, organizaram uma firma dentro do mercado, para explorá-lo comercialmente durante 20 anos”. “O Ver-o-Peso e o seu entorno, com a feira e o porto, tornaram-se lugar de tradição e cultura local. É um exemplo de espaço de diversidade que sustenta seu funcio-
namento econômico como símbolo de coesão social, como legitimador das coletividades que ali trabalham, frequentam e constroem os seus modos de vida”, diz Celma. A partir de 1970, os mercados belenenses começaram a perder espaço em razão da chegada dos supermercados e das mudanças nos hábitos de consumo da população. Essas mudanças são mais evidentes nos mercados de São Brás e de Santa Luzia, que estão subutilizados, em estado de quase abandono.
São Brás: abandono do mercado chama atenção A Dissertação O Mercado de São Brás e seu entorno: uma história de transformações e permanências, defendida por Laura Monte Palma, em outubro de 2014, no Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo, aborda o vínculo do Mercado de São Brás com a população e sua importância para a história do bairro. “Meu estudo buscou entender a relação que o mercado assumiu com o seu entorno, o que chamamos de entorno histórico. A partir de 1950, chegaram novas construções ao bairro São Brás, como o Conjunto do IAPI, a Escola Benvinda de França Messias e, depois, o Terminal Rodoviário. Minha dissertação procurou mostrar como o mercado atraiu essas outras arquiteturas”, explica Laura. Inaugurado em 1911, o Mercado de São Brás traz característi-
cas clássicas e de Art Nouveau em estrutura de ferro e vidro, em uma linguagem eclética. O edifício foi construído pelo intendente Antônio Lemos, com os objetivos de descentralizar o comércio de Belém, que se concentrava no Ver-o-Peso, e atender a demanda de mercadorias e pessoas que chegavam pela estrada de ferro Belém-Bragança. A construção do mercado valorizou o bairro e atraiu novos moradores, mas a desvalorização desses espaços na década de 1970 fez com que estes entrassem em processo de deterioração. “Foram feitas reformas ao longo de três décadas, alguns ajustes, alguns remanejamentos, algumas tentativas de dar um novo uso ao mercado”, conta Laura. “Mas os aspectos interno e externo permanecem deteriorados. Como está
muito bem localizado, na confluência de três avenidas importantes, chama atenção que uma construção tão bonita possa estar tão destoante em relação ao entorno e à cidade”, completa. Apesar da situação atual, Laura diz que o Mercado de São Brás não perdeu sua relevância histórica e social. “O mercado foi e continua sendo importante para a constituição do bairro, para as pessoas que o frequentam e, nele, trabalham. Alguns vendedores estão lá desde 1950! Mais do que um monumento, é a importância que o mercado tem para a consolidação do espaço público, da memória, de familiaridade. O mercado tem essa representatividade, a arquitetura transcende a construção em si, ela influencia todo o entorno”, observa a pesquisadora.
Pesquisadores fazem levantamento arquitetônico e entrevistas com vendedores e frequentadores dos mercados.
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Entrevista
Massimo Canevacci
Rumo à metrópole comunicacional Comunicação, cultura e consumo estão no centro da nova cidade Walter Pinto
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specialista em estudos sobre etnografia, comunicação visual, arte e cultura digital, o professor italiano Massimo Canevacci esteve em Belém participando do I Seminário Latino-Americano de Antropologia Visual. Suas pesquisas apontam para o surgimento de um novo tipo de metrópole muito diferente da metrópole industrial. Em 1995, Canevacci foi distinguido com a medalha da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul, pela Presidência da República. Desde 2010, vem atuando em universidades brasileiras (UFSC, UFRJ e USP), mas já trabalhou em diversas instituições da Europa, do Japão e da China. Canevacci é autor de muitos artigos e quatro livros, entre os quais, SincretiKa: explorações etnográficas sobre artes contemporâneas e A linha de pó: a cultura Bororo entre tradição, mutação e auto-representação.
Antropologia visual Desde os primeiros pesquisadores de campo – não me refiro aos antropólogos de gabinete, mas aos que chamamos de etnógrafos – a Antropologia sempre se utilizou de imagens, inicialmente, por meio de fotografias, depois, por meio de filmes em película, passando pelo vídeo eletrônico, até atingirmos a grande revolução digital. Isso faz a maior diferença entre as diversas disciplinas humanas. A motivação é simples: para um antropólogo entender outra cultura que lhe é totalmente diferente, as imagens são determinantes, principalmente, no caso dos primeiros antropólogos de origem eu-
ropeia. A linguagem do corpo sempre foi o centro da pesquisa etnográfica. A escritura nunca é suficiente para descrever os rituais, as maneiras de comer ou de brigar. A linguagem visual surge com uma força enorme, com símbolos e métodos próprios, comunicando sem palavra os significados de uma dança ou de um funeral, por exemplo, como constatei em minha pesquisa sobre a cultura Bororo, no Mato Grosso, onde vivenciei uma das experiências mais fortes da minha vida. M e u livro sobre os Bororo, se não tivesse nenhuma imagem, seria só um conto, talvez belo e interessante. Mas são as fotografias mostrando uma complexa metamorfose de um crânio de um ser ancestral, por meio do uso de urucum e lumas, que tornam aquele processo mais compreensível e emocionante para o leitor. Razão e emoção. Esta é antropologia visual.
de fazer uma caminhada sem a poluição dos carros, olhando um panorama lindo e romântico viram experiência quotidiana. O mercado, perto das docas, é outra maravilha. Fiquei muitas horas observando o “tecido” dos peixes, a multiplicidade de formas, os desenhos, algo que remete aos estilistas de vanguarda. É incrível que as frutas de Belém ainda permaneçam desconhecidas não somente na Europa, mas também até mesmo em São Paulo! Saboreá-las ou tomar um sorvete delicioso, digno da tradição italiana, é um prazer a se expandir muito mais. Como em qualquer cidade brasileira, o problema do trânsito é dramático. O trânsito continuará anacrônico, para dizer, assim, mal organizado e sem um metrô de superfície ou sem utilizar os canais que poderiam melhorar a qualidade de vida. Belém deveria ser o centro ecológico e cultural do conhecimento da Amazônia. Para ingressar neste mundo, a cidade precisa de carinho, de tecnologia, de descentralização e de inovações.
“Na nova metrópole, habita o multivíduo, um sujeito plural e fluido”
Impressões de Belém Em primeiro lugar, a reestruturação das docas, em Belém, é um exemplo maravilhoso que outras cidades brasileiras deveriam copiar ou articular nos seus próprios contextos. Ali, é claríssimo que o que era industrial, a atividade clássica do trabalho portuário, virou centro múltiplo da comunicação contemporânea, onde turismo, comida, música, artesanato ou o simples prazer
Metrópole comunicacional A metrópole comunicacional, à diferença da cidade modernista e das metrópoles industriais, caracteriza-se pelas relações advindas da expansão digital, cruzada pelo trio
comunicação-cultura-consumo. Esse encontro produz valor econômico agregado e valores como estilos de vida, visão do mundo, crenças e mitologias. A comunicação é elemento determinante na configuração flutuante de tal metrópole, a respeito do qual, o conceito histórico de sociedade perde a sua centralidade de enquadrar mutações, inovações, conflitos, tensões. Essa metrópole oferece um panorama ambíguo e auroral, potencialmente além de dualismos metafísicos, paradigmas industrialistas, dialéticas sociológicas. A metrópole comunicacional não tem um centro politicamente definido, mas uma constelação policêntrica diferenciada, temporariamente desenhada. Policentrismo significa que o trio consumocomunicação-cultura tem uma importância crescente em relação à produção clássica. Este encontro, que ocorre a partir de shopping-centers, parques temáticos, museus de arte, desfiles de moda, estádios esportivos e, obviamente, internet, desenvolve um tipo de público que não é mais o público homogêneo e massificado da era industrial. São públicos pluralizados e fragmentados, que gostam de “performar” consumo e comunicação. Neste contexto transurbano, as subjetividades exprimem identidades tecno-híbridas, procurando narrações autônomas que se manifestam em primeira pessoa (contos, visões, performance, músicas). Tal multivíduo - fluido e multíplice – não é um passivo receptor dos eventos culturais, mas parte ativa, sujeito cocriador que modifica os módulos presentes, liberando a própria vontade de autorrepresenta-
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ção. Na metrópole comunicacional, comunicação, consumo e cultura tornam-se importantes ferramentas sociais de percepção do que acontece e do que muda não somente nas classes sociais mas também nas subjetividades.
Multivíduo
Walter Pinto
O conceito de multivíduo modifica o conceito clássico de indivíduo - palavra de origem latina que, por sua vez, traduz a palavra grega “atomom”, cujo significado é “indivisível”. O multivíduo é um sujeito divisível, plural, fluido. Ubíquo. Um mesmo sujeito pode ter uma multiplicidade de identidades, de “eus” e, assim, multividuar a sua subjetividade. Um dos sintomas disso é a ideia de gênero. O fe-
minino e o masculino já não são mais percebidos como uma divisão definida biologicamente. O gênero é visto como uma construção cultural que não comporta mais uma lógica binária, dualista. Entende-se que é possível ter uma multiplicidade de experiências sensuais eróticas. A moda é outro exemplo: o multivíduo não se identifica por um estilo de moda específico, único. Ele modifica seus estilos de acordo com os diferentes contextos em que se encontra. A cultura digital oferece o contexto móvel pela difusão deste novo sujeito multividual, que precisa e deseja transitar entre diversos
“eus”. Porque, neste contexto, o plural de eu não é nós, mas “eus”: uma multidão de “eus” que determinam identidades mais fluidas e temporárias.
Consumo performático O público não é mais homogêneo, homologado, unificado. São públicos diferenciados, que se pretendem criadores de histórias, que gostam de autorrepresentar e do novo, graças ao digital. Por isso, na frente de uma obra de arte contemporânea, o cidadão quer “performar” e não ficar parado, agindo apenas como um mero observador. Cada um vira “expecta -actor”. Um expectador performático que cocria a obra de arte ou de consumo. Nesse sentido, ninguém pode ficar parado lembrando os “belos tempos da adolescência”. O consumo performático precisa ativar cada multivíduo e isso determina a diferença em relação ao passado, em parte, ainda presente. Os exemplos desta mistura de artes e consumos performáticos são inumeráveis.
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Cidade polifônica Em São Paulo, comecei a fazer uma pesquisa espontânea, depois, metodologicamente mais fundada, sobre a hipótese da polifonia. Sempre tive uma paixão irrefreável pelo Cinema e, em geral, pela Comunicação e pelas Artes Visuais. Por isso, decidi fazer uma pesquisa empírica sobre a comunicação visual enfocando a enorme metrópole de São Paulo, utilizando diversos métodos. Em razão disso, utilizei o conceito de polifonia e decidi colocá-lo no título final de minha pesquisa: A cidade polifônica. Foi um mix de escrita ensaísta, narrativa etnopoética e imagética. Comecei a pesquisa fotografando alguns lugares de São Paulo, seguindo a hipótese de quatro centros simultâneos: o inicial, o Centro Histórico, a Avenida Paulista e, por fim, a Avenida Berrini, onde estava emergindo um outro centro de estilo pós-industrial. Em suma, os trabalhos sobre e com as imagens eram dialógicos com a escrita. Tudo isso nos anos 90 do século passado. Infelizmente, neste século, São Paulo mudou muito. A polifonia parou, a arquitetura criativa não existe mais. Os engenheiros ainda reproduzem o modernismo, mas produzem uma nova cidade fechada em si mesma: as gate community, agora, determinam uma metrópole que vira muitas cittadellas em si fechadas...
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Tecnologia
Imagem e memória na era digital Pesquisa analisa perfil de usuários do aplicativo Instagram "Lá estava eu em uma viagem romântica passeando pela orla de Ipanema, porque estava com desejo de sorvete e fui levada para tomar 'o melhor sorvete da cidade' e nos deparamos com este coração no chão, foi lindo. Postei a foto ao saber da morte do Reginaldo Rossi como uma singela homenagem." @camilanobushige
Juliana Theodoro
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aplicativo de fotos Instagram é um fenômeno mundial, seu número de usuários cresce a cada dia. Em março de 2014, o número de pessoas que usam o app passou de 200 milhões em todo o mundo, marcando cerca de 60 milhões de imagens postadas diariamente. Para entender como se dá a questão da imagem e memória na era dos smartphones, em que a
possibilidade de captura de fotos está, literalmente, na palma das mãos, o professor Thiago Guimarães Azevedo defendeu, no Programa de Pós-Graduação em Artes da Universidade Federal do Pará, a Dissertação #INSTAGRAM: entre o excesso de #imagens e a fluidez da #memória. Orientado pela professora Valzeli Figueira Sampaio, Thiago Azevedo, também usuário do Instagram, analisou uma série de perfis no aplicativo. No decorrer da pesquisa,
ele dividiu os perfis em dois grupos: os de usuários que utilizam o app para fins banais, a exemplo das selfies ou fotos de comida, e os que cumpriam o objetivo do aplicativo. O Instagram tem como proposta o compartilhamento de momentos, indicado para todas as pessoas com “paixão criativa”. De acordo com o pesquisador, o app não está sendo utilizado de acordo com essa proposta. “Investiguei atores que utilizam o aplicativo com frequência e utilizei como recorte o blog do Instagram, no qual há uma exposição de imagens e trabalhos diferenciados. Descobri que o Instagram possui uma intencionalidade relacionada à imagem diferente daquela que observamos, hoje, no aplicativo”, afirma. Por meio do perfil @flaneur, Thiago passou a seguir um grupo de usuários que cumpriam o objetivo do app e analisou as imagens compartilhadas, além de entrevistar essas pessoas por meio de questionários. Esses questionários verificavam a relação que os usuários possuíam com a memória, por meio da imagem, primeiro, a analógica; depois, a digital e virtual.
Contemplar as imagens ainda é um rito especial “Percebi que a memória se manifesta de forma coletiva, como uma costura que se liga em partes, e se complementa para além da imagem. Com isso, a imagem é parte de um rito que celebra o momento, o evento, a memória. Todos que participaram da pesquisa tinham esse tipo de relação e enfatizavam que havia um rito especial para contemplar as imagens com amigos e família”, diz Thiago Guimarães Azevedo. Assim como a memória é fragmentada e reordenada a partir de pontuações individuais, o mesmo processo acontece com o ato de capturar o momento. “Nesse sentido,
falar de memória também é falar de reminiscência. Nesse novo espaço, que é o Instagram, pude observar que a memória vai perdendo sua característica clássica coletiva e assume um aspecto mais individual. O coletivo manifesta-se de forma mais passiva, restrita aos comentários curtos e ao ato de curtir a imagem. Isso não significa que não há memória por meio da imagem postada, ela apenas encontra outros meios para se manifestar”, completa. O pesquisador destaca que a diferença entre a relação imagem-memória no tempo da fotografia analógica para o atual é que a fotografia analógica tinha uma função
de coletividade, estava presente em momentos de celebrações e também envolvia um mistério, pois ninguém sabia exatamente qual seria o resultado até o filme ser revelado. Já com os smartsphones, é possível refazer a foto quantas vezes forem necessárias até que fique da maneira desejada, a câmera (smartphone) também não está presente somente em celebrações, mas nas atividades cotidianas. A imagem ganha um aspecto mais individual. Com a fotografia analógica, a máquina estava a serviço do evento. Com os smartphones, seria ao contrário, o evento está a serviço da máquina.
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Fotografias representam momentos importantes Quanto ao aspecto efêmero do aplicativo e à possibilidade de rapidamente perdermos as fotos publicadas entre todas as outras na timeline, Thiago Azevedo lembra que “isso não difere do acúmulo de imagens que temos fora dessa timeline. Seja de forma analógica, seja de forma digital, em pastas no computador, vivenciamos sempre o espírito de acúmulo. E sempre acumulamos coisas, quer sejam imagens quer sejam objetos. Vivemos para obter e guardar coisas que marcam nossas histórias e as utilizamos como marco para lembrar de um fato significativo na vida”. O aspecto sentimental da imagem como possível souvenir de um momento significativo ainda está presente no Instagram, mesmo com os milhões de fotos publicadas por dia. “Quando solicitei aos usuários que encaminhassem suas imagens, eles encaminhavam as postagens de determinados momentos, mostrando que ainda há esse elemento de significação da imagem, mesmo que ela atue nesse universo tão excessivo e efêmero”, esclarece o professor. O estudo também destaca que há diferentes formas de se relacionar com o aplicativo. A dissertação analisou perfis de fotógrafos, artistas, pessoas que estabeleciam formas criativas de se relacionar com o Instagram, seja pela maneira como efetuavam o disparo, seja pelo modo como utilizavam filtros e legendas. “Há muitos movimentos em que as pessoas criam formas de desenvolver suas relações de identidade. Nesse sentido, o aplicativo se apresenta como uma espécie de espelho, pelo qual os usuários procuram apresentar peculiaridades de suas percepções, a partir da imagem ou da relação dela com o texto”, diz Thiago. Como a imagem ganhou um papel central na era digital, Thiago Azevedo destaca a importância desse tipo de estudo, “visto que as formas de perceber os produtos têm sido mais relacionadas à imagem do que à experiência de comunicação tradicional (falar e ouvir)”, finaliza.
Utilizando o perfil @flaneur, Thiago Azevedo seguiu um grupo de usuários do aplicativo.
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Carnaval
“Ô abre alas”, que eles vão passar
Alexandre Moraes
Em Belém, casais de mestre-sala e porta-bandeira fazem dança autoral
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Marcus Passos
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uitos ensaios, exercícios físicos e preparação psicológica. Esses são alguns dos elementos que envolvem o dia a dia de um casal de mestre-sala e porta-bandeira. Esse casal representa um dos mais importantes componentes de uma escola de samba. São eles que apresentam o pavilhão, o símbolo maior de uma agremiação carnavalesca durante um desfile. Para conhecer mais sobre esse casal e o universo que envolve o seu processo de dança, a pesquisadora Arianne Roberta Pimentel Gonçalves desenvolveu a Dissertação Defendendo o Pavi-
lhão: a dança autoral dos casais de Mestre-Sala e Porta-Bandeira das escolas de samba de Belém do Pará, no Programa de Pós-Graduação em Artes, da Universidade Federal do Pará. A pesquisa teve orientação da professora Ana Flávia Mendes e coorientação do professor Miguel Santa Brígida. O estudo tem como foco a proposição de dança autoral, que se refere à assinatura que cada casal traz em sua dança. É um movimento particular de cada sujeito. “O casal de mestre-sala e porta-bandeira dança um gestual de repertório comum. Mas de maneira implícita, existe uma cobrança de você se destacar perante a
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sua dança. Então, resolvi elaborar uma metodologia de pesquisa, de investigação do corpo, de como ser um assinante da sua dança e se destacar perante os outros”, afirma Arianne Pimentel. A pesquisa utilizou como referência os casais que frequentam a Academia Paraense de Mestre-Sala, Porta-Bandeira e Porta-Estandarte. As atividades ocorrem na Escola de Teatro e Dança da UFPA, sob a coordenação dos professores Miguel de Santa Brígida e Ana Flávia Mendes. Nesse espaço, há casais de várias escolas, iniciantes e profissionais, que vão para dentro da universidade estudar e pesquisar mais sobre o seu meio.
Olhar de porta-bandeira, pesquisadora e bailarina Um dos pontos principais debatidos na pesquisa é tríade, pavilhão – porta-bandeira –mestresala, que se constitui como algo indissociável. E o primeiro casal da Escola de Samba ‘Piratas da Batucada’, formado por Bené Brito e Flavinha Alegria, ilustra perfeitamente essa tríade na pesquisa. “Eles são o casal que apresentou mais autorias. A partir deles, fui para a avenida e fiz uma pesquisa etnográfica, enquanto eles desfilavam”, revela Arianne Pimentel. O desenvolvimento de uma metodologia que fosse aplicada durante as aulas na Academia Paraense de Mestre-Sala e Porta-Bandeira representa outro ponto importante no estudo. Assim, a metodologia criada utiliza conceitos da dança
contemporânea aplicados à dança carnavalesca. A pesquisa envolveu as influências africanas, as danças regionais e alguns teóricos para construir e aplicar a dança autoral. Arianne Pimentel comenta que um dos empecilhos durante o estudo foi lidar com o corpo do outro. Desenvolver uma metodologia sensível para que as pessoas conseguissem captar e fazer a autoanálise foi complicado. Isso ocorreu porque não era ela quem definia a dança autoral dos casais. Eram os próprios participantes que faziam suas pesquisas e alguns têm dificuldade para analisar a própria imagem corporal. “São os casais que carregam o pavilhão da escola. Eu falo isso a partir da minha dança, do que
vivo e do que sei. Eu coloquei o meu olhar de porta-bandeira, de professora e de bailarina nessa pesquisa. Um olhar que me fez ver esse processo de uma maneira mais ampla, pois falo de algo com que convivo diariamente. E por estar inserida nesse meio, isso foi um facilitador”, enfatiza a autora Arianne Pimentel. Nesse sentido, a dissertação traz como autorias o jeito de se movimentar, os movimentos minuciosos descritos por meio do olhar da pesquisadora e dos participantes. No entanto isso nem sempre se manifesta entre o casal, necessitando de uma perfeita harmonia para ocorrer. Às vezes, só a porta-bandeira está focada em estudar e investigar a dança.
Casais são influenciados pelas danças regionais Uma das conclusões do estudo concentra-se na importância da Academia Paraense de Mestre-Sala, Porta-Bandeira e Porta-Estandarte. Como projeto de extensão, a academia tem três anos e é um espaço primordial onde a comunidade do samba pode pesquisar, investigar e manter acesa a chama do carnaval local. Os participantes representam a cultura popular e a pesquisadora precisou mesclar a sua metodologia com os conhecimentos deles.
Um aspecto importante da pesquisa refere-se especificamente a Belém, pois, segundo Arianne Pimentel, “aqui os casais de mestre-sala e porta-bandeira têm uma autoria em comum, que é a influência das danças regionais. O carimbó, o lundu e outras danças dão a eles uma autoria muito peculiar no jeito de girar e no posicionamento do braço. Essa vivência com a cultura popular está impregnada em seus corpos”.
Por isso, “é importante a academia ampliar a visão sobre os saberes populares. Devemos trazer esse conhecimento sobre o carnaval para a Universidade, para os cursos de Comunicação e Dança. Nós estamos nesse espaço de estudo, em que os casais se encontram para dançar, fortalecendo tanto o conhecimento acadêmico quanto a prática em dança. Essa pesquisa vai ajudar as pessoas a conhecerem mais essa dança brasileira”, conclui Arianne Pimentel.
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Direito
Punição não resolve conflito Tese indica Justiça Restaurativa no combate à violência doméstica Juliana Theodoro
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violência doméstica cometida contra a mulher é problema nacional de acordo com a Campanha ”Compromisso e Atitude pela Lei Maria da Penha”, da Secretaria de Políticas para as Mulheres, da Presidência da República. Nos primeiros seis meses de 2014, 30.625 casos de violência foram denunciados à Central de Atendimento à Mulher (“Ligue 180”), sendo que 94% dos crimes foram cometidos pelo parceiro, ex-companheiro ou familiar da vítima. Tendo esse contexto como plano de fundo, Lorena Santiago Fabeni defendeu sua T e s e Jus-
tiça Restaurativa e violência doméstica cometida contra a mulher, no Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade Federal do Pará, sob orientação do professor Marcus Alan de Melo Gomes. Com um novo olhar sobre a questão da violência doméstica e familiar contra a mulher, o estudo procura mostrar que a violência não apenas contraria a lei mas também compromete as relações interpessoais dos envolvidos nos casos. Essa nova perspectiva surge por meio da Justiça Restaurativa, que já é utilizada no País, em casos de menores infratores. Como um modelo alternativo à Justiça Tradicional Criminal, a Justiça Restaurativa encara o delito como algo que viola a pessoa humana, as relações entre as pessoas e a sociedade. Seu objetivo é reconstituir essas ligações quebradas pelo conflito, diferentemente da Justiça Normativa, que vê o delito como uma ofensa à lei e ao Estado e busca a punição do infrator. “No Brasil, o terreno no qual a violência doméstica ainda se apoia é o machismo, o patriarcado. Embora isso venha ganhando novos ares, essa é a raiz, é o terreno que sustenta essas violações das relações interpessoais”, explica Lorena Fabeni. De acordo com a professora, para iniciar um processo restaurativo nos casos de violência doméstica e familiar, é preciso “verificar exatamente quais são as necessidades do homem e da mulher, identificar quais são os fatores possíveis que levam a essa situação de violência. Além do patriarcalismo, às vezes, pode ser uma dependência química, pode ser uma questão de ordem psicológica... Não se pode trabalhar com violência familiar cometida contra a mulher sem também dar conta do homem, é necessário olhar o fenômeno como um todo”, completa.
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Metodologia não pode ser aplicada em todos os casos Segundo Lorena Fabeni, o modelo tradicional punitivo apenas suspende o conflito, “por exemplo: há afastamento do agressor, a mulher ganha medida protetiva, então, ela tem, em tese, um aparato, uma segurança daquele Estado, mas, em outro momento, aquele conflito vai eclodir com maior intensidade e não necessariamente com essa mesma mulher, mas o homem pode vir a ter o mesmo comportamento em outros relacionamentos, então, é perceptível que esse modelo não resolve o conflito, só o suspende”. Para resolver de fato o conflito doméstico, a pesquisadora propõe a utilização do método do círculo restaurativo, que é composto por pré-círculo, círculo e pós-círculo. Durante o pré-círculo, há uma conversa com os envolvidos, na qual o processo restaurativo é proposto e explicado em detalhes. Se for aceito pela vítima, é feita a verificação das necessidades das partes e das causas do conflito. Nesse momento, são chamadas para participar do processo restaurativo instituições e/ou organizações não governamentais que possam colaborar com a restauração. Também podem integrar o processo pessoas próximas ao casal, como filhos, parentes, amigos e quem mais o casal quiser convidar. O casal e os convidados – No círculo, ocorrem reuniões com a mulher, o homem, as instituições e as pessoas convidadas. As cadeiras são arrumadas em formato de círculo, não há mesa. Podem ser colocados no centro da roda objetos que tenham a ver com o conflito. Também se trabalha
com o “objeto da fala”: um objeto que tenha relação com a problemática é passado de mão em mão pelas pessoas do círculo e cada um, naquele momento, tem o direito de falar e de ser escutado. “As pessoas vão para o círculo restaurativo sabendo o que vai acontecer. Nesse círculo, existe uma proximidade necessária com as partes. É uma relação interpessoal que se constrói”, explica a professora. No pós-círculo, há o acompanhamento do que foi acordado entre os envolvidos, se houver um acordo, pois a Justiça Restaurativa não o tem como um objetivo, mas como uma possibilidade desejável. “Se foi construída uma proposta entre as pessoas, elas vão buscar vencer suas dificuldades para tentar fazer o acordo acontecer. Logo se vê que Justiça Restaurativa não tem uma metodologia de punição”, afirma Lorena Santiago Fabeni. Para que o círculo restaurativo seja bem-sucedido, é necessária “a construção de um ambiente seguro e com uma escuta de qualidade. Não se pode fazer da Justiça Restaurativa um bate-papo
Ilustração Newton Correa
possivelmente terapêutico”, esclarece a pesquisadora. É importante esclarecer que esse procedimento não deve ser aplicado em todos os casos de violência doméstica, será preciso reconhecer em quais casos a Justiça Restaurativa é mais adequada. A partir de 2015, Lorena Fabeni vai desenvolver um projeto, por meio do ProExt 2015, do Ministério da Educação, o qual colocará em prática a discussão apresentada em sua pesquisa. “O projeto irá confirmar ou não minhas hipóteses. Mas acredito muito que possa dar certo, porque vamos fazer a Justiça Restaurativa por meio da vivência, vamos tratar onde se ancora o fenômeno da violência doméstica”, afirma.
Círculo restaurativo
Foto Glenda Otero/Free Images
Pré-círculo
Círculo
Pós-círculo
A resolução pelo processo restaurativo é proposta aos envolvidos.
Acontecem as reuniões com os envolvidos e convidados. Iniciase o processo de restauração das relações interpessoais.
Há o acompanhamento do caso e o cumprimento dos acordos.
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Resenha Mobilização, resistência e protagonismo na Amazônia Reprodução PAULA SAMPAIO
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coletânea organizada por Paula Mendes Lacerda reúne as vozes de ativistas políticos e de cientistas sociais que falam – por meio de artigos, entrevistas e de um ensaio fotográfico – da construção da luta por direitos e reconhecimento no contexto amazônico, a partir de variados segmentos. Tais ações encontram-se atravessadas pelo enfrentamento e pela resistência aos diversos tipos de opressão que violentam pessoas e coletividades na região. O livro busca ampliar o debate sobre uma dimensão considerada pela organizadora como estruturante à compreensão da Amazônia: a mobilização social, bem como as articulações e disputas violentas que ela enseja na relação com os setores do Estado. As discussões realizadas na coletânea dividem-se em três partes complementares. A primeira reúne reflexões sobre a construção de processos de mobilização social e sobre os desdobramentos das demandas. A sessão conta com artigos, como o de Dom Erwin Kräutler, que descreve a história de sua própria atuação no Xingu, bem como as lutas que marcam a trajetória dos ribeirinhos, indígenas, agricultores e dos demais habitantes da região contra a violação sistemática de seus direitos. Dialogando com o tema, Andreza Smith e Jane Beltrão debruçam-se sobre os passos da organização de um grupo político de mulheres que se deslocaram para outros países por migração ou tráfico de pessoas. Essa articulação originou o Grupo Mulheres em Movimento. O ensaio fotográfico assinado por Paula Sampaio remete, por meio do retrato da paisagem, as histórias silenciadas de pessoas expulsas de seus territórios a partir da construção da Hidrelétrica de Tucuruí.
A segunda parte trata de conflitos que também se desdobraram em chacinas e genocídios e em lutas articuladas a partir da vivência de situações de violação. Elucidando esta dimensão a partir do “Caso dos Meninos Emasculados de Altamira” e do “Massacre de Eldorado dos Carajás”, Paula Lacerda e Jane Beltrão refletem sobre episódios de extrema violência, o tratamento opressor que recebem na Administração Pública e a ação de vítimas e familiares para subvertê-lo. Antônia Melo, Antônia Martins e Rosa Pessoa – lideranças atuantes em Altamira – têm suas falas explicitadas ao final da sessão, por meio de entrevistas em que revelam desafios e melhorias alcançadas via mobilização social, bem como a entrada na “luta” – que, no caso de Antônia Melo e Antônia Martins, se
deu por meio do Movimento de Mulheres Trabalhadoras de Altamira do Campo e da Cidade (MMTACC) e, no caso de Rosa Pessoa, ocorre a partir da dor e do sofrimento causados pela violência extrema praticada contra seu filho. A terceira sessão trata da luta por educação como pauta de diversos grupos e movimentos sociais, compreendendo especialmente o acesso ao ensino superior como possibilidade de autorrepresentação acadêmica dos protagonistas e ampliação das formas de atuação política. A respeito, Rosani Fernandes, a partir de sua trajetória como indígena educadora, problematiza como a educação escolar indígena passa de instrumento de dominação a objetivo, na pauta do movimento indígena. A sessão conta, também, com discussões de pessoas que constroem coletivamente o Curso de
Etnodesenvolvimento na UFPA. Os autores refletem sobre a formação do Curso de Etnodesenvolvimento, a educação em suas comunidades e as dificuldades de permanecer estudando, bem como o papel dos movimentos sociais no processo. As reflexões presentes à coletânea rompem com as representações sobre a Amazônia que enfatizam florestas e invisibilizam pessoas e processos políticos. Construção que parece ser alimentada pela imaginação ocidental que divorcia natureza e cultura, dicotomia eficiente para escamotear processos de violenta dominação. Paula Lacerda, ao organizar o livro, dialoga com a obra de Gayatri Spivak (2010) Pode o subalterno falar?, na qual a filósofa indiana questiona criticamente a (im) possibilidade de fala de determinados grupos. A obra demonstra que, em meio a tentativas de silenciamento, grupos e sujeitos subalternizados – deslocamento analítico fundamental para que a subalternidade não seja entendida como lugar paralisante e intransponível – falam! Superando a perspectiva colonialista que pretende “dar voz” aos subalternizados por meio de pesquisas, o livro tensiona a questão que orienta Spivak (2010): como o não subalternizado, o privilegiado, pode escutar? Creio que mais do que visibilizar falas, a coletânea amplia e transforma processos de escuta. Camille Gouveia Castelo Branco Barata - Graduanda em Ciências Sociais pela UFPA e bolsista de Iniciação Científica CNPq, sob orientação da profa. Jane Felipe Beltrão. Serviço: Mobilização social na Amazônia: A luta por justiça e por educação. Paula Mendes Lacerda (Org.). Rio de Janeiro: E-papers.
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A História na Charge
Alô, alô, alô papai. Alô mamãe. Põe a vitrola prá tocar. Podem soltar foguetes. Que eu passei no vestibular. Eu agora não me iludo. Estou com a cuca controlada. Já não sou #calouroufpa2015 mais cabeludo. Estou de cabeça raspada. Tudo agora é alegria. Vou alegre pintando o sete. Com a turma na folia. Dando tiros de confete. Alô, alô, alô papai. Alô mamãe. Põe a vitrola prá tocar. Podem soltar foguetes. Que eu passei no vestibular. Eu agora não me iludo. Estou com a cuca controlada. Já não sou mais cabeludo. Estou de cabeça raspada. Tudo agora é alegria. Vou alegre pintando o sete. Com a turma na folia. Dando tiros de confete. Alô, alô, alô papai. Alô mamãe. Põe a vitrola prá tocar. Podem soltar foguetes. Que eu passei no vestibular. Eu agora não me iludo. Estou com a cuca controlada. Já não sou mais cabeludo. Estou de cabeça raspada. Tudo agora é alegria. Vou alegre pintando o sete. Com a turma na folia. Dando tiros de confete. Alô, alô, alô papai. Alô mamãe. Põe a vitrola prá tocar. Podem soltar foguetes. Que eu passei no vestibular. Eu agora não me iludo. Estou com a cuca controlada. Já não sou mais cabeludo. Estou de cabeça raspada. Tudo agora é alegria. Vou alegre pintando o sete. Com a turma na folia. Dando tiros de confete. Alô, alô, alô papai. Alô mamãe. Põe a vitrola prá tocar. Podem soltar foguetes. Que eu passei no vestibular. Eu agora não me iludo. Estou com a cuca controlada. Já não sou mais cabeludo. Estou de cabeça raspada. Tudo agora é alegria. Vou alegre pintando o sete. Com a turma na folia. Dando tiros de confete. Alô, alô, alô papai. Alô mamãe. Põe a vitrola prá tocar. Podem soltar foguetes. Que eu passei no vestibular. Eu agora não me iludo. Estou com a cuca controlada. Já não sou mais cabeludo. Estou de cabeça raspada. Tudo agora é alegria. Vou alegre pintando o sete. Com a turma na folia. Dando tiros de confete. Alô, alô, alô papai. Alô mamãe. Põe a vitrola prá tocar. Podem soltar foguetes. Que eu passei no vestibular. Eu agora não me iludo. Estou com a cuca controlada. Já não sou mais cabeludo. Estou de cabeça raspada. Marcha do Vestibular - Pinduca