Beira 137

Page 1

ISSN 1982-5994

UFPa • aNo XXXi • N. 137 • JUNHo e JULHo de 2017

UFPA: há 60 anos gerando conhecimento e transformando vidas na Amazônia.

Edição comemorativa


1

5

6

UNiVeRsidade FedeRaL do PaRÁ JORNAL BEIRA DO RIO cientificoascom@ufpa.br Direção: Prof. Luiz Cezar Silva dos Santos Edição: Rosyane Rodrigues (2.386-DRT/PE) Reportagem: Amanda Nogueira e Gabriela Bastos (Bolsistas); Rosyane Rodrigues (2.386-DRT/PE) e Walter Pinto (561-DRT/PA). Fotografia: Adolfo Lemos, Alexandre Moraes e Octavio Cardoso Fotografia da capa: Arquivo Editora da UFPA Ilustrações: Priscila Santos (CMP/Ascom) Charge: Walter Pinto Projeto Beira On-line: TI/ASCOM Atualização Beira On-Line: Rafaela André Revisão: Elielson Nuayed, José dos Anjos Oliveira e Júlia Lopes Projeto gráfico e diagramação: Rafaela André Marca gráfica: Coordenadoria de Marketing e Propaganda CMP/Ascom Impressão: Gráfica UFPA Tiragem: Mil exemplares

Reitor: Emmanuel Zagury Tourinho Vice-Reitor: Gilmar Pereira da Silva Pró-Reitor de Ensino de Graduação: Edmar Tavares da Costa Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação: Rômulo Simões Angélica Pró-Reitor de Extensão: Nelson José de Souza Jr. Pró-Reitor de Relações Internacionais: Horacio Schneider Pró-Reitor de Administração: João Cauby de Almeida Jr. Pró-Reitora de Planejamento e Desenvolvimento Institucional: Raquel Trindade Borges Pró-Reitora de Desenvolvimento e Gestão de Pessoal: Karla Andreza Duarte Pinheiro de Miranda Prefeito Multicampi: Eliomar Azevedo do Carmo Secretário-geral do Gabinete: Marcelo Galvão Assessoria de Comunicação Institucional – ASCOM/ UFPA Cidade Universitária Prof. José da Silveira Netto Rua Augusto Corrêa. N.1 – Prédio da Reitoria – Térreo CEP: 66075-110 – Guamá – Belém – Pará Tel. (91) 3201-8036 www.ufpa.br

7


2

3

4

8

60 anos. Além de Belém, são onze campi instalados nos municípios Abaetetuba, Altamira, Ananindeua, Bragança, Breves, Cametá, Capanema, Castanhal, Salinópolis, Soure e Tucuruí, por onde circulam cerca de 60 mil pessoas diariamente. Entre elas, estão 40 mil estudantes da graduação, cerca de 9.100 da pós-graduação, 2.693 docentes e 2.375 técnicos-administrativos. Esse é um raio-x parcial da Universidade Federal do Pará em números, mas a Universidade vai além dos números presentes nos relatórios. Aonde chega e instala-se, a UFPA cria laços com a população local e todos se sentem um pouco “dela”, porque nela trabalham, estudam, circulam ou usufruem de algum serviço prestado. A UFPA é a única a quem todos chamam “Universidade”. Esta edição celebra essa trajetória de seis décadas formando pessoas, realizando sonhos e transformando vidas na nossa região. As próximas páginas trazem história, memória, políticas de inclusão, ações afirmativas, propriedade intelectual e assistência estudantil, e outras pautas que justificam ser a UFPA a referência de universidade na Amazônia.

Rosyane Rodrigues Editora

9

Nesta Edição UFPA: sessenta anos .......................................................4 O percurso da Universidade Livre à Federal ..........................5 Publicações de qualidade . ..............................................6 Reconhecer e corrigir as desigualdades ................................8 Qual o seu legado para a UFPA? ...................................... 10 Propriedade Intelectual é destaque .................................. 12 A nova assistência estudantil . ........................................ 14 UFPA confirma liderança no Norte .................................... 16 Intercâmbios e outras experiências .................................. 18 De repente, 60 anos .................................................... 19

Campus de Altamira (1). Estudantes africanas (2). Cena do Auto do Círio (3). Processo Seletivo para povos indígenas (4). Prédio da Reitoria - Campus Guamá (5). Laboratório de Qualidade do Leite (6). Vista aérea da UFPA em 2011 (7). Malote com listão dos aprovados no Processo Seletivo de 2017 (8). Centro de Eventos Benedito Nunes (9). Fotos: Alexandre Moraes


4-

Beira

do

Rio

-

Junho e Julho, 2017

Opinião Octavio Cardoso

UFPA: sessenta anos

A

criação, há sessenta anos, da Universidade do Pará, mais tarde Universidade Federal do Pará, foi possivelmente uma das iniciativas de maior impacto para o desenvolvimento da Amazônia na segunda metade do século XX. No início, reuniram-se sete faculdades isoladas, então ocupadas basicamente com a oferta de formação graduada. Nas décadas seguintes, esse embrião deu origem a uma instituição robusta, voltada ao ensino, à pesquisa e à extensão, com atuação destacada na produção de conhecimento científico e tecnológico na região e capilaridade em todo o Estado do Pará. Estruturar-se como instituição multicampi foi certamente um dos maiores desafios e um dos mais exitosos projetos da UFPA nestas seis décadas. Ainda que muitas dificuldades estejam por ser vencidas, é indiscutível o sucesso alcançado, seja com a consolidação dos campi, seja com o desmembramento de alguns deles para a criação de novas universidades, que agora também multiplicam as suas ações e alcançam parcelas maiores de jovens interessados em acessar a educação superior. A abrangência e a qualidade das atividades acadêmicas da UFPA, na graduação e na pós-graduação,

Alexandre Moraes

propiciam, a um mesmo tempo, reconhecimento e responsabilidade. É inequívoco o impacto do trabalho da Instituição em todos os setores da sociedade paraense, nos governos, nas organizações, nas atividades econômicas e nas lutas sociais. É também indiscutível a enorme expectativa de que a UFPA avance na sua relação com esses mesmos atores, estendendo, cada vez mais, a sua competência aos espaços em que se buscam soluções para os problemas cotidianos da população. Nas próximas décadas, a excelência e a repercussão da atuação da UFPA demandarão avanços que incluam um novo salto qualitativo no ensino, na pesquisa e na extensão, além de uma interação mais intensa com a sociedade. Resultado de políticas continuadas de várias gestões, o desempenho acadêmico e científico da UFPA evoluiu positivamente nas seis décadas de sua história. Mas a vocação para a liderança - não apenas regional - da Instituição requer novas conquistas. É preciso reconfigurar o ensino de graduação para torná-lo mais estimulante às e aos discentes e mais eficiente na promoção de habilidades que capacitem para enfrentar os problemas do mundo contemporâneo; uma formação para conceber e executar

projetos inovadores com autonomia, para trabalhar em ambientes multi ou interdisciplinares e para assumir compromissos com o avanço da cidadania no País. A internacionalização da Instituição, em particular por meio da cooperação científica e da mobilidade bidirecional de discentes e pesquisadores, precisará ser incrementada, a fim de integrar definitivamente a UFPA ao universo das mais importantes instituições universitárias dos vários continentes. Sintonizada com a realidade econômica e social da Amazônia, caberá à UFPA fazer chegar aos espaços não acadêmicos a sua expertise científica e tecnológica, promovendo a inovação como estratégia para incrementar o ambiente econômico, em favor da geração de riqueza e de renda para a população paraense. Com a mesma diligência, será necessário expandir as experiências de inclusão social, reconhecer e valorizar a diversidade, combater a discriminação e a violência de modo permanente. O patrimônio acadêmico, cultural e intelectual acumulado pela UFPA ao longo de sua história tem sido o produto da dedicação individual e coletiva de muitas gerações de professoras e professores, alunas e alunos, técnicas e técnicos, além de parceiros na sociedade – organizações, governos e atores sociais diversos. Seu legado é uma instituição consolidada, capaz de impulsionar e contribuir, de modo incomparável, para um futuro de conquistas sociais e avanços civilizatórios em nossa região. Que as próximas décadas sejam de enriquecimento deste que é o mais bem-sucedido empreendimento humano e social na construção de uma sociedade inclusiva e solidária na Amazônia! Que a Universidade Federal do Pará tenha vida longa e continuado sucesso em sua missão de servir ao projeto de uma nação justa e soberana! Emmanuel Zagury Tourinho – Reitor da Universidade Federal do Pará. E-mail: reitor@ufpa.br


Junho e Julho, 2017

-

Beira

do

Rio

-5

História

O percurso da Universidade Livre à Federal Do sonho de um grupo de intelectuais ao crescimento atual Walter Pinto

A

ideia de universidade na Amazônia tem bem mais que 60 anos. Vem desde 1924 quando um grupo de intelectuais paraenses, formado por Inácio Moura, Camilo Salgado, Elias Viana, Jaime Aben-Athar e Henrique Santa Rosa, entre outros, passou do sonho à ação e criou a Universidade Livre do Pará. Calcada em modelo europeu, era uma instituição livre, voltada à formação ampla, humanizante, mas de caráter científico e multidisciplinar. O regime pedagógico de aulas seriadas adotado nas cinco faculdades existentes em Belém, à época, seria substituído por palestras,

conferências e cursos avulsos. As reuniões preparatórias da Universidade Livre foram realizadas na sede do Grêmio Literário Português. O ato formal de abertura dos cursos, porém, realizou-se no Theatro da Paz, em 15 de junho de 1924. Em que pese a validade da iniciativa, essa experiência não chegou a se concretizar de forma efetiva, mas expressou uma inquietação intelectual por um novo a m b i e n t e a ca d ê m ic o q u e privilegiasse o livre debate das ideias. Teriam que se passar 33 anos até que uma nova universidade surgisse no Pará. Segundo o geógrafo e escritor Eidorfe Moreira, o passo mais

importante para se fundar a Universidade foi, sem dúvida, a federalização das Faculdades de Medicina, Direito e Farmácia, em funcionamento em Belém. Coube ao deputado federal Epílogo de Campos apresentar à Câmara dos Deputados o Projeto de lei nº 2.268-52, de 4 de agosto de 1952, dispondo sobre a criação da nova universidade. Em 2 de julho de 1957, após ampla tramitação do projeto no Congresso, o presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira assinou a Lei nº 3.191 criando a Universidade do Pará, ainda sem o “Federal” que faz, hoje, parte de seu nome. No início, a UFPA encampou as faculdades es-

taduais e as incorporadas pelo Ministério da Educação, que funcionavam em prédios distintos na cidade de Belém. Sessenta anos depois, a UFPA consolidou-se como uma das mais importantes instituições acadêmicas e científicas do Brasil. Contribui decisivamente com o desenvolvimento econômico, social e cultural da Amazônia, formando profissionais em diversas áreas, produzindo saberes, pesquisas e tecnologias inovadoras. Em 2017, a UFPA está em 77 municípios por meio de uma rede de campi, cujo desenvolvimento nas últimas três décadas proporcionou a criação de duas novas universidades federais.

Cerca de 61 mil pessoas circulam pelos 12 campi Com sede no Campus Universitário Professor José da Silveira Netto, homenagem ao reitor que fundou o antigo Núcleo Pioneiro do Guamá, em Belém, a UFPA possui campi instalados nos municípios Abaetetuba, Altamira, Ananindeua, Bragança, Breves, Cametá, Capanema, Castanhal, Salinópolis, Soure e Tucuruí, além do campus em Belém. Os campi atuam como polos regionais, catalisando para si estudantes, professores e pesquisadores dos municípios circunvizinhos.

Por essa malha de campi universitários, circula uma população em torno de 61 mil pessoas. Elas constroem a vida acadêmica, seguindo os princípios que norteiam a Instituição: a universalização do conhecimento; o respeito à ética e à diversidade étnica, cultural e biológica e de gênero; o pluralismo de ideias e de pensamento; o ensino público e gratuito; a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão; a flexibilidade de métodos, critérios e procedimentos acadêmicos; a excelência aca-

dêmica; a defesa dos direitos humanos e a preservação do meio ambiente. A UFPA é constituída por 14 institutos; sete núcleos; 36 bibliotecas universitárias; dois hospitais universitários e uma escola de aplicação. Segundo o Anuário Estatístico de 2016, ano-base 2015, elaborado pela Pró-Reitoria de Planejamento, o ensino de graduação alcançou a marca de 40.275 estudantes. O universo docente é formado por 2.693 docentes. Desde 2011, o número de

servidores técnico-administrativos permanece com poucas alterações, alcançando 2.375 em 2015. Atualmente, a Universidade Federal do Pará oferece cursos de graduação em 89 áreas, possui 86 Programas de Pós-Graduação (PPGs) credenciados na Capes, que oferecem 40 Doutorados, 58 Mestrados Acadêmicos e 23 Mestrados Profissionais. Na ilustração, o engenheiro e arquiteto Alcyr Meira e o professorJosé da Silveira Netto, fundadores do campus da UFPA.


6-

Beira

do

Rio

-

Junho e Julho, 2017

Ed.ufpa

Publicações de qualidade Com obras inéditas e reedições, editora promove a excelência acadêmica Walter Pinto

Q

A Coleção Diálogos de Platão é um dos grandes sucessos da nova fase.

uando a Universidade Federal do Pará publicou, em 1963, os dois volumes de História do Pará, o historiador Ernesto Horácio da Cruz já era um autor consagrado. Havia publicado 23 livros, entre os quais reluziam os premiados Procissão dos séculos (1952) e Estrada de Ferro de Bragança (1955). Aliás, o próprio História do Pará, publicado pela UFPA, acrescentaria mais um prêmio à carreira de Ernesto Cruz, o Dom Macedo Costa, concedido pela Assembleia Legislativa do Pará. A Universidade não tinha uma editora, mas o reitor José da Silveira Netto deu o apoio necessário para que História do Pará fosse publicado na Imprensa Nacional, no Rio de Janeiro. Eis aí a gênese da história editorial da UFPA, um começo assinalado por uma marca

de qualidade, a Coleção Amazônica, da qual o 24º livro de Ernesto Cruz se tornou obra inicial. Segundo o historiador Artur Cezar Ferreira Reis, a Coleção Amazônica foi “imaginada pelo reitor, que teve a bondade de confiar-me para coordená-la utilizando um planejamento que permite a edição e reedição do que é fundamental para o conhecimento do ontem e do hoje, da terra e dos homens paraenses”. Isso posto, criou-se a Série José Veríssimo, selo indissociável da coleção, coordenado pela professora Maria Anunciada Chaves, e deu-se início à editoração do que se entendeu por “fundamental para o conhecimento do ontem e do hoje, da terra e dos homens paraenses”. Até então, a Coleção Amazônica, criada na gestão de José da Silveira Netto (1960 - 1969), reorganizada e ampliada na gestão de Aloysio Chaves (1969 - 1973),

por meio da Resolução Nº 31, de 8 de julho de 1971, era a única linha geral de publicação da Editora. A Coleção Amazônica cumpriu o importante papel de reeditar obras raras, esgotadas e títulos inéditos sobre a Amazônia, em diferentes áreas do conhecimento. Embora tenha cumprido esse papel importante, por meio da Coleção Amazônica e dos muitos livros que editou nas décadas seguintes, a UFPA conviveu com os dois principais problemas enfrentados pelas editoras universitárias brasileiras, apontados por Plínio Martins Filho, editor-presidente da Edusp por 25 anos: “a inexistência de uma política editorial consistente e de um sistema de seleção orientado por critérios claros e objetivos”. No entanto, ainda segundo Martins Filho, essas dificuldades não impediram as editoras universitárias de caminhar. Fotos Alexandre Moraes


Junho e Julho, 2017

-

Beira

do

Rio

-7

Processo de modernização teve início em 2009 A partir de julho de 2009, no reitorado de Carlos Maneschy, a Editora da UFPA deu início ao reordenamento de suas bases de funcionamento, sob a direção de Simone Neno. O trabalho de renovação vem sendo desenvolvido em duas frentes. Numa, busca-se dinamizar a interação de forma mais eficiente e profissional com os pesquisadores e potenciais autores, responsáveis diretos pelas contribuições intelectuais da Universidade à sociedade; na outra, busca-se modernizar e tornar mais ágeis os processos de gestão. Desta forma, desenvolveu-se uma nova política editorial integrada aos objetivos institucionais de promoção da excelência acadêmica. Buscou-se também maior eficiência na divulgação e na comercialização das obras. Em 2010, ocorreu a formalização da operação de venda com a implantação da nota fiscal e a opção de venda por meio de cartão de crédito. Além da constituição de um novo Conselho Editorial, integrado por pesquisadores de várias áreas do conhecimento, a ed.ufpa, novo nome adotado para a editora, também redefiniu e modernizou as linhas de publicação.

Com a reformulação das linhas editoriais, Diálogos de Platão, o mais importante empreendimento editorial da ed.ufpa, que integrava a Coleção Amazônica (Série Farias Brito), passou à condição de coleção própria, ganhou edição revisada e bilíngue. Nove dos 18 volumes já foram publicados. Em 2015, também foi criada a Coleção Max Martins Poesia Completa, que reeditará a obra desse grande poeta paraense. Dos planejados onze volumes (sendo um deles inédito), sete já foram publicados, dois deles já na gestão do reitor Emmanuel Tourinho, que, assim, dá seguimento ao projeto, assegurando-o até a sua conclusão, prevista para 2019. Além da Coleção Diálogos de Platão, foram criadas 17 séries, dirigidas a públicos variados, sobre assuntos diversos, de interesse acadêmico e cultural. A série Amazônica foi mantida com o seu objetivo original. A preocupação com a memória da região e da Instituição suscitou a criação das séries Memória da Amazônia e Memória da UFPA, a primeira tem por objetivo promover o debate sobre a construção social da memória da região; a segunda traz trabalhos dedicados ao registro histórico e visual do percurso e das realizações da UFPA.

Novo catálogo traz livros premiados, inéditos e reedições O novo catálogo da ed.ufpa traz duas obras vencedoras do Prêmio Benedito Nunes, criado pela UFPA como estímulo à produção intelectual de pesquisadores das áreas de Humanidades, Letras e Artes: Tramas do cotidiano: religião, guerra e negócios no Grão-Pará dos setecentos, de José Alves de Souza Júnior (2012), e Antropologia e filosofia: experiência e estética na literatura e no cinema da Amazônia, de Relivaldo Pinho (2015). Dois finalistas do Prêmio Jabuti de 2013 e 2014 estão no catálogo de livros editados pela ed.ufpa. São eles: A questão da habitação em municípios periurbanos na Amazônia, organizado por Joana Valente, Anna Carolina Holanda e

Aldebaran Farias de Moura, e Psicologia e políticas sociais: temas em Debate, organizado por Isabel Oliveira e Oswaldo Yamamoto. Duas obras não ficcionais de José Saramago, inéditas no Brasil, foram publicadas em coedição com a Fundação José Saramago: Da Estátua à Pedra e Discursos de Estocolmo, e Democracia e Universidade. Conflitos sociais e a formação da Amazônia, de Marianne Schmink e Charles Wood, que se constitui no maior sucesso editorial da ed.ufpa depois de Diálogos de Platão, será reeditado até o final de 2017. O livro traz apresentação de Lúcio Flávio Pinto e realiza uma interpretação inteiramente nova sobre o triângulo formado por

Marabá, Conceição do Araguaia e São Félix do Xingu, áreas tradicionalmente marcadas por conflitos de terra. Programado para ser publicado em 2018, há o inédito de Vicente Salles, Traços & troças: o desenho de crítica e humor no Pará. A ed.ufpa também prepara as reedições de Cabanagem – a revolução popular da Amazônia, de Pasquale Di Paolo, e do clássico Motins Políticos, de Domingos Antônio Rayol, ambas organizadas pela historiadora Magda Ricci. O livro de Rayol ganhará uma edição revista, em cinco volumes e com elaboração de um novo sumário mais direto e preciso para a localização imediata dos temas de cada capítulo.

A Coleção Max Martins Poesia Completa será concluída em 2019.


8-

Beira

do

Rio

-

Junho e Julho, 2017

Inclusão

Reconhecer e corrigir as desigualdades UFPA é pioneira em adotar as ações afirmativas Walter Pinto

N

a UFPA, a política de inclusão teve início oficialmente em agosto de 2005, quando o Conselho Superior de Ensino, Pesquisa e Extensão aprovou a reserva de 50% das vagas do Processo Seletivo para pessoas oriundas de escolas públicas. Desse percentual, 40% para candidatos autodeclarados negros. Apesar de vigorar somente três anos depois, foi aquela a primeira ação afirmativa instituída numa universidade pública na Amazônia. Tomamos aqui o conceito de ações afirmativas como um conjunto de medidas cujo objetivo é eliminar desigualdades historicamente acumuladas. Passados doze anos, as ações afirmativas muito se expandiram na UFPA, contemplando outros segmentos vulneráveis. Naquele mesmo ano em que o sistema de cotas foi criado, 2005, o Programa de Pós-Graduação em Direito reservou vagas para pessoas com deficiência, negros

e povos indígenas. Um notável avanço, sem dúvida. Em 2008, foi a vez do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais reservar vaga especificamente para povos indígenas. As ações afirmativas, aos poucos, promoveram o acesso e consolidaram uma política de inclusão. O ano de 2009 foi de significativos avanços, começando pela criação do Programa de Bolsa Permanência de auxílio financeiro a estudantes de graduação em situação de vulnerabilidade socioeconômica. Em junho daquele ano, o Consepe aprovou a reserva de duas vagas a indígenas em todos os cursos de graduação, por acréscimo e via seleção diferenciada, em qualquer campus. Foi este um dos últimos atos do reitor Alex Fiúza de Melo. Em julho de 2009, teve início a gestão do reitor Carlos Edilson Maneschy. Duas semanas depois, ele assinou a resolução que reservou uma vaga, por acréscimo, em todos os cursos de graduação, de qualquer

campus, a pessoas com deficiência (PcD), medida que passou a vigorar em 2011. Ainda em 2009, a UFPA aprovou a criação do curso de Licenciatura e Bacharelado em Etnodesenvolvimento, voltado exclusivamente para povos tradicionais e indígenas, no Campus de Altamira. A primeira seleção aconteceu em 2010, sendo aprovados 45 candidatos, dos quais “13 quilombolas, 17 agricultores, quatro negras do movimento de mulheres e duas ribeirinhas de comunidade de pescadores”, conforme relatam Beltrão e Maués, no estudo “Das ações afirmativas na Universidade Federal do Pará”, de 2013. Em 2010, foram também reservadas vagas para povos indígenas no Programa de Pós-Graduação em Antropologia. No ano seguinte, foi a vez dos quilombolas terem garantido reserva de duas vagas em cursos de graduação, possibilitando acesso, em 2012, da primeira turma de quilombolas, formada por 47 alunos.

Profissionais especializados para cada público

Na página ao lado, alunas da UFPA durante a oficina de turbantes realizada na programação do Dia Mundial da África.

Garantir o acesso dos grupos vulneráveis foi um passo importante na consolidação das políticas inclusivas. Mas logo se concluiu que era preciso garantir a permanência dos estudantes em seus cursos. Neste sentido, a criação do Núcleo de Inclusão Social (NIS), em 2012, unidade inicialmente vinculada à Pró -Reitoria de Ensino de Graduação, veio ao encontro desse objetivo. Até o ano de 2015, o foco principal de atendimento do NIS eram as pessoas com deficiência, afrodescendentes e indígenas. A partir de 2016, o NIS concentrouse prioritariamente nas pessoas com deficiência (PcD) “no intuito de garantir, com mais qualidade, a acessibilidade para esse grupo que se tornou crescente na UFPA,

além de apoiar e orientar pedagogicamente alunos com Transtornos Globais do Desenvolvimento e Superdotação/Altas habilidades”, explica Arlete Marinho Gonçalves, coordenadora de Acessibilidade, da Superintendência de Assistência Estudantil (Saest). Desde o primeiro acesso de alunos pela política de cotas PcD até o último processo seletivo, a UFPA registrou o ingresso de 463 alunos com vários tipos de deficiência. Em 2016, em decorrência do crescimento desse público, desencadeou-se a necessidade de ampliar ações e criar programas para fortalecer e potencializar a acessibilidade na UFPA, garantindo, de fato, a inclusão e a permanência daquele público. Em 2017 o traba-

lho com PcD foi incorporado pela Coordenadoria de Acessibilidade, enquanto a ação com afrodescendentes e indígenas ficou a cargo da Assessoria de Diversidade e Inclusão Social. A Coordenadoria de Acessibilidade conta com o apoio de uma equipe de profissionais especializados para cada público. Esse atendimento perpassa pelo apoio técnico (transcritores braile, revisores braile, audiodescritores, intérpretes de libras, psicopedagogos, pedagogos, terapeutas ocupacionais e outros que possam desenvolver a acessibilidade do aluno com deficiência); além de apoio pedagógico e psicopedagógico para o atendimento individualizado de cada aluno, entre outras ações.


Junho e Julho, 2017

-

Beira

do

Rio

-9

Assessoria garante que as ações atravessem a Universidade A Assessoria de Diversidade e Inclusão Social, um dos mais novos órgãos da UFPA, tem por objetivo propor, planejar e coordenar políticas de ação afirmativa dentro da Instituição, de forma que “todas as ações e os projetos da Universidade contemplem aquelas políticas, seja voltada para negros, seja para indígenas, seja para pessoas com deficiência, seja para os demais sujeitos que necessitem de política de ação afirmativa”, explica a coordenadora Zélia Amador de Deus. Segundo a coordenadora, todos os programas da UFPA carecem ser atravessados pelas políticas de ação afirmativa. “Até agora, existe política de ação afirmativa de acesso e permanência nos cursos de graduação e em alguns cursos

da pós-graduação, mas isso por interesse deste ou daquele grupo”, avalia. Para Zélia Amador, “a inclusão não é uma concessão para dar acesso a alguns grupos. Na verdade, os grupos têm que entrar porque são necessários à universidade. A inclusão deve ser entendida como uma via de mão dupla, por meio da qual os grupos historicamente fora da universidade, ao entrarem, trazem consigo a sua bagagem. A Universidade, ao assimilar essa bagagem, amplia o seu próprio horizonte de conhecimento”. Casa Brasil-África – Por iniciativa do grupo de Estudos Afro-Amazônicos (GEAM), forjado no cenário internacional de lutas do movimento negro con-

tra o preconceito e o racismo, a Casa Brasil-África (CBA) foi institucionalizada na UFPA em 2006. Segundo Hilton Pereira da Silva, coordenador da Casa, até então, havia pouca visibilidade sobre os estudantes africanos e a realidade vivenciada por eles na UFPA. Atualmente, existe cerca de uma centena de estudantes africanos na UFPA. Os problemas que enfrentam, entre os quais o acolhimento institucional, a adaptação, as dificuldades com a língua portuguesa e as situações de vulnerabilidade socioeconômicas eram quase desconhecidos na UFPA. “A CBA passou a contribuir institucionalmente com a reflexão de que não basta ofertar as vagas para estudantes estrangeiros, é necessário

pensar em como a Instituição auxiliará para o sucesso de suas formações”, ressalta o coordenador. A CBA, vinculada à Pró -Reitoria de Relações Internacionais (Prointer), tem por finalidade, entre outras, promover o intercâmbio científico, técnico e cultural entre a UFPA, instituições e sociedade civil dos países do continente africano. A Casa também apoia os estudantes africanos e afrodescendentes em suas atividades acadêmicas e culturais na UFPA e busca fomentar sua participação em todos os espaços institucionais, além de propiciar às comunidades quilombolas um espaço de intercâmbio entre Universidade, sociedade civil organizada e suas demandas. Alexandre Moraes


10 -

Beira

do

Rio

-

Junho e Julho, 2017

Qual o seu legado para a UFPA? Rosyane Rodrigues

A

partir dessa pergunta, os ex-reitores da UFPA do período de 1985 a 2016, José de Seixas Lourenço, Nilson Pinto de Oliveira, Marcos Ximenes Pontes, Cristovam Wanderley Picanço Diniz, Alex Bolonha Fiúza de Mello e Carlos Edilson de Almeida Maneschy, relembraram as suas trajetórias dentro da Universidade e registraram o que acreditam ter sido as maiores contribuições de seus reitorados. Desde a sua criação em 1957, pela Universidade Federal do Pará já passaram 12 reitores. Além dos seis citados acima, também comandaram a UFPA: Mário Braga Henriques (1957-1960), José Rodrigues da Silveira Netto (1960-1969), Aloysio da Costa Chaves (1969-1973), Clóvis Cunha da Gama Malcher (1973-1977), Aracy Amazonas Barreto (1977-1981) e Daniel Queima Coelho de Souza (1981-1985). Orgulho e honra por terem as suas trajetórias atreladas à história da UFPA são os pontos em comum entre os depoimentos de Seixas, Nilson, Ximenes, Cristovam, Alex e Maneschy. Cada um esteve à frente da Universidade em diferentes momentos da história do Brasil, viveram conjunturas políticas e econômicas particulares. Nesta edição, eles dizem como enfrentaram os desafios impostos pelo seu tempo.

Em julho de 1985, comecei o meu mandato como reitor da UFPA, cujas raízes, pela primeira vez na história de nossa Universidade, brotaram da manifestação da comunidade acadêmica, com a inauguração de uma fase em que o processo de democratização iria consolidar-se, ganhando espaços e estimulando a vocação participativa

Alexandre Moraes


Junho e Julho, 2017

-

Beira

do

Rio

- 11

Depoimentos de quantos integram a Universidade. A rota foi marcada, sobretudo, por dois impulsos que simbolizam e resumem a caminhada da Instituição. O primeiro impulso foi o Projeto de Interiorização promovendo o alargamento do espaço acadêmico em direção às comunidades interioranas. Esse foi meu legado mais importante para a UFPA, pois nossos campi se tornaram os principais polos de crescimento da Universidade. O segundo impulso foi o da convocação dos países amazônicos para compor uma aliança fecunda, nunca antes intentada, para o exercício de uma responsabilidade solidária em defesa da Pan-Amazônia. Com a liderança da UFPA e o apoio da Unesco e da OEA, foi, então, criada a Associação de Universidades Amazônicas (UNAMAZ). Registro, entre os momentos gratificantes de minha atuação como reitor, a participação consciente e amadurecida de professores, alunos e funcionários, nos assuntos de interesse de todos. Destaco, também, o reconhecimento que tivemos das comunidades, paraense e amazônica. José de Seixas Lourenço (1985-1989) Fui reitor da UFPA num período de alta efervescência política, associada à redemocratização do País, e de caos econômico, marcado pela hiperinflação e por sucessivos planos de estabilização malsucedidos. Em 1989, a UFPA era uma universidade de porte médio, que lutava para sustentar bases precárias implantadas no interior e para se afirmar no contexto acadêmico nacional. Esforço coletivo e parcerias ajudaram a consolidar os campi, expandir a graduação, ampliar a qualificação docente, multiplicar os programas de mestrado e doutorado, aprofundar a prática interdisciplinar e a avançar na produção científica e artística. Em 1993, a UFPA estava em acelerado processo

de crescimento quantitativo e qualitativo. Na Reitoria, aprendi que a universidade tem sentido e futuro quando é plural, aposta no mérito, cultiva sua capacidade crítica e recusa o atrelamento a governos e ideologias e a submissão a pactos de mediocridade. Nilson Pinto de Oliveira (1989-1993) Participei intensamente da vida da UFPA, onde encontrei um espaço acolhedor para exercer atividades acadêmicas em todos os níveis do ensino e contribuir administrativamente para sua consolidação. Isso ocorreu de 1969, quando ingressei como aluno, até a aposentadoria, em 2009. Ainda como aluno, fui monitor de Fisica e professor secundarista no NPI. Quando concluí a graduação em 1973, fui para o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), no qual concluí o mestrado e o doutorado em Engenharia. Em 1977, mediante concurso, ingressei na carreira docente no Curso de Engenharia Mecânica. Tive uma vida acadêmica intensa, atuando na graduação e na pós-graduação, coordenando pesquisas e orientando alunos. Também exerci atividades administrativas. Fui diretor executivo da Fadesp, pró-reitor de Administração e reitor, numa época em que a Universidade foi intensa na formação dos seus quadros, na consolidação de grupos de pesquisa e de seus compromissos com a sociedade. Conheci diversas universidades e não tenho receio em afirmar que a UFPA é a universidade brasileira que mais ousou em atender às demandas da sociedade. Tenho muita honra em ter dedicado a minha vida profissional à Universidade Federal do Pará. Marcos Ximenes Pontes (1993-1997) Uma das dificuldades mais severas a ser contornada pelas universidades na Ama-

zônia é a baixa densidade de grupos de docentes-pesquisadores na região. Isso impede a expansão de programas de pesquisa e pós-graduação locais e inviabiliza o financiamento da produção de conhecimento novo, um dos pilares essenciais para o desenvolvimento sustentado da região. Considero o estímulo à formação de recursos humanos por meio da capacitação docente e técnica a maior contribuição feita durante minha atuação como gestor. Desenhamos, em parceria com a Capes, os programas interinstitucionais de mestrado e doutorado, acelerando a capacitação, implementando programas de fixação dos grupos de docentes pesquisadores por meio do Projeto Norte de Pesquisa e Pós-Graduação. Essas ações foram expandidas para os campi do interior, que passaram a ter autonomia financeira e a incluir a produção de conhecimento como parte de sua missão. Estimulamos a integração das atividades fim da Universidade e inauguramos a interiorização dos Programas de Residência Médica. Devo à UFPA de tempos difíceis a alegria indescritível de ter contribuído para a expansão do maior investimento humano da Amazônia brasileira. Cristovam Picanço Diniz (1997-2001) A Reitoria da UFPA me proporcionou, sobretudo, uma maior compreensão do universo acadêmico, suas virtudes e limitações; a percepção de que o corporativismo, hoje, é a maior ameaça à renovação da instituição; a oportunidade de frequentar (inclusive como protagonista) instâncias do Estado brasileiro e observar como o jogo de interesses ali se materializa; o aprofundamento da minha visão do Pará (graças à interiorização) e a certeza da relevância do papel de nossa universidade para o desenvolvimento do Estado.

Quanto ao “meu” legado à Instituição, prefiro usar a primeira pessoa do plural (já que uma gestão é, sempre, um trabalho coletivo). Destaco os principais desafios vencidos: a reforma do Estatuto e do Regimento Geral; a ampliação e consolidação dos programas de pós-graduação (que triplicaram); a concepção, o planejamento e a operacionalização do conceito de “Universidade Multicampi” (que deu substrato à atuação do REUNI) e a criação da Ufopa - além do encaminhamento, ao MEC, do projeto da Unifesspa (que se efetivou em seguida). Alex Bolonha Fiúza de Mello (2001-2009) Assumir a Reitoria da UFPA constituiu-se em uma experiência que trouxe honra e orgulho sem par em minha trajetória de vida. Exercer essa função de tamanha grandeza, com seus desafios e complexidade inerentes, permitiu-me acumular informações, conhecimento e vivência prática em um leque abrangente de temas que vão da gestão pública à política e, mais do que tudo, reafirmou em mim o valor da tolerância como elemento fundamental das relações humanas. No período à frente da Reitoria, nossa equipe promoveu diversos avanços. Destaco entre eles o processo significativo de inclusão social, refletido na ampliação da oferta de vagas e de cursos pelo interior, aumento de matrículas de alunos de baixa renda e ingresso diferenciado a pessoas com deficiência. A reconhecida expansão da qualidade das atividades de pesquisa e pós-graduação, o investimento na qualificação de servidores e a grande melhoria na infraestrutura física também compõem o legado que permitiu à UFPA ascender a posições de destaque nas mais diferentes avaliações institucionais. Carlos de Almeida Maneschy (2009-2016)


12 -

Beira

do

Rio

-

Junho e Julho, 2017

Inovação

Propriedade Intelectual é destaque Universidade possui bons números no cenário nacional Fotos Alexandre Moraes

Professora Edilene Oliveira no laboratório de Biologia Estrutural, no qual foi desenvolvida a pesquisa do bioproduto com ação leishmanicida.

Gabriela Bastos

A

ITEC 68 ICS 33 ICED 1 ICB 13 ICEN 17 Número de patentes depositadas por instituto

o longo de seus 60 anos, a Universidade Federal do Pará cresce e destaca-se no cenário nacional. De acordo com o Ranking Universitário da Folha (RUF 2016), avaliação anual do ensino superior no País, realizada pelo jornal Folha de São Paulo, a UFPA ficou na 24ª posição na categoria de inovação entre 195 instituições analisadas. A boa avaliação e a obtenção de patentes nacionais e internacionais indicam o alto nível de produção intelectual da UFPA. As patentes funcionam como mecanismo de proteção intelectual e título de propriedade temporária, que são dados a uma Invenção ou a um Modelo de Utilidade que garante ao titular/inventor a exclusividade sobre a invenção. Esse mecanismo funciona por certo período em um determinado território. Com a concessão da patente, o inventor/detentor pode impedir que terceiros reproduzam ou coloquem à venda o processo ou produto obtido. Esse título permite a obtenção de retorno financeiro como o licenciamento autorizando que empresas possam fabricar e comercializar o bem.

O direito à patente é concedido pelo governo federal por meio do Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI), criado em 1970. O INPI é responsável pela gestão e disseminação do sistema brasileiro de concessão e garantia de direitos da Propriedade Intelectual para a Indústria. Os pedidos de patente da UFPA são encaminhados à Agência de Inovação Tecnológica (Universitec), que, após análise prévia de viabilidade do depósito, direciona os processos de pedidos à Coordenadoria de Propriedades Intelectuais (CPINT), em que ocorrem a orientação, as instruções e o depósito, bem como o acompanhamento dos pedidos realizados pela Universidade. A responsável pelo setor, Rosangela Cavaleiro, explica que o papel da Coordenadoria é orientar os pesquisadores sobre a importância da proteção de suas invenções. “Procuramos ir aos institutos explicando o porquê de se proteger uma invenção, esclarecemos todos os passos para um pedido de depósito ou registro, os requisitos necessários para requerer uma patente, como elaborar uma redação de patente e o que deve conter no

relatório descritivo, nas reivindicações, no resumo e nos desenhos/ figuras, com base na legislação e Instruções Normativas do INPI”, explica. Segundo Rosangela Cavaleiro, é patenteável a invenção que atenda aos requisitos de novidade, atividade inventiva e aplicação industrial. A validade de uma Patente de Invenção é de 20 anos, contados da data de depósito. Já a Patente de Modelo de Utilidade deve apresentar o objeto de uso prático, ou parte deste, suscetível de aplicação industrial, que apresente nova forma ou disposição de um objeto já existente, que envolva um ato inventivo e tenha resultado em melhoria funcional no seu uso ou no seu processo de fabricação, sua validade é de 15 anos, a contar da data de depósito. Por fim, o Certificado de Adição de Invenção é a proteção do aperfeiçoamento ou desenvolvimento introduzido no objeto da invenção já depositado, mesmo que destituído de atividade inventiva, desde que na matéria conste um conceito inventivo semelhante. O Certificado de Adição é acessório da patente e possui a validade desta.


Junho e Julho, 2017

-

Beira

do

Rio

- 13

Atualmente, a UFPA está requerendo 148 patentes De acordo com Rosangela Cavaleiro, a UFPA requer, no momento, 148 patentes, entre nacionais e internacionais, além de possuir a concessão de nove e a cotitularidade de 36 com outras instituições. Os institutos com o maior número de depósitos de patentes são o Instituto de Tecnologia, com 68 requerimentos; o Instituto de Ciências da Saúde, com 33; seguido pelo Instituto de Ciências Biológicas, com 17 depósitos. Uma das invenções patenteadas é de Regina Feio Barroso e Danielle Emmi, pesquisadoras da Faculdade de Odontologia da UFPA. Elas trabalham em uma linha de pesquisa que busca relacionar produtos da flora amazônica com a aplicabilidade na prevenção da cárie dentária. A primeira delas foi a elaboração

de um evidenciador de placa bacteriana à base de açaí. Segundo Regina Feio, o evidenciador é um produto motivador na higiene bucal. Ela explica que os evidenciadores utilizados em clínicas odontológicas são de corantes sintéticos, ao contrário do produzido pela UFPA, com corante de açaí, que, além de ser natural e não apresentar riscos, se mostrou mais eficaz na revelação da placa. A pesquisa foi realizada em parceria com a Embrapa, e a patente, além de ser concedida no Brasil, foi a primeira concedida à UFPA nos Estados Unidos. Outra patente concedida à Universidade é a da professora Edilene Oliveira Silva, do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) desde 1994. A pesquisa refere-se à utilização de um bioproduto,

com ação leishmanicida, obtido a partir de um metabólito produzido por um fungo filamentoso. O bioproduto apresentou atividade in vitro e in vivo contra o protozoário Leishmania amazonensis, causador da leishmaniose cutânea. A patente foi concedida na África do Sul, nos Estados Unidos e na Europa. Também participaram do estudo os professores Alberdan Silva Santos, Claudio Nahum Alves, do Instituto de Ciências Exatas e Naturais (ICEN), e José Luiz Martins do Nascimento, do ICB. A patente foi resultado de dados obtidos por Ana Paula Drummond Rodrigues, pesquisadora do Instituto Evandro Chagas, durante o seu mestrado e doutorado. Quem trouxe outra patente para a Universidade foi a professora Maria Fani Dolabela,

da Faculdade de Farmácia/ICS. No quadro docente da UFPA desde 2009, ela trabalha com doenças negligenciadas que atingem em especial países em desenvolvimento. A professora pesquisa alternativas terapêuticas para as doenças, com foco na malária, esquistossomose e leishmaniose. A patente concedida a ela foi de um marcador farmacológico presente em uma planta medicinal da Amazônia. O marcador mostrou -se promissor para o tratamento da malária e, segundo a professora, as pesquisas prosseguem, já que o processo de produção de um novo medicamento é lento. Como resultado deve surgir um candidato a fármaco antimalárico. A patente de Fani Dolabela foi concedida na África do Sul.

Propriedade Intelectual protege e garante direitos A Propriedade Intelectual não engloba apenas patente, ela protege as criações intelectuais e proporciona a seus titulares direitos econômicos que ditam a forma de circulação, utilização, comercialização e produção desses bens. A Propriedade Intelectual é referente aos direitos de propriedade do produto de inovações e criações da mente humana, englobando os direitos autorais e a propriedade industrial. Os direitos do autor têm como objetivo assegurar ao autor o direito de criação sobre sua obra. O registro permite o reconhecimento de autoria, especifica direitos morais e patrimoniais e estabelece prazos de proteção para o titular e seus sucessores. Segundo Rosangela Cavaleiro, o Registro de Direitos Autorais acontece em face de um convênio celebrado entre a UFPA e a Fundação Biblioteca Nacional, em que a Universitec/CPINT recepciona as obras autorais, faz os procedimentos necessários e encaminha para registro à Biblioteca Nacional.

Os direitos morais asseguram a autoria da criação intelectual do autor e são irrenunciáveis e intransferíveis. O registro não é obrigatório, porém ele resguarda os direitos para efeitos jurídicos. Os direitos patrimoniais referem-se à utilização econômica da obra, sendo o autor o único responsável por utilizar sua obra criativa ou

permitir que terceiros a utilizem total ou parcialmente. As obras que podem ser protegidas são: antologia, artigo, biografia, conto, desenho, história em quadrinhos, música, tese, entre outras. Em 2016, na UFPA, foram aceitos 231 pedidos de direitos autorais. Até março de 2017, já foram realizados 34 pedidos.

Em 2016, foram aceitos 231 pedidos de direitos autorais.


14 -

Beira

do

Rio

-

Junho e Julho, 2017

Gestão

A nova assistência estudantil Diretoria reinventa-se para ampliar e fortalecer atendimento Walter Pinto

D

Almoço e jantar: diariamente, o Restaurante Universitário serve mais de cinco mil refeições.

urante décadas, para participar de um congresso fora do Pará, muitos estudantes da Universidade Federal do Pará solicitavam ajuda do governo do Estado, porque a Universidade nem sempre podia atender a todos os pedidos. Era um tempo em que o Restaurante Universitário não passava de uma bandeira de luta do movimento estudantil. As universidades públicas federais ressentiam-se de uma política consistente de assistência ao estudante e esbarravam na ausência de dotação orçamentária para aquele fim. Em que pese essas dificuldades, as universidades federais esforçavam-se para amparar os estudantes em situação de vulnerabilidade. Na década de 1960, por exemplo, entre outras ações, a UFPA criou a Casa do Estudante Universitário para hospedar estudantes sem residência em Belém. No início da década de 1990, o

Restaurante Universitário, enfim, deixou de ser uma reivindicação para se tornar uma realidade. A condição para a implantação de uma Política de Assistência Estudantil mais consistente levaria 50 anos para surgir. E veio por meio de uma portaria normativa do Ministério da Educação de 2007, que instituiu o Plano Nacional de Assistência Estudantil (PNAES). As universidades federais passaram a receber verbas orçamentárias específicas para a assistência estudantil. De 2008 a 2016, os recursos do PNAES para a UFPA passaram de R$ 5 milhões para R$ 30 milhões. O Plano foi criado com base em uma demanda identificada nas décadas de 1980 e 1990, por meio de pesquisas realizadas pelo Fórum Nacional de Pró-Reitores de Assuntos Comunitários e Estudantis (Fonaprace) para conhecer melhor o perfil dos alunos das universidades federais. Uma das conclusões foi a de que uma parte do público universitário era

vulnerável socioeconomicamente, apresentando, inclusive, dificuldade de manter-se na universidade. A partir de 2007 o PNAES fortaleceuse mais ainda. Em 2010 a portaria normativa do MEC virou um Decreto Presidencial. O PNAES causou uma profunda transformação na assistência estudantil da UFPA. Em 2007, foi criada a Diretoria de Assistência e Integração Estudantil (DAIE), da Pró-Reitoria de Extensão (Proex). O crescimento das responsabilidades, da abrangência e das ações deixou claro que a DAIE já não cabia numa Diretoria da Proex. A estrutura adotada buscou na experiência da UFRJ o modelo que mais se ajustou à forma organizacional de assistência estudantil praticada na UFPA. Surgiu, assim, a Superintendência de Assistência Estudantil da UFPA (SAEST), com uma estrutura organizada em superintendência, secretaria-executiva, diretoria do Restaurante Universitário e Coordenações de Assistência Estudantil, Integração e Acessibilidade. Alexandre Moraes


Junho e Julho, 2017

-

Beira

do

Rio

- 15

25 mil alunos recebem apoio em todos os campi Adolfo Lemos

Atualmente, a Superintendência de Assistência Estudantil da UFPA (SAEST) atende a 25 mil alunos em situação de vulnerabilidade socioeconômica de todos os campi da UFPA, por meio de auxílios diretos e indiretos. A Coordenadoria de Assistência Estudantil oferece 14 auxílios, garantidos pelo Programa Permanência. Um deles é o Auxílio Moradia, destinado a ajudar o aluno com pagamento de aluguel quando não dispõe de residência. Outro é o Auxílio Emergencial, um subsídio financeiro, com prazo determinado, concedido aos discentes de graduação que, por alguma questão recente e emergencial, não conseguem suprir despesas para a sua permanência na Instituição. Outros benefícios diretos são o Auxílio Estudante Estrangeiro; a Bolsa de Apoio à Atividade Acadêmica; as Bolsas de Iniciação Científica para alunos em condições de vulnerabilidade participarem de projetos de pesquisa; as Bolsas de Monitoria e de Extensão. A Assistência Estudantil também auxilia os estudantes por meio dos infocentros instalados em Belém (Vadião) e em campi do interior, agora equipados com mais 71 computadores, além de nobreaks e notebooks, adquiridos por meio

de Emenda Parlamentar, no valor de R$ 350 mil. Nos infocentros, os estudantes podem realizar pesquisas, acessar a rede mundial de computadores, escrever e imprimir seus trabalhos. A Coordenadoria de Integração Estudantil também trabalha objetivando o bem-estar dos estudantes por meio de programas e ações nas áreas de saúde, psicologia, nutrição, fisioterapia, terapia ocupacional e educação. A Coordenadoria de Acessibilidade, antigo Núcleo de Inclusão Social (NIS), foi criada com o objetivo

Em Belém e no interior, os infocentros garantem infraestrutura para pesquisa e realização de trabalhos.

de garantir, com mais qualidade, a acessibilidade para os alunos com deficiência e para os demais públicos da educação especial matriculados no ensino superior, tais como os portadores de Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD) e de Altas Habilidades (AH). O atendimento subsidiado para estudantes no Restaurante Universitário está sob responsabilidade da Direção do RU, vinculada à SAEST. Diariamente, são oferecidas mais de cinco mil refeições cabendo à Coordenadoria arcar com 99% das despesas alimentares.

Visita domiciliar evidencia situação de vulnerabilidade O superintendente da SAEST, professor José Maia Bezerra Neto, aponta para um novo desafio que a assistência estudantil está se propondo resolver. Trata-se da ampliação do serviço de alimentação, que, durante muitos anos, foi realizado pelo RU somente em Belém. “A natureza multicampi da UFPA nos obriga a ampliar esse serviço. Estamos começando a enfrentar esse desafio pelo Campus de Castanhal, no qual os estudantes da UFPA dispõem de dois refeitórios, um dos quais será totalmente reformado”, informa o superintendente.

Outro desafio já vem obtendo resposta há mais tempo. Trata-se da moradia estudantil, que, durante muitos anos, esteve restrita a Belém. Atualmente, a UFPA oferece moradia para estudantes em situação de vulnerabilidade em Breves, Tucuruí, Castanhal e Altamira, onde o prédio está passando por reforma e ampliação. Os estudantes de Cametá, em breve, também terão a sua residência, informa José Maia. Em Belém, a UFPA constrói, no Campus III, uma moradia, cujas obras tiveram que ser interrompidas por causa de problemas com a construtora. Uma nova

licitação está sendo preparada para contratação da empresa que concluirá a obra. Interessa à SAEST conhecer os alunos beneficiados por seus programas não apenas pela tela do computador. A parceria com as coordenações dos campi possibilita a realização de visitas domiciliares. “Muitas vezes, as visitas evidenciam vulnerabilidades até maiores do que as narradas pelos alunos. Em pequena escala, também encontramos vulnerabilidades menores do que as informadas. Mas, hoje, quase todos os alunos atendidos estão abaixo do limite de renda familiar para obtenção

do auxílio financeiro, que é de três salários mínimos. Uma família grande que vive com três salários mínimos não vive no conforto”, ressalta José Maia. Segundo Maia, a Superintendência trabalha com uma realidade difícil, de vulnerabilidade emocional e financeira, mas o resultado do trabalho é recompensador. Recentemente, José Maia percebeu a beleza desse trabalho quando um aluno pós-graduado pela UFPA lhe disse que só conseguiu chegar até ali porque teve apoio do Programa Estudante Saudável, pôde alimentar-se no RU e teve moradia para ficar.


16 -

Beira

do

Rio

-

Junho e Julho, 2017

Pós-Graduação

UFPA confirma liderança no Norte Universidade oferta 86 Programas de Pós-Graduação Strictu Sensu Adolfo Lemos

Equipamentos de difração e fluorescência de raio-x para análises de caracterização de materiais utilizados pelos alunos da pósgraduação da UFPA.

Walter Pinto Os indicadores da pósgraduação não deixam dúvida quanto ao protagonismo científico da UFPA no Pará e na Região, a qual conta com 86 programas de pósgraduação stricto sensu, o maior número entre as instituições de ensino e pesquisa da Amazônia. São 121 cursos, distribuídos por 40 doutorados, 58 mestrados acadêmicos e 23 mestrados profissionais. De acordo com os resultados da última avaliação trienal da Capes, dois programas de mestrado e de doutorado apresentam nota 6, atribuída a cursos de excelência, com padrão internacional (Genética e Biologia Molecular e Geologia e Geoquímica); cinco apresentam nota 5: Biologia de Agentes Infecciosos e Parasitários; Desenvolvimento

Sustentável do Trópico Úmido; Engenharia Elétrica, História; Psicologia (Teoria e Pesquisa do Comportamento). Um importante aspecto é que a pós-graduação não está apenas na capital. Dos 86 programas da UFPA, 12 estão em campi do interior do Estado, sendo que, em três, há oferta de doutorado: em Bragança (Biologia Ambiental) e em Castanhal (Ciência Animal e Saúde Animal na Amazônia). A maior universidade pública da Amazônia possui 4.142 alunos matriculados no mestrado e 2.166, no doutorado. Entre os indicadores da produção científica de pesquisadores da UFPA, o número de artigos publicados em revistas científicas indexadas vem crescendo progressivamente. Nos últimos cinco anos (2012-2016), foram 4.014 artigos, com 13.646

citações, o que equivale a uma média de 3,4 citações por artigo. Esses dados são obtidos dos principais repositórios de publicações científicas, como o Scopus e o Web of Science, disponíveis no Portal de Periódicos da Capes. Outro importante indicador da relevância da produção científica de uma instituição é o seu número de bolsistas de Produtividade em Pesquisa (PQ) do CNPq. Das 288 bolsas PQ na Região Norte, 187 estão no Pará e, destas, 150 são de pesquisadores da UFPA, números equivalentes a 52% da Região e 80% do Estado. Esses dados podem ser obtidos no Portal do CNPq (http://cnpq.br/bolsistas-vigentes/). Adicionalmente, no resultado do último Edital Universal do CNPq (2016), dos 216 projetos aprovados na Região Norte, 77, cerca de 35%, são da UFPA.


Junho e Julho, 2017

-

Programa de Acompanhamento garante qualidade “Em termos amazônicos, o quadro da pós-graduação da nossa universidade é grande e muito abrangente. A UFPA é a maior instituição pública de ensino e pesquisa da Região, vem formando recursos humanos em diferentes áreas do conhecimento, assim como desempenha, sem dúvida, um importante papel para o contexto regional”, analisa Rômulo Simões Angélica, pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação. “A pós-graduação ainda tem que crescer na UFPA, porque há áreas em descoberto, com grande potencial para abertura de novos cursos”, ressalta. Nos últimos oito anos, o número de cursos de pós-graduação praticamente dobrou na UFPA, passando de 59, no final de 2009, para os atuais 121. “Foi um período muito favorável para nós. Mas, nos

últimos dois anos, já se observa uma diminuição no percentual de cursos novos aprovados pela Capes, em todo o Brasil”, explica o pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação, arrematando, porém, “que a UFPA não pode parar de continuar pensando em crescimento e em melhorias de qualidade”. Dessa forma, a UFPA busca efetivar programas de qualificação inovadores, como o Programa de Acompanhamento dos Programas de Pós-Graduação, instituído pelo professor Emmanuel Tourinho, no final de 2010, quando ainda era pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação. Trata-se de um programa de adesão voluntária, por meio do qual os programas recebem visitas periódicas de avaliadores externos, professores de outras IFES, com experiência no sistema

de avaliação da Capes, para fazer o acompanhamento deles. “O programa funciona como uma empresa que contrata uma consultoria para avaliar seus números e indicadores. Após a análise, o avaliador propõe metas com a finalidade de melhorar a nota do programa. Um ano depois, o avaliador retorna para ver se as metas foram cumpridas. Foi em função do Programa de Acompanhamento que 16 programas de pós-graduação da UFPA subiram de nota na última avaliação trienal (2010-2012)”, explica Rômulo Angélica. A partir de 2013, a avaliação da Capes passou a ser quadrienal (2013-2016), sendo que, este ano, acontecerá a avaliação referente a este último período, cujos resultados devem ser divulgados até o final do ano.

Geociências: pioneirismo e padrão de excelência A história da pós-graduação na UFPA começou em 27 de fevereiro de 1973, quando o Conselho Universitário criou o curso de PósGraduação em Geofísica, nos níveis de mestrado e de doutorado, conforme consta na Resolução Nº 162. Dois anos depois, uma nova resolução aprovou a criação do curso de Ciências Geofísicas e Geológicas, nos níveis de aperfeiçoamento, especialização, mestrado e doutorado, encampando o curso já existente. Coube a Sônia Dias Cavalcanti Guerreiro defender a primeira dissertação da UFPA, em 13 de agosto de 1976, que teve por título Tratamento quantitativo de anomalias de potencial espontâneo. A primeira banca da UFPA foi formada por José Seixas Lourenço, orientador, e pelos professores Herberto Gomes Tocantins Maltez e Augusto César Bittencourt Pires. Foi o início de uma pósgraduação que vem mantendo padrões de excelência, tendo muito se valido da cooperação internacional com pesquisadores de

diferentes países, principalmente, naquele início, com a Alemanha, mas logo viria a se consolidar como uma referência na área de Geociências em todo o Brasil. Cooperação – Em maio passado, a UFPA e o governo do Estado inauguraram o Laboratório da Qualidade do Leite, no Parque de Ciência e Tecnologia do Guamá (PCT-Guamá), o primeiro laboratório do gênero no Norte. Permitirá análises de leite mais rápidas e eficientes, ajudando no controle e na certificação da matéria-prima produzida no Pará. Durante a inauguração, o reitor Emmanuel Tourinho ressaltou que o PCTGuamá é uma estrutura que permite a interação mais intensa da expertise acadêmica e científica com o setor industrial do Estado, favorecendo o desenvolvimento de negócios que podem gerar renda e riqueza, aproveitando todo o potencial da UFPA. “Atualmente, a UFPA possui 525 grupos de pesquisa cadastrados no Diretório de Pesquisa do CNPq. Isso nos dá uma grande

possibilidade de captação de aporte financeiro que garante a aquisição de equipamentos para nossos laboratórios”, informa Germana Araújo Sales, diretora de Pesquisa da Propesp. Mas as carências regionais são imensas e os desafios da pesquisa exigem novas estratégias, como a intensificação da cooperação com empresas. O pró-reitor de Pesquisa da UFPA, geólogo de formação, aponta a sua área, a mineração, como uma das que precisam mudar a base produtiva. “Na Amazônia, ainda não superamos a fase extrativista, da exploração e da simples exportação do minério bruto. Precisamos avançar mais em termos de beneficiamento e de transformação mineral, gerando mais empregos e renda na região. Precisamos de mais estudos, pesquisas e financiamentos. Isso é válido também para outras áreas, como as ligadas à biodiversidade”, afirma Rômulo Simões Angélica. Criatividade e interação com novos parceiros, entre os quais as empresas, estão na ordem do dia na UFPA.

Beira

do

Rio

- 17


18 -

Beira

do

Rio

-

Junho e Julho, 2017

Internacionalização

Intercâmbios e outras experiências UFPA tem 60 acordos vigentes com mais de 20 países Amanda Nogueira Nos últimos anos, a Universidade Federal do Pará tem procurado intensificar as trocas culturais e científicas com outros países por meio de programas e políticas de cooperação internacional. Para o pró-reitor de Relações Internacionais, Horacio Schneider, a internacionalização tem como objetivo reduzir barreiras entre povos e nações, por meio do desenvolvimento científico, tecnológico, social e cultural. Para promover e incentivar o compartilhamento de

conhecimento, a UFPA vem, ano após ano, investindo na mobilidade acadêmica. São vários programas que possibilitam a troca de experiências, elaboração de projetos de pesquisa conjuntos, mobilidade de docentes, técnicos e estudantes, desenvolvimento de cursos de graduação ou de pós-graduação com dupla titulação ou com cotitulariedade, entre outros. Atualmente, a UFPA conta com cerca de 60 acordos internacionais vigentes com diversas instituições de mais de 20 países. “O contato com

universidades e instituições de ensino ao redor do mundo é extremamente importante. É para mediar essas relações que os acordos ou convênios são firmados”, explica Horacio Schneider. Esses acordos ou convênios internacionais são instrumentos utilizados para formalizar a parceria entre duas ou mais instituições de países diferentes. Por meio deles as universidades manifestam a intenção de desenvolver projetos conjuntos e promover o intercâmbio de estudantes, professores e técnicos, buscando a troca de experiências e informações.

A Universidade também recebe, anualmente, alunos estrangeiros pelos programas de intercâmbio. Um dos mais importantes é o Programa de Estudantes-Convênio de Graduação (PEC-G), que oferece aos estudantes de países em desenvolvimento a oportunidade de cursar, gratuitamente, uma graduação no Brasil. No período 2012-2016, a UFPA recebeu 122 estudantes, sendo a maioria oriunda de países africanos, tais como Cabo Verde (31), GuinéBissau (22), Congo (17), São Tomé e Príncipe (13), Angola (10), Benin (7).

Vivência traz nova perspectiva para professor e alunos Bruno Santos Corrêa foi o primeiro aluno do Campus Universitário de Abaetetuba a realizar um intercâmbio. Bruno passou seis meses estudando em Portugal pelo Programa Erasmus Mundus, durante sua graduação em Engenharia Industrial. “Desde que entrei na faculdade, eu estava focado nos meus objetivos, e o intercâmbio era um deles. Eu entrava no site da Prointer para ver em quais programas poderia me inscrever e procurava me dedicar para conseguir boas notas”, lembra o engenheiro.

Atualmente, Bruno faz Mestrado em Engenharia Química na UFPA e conta que sua intenção sempre foi aplicar na Universidade o conhecimento que adquiriu em outro país. Para ele, o intercâmbio foi a sua melhor experiência acadêmica. “O intercâmbio acrescentou muito, eu passei a ver as coisas de outra forma”, garante. O estudante do último ano de Direito da UFPA Sergie Andrei Gerrits Arruda teve a chance de experimentar dois intercâmbios. Sergie passou seis semanas na Alemanha e três semanas na China. “Cada

intercâmbio teve a sua peculiaridade, e as duas experiências foram fantásticas”, revela. Para o estudante, o mais complicado foi lidar com os idiomas estrangeiros. “Alemão é uma língua muito difícil, por isso demorei a acompanhar as aulas. Na China, as aulas eram em inglês, mas eu estudei um pouco de mandarim para ter um conhecimento básico”, afirma. Para Sergie, o intercâmbio é algo que todos deveriam vivenciar, pois é um bônus curricular que possibilita outras oportunidades. A UFPA também estende essa oportunidade para os seus

professores. Juliano Pamplona Ximenes Ponte, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, passou 30 dias na China, nas universidades públicas de Xangai e Pequim. Para ele, um dos pontos mais positivos foi a estrutura do ambiente universitário chinês. “A estrutura de laboratórios e a relação com o assessoramento governamental são formas nítidas de apropriação do conhecimento produzido nas universidades, em aplicação direta nas demandas nacionais. São fatores a serem incorporados no Brasil”, reconhece.

Ilustração Priscila Santos


Junho e Julho, 2017

-

Beira

do

rio

- 19

#minhaufpa



Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.