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issn 1982-5994
BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Março, 2008 –
Entrevista
Fapespa, um salto de qualidade para o futuro
JORNAL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ • ANO V • No 59 • MARÇO, 2008
Biotecnologia para Amazônia
Fundação pretende fortalecer o sistema regional de ciência, tecnologia e inovação
Pesquisadores da UFPA querem produzir biomoléculas, entre elas o etanol, a partir do rejeito da indústria da mandioca como alternativa ao problema ambiental causado pela devastação de imensas áreas para cultivo da cana-de-açúcar MARI CHIBA
Raimundo Sena
BDR - Quais outros mecanismos existem para a implantação de uma política de ciência e tecnologia no Estado?
BDR - Qual é o modelo de desenvolvimento que a Fapespa vai incentivar no Estado? Ubiratan Holanda - O modelo de desenvolvimento que vinha sendo praticado no Estado privilegiava um tipo de investimento mais primário. Com relação à mineração, por exemplo, você tem hoje no sul do Pará, cidades como Marabá, onde, olhando assim como observador de fora, a impressão é de que está se desenvolvendo muita coisa circulando, recursos, pessoas, população aumentando. Mas é um desenvolvimento que não se sustenta por muito tempo. Quando terminar o ciclo de exploração mineral, certamente, isso aí vai se refletir em prejuízos sociais e econômicos para o Estado. Você não vai conseguir manter
“A gente ganhou muito com a Fapespa”
essa estrutura. O que a gente quer é exatamente agregar ao sistema produtivo maneiras de ele se sustentar, por meio de inovação, tecnologia. Temos que colocar mais tecnologia no processo produtivo. E com isso, a mineração continua, mas você consegue trabalhar outra cadeia agregada que se mantém por si só porque trabalha com maior valor agregado, maior conhecimento, maior tecnologia agregada. E aí, você já passa a exportar produtos com outro valor. BDR - O orçamento com que o senhor está trabalhando dá para cumprir a meta estabelecida para a Fapespa? Ubiratan Holanda - O orçamento deste ano, em torno de R$ 23 milhões, é o orçamento que a Fapespa tem do Estado. Claro que, comparando com o que vinha sendo investido até agora, é um valor significativo, mas não é suficiente ainda para cobrir todas as prioridades que nós temos em termos de investimentos em ciência e tecnologia. Só que a gente consegue dobrar ou até triplicar esse valor por meio de parcerias que podemos firmar com outros órgãos de financiamento como o CNPq, Capes, BNDES, Finep, grande empresas como a Vale e Eletronorte. Você tem que ter recursos próprios para poder ter as contrapartidas. Então, a gente pensa realmente em dobrar este orçamento em pouco tempo. Já temos até algumas parcerias acertadas nessa direção e isso sinaliza que não vai ser difícil a gente dobrar o orçamento de 2008 da Fapespa. Com relação aos programas de bolsas, nós lançamos agora cinco editais que estão na página da Fapespa (WWW.fapespa. pa.gov.br) e, até o final do ano, nós devemos lançar em torno de 20 editais. Com relação à nossas metas, o
nosso planejamento para mestrado e doutorado este ano é trabalhar com 100 bolsas de mestrado e 80 bolsas de doutorado, que já é um número significativo. Em quatro anos, nós pensamos em chegar ao patamar de 300 bolsas para mestrado e 200 bolsas de doutorado com recursos próprios da Fapespa. Já é uma coisa bem significativa se colocar no mercado todo ano 200 doutores. Isso vai mudar completamente o panorama. Hoje, a instituição que mais forma doutores, a UFPA – não tenho os números precisos -, mas forma em torno de 50 doutores por ano. Com esses investimentos próprios da fundação, nós atingimos um patamar significativo. E além disso, vão ter ainda os recursos que vêm do CNPq, da Capes para a ampliação dos programas. A idéia é ter um quadro de RH (recursos humanos) altamente qualificado no Estado para um desenvolvimento com ciência, tecnologia e inovação. Se não tiver um RH especializado, você não consegue fazer isso.
É no Laboratório de Desenvolvimento e Planejamento de Fármacos, um centro de ponta em biotecnologia e simulação computacional, que a pesquisa é feita
“Vamos dobrar o orçamento”
BDR - Quais são as prioridades da Fapespa? Ubiratan Holanda - A Fapespa tem várias prioridades, uma delas, é formação de RH, outra é o apoio a eventos científicos e tecnológicos, a publicação de revistas, projetos de pesquisas estruturantes com rede de pesquisa. A gente tem um elenco grande de apoio. Também tem apoio a laboratórios especializados; atender a cadeias produtivas; apoio a parques tecnológicos, uma ação do governo que está sendo implementada agora, são três parques tecnológicos no Estado. Então, a Fapespa atua em todas as áreas do conhecimento, na formação de recursos humanos e no financiamento de infra-estrutura para pesquisa de forma resolver questões que são de interesse do Estado.
Memória
Envelhecimento
Centro guarda raridades dos séculos XVIII e XIX
Qualidade de vida é fundamental
O Centro de Memória da Amazônia surgiu a partir de um convênio, assinado em janeiro de 2007, entre a UFPA e o Tribunal de Justiça do Estado (TJE), que cedeu a documentação de natureza civil e
Ubitaran Holanda: mais tecnologia
criminal que integrava o arquivo morto do órgão. Parte do acervo, que abrange documentos desde os finais do século XVIII até 1970, já está à disposição da comunidade. Pág. 9
MARI CHIBA
Ubiratan Holanda - Hoje, no Estado, a base para a implantação de política de ciência, tecnologia e inovação não é só a Fapespa tem outras ações. O Sistema Paraense de Inovação (Sipi), por exemplo, prevê um modelo de desenvolvimento centrado em ciência e tecnologia para que a gente mude o nosso patamar de produção que é muito primário. A gente quer agregar conhecimento ao sistema produtivo para torná-lo mais competitivo também e, com isso, mudar o referencial. Para isso, entra o setor privado, as instituições de pesquisa e ensino e o próprio governo que faz a união de tudo isso, que estabelece as políticas e junta esse conjunto todo da sociedade na direção do desenvolvimento com agregação na área de ciência e tecnologia e inovação. A Fapespa, então passa a ser o mecanismo, o órgão do governo que tem esse objetivo de investimento em ciência e tecnologia.
Ubiratan Holanda: “Temos que colocar mais tecnologia no processo produtivo”
MARI CHIBA
Beira do Rio - O que o Pará ganha, em termos de recursos financeiros para a pesquisa, com a criação de uma Fundação como a Fapespa? Ubiratan Holanda - A importância da Fapespa, no contexto do Estado, é que ela é um mecanismo que se tem para investimentos em ciência, tecnologia e inovação e faz parte do Orçamento do Estado oficialmente. O que se tinha antes era um fundo, o Funtec, que era praticado pelo Estado. O Funtec aplicava importâncias na média de R$ 4 milhões por ano para todos os investimentos em ciência e tecnologia, até o ano passado. É uma quantia muito pequena. Com a instituição da Fapespa, ela participa do Orçamento do Estado em 1% da receita líquida corrente. Com isso, o valor que era aplicado em ciência e tecnologia no Estado aumentou significativamente e para este ano está em torno de R$ 23 milhões. Então, você vê o quanto a gente ganhou em investimento em ciência e tecnologia. Além disso, em nível nacional, existe uma série de programas de outros órgãos financiadores que só são realizados por meio de fundações de amparo à pesquisa. Se você não tiver uma fundação de amparo à pesquisa do Estado, você não participa desses programas. A gente deixou de ter muitas oportunidades pelo fato de não existir a Fapespa. Era realmente uma coisa inconcebível. O Pará é um dos últimos Estados da federação a ter a sua fundação. Não dá para entender como é que o pessoal tinha essa visão. Vamos ver se a gente recupera esse tempo todo perdido.
fotos Mari Chiba
A
postando no crescimento econômico baseado num modelo de desenvolvimento sustentável a partir do fortalecimento do sistema regional de ciência, tecnologia e inovação, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Pará – Fapespa, já lançou cinco editais para financiar a pesquisa no Estado e vai lançar mais 20 até o final do ano. Criada no final do ano passado, a Fapespa nasce com um orçamento de R$ 23.315.290,00, que corresponde quase a seis vezes mais ao que era investido até o ano passado, algo em torno de R$ 4 milhões. A meta é fomentar, até 2010, a formação de 300 mestres e 200 doutores por ano. Doutor em Engenharia Elétrica pela UFRJ, o professor do Departamento de Engenharia Elétrica e Computação da UFPA, Ubiratan Holanda Bezerra, aceitou o desafio de ser o primerio diretor presidente da Fapespa.
utilizada na produção de álcool. O Projeto prevê produção de biomoléculas e álcool em Moju. A biotecnologia também poderá ser usada para o tratamento de Aids e leishmaniose. Págs. 6 e 7
Hanseníase
Desinformação é aliada da Pág. 3 doença
Entrevista
Fapespa quer economia sustentável O diretor presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Pará - Fapespa, Ubiratan Holanda, diz que é preciso fortalecer o sistema regional de ciência, tecnologia e inovação. Pág. 12
Assunto foi tema da Jornada de Estudos e Pesquisas sobre Envelhecimento Humano na Amazônia promovida pela Faculdade de Serviço Social. Pág. 11
Pesquisa
O Centro de Memória da Amazônia restaura documentos raros
Minhocas também dão bons lucros Pág. 9