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12 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Maio, 2008

Entrevista

Negros preenchem todas as vagas destinadas a eles O pró-reitor de Ensino de Graduação (Proeg) da UFPA, professor Licurgo Peixoto de Brito, analisa a adoção da política de cotas para negros e estudantes de escolas públicas no vestibular deste ano - uma mudança polêmica na política educacional da Universidade. Foram reservadas 50% das vagas de cada curso para estudantes das escolas públicas e, dentre essas, 40% para negros, um perfil de cota diferente das outras instituições porque faz essa combinação. O professor Licurgo de Brito fala ainda sobre o fim do Processo Seletivo Seriado (PSS) e a desvinculação do Departamento de Apoio ao Vestibular (Daves) da Proeg. BERIA DO RIO - Aumentou o carentes? número de negros matriculados na Sim, nós estamos preparando um Universidade? programa de acompanhamento desses Licurgo Peixoto de Brito - Nós não estudantes e de incentivo também, tínhamos esse controle antes. Na verpor meio de políticas de assistência dade, nós nunca nos preocupamos com estudantil, bolsas, restaurante univeressa questão racial, de quantos negros sitário, que facilitam a permanência estão ingressando na universidade. do estudante carente na universidade. Nós passávamos sem dar atenção a Apesar de nós estarmos contribuindo essa questão. Tanto faz se o estudante também, quem está à frente desse que entrou é negro ou não é, é estudanprojeto é a Pró-Reitoria de Extensão te da UFPA. Nós não tínhamos essa (PROEX). preocupação de perguntar no formulário se é negro, nós não tínhamos isso. BDR - Qual a sua avaliação dessa Mas como no país todo se levantou experiência? essa discussão, nós passamos a fazer Para determinar o sucesso dessa esse levantamento de modo que não é experiência, nós teríamos que acompossível para nós comparar. Mas é pospanhar a permanência desses alunos sível dizer que a quantidade de negros durante uns quatro ou cinco anos na que entrou na Universidade supera os instituição. E isso, nós só poderemos 100% de vagas destinadas a eles que ter a resposta mais a diante, portanto. correspondem aproximadamente a mil Agora cinco anos é o tempo que está vagas. Entraram mais de mil. Agora, previsto para o sistema de cotas ficar se nós fizermos uma simulação, vamos em vigor. Depois desses cinco anos, ver que se nós tivéssemos feito esse após um estudo realizado, nós vamos controle em anos anteriores, em que voltar a analisar o tema e decidir se não havia reserva de vagas, provavelo sistema permanece ou se ele será mente esse número seria menor, esse modificado ou até suprimido. Um percentual seria menor pelo seguinte: dado importante é que o resultado eles foram muito guindados pelo sistedesse sistema de cotas, em termos de ma de cotas porque, com a reserva de diferença no ingresso dos anos antevagas, fica mais fácil para o candidato riores para este, só é percebido nos entrar. Com certeza entraram mais. cursos de alta demanda como Direito, Nós podemos dizer isso Comunicação Social, porque temos o padrão Medicina, Psicologia. da escola pública. Na Nesses cursos de alta escola pública nós tídemanda, realmente, nhamos esse controle o perfil altera porque no passado e nós verivocê tem aí candidatos ficamos que aumentou que, tradicionalmenbastante. Saiu em torno te, eram só de escode 42% para 50%, aprola particular ou quase ximadamente. Então, que exclusivamente como os negros estão de escola particular, incluídos nesse percenque entravam nesses tual da escola pública, cursos, agora não en“Foram provavelmente, eles entra meio a meio. Nos traram também nessa demais cursos isso não preenchidas condição. altera. Cursos de bai100% de vagas xa demanda como as BDR - Vai haver alPedagodestinadas a eles licenciaturas, guma política para gia, Ciências Sociais, evitar a evasão desses sempre a predominân(negros)” estudantes - a maioria cia foi de estudantes

mari chiba

Licurgo de Brito: resultado só é percebido nos cursos de alta demanda. de escola pública e continua sendo. E, dentre eles, os negros também indistintamente. Isso aí não muda absolutamente nada.

caro. A taxa de inscrição, de R$ 88,00, é uma taxa alta para o padrão social do nosso Estado. Por isso, os pedidos de isenção são muito grandes, porque a taxa é alta. Nessa condição, o proBDR - E quanto ao PSS, por que cesso já acaba excluindo candidatos ele acabou? de saída, ficam excluídos aqueles que Com relação ao modelo, a decisão da não tiveram uma boa escolaridade mudança coube ao Consep, o Conseou que não se aplicaram aos estudos, lho Superior de Ensino Pesquisa e Exficam excluídos os candidatos que não tensão é que deliberou pela mudança podem pagar, apesar de nós termos um do modelo. Por quê? O PSS não era processo com 12 mil isenções, somos bom? Foi feita uma avaliação do PSS a universidade que mais isenta no depois dos três anos iniciais - 2004, Brasil – o maior número de isenções 2005, 2006. Ao longo do ano de 2006, é o nosso, perto do nosso tem uma ou foi feito um estudo com entrevistas, duas com 5 mil isenções e nós fazecom formulários, avaliação, análise mos 12 mil. E isso se torna também desses dados, etc. Durante o ano de um agravante àquele quadro anterior. 2007, nós apresentamos todos esses Então, houve uma proposta de nós dados no nível da administração da simplificarmos esse modelo, tornar ele Universidade, da Coperves e do Conmais simples, retirando o seriado para sep, que são os órgãos responsáveis não comprometer isso e dar tempo por esse processo, e nós verificamos para as escolas reagirem, na verdade, que os principais objetivos do Processo um modelo que tivesse outro apelo Seletivo Seriado foram alcançados acadêmico também. E aí entra a caracsatisfatoriamente. No entanto, houve terística diferencial desse novo modedois fatos observados lo, que eu acho que vale que nos fizeram recuar à pena a mudança. Não no modelo. O primeiro se trata de uma volta às fato foi o declínio no inquestões de múltiplas gresso de estudantes das escolhas, como era no escolas públicas. A espassado. Trata-se de cola pública vinha, traum avanço, eu diria. dicionalmente, com um Apesar das questões ingresso equilibrado, serem de múltipla esem torno de 50% com colha, não discursivas, a escola privada. Mas é outra concepção difedepois da aplicação do rente da anterior. Qual PSS começou a reduzir. é a diferença? É que “Nós não Por que isso aconteceu? vinha sendo praticado Porque o PSS começou um modelo de avaliadávamos a verificar o empenho ção pelos conteúdos. do aluno desde a priConteúdo da primeira atenção a essa meira série. Então, em série, da segunda série, questão” um sistema que funda terceira, etc. Mas a ciona bem isso é bom, nossa matriz curricular mas em um sistema é baseada em compeque é frágil evidencia tências e habilidades, fragilidade. O modelo já estabelecidas pelos desse seriado evidenciou a fragilidade Parâmetros Curriculares Nacionais. da escola pública. E aquela corrida Isso, em nível normativo, já mudou, que os estudantes da escola pública mas as nossas avaliações ainda estão costumavam fazer, já no final, para em cima dos conteúdos como se só compensar todas as perdas, passou a isso fosse resolver o problema. E a não dar mais para eles fazerem. No gente sabe que conteúdo não resolve, momento em que a nossa preocupação o que resolve é quando a pessoa sabe social com a educação pública é inteno que fazer com ele. Isso é que resolve. sa, fica difícil nós sustentarmos um Não adianta decorar que não vai sair modelo que, de certo modo, coloca de nada que preste. Isso é que vai fazer lado a escola pública que é a força que a diferença, não é se ele decorou a precisa ser dada ao país. Então, isso foi fórmula, se ele sabe fazer a conta, se determinante para a extinção do PSS. ele não sabe, é se ele sabe pensar, se O outro problema é o seguinte: ele é ele sabe aplicar o conteúdo que ele tem um processo complexo e, portanto, é nas situações mais diversas. É isso.

O

Grupo de Catálise e Oleoquímica, do curso de Química da UFPA, desenvolve o projeto “Craqueamento Catalítico de óleo de Buriti” para a produção do diesel verde, como foi chamado o combustível para diferenciá-lo do biodiesel. As Engenharias Química e Mecânica da UFPA, o Instituto Militar de Engenharia, do Rio de Janeiro, e o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia são parceiros no projeto, patrocinado pela Eletrobras. O objetivo é gerar energia elétrica limpa para comunidades isoladas da Amazônia. Pág. 3 mácio ferreira

Poluição

República

Risco de vazamento em Vila do Conde

Pão e circo para conquistar povo para novo regime

Pág. 4

A troca dos nomes de ruas e a promoção de festas cívicas e banquetes foi a estratégia usada pelos republi-

canos para fazer o povo esquecer a Monarquia no Pará, afrima a historiadora Daniela Moura. Pág. 8 reprodução

Supermercados

Trabalho por escala sacrifica vida privada

Pág. 11

Francisco Neto: sonho Banquete no Bosque Rodrigues Alves durante Congresso do PRP, em 1803

Cheia

Sistema monitora casas alagadas O curso de Sistema de Informação do Campus de Marabá desenvolve projeto para monitorar enchentes, em Marabá. Páginas 6 e 7

Coluna do Reitor O reitor Alex Fiúza de Mello fala sobre ética e qualidade na academia. Pág. 2

Opinião Jane Beltrão escreve sobre a Associação dos Povos Indígenas do Tocantins. Pág. 2

Imigração

Entrevista O pró-reitor de ensino de Graduação, Licurgo de Brito, analisa a política de cotas e o fim do PSS na Universidade. Pág. 12

Japoneses sonhavam com a volta mácio ferreira

Raimundo Sena

Diesel verde para Amazônia fotos mácio ferreira

Política de cotas foi bem aceita na Universidade que adotou um sistema misto

JORNAL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ • ANO VI • No 61 • MAIO, 2008

Dissertação de mestrado do historiador Francisco Neto aborda o processo de socialização dos imigrantes japoneses no Pará. Pág. 11


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