issn 1982-5994
12 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Agosto, 2008
Entrevista
“Temos de ter maturidade para acatar a decisão do Consun” O processo de escolha do próximo reitor da Universidade Federal do Pará começou com a publicação dos editais para a eleição. Apesar da Câmara de Legislação e Normas ter decidido pela chamada Lei dos 70%, caberá ao Conselho Universitário definir as regras que vão valer para o pleito. Nesta entrevista ao BEIRA DO RIO, o Prof. Dr. Alex Fiúza de Mello, atual reitor da instituição, explica que o melhor para a Universidade é seguir o que determina a lei, para evitar possíveis contestações judiciais, como no caso da UEPA e da UFRGS. O reitor esclarece a sua posição contrária ao voto universal, pois entende que a democracia na Universidade é de outro tipo e que cabe aos professores a maior responsabilidade nas decisões sobre os caminhos que a instituição deve seguir. Alex Fiúza de Mello fala ainda sobre as vantagens e desvantagens da eleição acontecer em dezembro ou abril, deixa claro que não vai usar a máquina da Universidade em favor de ninguém e que vai defender o nome do eleito junto ao Ministério da Educação, independente de quem seja. BEIRA DO RIO - A UFPA deu “casuísmo” é burla de lei, de regra, e início ao processo eleitoral com a a lei estabelece os 70%. Espero que publicação dos editais para a eleitenhamos maturidade para acatar a ção do próximo reitor. Qual a sua decisão do Conselho Universitário expectativa para esse processo? e os candidatos se submetam às reAlex Fiúza de Mello - O Regimento gras que vão ser definidas. É muito Eleitoral foi apresentado pela Câmara importante para uma Universidade, de Legislação e Normas e deve ser durante a sucessão de um reitor, que executado conforme a Lei 9192, de se discutam idéias, projetos e planos 1995, que determina o peso do voto de trabalho. A Universidade tem dos professores em 70%. O Conselho de ser exemplo de comportamento Universitário pode alterar esse critécivilizado, de disputa de idéias, de rio se assim o desejar. No entanto, há liberdade de expressão e de respeito problemas em diversas universidades mútuo entre os atores políticos. que fizeram isto. Se houver uma contestação judicial, o processo eleitoral BR - Em 1997, houve um tumulto pode ser anulado. Temos como exemna eleição por causa da Lei dos plo o caso da UEPA e, recentemente, 70%, inclusive com intervenção da o da Federal do Rio Grande do Sul, Polícia Federal... que tiveram probleA.F.M.: Em 2001, tammas com o regimento bém prevaleceu a Lei eleitoral e os casos esdos 70% e alguns dos tão na Justiça. Isso é atuais candidatos eram muito desgastante para membros do Conselho uma instituição. Muitas Universitário que apropessoas dizem: “mas a vou a regra de dispusua eleição passada foi ta naquela ocasião. A pelo voto paritário. Isso eleição foi tranquila, não é casuísmo?”. E eu em termos, até que o respondo: não! Primeisegundo colocado enro porque eu tinha me trou na Justiça querenretirado de licença do do anular a eleição, o “Quando fui Consun quando foram que não aconteceu porvotadas as regras do que tudo estava dentro eleito pela jogo - não era ético da lei. Em 2005, apesar eu, como candidato, do voto ser paritário, primeira vez, coordenar o Consun. ninguém foi à Justiça, me submeti à E eu me submeti às isso porque, enquanto regras definidas pelo em 2001, a diferença regra dos 70%, Conselho, sem a minha entre os candidatos presença ou influência. ocasião em que foi de apenas 0,27%, Em 2001, quando fui 2005 foi enorme, eu não era nem em eleito pela primeira vez, não dando margem a me submeti à regra dos contestações. Nesse membro do 70%, quando ainda não ambiente de tensão, o Consun.” era membro do Consemelhor é seguir a lei lho. Em segundo lugar, para que o processo
Localizado no centro da cidade e construído em 1903 para ser a residência do governador Augusto Montenegro, o Museu da UFPA tem arquitetura eclética e um rico acervo de fotografias, livros, cartuns e cartazes. Abriga
ainda milhares de itens do Acervo Vicente Salles, além de estar resgatando a memória da Universidade. Falta apenas ser mais utilizado pela comunidade acadêmica em suas atividades de ensino e pesquisa. Págs. 6 e 7 mácio ferreira
Alex Fiúza de Mello: “‘Casuísmo’ é burla de lei e a lei estabelece os 70%” possa ir até o fim, sem maiores atropelos. BR - Caso a eleição deste ano ocorra em dezembro, haverá seis meses até a posse do próximo reitor. Qual a vantagem desse interstício? A.F.M.: Há vantagens e desvantagens de a eleição ser em dezembro ou em abril. Se for em abril, os candidatos terão mais tempo para fazer campanha e se fazerem conhecer, porém a nomeação vai sair apertada entre maio e junho. Mal vai dar tempo para o novo reitor assumir e montar seu plano de trabalho, conhecer a situação da Universidade. Se for em dezembro deste ano, poderia ser uma desvantagem o pouco tempo até a eleição, mas se para governador e prefeito o tempo é de três meses entre a inscrição e a eleição, então, o mesmo pode valer para a eleição para reitor. A vantagem é que o candidato que vencer saberá, antecipadamente, que será nomeado, terá seis meses para montar sua equipe e colocá-la para estagiar com a atual, para conhecer melhor a situação da UFPA. Quando assumir em julho, vai estar com a equipe madura, discutindo o plano de trabalho e a Universidade não perde tempo. Do ponto de vista da instituição, é positivo que haja esse maior tempo para a transição e que isso se torne normal em nossa cultura interna.
professores. São eles que executam as atividades de ensino e pesquisa e respondem perante à lei. A Universidade é uma república de professores, é uma instituição de ensino. O aluno não pode, por ser maioria, achar que pode definir a política de ciência e tecnologia da Universidade, porque ele não sabe ainda nem fazer pesquisa. Não se pode usar esse argumento para defender que o voto universal é mais democrático, porque a democracia na Universidade é de um outro tipo: é a liberdade de expressão, é a reunião de pares para discutir projetos, é o respeito recíproco, é o professor ensinar ao aluno tudo o que ele sabe para que o aluno seja melhor do que ele amanhã, mas não é deixar que o aluno assuma o lugar dele. Os partidos estão aí e não há problema nisso, pois a Universidade faz parte da sociedade. O que ela não pode é se transformar em partido ou se deixar conduzir por essas agremiações. Quem defende o voto universal, na verdade, defende apenas uma estratégia para chegar ao poder dentro da Universidade. Essa é uma posição minha que vou defender junto ao Conselho Universitário, mas a decisão final será do Conselho.
BR - Já há três nomes apontados como certos na disputa: Carlos Maneschy, Ana Tancredi e Luís Carlos Silveira. O senhor pretende apoiar um BR - Por mais que desses possíveis cana disputa seja pela didatos? reitoria da UniverA.F.M.: O reitor não sidade, há partidos será neutro no procespolíticos infiltrados so. Eu vou apoiar sim, no processo. Aí volta mas meu apoio será “Vou defender a questão da defecondicionado à minha sa do voto universal. função de coordenador junto ao Não haverá risco de do processo eleitoral. tumulto do processo Eu não vou usar a máMinistro da como em 1997? quina da universidade Educação A.F.M.: A universidapara beneficiar A, B de não é a sociedade. ou C. Vou manifestar o candidato Professor não é classe minha preferência e as vencedor da dominante; não exisrazões da minha prefete “divisão de classe” rência, o que não quer consulta, entre professor, aluno, dizer que serei contra funcionário. Classe os outros candidatos. independente social é outra coisa. Tenho a obrigação de de quem seja.” Dizer que o professor garantir a todos os coné classe dominante, correntes que o procesporque os alunos são so será limpo e que o maioria, é uma tese vencedor vai encabeçar completamente equivocada. Na a lista tríplice. E vou defender junto universidade há hierarquias. Quem ao Ministro da Educação o candidato tem responsabilidade para com a vencedor da consulta à comunidade, administração acadêmica são os independente de quem seja.
Sequestro de Carbono
Estudo alerta para o viés comercial
Para pesquisador, o sequestro de carbono pode vir a aprofundar as diferenças entre ricos e pobres no Brasil. Pág. 9
Radiossondagem
Universidade integra o Mini-Barca
Estudantes participaram do projeto que visa conhecer melhor o ciclo hidrológico da região. Pág. 5
O MUFPA vem passando por uma série de reformas para resgatar sua riqueza arquitetônica e facilitar o acesso de todos
mácio ferreira
mácio ferreira
Aflatoxina
Pesquisadores monitoram contaminação no amendoim Estudo realizado por dois pesquisadores da UFPA utilizou grãos de amendoim cru e torrados, além de
seus derivados como a paçoca, o amendoim japonês e o confeitado com chocolate. Pág. 3 mácio ferreira
Casca da uva é rica em flavonóides
Balões foram usados na ação
Pesquisa Marajó
Doenças do coração são prioridade
Projeto do IFCH valoriza saber local
Pág. 11 No total, 22 amostras foram coletadas e analisadas durante oito meses
Estudos antes concentrados em doenças infecto-parasitárias agora se voltam para as doenças degenerativas. Pág. 4
Luz na Amazônia
Progama leva saúde a ribeirinhos
Pág. 8
Opinião Scarleth O’hara analisa, no artigo “Multiculturalismo e Propaganda”, o mito da democracia racial na Publicidade brasileira. Pág. 2
Eleições na UFPA O reitor da UFPA, Alex Fiúza de Mello, fala, em entrevista e artigo, sobre o processo eleitoral da Universidade. Págs. 2 e 12
tarso sarraf
Adaucto Couto
Muito mais que um Museu
fotos tarso sarraf
Reitor explica que os docentes são os que têm maior responsabilidade na administração acadêmica
JORNAL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ • ANO VI • No 63 • AGOSTO, 2008
LURDINHA RODRIGUES
2 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Agosto, 2008
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BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Agosto, 2008 –
Marajó
Coluna do REITOR Alex Fiúza de Mello
regimental, depois de todo o esforço de mobilização e participação de uma comunidade inteira no processo de escolha de seu dirigente máximo. Não esqueçamos, aqui, o exemplo da UEPA e os problemas enfrentados recentemente pela UFRGS, em sua última eleição. É verdade que a eleição de 2005 para reitor da UFPA foi pelo critério da paridade entre as categorias, em contradição com a Lei. Por sorte não houve questionamentos na Justiça, talvez mais pela enorme diferença de votos entre os candidatos (o que não deu margem a dúvidas) que por compromisso ético dos participantes. Mas não esqueçamos que em 2001, quando a diferença entre os candidatos foi de apenas 0,27%, o segundo colocado entrou na Justiça reivindicando a anulação do pleito, o que não ocorreu justamente porque a regra eleitoral estava dentro da Lei. A Universidade Pública não é soberana. Está sujeita ao interesse maior da sociedade que a sustenta, com impostos. E esse interesse, pelas regras democráticas e republicanas, é expresso pelo Poder Legislativo, que define as leis que regem a vida social. Se uma lei não agrada, cabe reagir a ela como movimento social e modificá-la. Enquanto viger, há de ser observada. Não cabe à comunida-
de universitária se colocar acima da sociedade, como se a universidade lhe pertencesse exclusivamente, tal qual propriedade privada. O “público”, nesse caso, é a vontade da sociedade civil mais ampla – expressa por seus representantes legítimos que formulam as leis – e não a das categorias internas à academia, simples subconjuntos daquela totalidade. A Universidade não é a Sociedade; nem as suas categorias (professores, técnico-administrativos e alunos) são classes sociais. Não pode – e não deve – reproduzir, mecanicamente, os mesmos princípios eleitorais de reitor@ufpa.br disputa pelo poder da “polis” – igualdade entre todos os cidadãos –, pois se trata de uma instituição de ensino e pesquisa, com função, hierarquia e legalidade próprias e singulares. Eleição para Reitor não é eleição para Prefeito ou Presidente da República. Na universidade, são os professores que têm a maior responsabilidade pelas finalidades e pelo destino da Instituição. Ou isso fica claro, de uma vez por todas, na cultura universitária brasileira, ou daremos um passo atrás, após todas as duras conquistas democráticas acumuladas ao longo das últimas décadas. Realizar uma eleição limpa, transparente, dentro da Lei, será a única garantia de um processo sucessório plenamente legal, legítimo,
sem maiores atropelos e tensões. Afinal, para ser reitor, cabe apenas o convencimento da comunidade pelo argumento, independentemente das regras do jogo. Os “principistas” do voto universal ou da paridade jamais admitirão em público que o interesse subterrâneo que lhes move não passa de mera tática de chegada ao “poder”. Iludem a maioria desavisada de que são inspirados por crenças honestas e revolucionárias. Expressam, ao contrário, o que há de mais conservador, autoritário e populista dentro dos muros da academia, pois se pensam e agem a partir dos seus próprios interesses corporativos e não na perspectiva daquele mais geral. A Universidade Federal do Pará precisa afirmar, com o seu Regimento Eleitoral, a sua verdadeira identidade: a de uma academia e não a de um sindicato ou de um partido. Deve à sociedade a qualidade de seus serviços – ensino, pesquisa e extensão – e tem a obrigação constitucional de zelar para que isso se efetive, acima de qualquer outro interesse, para o bem da República e de um Projeto de Nação. Por essa razão, as normas eleitorais devem induzir a que o novo reitor seja eleito por critérios fundados, sobretudo, no mérito acadêmico. Alea jacta est.
OPINIÃO
scarleth@ufpa.br
Scarleth O’hara • FACOM – UFPA
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Multiculturalismo e propaganda
atualidade é marcada pelo encontro de economias e de culturas: a globalização é um fenômeno que envolve o hibridismo. O conceito de multiculturalismo comporta conotação positiva, ou seja, a coexistência enriquecedora de diversos pontos de vista, interpretações, visões, atitudes, provenientes de diferentes bagagens culturais. No entanto, a troca cultural não significa apenas enriquecimento: “às vezes ela ocorre em detrimento de alguém. (...) não é por acidente que a atual era da globalização cultural (...) é também a era das reações nacionalistas ou éticas”.1 Embora na Publicidade, o hibridismo apareça carregado de conotações positivas, na cultura, o híbrido encontra-se “repleto de conceitos de valor negativos”2. Os corpos que representam o multiculturalismo na mídia são espetaculares, glamourosos, muito diferentes da condição histórica dos corpos híbridos da sociedade brasileira. São idealizações: imagens puras, ainda sem a contaminação do sincretismo.
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ Rua Augusto Corrêa no 1 - Belém/PA beiradorios@ufpa.br - www.ufpa.br T 91 3201-7577
Paradoxalmente, o sincretismo, característica muito difundida da cultura brasileira, é retratado na Publicidade com imagens de corpos ainda não miscigenados. Os modelos negros da campanha do Rexona Ebony estão vestidos com roupas semelhantes às dos escravos; na campanha de O Boticário, a índia usa um cocar de penas e tem o rosto pintado com tintura preta e vermelha; a negra usa turbante e tem o rosto pintado conforme certas tribos africanas; a oriental está maquiada e penteada conforme a tradição japonesa. São imagens da origem, atemporais como as imagens míticas. Em nome do “politicamente correto” e do mercado, a Publicidade parece retomar o mito da democracia racial que fundamenta a visão positiva que se atribui ao sincretismo no Brasil. O paradoxo: se o mito da democracia racial é tão marcante e se há uma valorização do intermediário na sociedade brasileira, por que na Publicidade, são utilizadas imagens de corpos não miscigenados? O Marketing, ao trazer para o
Projeto une saber local e científico
reitor@ufpa.br
A próxima eleição para reitor
Câmara de Legislação e Normas apresentou, ao Conselho Universitário, Proposta de Regimento à próxima eleição para Reitor e Vice (mandato 2009-2013), dentro do que reza a Lei nº 9.192/1995 – peso de 70% dos votos para os docentes –, em plena vigência. E não poderia ser diferente, considerando-se o Estado de Direito e o que preconiza o próprio Estatuto da UFPA, recentemente aprovado, que determina, em seu Art. 89, que as regras da disputa serão “conforme a legislação em vigor”. Nesse quadro, não se sustenta a tese de “casuísmo”, nem aquela de “golpe” – espertamente disseminadas por alguns oportunistas de plantão nos bastidores da Instituição –, uma vez que casuísmo e golpe são, na moldura dos parâmetros democráticos, justamente a burla da lei. É claro que o CONSUN pode modificar a Proposta do Regimento Eleitoral (a ser votada, provavelmente, em setembro vindouro), estabelecendo outros critérios de disputa; mas, nesse caso, com graves riscos legais. Sim, porque qualquer eventual questionamento, na Justiça, do resultado do pleito obrigará esse Poder a anular a eleição, por desrespeito aos termos da Lei. E não há maior desmoralização pública para uma instituição que ter um resultado eleitoral inviabilizado a posteriori, por falha
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universo do consumo os corpos que se encontram obscurecidos na sociedade, reforça a idéia da democracia racial porque responde ao desejo de que todos são iguais: retoma a imagem do Brasil construída pela história oficial, a qual, muito divulgada e sedimentada, alimenta o imaginário do brasileiro acerca de si mesmo. Sob a ótica do Marketing, todos são consumidores, condição que os iguala, independentemente dos valores socialmente construídos e atribuídos a eles. Como um “deus ex-máquina”, a Publicidade re-encena o mito, realimentando o imaginário social. Talvez o brasileiro aprecie o fato de ser visto como um povo plural. Nesse caso, estaria respondendo ao “outro” (os países ocidentais que, de modo geral, vêem o Brasil como exemplo de sincretismo cultural pacífico): sabendo o que o “outro” aprecia, o brasileiro aprecia o aspecto valorizado. Daí fixar suas representações de corpo na origem e não no resultado da miscigenação. Talvez o presente não corresponda à idealização dos corpos originários. Assim, valoriza-se
a origem porque nela se encontra o mito da democracia racial. Louvamos o hibridismo, mas o imaginário social mantém-se preso à imagem primeira: o negro recém-chegado da África, o índio com arco e flecha e o japonês de quimono. Na Publicidade, encontra-se, hoje, o mito da democracia racial transportado para o mito da democracia econômica na sociedade de consumo: quando o Marketing considera todos como potenciais consumidores, há uma reedição do mito fundante do sincretismo brasileiro. É fato que a Publicidade caminha a reboque dos acontecimentos sociais. Sua função é primeiramente comercial. Entretanto, ao trazer para suas produções, determinadas representações, afeta, indubitavelmente, a sociedade.
Cursos preparam professores marajoaras para produção de livros didáticos Fernando Marques
Suzana Lopes
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sociedade caminha, ainda com passos lentos, para uma convivência cada vez maior com o conhecimento científico, um pressuposto indispensável ao seu desenvolvimento. Há certa exigência social para que a produção científica se torne pública e comprometida com a melhoria da qualidade de vida. Também por parte dos pesquisadores começa uma conscientização de que o conhecimento produzido não deve se restringir à academia e que a ciência precisa dar respostas aos investimentos da sociedade. Essa dupla consciência é o eixo do projeto Por Campos e Florestas: Pesquisa e Produção de Saberes Arqueológicos, Culturais e Históricos nos “Marajós”. Coordenado por Denise Pahl Schaan, professora da UFPA, e pelo doutorando em História Social pela PUC-SP, Agenor Sarraf Pacheco, o projeto pretende popularizar as pesquisas sobre o arquipélago através da produção de material didático para alunos do ensino básico dos municípios que compõem a mesoregião marajoara. Democratizando esses conhecimentos, concomitantemente, se disponibiliza a professores e estudantes do ensino fundamental e médio conteúdos mais próximos à sua realidade.
Proposta é democratizar descobertas, como na área da arqueologia
n Onze municípios foram atendidos em dois pólos Após a aprovação de financiamento, em 2007, pelo CNPq, o projeto Por Campos e Florestas foi encaminhado para as secretarias municipais de Educação do arquipélago do Marajó. Com o apoio do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e da Associação dos Municípios do Arquipélago do Marajó (Amam), a coordenação entrou em contato com os municípios para o recrutamento de professores dos ensinos fundamental e médio para participarem da construção dos materiais didáticos, que serão opera-
cionalizados em três etapas. A primeira fase foi em maio e consistiu no Curso de Educação de Professores Pesquisadores para 59 docentes das áreas de Língua Portuguesa, Matemática, História, Geografia, Ciências e Estudos Amazônicos, de 11 municípios marajoaras. O curso foi ministrado em dois pólos: em Soure, para os professores dos municípios do Marajó dos Campos, e, em Breves, para os do Marajó das Florestas. Em cinco dias, nove pesquisadores da UFPA e de outras instituições orientaram os demais professores
quanto à coleta de dados e saberes a serem sistematizados em textos interdisciplinares para os livros didáticos. A partir dessa orientação, os docentes propuseram temáticas a serem estudadas, como pajelança, culinária, benzedeiras, dentre outras. Nessa segunda etapa, desde junho, eles estão indo a campo fazer as pesquisas. Agora em agosto, os pesquisadores da UFPA visitarão os municípios para auxiliar no andamento dos trabalhos, que deverão render textos prévios sobre o que foi observado e constatado em campo. Ilma Tavares
Scarleth O’hara - FACOM – UFPA. 1 - BURKE, Peter. Hibridismo cultural. São Leopoldo: Unisinos, 2003, p.18. 2 - idem, ibidem
Reitor: Alex Bolonha Fiúza de Mello; Vice-reitora: Regina Fátima Feio Barroso; Pró-reitora de Administração: Simone Baía; Pró-reitor de Planejamento: Sinfrônio Brito Moraes; Pró-reitor de Ensino de Graduação: Licurgo Peixoto de Brito; Pró-reitora de Extensão: Ney Cristina Monteiro de Oliveira; Pró-reitor de Pesquisa e Pós-graduação: Roberto Dall´Agnol; Pró-reitora de Desenvolvimento e Gestão de Pessoal: Sibele Bitar Caetano; Prefeito do Campus: Luiz Otávio Mota Pereira. Assessoria de Comunicação Institucional JORNAL BEIRA DO RIO Coordenação: Luciana Miranda Costa; Edição: Adaucto Couto; Reportagem: Ericka Pinto/Walter Pinto/Adaucto Couto/Ana Cristina Trindade; Fotografia: Mácio Ferreira/Manoel Neto; Texto: Hellen Pacheco/Suzana Lopes; Comunicação Institucional: Lorena Filgueiras/Tamiles Costa/ Andréa Mota; Secretaria: Elvislley Chaves/Gleison Furtado; Beira on-line: Leandro Machado/Camilo Rodrigues; Revisão: Marcelo Brasil (Editora UFPA)/Glaciane Serrão (Ascom); Arte e Diagramação: Omar Fonseca; Impressão: Gráfica UFPA.
Professores dos ensinos fundamental e médio estão sendo capacitados a coletar e sistematizar o saber local
A idéia é montar coletâneas de textos e outros recursos didáticos para a utilização nas salas de aula dos municípios marajoaras. A professora doutora Denise Schaan afirma: “Há uma distância muito grande entre o conhecimento que a gente produz dentro da universidade e aquilo que chega para a sociedade”. Ou seja, o conhecimento antes restrito às bibliotecas universitárias e publicações científicas, a partir da implantação do projeto, será disponibilizado em uma linguagem acessível e didática. Para isso, inicialmente, Denise, mentora do projeto, pensou em montar livros a partir das pesquisas de estudiosos da universidade. Contudo, ao projeto inicial adicionou-se a experiência educacional do professor mestre Agenor Pacheco, que já desenvolveu diversos planos de pesquisa e produção de livros didáticos integrados à realidade do Marajó. Dessa forma, os textos e demais materiais serão produzidos pelos próprios docentes da rede básica de ensino dos municípios. “Estabeleceremos um diálogo com os professores. Ao mesmo tempo em que vamos colocar para eles o que sabemos, eles também vão colocar o que sabem”, explica o pesquisador. A partir dessa integração será possível abordar melhor a realidade de cada comunidade e compartilhar experiências, pesquisas e histórias locais.
n Terceira fase será em setembro A terceira fase do projeto acontecerá de 8 a 12 de setembro, quando todos os professores se reunirão em Belém para a finalização dos textos e sistematização de outros materiais didáticos, como jogos, vídeos e atividades educativas. A oficina de “Produção de Textos e Material Didático-Pedagógico” a ser ministrada, além de concluir a escrita dos livros, será um momento de sociabilizar os conhecimentos produzidos e sugerir exercícios e métodos de ensino-aprendizagem para a aplicação dos conteúdos em cada disciplina. “É possível abordar uma série de conceitos com os textos que serão produzidos. Um texto sobre cerâmica marajoara, por exemplo. Como a gente pode trabalhar com ele na área de matemática? Dá para trabalhar nas aulas de geometria, harmonia e ritmo, assim como nas aulas de biologia sobre plantas medicinais”, explica a professora Denise Schaan. Ao final, tudo o que for produzido será revisado, organizado e impresso. No início de 2009, os materiais serão distribuídos para as escolas municipais do arquipélago do Marajó. A equipe que coordena o projeto retornará às localidades marajoaras para divulgar e incentivar a utilização dos livros didáticos e demais recursos pedagógicos nas turmas de ensino fundamental e médio.
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BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Agosto, 2008 –
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Toxicologia
A Amazônia sob olhar do Pe. António Vieira
mácio ferreira
Paixão de LER
Editora da UFPA lança dois livros sobre a literatura do padre jesuíta
Suzana Lopes
n Na Babel do rio Amazonas
“P
ara ensinar sempre é necessário amar e saber, porque quem não ama não quer, e quem não sabe não pode”. Este trecho faz parte do Sermão do Espírito Santo, escrito no século XVII pelo padre António Vieira. Em homenagem aos 400 anos do nascimento do jesuíta, a Editora da Universidade Federal do Pará (EDUFPA) lançou duas obras que reúnem trechos de sermões e cartas redigidos por Vieira. Os livros Breviarium – para refletir com Pe. António Vieira e A Palavra Divina na Surdez do Rio Babel – com cartas e papéis do Pe. António Vieira são de autoria da pesquisadora em Letras Amarílis Tupiassú. “Eu conhecia o Vieira como um autor estudado no curso de Letras”, lembra Amarílis. Mas, desde 1997, a pesquisadora começou a ler os escritos do religioso e, à medida que lia, se interessava e se apaixonava pela literatura do jesuíta. Um dia, ela mostrou suas anotações a Maria Lúcia Medeiros, docente da UFPA, e Laïs Zumero, coordenadora da Editora Universitária, que ficou maravilhada com a beleza humana e literária dos textos e incentivou Amarílis a reunir mais trechos para uma futura publicação. Após 10 anos de leitura das centenas de sermões do padre, Amarílis agrupou 636 excertos em Breviarium - Para refletir com Pe.
Amarílis Tupiassú reuniu nas obras suas anotações sobre os sermões do religioso António Vieira. Os trechos, além de uma beleza estilística, possuem um conteúdo bastante reflexivo sobre valores e comportamentos da sociedade portuguesa e brasileira da época. O mais interessante é que, apesar de serem textos do século XVII, os temas retratados tornamos atuais. “Ele lutava contra a corrupção e pela justiça”, relata Laïs Zumero. Corrupção, ganância, escravidão são temáticas que Vieira tratou em seus sermões: “O ladrão que furta para comer, não vai nem leva ao Inferno; os que não só vão, mas levam, de que eu trato, são os ladrões de maior calibre e de mais alta esfera”, pregou o jesuíta.
Breviarium tem conteúdo reflexivo
n Críticas à escravidão indígena e maus costumes Nascido em 1608, António Vieira veio morar no Brasil aos 6 anos. Em 1623, tornou-se noviço e iniciou sua missão catequética, ordenando-se sacerdote em 1634. Além de padre, foi político, diplomata, professor, pesquisador, escritor e orador. Morreu na Bahia, em julho de 1697. Nos mais de 200 sermões que escreveu, Vieira se caracterizou por ser um crítico da escravidão desregrada dos índios, dos maus costumes dos colonos e da forma de pregar de outras ordens religiosas, principalmente dos dominicanos, chegando a questionar os métodos da temida Inquisição. Suas críticas lhe renderam expulsão do Brasil, julgamentos e até
prisão. “Ele foi sempre um homem regido por uma independência muito grande. Era extremamente corajoso e defendia idéias indefensáveis naquele tempo”, conta Amarílis Tupiassú. Mais que uma luta contra instituições, Vieira combatia a falta de valores cristãos da sociedade brasileira. “A luta dele não era contra Portugal, era contra os colonos. Ele combatia a cobiça e a falta de um senso moral”, explica a professora. “Enquanto os jesuítas queriam catequizar, os colonos queriam escravizar os índios. Vieira denunciava tudo isso”, completa. Em 1653, Vieira começou a pregar na Amazônia. Em uma terra de difícil acesso, ele adentrou a mata
para catequizar os índios. Aos poucos, os jesuítas mudaram os hábitos indígenas para os da cultura européia. Assim, por exemplo, o índio passou a cobrir suas “vergonhas”, porque os catequistas consideravam a nudez uma selvageria. A defesa da dignidade dos índios era baseada na concepção ocidental-cristã de vida. Por isso, mesmo lutando contra a escravidão indígena, não se pode negar que o processo também tentou eliminar traços da cultura amazônica. Mais que um retrato da Amazônia, do Brasil e de Portugal, os escritos de Vieira são uma rica coletânea de descrições detalhadas e reflexões profundas sobre a sociedade do século XVII.
Livraria do Campus
PRÓXIMOS LANÇAMENTOS
Rua Augusto Corrêa, nº1, Campus Universitário do Guamá Telefax: (91) 3201-7965 - Fone: (91) 3201-7911. Livraria da Praça: Instituto de Ciências da Arte da UFPA. Praça da República s/n Fone (91) 3241-8369
n 1 - “A PALAVRA DIVINA NA SURDEZ DO RIO BABEL - COM CARTAS E PAPÉIS DO PE. ANTÓNIO VIEIRA” e “BREVIARIUM - PARA REFLETIR COM O PE. ANTÓNIO VIEIRA”, de Amarilis Tupiassú; n 2 - “PAJELANÇA E RELIGIÕES AFRICANAS NA AMAZÔNIA”, organizado por Raymundo Heraldo Maués e Gisela Macambira Villacorta; n 3 - “MARAJÓ”, de Dalcídio Jurandir com participação de Rosa Assis, responsável por esta edição crítica. Os lançamento serão no dia 20 de agosto, na 20ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, no estande da Associação Brasileira das Editoras Universitárias (ABEU).
António Vieira não registrou seus pensamentos e convicções apenas através de sermões. Compõem sua vasta produção literária, cartas em que descreveu, por exemplo, o seu trabalho catequético na Amazônia. Esses escritos inspiraram Amarílis Tupiassú a escrever um segundo livro: A Palavra Divina na Surdez do Rio Babel - com cartas e papéis do Pe. António Vieira. Desta vez, a pesquisadora analisou a visão do padre sobre a região e como ele transformou pensamentos em palavras, com riqueza de detalhes. “São cartas de uma beleza ímpar que transpõe o leitor para aquele cenário”, maravilha-se Laïs Zumero, que editou o livro. Vieira explorou em seus textos descrições sobre costumes indígenas, técnicas de construção de canoas, dentre outros aspectos. O que mais chama a atenção de Amarílis nesse trabalho é a linguagem que o padre utiliza. Contrapondo-se ao formalismo e erudição da ordem religiosa dos dominicanos (líderes da Santa Inquisição), Vieira, enquanto jesuíta, defendia que os catequistas deveriam aprender as línguas indígenas para se tornarem compreensíveis aos índios e, assim, convertê-los com maior facilidade. Foi dessa forma, que o padre dominou sete línguas indígenas, mas não chegou nem perto de conhecer a diversidade linguística da Amazônia. “Ele dizia que colocava os ouvidos na boca do índio e não conseguia distinguir o que era vogal e o que era consoante”, exemplifica a professora Amarílis. Vieira chamava o rio Amazonas de rio Babel, justamente pela multiplicidade de línguas que ouvia ao longo de seus percursos missionários pela Amazônia, o que lembra a história bíblica da Torre de Babel.
Livraria da Praça A fim de cultivar a leitura, a EDUFPA aproveitou a ocasião do lançamento dos livros de Amarílis Tupiassú para pré-inaugurar a Livraria da Praça, no Instituto de Ciências da Arte (ICA), na Praça da República. O espaço abrigará saraus e leituras, dentre outras atividades.
A semente é largamente consumida de Norte a Sul do país. Estudo abordou a sua comercialização e a de derivados em Belém
Contaminação no amendoim é analisada Pesquisadores monitoraram presença da aflatoxina em grãos do produto
Ana Cristina Trindade
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monitoramento da presença da aflatoxina em grãos, como a castanha-do-pará e o amendoim, é uma das linhas de estudo do Laboratório de Toxicologia da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal do Pará. Quando as pesquisas foram iniciadas, há quatro anos, os resultados mostravam que esses produtos apresentavam um alto índice de contaminação. “Na época, houve uma preocupação muito grande do setor industrial e dos órgãos públicos responsáveis, sobretudo com a castanha-do-pará, que é produto de exportação, mas ainda faltam ações mais intensas de controle e análise dessa contamina-
ção. As ações apenas resultaram em uma diminuição do problema”, constata o pesquisador José Luis Vieira, doutor em Toxicologia e professor da Faculdade. Foi sob a orientação dele que os graduandos em Farmácia Inácio Aguiar Azevedo e Raimundo Lopes da Silva apresentaram, no XI Congresso Brasileiro de Biomedicina, em junho último, o mais recente estudo sobre o tema. “Determinação de Aflatoxina em grãos de amendoim e seus derivados comercializados na cidade de Belém” foi desenvolvido como trabalho de conclusão de curso no ano de 2007. Aflatoxina é a denominação dada a um grupo de substâncias tóxicas para o homem e para os
animais. São micotoxinas produzidas, principalmente, por dois fungos (bolores) denominados Aspergillus flavus e Aspergillus parasiticus, que se desenvolvem sobre muitos produtos agrícolas e alimentos quando as condições de umidade do produto, umidade relativa do ar e temperatura ambiente são favoráveis. A aflatoxina pode ser encontrada em vários produtos, mas os estudos mostram que a ocorrência das aflatoxinas é maior no amendoim, produto largamente consumido de Norte a Sul do país. A incidência de contaminação pode se dar na fase de colheita, estocagem do produto e o processamento dos grãos, ou na comercialização das embalagens.
n Clima favorece surgimento do fungo Os primeiros estudos sobre a aflatoxina começaram na década de 60, quando mais de 60 mil perus morreram na Inglaterra com lesão hepática grave causada pela ingestão de ração de amendoim enviada do Brasil. A partir daí, os pesquisadores começaram a identificar a presença do fungo causador da aflatoxina em produtos agrícolas. As aflatoxinas foram então classificadas, segundo o grau de toxicidade em B1, B2, G1, e G2. A aflatoxina B1 é encontrada com frequência em cereais e é considerada a mais tóxica, com maior potencial carcinogênico. Elas demonstram pe-
quena decomposição quando submetidas à temperatura de 100ºC. Sendo assim ,elas não são eliminadas nas condições normais de processamento dos alimentos. O estudo realizado por Inácio e Raimundo utilizou grãos de amendoim cru e torrado, e de seus derivados, como a paçoca, doce, amendoim japonês e o confeitado com chocolate. No total, foram analisadas 22 amostras coletadas durante oito meses em feiras, supermercados e no comércio ambulante da cidade. “Os resultados mostraram a presença de aflatoxinas B1, B2, G1 e G2 em
todas as amostras. Em quatro, foram identificados teores consideráveis de aflatoxina na categoria B1, tendo por base os limites estabelecidos pela legislação brasileira”, explicam eles. “Embora o amendoim não faça parte da dieta diária do paraense, existe um risco de contaminação porque o clima do Estado é propício para o desenvolvimento do fungo. A aflatoxina é reconhecida como causadora de câncer em animais e humanos, quando ultrapassa os limites máximos aceitáveis para a sua presença em alimentos, rações e produtos agrícolas”, explica o pesquisador José Luís.
n Laboratório dá suporte às pesquisas
Vieira aprendeu 7 línguas indígenas
O Laboratório de Toxicologia da UFPA está vinculado ao Instituto de Ciências da Saúde (ICS). Criado há doze anos, é suporte para as atividades de pesquisa na graduação e na pós-graduação, envolvendo alunos dos cursos de mestrado em Ciências Farmacêuticas. Atende também à demanda do Centro de Informações To-
xicológicas do Hospital Universitário João de Barros Barreto. O laboratório integra a Rede Latino-Americana de Monitorização de Drogas Resistentes à Malária, do Ministério da Saúde, desenvolvendo linha de pesquisa sobre a monitorização terapêutica de anti-maláricos. “Estamos trabalhando também
com saúde ambiental, estudando os danos que a atividade de carvoaria provoca nas pessoas. O projeto, financiado pela Fapespa, é coordenado pelo professor Pergentino Cunha, e referese à avaliação do estresse oxidativo em indivíduos que desenvolvem atividades madeireira na cidade de Tailândia”, conclui.
n Frequentador de bar corre mais riscos Os últimos resultados mostram que houve uma diminuição da contaminação em relação aos primeiros estudos, que apontavam um teor 10 e até 20 vezes maior (de aflatoxina) do que o permitido pelo Ministério da Saúde, em amendoins vendidos em supermercados. “Mas a contaminação ainda existe, principalmente, no amendoim comercializado por frequentadores de bares, que fazem o consumo junto com etanol, agravando os riscos para a saúde”, alerta o pesquisador José Luís. A contaminação do amendoim por aflatoxina tem preocupado o Governo Federal, já que, em 2006, o Brasil esteve entre os três países mais notificados pela União Européia, no que se refere às exigências dos padrões higiênico-sanitários para exportação do amendoim. O Ministério da Agricultura já montou um laboratório específico para dar início aos estudos sobre a aflatoxina no Pará. No ano passado, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico (CNPq) abriu financiamento para linha de pesquisa sobre o tema. Alguns editais visam o estudo de toda a cadeia produtiva do amendoim. “A iniciativa é boa, mas o problema também deve ser fiscalizado na esfera municipal e estadual. Os resultados desse último estudo foram enviados aos órgãos de vigilância sanitária para conhecimento”, informa José Luis.
4 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Agosto, 2008
BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Agosto, 2008 –
Saúde
Amazônia
Pesquisas priorizam doenças degenerativas
Estudos concentram-se no controle de enfermidades como as do coração fotos mácio ferreira
Ana Cristina Trindade
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m 2005, ocorreram 17 milhões de mortes no mundo causadas por doenças cardiovasculares, sendo 30% de infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral (AVC). Para 2015, estimase que essas doenças causarão 20 milhões de óbitos. Os estudos epidemiológicos, antes concentrados em doenças infecto-parasitárias, nas últimas décadas se voltaram para o controle das doenças degenerativas, com destaque para neoplasias - proliferação celular anormal - e doenças cardiovasculares. O assunto foi tema da conferência “Contribuição da Genética na Avaliação de Risco para Doenças Coronarianas”, proferida pela doutora em Genética Dorotéia Souza, na abertura do XI Congresso Brasileiro de Biomedicina, em junho último. Professora da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Famerp/SP), ela participa de grupos de estudos sobre doenças cardiovasculares, com enfoque em fatores genéticos. A pesquisadora também ministrou o minicurso “Aspectos Genéticos e Bioquímicos das Dislipidemias”. Esse termo é utilizado na medicina para designar alteração nos níveis de lipídios no sangue, como colesterol e triglicérides, o que representa um importante fator de risco para desencadear doenças cardiovasculares. “A herdabilidade genética interagindo com esses fatores de risco é da maior importância no estudo da doença arterial coronária (DAC), principalmente na presença da doença em parentes de primeiro grau e em idade abaixo de 55 anos. Isso torna o indivíduo mais susceptível”, alerta Dorotéia Souza. A pesquisadora enfatizou que os estudos no Brasil têm contribuído para ampliar o conhecimento em torno das doenças cardiovasculares. “Nosso país conta com excelentes pesquisadores que mantêm parcerias com centros internacionais, que são referência de estudo nessa área. Mas a própria complexidade da doença exige estudos mais amplos, demandando tempo para o domínio de seu conhecimento e controle,” constata. COMPLEXO - O conhecimento da fisiopatologia da DAC indica fatores de risco importantes para a doença e o quanto ela pode ser, ambientalmente ou geneticamente, influenciada. Dorotéia explica que este é um processo complexo e trabalhoso, já que mais de 400 genes são descritos como associados a essa doença. “Nesse processo, muito tem colaborado a biologia molecular, por meio da associação dos estudos genéticos que avaliam o genoma (conjunto de genes de um indivíduo) e a proteômica, que estuda o conjunto de proteínas, presentes nas células, codificadas pelo genoma. Nesse contexto, a análise da expressão conjunta dos genes, isto é, das proteínas (proteômica), nos permite detectar vias específicas de síntese e metabolismo importantes na manifestação de DAC”, afirma.
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Sequestro de carbono sob a ótica econômica Estudo observa emissão e retenção no setor produtivo rural da região
mácio ferreira
Walter Pinto
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A casca da uva tem a presença de flavonóides, substância conhecida pelo seu poder antioxidante
n Uva contra os radicais livres O estresse Faculdade de Medioxidativo é o decina de São José do sequilíbrio entre a Rio Preto (Famerp). produção de radicais “Suplementação de livres e antioxidantes Flavonóides através nas células, causando Suco de Uva” endo a sua destruição. volveu crianças de 8 Esse mecanismo está meses a 12 anos. O relacionado a várias objetivo é controlar doenças, como a ateo estresse oxidativo, rosclerose e o câncer. por meio da ingestão “Aspectos Práticos de flavonóides, subsdo Estresse Oxidatância encontrada na tivo na Saúde” foi casca da uva e conheDorotéia Souza, da Famerp tema de mesa-redoncida pelo seu poder da coordenada pelo antioxidante. biomédico Sandro Percário, professor “Durante a cirurgia cardíaca, do Núcleo de Medicina Tropical da essas crianças passam por um procesUFPA, durante o congresso. so que leva à produção excessiva de Dorotéia Souza também partiradicais livres. Ao oferecer o suco de cipou com um estudo desenvolvido uva durante 14 dias antes da cirurgia, em colaboração com o cirurgião carpudemos observar como elas reagiam díaco pediátrico Ulisses Crotti e seu com essa carga a mais de antioxialuno Raphael Piteri, com crianças dantes. O estudo está em andamento acometidas por doenças cardíacas e os primeiros resultados são muito congênitas, no Hospital de Base e interessantes. Vamos partir agora para Núcleo de Pesquisa em Bioquímica o estudo do estresse oxidativo na doe Biologia Molecular, ambos da ença de Alzheimer”, comenta.
n Vacina para malária pode surgir Sandro Percário é referência em estresse oxidativo, tendo auxiliado os pesquisadores da Famerp nas técnicas para desenvolvimento dos estudos com flavonóides. Mestre em Morfologia e doutor em Ciências pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), tendo desenvolvido parte dos experimentos na Universidade de Toronto no Canadá, ele estuda os radicais livres desde a graduação e é considerado autor do primeiro trabalho de conclusão de curso sobre o tema. Há dois anos, integra o corpo docente do Núcleo de Medicina Tropical (NMT), no qual coordena estudos sobre o estresse oxidativo em doenças tropicais, com destaque para a malária. A pesquisa está em fase inicial de mapeamento das reações oxidativas envolvidas na malária. Os resultados
poderão levar ao desenvolvimento de uma vacina contra o plasmódio. O projeto envolve alunos do mestrado, de iniciação científica e da área de Farmácia Bioquímica da UFPA. “Historicamente, o primeiro trabalho científico produzido sobre o tema mostrou que os radicais livres estavam associados ao envelhecimento. Mas o avanço das pesquisas mostrou que é um mecanismo bioquímico de lesão celular que leva à maioria das doenças. Para que possamos nos defender dos radicais livres precisamos identificar as condições nas quais ele é produzido, para interferir de forma efetiva”, observa. “As substâncias chamadas antioxidantes são moléculas que reagem com os radicais livres e que impedem o dano celular. Mas muito conhecimento sobre os radicais livres ainda vem por aí”, completa.
n Óxido nítrico atrai atenções Na década de 90, a indústria farmacêutica, pesquisando um medicamento que poderia produzir o óxido nítrico para controle da hipertensão arterial, descobriu um efeito colateral interessante. A substância causava o aumento de tempo de ereção peniana no homem. Mudou-se o escopo dos estudos, dando origem ao Viagra, que nada mais é que um medicamento liberador do óxido nítrico. “A substância está relacionada ao relaxamento do vaso sanguíneo e é requerida pelo organismo para que as células expressem fatores de crescimento, possam se dividir e realizar funções específicas. Com tantas ações biológicas, tanto maléficas quanto benéficas, ela tem intrigado os pesquisadores”, ressalta Sandro Percário, professor do NMT da UFPA. “Para nós, que estamos estudando como a comunicação entre as células interfere no desenvolvimento de doenças, ou no próprio funcionamento do organismo, é impossível deixar de estudar as implicações do óxido nítrico nesses mecanismos”.
Sandro Percário, da UFPA
m dos temas ambientais atualmente mais discutidos nos seminários nacionais e internacionais é o sequestro de carbono (CO2). A complexidade sugerida pela expressão “sequestro de carbono” pode afastar os não iniciados na discussão, mas ela está presente no dia-a-dia das pessoas, pois se reflete diretamente na qualidade do ar que respiramos. Dá-se o nome de sequestro de carbono ao processo de absorção de grandes quantidades de gás carbônico presentes na atmosfera. A forma mais comum é, naturalmente, realizada pelas florestas. Em crescimento, elas absorvem gás carbônico e liberam oxigênio, ou seja, são fundamentais para a diminuição de poluentes na atmosfera terrestre. Há vinte anos pesquisando a dinâmica agrária na Amazônia, o PhD em Economia Francisco de Assis Costa, professor do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Sustentável do Trópico Úmido do Naea (UFPA), percebeu que questões relacionadas ao tema não poderiam ficar de fora de seus estudos sobre sistemas rurais de produção, se pretendesse continuar ajudando os atores locais a enfrentar os desafios atuais. A atenção do pesquisador voltou-se para a questão no ano passado, quando estava em Oxford, como professor visitante. Ao participar do seminário “O destino da Amazônia”, no Oriel College, percebeu que as discussões giravam em torno de temas ecológicos, entre os quais, emissão de gases, efeito estufa e mudanças climáticas. No mesmo período, foram divulgados o Stern Report e o IPCC Report, entre outros relatórios internacionais que buscam calcular o impacto das mudanças climáticas na
As florestas fazem, naturalmente, o sequestro de CO2, através da fotossíntese, ajudando a reduzir o efeito estufa economia mundial. Avaliando que a temática das mudanças climáticas tem sido trabalhada de forma descontextualizada do ponto de vista social, histórico e econômico, Costa está desenvolvendo estudos que buscam contribuir para corrigir o enfoque, observando como as diferentes estruturas de produção na Amazônia são importantes para os balanços de CO2. Seu objetivo é tentar tornar inteligíveis questões econômicas e sociais do meio rural amazônico aos participantes da discussão internacional, orientadas por questões ecológicas. Ao mesmo tempo, pretende “colocar as temáticas ambientais, hoje incontornáveis, nas discussões locais, respeitando as especificidades de seus sujeitos”.
O pesquisador responde Qual a relação da economia com a questão do carbono? “A economia como disciplina tem incursões nesse tema, seja no que se refere à formação de novos mercados e comodities, seja no que trata de uma nova economia política crítica. Georgescu-Roegen, um economista romeno que já, em 1971, teorizou sobre sustentabilidade ambiental e economia, indicou que as atividades econômicas constituem vetor de entropia dos sistemas físicos e naturais da terra, isto é, um fator de desestruturação irreversível do planeta. Pesquisando CO2 ligado ao sistema econômico pelos sistemas agrícolas, tento resgatar um pouco isso também. Recentemente, surpreendi-me ao ler um texto do Celso Furtado, do início dos anos 70, que trabalha com as idéias do Georgescu-Roegen e se refere também à segunda lei da termodinâmica para pensar o que chama de ‘mito do desenvolvimento’. Francisco de Assis Costa
n Pesquisador alerta para comércio
n Gases mantêm terra aquecida
A pesquisa de Francisco de Assis Costa busca observar o volume de emissões e de sequestro de carbono associado à produção rural, ou melhor, aos diversos sistemas de produção existentes no setor rural amazônico. Esse balanço (resultado da equação “emissão menos sequestro”) é analisado de forma dinâmica no tempo, ou seja, nos diversos momentos de evolução dos sistemas de produção, como uso, reuso e não-uso das áreas incorporadas. O estudo abrange os sistemas agrários e as economias locais da região. As diferentes formas de uso dos recursos naturais variam conforme a natureza do sistema de produção e se expressam também no balanço de carbono. “Alguns sistemas emitem mais, outros menos; uns sequestram, outros não. Os balanços são, então, diferentes”, explica o pesquisador. Ele chama a atenção para o viés comercial que a questão, até então, ambiental está assumindo: “A dimensão e o significado das diferenças dos
Retirar gás carbônico da atmosfera é uma das principais preocupações dos estudiosos diante do avanço do aquecimento global em todo o mundo. O processo de remoção de gás carbônico ocorre por fotossíntese. Ao retirar o dióxido de carbono (CO2) da atmosfera, o processo libera oxigênio e contribui para reduzir o efeito estufa. Segundo a pesquisadora Chang Man Yu, autora do livro “Sequestro florestal de carbono no Brasil - Dimensões políticas, socioeconômicas e ecológicas” (Editora Peirópolis, 2004, 280 páginas), “o efeito estufa é um fenômeno físico que acontece naturalmente. A atmosfera é composta, principalmente, de oxigênio (21%) e nitrogênio (78%). Os principais gases de efeito estufa (GEE) são o vapor d’água, o CO2, o metano (CH4) e o óxido nitroso (N20). O vapor d’água é o gás mais volumoso, no qual, no entanto, as atividades humanas têm pouca
balanços devem ser apresentados em toda sua complexidade, pois a retenção líquida de carbono virou, ou está virando, um serviço mercantilizável. Se não tivermos conhecimento suficiente sobre as implicações disso, corremos o risco de tornar o novo mercado, base para aprofundar a diferença entre ricos e pobres no Brasil, ao invés de oportunidade para reduzir esse fosso”. A pesquisa já conseguiu mostrar, com modelos simples, os diferentes balanços de CO2 dos diversos sistemas de produção rural na região Norte e observar aspectos importantes de uma política de mitigação do carbono na economia do sudeste do Pará. Os resultados foram apresentados no World Congress da Regional Sciense International Association, em março passado, e no Congresso da Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Ambiente e Sociedade, em junho passado, provocando discussões acaloradas e interessantes, segundo Costa.
interferência direta. Os gases, que se concentram, naturalmente, na atmosfera, representam menos de um milésimo da atmosfera total. Sem esses gases, que atuam como um cobertor natural ao redor da terra, a radiação infravermelha térmica solar absorvida pela Terra se dissiparia no espaço e a superfície do nosso planeta seria 33ºC mais fria do que é hoje.” “O dióxido de carbono (CO2), o principal gás causador do efeito estufa, circula entre quatro principais estoques de carbono: a atmosfera, os oceanos, os depósitos de combustível fóssil e a biomassa terrestre e o solo. No balanço global de carbono na atmosfera de nosso planeta, dos 6,3 Gt C (giga tonelada de carbono) emitidos, 3,3 Gt C permanecem na atmosfera, provocando o aumento do efeito estufa, e o restante é reabsorvido pelos oceanos e pela biota terrestre, aproximadamente em partes iguais”.
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BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Agosto, 2008 –
Amazônia
Biomedicina
Saúde pública para os riberinhos
fotos pesquisador
Programa atende comunidades próximas à Região Metropolitana de Belém Ana Cristina Trindade
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Programa Luz na Amazônia, parceria entre a Universidade Federal do Pará (UFPA) e Sociedade Bíblica do Brasil (SBB), foi um dos destaques no Simpósio de Helmintologia, em junho último. Apresentado pela biomédica Marly Melo, que coordena as ações desde a sua implantação há quatro anos, o programa presta atendimento às comunidades ribeirinhas próximas à Região Metropolitana de Belém. Duas vezes ao mês, uma equipe de estudantes e professores oferece serviços de saúde, como diagnóstico, tratamento e palestras de prevenção às doenças, por meio de um barco hospital em parceria com a SBB, equipado com consultórios médico e odontológi-
co, sala de colposcopia, enfermaria, laboratório de análises clínicas, além de uma farmácia, na qual é feita a dispensação (orientação e fornecimento de medicamentos) e a assistência farmacêutica. No início de cada ano, uma comunidade é escolhida pelo programa que passa a receber os serviços sistematicamente. Inicialmente, a equipe faz o cadastro socioeconômico das famílias para reunir informações que irão direcionar as estratégias de atendimento e traçar o perfil epidemiológico. Na primeira viagem de cada mês são realizadas as coletas de material para exame parasitológico e hematológico, preventivo do câncer ginecológico, realização de palestras educativas e atendimento odontológico. Na segunda viagem
é feito o atendimento médico, já com os resultados dos exames, e, em seguida, é feita a dispensação dos medicamentos e assistência farmacêutica. “Esse projeto já é realizado pela SBB há 42 anos. A parceria com a UFPA lhe trouxe um caráter acadêmico-científico, pois é sistemático e integra estudantes de diversas áreas do conhecimento da Universidade”, explica Marly Melo. Estão envolvidos alunos dos cursos de Farmácia, Odontologia, Internato de Medicina Social e Pediatria da Faculdade de Medicina. Também participam discentes de Medicina Veterinária, da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), e de Saneamento, do Centro Federal de Educação Tecnológica.
n Várzea do Aurá sofre por causa do lixão No decorrer dos quatro anos de trabalho, sete comunidades ribeirinhas foram atendidas, com uma média de 80 famílias cada, perfazendo, aproximadamente, um total de 2.500 pessoas. As mulheres têm sido alvo de um importante trabalho de conscientização sobre o câncer de colo de útero, que apresenta um alto índice na região Norte. A patologista Elza Bahia Brito está à frente do trabalho de coleta para realização do exame preventivo de colo uterino (PCU). O trabalho “Busca Ativa para prevenir o Câncer do Colo Uterino nas mulheres ribeirinhas no Estado do Pará” foi premiado durante o melhor do Congresso Médico Amazônico 2008. AURÁ - A comunidade do Aurá, que habita a região de várzea, é o tema dos estudos para a tese da professora Marly Melo, que está sendo desenvolvida no doutorado em Biologia de Agentes Infecciosos
kelly pozzebon
O chorume produzido na área contamina localidades próximas e Parasitários. A pesquisadora está investigando os vários aspectos da helmintíase nessa comunidade, em função da influência que ela recebe do lixão do Aurá. “São 120 famílias que vivem na região de várzea e do extrativis-
mo do açaí, mas sofrem influência do lixão, pois utilizam a água do rio contaminada pelo chorume para todas as suas necessidades. Já detectamos até 100% de contaminação por parasitose em várias famílias”, afirma a pesquisadora.
n Pesquisas em helmintos serão estimuladas Estimular o crescimento de uma linha de pesquisa voltada para educação e saúde pública, com ênfase em parasitoses causadas por helmintos em humanos, foi um dos destaques do I Simpósio de Helmintologia, realizado dentro da programação do Congresso Brasileiro de Biomedicina. O evento contou com a presença de pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz-RJ), do Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães (CNPqAM - Recife-PE), além da UFRJ e de pesquisadores locais. A pesquisadora do Laboratório de Biologia Celular, do Instituto de Ciências Biológicas da UFPA, Jeanne Santos, coordenadora do Simpósio, disse que “inicialmente, foi pensada uma reunião local para divulgação de trabalhos sobre Helmintologia, mas o convite e o apoio da coordenação do Congresso propi-
ciou a realização de um evento científico que ampliou a participação do público interessado nessa temática, com a apresentação de 25 trabalhos, alguns sendo premiados”. Doutora em Biologia Celular e Molecular (Fiocruz- MG), ela também está à frente do Programa de Ensino Tutorial (PET) da Faculdade de Farmácia. Durante o doutorado, estudou sobre a filariose humana e de roedores, e deu continuidade ao tema, pesquisando filariose canina (zoonose denominada “doença do verme do coração”). Obteve com isso, o apoio da Capes (para o desenvolvimento de uma linha de pesquisa em Helmintologia, visando estudos de helmintos na região Norte, desde levantamentos epidemiológicos em Belém e na Ilha do Marajó, até taxonomia para estudos de novas espécies. O projeto é desenvolvido em
parceria com a pesquisadora Reinalda Maria Lanfredi, doutora em Medicina Veterinária pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, com ênfase em Parasitologia. Há dois anos, as pesquisadoras ministram juntas a disciplina “Aspectos morfológicos e biológicos de helmintos de interesse médico e veterinário”, na Pós-graduação em Biologia de Agentes Infecciosos e Parasitários da UFPA. “Nossa proposta é estimular o crescimento da linha de Helmintologia, desenvolvendo estudos para consolidar toda a área de pesquisa em helmintologia, que ainda é tímida nessa região. A idéia é implantar um núcleo de Helmintologia para determinar as espécies, já que muitos trabalhos têm sido feitos com parasitos de animais silvestres refletindo a diversidade regional da helmintologia”, informa.
UFPA integra projeto de radiossondagem Por 22 dias foram recolhidos dados para balanço da umidade da região fotos Hellen Pacheco
Hellen Pacheco
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ebater a questão das mudanças climáticas que configuram o cenário atual da região Amazônica é imprescindível. A maior reserva de biosfera do planeta, como é denominada, ao sofrer impactos em sua constituição ambiental e climática contribui diretamente para o agravamento de problemas socioambientais já existentes, a exemplo do aquecimento global. Foi pensando nisso que o Programa de Pós-Graduação de Ciências Ambientais, da Universidade Federal do Pará, integrou o projeto Mini-Barca (Balanço Atmosférico Regional do Carbono na Amazônia), que visa obter um conjunto de dados que permita análises mais detalhadas sobre as condições climáticas em um determinado período para a validação das simulações numéricas. Foram feitas ações simultâneas, nas quais foram lançadas diariamente quatro radiossondagens nos municípios de Belém, Manaus, Tabatinga, Rio Branco e Carolina, nos horários: 00, 06, 12 e 18 UTC (padrão internacional que equivale a 21h, 3h, 9h e 15h, respectivamente). A proposta consistiu em analisar o balanço de umidade na Amazônia, no período de 9 a 30 do último mês de junho, durante exatamente 22 dias. As sondas, amarradas a balões de gás, permaneceram no ar por algumas horas e, nesse intervalo, registra-
Fortalecer
Os alunos participam de todo o processo do experimento vam as alterações de umidade do ar, pressão, temperatura, direção e velocidade do vento. As informações ajudam a melhorar a compreensão sobre o ciclo hidrológico e a reciclagem da água, mediante as ações antropogênicas que estão alterando a quantidade de CO2 (gás carbônico) na atmosfera. Segundo a coordenadora do PPG em Ciências Ambientais, Aurora Mota, é importante que os estudantes estejam envolvidos em projetos científicos dentro da Universidade, pois desenvolvem uma grande capacidade produtiva
voltada para o pensamento científico. Essas atividades práticas integram a graduação do curso de Meteorologia e representam uma oportunidade única para os alunos atuarem diretamente em todas as partes constituintes do processo. Os alunos têm a oportunidade de manusear os materiais desde a preparação da sonda, medição de temperatura e acréscimo da bateria química, passando pelo lançamento do balão dentro das condições necessárias de clima, até a posterior análise dos tipos de nuvens presentes no momento do lançamento da radiossonda.
n Cooperação internacional O LBA é um experimento científico de cooperação internacional voltado para a interação da floresta amazônica com a atmosfera regional e global. É liderado pelo Brasil, sob a coordenação do INPA, e integra o programa de C&T do Ministério de Ciência e Tecnologia. Exatamente 41 instituições amazônicas de ensino e pesquisa integram o experimento, que totaliza 86 brasileiras e 100 de outros países. Aprofundar o conhecimento sobre o sistema amazônico e sua resposta às mudanças dos usos da terra e do clima, por meio de pesquisas multidisciplinares e integradas, e contribuir para a formação e fixação de uma nova geração de cientistas na região são alguns dos objetivos do experimento na Amazônia. Integram o LBA mais de 1.100 pesquisadores que desenvolvem estudos em 118 projetos de diversas áreas, dentre elas: Física do Clima, Química da Atmosfera, Hidrologia e Química das Águas.
EM DIA A Secretaria de Estado de Educação (Seduc) vai financiar o Programa Fortalecer no limite máximo de R$ 2.500.000,00, incluídos os custos operacionais para execução em até 12 meses. O programa é uma ação conjunta do Governo do Estado e a UFPA para fomentar a integração da educação superior com a educação básica e a permanência com sucesso de estudantes oriundos de escolas públicas e ingressantes na UFPA pelo sistema de cotas. Os formulários estão disponíveis, até o dia 15 de agosto, no endereço eletrônico www.proeg.ufpa.br. Mais informações: Proeg /Diretoria de Projetos - 32017909 ou proeg@ ufpa.br
Eleição
Estão disponíveis para consulta no portal da UFPA (www.portal.ufpa. br), os documentos referentes ao processo eleitoral para a Reitoria, relativo ao período de 2009 a 2013. Para acessar, clique no banner “Eleição para Reitor e Vice-Reitor 2009/2013”, localizado na parte superior direita da página inicial do Portal.
Mudança
O Departamento de Apoio ao Vestibular (Daves) agora chama-se Centro de Processo Seletivo (Ceps), órgão suplementar subordinado à Reitoria. A mudança resulta do Novo Regimento Geral da UFPA, do Regimento da Reitoria e do Regimento Interno do órgão, que ainda será apreciado na Câmara de Legislação e Normas.
Samuel Benchimol
O reitor da UFPA, Prof. Dr. Alex Fiúza de Mello, recebeu no dia 24 de junho, a honraria do Prêmio Professor Samuel Benchimol 2007.
TCC premiado As sondas registraram dados importantes sobre o ciclo hidrológico
n LBA atua na região desde 1999 O projeto integra um processo amplo de estudos meteorológicos desenvolvidos na região, por meio do LBA (Experimento em Grande Escala da BiosferaAtmosfera da Amazônia), que atua na região e no Brasil desde 1999. Trabalhos como o do Mini-Barca ocorrem com intervalos de tempo consideravelmente grandes, em função do seu elevado custo. Por causa disso, há torres de 20 a 60 metros instaladas em pontos estratégicos, como a Floresta Nacional do Tapajós, que possibilitam, continuamente, a obtenção e o
domínio de dados micrometeorológicos: umidade, temperatura, precipitação, radiação solar, entre outros. Participam do projeto a UFPA, o CPTEC-Inpe (Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos); USP; UFAM (Universidade Federal do Amazonas); UEA (Universidade do Estado do Amazonas); INPA (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia) e o Sipam (Sistema de Proteção da Amazônia). A coordenação é da Drª. Maria Assunção Faus da Silva Dias (CPTEC-Inpe/USP).
Um estudo com pacientes integrantes do Grupo do Fígado da Santa Casa de Misericórdia valeu à biomédica Renata Bezerra Hermes o prêmio na categoria Trabalho de Conclusão de Curso, no XI Congresso Brasileiro de Biomedicina, realizado em junho. A pesquisa, intitulada Avaliação do polimorfismo no gene MBL em pacientes infectados pelo vírus da hepatite C (VHC), foi desenvolvida entre 2005 e 2006 com voluntários infectados e defendida em 2007, sob orientação do professor doutor Antonio Vallinoto e apoio do biomédico Renato Fernandes e de alguns pesquisadores do Instituto Evandro Chagas.
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Patrimônio
Restauração no Museu da UFPA prepara o espaço para ampliar suas atividades MUFPA retoma as suas atividades como centro de produção do conhecimento sediando uma programação cultural diversificada FOTOS MÁCIO FERREIRA
Suzana Lopes
n Comunidade acadêmica não valoriza o espaço
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uando o governador Augusto Montenegro construiu sua residência em 1903 não imaginava que um dia o prédio seria o Museu da UFPA (MUFPA), o único museu federal de artes na Amazônia. Localizado no centro de Belém, o palacete, que recebeu o nome do seu primeiro morador, passa por uma restauração que pretende potencializar o espaço, para que mantenha a memória cultural e crie novos conhecimentos. Sob a direção da arquiteta Jussara Derenji, desde 2003, o MUFPA foi tombado pelo Estado como Patrimônio Histórico a pedido do própria UFPA. Após essa conquista, o passo seguinte foi reformar o prédio que, após nove anos de inatividade, encontrava-se com sérios problemas na estrutura física. Assim, com o apoio de leis federais de incentivo à cultura, Lei Rouanet e de patrocínios públicos e privados, o MUFPA, em parceria com o Escritório Modelo de Arquitetura da Universidade, recuperou suas instalações. A restauração encontra-se em fase final. Uma mudança bastante significativa que as reformas proporcionaram aconteceu no jardim: o que antes era apenas uma entrada para o Museu, com origem no jardim de uma residência, foi planejado para receber público e ganhou esculturas feitas especialmente para o espaço por artistas paraenses. Sua estrutura atual permite a realização de diversas atividades, como abertura de eventos e exposições, lançamentos de livros e o projeto Curta no Museu, que acontece sempre no 2º semestre e exibe, nas noites de terça-feira, uma sessão com curta-metragens produzidos pela instituição Amazônia Imaginária. Um fato interessante foram os achados arqueológicos ocorridos durante a reestruturação do jardim. “Da escavação resultou um acervo de fragmentos de louça, cerâmica e vidro dos
As mudanças no Museu da UFPA possuem também uma finalidade primordial: estreitar os laços com a comunidade acadêmica. Jussara Derenji lamenta a indiferença das pessoas da universidade em relação ao Museu. “Infelizmente, nós não temos visitação de estudantes da UFPA, não temos solicitação de professores para dar aulas com as nossas exposições, nos nossos espaços. Eu tenho visitação de turistas, de pessoas da sociedade civil e de alunos do ensino médio da rede pública e privada. Mas quanto aos alunos da universidade, parece um total desconhecimento do Museu”. A diretora aponta a variedade de temas que fazem do Museu uma grande fonte de pesquisas. “Na arquitetura existe uma gama de possibilidades de estudo: a casa possui materiais do período do Art Nouveau e é um belo exemplo de estilo eclético. Na história: o prédio foi residência do goverséculos 19 e 20. Até 1948, no lugar do jardim havia casas com a frente para a Avenida Generalíssimo Deodoro. Essas casas tinham quintais, onde as pessoas jogavam peças quebradas. E, construindo o jardim do Museu, encontramos esse material”, conta a diretora. Foram encontradas, no total, 2.200 fragmentos de cerâmica, porcelana e vidro que estão parcialmente em exposição no MUFPA. A adaptação do prédio para o acesso de portadores de necessidades especiais e idosos também está incluída na reforma. Já foi concluída a instalação de rampas e banheiros e, até o final de 2008, um elevador será instalado para a locomoção dessas pessoas. Isso permitirá o acesso a todo o prédio pela primeira vez desde a criação do Museu em 1983.
Projeto resgata a história da UFPA
Jussara Derenji, diretora do Mufpa: local é uma grande fonte de estudos nador Augusto Montenegro. Na sociologia: a casa é um importante exemplar do período da borracha. Em artes visuais: detalhes de pinturas internas”. Segundo Jussara, a utilização do acervo para aulas e visitações depende somente da
iniciativa de professores e alunos, bastando que comuniquem com antecedência ao Museu, para que o material e o espaço sejam organizados. O MUFPA é um espaço rico para a Amazônia e pode ser ainda mais para a Universidade.
O acervo de fotografias está sendo catalogado. À direita, o interior do palacete com uma recente exposição
n Associação de Amigos apóia as atividades O prédio já foi tombado e a reforma está na fase final
n Resgate da memória da universidade Todas essas melhorias infraestruturais refletem-se no aumento de atividades e possibilidades de eventos promovidos e sediados no MUFPA. Exposições artísticas, Curta no Museu, lançamento de livros e o Arte Pará 2008 são apenas alguns exemplos da agenda para este ano. Jussara Derenji explica, porém, que o Museu trabalha com planejamentos tri-anuais e que não é possível agendar exposições com um mês de antecedência, por exemplo. “Pode acontecer a casualidade de haver um furo na programação. Mas para fazer uma atividade aqui, ela tem de ser submetida ao Conselho Curador para ver se essa atividade se encaixa nas metas do
Detalhe do teto: prédio foi erguido em 1903
Museu, nos nossos direcionamentos; se há espaço na pauta; e se há condições de receber o evento”. Há também atrações permanentes no Museu, como a Biblioteca, que contém o Acervo Vicente Salles, o maior da Amazônia em se tratando de folclore, dança, música, teatro e cultura do negro. A partir de um projeto da Petrobrás, todas as aproximadamente 4 mil partituras coletadas por Salles estão sendo digitalizadas e ficarão disponíveis para consulta até o final do ano. O MUFPA, com a Associação dos Amigos do Museu da UFPA, ainda produz o Jornal do Museu, uma publicação trimestral de cultura e arte. Outro projeto que está em
andamento visa preservar a memória da UFPA. Algumas peças já são acessíveis, como medalhas, louças e fotografias, mas o acervo pretende se estender para teses sobre a instituição e livros da Editora Universitária. “A UFPA tem, por exemplo, louças com o seu timbre, medalhas, documentos importantes. Porém, a memória da Universidade não é constituída apenas de fatos oficiais, mas também das pessoas que trabalharam nela”. Quem possuir algum dos objetos, fotografias e medalhas citados e quiser doá-los, basta comunicar à direção pelo e-mail museu-ufpa@ufpa.br ou entregar diretamente no Museu, de 9h às 12h.
As conquistas do Museu nos últimos anos deveram-se, em grande parte, à formação da Associação de Amigos do Museu da UFPA (AAMUFPA). “A nossa associação é de membros da sociedade civil, ou seja, pessoas vinculadas ao teatro, à música e à dança, advogados, procuradores da República, empresários. Essas pessoas são a nossa forma de inserção
na sociedade. Nós temos voz na sociedade através delas”, enfatiza Jussara Derenji. Além disso, a Associação de Amigos possibilita a maior agilidade na resolução de alguns problemas, desde a compra de materiais com urgência até a entrada de projetos em editais de programas de incentivo à cultura e às artes. Estudantes, professores e
técnicos da UFPA, assim como qualquer pessoa, podem ser membros da associação fazendo contribuições financeiras mensais, em valores estipulados por categorias. No site do Museu (www. ufpa.br/museufpa) encontra-se a ficha de inscrição, o estatuto e o nome das pessoas que já fazem parte da AAMUFPA.
n Palacete abrigou governador O prédio onde funciona o Museu da UFPA data de 1903, quando o então governador do Pará, Augusto Montenegro, construiu sua residência. Depois que saiu do poder, em 1909, Montenegro vendeu sua casa que, desde então, foi propriedade de várias famílias de renome no estado. Até que, na gestão do professor José da Silveira Netto, a Universidade Federal do Pará comprou o palacete. “A UFPA compra essa casa em 1962, em um período que a arquitetura brasileira valorizava projetos que não incluem um prédio eclético, que é o caso desse palacete. Então, há toda uma posição de vanguarda do reitor ao comprar uma casa do período da borracha, luxuosa, muito decorada e que não era o que se costumava valorizar na época”, explica a diretora do MUFPA. Coincidindo com a mudança da reitoria para a cidade universitária no Guamá, em 1982, foi determinada a criação de museus universitários pelo governo militar. Foi então que o Palacete Montenegro se tornou o Museu da UFPA e passou a abrigar diversos acervos de grande valor para a região amazônica, com destaque para os mais de 10 mil livros, 70 mil recortes e 4 mil partituras que compõem o Acervo Vicente Salles. Após nove anos fechado para visitação, o Museu da UFPA começou a ser reformado em 2003 e ganhou o tombamento de Patrimônio Histórico. Desde então, a riqueza arquitetônica do palacete, expressa nas pinturas do teto e das paredes e nos detalhes da estrutura, está sendo restaurada. Ao mesmo passo da conservação, o espaço ganha ares modernos, principalmente com a digitalização de acervos e a adaptação para o acesso de portadores de necessidades especiais. Tudo isso para o maior crescimento e reconhecimento do MUFPA enquanto espaço de memória e construção de conhecimentos.
serviço
Uma das esculturas feitas exclusivamente por artistas paraenses para compor o jardim da instituição
O Museu da UFPA fica na Av. Governador José Malcher, 1192, e funciona de terça à sexta das 9h às 17h, e sábado e domingo de 10h às 14h. Tel:(91) 32240871/ 3242-8340// E-mails: museuufpa@ufpa.br/ museufpa@gmail.com