Beira 64

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12 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Setembro, 2008

Entrevista

Mulheres vencem preconceitos no curso de Engenharia Civil

MÁCIO FERREIRA

JORNAL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ • ANO VI • No 64 • SETEMBRO, 2008

Oswaldo Coimbra

Regina Sampaio: “Desde criança, sempre gostei muito de Matemática”

BR - Ao dizer que a Matemática é bonita, a senhora está dizendo que a procura de rigor matemático não exclui o desfrute de sensibilidade estética? R.S. - Não há dúvida de que você pode usar a sensibilidade estética numa aproximação com a Matemática. Quem gosta de Matemática acha que ela é bonita, quando a estuda.

BR – Um dos responsáveis pelos projetos pedagógicos da Facul-

BR - Onde a senhora cursou o mestrado? R.S. - Fui aprovada, simultaneamente, em dois cursos de mestrado de Engenharia Civil: o da Universidade de São Paulo e o da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Preferi o segundo porque nele obtive, logo, bolsa de estudo. Lá fiz o curso na área de Estruturas, para a qual já tinha uma formação desde a graduação. Havia, inclusive, feito um estágio no escritório de Cálculo do professor Archimino Atayde.

Nós, as alunas, precisávamos sempre melhorar para nos firmarmos ali

BR - O que a senhora estudou na PUC? R.S. - Na PUC, desenvolvi um crescente interesse por Dinâmica, uma área atualmente muito valorizada.

BR - Em algum momento em sua carreira, o fato de ser mulher lhe atrapalhou? R.S. – Há uma situação difícil que a mulher sempre enfrenta: ela casa e, quando quer ter filhos, isto a afasta um pouco da vida profissional, o que leva algumas pessoas a supor que ela permanecerá envolvida somente com seus problemas familiares. Eu tive uma filha no meio do meu curso de doutorado. Precisei voltar a Belém porque também estava com problemas de saúde e meu marido tinha, igualmente, de regressar. Naquelas BR - Foi logo depois do doutorado circunstâncias, precisava muito da que a senhora retornou à UFPA? bolsa de estudos fornecida pela PUC R.S. - Foi. Entrei em contato com o do Rio. No entanto, houve lá quem professor Remo Magalhães de Souza, acreditasse que eu não iria concluir que desenvolvia um projeto para a o doutorado, e, por isto, cortaram a Eletronorte relacionabolsa. Fiquei um ano do com vibrações, jussem ela. Quando mitamente a minha área. nha filha completou Ganhei uma bolsa de seis meses, telefonei estudos do CNPq para para a PUC e avisei: participar do projeto e ‘Vou voltar, quero redepois permaneci no cuperar minha bolsa’. núcleo de pesquisadoConsegui, mas tive de res coordenados por ficar lá, sozinha com a ele, o NICAE (Núcleo minha filha. Meu maride Instrumentação e do ficou em Belém. Em Computação Aplicada resumo, numa situação à Engenharia). Atudesta, ninguém aposO preconceito almente, estamos deta em você, se você senvolvendo, através for uma mulher. Mas, está no ar, mas de um convênio com a minha filha nasceu e Vale, um projeto sobre não me impede hoje tem sete anos. Ela avaliação estrutural se chama Sophia em de fazer coisa de pontes e viadutos homenagem à Sophie ferroviários. Germain, a matemática alguma que viveu no sécuBR - Não foi o NICAE lo XVIII e, sozinha, que realizou em Bena biblioteca do pai, lém um congresso internacional? aprendeu Matemática a ponto de R.S. - Em 2006, o NICAE organizou, desenvolver o início da Teoria das em Belém, o Congresso Ibero-Latino Vibrações em placas. Americano de Métodos Computacionais, do qual participaram palestrantes BR - Então, ainda há preconceito convidados dos Estados Unidos, da contra a mulher na Engenharia Áustria, do Reino Unido e de outros Civil? países. O evento teve 65 coordenadoR.S. - O preconceito fica no ar, pores de mini-simpósios e aceitou 489 rém não me impede de fazer coisa trabalhos, que envolveram 1.119 aualguma, nem de receber apoio de tores. Este congresso já foi realizado muita gente.

A

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Pesquisa destaca UFPA no desenvolvimento de software

Opinião

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Genética

25 instituições da América Latina que atuam na área de Engenharia de software. Pág. 5

Laboratório é referência no país

Agricultura

Crime cada vez mais longe da perfeição

Fungos melhoram o solo pobre

Estudo mostra que associação de fungos com raízes de plantas contribui para melhoria da qualidade do solo. Pág. 4

tualmente, a Prefeitura da Cidade Universitária gerencia mais de 80 obras nos campi de Belém e do interior. Construção de novos prédios para abrigar institutos, faculdades e bibliotecas, novo restaurante universitário, reforma de salas de aula e revitalização urbanística são alguns dos destaques que vêm transformando os campi. Os recursos são de emendas parlamentares, verbas próprias e do Reuni. Págs. 6e7

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dade de Engenharia Civil, o professor José Hélio Elarrat, quando soube desta entrevista, lembrou que a senhora, no curso de graduação, às vezes assistia sozinha às aulas dele. R.S. - Eu achava as aulas do professor Elarrat, de Análise Matricial, muito interessantes e não gostava de perdêlas. Fui assídua, como, aliás, eram assíduas também as minhas colegas, com as quais mantenho contato ainda hoje. No curso de graduação, eu sentia que nós, as alunas, precisávamos sempre melhorar para podermos nos firmar ali.

na Argentina, no Chile, na Espanha e na Itália. Seu objetivo é criar um fórum onde professores, pesquisadores, profissionais e estudantes possam trocar idéias e informações sobre métodos e sistemas computacionais empregados na Engenharia.

MÁCIO FERREIRA

Beira do Rio - Quando a senhora percebeu que gostava de Matemática? Regina Sampaio - Desde criança, sempre gostei muito de Matemática. Ela é muito bonita, pois tem sempre uma representação para a natureza, como se fosse uma linguagem. Você pode representar o fluxo de um rio através de uma equação. Ou a vibração de um cabo sob a ação do vento. Então, eu gostava de ler sobre Matemática, de estudá-la. Lembro que eu tinha três livrinhos de Matemática Elementar e me divertia resolvendo os problemas que eles apresentavam. Alguns números são muito interessantes.

Muita gente está se encaminhando para ela a fim de estudar o efeito das vibrações em estruturas submetidas a ventos e terremotos. Um dos professores da PUC, João Luís Pascal Roehl, desenvolvia um projeto para a Eletronuclear, através do qual estava sendo feita uma reavaliação da parte física do reator da usina nuclear Angra III. Ele se tornou meu orientador e fui aceita na execução deste projeto. Propusemos novas metodologias de avaliação, não só do prédio do reator, como, também, dos seus sistemas secundários, como o das tubulações que esfriam o reator - um sistema que não pode falhar, pois se sofrer uma pane o reator explode. Fizemos um trabalho extenso e eu lidei com o tema “Novas Metodologias para Análise Estrutural de Usinas Nucleares” ao longo do meu mestrado e do doutorado.

MÁCIO FERREIRA

O crescimento da presença feminina nos cursos de graduação da Universidade Federal do Pará levou as alunas a conquistar, nas matrículas do primeiro semestre de 2008, a maior parte das 24 mil vagas existentes na Instituição. Esse aumento resultou, também, na penetração delas em antigos redutos masculinos, como a Faculdade de Engenharia Civil (FEC). Este processo culminou, no período de 2004 a 2008, com a ocupação de mais de 150 das suas 600 vagas. Em Tucuruí, onde o curso de Engenharia Civil da UFPA também se instalou, elas ocupam quase a metade das vagas. Um dos pretextos antes utilizados para afastar as alunas da FEC era o de que as mulheres não raciocinariam com rigor matemático porque seriam muito afetadas pelas emoções. A inconsistência deste pretexto foi definitivamente revelada na própria Faculdade pela engenheira civil Regina Augusta Campos Sampaio. Aos 34 anos de idade, casada e mãe de uma garota de sete anos, Regina é professora de Cálculo Avançado no mestrado de Engenharia Civil da UFPA. Tem doutorado na sua área e interesse especial em Matemática Aplicada à Engenharia Civil. Nesta entrevista ao Beira do Rio, ela fala de sua ligação com a Matemática, de sua formação acadêmica, sua carreira e do preconceito contra a mulher.

BR - Dê exemplo de um número interessante. R.S. - O número Pi, um número que aparece em muitas equações que representam a natureza.

fotos mácio ferreira

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