issn 1982-5994
12 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Outubro, 2008
Entrevista
“A religião, a magia e o mito são essenciais para o ser humano” Adaucto Couto
Mácio Ferreira
O docente explica que a Europa não é mais o centro disseminador do cristianismo
BR – Esse crescimento dos evangélicos tem a ver com o fato da Igreja Católica não estar mais dando as respostas que as pessoas querem ou é uma questão de marketing agressivo? H.M. – O protestantismo chegou ao Brasil durante o Império. A expansão maior dos evangélicos começou A pior coisa a partir de 1910, com a chegada dos pentecospara o ser tais. Em São Paulo, foi humano é não fundada a Congregação do Brasil, que se saber o que vai Cristã expandiu para Argentina, Uruguai e Paraguai. acontecer. É a primeira igreja pen-
Cerca de dois milhões de pessoas são esperadas este ano. A grande romaria renova a devoção dos católicos e também movimenta a economia do Estado Quando o caboclo Plácido encontrou a imagem de Nossa Senhora de Nazaré às margens de um igarapé, provavelmente, não imaginava que seu achado daria origem à maior celebração religiosa do país. Todo segundo domingo de outubro, uma multidão, estimada em 2 milhões de pessoas, vai para
Química
as ruas de Belém pedir ou agrader à padroeira dos paraenses. O evento mobiliza ainda a economia do Estado, atrai muitos turistas e também tem seu lado profano. Não por acaso, é tema de muitas pesquisas na Academia. Págs. 6,7,8 e 9
Medicina
Alimentação
Laboratórios adotarão nova metodologia
Pág. 11
Novo projeto pedagógico de Licenciatura em Química quer formar profissionais com consciência ambiental. Pág. 3
REUNI
Programa reestrutura RU do Campus II fica pronto até o fim do semestre campi da UFPA Ver-o-Pesinho é próximo projeto da Associação dos Amigos da UFPA
A Associação dos Amigos da UFPA inaugura o novo espaço de alimentação na Cidade Universitária. O Res-
Coluna do Reitor
Despejo de resíduos será evitado
Validação de diploma tem novas regras
Alex Fiúza de Mello escreve sobre a reivenção da Amazônia pela Universidade. Pág. 2
taurante Universatário do Campus II aguarda apenas os equipamentos para iniciar suas atividades. Pág. 10
Opinião Maria Antonia Cardoso avalia 18 anos do Estatuto da Criança e do Adolescente. Pág. 2
Cametá e Castanhal são beneficados com obras e novos cursos. Págs. 4 e 5
Entrevista Heraldo Maués fala sobre Antropologia da Saúde e da Religião. Pág. 12
Mácio Ferreira
a proclamação da República. Durante o Império, como o Brasil mantinha relações com países protestantes, como Estados Unidos e Inglaterra, passou-se a ter tolerância, especialmente para com o protestantismo. Mesmo assim, outras religiões só podiam ser praticadas em lugares sem aparência de culto. Não se podia construir uma igreja não católica, o culto só podia ser exercido em casas particulares, por exemplo. Hoje, a Igreja Católica perdeu muitos adeptos, mas continua hegemônica: pelo último censo, mais de 70% das pessoas se dizem católicas, embora o número de praticantes constitua um percentual bem pequeno (mais ou menos equivalente ao número de protestantes, incluindo históricos e petencostais). As outras religiões, sobretudo as evangélicas, estão crescendo bastante, assim como os “sem religião”.
Mácio Ferreira
Beira do Rio – A Antropologia da Saúde está mais voltada para a medicina popular? Heraldo Maués – Não necessariamente. Essa área trabalha com medicina popular e com outras formas de medicina. Por exemplo, a cura carismática é uma forma de medicina. Há também os ministérios de cura – o principal deles funciona na Paróquia de Queluz, onde se pratica uma forma de medicina de caráter religioso. As igrejas pentecostais, a umbanda, o candomblé, a pajelança e o espiritismo também são exemplos. Fora esse tipo de medicina de caráter mais religioso, temos a alopatia e a homeopatia, que são formas de biomedicina ou medicinas doutas, exercidas por médicos formados em universidades e também estudadas pela Antropologia. Há ainda formas de medicina que importamos de outros lugares, como a acupuntura e a yoga. Essa ligação entre a biomedicina e a religião também é muito presente. Muitos médicos formados em universidades são pessoas religiosas (católicos, espíritas ou protestantes) e combinam a medicina dita científica com práticas religiosas.
tecostal do país e uma igreja muito grave, porque o atual presidente é um tradicional. Em 1911, a Assembléia fundamentalista cristão que, pela sua de Deus foi fundada em Belém. Teve posição privilegiada, exerce, como é um ‘boom’ extraordinário, espalhanevidente, uma influência enorme. Daí do-se por todo o país, sendo hoje a nós termos a guerra no Iraque e vários maior igreja pentecostal do Brasil. A outros conflitos sem solução. Assembléia e a Congregação fazem parte da primeira onda de igrejas BR – Apesar de estarmos no século pentecostais que vieram para o país. XXI e de termos três grandes reliA segunda onda chegou com a Igreja giões no mundo, o homem parece do Evangelho Quadrangular, fundada ainda ter a necessidade de magia. por uma canadense, Aimée Sample A Antropologia estuda esse fato Macpherson, veio dos Estados Unidos também? com características modernas, como H.M. – Não é “ainda”, será sempre. o uso de rádio e de TV e acabou por Nós estudamos, sim, a magia. As diinfluenciar a Assembléia de Deus. Já a versas religiões também praticam atos terceira onda veio com a fundação da mágicos, inclusive o protestantismo Igreja Universal do Reino de Deus, a e o catolicismo, embora os mesmos primeira igreja pentecostal autenticanão sejam reconhecidos como mágimente brasileira. O bispo Edir Macecos pelos seus praticantes. A magia é do, fundador da Universal, é brasileiro, sempre a “religião dos outros”. Mas é tem formação ligada ao catolicismo, também algo que faz parte da cultura teve passagem pelas religiões afro e da sociedade humanas. O nosso e depois se tornou evangélico. Ele pensamento não está voltado apenas fundou uma igreja com características para a maneira de pensar científica diferentes, que nós chamamos de neque, a rigor, se traduz principalmente opentecostal. Ela traz um sincretismo por uma forma de pensar constituída com o catolicismo e com religiões por sistemas de classificação, análise afro, tanto que há crisimparcial, raciocínios tãos de outras igrejas lógicos. O pensamento evangélicas que não a humano também está consideram uma igreja ligado ao simbolismo, à cristã. Mas é a primeira metáfora, à metonímia, igreja fundada no Brasil à homologia - embora, que está se espalhando é claro, os cientistas, pelo mundo. E é uma como seres humanos, coisa interessante, porutilizem essa segunque a Europa deixou de da forma de pensar. A ser o centro dissemimagia, a arte, a relinador do cristianismo. gião, o imaginário, os Agora quem dissemina mitos - que são frutos A Igreja são a América Latina, dessa segunda forma os Estados Unidos e a pensar -, tudo isso Católica perdeu de África. é essencial para a vida muitos adeptos, humana. A história de BR – O fundamentaque a ciência vai fazer mas continua lismo é um dos gransumir a religião e a mades problemas do gia é um mito no sentido hegemônica. mundo hoje? vulgar, é uma mentira. H.M. – O fundamentaA ciência nunca dará lismo existe em várias todas as explicações de religiões do mundo, mas com esse que precisamos. A pior coisa para o ser nome surgiu dentro do cristianismo. humano é o caos, é não saber o que vai Nós, muitas vezes por falta de inacontecer. A ciência freqüentemente formação, identificamos a religião dá respostas limitadas e provisórias islâmica como fundamentalista, mas que, pela própria natureza científica, não é. A maior parte dos mulçumanos é estão sempre sujeitas a críticas e a constituída de pessoas corretas, sérias revisões. As respostas mais globais e moderadas, mas os ínfimos grupos encontram-se na magia, na religião, na de fundamentalistas conseguem fazer especulação, no imaginário, no mito, um barulho muito grande. No caso nas ideologias, nas utopias. E isso é dos Estados Unidos, o problema é essencial para todo o ser humano.
Eliseu Dias/Agência Pará
Após quase 50 anos dedicados ao magistério, o prof. Raymundo Heraldo Maués está aposentado. A aposentadoria chegou com os 70 anos completados em junho, mas as atividades acadêmicas continuam. Seguindo a tendência atual, ele tem planos de continuar na UFPA, mas agora como colaborador, ministrando aulas, participando de bancas de tese e dissertações, orientando alunos e coordenando projetos. Nesta entrevista ao BEIRA DO RIO, ele fala sobre os temas relacionados às suas duas áreas de pesquisa na Antropologia: saúde e religião. Segundo o docente, a Igreja Católica tem perdido muitos adeptos no Brasil, mas mantém a hegemonia com mais de 70% das pessoas assumindo que são católicas, ainda que não sejam praticantes. Ao mesmo tempo, podemos observar o crescimento extraordinário das religiões evangélicas ao redor do mundo. A Igreja Universal do Reino de Deus, fundada no Brasil, tem exportado seu cristianismo sincrético para outros países. Sinal dos tempos, em que a Europa deixou de ser o centro disseminador do cristianismo e perdeu agora esse papel para a América Latina, para os Estados Unidos e para a África.
BR – Como o senhor vê o avanço das religiões evangélicas? O Brasil ainda é o maior país católico do mundo? H.M. – Acho que ainda é. O Brasil foi colonizado por uma nação católica e, por muito tempo, o catolicismo foi uma religião oficial do Estado, o que só acabou com
Círio, o grande evento da fé Fotos Mácio Ferreira
A ciência, por sua natureza, freqüentemente dá respostas limitadas e provisórias, sujeitas a críticas e a revisões
JORNAL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ • ANO VI • No 65 • outubro, 2008
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BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Outubro, 2008 –
Coluna do REITOR Alex Fiúza de Mello
reitor@ufpa.br
A re-invenção da Amazônia pela Universidade
Mácio Ferreira
oda Universidade precisa de utopia. E a utopia, na Amazônia, é a sua incorporação, como sociedade, pelo uso do conhecimento e pela educação de qualidade, ao processo civilizatório global, à contemporaneidade do mundo, à cidadania universal dos povos. Será tão-somente pelo conhecimento, com doses de sabedoria política, que a Amazônia poderá ser preservada, defendida, desenvolvida, modernizada, interligada, resgatada. Para além de tudo e da política, este é um enorme desafio intelectual. É um desafio à criatividade, à inovação, ao pensamento, à idéia, à crítica, à persistência, à experimentação, à invenção. É, portanto, um verdadeiro desafio universitário. A Universidade, qua intelectual coletivo, precisa re-inventar a Amazônia. Torná-la possível como sociedade dos rios e da floresta, como economia tropical viável e progressista, como unidade ecológica na diversidade ambiental; porém moderna, alternativa, sustentável, progressista, integrada, dinâmica e plural. Promover a adequação entre as necessidades inerentes a um modelo de desenvolvimento voltado para a emancipação das grandes massas e as potencialidades das bases natu-
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rais e culturais presentes no cenário regional. Emprestar o conhecimento e a técnica disponíveis e adaptá-los, transformá-los, aperfeiçoá-los, tornando-os eficientes e inovadores nos marcos da civilização da floresta, da ambientação dos trópicos, em vista da semeadura, na região, também de uma cultura mais universal, cosmopolita e solidária. Mas para re-inventar uma sociedade, a Universidade precisa, primeiro, reinventar-se a si própria. Não pode simplesmente ser mimética. Precisa re-inventar a sua visão de mundo, as suas motivações, a sua mentalidade, as suas práticas acadêmicas, as suas perspectivas pedagógicas, as suas temáticas de interesse, os seus métodos de ensino e estilos de aprendizagem, os seus programas de estudos, as formas de acessar o conhecimento, a sua organização interna, a comunicação entre os saberes e as áreas de conhecimento, a sua relação com a comunidade circundante, o seu compromisso com a história e com as gerações futuras, o seu relacionamento com o mundo. Precisa garantir a formação continuada, ao longo de toda a vida profissional, de seus alunos (que não serão mais “ex”); ampliar o seu leque de atendimento, redimensionando o sentido dos estu-
dos universitários a partir das novas demandas de desenvolvimento e de programas e projetos de integração regional e internacional. Mas o trajeto desta re-invenção interna – verdadeira metamorfose – supõe a abertura da Universidade ao seu contexto de inserção – fonte de sua inspiração. Supõe uma re-leitura radical da Amazônia: a percepção de suas especificidades, singularidades, potencialidades, limites, dependências e riquezas – cujo desafio à ação envolve, entre outras descobertas, a clarividência de que a região, na reitor@ufpa.br sua heterogeneidade, encerra muitas amazonidades. Cabe à Universidade – em vista dos interesses dos próprios amazônidas – reverter, ainda que parcialmente, a lógica implacável da divisão internacional (e nacional) do trabalho, que reserva para poucos cérebros e centros de pesquisa – situados nas regiões economicamente centrais – a tarefa (quase que exclusiva) de produzir conhecimento conforme os interesses dominantes, preservando para si o monopólio e o segredo da chave da re-invenção do futuro. Interessa, nesse prisma, a valorização e re-significação do local e do regional, desafio intelectual que implica não apenas uma reflexão consistente e conseqüente sobre o
OPINIÃO
status da Universidade no interior das macro-transformações em curso na sociedade contemporânea, mas também, sobre a sua vocação específica relativamente às suas coordenadas de inserção social. À Universidade amazônica interessa investigar, meridianamente – como sugere Armando Mendes –, não de que maneira a Ciência pode servir-se da Amazônia, e sim, como pode o conhecimento científico ser produzido na e utilizado pela região. Eis aqui o novo prumo da medida possível de toda re-invenção: a informação consistente sobre as realidades; a formação crítica e qualificada das mentalidades; a transformação exitosa do conhecimento em soluções para o progresso humano. Sim, a Universidade, na Amazônia, precisa perseguir um modelo de desenvolvimento de base local, de perfil moderno e auto-sustentável, formador de capital humano e social, irradiador de capacidades difusas, filosoficamente assentado na riqueza cultural da região e tecnologicamente fundamentado no uso e manejo competente dos recursos naturais regionais, comprometido com o progresso de sua gente. Não há sentido para a academia, na moldura inquietante da periferia, fora desse prisma.
mariaant@ufpa.br
Maria Antonia Cardoso Nascimento
18 anos do ECA: o que temos a comemorar?
Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA – completou, no dia 13 de julho, 18 anos, idade que tem sido marcada pela simbologia da transição de uma etapa de vida pré-madura para a maturidade, quando somos compelidos a perguntar: afinal, o que têm significado estes 18 anos às crianças e aos adolescentes brasileiros? O que temos a comemorar? Não podemos desconsiderar que a aprovação do ECA sinaliza um marco na incorporação desse público na agenda política do Brasil. Com ele, crianças e adolescentes deixaram, ao menos no campo formal, de ser tratados como criaturas invisibilizadas no contexto dos direitos, regido pela ótica de uma sociedade adultocêntrica. Crianças e adolescentes brasileiros não vivem no paraíso, mas tornaramse sujeitos de direitos. O movimento social em defesa dos direitos das crianças e dos adolescentes foi o responsável por esta
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conquista pelas bandeiras que levantou, pela mobilização que promoveu e pelas vitórias que conquistou. Com o ECA, o Estado, nas três instâncias – Municipal, Estadual, Federal – criou um conjunto de dispositivos que vão de discursos a medidas administrativas e ações interventivas pelas quais as instituições falam e se posicionam. No espaço acadêmico, vários estudos desenvolvidos por Grupos de Pesquisa na área da família, infância e adolescência, como a Fundação Carlos Chagas, têm chamado atenção para a emergência e o avanço da Sociologia da Infância, que significa a transformação de uma perspectiva de objeto passivo para sujeito ativo dos estudos sobre crianças. A leitura durkheimiana tem perdido espaço para a perspectiva crítica da família e de seus sujeitos particulares, numa abordagem teórico-metodológica que não só pluraliza as etapas de vida como procura conjugá-las às injun-
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Medicina
ções de classe, gênero, raça/etnia e regionalidade. Se os 18 anos do ECA podem ser considerados como a definitiva integração de crianças e adolescentes no campo dos direitos, tal conquista é paradoxal! Cumprir leis no país é difícil, principalmente aquelas que garantem direitos. As crianças e os adolescentes brasileiros continuam sendo imbecilizados e muitas vezes violentados por pais biológicos ou por responsáveis pelo cuidado. Crianças e adolescentes originários de famílias trabalhadoras, principalmente, aquelas segregadas do trabalho formal e carentes de rede de apoio, permanecem submetidos a equipamentos escolares e de saúde questionáveis pelos agentes de controle social. A proibição do trabalho e o direito de ter uma família, também assegurados no ECA, tornamse retórica quando observamos as estatísticas que ilustram a dimensão da exploração do trabalho infantil e
a quantidade de crianças que envelhecem aos dois, três anos de idade nos abrigos, por não encontrarem interessados em adotá-las. Essas são apenas algumas violações que fragilizam o ECA e o Estado de Direito. Mas, a despeito de todas as mazelas, as crianças e os adolescentes saíram do privado, à medida que a instituição familiar se deslocou para a esfera pública, e, por conseguinte, foi reconhecida como alvo das políticas. O balanço geral dos 18 anos do ECA nos permite concluir que o dispositivo legal em discussão possibilitou às crianças e aos adolescentes a conquista de alguns direitos, porém muito ainda precisa ser feito. Maria Antonia Cardoso Nascimento é Doutora em Serviço Social pela PUC/SP, professora da Faculdade de Serviço Social da UFPA e faz parte do Grupo de Estudos e Pesquisa da Infância e Adolescência.
Reitor: Alex Bolonha Fiúza de Mello; Vice-Reitora: Regina Fátima Feio Barroso; Pró-Reitora de Administração: Simone Baía; Pró-Reitor de Planejamento: Sinfrônio Brito Moraes; Pró-Reitor de Ensino de Graduação: Licurgo Peixoto de Brito; Pró-Reitora de Extensão: Ney Cristina Monteiro de Oliveira; Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação: Roberto Dall´Agnol; Pró-Reitora de Desenvolvimento e Gestão de Pessoal: Sibele Bitar Caetano; Prefeito do Campus: Luiz Otávio Mota Pereira. Assessoria de Comunicação Institucional JORNAL BEIRA DO RIO Coordenação: Luciana Miranda Costa; Edição: Adaucto Couto/Rosyane Rodrigues; Reportagem: Walter Pinto/Adaucto Couto/Tamiles Costa/Glauce Monteiro/Jéssica Souza/ Rosyane Rodrigues/Suzana Lopes/Hellen Pacheco/Ana Carolina Pimenta; Fotografia: Mácio Ferreira/Mari Chiba; Secretaria: Isalu Mauler/Elvislley Chaves/Gleison Furtado; Beira on-line: Leandro Machado/Camilo Rodrigues; Revisão: Júlia Lopes/Rosimeri Freitas/Glaciane Serrão; Arte e Diagramação: Omar Fonseca/Rafaela André; Impressão: Gráfica UFPA.
Novas regras para validação de diplomas Atualmente, 10 mil brasileiros cursam Medicina no exterior Mácio Ferreira
LURDINHA RODRIGUES
2 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Outubro, 2008
Proposta de validação prevê construção de matriz curricular única para os cursos de Medicina no Brasil Walter Pinto
L
evantamento apresentado durante a reunião do Conselho Pleno da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), realizada em agosto passado, apontou a existência de 171 cursos de Medicina no Brasil, formando 14 mil médicos por ano. Sobre a situação de brasileiros cursando Medicina no exterior, o levantamento estima que o número chegue a 10 mil, um número surpreendentemente alto, equivalente a 70% dos formados no Brasil. Cuba, Argentina e Bolívia são os países que mais formam médicos brasileiros no exterior. A validação de diploma de graduação expedido por estabelecimento estrangeiro de ensino superior já vem sendo realizada no Brasil, há algum tempo, por várias faculdades públicas de Medicina que constituíram comissões aptas para efetivar o processo, segundo normas definidas por resolução do MEC/CNE. Na Faculdade de Medicina da UFPA, a comissão de validação é constituída unicamente de professores efetivos e atuantes nos três ciclos do curso
(básico, profissional e internato). Quando começaram os trabalhos da comissão, havia cerca de 450 processos para serem analisados. Segundo a professora e mestra em pediatria Laélia Brasil, presidente da comissão, o trabalho é complexo. “É necessário revisar todas as atividades curriculares cumpridas pelo requerente, objetivando-se avaliar a existência da equivalência curricular pretendida”, afirma Laélia. Os critérios estabelecidos para a validação dos diplomas estrangeiros baseiam-se, essencialmente, nas Diretrizes Curriculares do MEC para os cursos de Medicina no Brasil, onde está dito, inclusive, que a responsabilidade da atenção à saúde não se encerra com o ato técnico, mas com a resolução do problema de saúde, tanto no nível individual como no coletivo. Portanto, a comissão tem seguido as orientações dessas diretrizes. Além disso, existe a orientação da resolução ministerial que determina normas para a validação, na qual está explícito que deve ser exigido que o candidato haja cumprido ou venha a cumprir os requisitos mínimos prescritos para os cursos de Medicina no Brasil. Apesar do processo ser base-
ado em diretrizes da educação, não há uniformidade de procedimentos no plano nacional, até porque as universidades credenciadas são instituições que diferem entre si, como aponta José Guido Correia de Araújo, professor da Universidade Federal de Pernambuco e ex-presidente da Associação Brasileira de Educação Médica (ABEM). Pelo sistema ainda em vigor, os brasileiros formados no exterior fazem provas elaboradas diferentemente pelas universidades credenciadas e, em muitos casos, são obrigados a refazer disciplinas para que o diploma seja aceito no Brasil. Nos últimos anos, diante da alta demanda de alunos, da pressão das entidades médicas e do possível exercício da profissão clandestinamente no Brasil, está em discussão uma proposta de estabelecimento de novos critérios nacionais para validação dos diplomas de Medicina, obtidos no exterior. A adoção de um procedimento comum para todo o Brasil vem sendo discutida pelos Ministérios da Educação e da Saúde, Conselho Nacional da Educação, Andifes, Conselho Federal de Medicina, ABEM e Associação Médica Brasileira.
n Formandos em Cuba estarão em Projeto-piloto Em setembro passado, 17 instituições de ensino superior que atuam na validação de diplomas participaram de oficina de trabalho com objetivo de construir uma matriz única dos currículos dos cursos de Medicina, ofertados no Brasil, para utilizar como padrão de comparação e fins de equivalência com currículos das escolas-médicas estrangeiras. “Na etapa inicial, estamos preparando um projeto-piloto, com uma matriz nacional de equivalência curricular, para ser aplicado inicialmente em diplomas obtidos por 226 brasileiros que realizaram curso na Escola Latinoamerica de
Cuba. A avaliação da equivalência por meio dessa matriz seria uma das fases do processo de revalidação do diploma médico estrangeiro”, informa Laélia Brasil, representante da Faculdade de Medicina da UFPA na oficina de trabalho que elaborou o projeto-piloto. Os representantes das faculdades também escreveram uma carta em que propuseram as etapas que devem ser percorridas no processo de revalidação em questão, inclusive, concluindo pela necessidade urgente da criação de uma Comissão Nacional de Revalidação, a quem caberia fazer a análise por
equivalência, assim como organizar um cadastro nacional dos médicos graduados no estrangeiro, em processo de revalidação. A carta ressalta, ainda, a necessidade de inclusão de provas, inclusive práticas, nesse processo de validação. O documento contempla, também, a possibilidade do requerente realizar estudos complementares nas universidades brasileiras. A carta, que será encaminhada às instituições para ser discutida entre os pares, finaliza recomendando ao MEC/CNE/CES alterações na legislação vigente para adequá-la às conclusões da oficina de trabalho.
n Realidades regionais Sobre a equivalência curricular entre faculdades de medicina do Brasil e do estrangeiro, a professora Laélia Brasil explica que as escolas médicas devem estar determinadas em formar médicos integrados as suas realidades loco-regionais, como faz a Faculdade de Medicina da UFPA, conforme o seu projeto político pedagógico. “Não podemos esperar que uma escola médica em Cuba ou na Bolívia ou no Equador esteja preocupada em formar médicos com conhecimentos da realidade epidemiológica do Brasil, ou mesmo da Amazônia brasileira. Muito menos podemos esperar que essas escolas repassem aos seus alunos conhecimentos sobre o sistema público de saúde do Brasil, afinal, o SUS é produto nosso, brasileiro”, ressalta. Segundo a professora, cada escola está adequada a sua realidade específica, portanto, possui currículos direcionados para essa realidade. “Dir-se-ia que são diferenças esperadas. Surpresa teríamos se começássemos a encontrar na grade curricular de um curso realizado, por exemplo, no México, conteúdos que estão em consonância com a realidade do Brasil”, explica. “O homem não é uma máquina e o conhecimento integrado sobre este indivíduo não se deve comparar a uma engrenagem, a qual se pode fabricar em qualquer lugar e para obtê-la, se fabricada no estrangeiro, basta pagar uma taxa de importação”. Laélia Brasil mostra que, mesmo dentro do Brasil, onde há um Sistema Único de Saúde, as diferenças são bem marcantes, sejam sociais, econômicas, culturais e do meio ambiente, entre outras. “Fazendo-se um pequeno recorte nessa complexidade, sabe-se que doenças que existem em uma região inexistem em outras. A malária é um caso típico dessa situação e a doença, se ocorre em um morador na região Norte, tem, quase sempre, uma complexidade bem distinta daquela que acomete o indivíduo residente nas zonas do Sudeste ou do Sul, regiões que estão livres da doença”, exemplifica a professora. Para ela, as especificidades regionais são questões a serem consideradas para se poder definir o profissional médico que se pretende formar. “Ele tem que cuidar do indivíduo não como um conjunto de aparelhos e sistemas mas sim como um ser que traz a marca de sua realidade, não só da genética pura, mas também social, cultural, ambiental e psíquica, entre outras. E todas essas questões são abordadas nos seis anos do curso médico na nossa Faculdade de Medicina”, conclui.
10 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Outubro, 2008
BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Outubro, 2008 –
Meio Ambiente
Infra-estrutura Mácio Ferreira
Campus II terá novo RU até o final do ano E
m breve, a comunidade universitária terá mais uma opção de almoço. A Associação dos Amigos da UFPA entregará, até o final do semestre, o Restaurante Universitário do Campus II. A obra, realizada em parceria com a Prefeitura do Campus, está em sua etapa final, apenas aguardando a chegada dos equipamentos necessários para entrar em funcionamento. “O restaurante será inaugurado com um padrão que gere conforto e segurança para os usuários”, afirma José Olímpio Bastos, presidente executivo da Associação. O novo RU é apenas uma das obras realizadas com apoio da Associação. O próximo projeto é a revitalização do Ver-o-Pesinho do Campus II. Após cinco anos de atuação, é possível ver o trabalho da Associação nos quatro cantos da Cidade Universitária José da Silveira Netto. “Começamos com uma obra simbólica que foi o portão de entrada da Universidade e a passarela que dá acesso ao Campus I. Em seguida, recuperamos o Ginásio
de Esportes, que estava abandonado. Depois fizemos o ‘Vadião’, que foi um desafio. Levamos quase três anos para concluir, mas fizemos tudo: calçamento, fossas sépticas e recuperação da parte hidráulica e elétrica”, lembra José Olímpio. A criação de associações civis, sem fins lucrativos, para promover a educação, preservar a memória ou melhorar a qualidade de vida da comunidade local é prática comum em muitos países e, nos últimos anos, tem ganhado força no Brasil. Temas como responsabilidade social e cidadania estão na pauta do dia e, cada vez mais, grupos com interesses comuns estão reunidos para fazer algo que vai além do pagamento dos impostos. Para José Olímpio, cuidar da Universidade é um exercício de cidadania. “É como cuidar da nossa rua, mas tem um sentido maior porque é na Universidade, principalmente nas federais, que são adquiridos conhecimentos para serem trabalhados nas pesquisas, a partir das quais são desenvolvidas tecnologias que serão aplicadas em benefício da sociedade”, reflete.
A Faltam apenas equipamentos para o restaurante começar a funcionar
n Em busca de novos associados A meta inicial da Associação era conquistar, em dois anos, cinco mil pessoas físicas e 500 empresas como membros. A primeira estratégia foi entrar em contato com antigos alunos, por meio de mala direta, para os conselhos de classe. “Nós imaginávamos que teríamos automaticamente a adesão das pessoas, o que não ocorreu”, lembra José Olímpio. A Associação decidiu, então, apresentar uma ação efetiva e, a partir daí, ampliar as conquistas. A criação de um site ajudou a divulgar as ações e a promover a transparência na aplicação das verbas. “Nós somos uma entidade sem fins lucrativos, que recebe apoio das pessoas e elas precisam saber como está sendo aplicado aquele recurso. Criamos um site e lá divulgamos todas as ações da Associação, os lançamentos contábeis etc. Esse é um ponto que já está dando
certo, possibilitando novas adesões”. Hoje são quase 400 pessoas físicas e 26 pessoas jurídicas, entre elas 10 empresas-âncora que dão suporte para a Associação desenvolver projetos dentro da Universidade. Mais do que infra-estrutura, os Amigos da UFPA têm investido em auto-estima e no resgate do orgulho de pertencer à Universidade. Na busca de novos membros, a Associação está lançando um projeto voltado para alunos, professores e técnicos, para que estes ajudem a ampliar a rede de amigos, ou seja, tragam para a Associação pessoas e empresas que tenham ligação com os Institutos. “O piloto será no Instituto de Tecnologia. E tudo o que for arrecadado será investido na melhoria daquele Instituto, em algum ponto que os próprios alunos e professores decidirem”, explica José Olímpio.
Estatística e Computação em prol da segurança Laïs Zumero
Próximos lançamentos n 1 - “MARAJÓ”, de Dalcídio Jurandir com participação de Rosa Assis, responsável por esta edição crítica; n 2 - “AS AMAZÔNIAS DO SÉCULO XXI”, organizado por Sérgio Rivero; n 3 - “POESIA”, de Paulo Plínio Abreu; n 4 - “TRÊS SENTIDOS FUNDAMENTAIS NA OBRA DE PAULO PLÍNIO ABREU”, de Célia Bassalo; n 5 - “DESMISTIFICANDO A PESQUISA CIENTÍFICA”, de Valéria Rodrigues de Oliveira.
São 16 artigos divididos em dois volumes produzidos pelo GEPEC lançado pela Editora da Universidade Federal do Pará (EDUFPA) são frutos do Grupo de Estudos em Pesquisas Estatísticas e Computacionais (GEPEC), criado a partir de um projeto de extensão, em 1º de setembro de 2006. Ao todo, são dezesseis artigos, oito no volume I e oito no volume II, produzidos por professores e por
Roosewelt Pinheiro/ABr
Hellen Pacheco
Paixão de LER
O desenvolvimento das pesquisas científicas no campo da Estatística e da Ciência da Computação agora está a serviço dos estudos sobre segurança pública. Lançado em dois volumes, o livro “Segurança Pública: Uma Abordagem Estatística e Computacional”, organizado por Edson Marcos Leal Soares Ramos; Silvia dos Santos de Almeida e Adrilayne dos Reis Araújo, em caráter didático e acadêmico, mostra uma série de formas e fórmulas com as quais se pode chegar a conclusões satisfatórias, em termos de índices indicativos de determinados aspectos da segurança pública na Região Metropolitana de Belém, seu objeto de estudo. “O objetivo deste livro é colocar à disposição de estudantes e de pesquisadores procedimentos relacionados à Estatística e à Ciência da Computação, necessários à interpretação e análise de problemas enfrentados no cotidiano por um número crescente de profissionais de diversas áreas do conhecimento, com interesse nos métodos abordados nos capítulos apresentados pelos autores nesta obra”, dizem os organizadores. Os dois volumes deste livro
Laboratórios vão adotar a Química Verde Projeto Pedagógico da Licenciatura em Química prevê nova metodologia
Obra é uma das iniciativas da Associação dos Amigos da UFPA Rosyane Rodrigues
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alunos dos programas de graduação e de pós-graduação em Ciência da Computação e Estatística da UFPA. Cada artigo possui Introdução, Metodologia, Resultados, Discussões e Conclusões que fazem dos livros importantes aliados na busca pelo aprendizado e na tentativa de solucionar as mazelas vividas pela sociedade brasileira.
Livraria do Campus Rua Augusto Corrêa, nº1, Campus Universitário do Guamá Telefax: (91) 3201-7965 Fone: (91) 3201-7911. Livraria da Praça: Instituto de Ciências da Arte da UFPA. Praça da República s/n Fone: (91) 3241-8369
gentes poluentes, emissões de gases e resíduos industriais ainda são depositados diariamente na atmosfera, apesar das pressões internacionais em defesa do meio ambiente. Entretanto, já é possível observar que pesquisadores e industriais vêm tentando remediar os impactos ambientais causados, adotando processos químicos que utilizem produtos e condições menos poluidoras. A iniciativa mais recente e inovadora, nessa conjuntura, é o investimento na denominada “Química Verde”, uma química sustentável, desenvolvida como alternativa à prática do “poluir-e-então-limpar”, empregada pela maioria das indústrias e dos laboratórios. Ela propõe uma busca por fontes renováveis que gerem energia ao mesmo tempo em que são usadas como matéria-prima industrial. Atualmente, não só as indústrias como também as instituições de ensino e pesquisa, na área de Química, perceberam que o mercado necessita de profissionais capazes de buscar o desenvolvimento e a implementação de técnicas que visem reduzir as taxas de poluição e, conseqüentemente, de custos. E nessa perspectiva, a Universidade Federal do Pará (UFPA) pretende atuar por meio do projeto “Complementação do novo projeto político-pedagógico do curso de licenciatura em Química: uma proposta em Química Verde”, aprovado no edital do PROINT 2008-2009. Coordenado pela professora doutora Regina Sarkis Müller, da Faculdade de Química, o projeto tem por finalidade a inserção de tópicos sobre a Química Verde e conceitos laboratoriais no currículo dos seus cursos de graduação em Química, contribuindo para a formação de profissionais mais adequados às exigências e mudanças do mercado.
Objetivo é substituir a prática do "poluir-e-então-limpar" dos dias de hoje
n “Consciência fará a diferença” Ultrapassada a primeira etapa, que culminou com a elaboração do projeto, agora, cada professor envolvido no processo terá que desenvolver práticas em laboratório, utilizando a Química Verde de acordo com a disciplina experimental em que trabalha. As práticas serão realizadas por meio de testes que envolvem a diminuição da quantidade de reagentes, substituição de solventes (uso de temperatura ambiente) e otimização das metodologias tradicionais pelas que serão implantadas na segunda etapa. Em seguida, os resultados e avanços obtidos serão repassados aos estudantes nas aulas teóricas e práticas. Estabelecer comparações entre a toxicidade dos reagentes usados anteriormente e os manuseados com a nova proposta, e os resíduos gerados nos dois momentos, significa esclarecer os benefícios que as novas técnicas proporcionam. Assim, pretende-se conscientizar os estudantes a respeito da importância e do diferencial existente ao se adotar a nova prática. “Incentivar a leitura sobre o assunto, após a exposição em sala de aula, solicitando que comparem a nova metodologia proposta com a usada tradicionalmente, é uma das nossas pretensões”, afirma Regina Müller. A contribuição para a UFPA reside nos avanços em relação à formação dos licenciados em Química e dos profissionais de outras áreas afins, uma vez que serão conscientes da sua responsabilidade social. “Espera-se que o profissional da Química, daqui a alguns anos, seja capaz de pensar nos processos químicos já com a preocupação em escolher matérias-primas e condições ambientais não poluentes. A consciência do químico fará toda a diferença”, finaliza.
n Mudança requer recursos
Os 12 mandamentos da Química Verde
As disciplinas experimentais princípios da Química Verde. Em ofertadas vão utilizar mecanismos sua maioria trabalham situações em que reduzem a duração dos experique a poluição já foi estabelecida, mentos e garantem maior segurança daí a necessidade de levar o ensino e menos poluição. “Há muitas formas da Química Verde para as aulas de de não produzir substâncias tóxicas, graduação. “A proposta é você gerar diminuindo a contaminação, mas não processos que não poluam, uma vez é fácil. Pois, para isso, é que é mais barato do que necessário o desenvolproduzir resíduos tóxicos vimento de metodologia “Para fomentar para depois tratá-los”, analítica e, para fomenafirma. esse tipo de tar esse tipo de pesquiIntegrado pela sa, são imprescindíveis pesquisadora e por repesquisa, são recursos financeiros”, presentantes das disciexplica a coordenadora imprescindíveis plinas práticas do curso, do projeto, professora o projeto ainda está na recursos Regina Müller. sua etapa inicial: a de Segundo a docenfinanceiros” elaboração. O prazo será te, em todo o Brasil, de dois anos para a exemuitos cursos de Quícução. “Para nós, é um mica possuem a disciplina ‘Químiprojeto desafiador. Portanto, necesca Ambiental’ em seus currículos. sitamos de tempo e dedicação para Entretanto, poucos trabalham os que a metodologia seja desenvolvida, conceitos laboratoriais sobre pretestada e então comprovada. Só a venção da geração de subprodutos partir de então, poderá ser utilizada”, indesejáveis e tóxicos ao ambiente, conclui.
1. Prevenção da poluição na fonte, evitando a produção de resíduos. 2. As metodologias sintéticas devem ser desenvolvidas de modo a incorporar o maior número possível de átomos dos reagentes no produto final. 3. A concepção de sínteses menos perigosas, graças à utilização de condições suaves e à preparação de produtos pouco ou não tóxicos para o homem e o meio ambiente. 4. Deve-se buscar o desenvolvimento de produtos que após realizarem a função desejada, não causem danos ao ambiente. 5. Pesquisa de alternativas aos solventes poluentes e aos auxiliares de síntese. 6. Limitação dos gastos energéticos com o desenvolvimento de novos materiais para a estocagem de energia e a pesquisa de novas fontes de energia com baixo teor de carbono.
7. Utilização de recursos renováveis ao invés de produtos fósseis. 8. Redução do número de derivados, diminuindo a utilização de grupos protetores ou auxiliares. 9. Utilização de processos catalíticos. A modelagem dos mecanismos pelos métodos da química teórica deve permitir a identificação dos sistemas mais eficientes a serem realizados. 10. A concepção dos produtos, visando a sua degradação final em condições naturais ou forçadas de modo a minimizar a incidência sobre o meio ambiente. 11. Desenvolvimento das metodologias de análise em tempo real para prevenir a poluição, controlando o transcorrer das reações químicas. 12. O desenvolvimento de uma química fundamentalmente mais segura para prevenir acidentes, explosões, incêndios e emissões de compostos perigosos.
4 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Outubro, 2008
BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Outubro, 2008 –
REUNI
Economia
Melhorias no campus visam consolidar a Universidade no município
Instalado em 1987, o campus possui atualmente cerca de 700 alunos de graduação e 50 de pós-graduação
n Região precisa de professores no ensino básico Gilmar Pereira divide a história da UFPA em duas fases: a criação do campus em Belém e, depois, na década de 1980, sua expansão para o interior. Hoje, vive-se uma terceira etapa que consiste na consolidação dos campi, a partir da ampliação e do fortalecimento da graduação e pós-graduação nos municípios-sede da Universidade. “Com mais professores, as perspectivas sobre a pesquisa e a ex-
tensão se ampliam. Podemos efetivar a graduação com mais racionalidade e pensar a pós-graduação stricto sensu”, constata o professor. Tal fato tem grande relevância regional, principalmente em se tratando da Amazônia, um território geográficocultural que necessita de uma produção do conhecimento, voltada para o seu desenvolvimento econômico e social. Além da pesquisa, a exten-
são é outro fator essencial, já que a Universidade possui objetivos para além das dependências do campus: o compromisso com a sociedade. Daí a importância de, por exemplo, ofertar mais cursos de licenciaturas quando se vê a grande demanda e, ao mesmo tempo, a carência de formação de professores para atuar no ensino básico. Todas essas perspectivas avançarão, na medida em que haverá mais pessoal dedicado à academia.
n Política de interiorização é tema de pesquisa A UFPA tem 21 anos de interiorização. Nesse período, deparou-se com dificuldades e sucessos, sem, contudo, até o momento, ter avaliado se a política de expansão está transformando os municípios onde se instalou. Assim, a tese “Nas Águas o Diploma: O Olhar dos Egressos sobre a Política de Interiorização da UFPA em Cametá-PA” é pioneira ao sistematizar o conhecimento sobre os impactos da Instituição no interior. Defendida em abril de 2008, pela professora doutora Maria do Socorro da Costa Coelho, a pesquisa avaliou a política de formação de licenciados em Cametá, assim como de que maneira a Universidade contribui e se relaciona com o município. A professora aplicou um questionário a 336 egressos do campus, que se formaram entre 1991 (ano de conclusão da primeira turma) e 2004. Por meio dos 113 questionários devolvidos, ela extraiu a avaliação dos exalunos sobre os cursos de licenciatura da Instituição. A maioria dos entrevistados afirmou que a graduação lhes permitiu ampliar o universo cultural, proporcionando-lhes maiores perspectivas de trabalho, qualidade na prática docente, acesso a conhecimentos e à
Maria do Socorro: relevância social crítica social. Entre os egressos, 87% se dizem satisfeitos com a formação recebida. Os aspectos negativos apontados foram quanto ao espaço físico das salas de aula e à gestão dos coordenadores do campus, considerada insatisfatória devido à grande rotatividade de administrações no período demarcado pela pesquisa. A pesquisadora também coletou, durante os quatro anos de seu doutorado, depoimentos de representantes da sociedade civil cametaense
e de coordenadores (antigos e atuais) do campus. Com as informações obtidas, a autora pôde avaliar a política de interiorização da UFPA em Cametá e constatar que, nos últimos anos, houve um avanço significativo no campus devido a investimentos e, sobretudo, ao compromisso da atual administração da Universidade. “A interiorização é um projeto de relevância social e científica que converge com a necessidade e os interesses locais. Na verdade, é uma conquista da sociedade que pressionou o Estado a oferecer uma Universidade pública e gratuita para todos. Apesar das dificuldades do campus de Cametá no início de sua instalação, hoje ele está consolidado e tende a ser uma referência para o Estado”, conclui Maria do Socorro. PANORAMA - A UFPA se fixou em Cametá em 1987. No início, os cursos ofertados eram apenas na modalidade intensiva, o que mudou a partir de 2004 com a oferta de cursos extensivos. O campus ainda conta com uma pós-graduação lato sensu em Linguagem e Educação e serve de base para a graduação a distância em Matemática. Atualmente, possui cerca de 700 alunos de graduação e 50 de pós-graduação.
rçamento de mais de R$ 1 milhão, mais de 60 mil turistas por ano e retorno financeiro de R$ 500 milhões. Tão impressionante quanto a fé que move milhões de romeiros na maior festa dos paraenses são os números que a acompanham. Há quase dois séculos, o Capitão-General do Rio Negro e do Grão-Pará, D. Francisco Coutinho, autorizou a inauguração, no Largo de Nazaré, de uma grande feira de produtos agrícolas e industriais do Estado, à qual pudessem estar presentes todos os agricultores, inclusive os índios. Desde então, o fator econômico passou a compor o Círio ao lado do aspecto religioso. Hoje, o Círio movimenta praticamente todos os setores produtivos do Pará, principalmente comércio, indústria, serviços e turismo. A análise feita pelo DIEESE/PA revela essa grandiosidade. De acordo com o economista Roberto Sena, supervisor técnico do DIEESE, em termos de impactos globais, a estimativa é de que, com o Círio 2008, seja injetado quase meio bilhão de reais na economia paraense. Pesquisas do DIEESE mostram que, ao longo dos anos, o número de romeiros e turistas não parou de crescer. Em 2007, eles foram estimados em dois milhões de pessoas. Esse total contabiliza os participantes das onze romarias nazarenas oficiais. No período do Círio, o comércio tem um de seus melhores desempenhos anuais, só perdendo, em termos de consumo, para o Natal. Há um mercado de bens simbólicos e materiais que movimenta milhões de reais: velas, imagens, santinhos, escapulários, círios, berlindas, flores, lembranças, artesanato, brinquedos de miriti , “cheirinhos do Pará”, frutas
Mercadorias produzidas durante o ano todo praticamente esgotam durante os dias da quadra nazarena e comidas típicas. São mercadorias produzidas durante todo o ano, mas que recebem um mercado consumidor capaz de esgotá-las no decorrer dos dias da Festa. Segundo o professor Sílvio Lima Figueiredo, do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos da UFPA (NAEA), organizador do livro “Círio de Nazaré: Festa e Paixão”, essa mercantilização não está presente apenas nas manifestações culturais, mas também na recepção de fluxos turísticos pelos hotéis e restaurantes da cidade. Nesta época, o fluxo de embarcações, ônibus, aviões, aumenta consideravelmente. Todo o Estado está envolvido nas atividades do Círio. Os municípios participam, direta ou indireta-
mente, da Festa. É o caso de Abaetetuba, com seus brinquedos de miriti; de Vigia, com os fogos de artifício e de todos os outros, onde são criados os patos para o grande almoço. Cerca de 95% do trabalho gerado no Círio são informais. As pessoas são contratadas, sem vínculos formais, em restaurantes, hotéis, estacionamentos, serviços de táxi e aluguel de carros, agências de turismo e companhias aéreas. Isso, sem contar os ambulantes e proprietários de barracas que vendem de tudo. A festa também representa um produto altamente rentável para jornais, rádio e televisão. Um estudo feito por pesquisadores e docentes das Universidades Federais do Pará (UFPA) e do Rio de
Janeiro (UFRJ), intitulado “O Círio de Nazaré: Economia e Fé”, e coordenado pelo economista do NAEA, Francisco de Assis Costa, mostra o impacto do Círio de Nossa Senhora de Nazaré na economia paraense. A pesquisa destaca a evolução dos números de freqüentadores e dos recursos movimentados nos últimos anos para a realização dos eventos culturais e das procissões em homenagem à Virgem de Nazaré, além das inovações implementadas pelos organizadores para atrair o público. De acordo com os pesquisadores, os devotos movimentaram, em 2000, R$ 310,5 milhões em transações diretas, volume que subiu para R$ 394,4 milhões em 2005, e para quase R$ 500 milhões em 2007.
n Visitantes vêm a Belém pela fé e para conhecer a região Mácio Ferreira
Para viabilizar a instalação dos cursos, haverá um forte investimento na infra-estrutura do campus. Cametá vai receber mais de R$ 2 milhões, sendo que já estão na FADESP as licitações para a construção de seis salas de aula. As demais obras previstas são as construções de um auditório e de dois laboratórios (Ciências e Informática), além da ampliação da biblioteca. “Quando se investe na infraestrutura do campus, causa-se um impacto estrutural na cidade. Mas para além do físico, o maior patrimônio que a Universidade está construindo é o imaterial, aquele presente nos professores, nos estudantes, no conhecimento”, reflete o coordenador do campus, professor doutor Gilmar Pereira. Mais do que construir prédios, climatizar salas, melhorar o ambiente físico do campus, ele ainda destaca o impacto sobre a auto-estima da comunidade: “Nós estamos construindo um sentimento de corpo, uma visão de Universidade. A nossa grande conquista é fazer com que as pessoas tenham prazer em ser da UFPA e se planejem dentro dela, permaneçam trabalhando e estudando”, enfatiza.
O
Mácio Ferreira
n Cursos terão melhor estrutura
Estima-se que mais de 2 milhões de romeiros e turistas participem do evento Ana Carolina Pimenta
Mari Chiba
U
niversidade mais interiorizada do Brasil, a UFPA irá se expandir ainda mais nos próximos dois anos, a partir de recursos do REUNI (Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais). O campus de Cametá, município localizado no nordeste paraense, está incluído no projeto que pretende ampliar e consolidar a produção de conhecimento e formação profissional no interior do Estado. O aumento do número de cursos, vagas e docentes é apenas um exemplo dos impactos que a UFPA de Cametá terá nos próximos anos. Na prática, o REUNI visa ampliar o número de cursos, especialmente de licenciaturas, uma grande demanda regional. Hoje, Cametá possui graduações extensivas e intensivas em Letras – Língua Portuguesa e Inglesa, Pedagogia, História e Matemática. A proposta é, a partir de 2009, oferecer História, Matemática e Ciências na modalidade extensiva. Serão abertas 40 vagas para cada nova graduação já no Processo Seletivo 2009, com o início das aulas no segundo semestre. Essa maior quantidade de cursos requer a ampliação do corpo docente. Atualmente, são 10 professores efetivos, mas até o final de 2008, ingressarão mais 11, totalizando 51 efetivos até 2010. Quanto aos técnico-administrativos, haverá a admissão de mais 10 profissionais.
Círio movimenta comércio e turismo Mácio Ferreira
Recursos garantem expansão em Cametá Suzana Lopes
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O número de romeiros não diminui apesar da Festa ficar mais cara a cada ano
O Círio faz parte do contexto turístico do Pará. Os turistas vêm à Festa não somente motivados pela fé, mas também para conhecer a região, onde lhes são oferecidos roteiros complementares, tanto dentro como no entorno de Belém. Isso corrobora uma estatística importante para o País: o crescimento do turismo religioso. Segundo números do IBGE, 7% dos viajantes brasileiros têm predileção por roteiros religiosos - o índice chega a 11% entre os nordestinos. Em Belém, no período de 2000 a 2007, o número de visitantes de outros Estados e países saltou de 678 mil para 851 mil. A cada ano, na organização do Círio, a Diretoria da Festa enfrenta enormes dificuldades, principalmente do ponto de vista financeiro. São gastos crescentes com evangelização (imagens, livros de peregrinações, viagem de pregadores), com despesas das procissões, com marketing (cartazes, folders, camisas, outdoors
e CDs) e com decoração. O custo orçamentário de cada item tem sofrido os impactos inflacionários, tornandose mais oneroso com o passar dos anos. O bolso dos romeiros também vem sofrendo impactos expressivos ao longo dos anos. Roberto Sena, do DIEESE, atesta que este ano não será diferente. Já se observa aumento nos preços de bens e serviços motivados, sobretudo, pelos aumentos nos preços dos transportes, hospedagem e alimentação. Até o tradicional almoço do Círio, com pato no tucupi e maniçoba, também deve ficar mais caro, assim como os objetos em cera para promessas. Mesmo com a inflação refletida nos preços, a economia paraense espera ansiosa pela Festa. Análises do DIEESE apontam que, apesar dos problemas de ordem econômica e financeira, a cada Círio, o que se vê é um volume maior de pessoas.
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BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Outubro, 2008 –
Expansão
Objetos de Devoção Mácio Ferreira
Castanhal atenderá demanda reprimida
Uma grande festa feita de muitos simbolismos
Recursos previstos no programa federal visam contratar novos docentes Mácio Ferreira
EM DIA Padroeira
Pela primeira vez, a imagem peregrina de Nossa Senhora de Nazaré visitou a Cidade Universitária José da Silveira Netto. No dia 15 de setembro, a imagem passou pela Reitoria, Prefeitura do Campus, Fadesp e Hospital Bettina Ferro. A padroeira foi recebida com várias homenagens. A UFPA, a partir de agora, faz parte do calendário oficial de peregrinações do Círio.
Lendas e mitos amazônicos estão presentes nos rituais do Círio
Línguas indígenas
A corda, a berlinda e a imagem da Santa são os principais símbolos da procissão, mas há outros elementos que a compõe e que nem sempre são perceptíveis
A
cada ano, milhares de pessoas se reúnem no segundo domingo do mês de outubro, em Belém do Pará, para celebrar a fé em Nossa Senhora de Nazaré. Alguns vêm de longe na esperança de alcançar milagres, outros percorrem um longo caminho para agradecer as bênçãos concedidas e há ainda, aqueles que vêem na romaria a possibilidade de um bom negócio. Para cada participante da festa, o Círio tem um significado, é vivido e lembrado de um jeito único. “O Círio é, antes de tudo, uma procissão, uma manifestação de fé e, num sentido ampliado, uma festa religiosa. Mas ele representa também um conjunto de rituais que inclui várias romarias, a festa do arraial, as novenas, as missas, as manifestações paralelas, mas integradas a ele como a Festa da
Chiquita, o Auto do Círio, a Feira de brinquedos de miriti, os fogos de artifício e muitas outras coisas”, explica o professor Heraldo Maués, estudioso da Antropologia da Religião. São vários os símbolos que remetem ao Círio de Nossa Senhora de Nazaré e que têm origem na história da devoção nazarena. Cada um deles revela um aspecto da grande romaria. A imagem de Nossa Senhora de Nazaré, por exemplo. “A imagem da Virgem é, certamente, o grande símbolo do Círio”, explica o professor Heraldo. Há duas representações de Nossa Senhora: a que carrega o menino em seu colo e a Madona de Leite, que mostra a Virgem amamentando Jesus. A primeira é justamente a imagem conhecida no Pará; a segunda não existe no Brasil, mas ainda é encontrada em Portugal. “Claro que são duas formas explícitas de valorizar a
n Mito regional e sentido bíblico Além da infinidade de objetos que se transformaram em elementos indispensáveis ao Círio e que se firmaram como símbolos da procissão, a Festa de Nossa Senhora apresenta um conjunto de simbologias menos perceptíveis, mas que tornam o Círio de Nazaré eminentemente amazônico. A relação entre a Virgem e as águas é aprofundada na história de seus milagres. “A devoção à Maria de Nazaré surgiu em uma aldeia de pescadores, Nazaré, e veio pelo mar para outra aldeia de pescadores, Vigia, para depois chegar a Belém”, conta Heraldo Maués. O primeiro milagre autêntico da Rainha das Águas salvou um fidalgo português de despencar de um abismo junto à praia. “Os pescadores em Vigia agradecem à Virgem por terem sido salvos de naufrágios. Na história do Círio, em Belém, há referência a um naufrágio, no século XIX, cujos sobreviventes invocaram a proteção de Nossa Senhora”, explica o professor. A região amazônica é um mundo de água e, aqui, Nossa Senhora de Nazaré protege os navegantes.
A relação íntima com os rios também deu origem à romaria fluvial ou Círio das Águas, símbolo expressivo desse significado tão caro aos devotos de Maria de Nazaré. De acordo com Heraldo Maués, na Amazônia, a maior procissão católica do mundo é como uma cobra grande secundada pelas cobras de miriti ou serpente que ainda vira corda, com todo o seu simbolismo de promessa e sacrifício. “Em uma das versões do mito amazônida, a cauda da cobra grande está embaixo do santuário, a Basílica. Uma referência – certamente inconsciente – a um dos mais importantes sentidos bíblicos da Redenção, trazida por Maria, mãe do Salvador, que calca com seus pés a serpente, símbolo do pecado e da perdição”, lembra Maués. “E aqui estão vivas todas as lendas e mitos amazônicos, que fazem referência aos encantados, aos orixás, às religiões que provêm dos índios e dos africanos e que estão presentes no Círio, a despeito de todos os esforços disciplinadores das autoridades eclesiásticas, que procuram afastá-los”, conclui o professor.
maternidade, a segunda de maneira mais vívida, porém, possivelmente censurada”, comenta o pesquisador. No Pará, as imagens mais tradicionais são do período colonial: a de Vigia e a “verdadeira”, de Belém, também conhecida como a “imagem do achado”. A santa cultuada em Vigia é mais antiga, já que a devoção começou por lá ainda no século XVII. Trata-se de uma Santa de roca, ou seja, que não tem corpo esculpido, só uma armação que sustenta seu manto. Outra característica é o fato de possuir cabelos humanos. “Há várias lendas a respeito, inclusive a da mulher que, indo vestir a Santa, teria ficado cega ao querer saber como era o corpo dela. A de Belém é chamada de ‘verdadeira’ não porque a de Vigia seja falsa, mas porque, em Belém, existem várias réplicas da mesma imagem. Ela não sai no Círio porque, segundo a lenda, nunca quis deixar o
local de seu ‘achado’”, lembra o antropólogo. Entre as réplicas, as duas mais importantes são a do Colégio Gentil Bittencourt, que saía na Trasladação e no Círio e a “peregrina” que, de alguns anos para cá, passou a substituir a do Gentil. A imagem peregrina foi confeccionada em 1969, por Giacomo Mussner, a pedido dos padres barnabitas. Enquanto a “imagem do achado” representa uma matrona portuguesa, com um menino europeu nos braços, a nova versão garantiu à Virgem e a seu filho traços mais amazônicos. Trata-se de “uma figura morena, ‘cabocla’, com seu filho também ‘caboclo’. Claro que isso é uma forma de praticar aquilo que os católicos chamam de ‘inculturação’, tendo a finalidade explícita de aproximar ainda mais a devoção ao povo”, garante o professor Heraldo Maués.
n Ex-votos são objeto de estudos Mácio Ferreira
Glauce Monteiro
Cada peça tem um significado próprio Durante o Círio, a devoção à Santa é materializada nos ex-votos, objetos doados à Virgem que simbolizam milagres concretizados. A cura é representada por partes do corpo esculpidas em cera; a casa e o barco em miniatura são os bens adquiridos; bonecas e anjos simbolizam a relação entre a Virgem e as crianças: o filho
tão desejado, vidas salvas, bênçãos alcançadas. Ex-votos também podem ser objetos inusitados como espadas samurais ou camisas de times de futebol cujos significados nem sempre ficam claros. “O Círio existe porque a Santa faz milagres, cuida e zela pelo povo, que agradece com fé”, conta Rosa Brasil, coordenadora do Grupo de Trabalho e Imagem e do projeto de pesquisa “Objetos e Promessas no Círio de Nazaré: processos semióticos de (re)significação”, da Faculdade de Letras da UFPA. Para Mara Tavares, integrante do projeto, cada devoto é um milagre, uma história de fé que pode ser registrada num objeto. “O que ele significa pode não ser tão claro assim. Uma pessoa que carrega um barco pode não ter obtido um barco e sim estar agradecendo por escapar de um afogamento, por exemplo. São sentidos que só o próprio romeiro pode explicar. Os traços lingüísticos e características narrativas também nos ajudam a analisar socioeconomicamente esse devoto e, assim, saber quem são as pessoas que fazem o Círio”, explica.
O campus vai adquir novos equipamentos e contratar obras de infra-estrutura para melhoria das condições físicas Hellen Pacheco
P
ossibilitar o maior acesso e a permanência de estudantes na educação superior, por meio de aproveitamento mais adequado da estrutura física e dos recursos humanos disponíveis nas instituições federais. Essa é a principal meta do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI), que está sendo implantado nas universidades de todo o país. A Universidade Federal do Pará (UFPA) apresentou seu projeto de adesão no início deste ano. As medidas previstas para a Cidade Universitária José da Silveira Netto (Belém) e para os campi do interior já começaram a ser implantadas. “Para os campi do interior, o projeto significa uma possibilidade de expansão mais rápida; especialmente no caso de Castanhal, representa uma oportunidade para atender demandas reprimidas. Entretanto, devemos estar atentos para que as metas não sejam tão ambiciosas que possam vir a causar prejuízos para a qualidade do ensino, da pesquisa e da extensão”, afirma o coordenador do Campus, Adriano Silva. Em função do município localizar-se no entreposto de várias regiões e atender demandas de diversas cidades, a necessidade de ampliar o número de vagas e de cursos ofertados é freqüente. Nessas perspectivas, o aumento na capacidade de oferta dos cursos de Matemática e Pedagogia, por meio da contratação de 37 docentes efetivos, a abertura de um novo curso (Sistema de Informação) e uma nova habilitação em Língua Espanhola para o curso de Letras representam o primeiro passo nessa direção. Além disso, em 2009, as turmas intensivas (intervalares) serão retomadas com mais 120 vagas. “Para 2010, por decisão do Conselho do Campus, disponibilizaremos essas vagas no horário noturno para os jovens que trabalham e querem cursar o ensino superior”, conclui.
n 180 novas vagas em 2009 Além da aquisição de equipamentos, as obras de infra-estrutura para a melhoria das condições físicas do campus de Castanhal também foram contempladas no projeto entregue ao REUNI. Está prevista a construção de dois prédios (Campus I e II) que servirão de gabinetes para os docentes. Ainda em 2008, deve ser entregue um bloco administrativo de 1.350 m² que funcionará no Campus I. “Estamos acompanhando o trabalho da empresa que foi contratada para a elaboração dos projetos arquitetônicos e executivos, necessários para a licitação da obra. A etapa da elaboração dos projetos está na fase final”, afirma o coordenador do Campus, Adriano Silva. A expectativa é que a licitação seja concluída antes do final do ano. De acordo com o coordenador, a contratação de novos docentes para as graduações com licenciaturas em Letras, Matemática e Pedagogia está entre os principais benefícios em termos de recursos humanos. Os novos cursos de graduação funcionarão com uma infra-estrutura adequada de profissionais. “Com tais investimentos, será possível ampliar o número de
vagas já a partir de 2009, de 190 para 370 vagas”. Ainda segundo Silva, há demandas que precisarão ser atendidas, como no caso do curso de Licenciatura em Educação Física, que necessita de mais professores e técnico-administrativos para o seu quadro. Ele acrescenta que o número de cursos também precisará ser ampliado. “De todos os campi do interior, Castanhal foi o que menos ampliou o número de novos cursos.” Os investimentos no municípío também foram direcionados para pós-graduação. Recentemente, foi aprovado pela CAPES o mestrado em Saúde Animal na Amazônia. “Essa conquista representa um divisor de águas”, declara Silva. É que o REUNI prevê a contratação de quatro docentes para atuar na pós-graduação a partir de 2010, e quatro técnicos (um médico veterinário e três técnicos de laboratório). Também há um movimento para a implantação de um programa de mestrado na área de Educação em caráter multidisciplinar, que envolverá docentes das Faculdades de Pedagogia, Educação Física, Letras e Matemática.
CURSOS
Pedagogia Educação Física Matemática Letras (Língua Portuguesa) Medicina Veterinária Sistema de Informação Letras (Língua Espanhola) TOTAL VAGAS/ANO
ANOS / N. VAGAS 2008
2009
2010
40 40 40 40 30 190
80 40 80 70 30 30* 40 370
80 40 80 70 30 30 40 370
* Vagas previstas para o II Edital do PSS 2009. Condicionado à liberação das vagas docentes pelo MEC. Fonte: PROEG, agosto de 2008.
A Embaixada dos Estados Unidos aprovou o projeto “Seeing Voices: documentation of Amazonian Oral Traditions” do Grupo de Pesquisa sobre Línguas Indígenas da UFPA. O projeto vai documentar as diferentes narrativas da tradição oral de povos indígenas da Amazônia com os quais o grupo trabalha.
Feira de Ciências De 21 a 23 de outubro, no Hangar - Centro de Convenções, acontece a XIII Feira de Ciências do Estado do Pará (FEICIPA). O evento é uma parceria entre SEDUC, SEDECT e o Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento da Educação Científica da UFPA (NPADC). Outras informações, acesse: http://www.ufpa.br/ npadc/feicipa.
Fortalecer Estão prorrogadas, até o dia 15 de outubro, as inscrições para o Programa Fortalecer, promovido pela Pró-Reitoria de Ensino de Graduação. Mais informações: 3201-7909. As inscrições podem ser feitas pelo do site www.proeg.ufpa.br.
Memória Musical Acontece nos dias 7 e 9 de outubro, no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, o seminário “A Memória Musical na Amazônia”. As inscrições podem ser feitas no local ou pelo e-mail musamemoria@gmail. com. Mais informações: 8189-1160 (falar com a sra. Marta) ou pelo site: http://memoriamusical.web12. f3.k8.com.br
Intercâmbio A UFPA é uma das universidades brasileiras escolhidas para participarem do Projeto Erasmus Mundus, programa de cooperação e intercâmbio de ensino, criado pela União Européia. Professores, alunos de pós-graduação e graduação visitarão as universidades que fazem parte do projeto por um período de um a dois semestres. Os intercâmbios devem ter início em 2009.
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“Carnaval devoto”
Um caleidoscópio da fé paraense
rotinas para vivenciar uma temporada de festas dentro de outras festas, sejam as oficiais, vinculadas à doutrina católica, sejam as criadas pela cultura popular que não são ilegítimas ou menos tradicionais. Transforma-se em tradição aquilo que é pertinente e, portanto, encontra correspondência e é assimilado por confluir para o objetivo central, que é louvar a Santa. O que não possui pertinência, não vinga”, continua Zélia Amador. É nesse ínterim que, do ponto de vista estético, se observa na quadra nazarena manifestações que vão do sublime ao grotesco, isto é, momentos que envolvem desde a mais pura forma do sagrado, como o da solene celebração eucarística, do culto católico, até a Festa da Chiquita, promovida pela comunidade GLBTT.
A Festa da Chiquita reúne anualmente cerca de 40 mil pessoas em um cortejo que se concentra no Bar do Parque, na Praça da República e começa logo em seguida à Trasladação para prosseguir até a hora em que se inicia a procissão do Círio. O objetivo é um só: homenagear a Virgem Maria. O fato é que tal homenagem se dá em um luxuoso espetáculo, com muita cor, plumas e purpurina. O ápice da festa é a coroação do “Veado de Ouro”, prêmio concedido pelos organizadores a alguém que tenha se destacado pelo figurino Drag Queen durante o evento. A manifestação é tradição popular “oficial” da quadra nazarena, desde 1976, quando se chamava “Festa da Maria Chikita”, criada pelo cantor paraense Eloy Iglesias.
O Círio de Nazaré é formado por vários aspectos, do religioso ao comercial, e envolve a vida de muitas pessoas
n Religião é o motivo de tudo
Do mesmo modo, o professor Silvio Figueiredo ratifica a disputa de fiéis pelas religiões e o reforço do catolicismo no período do Círio. “É uma festa que congrega uma série de pessoas completamente diferentes e díspares. O catolicismo se impõe, a partir do Círio de Nazaré, como hegemônico na Amazônia ou pelo menos no Pará”. Ao mesmo tempo, nem toda propaganda acerca do Círio está diretamente ligada à devoção. “Você tem uma enorme movimentação econômica, turística, cultural e simbólica a qual, muitas vezes, é dissociada da fé católica, mas ainda assim vem solidificá-la”, diz. Na opinião dos pesquisadores, mercado e religião nunca estiveram separados. Segundo Vanda Pantoja, cada vez que a Diretoria do Círio toma a iniciativa de burocratizar mais o processo, existe o desejo de tornar a festa maior e mais bonita como forma de agradecer à Santa pelas
graças alcançadas e receber, em troca, novas bênçãos, estabelecendo-se assim uma aliança. “É essa relação de troca mediada pela promessa que faz o Círio nunca deixar de acontecer. Essa dimensão religiosa nunca tende a desaparecer, ela é o motivo de tudo”, afirma. Esse crescimento progressivo da Festa do Círio se deu mais fortemente a partir dos anos 80, conta Vanda. “Quando o Círio surgiu em 1793, havia duas procissões: a do Círio e a Trasladação. Até chegar à década de 80, duas ou três outras procissões surgiram. A partir de então, elas vêm surgindo quase que anualmente”, comenta. O crescente número de romarias (Traslado, Romaria Rodoviária, Romaria Fluvial), segundo a pesquisadora, atende à demanda de procissões temáticas, além de ser uma tentativa de desafogar a procissão do Círio, já que não há mais espaço físico para o número de pessoas.
n Atmosfera nazarena envolve a todos O Círio apresenta uma série de dimensões distintas, mas principalmente funciona como um elemento que congrega pessoas. Gente de credos diferentes, de classes sociais distintas, todas de certa forma estão envolvidas na atmosfera da festa. “O Círio é uma coisa dominante, todos vivem esse contexto. No mínimo, a pessoa vê a Santa pela televisão ou pelo computador. O mundo todo já vê a Santa passar através da internet”, explica a pesquisadora Vanda Pantoja. No que diz respeito a agregar pessoas por meio do reencontro, o professor Silvio Figueiredo fala sobre o aumento do turismo em Belém. “Há turistas de todos os tipos: romeiros que vêm pagar promessa, os
Tidas como inconciliáveis até pouco tempo, as manifestações sagradas e profanas já dividem harmoniosamente o calendário da quadra nazarena. Ainda que os mais conservadores admitam o Círio apenas como uma manifestação do sagrado, cresce o número daqueles que aproveitam o clima festivo para fazer emanar, do meio da multidão, uma diversidade de programações culturais. De acordo com o discurso científico, tal divisão entre o sagrado e o profano, no Círio de Nazaré, não tem mais linhas tão delimitadas. Para a professora do Instituto de Ciências da Arte (ICA/UFPA), Zélia Amador, pesquisadora da área cultural, a única divisão que separa a sacralidade da
profanação, durante a festa mariana, são as paredes do templo. “A festa, com o passar do tempo, agrega valores diversos e se transforma em uma manifestação que converge tradições, de forma equivalente tanto para o religioso quanto para o cultural, daí as diferentes maneiras de homenagear Nossa Senhora, que é o objetivo comum de todo o momento”, explica a professora. A devoção à Nossa Senhora de Nazaré remonta ao início da colonização portuguesa. Já incorporada à cultura amazônida, ganha traços das tradições indígenas e africanas. “Mesmo que seja a celebração de um santo, ou seja, culto com fundo essencialmente religioso, o momento se motiva em criar um ambiente festivo, que tira as pessoas de suas
que buscam a grande efervescência cultural e ainda pessoas que retornam à cidade no momento em que podem comungar com a cultura paraense ao rever a família, comer o pato no tucupi e respirar novamente elementos de identidade”, conta. O que, inicialmente, é uma procissão religiosa em louvor à Nossa Senhora de Nazaré, ganha, no Círio, uma gama de elementos que fogem especificamente ao campo religioso. “Dentro dos estudos da Antropologia, da Sociologia da cultura, esse tipo de manifestação é tida como um ritual e como tal está no campo do sagrado, porém isso não significa que esteja no campo da religiosidade oficial”, explica Figueiredo. Ele conta que a celebração é uma possibilidade de
transcendência do homem, um meio de o ser humano se relacionar mais rapidamente com outra vida. Com o caráter ritualístico, não necessariamente religioso, o Círio figura como a grande festa paraense que lança mão da transcendência para atingir o sagrado. “Os aspectos que fogem à religiosidade podem ser percebidos desde as festas mais religiosas (as procissões) até as mais laicas e ligadas a outros tipos de sacralidade, como todas aquelas aparentemente da periferia do Círio, mas que ao mesmo tempo estão em sua centralidade”. De acordo com o professor, essas festas perpassam desde a comensalidade do almoço até o Auto do Círio, a Festa da Chiquita e o Arraial de Nazaré.
n Povo subverte a disciplina Para a pesquisadora Vanda Pantoja, o Círio religioso ou profano é feito para as pessoas. “Elas se apropriam da festa e por mais que exista uma organização que tente controlar, gerenciar, burocratizar e impor disciplina, quando o povo chega, acaba subvertendo toda essa ordem”. Na opinião de Vanda, o ritual inclui a “desordem”, o profano, a bebedeira, o namorico. “São essas coisas que fazem da festa de santo o que ela é, uma festa católica popular. Homenagear Nossa Senhora inclui o devoto que não tem formação católica adequada, não tem o sacramento, não sabe os ritos, mas se diz católico e devoto, vai para a festa que é organizada para ele”, afirma. De acordo com os pesquisadores, as dimensões profana, econômica e religiosa caminham em favor do Círio. Ambos concordam que a celebração transformouse em um instrumento de mercado que está sendo apropriado pela mídia, para se tornar um produto vendável, atrair turistas e gerar renda, no entanto, esse caráter não vem desvirtuar o sentido que a festa tem para as pessoas. “Quanto mais se investir no Círio do jeito que se investe, mais a fé tende a ganhar”, afirma o professor Silvio Figueiredo. “O Círio só é um instrumento simbólico potente porque é capaz de despertar aquela dimensão mais íntima que as pessoas guardam da relação com o sobrenatural, com Deus. Dizer que essa dimensão religiosa está diminuindo por conta do mercado ou do profano é reduzir o Círio e as pessoas a simplesmente matéria, que não tem espírito, que não tem alma”, finaliza Vanda.
O Auto do Círio e a Festa da Chiquita são exemplos de programações culturais que acontecem paralelamente aos eventos religiosos da quadra nazarena
n Espetáculo de rua envolve linguagem de teatro e dança Como uma das incentivadoras das manifestações culturais da quadra nazarena, Zélia Amador também foi idealizadora do Auto do Círio, espetáculo de rua criado pela Academia para reunir todas as linguagens de teatro e dança, com a finalidade de prestar honrarias à Santa. Em sua 14ª edição, o Auto se consolida como patrimônio imaterial da festa católica paraense desde 2003, tombado pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Anualmente, o espetáculo atrai cerca de 10 mil pessoas. Atualmente, o Auto é assunto de dois trabalhos de mestrado, de seis de conclusão de curso e de duas monografias. O Auto, em seus três primeiros anos de apresentação, contou com a direção de Amir Haddad, diretor de teatro de rua de renome internacional. Mas, desde 1996, é dirigido pelo coordenador do projeto de extensão e pesquisador do ICA/UFPA, Miguel Santa Brígida, autor da dissertação “O Auto do Círio: drama, fé e carnaval em Belém do Pará”. “Hoje,
Mácio Ferreira
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írio: o religioso, o pagão, a fé, a festa, o mercado. Talvez hoje a expressão “Carnaval Devoto”, de Dalcídio Jurandir, expresse bem o significado dessa celebração que transcendeu uma procissão católica e passou a envolver a vida dos paraenses. As proporções que o Círio de Nazaré ganhou lhe renderam o status de megaevento, organizado a partir da ação de diretorias estratégicas que gerenciam do aspecto jurídico à promoção do marketing da festa. Para os pesquisadores da UFPA, Vanda Pantoja, autora da dissertação de mestrado “Negócios sagrados: reciprocidade e mercado no Círio de Nazaré” e o professor Silvio Figueiredo - cujas pesquisas sobre o tema resultaram no documentário “Naza” e no livro “Círio de Nazaré - Festa e Paixão” - é essa mistura de elementos, aparentemente contraditórios, que fazem da celebração um momento de dimensões imensuráveis. Vanda conta que, a partir da “Geografia da Religião”, buscou estabelecer uma ponte entre as visões geográfica e antropológica para compreender a grandiosidade da festa. A preparação para o período, explica, é um processo lento e minucioso que denominou “gestão burocrática empresarial”. “A celebração já extrapolou aquele organizar familiar, informal. Hoje, precisa-se agir como quem organiza um grande evento”, afirma. Em sua dissertação de mestrado, ela analisou a organização do Círio para estabelecer uma relação com as situações de mercado da festa. “O mercado em torno do Círio não diz respeito só ao comércio em geral, mas ao Círio enquanto instrumento da Igreja Católica para a evangelização”. A pesquisadora explica que esse é um momento em que o catolicismo tenta resgatar fiéis e impedir perdas. “Isso também é uma situação de mercado, já que atualmente as instituições religiosas disputam fiéis”.
Jéssica Souza
Mácio Ferreira
Tamiles Costa
Mácio Ferreira
Sagrado e profano misturam-se na grande festa religiosa do Pará
n Manifestações profanas dividem espaço no calendário
Atores são selecionados em oficinas gratuitas de preparação do elenco o espetáculo, como manifestação cultural legítima do Círio, reforça o espaço científico no cenário artístico e de produção de conhecimento no Pará”, observa. De acordo com o pesquisador, o projeto ganha extensão nos braços da multidão, uma vez que
o espetáculo tem um perfil que é a “cara” de Belém, com personalidade festiva e culturalmente diversa. A manifestação cultural une os aspectos religioso e profano da festa católica do povo paraense, pois permite que Nossa Senhora receba
homenagens no estilo carnavalesco. O espetáculo é itinerante. “Tem um quilômetro de extensão e três horas de emoção”, define o professor. A encenação começa na Praça do Carmo, de onde o grupo de 500 atores, formado por quem se inscreve gratuitamente nas oficinas de preparação de elenco, segue em cortejo pelas ruas da Cidade Velha. O espetáculo tem como cenário os prédios históricos de Belém, que são as estações onde ocorrem encenações e apresentações coreográficas. Para Miguel Santa Brígida, mais do que uma procissão, o Círio é uma grande festa e já está integrada ao calendário litúrgico e cultural paraense. “Não creio que o aspecto cultural se afaste do devocional. O Auto é a religiosidade encenada, é teatro que usa a rua como espaço para aliar a fé às artes. Ao ver o povo que participa do espetáculo com expressão de fé e contrita oração, testemunhamos a emoção religiosa e a festiva comungando em mesma dosagem”, sintetiza.