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12 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Outubro, 2009

Entrevista

“As pessoas ainda veem a educação a distância como uma irmã menor”

Alexandre Moraes

S

ão cinco missões divididas em três níveis de dificuldades. O jogador assume a identidade de um personagem, ora será Felipe Patroni, responsável por preparar o cenário para a revolução, ora Eduardo Angelim, e deverá enfrentar a tropa imperial enviada pelo governador Lobo de Souza. Ensinar por meio da interatividade. Essa é a proposta do Jogo da Cabanagem, lançado pela Faculdade de Engenharia da Computação do Instituto de Tecnologia da UFPA. O projeto, apoiado pela Financiadora de Estudos de Projetos (Finep) e pela Fundação de Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa (Fadesp), envolveu professores e alunos de graduação e de pós-graduação durante quase três anos. A fidelidade e a riqueza de detalhes garantem a aprendizagem e transformam as aulas de História numa aventura divertida e emocionante. Pág. 3

No lançamento, alunos da Escola de Aplicação testam o game

Aprendizagem

Teatro

Avaliação feita para punir

Auto do Círio traz Amazônia Estudo revela mulher à frente para o palco principal

Pesquisa leva alunos a relatarem suas experiências com práticas avaliativas ao longo da vida escolar. Memoriais são utilizados por professores do ICED para autorreflexão. Pág. 4

Bettina Ferro

do seu tempo

Pág. 11

Ciência

Aprender Física pode ser divertido Espetáculo é resultado de pesquisas realizadas ao longo do ano

Coluna do Reitor

Prova é o instrumento mais utilizado

Carlos Maneschy discute proposta de um ensino de graduação que vá além do conteúdo. Pág. 2

Opinião O jornalista Walter Pinto comemora os 24 anos de divulgação científica do Beira do Rio. Pág. 2

Faculdade de Física mantém projetos de extensão voltados para crianças e adolescentes da rede pública de ensino. Pág. 8

Entrevista José Miguel Veloso fala sobre os novos projetos para a Assessoria de Educação a Distância. Pág. 12

Alexandre Moraes

Beira do Rio – O ensino a distância o mais importante é termos, agora, quebra paradigmas, faz alunos um local para o treinamento de tutorepensarem o modo de aprender e res. O auditório também vem sendo professores a maneira de ensinar. usado intensivamente. O número de Mas, até pouco tempo, era visto cursos de graduação e de especialicomo uma última alternativa. O zação tem crescido e este ambiente que mudou para que o sistema serve para facilitar e apoiar esses EAD se tornasse uma grande oporcursos. A partir de agora, precisatunidade? remos de um esforço maior para a José Miguel Veloso – Um fator geração de materiais didáticos e as importante foi a internet, que está instalações apropriadas facilitarão mudando a forma de estudar das este trabalho. Ainda falta concluir o pessoas. No sistema EAD, isso tem segundo andar, onde ficarão os coleaproximado o professor do aluno. giados de cursos e os laboratórios de Além disso, o sistema presencial, treinamento. O projeto está finalizadiante das novas tecnologias, está do, a licitação deve ocorrer ainda este cada vez menos atraente para o estuano e a inauguração, em meados do dante. Acho que a conjugação destes próximo ano. dois fatores: a atração menor pelo BR – A Educação a Distância presensino presencial e a maior facilidasupõe o uso de outras ferramentas, de de acesso ao conhecimento, tem além da mídia impressa. Que ferfavorecido o ensino a distância. ramentas a UFPA está utilizando? BR – Em novembro do ano passaJ.M.V. – Com o grande problema do, a UFPA já atendia dois mil alude comunicação que enfrentamos no nos em 17 municípios paraenses. Estado, o material impresso continua Quais são os números de hoje? sendo o carro-chefe. E sempre será, J.M.V. – Já estamos com quase pois é algo que o aluno pode carquatro mil alunos nos regar com facilidade cursos de graduação e para qualquer lugar. especialização, além Além dele, temos o de 995 em cursos de acesso 0800, por meio extensão. Com o início do qual o aluno pode do Programa Nacional tirar dúvidas com os de Administração Pútutores, em horários blica, no próximo ano, de atendimentos prédeveremos ter mais determinados. O servi1.500 estudantes. ço é bastante utilizado, BR – Desde junho, a principalmente, em AEDI está trabalhanépoca de avaliação. do em seu novo préOutra ferramenta é a “Faremos um dio. Que mudanças Plataforma Moodle, as novas instalações pela qual você cria um esforço maior trouxeram para a roambiente de aprendipara a geração tina da AEDI? zagem. Ela é utilizada J.M.V. – Hoje, nós tetanto por tutores quande materiais mos um espaço mais to por estudantes. Nós adequado para nossa queremos que esse didáticos” equipe trabalhar. Mas, sistema seja utilizado

com mais intensidade pelos docentes nistração Pública. O Ministério da da Instituição. Isso significa superar Saúde manifestou interesse no proalgumas dificuldades, entre elas, a grama e, assim, foi criada a Especiamaior demanda de trabalho que as nolização em Gestão em Saúde, além de vas ferramentas implicam e o cálculo duas outras especializações – Gestão do tempo de trabalho do professor, Pública e Gestão Pública Municipal. que é feito a partir do modelo presenOs cursos serão ofertados em todo cial. Nós não temos resoluções que o país. Aqui, no Pará, o programa prevejam o modelo a distância. ficará sob a coordenação da UFPA e BR – Como funciona a Universidadeve atender, inicialmente, 10 munide Aberta do Brasil (UAB) ? cípios com o curso de Administração J.M.V. – Trata-se de um convênio Pública e cinco municípios com as tripartite entre: as prefeituras, as especializações. universidades e a Coordenação de BR – Quais são os projetos da nova Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível gestão para a AEDI? Superior (Capes). O Projeto prevê J.M.V. – A Assessoria deve avançar, o pagamento de bolsas, passagens principalmente, na produção de mae diárias para professores e tutores, terial didático, tanto impresso quanto além de recursos para produção de em vídeo, então, vamos nos qualificar materiais didáticos. Cada prefeitura nessa direção. Outra frente de trabaprecisa montar um polo de apoio lho é ofertar os cursos de licenciatura presencial, com uma configuração que ainda não existem a distância: mínima. O Ministério da Educação História, Geografia, Física, enfim. está doando um laboratório com 30 Queríamos uma adesão maior das máquinas e acesso à internet para Faculdades. Nosso objetivo é trazer cada um desses polos. As prefeimais cursos para essa modalidade de turas entram com as ensino. Outra prioridainstalações físicas e o de é adaptar o regimenpessoal administratito da graduação para vo, a Capes garante os o ensino a distância e recursos e as universicriar um sistema misto dades oferecem o curso de controle acadêmico, e a certificação. Aqui, em que seja possível por exemplo, todos dialogar com os polos os participantes serão que não são unidades alunos da UFPA. da UFPA. BR – Como irá funBR – Quais são as cionar o Programa maiores dificuldades Nacional de Formapara que uma Facul“Nosso objetivo dade venha aderir ao ção em Administração Pública, ofertado pela sistema de EAD? é trazer mais UFPA, em parceria J.M.V. – O grande com a Universidade cursos para essa problema é que isso Aberta do Brasil? significa uma carga de modalidade de J.M.V. – O interesse do trabalho maior. Além governo federal, com a disso, as pessoas ainda ensino” criação da UAB, era relutam, veem a eduqualificar os profescação a distância como sores da rede pública uma irmã menor. Mas de ensino. Entretanto, uma das priisso só vai mudar quando tivermos meiras experiências da UAB foi um resultados mais concretos com recurso piloto de Administração. Essa lação ao ensino a distância. No ano experiência foi aproveitada na elapassado, a turma de Matemática fez boração de um curso de formação de o Enade, mas ainda não temos os administradores públicos. Formou-se resultados. Nas avaliações com os esuma comissão com professores das tudantes, eles sempre se manifestam universidades, representantes dos favoravelmente ao curso a distância. ministérios e da Escola Nacional de Mas seria bom ter uma avaliação em Administração Pública para desenhar que os indicadores não sejam, somenum curso de bacharelado em Admite, as opiniões dos estudantes.

Wagner Meier

D

esde julho, a Assessoria de Educação a Distância (AEDI), da Universidade Federal do Pará (UFPA), está de casa nova e sob a coordenação do professor José Miguel Veloso. O prédio, com área total de 800m², conta com laboratórios, auditório e espaço para as secretarias dos cursos ofertados em EAD. O segundo andar, que deverá ser inaugurado em meados do próximo ano, abrigará os colegiados. Em entrevista ao JORNAL BEIRA DO RIO, José Miguel Veloso falou sobre os projetos e desafios para os próximos anos, entre eles, estão a oferta de novas licenciaturas no sistema a distância, a produção mais intensa de material didático e a qualificação de recursos humanos por meio do Programa Nacional de Formação em Administração Pública, realizado em parceria com a Universidade Aberta do Brasil.

Miguel Veloso: “Já estamos com quase quatro mil alunos”

Acervo Pesquisador

Rosyane Rodrigues

Videogame ensina História

Fotos Alexandre Moraes

José Miguel Veloso, coordenador da Assessoria de Educação a Distância, fala sobre os desafios para os próximos anos.

JORNAL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ • ANO XXIV • N. 76 • Outubro, 2009


BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Outubro, 2009 –

Bettina Ferro

Coluna do REITOR Carlos Maneschy

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Acervo Pessoal

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Recentemente, o Ministério da Educação tornou público o resultado do Conceito Preliminar de Curso (CPC), que tem por base de cálculo a média dos alunos no Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade) e o Indicador de Diferença entre Desempenho Observado e Esperado (IDD), índice que mede variáveis, como corpo docente, infraestrutura, organização didático-pedagógica e agregação de conhecimento no curso de graduação. Dos nossos 60 cursos avaliados no ano passado, 15 apresentaram desempenho abaixo do nível 3 (considerado satisfatório pelos padrões nacionais), sendo três desses cursos colocados entre as cinco piores avaliações relativas às suas áreas no País, conforme matéria repercutida amplamente pela imprensa. Desse resultado, fica óbvia a imperiosidade de se buscar rumos alternativos que apontem, em um curto cenário de tempo, soluções para que a UFPA apresente desempenho compatível com a qualificação dos seus recursos humanos e a grandeza de sua missão. No processo de geração e difusão do conhecimento desenvolvido em nosso espaço interno, é fundamental

que se propicie o ambiente mais favorável para que as atividades de graduação sejam exercidas dentro de condições materiais e humanas adequadas, incorporando modelos didáticos e pedagógicos que expressem as concepções mais inovadoras. O atual contexto da formação de técnicos com habilidades e competências reconhecidas também requer que se preparem cidadãos conscientes da realidade dos problemas sociais, com capacidade para, em alguma medida, encaminhar as soluções correspondentes. Disso desdobra ser indispensável atrelar a capacitação técnica a práticas que valorizem a reflexão, a crítica e a inovação, num exercício que impõe ajustes organizacionais e estruturais para os desejados saltos de qualidade. Devemos, portanto, estimular conteúdos e discussões que possam auxiliar na formulação das respostas para as transformações socioculturais operadas no mundo moderno. Nos últimos anos, observou-se um aumento substancial nos cursos de graduação e na oferta de vagas na UFPA, reproduzindo uma evolução quantitativa que torna explícita a es-

OPINIÃO

Walter Pinto

tratégia de crescimento da Instituição. Esse esforço, entretanto, ainda evidencia resultados que demonstram níveis de desempenho abaixo daqueles que se pode produzir. Para se alterar essa realidade, é preciso operar na superação das deficiências por meio da implantação de novos elementos didáticos, da reformulação de conteúdos programáticos, da inovação nos métodos de ensino e da busca de sintonia social nos cursos de graduação. Enfim, em um elenco de medidas para transformar o atual cenário do ensino de graduação deve-se também incluir: planejamento estratégico para os cursos, definindo metas e incorporando avaliação continuada; ampliação da oferta de ambientes virtuais de aprendizagem; estímulo à mobilidade dos discentes entre áreas do conhecimento; cooperação com instituições nacionais e internacionais para ações conjuntas no nível da graduação. Essas alternativas vão auxiliar a efetivar as mudanças que permitirão à UFPA se inserir no conjunto seleto de universidades com tradição em formar profissionais bem qualificados em todas as áreas e com visão cidadã mais consentânea com a realidade.

walterpinto@oi.com.br

Beira do Rio: 24 anos de divulgação científica

o final da década de 70, a sociedade brasileira começou a se organizar frente ao Estado Autoritário num processo de retomada das liberdades democráticas. A transição levaria mais de uma década para se concluir, mas, ao longo do período, a sociedade foi obtendo conquistas pontuais, iniciando pela Anistia de agosto de 1979, por meio da qual os exilados puderam retornar ao País. No bojo das lutas contra a ditadura militar e pelo retorno à democracia, entidades nacionais, como Ordem dos Advogados do Brasil, Associação Brasileira de Imprensa e União Nacional dos Estudantes, aliadas a setores da sociedade organizada, como a ala progressista da Igreja Católica, as associações profissionais e os movimentos operários, lideraram manifestações de rua pelo fim da ditadura militar. Dos campi das universidades, partiu a grande maioria das lideranças que estiveram à frente das manifestações reivindicando o fim da censura, a anistia ampla, geral e irrestrita, o fim

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ Rua Augusto Corrêa n.1 - Belém/PA beiradorio@ufpa.br - www.ufpa.br Tel. (91) 3201-7577

do bipartidarismo, o direito à greve, as eleições diretas para presidente e a promulgação de uma nova Constituição. Paralelamente à luta travada fora dos muros acadêmicos, estudantes, professores e técnico-administrativos se organizaram na superação do inimigo interno: o controle autoritário do Estado sobre as universidades públicas. Uma nova bandeira viria somar-se à luta por mais verbas para a educação e pela qualidade do ensino: o direito à participação da comunidade universitária no processo de escolha dos reitores. A UFPA foi uma das primeiras universidades federais a conquistar esse direito. Em 1985, teve início o processo de democratização que encerrou o ciclo dos reitores escolhidos pelo regime militar. Dois meses depois da posse do reitor José Seixas Lourenço, surgiu o Jornal Beira do Rio, que está completando 24 anos. O editorial da edição n. 1 evidenciou o momento político vivenciado pela Instituição: “a grande contribuição trazida pelo

Uma mulher à frente do seu tempo

reitor@ufpa.br

Um ensino de graduação para além do conteúdo

UFPA tem ganho visibilidade nacional em muitos aspectos de sua vida institucional, apresentando marcos, nessa trajetória, que incluem, além do reconhecimento como centro referencial da pesquisa regional, o destaque de ter se tornado a universidade mais interiorizada e a de maior número de alunos de graduação dentre todas as IFES brasileiras. Esses registros positivos, entretanto, não devem ocultar fragilidades já identificadas, que evidenciam a necessidade de promover mudanças sinalizadas pela própria dinâmica da história. História que, no longo período de constituição das instituições universitárias, tem exigido das universidades alterações em nível e velocidade muito maiores do que aquelas exigidas de outras organizações. E é nesse ritmo que a UFPA precisa continuar reprocessando e aprimorando suas ações a fim de garantir maior legitimidade social. Nos próximos anos, nossas maiores preocupações devem ser concentradas em áreas para as quais indicadores de qualidade têm revelado baixo desempenho institucional, entre as quais se incluem atividades relacionadas ao ensino de graduação.

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processo vivido pela UFPA, quando da escolha da lista sêxtupla para reitor, foi a de inaugurar uma nova fase na vida da Instituição; isto é, na UFPA, abriu-se o caminho sem volta da democracia”. Ao longo da sua vida, o Beira do Rio vem testemunhando a consolidação da democracia e o crescimento qualitativo da Instituição. Ele próprio se insere na gama de medidas de modernização efetivadas pela administração, notadamente, em sua área específica, a comunicação institucional. Inicialmente, voltado à divulgação das atividades gerais da UFPA, o Jornal optou pela linha editorial de cunho científico a partir da edição n. 19, de janeiro de 1990. Mas, a ciência já estava presente na edição inaugural, por meio da matéria sobre um secador solar de grãos desenvolvido por engenheiros mecânicos, empenhados, àquela altura, em levar a inovação tecnológica ao trabalhador rural. Da impressão em preto e branco à policromia de hoje, há uma história de conquista de credibilidade tanto

do leitor como das fontes. O Beira do Rio se preocupa em traduzir para a linguagem jornalística as complexas elaborações teóricas dos pesquisadores, tornando-as acessíveis ao grande público. Esse papel de instrumento da difusão científica, inicialmente, foi recebido com ceticismo por muitos pesquisadores, refratários aos erros da grande imprensa. Mas, o tratamento jornalístico responsável e sério logo se tornou evidente e o Jornal conquistou credibilidade e se impôs entre as melhores publicações de jornalismo científico universitário do Brasil. Hoje, ele próprio tornou-se uma fonte de estudos para pesquisadores interessados em estudar a produção científica da UFPA. As últimas duas décadas e meia de vida universitária estão presentes em suas páginas. Walter Pinto é jornalista da Assessoria de Comunicação da UFPA, repórter e ex-editor do Beira do Rio, e um dos fundadores do Jornal.

Reitor: Carlos Edílson Maneschy; Vice-Reitor: Horácio Schneider; Pró-Reitor de Administração: Edson Ortiz de Matos; Pró-Reitor de Planejamento: Erick Nelo Pedreira; Pró-Reitora de Ensino de Graduação: Marlene Rodrigues Medeiros Freitas; Pró-Reitor de Extensão: Fernando Arthur de Freitas Neves; Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação: Emmanuel Zagury Tourinho; Pró-Reitor de Desenvolvimento e Gestão de Pessoal: João Cauby de Almeida Júnior; Pró-Reitor de Relações Internacionais: Flávio Augusto Sidrim Nassar; Prefeito do Campus: Alemar Dias Rodrigues Júnior. Assessoria de Comunicação Institucional JORNAL BEIRA DO RIO Coordenação: Ana Carolina Pimenta Edição: Rosyane Rodrigues; Reportagem: Abílio Dantas/ Glauce Monteiro(1.869-DRT/PA)/ Igor de Souza /Jéssica Souza(1.807-DRT/PA)/Killzy Lucena/Raphael Freire/ Walter Pinto (561-DRT/PA)/ Yuri Rebêlo; Fotografia: Alexandre Moraes/Mácio Ferreira/Wagner Meier; Secretaria: Isalu Mauler/Carlos Júnior/Gustavo Vieira; Beira On line: Leandro Machado/ Leandro Gomes; Revisão: Júlia Lopes/Karen Santos; Arte e Diagramação: Rafaela André/Omar Fonseca; Impressão: Gráfica UFPA.

Estudo releva a trajetória de médica que dá nome ao hospital da UFPA Clareana Rodrigues

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esquisa exploratória, documental, entrevistas, telefonemas e a produção de uma monografia sobre a trajetória acadêmica e profissional da cardiologista paraense, nascida em Belém, Bettina Ferro de Souza (1913-1993). Essa foi a rotina, entre os meses de março e maio deste ano, de Cristina Alencar, bibliotecária do Hospital Universitário Bettina Ferro de Souza (HUBFS). A pesquisa “A trajetória de Bettina Ferro e sua contribuição para a Ciência e a Sociedade: Um estudo para inclusão na biblioteca digital” recomenda a necessidade de implantar a biblioteca digital como forma de registro da trajetória de vida dessa ilustre cientista paraense, além de resgatar e preservar a memória institucional do HUBFS. O estudo foi entregue como resultado do curso de Especialização Gestão da Informação em Bibliotecas Digitais, da Faculdade de Biblioteconomia da UFPA. Cristina Alencar trabalha no Hospital Bettina desde agosto de 2006, época em que ajudou a iniciar a montagem da biblioteca na instituição. “Quando cheguei para entregar o currículo no Hospital, percebi o quadro biográfico da médica. Logo depois, montando a biblioteca, vi o livro “Manual de Propedêutica Médica”, que teve sua terceira edição publicada em 1995. O manual foi escrito por Bettina e cerca

Acervo da família

Mácio Ferreira

2 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Outubro, 2009

Bettina Ferro na abertura do 26º Congresso Brasileiro de Cardiologia realizado em Belém, em 1970 de oito colaboradores, entre eles, o atual diretor-geral do HUBHS, professor Murilo Morhy, e sua esposa, doutora Maria Izabel Morhy. A partir daí, me dei conta da necessidade de existir um estudo sobre a trajetória de vida de Bettina Ferro e de investigar por que ela foi escolhida para dar nome ao Hospital”, explica a

pesquisadora. A bibliotecária também entrou em contato com familiares da médica e conseguiu dezenas de fotos que ilustram a monografia. Segundo Cristina Alencar, uma das imagens mais importantes é do 26º Congresso Brasileiro de Cardiologia, organizado por Bettina Ferro. Na ocasião, a

médica tomou posse como a primeira mulher a presidir a Sociedade Brasileira de Cardiologia, com sede no Rio de Janeiro. O evento ocorreu na Escola de Agronomia da Amazônia (EAA), atual Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), e teve abertura oficial no Theatro da Paz, em Belém.

n Uma das primeiras a frequentar o meio científico da época Diante da documentação levantada durante a pesquisa – documentos administrativos, produção bibliográfica, fotografias e premiações – Cristina revela como a médica foi uma mulher à frente do seu tempo e o quanto contribuiu nas questões de saúde pública do Estado do Pará, “Bettina atuou como membro de entidades científicas de cunho regional (Sociedade Paraense de Cardiologia) e nacional (Sociedade Brasileira de Cardiologia), sendo, inclusive, uma das primeiras e poucas mulheres a frequentar o meio científico da época”. Tamanho era o reconhecimento por suas ações que Bettina Ferro rece-

beu o prêmio de Ilustre Benemérito da Misericórdia pelo trabalho realizado em prol das causas dos menos favorecidos. A homenagem foi feita pela Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará, onde atuou por muitos anos na Enfermaria Santo Antônio, localizada nos porões da instituição, hoje desativada. Durante a pesquisa, foi possível resgatar a atuação da professora na Clínica de Propedêutica Médica na Faculdade de Medicina da UFPA, onde ela também ocupou o cargo de chefe de Cursos e Departamento. Bettina Ferro graduou-se em Medicina em 1935 e começou a lecionar como professoraassistente, sem remuneração, quinze

anos depois. Na Faculdade de Medicina, Cristina Alencar encontrou, entre as pastas de documentos, um ofício solicitando concurso para sua efetivação como professora. “Para tornar-se doutora, ela publicou a tese “Beribéri e Cardiopatia”, em 1952, em que afirma que beribéri é uma doença metabólica, produzida por uma carência de vitamina B1”, afirma a autora. Nas entrevistas realizadas, a bibliotecária sempre descobria algo novo, como os trabalhos catequéticos feitos pela médica na Igreja de São João Batista, por mais de cinquenta anos. Durante a pesquisa, Cristina Alencar

se inspirava na médica para não perder a força de vontade e seguir com o trabalho. “Agora, quero resgatar, pelo menos, um exemplar de cada produção da médica e disponibilizar na biblioteca”, planeja. Os serviços prestados com êxito à ciência e à sociedade por Bettina Ferro lhe renderam inúmeras homenagens em vida. Após seu falecimento, ocorrido em janeiro de 1993, a mais significativa delas foi a escolha do seu nome para denominar o Hospital Universitário, que completa 16 anos em outubro e é referência no Estado em Crescimento e Desenvolvimento Infantil, Oftalmologia e Otorrinolaringologia.

Linha do tempo 1925-1929

1930

Estuda no Colégio Paes de Carvalho.

Presta vestibular aos 16 anos para a Faculdade de Medicina do Pará.

1935

Conclui a graduação.

1947

1949

1950

1952

1957

1970

1971/1975

1993

Presta concurso para Clínica Médica no Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Comerciários (IAPC).

Assume o cargo e é lotada na Delegacia do Estado do Pará.

Inicia carreira na Clínica de Propedêutica Médica como professora assistente, sem remuneração.

Publica a tese “Beribéri e Cardiopatia”, na época, uma das condições para obter o grau de Doutora.

Cria a Seção Pará da Sociedade Brasileira de Cardiologia, atual Sociedade Paraense de Cardiologia.

Toma posse como a primeira mulher a presidir a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC).

Foi chefe do então Departamento de Medicina e coordenadora do Curso.

Após o seu falecimento, seu nome é escolhido para denominar o Hospital Universitário da UFPA.


10 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Outubro, 2009

BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Outubro, 2009 –

Educação

Marabá

Videogame ensina História do Pará

Campus inicia curso de Educação do Campo

Objetivo é consolidar grupos de pesquisa e criar pós-graduação na área assentadas. Essas regiões possuem pequenas cidades que combinam estruturas urbanas e rurais carentes de políticas públicas de todas as ordens, principalmente, quando se fala em educação.

Os movimentos de trabalhadores rurais têm se dedicado à luta pela instalação de serviços públicos que garantam os direitos sociais básicos a todos e que permitam a melhoria da qualidade de vida da

população do campo. Nesse sentido, garantir a educação tem sido a principal luta travada por essas populações que, historicamente, foram submetidas a situações de abandono por parte dos órgãos responsáveis. As unidades escolares dos assentamentos ofertam, na maioria das vezes, apenas o ensino fundamental, muitas vezes, em salas multisseriadas, sem que haja condições materiais e formação adequada dos educadores. Uma parte significativa dessas unidades funciona em galpões, salões paroquiais ou casas emprestadas, algumas não possuem energia elétrica nem água potável, os móveis escolares são precários e não existem bibliotecas, laboratórios e computadores. Impulsionados pela vontade de reverter tal situação, os movimentos sociais reivindicam a construção de escolas e a oferta de educação gratuita às populações do campo. Mas, para além disso, defende-se um projeto pedagógico próprio, comprometido com a realidade dos povos do campo, que respeite seus saberes e suas práticas culturais e trabalhe para a superação de suas necessidades de aprendizado.

n Desenvolvimento e fortalecimento da agricultura familiar Desde 1999, os cursos de Pedagogia, Ciências Agrárias e Letras, do Campus de Marabá, têm realizado um conjunto de ações de educação do campo financiadas pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), via Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera), voltado ao atendimento da demanda educacional das populações campesinas moradoras de assentamentos da reforma agrária. Em 2009, a UFPA passou a compor, com outras Instituições Federais de Ensino Superior (IFES), um conjunto de universidades envolvidas na formação de educadores do campo pela oferta de uma graduação em Licenciatura Plena em Educação

do Campo. A criação do curso faz parte de uma ação mais ampla do Ministério da Educação (MEC), que promove uma política nacional de educação do campo. Essa política vem sendo formulada pela Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (Secad), pela Coordenação Geral de Educação do Campo (CGED) e pelo Grupo de Trabalho Permanente de Educação do Campo (GPT). Buscando uma formação crítica que possibilite aprendizagens significativas às populações do campo e que ajudem o desenvolvimento e o fortalecimento da agricultura familiar na região, na UFPA, o curso foi ofer-

n Programa é interdisciplinar Durante os quatro anos da graduação, os alunos terão suas leituras, pesquisas e debates perpassados por cinco eixos – Sociedade, Estado, Movimentos Sociais e Ciência; Educação do Campo; Saberes, Culturas e Identidades; Sistemas familiares de produção e campo, Territorialidade e sustentabilidade – além de três núcleos - comum, específico e atividades complementares. A primeira turma da Licenciatura Plena em Educação do Campo já iniciou as atividades e, segundo o professor Evandro Medeiros, mostrou -se bastante curiosa com a proposta pedagógica e com a abordagem metodológica assumida no desenvolvimento das primeiras etapas. “Os alunos estão surpresos, pois não tinham ideia de que um curso acadêmico poderia ser tão

dinâmico e ao mesmo tempo se dizem desafiados em dar conta das leituras e acompanhar as discussões feitas pelos professores”, relata o professor. O curso ainda não possui coordenador e está integrado à Faculdade de Educação do Campus de Marabá. Mas, por ser interdisciplinar, em médio prazo, ele poderá compor um Instituto Interdisciplinar de Educação do Campo. “Ao mesmo tempo em que comemoramos as conquistas dessa trajetória histórica, apontamos um novo rumo para a educação do campo na região. Certamente, o curso nos permitirá alçar voos maiores, como a consolidação de grupos de pesquisa na área e da pósgraduação, como a Especialização em Educação do Campo, já aprovada no Consepe e com previsão para iniciar ainda neste semestre”, afirma.

tado este ano no Processo Seletivo Especial (PSE), com 40 vagas para pessoas do campo que concluíram o ensino médio, sobretudo, pessoas que já atuam em escolas básicas no campo. “A aprovação do curso tem um valor simbólico muito especial para o Campus de Marabá, pois, há 10 anos, iniciamos uma articulação com os movimentos sociais voltada para a formação escolar das populações de assentamento e pautada nos princípios da Educação do Campo”, comemora Evandro Medeiros, um dos proponentes do curso. No curso, pretende-se desenvolver uma educação do campo que não seja, apenas, adequação daquilo

que foi pensado para a cidade. O objetivo é preparar educadores para uma atuação pedagógica que vá além da prática escolar por meio da docência multidisciplinar. A partir da 3ª etapa de curso, os alunos optarão pela habilitação em que querem atuar profissionalmente – Linguagens, Arte e Literatura, Ciências Humanas e Sociais, Ciências Agrárias e da Natureza, Matemática e Sistemas de Informação – a qual será a ênfase da sua formação. Durante as atividades, os estudantes passarão por dois momentos: um em que estarão na Universidade, tendo aulas teóricas e outro em que estarão nas comunidades rurais, desenvolvendo atividades de pesquisa e extensão.

PSS 2010: sete novos cursos para o interior Em março de 2009, o Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Consepe) aprovou a criação de novos cursos nos campi do interior. Os cursos são resultado de investimentos do Programa de Apoio ao Plano de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni). Ofertados, inicialmente, no Processo Seletivo Especial (PSE) de 2009, a partir do PSS 2010, eles serão ofertados de forma regular. A seguir, a relação dos cursos recém-criados: Licencia tura e Bachar elado em Etnodesenvolvimento - Campus: Altamira. Vagas: 45. Regime: Intervalar Bacharelado em Engenharia Industrial - Campus: Abaetetuba. Vagas: 40. Turno: Integral Licenciatura em Ciências Naturais Campi: Bragança, Breves e Marabá. Vagas: 40 (Bragança e Breves) e 30

(Marabá). Turno: Vespertino (Bragança) e Noturno (Breves e Marabá) Bacharelado em Sistema de Informação - Campus: Castanhal. Vagas: 30. Turno: Vespertino Licenciatura e Bacharelado em Geografia - Campi: Santarém, Marabá e Altamira. Vagas: 40 (Santarém, Marabá e Altamira). Turno: Noturno (Altamira e Marabá) e Matutino (Santarém) Licenciatura em História - Campi: Bragança e Cametá. Vagas: 40 (Bragança e Cametá). Turno: Noturno (Cametá) e Vespertino (Bragança) Licenciatura em Matemática - Campi: Abaetetuba, Bragança, Breves, Castanhal e Marabá. Vagas: 40 (em cada campus) Turno: Noturno (Bragança, Castanhal, Marabá), Integral (Breves), Matutino (Abaetetuba)

Estudantes aprendem sobre a Cabanagem de forma interativa

n Jogador precisa vencer três fases

Fotos Alexandre Moraes

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nxada, trator e foice. Não são somente essas ferramentas que os moradores do campo querem e precisam para sobreviver. Lápis, borracha, caderno e livros, ou seja, educação escolar é fundamental para melhorar as condições de vida no campo. E é com o propósito de possibilitar o acesso ao ensino superior a esses homens e mulheres que a Universidade Federal do Pará (UFPA), por meio do seu Conselho Superior de Ensino, Pesquisa e Extensão (Consepe), criou o curso de Licenciatura Plena em Educação do Campo (LPEC), no Campus Universitário de Marabá. De acordo com dados de agosto de 2009, do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), atualmente, a Região Norte é a segunda região com o maior número de famílias assentadas em áreas de reforma agrária do Brasil, são 167.032 famílias, totalizando 842.303 pessoas vivendo em assentamentos regularizados. Nas regiões sul e sudeste do Pará, existem, aproximadamente, 482 assentamentos e 77 mil famílias

Mácio Ferreira

Proposta pedagógica inovadora prevê atividades com as comunidades

Raphael Freire

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O videogame sobre a Cabanagem está dividido em três fases e os jogadores têm de enfrentar cinco missões, de acordo com os acontecimentos do Movimento:

Jogador assume o papel de personagens importantes para o movimento revolucionário paraense Glauce Monteiro

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uantos alunos da 5ª série você conhece que adoram estudar História? Talvez alguns. Mas quantos deles gostam de jogar videogame? Agora a resposta deve ser: quase todos. Então, por que não aproveitar o fascínio natural por jogos de computador para despertar nos estudantes o interesse pela história do Pará? Essa é a proposta do Laboratório de Realidade Virtual (LARV) do Instituto de Tecnologia da UFPA, que criou um jogo sobre a Cabanagem, o único movimento popular brasileiro em que o povo tomou o poder durante o período imperial.

Em 2006, a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) publicou um edital nacional para desenvolvimento e disseminação de jogos de computador educativos. Em toda a Região Norte, apenas o Jogo da Cabanagem produzido pela UFPA foi aprovado e recebeu R$ 113 mil reais em recursos administrados pela Fundação de Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa (Fadesp). O projeto durou dois anos e meio e envolveu estudantes de graduação e de pós-graduação da Faculdade de Engenharia da Computação, do Instituto de Tecnologia da UFPA (ITEC), coordenados pelo professor Manoel Ribeiro Filho.

Alunos da Escola de Aplicação da UFPA já começaram a utilizar o videogame nas aulas de História e receberam um novo laboratório de informática equipado com 16 computadores, graças ao projeto. “O objetivo do game é ensinar mais sobre a história do Pará, seus personagens históricos, arquitetura e sistemas econômicos. O tema central é a Cabanagem, mas é possível utilizar o jogo em sala de aula como ponto de partida para vários outros temas do currículo escolar, como escravidão, urbanização, atividades econômicas, hábitos alimentares ou modo de vida no Pará, durante o início do século XIX", acredita o engenheiro.

n Fidelidade de detalhes assegura aprendizagem A aprendizagem é garantida pela riqueza e fidelidade em cada detalhe do jogo. A arquitetura e as distâncias entre os prédios no jogo, em Belém e no interior, são reais e foram baseadas em imagens e documentos cedidos pelo arquiteto Flávio Nassar, coordenador do Fórum Landi, e em visitas da equipe aos cenários onde se passam os acontecimentos no município do Acará. "Como o Antônio Landi esteve em Belém antes da revolução e graças ao trabalho de pesquisa do Fórum, nossos designers gráficos puderam ser fiéis a detalhes dos prédios em Belém e da vestimenta usada por cabanos e soldados imperiais retratados no jogo. No Acará, encontramos a Igreja, o único prédio que resistiu à Batalha em 1834. A fazenda e o sítio, onde os cabanos reuniram recursos para a tomada de Belém, ainda estão lá", conta Manoel Ribeiro. “Fotografamos, inclusive, descendentes dos irmãos Vinagre e utilizamos suas fisionomias

para desenhar os rostos dos seus ancestrais no game”, conta. As músicas foram compostas pelo músico Luiz Pardal, professor da Escola de Música (EMUFPA), e as vozes que dão vida às narrações no videogame são de alunos da Faculdade de Comunicação Social. Manoel Ribeiro revela que o projeto teve a colaboração e a dedicação de vários setores da UFPA e que pode abrir novas possibilidades para o ensino não apenas na Escola de Aplicação, mas também em todas as escolas das redes pública e privada. “Todos os detalhes adicionados ao jogo podem ajudar os alunos a entenderem melhor vários assuntos. Na missão sediada no Acará, por exemplo, vemos como era o trabalho escravo no século XIX, quais os produtos que subsidiavam as atividades econômicas, como era o funcionamento das fazendas, que prédios e instituições predominavam no período e qual era o fenótipo das pessoas

Ribeiro: "objetivo é ensinar mais" à época. Explicar tudo isso pode ser muito abstrato, mas, brincando alguns minutos com o videogame, o estudante pode aprender de forma mais interativa e divertida",assegura.

1ª FASE – Pré-Revolução: A primeira parte do jogo envolve o período pré-revolucionário, que vai de 1821 a 1823. Nesta fase, o jogador assume o papel de Felipe Patroni e do Padre Batista Campos, os primeiros líderes da Cabanagem. Para vencer, é preciso conhecer a localização dos principais cenários onde acontecerá a revolução em Belém, como o Arsenal de Guerra, o Palácio do Governo e o Hospital Real Militar, os dois últimos são, hoje, o Palácio Lauro Sodré e a Casa das Onze Janelas. Depois, é hora de fundar o Jornal O Paraense, primeiro jornal paraense e principal instrumento de divulgação de ideias revolucionárias do período, e entregar o primeiro exemplar para o Padre Batista Campos, que seria o segundo líder da revolução. Esta etapa se encerra com a fuga de Batista Campos para o interior do Estado por causa da perseguição do governo português. 2ª FASE – Conflito Armado: A segunda etapa corresponde à explosão do conflito armado entre os cabanos e o Império Brasileiro, em outubro de 1834. O cenário do jogo de estratégia é o município do Acará, onde Eduardo Angelim e Antônio Vinagre enfrentam a tropa imperial enviada pelo governador Lobo de Souza para prender um jornalista. Para vencer, o jogador precisa alternar o comando de Félix Malcher e Francisco Vinagre e gerenciar a aquisição de recursos na Fazenda Acará -Açu e no Sítio Santa Cruz. O desafio é acumular recursos e chamar Eduardo Angelim para a batalha dentro do limite de tempo estipulado, sob pena de ser atacado pelas tropas imperiais. Na segunda missão desta fase, o jogador assume o lugar de Eduardo Angelim e comanda o ataque cabano ao acampamento dos soldados do Império Brasileiro. 3ª FASE – Tomada do Governo: Retrata a tomada do poder pelos cabanos, em 7 de janeiro de 1835. O jogador, agora, é Eduardo Angelim e lidera os cabanos nos ataques aos quartéis, ao Arsenal de Guerra, ao Forte do Castelo e ao Palácio do Governo. O jogo termina quando os cabanos matam o governador Lobo de Sousa e Antônio Clemente Malcher toma posse do poder local como o primeiro presidente da Cabanagem. Serviço: O game "Cabanagem" pode ser baixado gratuitamente no site www.larv.ufpa.br. Para jogar, é recomendável ter um computador com processador 3.0 GHz, 1 GB de memória RAM, placa de vídeo de 256 MB e sistema operacional Windows Xp ou Vista


4 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará –Outubro, 2009

BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Outubro, 2009 –

Aprendizagem

Vocação

Projeto ajuda na escolha profissional

Falta diálogo e sobram punições

Memoriais de alunos são fontes de reflexão sobre práticas avaliativas

Autoritarismo dos professores está presente nos três níveis de ensino divididos em quatro categorias de princípios de avaliação: avaliação autocrática (caracterizada por ser classificatória e repressora, amparada no uso do poder do professor), avaliação burocrática (avalia o rendimento dos alunos somente pelos dados estatísticos referentes às notas), avaliação democrática (baseada no diálogo entre professores e alunos como ponto de partida para as práticas pedagógicas) e avaliação emancipadora (baseada na autocrítica e na autoavaliação do aluno). Os alunos também engrandeceram a análise ao confeccionarem gravuras para ilustrar suas memórias. Submissão - As práticas avaliativas encontradas nos memoriais relativos ao ensino fundamental são, na maioria, cercadas pelo medo dos alunos frente às atitudes autoritárias dos professores (avaliação autocrática). “A professora apelidava-me constantemente, me repreendia por tirar notas baixas ou por não saber o conteúdo [...] A forma como impunha a autoridade acabava me causando constrangimentos”, esse é um exemplo dos memoriais que ilustram a situação dos estudantes nesse período escolar. O contexto diagnosticado nos memoriais aponta para um desacordo do professor com o sucesso dos alunos, pois as avaliações são baseadas

em provas que classificam o desempenho por meio de notas, forçando os alunos a serem submissos, a aceitarem as decisões sem questioná-las. Assim, não se trabalham as dificuldades e as potencialidades dos estudantes, pois a preocupação é somar notas para, ao final do ano, julgar quem foi aprovado ou reprovado. Também fazem parte da avaliação somativa as chamadas “Feiras Culturais”, que a professora Ilda Oliveira classifica como um grande engano nas práticas de avaliação. “As feiras culturais podem se constituir num grande engodo, pois, geralmente, existem em função de complementar as notas daqueles que estão com problemas, e não para construir o conhecimento”, analisa a professora. Mas o fato mais preocupante, observado nas memórias dos alunos, foram as sabatinas acompanhadas de castigo. “Na 3ª série, tínhamos a sabatina de Matemática, quando a professora chamava dois alunos para passar a tabuada. Aquele que não soubesse levaria bolo com uma régua de madeira [...]”. Práticas como essa não estão muito distantes temporalmente, já que os alunos que participaram da pesquisa saíram do ensino básico na década de 90, evidenciando que a “palmatória” ainda aterroriza os estudantes ao associar aprendizado com agressão física.

n Ensino Médio: adestramento para o vestibular Provas e mais provas, essa é a modalidade predominante de avaliação no ensino médio segundo os memoriais, sendo todas voltadas ao treinamento para o vestibular. Mais uma vez, os exames se mostram classificatórios, seletivos e excludentes, em que a ênfase está no ato de decorar e copiar as informações contidas nas apostilas e livros visando obter notas favoráveis à aprovação (avaliação burocrática). Pensar e agir em função de

notas e não do conhecimento faz o aluno temer as avaliações e viver sob pressão para não reprovar. Para garantir que isso não aconteça, os alunos acabam recorrendo, muitas vezes, ao sistema da “cola”, que forja uma compreensão não condizente com a real aprendizagem deles. Entretanto, não podemos pensar a questão da prova como uma característica ruim no aprendizado dos estudantes. Para a coordenadora da pesquisa, a prova deve ser uma

das modalidades de avaliação, e não a única. “Os educadores devem ir além do elemento escrito da prova para dar a chance aos alunos de se expressarem, pois a linguagem oral é, também, uma forma de mostrar o que foi aprendido. Se colocar no lugar do aluno, na hora de elaborar uma prova, é um exercício fundamental para os educadores, para que as questões não saiam mal elaboradas a ponto de confundir os estudantes”, argumenta Ilda Oliveira.

Apesar de ser um período e um espaço para novas direções na aprendizagem dos estudantes, muitos memoriais indicam que o ensino superior acaba dando continuidade à maioria das características deturpadas que cercam as práticas avaliativas encontradas no ensino básico. Autoritarismo dos professores e provas que só fazem quantificar números para gerar conceitos reafirmam o conservadorismo no âmbito acadêmico, embora haja exceções. E mesmo nas exceções, os alunos encontram muita dificuldade ao encararem novas práticas avaliativas, pois estão condicionados a serem avaliados somente pelas tradicionais provas escritas. “Os alunos, quando chegam à Universidade, têm vergonha de se expressar, mas isso é algo que nós, do curso de Pedagogia, exercitamos constantemente, afinal, eles serão os futuros educadores, e a comunicação é fundamental”, afirma a professora. Na última etapa da pesquisa, foi a vez dos docentes do ICED refletirem, coletivamente, sobre as memórias dos alunos no intuito de verificar quais foram os problemas e quais os acertos encontrados nesse processo. Segundo a coordenadora da pesquisa, muitos professores sentiram dificuldades para se perceberem nas falas que continham pontos negativos referentes às avaliações, mas, após a dinâmica sugerida pela pesquisa, muitos perceberam que refletir sobre suas próprias ações, expressas nas falas dos alunos, é um caminho promissor para aprimorar as práticas de avaliação. A pesquisa, auxiliada por uma base teórica contemporânea, prescreve melhorias nas práticas avaliativas com bases na chamada “avaliação democrática”, que privilegia o diálogo entre o educador e o aluno e na “avaliação emancipadora”, que faz com que os estudantes construam, ativamente, sua compreensão acerca dos conceitos, em vez de apenas reproduzí-los. Ao final da pesquisa, o grupo refletiu sobre a possibilidade de se estender esse trabalho para a Universidade como um todo, buscando ouvir os alunos e professores das outras áreas do conhecimento para diagnosticar as vivências educacionais e avaliativas deles. “Podemos, inclusive, utilizar a internet como forma do aluno ou professor expressar suas impressões sobre o processo avaliativo por qual passaram. A avaliação ainda é uma questão mal resolvida em todos os níveis de ensino no Brasil, e o estudo para melhorar essa situação pode e deve vir da Academia”, conclui Ilda Oliveira. No Beira On Line você pode ler trechos dos memoriais dos alunos envolvidos na pesquisa.

Jovens sofrem com a pressão familiar e a falta de informação

n Imposição não é o melhor caminho

Fotos Alexandre Moraes

“L

embro que tinha uma professora muito autoritária: se o conteúdo transmitido não era entendido, ela rotulava o aluno como burro. Nenhuma pergunta podia ser feita na hora da explicação. No dia da avaliação, minhas mãos ficavam trêmulas e frias [...] As notas azuis que obtive deviam-se ao fato do pavor que tinha dela e não pela satisfação de ter aprendido”. O relato transcrito acima pertence a um aluno do curso de Pedagogia da UFPA e é representativo da situação presente entre os que foram analisados para a pesquisa “Memórias de alunos e reflexões de professores: ressignificando a avaliação da aprendizagem”. Coordenada pela professora Ilda Estela Amaral de Oliveira, com a participação das professoras Sônia de Jesus Nunes Bertolo, Maria do Socorro Carneiro Lima e dos alunos Joyce Mescouto, Alga Vilhena, Marcos Henrique Santos, Franciane Lima e Elisa Silva, do Instituto de Ciências da Educação (ICED) da UFPA, a pesquisa surgiu durante as aulas da disciplina “Avaliação Educacional”, do período de 2006 a 2007, quando 143 estudantes de três turmas do curso de Pedagogia escreveram suas memórias sobre as avaliações de aprendizagem pelas quais passaram nos ensinos fundamental, médio e superior. Após esse processo, os memoriais relativos ao ensino superior foram selecionados para serem analisados por quatro grupos de discussões, formados por 15 professores do corpo docente do ICED, os quais refletiram sobre as impressões dos alunos. Segundo a professora Ilda Oliveira, a questão da avaliação sempre foi algo complexo e problemático, tanto para os alunos quanto para os professores, que, na maioria das vezes, se mostram insatisfeitos com o processo avaliativo. A pesquisa, ao trabalhar com as vivências dos alunos, é de importância significativa para auxiliar o aperfeiçoamento das práticas de ensino dos futuros educadores e enaltecer o significado da avaliação nesse processo. Para tal objetivo, o método de “análise do conteúdo” foi utilizado para o exame das informações contidas nos memoriais, que foram

n Tradicionalismo ainda existe

Acervo Pesquisador

Igor de Souza

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Preocupação com a carreira, que ocorria por volta dos 17 anos, tem chegado cada vez mais cedo Killzy Lucena

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aber fazer escolhas é uma atitude naturalmente esperada por todas as pessoas. Mas, o que deveria ser natural, afinal, todos os dias escolhemos o que calçar, o que vestir, o que comer, acaba se tornando um dilema diante das inúmeras possibilidades e das dúvidas que elas provocam. Quanto maior e mais importante a decisão, maior a angústia e o sofrimento, e uma das decisões que mais causam crise é a escolha da profissão a ser seguida. O último ano do ensino médio é o período em que as crises ocorrem com maior frequência, pois coincide com a escolha do curso para o qual se prestará vestibular. Essa decisão vai além do indivíduo e atinge a escola, os

amigos e, principalmente, a família. Para minimizar os conflitos, a figura de um psicólogo que trabalhe com orientação vocacional é fundamental para fazer com que o vestibulando conheça suas aptidões e seus pontos fracos, bem como a realidade profissional. Em Belém, existem profissionais que trabalham a orientação vocacional nas escolas e nos cursinhos prévestibulares. A Escola de Aplicação da Universidade Federal do Pará (UFPA) abriga o projeto “Facilitação da Escolha em Orientação Vocacional”. Alunos do ensino médio recebem cartilhas, assistem a palestras e depois podem se inscrever para participar do projeto, desde que tragam o termo de consentimento assinado pelos responsáveis. Autorizados a participarem, os alu-

nos passam por uma entrevista individual e depois são distribuídos em quatro grupos, cada grupo com 12 alunos. Eles se reúnem em quatro encontros, uma vez por semana e, então, começam a ser detectadas as expectativas, as áreas de interesse e as características pessoais. Todo o trabalho interventivo é coletivo e apresentado ao grupo para que os conflitos sejam partilhados e o adolescente perceba que as dificuldades são comuns a todos. Quem coordena o projeto é a psicóloga e professora Niamey Granhen Brandão da Costa, supervisora de estágio há 13 anos. Durante esse tempo, já escutou as angústias de vários alunos que, em geral, são parecidas por tentarem conciliar, numa só decisão, a satisfação pessoal, satisfação à família e retorno financeiro.

A pesquisadora aconselha, ainda, que a família procure entender o que é a profissão para que possa informar e orientar sem preconceitos. "Falar sobre profissões é saudável desde a infância, mas de uma forma instrutiva para que a criança cresça gostando daquilo que vai escolher fazer, ou seja, a profissão não deve ser um fardo, um meio de subsistência, mas algo que traga satisfação ao ser realizado. A imposição nunca é saudável", aconselha. "Orientei um aluno que a família dizia que ele tinha de cursar Direito para honrar o anel da família, um anel que passava entre as gerações para os filhos mais velhos e homens. Ele chegava a desejar que um ladrão entrasse na casa e roubasse o anel para quebrar o ciclo e ficar ‘livre’”, relata a professora. Independente de classe social, a angústia da escolha profissional é comum a todos. Contudo, a questão financeira diferencia e, até mesmo, afunila as opções. De um modo geral, a pressão da escolha é maior nas classes alta e média, principalmente, para realização dos pais. Já as demais classes querem apenas que eles tenham uma profissão. Nas classes A e B, os adolescentes têm um leque maior de instituições para prestarem vestibular. Já quem não tem tantos recursos fica limitado a prestar vestibular nas instituições públicas, pois, dificilmente, conseguirá manter-se no curso ao longo de quatro anos. “Discutimos, então, o que é realidade e o que é possibilidade. Uma coisa é pagar a inscrição, prestar o vestibular, passar e poder pagar as mensalidades, outra coisa é ‘dar um jeito’ e conseguir pagar a inscrição, prestar o vestibular, passar e não conseguir pagar as mensalidades, o que vai gerar uma frustração muito grande nesse adolescente. O ano do vestibular é um ano de extremos. Já atendi, no consultório, o caso de um jovem de 16 anos que foi encaminhado por tentativa de suicídio em função da iminência do resultado do vestibular, do medo de não passar ou, simplesmente, para evitar mais pressão da família", conclui a professora Niamey Granhen.

n Conhecer a profissão evita surpresas no futuro A angústia pela escolha de uma profissão está aparecendo cada vez mais cedo devido à pressão social. Antes, escolher uma carreira era uma preocupação que só surgia no terceiro ano do ensino médio, mas, hoje, aos 15 anos, ela já é constante. Segundo a professora Niamey Granhen, os jovens estão mais imaturos para fazer essa escolha, ou seja, a pessoa sequer decidiu sobre a sua identidade pessoal e já precisa ter uma identidade profissional. Atualmente, no Brasil, existem mais de 200 opções de carreiras. Para escolher entre elas, o primeiro passo é conhecer suas aptidões, seus inte-

resses, sua personalidade, além dos requisitos necessários para cada uma dessas profissões. Saber as especificidades de cada profissão é muito importante para evitar surpresas no futuro. "Certa vez, ouvi uma adolescente dizer que faria Psicologia porque gostava da palavra, era chic, mas ela não sabia nada acerca dessa profissão. Há pessoas que escolhem fazer Psicologia por serem considerados psicólogos natos, pois escutam o que as pessoas têm a dizer, sabem emprestar um ombro amigo nas horas difíceis. Isso é falta de informação", avalia a psicóloga.

A maior fonte de informação sobre profissões, segundo a pesquisadora, é a internet, seguida dos veículos de comunicação, dos amigos e da família, esta em último lugar por não informar, não se tornar espaço de escuta desse sofrimento e querer impor a profissão. Com mestrado em Psicologia Clínica e Social pela UFPA, Niamey Granhen pesquisou sobre as escolhas profissionais e as angústias que elas geram, inclusive, após o fim do processo. Um dos principais responsáveis pela manutenção dessa escolha é a família, que deve referendá-la com suas atitudes.

Niamey: imaturidade dificulta escolha


8 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Outubro, 2009

BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Outubro, 2009 –

Teatro

Extensão

E

letrostática, eletromagnetismo, termodinâmica... Se você é um daqueles para quem a Física sempre foi um bicho de sete cabeças, calma! O seu relacionamento com a disciplina pode mudar. Há maneiras de aprender esses assuntos e suas aplicações de uma forma muito mais acessível e até divertida. Apresentar formas inovadoras de abordagem dos conteúdos para o ensino e aprendizado nos níveis fundamental e médio é o objetivo de quatro projetos de extensão da Faculdade de Física da Universidade Federal do Pará. O Laboratório de Demonstrações, o Museu Interativo, o Núcleo de Astronomia e o Física e Tecnologia para Escola estimulam, entre os estudantes, uma visão científica de mundo. A meta é mostrar que os fenômenos da Física estão presentes na maioria das situações cotidianas, de modo que as crianças percebam que a Ciência não existe para confundi-las com conhecimento de alta complexidade, mas para fazê-las compreender melhor o seu próprio dia a dia. A consciência de mundo sob o paradigma da Ciência implica, por exemplo, o entendimento sobre a termodinâmica que envolve o funcionamento de um ar condicionado, a química óptica que

Alexandre Moraes

Projetos buscam aproximar a ciência do cotidiano dos estudantes

No Labdemon, alunos aprendem mais sobre o Código Morse permite a iluminação de um ambiente, a física quântica aplicada, que gera produtos, hoje, indispensáveis para a sociedade, como um pen drive etc. É a Física que rege a maioria dos fenômenos naturais e que facilita a vida moderna. “Hoje, fala-se, mundialmente, no termo "analfabetismo científico". Muitas pessoas usam celular, computador, TV e outras tecnologias sem compreender os processos e os fenômenos físicos que atos rotineiros como esses podem abranger. Quando

levamos às crianças uma oportunidade de conhecimento, estamos levando, também, uma oportunidade de melhoria de vida não somente com uma opção profissional, mas também com a criação dessa consciência científica", observa o professor Marco Antônio Machado, coordenador do Projeto Física e Tecnologia para a Escola. Como projeto de extensão, o Física e Tecnologia ultrapassa os muros da Universidade e leva o conhecimento para quem mais precisa dele: os estudantes.

n Laboratório é espaço de ensino e aprendizagem Quem nunca viveu um momento de curiosidade ao observar um imenso navio singrando os mares? Se uma pequena pedra colocada na água submerge imediatamente, por que os navios não afundam? E os submarinos? Eles podem afundar como uma pedra e flutuar como um navio. Esse é um dos mistérios do mundo da Física que envolve os conceitos de massa, densidade e pressão. Os submarinos, para poderem emergir e submergir, têm toda a sua estrutura formada por tanques especiais que são inundados com a água do mar para fazê-los flutuar ou afundar quando necessário. É usado um sistema de ar comprimido para encher e esvaziar os tanques variando a massa total do submarino e, como consequência, sua densidade. No Laboratório de Demonstrações da Faculdade de Física da UFPA, alunos da graduação explicam esse processo a estudantes do ensino

médio e fundamental utilizando uma garrafa PET, uma tampa de caneta, massa de modelar e água. O experimento reproduz um minissubmarino, representado pela tampa de caneta associada à massa de modelar, que flutua no líquido da garrafa PET, conforme pressão realizada no recipiente. O demonstrativo revela que, quando se coloca um corpo totalmente mergulhado na água (ou em outro líquido), duas forças atuam sobre ele: uma é o seu próprio peso e a outra é o empuxo, uma força vertical, dirigida para cima, que qualquer líquido exerce sobre um corpo nele mergulhado. O Laboratório de Demonstrações (Labdemon) é um projeto de extensão criado em 2004. Trata-se de um espaço preparado para receber estudantes da rede de escolas públicas por meio de experimentos ilustrativos ligados a diversas áreas da Física e de ciências afins.

Atualmente, sob a coordenação do professor Sérgio Vizeu, o Laboratório é o primeiro passo para a implementação de um Centro Interativo de Ciências em Belém. A ideia é despertar os estudantes para uma forma mais divertida de aprender a Física e relacionar os seus conceitos com os fenômenos da natureza. Para o aluno do 4º semestre da Faculdade de Física, Rafael Ferreira Moreno, o projeto apresenta e socializa o conhecimento, além de ser um espaço enriquecedor para a aprendizagem dos graduandos, "participar do Labdemon é um desafio que estimula a minha criatividade e a minha didática facilitando o contato com o meu futuro profissional”, observa. A iniciativa também recebe a aprovação dos visitantes. "Com os experimentos, pomos a teoria em prática e isso faz com que se aprenda melhor", afirma Natália Conceição da Silva, aluna do Instituto de Educação Estadual do Pará (IEEP).

n Lugar para curiosos e grandes invenções E que tal aprender as leis da eletrodinâmica com uma cópia fiel da primeira lâmpada incandescente do mundo? A réplica do experimento de Thomas Edison é uma das atrações do Museu Interativo da Física (MINF), mantido pela UFPA. "Um recurso social muito importante e eficaz para a popularização, a divulgação e aprendizagem não formal de ciência e tecnologia", como define o

coordenador do projeto, o professor Marcelo Lima. Além da Lâmpada de Edison, o Museu traz um protótipo do Telégrafo, da Bobina de Tesla, da Pilha de Volta, da Garrafa de Leyden e de outras representações das grandes invenções e descobertas que revolucionaram a história da Ciência no Brasil e no mundo. Por ser mais recente , o MINF

está em fase de ampliação do acervo. Atualmente, os experimentos estão em exposição no prédio do Laboratório de Ensino da Física e podem ser vistos em visitas monitoradas que estimulam os estudantes a explorarem as potencialidades dos dispositivos, atentando para os conceitos físicos envolvidos e para a contextualização histórica de seu surgimento. Ou seja, a Física não requer somente decorar fórmulas.

De acordo com o professor Marco Antônio, boa parte do conhecimento que hoje é veiculado nas escolas não se refere às informações mais atualizadas sobre a Física. Trata-se de um conhecimento tradicional, dos séculos XVII, XVIII e XIX, época de Newton, Einstein, Galileu..., autores de teorias de extrema importância para a Ciência, mas que, dependendo da abordagem, podem ser ininteligíveis para adolescentes na faixa etária de 14 a 17 anos. O projeto Física e Tecnologia para Escola pretende, justamente, levar as informações mais recentes sobre as descobertas na área e os novos produtos lançados no mercado por meio de palestras, mesas-redondas e experimentos. Desde 2004, as palestras do projeto já atingiram um público de 5.840 alunos. "Temos inserção em escolas particulares, mas priorizamos o atendimento às escolas públicas, onde os maiores desafios são a carência de informações e a situação de vulnerabilidade das crianças e jovens”, conta Marco Antônio. Nesse sentido, o projeto acaba funcionando como uma ferramenta de resgate social ao mostrar aos estudantes que a Ciência é uma alternativa de carreira promissora. “A Educação pode transformar o mundo", complementa o professor.

n Programação permanente Em se tratando de Ciência, não se pode deixar de olhar para o céu. Desvendar os mistérios do Universo é o objetivo do Núcleo de Astronomia da Faculdade de Física (Nastro), que promove atividades, como seminários, minicursos e experimentos, envolvendo estudantes da graduação da UFPA, visitantes de escolas públicas e a comunidade em geral. E 2009 é o Ano Internacional da Astronomia, em comemoração aos quatro séculos que se passaram desde as primeiras observações telescópicas do céu feitas por Galileu Galilei. No Brasil, essa comemoração se estende aos 90 anos das observações astronômicas realizadas, em Sobral (CE), por cientistas de vários países os quais confirmaram a validade da Teoria da Relatividade Geral de Einstein, a qual prevê a existência dos buracos negros. O Nastro, coordenado pelo professor Jorge Castiñeiras, tem programação aberta ao público, semanalmente, todas as quartas-feiras, a partir das 18h20, no Bloco Qb, sala 04 - Campus Básico da UFPA. Após o momento em classe, os participantes vão a campo observar as estrelas com o uso de telescópios. Aos sábados, o Nastro prepara estudantes do ensino público para participarem das Olimpíadas Brasileiras de Astronomia e Astronáutica. Serviço: Instituições interessadas nos projetos devem entrar em contato pelo número 3201-7889.

Auto do Círio homenageia Amazônia O tema "Salve o povo da floresta" alerta sobre a preservação cultural

Abílio Dantas

O

s tambores das escolas de samba rufam com o som dos atabaques. Asas brancas de anjos confundem-se com o colorido dos carrinhos de refrigerante. Atores e atrizes nascem, a cada segundo, dos paralelepípedos. O cenário é o bairro da Cidade Velha, em Belém do Pará. E a cultura popular é a grande protagonista da festa. O maior espetáculo de rua organizado por uma universidade do Brasil, o Auto do Círio, mais uma vez, vai às ruas da cidade neste mês de outubro. Nas comemorações dos 16 anos de existência da apresentação, o público pode esperar muitas surpresas. Algumas imagens que nem todos os olhos são capazes de perceber fazem parte da face mais tímida do espetáculo e são fundamentais por trazerem os conceitos próprios de uma universidade: ensino, pesquisa e extensão. O professor Miguel Santa Brígida, coordenador do Projeto de Extensão e diretor do Auto do Círio por muitos anos, entende que o caráter extensionista é a principal característica da iniciativa."Algumas pessoas têm apenas essa visão do espetacular, pois tomou uma grande dimensão, com uma megaprodução e adesão do povo. Mas, para ter essa dimensão, há um trabalho de pesquisa o ano inteiro", explica. Nos últimos dez anos, além da Universidade Federal do Pará

EM DIA

Mácio Ferreira

Aprender Física pode ser divertido Jéssica Souza

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Ciência e Tecnologia Palestras, oficinas, minicursos e exposições fazem parte da programação da II Feira Estadual de Ciência e Tecnologia, que acontece entre os dias 19 e 22 de outubro, em Belém. A Feira é uma das atividades previstas na Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, iniciativa do Ministério da Ciência e Tecnologia, que busca levar a ciência e as suas descobertas para a população, por meio de atividades em todo o território nacional.

Gênero Espetáculo reúne atividades de ensino, pesquisa e extensão (UFPA), outras instituições também têm abordado o Auto do Círio em Trabalhos de Conclusão de Curso ou em dissertações de mestrado. Diversos aspectos são enfocados: a religiosidade, o espetacular, a estética. Portanto, segundo o pesquisador, o Auto conseguiu se consolidar para além do fazer artístico. Como docente da Escola de Teatro e Dança da UFPA (ETDUFPA), Miguel Santa Brígida também destaca a importância do ensino de artes cênicas, relacionado à

programação realizada anualmente pela UFPA. Ele relata que, durante os últimos cinco anos, tem voltado todas as disciplinas que ministra para temas presentes no Auto, como ocorre nas aulas de “Técnicas Corporais II”, quando acontecem as pesquisas sobre mitos africanos. Ao término da disciplina, os trabalhos finais dos alunos são incorporados à programação do espetáculo. Desta maneira, o processo do conhecimento se dá em todas as suas etapas: pesquisa, ensino e extensão.

n Belém tem inclinação para as manifestações de rua "Zélia, por que a gente não faz um espetáculo grandioso em Belém na época do Círio ?" A pergunta foi feita pelo professor Marcos Ximenes, em 1993, durante sua gestão como reitor da UFPA, à sua vice-reitora Zélia Amador. Ao voltar do espetáculo Paixão de Cristo, em Pernambuco, o então reitor idealizou um evento artístico que fosse a cara da capital paraense. Ocupando o cargo de diretor da ETDUFPA, à época, o professor Miguel Santa Brígida foi chamado para elaborar o projeto com a professora Margareth Refkalefsky. Logo se entendeu que o espetáculo deveria ser na rua. O fato de Belém possuir forte influência portuguesa, enraizada pelas procissões católicas, faz com que a cidade tenha uma grande

inclinação para as manifestações culturais na rua. Segundo o pesquisador, essa seria a razão do Arraial do Pavulagem arrastar multidões e de uma procissão religiosa ganhar a dimensão que ganhou. No Auto, há um diferencial: o espetáculo utiliza o saber acadêmico para compreender e expandir as culturas populares. Além dos elementos dos Autos Medievais, espetáculos teatrais de grande alcance que tratavam de temas religiosos, foram incorporados, também, estudos relacionados às escolas de samba, ao carnaval. Segundo Miguel Santa Brígida, o Auto do Círio é tão aberto quanto o próprio Círio de Nazaré. Portanto, as imagens poéticas presentes no início desta matéria não são meros exercícios de linguagem. Vendedores de refrigerantes, atores pro-

fissionais, feirantes, todos marcam presença e têm a mesma importância na apresentação."Durante o ano inteiro, as pessoas perguntam: quando vai ser o Auto? É o gari da rua, o frentista do posto. Ter extrapolado o muro da Universidade é a grande marca do Auto", completa o diretor. Outro papel importante do Auto é a criação de grupos artísticos a partir dele. Hudson Andrade, que assumirá a direção geral do espetáculo este ano, é um exemplo. Durante os dez anos em que trabalha no espetáculo, Hudson aproximou-se de outros artistas e criou a Companhia de Teatro"Nós Outros". O grupo de percussão"Batuque" também é filho do Auto do Círio. Formado por mulheres percussionistas, o conjunto criado por Edson Santana está completando dez anos.

n Tema único tem servido de guia para as encenações Nas suas últimas edições, o Auto do Círio tem focado em um tema para guiar todas as suas encenações. Os temas têm relação com o contexto social e com as pesquisas acadêmicas em desenvolvimento. Em 2007, por exemplo, os mitos africanos foram o assunto escolhido. A busca pela paz na cidade de Belém permeou todas as dinâmicas de 2008. Neste ano, a cul-

tura amazônica ganhará, finalmente, o palco principal. No título"Salve o povo da floresta", a ambiguidade no uso do verbo"salve" é proposital. O objetivo do espetáculo é homenagear a cultura do povo amazônico e, também, alertálo sobre a preservação dessa cultura. Durante a noite da sexta-feira anterior à Trasladação, muitas surpresas po-

dem ser esperadas. As homenagens aos artistas paraenses prometem fortes emoções, pois é por meio desses artistas que a cultura amazônica toma forma e atravessa os tempos. Serviço: Para participar, é preciso ter mais de 16 anos e participar da oficina preparatória de elenco.

O Grupo de Estudos e Pesquisas “Eneida de Moraes” sobre mulher e gênero (Gepem) realiza, no período de 17 a 20 de novembro, o IV Encontro Amazônico sobre Mulheres e Gênero e o I Encontro de Pesquisadoras/es Paraenses sobre Gênero, Mulheres e Cidadania. A intenção é avaliar o impacto dos estudos sobre mulheres e gênero na Amazônia. Mais informações no site http://www.ufpa. br/projetogepem

Incentivo O professor Carlos Szlafsztein, coordenador do Núcleo de Meio Ambiente (NUMA), recebeu o certificado de mérito pela aprovação de seu projeto de pesquisa COMPASS no Sétimo Programa-Quadro de Pesquisa e Desenvolvimento (Seventh Framework Programme - FP7), o maior instrumento de financiamento em pesquisa, ciência e tecnologia da Europa. O projeto COMPASS é formado por uma equipe pertencente a quatro países (Alemanha, Argentina, Brasil e Chile) e tem como objetivo estudar a vulnerabilidade das costas marítimas da Europa e da América do Sul.

Cátedra A UFPA conta com mais uma unidade de cooperação internacional. Em setembro, foi lançada a Cátedra Brasil-África. O objetivo é promover o intercâmbio cultural e científico, diminuindo a visão estereotipada que se tem do continente africano.

Aniversário O Jornal Beira do Rio completou 24 anos. Para comemorar, estamos disponibilizando, em arquivo eletrônico, as primeiras edições, que podem ser consultadas acessando a seção download no site http://www. ufpa.br/beiradorio Com o material disponível, foi possível ajustar o ano de circulação que, a partir dessa edição, será XXIV.


6 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Outubro, 2009

BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Outubro, 2009 –

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Infância

Fotos Acervo do ICA

Profissionalização

Proinfantil fortalece Ensino Básico

Yuri Rebêlo

A Eventos comprovam qualidade dos profissionais formados pelas escolas do Instituto de Ciências da Arte

Bons ventos na área de arte da UFPA

Cursos técnicos trazem recursos e autonomia para música, teatro e dança Walter Pinto

D

esde que optaram por transformar os antigos cursos livres em cursos técnicos, as Escolas de Música (EMUFPA) e de Teatro e Dança (ETDUFPA), do Instituto de Ciências da Arte da UFPA, conquistaram condições orçamentárias e administrativas jamais experimentadas para fomentar seu desenvolvimento, em que pese o apoio recebido da administração superior, desde a gestão de José da Silveira Netto. Diretamente vinculadas à Secretaria de Educação Profissio-

nal e Tecnológica do Ministério da Educação, as escolas da área de artes da UFPA passaram a receber mais recursos, além da autorização para contratar professores e servidores técnico-administrativos. Hoje, todo o setor de arte está dentro do Instituto de Ciências da Arte e é contemplado pelo Estatuto da UFPA, o que garante às escolas suporte institucional, possibilidade dos professores desenvolverem projetos científicos e dotarem bolsa de iniciação científica e de extensão aos alunos. Um longo caminho foi percorrido até chegar a esse momento

excepcional, incluindo a travessia por um período de crise, inclusive com ameaça de fechamento. Para contar essa história, é preciso retroceder à origem do curso de Música, diretamente ligada à preocupação dos primeiros integrantes da Orquestra Universitária, criada em 1963, de formarem músicos para substituí-los quando houvesse necessidade para tal, em função, sobretudo, da idade avançada daquele grupo pioneiro. Dessa preocupação, nasceram os cursos livres oferecidos pelo antigo Serviço de Atividades Musicais (SAM). Em 1971, a Lei 5.692, que

trouxe nova organização para a educação profissional no Brasil, possibilitou ao SAM transformar os cursos livres em técnicos. Havia, porém, um problema: a unidade era um serviço e não uma escola e, como tal, não podia oferecer cursos técnicos. A solução foi vincular os cursos ao Núcleo Pedagógico Integrado. Por esse arranjo, o SAM ministrava cursos que passaram a pertencer ao NPI. Enquanto isso, o antigo Serviço de Teatro e Dança, criado na década de 50 com a denominação Teatro Universitário, continuou oferecendo cursos livres.

n Depois da crise, a bonança

n Cursos estão interiorizados

Na década de 90, a UFPA reestruturou a área de artes ao criar o Núcleo de Arte, unidade administrativa à qual se vincularam o SAM e o Serviço de Teatro e Dança, agora transformados, respectivamente, em Escola de Música e Escola de Teatro e Dança. Os cursos técnicos de Música continuaram, porém, ligados ao NPI. Houve um momento em que boatos sobre o fim da carreira docente de 1º e 2º graus nas universidades federais causaram certa intranquilidade na EMUFPA e na ETDUFPA, diante da possibilidade de fechamento dessas duas unidades. Foi quando a professora Lia Braga Vieira, atual diretora adjunta do ICA, regressando do doutorado, ouviu do então pró-reitor de Planejamento, Renato Guerra, uma alternativa à crise: a transformação da EMUFPA e da ETDUFPA em escolas de educação profissional, garantindo, assim, vantagens, como recursos próprios, possibilidade de contratação de professores e expedição de diplomas. Durante o Congresso Nacional da Associação Brasileira de Educação Musical, no segundo semestre de 2000, realizado em Belém, os professores da Escola de Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte relataram um pouco da experiência (e das vantagens) de pertencerem à única escola de educação profissional de uma universidade pública federal. Transferência – Até a consecução daquele objetivo, os professores de

Concluído o processo de transformação dos cursos livres de Música em cursos técnicos, o Núcleo de Arte realizou um trabalho de convencimento dos professores de Teatro e Dança sobre as vantagens de optarem pelo ensino técnico. Atualmente, a Escola de Teatro e Dança oferece três cursos técnicos em áreas de dança, teatro e cenografia. Um quarto está sendo planejado, o de Figurino. O curso de Cenografia dá suporte aos cursos de Dança e de Ator. O mesmo ocorrerá com o de Figurino. A ETDUFPA não precisa contratar cenógrafos para a produção de seus espetáculos, porque ela forma técnicos na área e exercita-os em montagens próprias. O mesmo ocorrerá com os alunos do futuro curso de Figurino. Sobre o campo de trabalho para esses técnicos, a diretora adjunta do Núcleo de Arte afirma que está em expansão. “Temos visto na televisão muitos dos profissionais de Teatro e Dança egressos da nossa escola atuando em comerciais e espetáculos”, afirma Lia Braga, “em relação à cenografia, logo que a primeira turma concluiu o curso, muitos foram trabalhar nos Teatros da Paz e Waldemar Henrique, aprovados em concurso público.” Por sua vez, a Escola de Música oferece cursos técnicos profissionalizantes em vinte

Música, tendo à frente Lia Braga e Lúcia Uchôa, desenvolveram uma série de ações, principalmente, com o Ministério da Educação. Uma das providências foi facilitada pela decisão do NPI em não mais oferecer cursos técnicos, optando pelo ensino fundamental e médio. Graças à decisão, o curso técnico de Música foi integralmente transferido ao seu dono de fato, transformando, dessa maneira, a EMUFPA numa escola de ensino técnico, agora, também de direito. Os planos dos cursos técnicos foram organizados seguindo orientação do MEC, aprovados no Conselho Superior de Ensino e Pesquisa da UFPA e registrados no Cadastro Nacional de Cursos Técnicos, da Secretaria de Ensino Profissional daquele Ministério. A EMUFPA passou, então, a integrar a Rede de Escolas Técnicas Federais e, automaticamente, seu diretor passou a fazer parte do Conselho das Escolas Técnicas vinculadas a Universidades Federais. Em 2001, o processo de legalização estava concluído. A nova situação jurídica garantiu recursos próprios à Escola de Música que pôde, a partir daí, planejar melhor as suas ações. Um exemplo do aporte de recursos nos dá Lia Braga ao dizer que, antes da transformação, o Núcleo de Arte recebia apenas R$ 19 mil por ano para manter as Escolas de Música e de Teatro e Dança, além da sua própria manutenção. Hoje, somente a EMUFPA passou a receber um mínimo de R$ 100 mil, ao ano, para sua manutenção.

habilitações: Canto Lírico, Percussão, Piano, Flauta Transversal, Oboé, Clarinete, Saxofone, Trompete, Trompa, Trombone, Tuba, Bombardino, Produção, Instrutor de Banda e de Orquestra. Os cursos de Instrutor de Banda e de Orquestra já estão interiorizados desde o ano passado, começando pelo município de Oriximiná, no Baixo Amazonas. Para cursar o ensino técnico profissionalizante das Escolas de Música e de Teatro e Dança, o aluno deve estar cursando ou ter concluído o ensino médio e ter um conhecimento prévio na área em que pretende realizar o seu curso técnico. “É preciso cumprir etapas de aprendizagem, afinal, ninguém chega ao ensino médio sem ter cursado a alfabetização e o ensino fundamental”, observa Lia Braga. “A mesma coisa vale para o curso de Arte, muito especialmente para o de Música e o de Dança”. A preparação dos alunos é feita nas oficinas ministradas pelas duas escolas. Em relação à música, a preparação é longa, os alunos cursam vários anos antes de ingressarem no ensino técnico. A duração dos cursos técnicos da Escola de Teatro e Dança é de dois anos, enquanto na Escola de Música, é de três anos, exceto o de Instrutor de Banda e de Orquestra, com duração de dois anos.

Educação Infantil é a primeira etapa da Educação Básica. De acordo com a legislação em vigor, esse nível de educação destina-se às crianças de 0 a 6 anos, matriculadas em creches e pré-escolas. Essa faixa etária corresponde ao período em que as crianças mais crescem e se desenvolvem, conquistando diferentes linguagens, movimentos, iniciando relacionamentos com adultos e crianças fora do âmbito familiar, buscando autonomia. Para possibilitar que todas essas conquistas sejam prazerosas e significativas para as crianças, torna-se necessário que as unidades de Educação Infantil contem com professores devidamente habilitados e qualificados para o exercício do magistério. Todavia, não é essa a realidade brasileira e paraense. Há muitos professores que sequer possuem o nível médio. Para mudar esse panorama, o Ministério da Educação(MEC) propôs, em parceria com as universidades federais e as secretarias de educação dos Estados e municípios, o Programa de Formação Inicial para Professores em Exercício na Educação Infantil (Proinfantil). Trata-se de um curso de nível médio, na modalidade Normal, a distância, com habilitação em Educação Infantil, destinado a professores em exercício nas creches e pré-escolas

Fotos Alexandre Moraes

Universidade é responsável pelas atividades no Pará e no Amazonas

Programa prevê a qualificação de professores que atuam em creches e pré-escolas da rede pública das redes públicas - municipais e estaduais - e da rede privada, sem fins lucrativos - comunitárias, filantrópicas ou confessionais - conveniadas ou não, visando propiciar a formação mínima exigida pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB).

Lançado em 2005, o curso já está em seu terceiro grupo de professores-cursistas e a UFPA está envolvida desde o segundo, quando o Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Infantil (IPÊ), do Instituto de Ciências da Educação (ICED), a convite do MEC, ficou responsável

n Participantes são catalisadores de mudanças De acordo com Sônia Teixeira, os professores levam o conhecimento adquirido no Programa para os seus locais de trabalho e o resultado é uma educação infantil de maior qualidade, em que a criança é a maior beneficiária. Na avaliação da coordenadora, o Programa é essencial para que os professores possam desenvolver práticas de intervenções pedagógicas adequadas às crianças nessa faixa etária delicada, “a maneira como a criança pequena apreende o mundo é diferenciada, então as formas de educação para essa criança

também precisam ser diferenciadas.” Esse trabalho vai desde a organização do projeto político pedagógico até a concepção de tempo e espaço. Outro aspecto do Programa que merece destaque é o dos professores formados no primeiro grupo serem catalisadores de mudanças nos seus municípios de origem, levando a discussão da educação infantil para além dos muros da universidade, fortalecendo esse nível de educação e valorizando a criança como cidadã. De acordo com Sônia Teixeira, na Educação Infantil

além de professores e pesquisadores, os profissionais precisam militar em favor da infância. A razão de a UFPA ter sido escolhida para coordenar as atividades em outros Estados pode ser explicada pelo fato das universidades locais não terem grupos de estudos e pesquisas em Educação Infantil, ficando difícil assumir a responsabilidade com as ações do Programa. Para o IPÊ, essa é uma oportunidade de fortalecer a UFPA como a instituição de educação superior da Amazônia.

n Todas as atividades são apoiadas por tutores Atualmente, a UFPA coordena dois grupos do Programa: o Grupo II, que envolve os Estados do Amazonas e de Rondônia e encerra suas atividades em dezembro de 2009 e o Grupo III, que iniciou suas atividades em julho deste ano, abrange o Pará e o Amazonas, visto que a Universidade Federal de Rondônia (UNIR) assumiu a continuação do Programa em seu Estado. O curso tem a duração de dois anos, carga horária de 3.200 horas distribuídas em quatro módulos semestrais, alternando estudos a distância e momentos presenciais. A cada início de semestre, a UFPA realiza um

grande evento para capacitar tutores e professores formadores. Além disso, a Universidade acompanha e avalia o Programa durante todo o período. Os tutores são professores com formação pedagógica em nível superior e experiência na área e acompanham, diretamente, as atividades de um grupo de dez cursistas, ao longo do curso. Os professores formadores são das áreas do ensino médio, como Matemática e Lógica, Linguagens e Códigos, Vida e Natureza, Identidade, Sociedade e Cultura, e das áreas pedagógicas - Fundamentos da Educação e Organização do Trabalho Pedagógico.

Após a capacitação, há um momento fase presencial, em que os professores formadores orientam os cursistas no desenvolvimento dos estudos e das reflexões relativas ao módulo em cada uma das agências formadoras. No Pará, as agências estão sediadas em Belém, Santarém, Marabá e Capanema. A divisão facilita a participação de professores do interior. Depois do momento presencial, os cursistas voltam a atuar em seus municípios e a cada quinze dias, reúnem-se com os tutores para esclarecer dúvidas e orientar as atividades.

pela coordenação da formação nos Estados do Amazonas e de Rondônia. A professora Sônia Regina Teixeira, coordenadora do Programa, explica que o Pará não participou do Grupo II por não ter assinado o Acordo de Participação com o MEC, o que só ocorreu em 2009.

n MEC prevê Política Nacional Segundo Ana Lúcia Peixoto, assessora técnica do Proinfantil da UFPA, o grande diferencial do curso é exatamente esse acompanhamento pari passu, que proporciona aos participantes um ânimo diferente no desempenho de suas tarefas. “Quando o professor está motivado e é estimulado a participar, acreditamos que ele não vá desistir. Se ele não desistir, concluiremos o Programa com um número significativo de professores qualificados e, assim, teremos um ensino de qualidade na educação infantil." Além do Proinfantil, o Ministério da Educação organizou um Grupo de Trabalho, constituído por pesquisadores com reconhecimento na área da educação infantil, para definir as diretrizes de uma Política Nacional de Formação para os Professores de Educação Infantil. Essa política seria um conjunto de propostas visando à qualificação e à valorização dos professores da área. Entre as propostas, consta a oferta de um curso de Especialização em Educação Infantil, em 2010, cursos de formação continuada e, futuramente, um mestrado. As professoras Sônia Regina Teixeira e Celi Bahia, coordenadoras do Proinfantil, representam a UFPA no GT.


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