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12 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Novembro, 2009

Entrevista

Mais de 50 mil candidatos disputam 6.152 vagas na UFPA

JORNAL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ • ANO XXIV • N. 77 • Novembro, 2009

O

Grupo de Energia, Biomassa & Meio Ambiente, da Universidade Federal do Pará, tem desenvolvido projetos na área de geração de energia em comunidades isoladas. O EBMA idealiza sistemas que tornam possível a utilização de biomassa como fonte de energia alternativa utilizando caroços de açaí, restos de agricultura e de madeira,

Fluorescentes desperdiçam energia

Pesquisadores do Laboratório de Qualidade de Energia e Eficiência Energética da UFPA analisam vida útil e eficiência das lâmpadas utilizadas na iluminação pública da Região Metropolitana de Belém. Pág. 10 Wagner Meier

cial por universalizar o ensino, por Superior de Ensino, Pesquisa e Exdar oportunidade aos grupos que, tensão (Consepe). A proposta para o historicamente, foram colocados vestibular 2011 se aproxima bastante à margem, do outro lado, estão os do novo Enem, o que é bom para os que acham que a Universidade está candidatos, que poderão se preparar dando um tratamento diferenciado para responder às duas provas. e que não deveria ser assim. É uma Beira do Rio – Essa proposta política que estamos implantando também está próxima do Exame agora e que, se for bem discutida, Nacional de Desempenho de Estupode trazer bons resultados. O sisdantes (Enade), aplicado ao final tema de cotas não é um modismo. A do curso, e que apresenta uma demanda mostra como essa iniciativa prova contextualizada e interdisé importante. ciplinar, cujos conteúdos são coBeira do Rio – A primeira fase será brados a partir de estudos de caso dia 22 de novembro, a segunda e questões-problema? prova será realizada no dia 13 de M. O. – Sim e esse é o modelo da dezembro e a última fase acontecevida real. Quando você se depara rá dia 10 de janeiro de 2010. Qual com determinadas situações, não diz: a previsão para a divulgação dos "agora vou usar meu conhecimento resultados? de Língua Portuguesa, de Inglês ou M. O. – A previsão é, em média, dez de Física". Na verdade, você aciona dias para o resultado da 1ª fase. O e articula um conjunto de conheciprazo para os resultados da 2ª e 3ª mentos para tentar resolver aquele fases depende muito do número de problema. Ao elaborar uma prova candidatos que passarem para cada com essa interdisciplinaridade e aruma delas. Mas, nós ticulação, nós estamos vamos trabalhar com preparando o aluno os prazos de divulgapara ser competente em ção que vêm sendo resolver problemas do praticados nos anos dia a dia. Hoje, o nosanteriores. E, com cerso PSS é reconhecido teza, em janeiro, nós como um dos melhores teremos a divulgação do País, o que precisado resultado final. mos é aperfeiçoar esse Beira do Rio – Quais modelo. são as principais muBeira do Rio – Então, danças para 2011? um dos maiores desaM. O. – O processo fios será elaborar uma “Em 2011, a seletivo será composto prova que atenda ao por uma única fase, modelo. Como prova vai avaliar novo com questões de múltivocês estão pensando pla escolha e a redação. em fazer isso? habilidades e Nós ainda estamos disM. O. – Isso vai decompetências do mandar uma mudança cutindo como isso será efetivado. Talvez, uma de postura dos proaluno" das dificuldades que fessores que precisairemos enfrentar diga rão discutir e articular respeito à natureza das mais esse conhecimenprovas, que deverão avaliar as habito para elaborar questões com essa lidades e as competências, ou seja, qualidade. Os professores do ensino terão uma natureza diferenciada. médio também precisarão estar Isso significa que nós precisaremos preparados para orientar os candidiscutir a elaboração de uma prodatos. Isso mostra, cada vez mais, va realmente conjunta. Em 2011, a necessidade de articulação entre a também existe a possibilidade da universidade e a escola básica. Nesse Universidade usar o Exame Naciosentido, a UFPA avança por meio nal do Ensino Médio (Enem) no seu dos investimentos que têm feito e processo seletivo, mas essa questão dos projetos de extensão que têm em ainda será discutida pelo Conselho vista essa articulação.

Professor sugere utilização de recursos multimídia para aproximar o universo dos personagens ao dos alunos. Pág. 3

Eletricidade

Com 15 milhões de pontos, a iluminação pública gera uma demanda de 9,7 KWh/ano em todo o país

Obra está na lista de leituras .

Pesquisa

Entrevista Marilucia Oliveira, diretora do Centro de Processos Seletivos da UFPA, fala sobre o vestibular 2010. Pág. 12

Mandioca

PET/Pará realiza V Jornada Avançam estudos sobre de Iniciação Científica O evento acontece de 24 a 27 de novembro, reunindo intelectuais, professores e estudantes dos Grupos

do Programa de Educação Tutorial do Pará para debaterem a importância da universidade pública. Pág. 9 Wagner Meier

Beira do Rio – Qual o balanço lificamos o processo que concede a de candidatos inscritos (capital e isenção. Diferentemente do sorteio, interior)? neste novo modelo, você concede Marilucia Oliveira – Este ano, tereisenção a quem precisa de fato. mos 50.232 mil candidatos concorBeira do Rio – O PSS 2010 será o rendo a 6.152 vagas, em 144 cursos último ano do modelo de entrada de graduação. 25% dos candidatos seriado, aplicado pela UFPA desde estarão concorrendo às vagas no in2004. Há alguma diferença para os terior e 74% às vagas em Belém. candidatos? Beira do Rio – Quantas pessoas M. O. – A diferença é que, este ano, conseguiram a isenção? Foi possísó puderam se inscrever quem está vel ampliar o número de candidaconcluindo ou quem concluiu o tos atendidos em comparação aos ensino médio, pois, a partir do ano anos anteriores? que vem, nós não iremos aproveitar M. O. – Mais de sete mil candidatos nenhuma fase. foram beneficiados. E comparado Beira do Rio – Essa fase de tranaos anos anteriores, o número foi sição implica alguma mudança no mais baixo. Mas isso ocorre porque, sistema de correção? até o ano passado, as isenções eram M. O. – Não, o modelo de correção dadas por sorteio. Com o Decreto será o mesmo dos anos anteriores. O 6.593/2008, do governo federal, foque, talvez, nós tenhamos que fazer ram criados critérios para concessão é uma avaliação dos resultados deste de isenções em qualquer concurso PSS, até para nos nortear em 2011. público federal e esses critérios foDeve haver uma discussão com os ram adotados pelo CEPS da UFPA. professores envolvidos na elaboraO candidato deveria ter renda per ção e correção para verificar o que capita de meio salário mínimo, ou pode ser aproveitado deste vestibular renda familiar de até para o próximo e o que três salários mínimos, precisa ser alterado. ou estar inscrito no CaBeira do Rio – Oudastro Único para Protra novidade do PSS gramas Sociais do go2010 é a criação de verno federal (CadÚniduas vagas especo). Por determinação ciais em cada curso, do Ministério Público, destinadas, especifideveriam ser isentos camente, para cantodos os candidatos que didatos indígenas. comprovassem hiposEsse sistema de cosuficência econômica. tas tem encontrado E ao analisar a documuita resistência? “Existe a mentação, verificamos M. O. – Sempre que que sete mil candidadiscutimos essas ações possibilidade tos tinham o direito. afirmativas, os pontos da UFPA usar Olhando apenas quande vista são diferentitativamente, pode-se ciados – de um lado, o Enem no seu pensar que regredimos estão os que acham mas, na verdade, houve que as ações trazem vestibular" um avanço, pois quauma contribuição so-

Marilucia: "O sistema de cotas é uma tentativa de universalizar o ensino"

Candidatos temem leituras obrigatórias

Alexandre Moraes

Rosyane Rodrigues

Vestibular

estrume de gado, óleo vegetal ou qualquer substância à base de carbono, disponível em abundância nas comunidades ribeirinhas. Essa pode ser a solução para geração de emprego e renda em regiões mais distantes dos centros urbanos. Comunidades das Ilhas do Marajó e do Combu já estão sendo beneficadas pelos projetos. Pág. 6

Alexandre Moraes

Fotos Alexandre Moraes

"Nós vamos trabalhar com os prazos de divulgação que vêm sendo praticados nos anos anteriores" No próximo dia 22, mais de 50 mil estudantes de Belém e do interior do Estado iniciam a disputa por 6.152 mil vagas no PSS 2010 da Universidade Federal do Pará. No último ano do modelo de entrada seriado, o Edital trouxe algumas novidades, entre elas estão: 790 vagas a mais que no PSS 2009; 26 novos cursos distribuídos por todos os campi da Universidade; a criação de duas vagas especiais, em cada curso, destinadas a candidatos indígenas. Em entrevista ao Jornal Beira do Rio, Marilucia Oliveira, diretora do Centro de Processos Seletivos (CEPS), fala dos novos critérios adotados para concessão de isenção, da polêmica criada em torno da cota para indígenas, além de adiantar algumas informações sobre como será o novo modelo de processo seletivo em 2011. Para a diretora do CEPS, no ano que vem, o grande desafio será mudar a natureza das provas, que deverão avaliar as habilidades e as competências do candidato.

Energia limpa e renovável

Coluna do Reitor

UFPA e instituições parceiras analisam rejeitos da cana-de-açúcar e da mandioca para produção de biocombustível. Pág. 7

História

Carlos Maneschy fala sobre os construtores do cotidiano institucional. Pág. 2

Migração portuguesa na Amazônia

Opinião Raymundo Cota faz uma "nova" viagem à Europa a partir de Portugal. Pág. 2

bioetanol

Experiência permite formação diferenciada aos alunos

Historiadores apresentam estudos inéditos e com diferentes recortes cronológicos sobre a vida de migrantes na região. Pág. 10


Alexandre Moraes

Altamira

Coluna do REITOR Carlos Maneschy

Graduação é a única em todo o Brasil

reitor@ufpa.br

Os construtores do cotidiano institucional

ela conjugação de conhecimento e razão, a UFPA desenvolve, num processo de conformação histórica cheio de virtudes, seu papel singular em benefício do desenvolvimento regional. Muitas são as testemunhas da importância dessa obra, sem a qual não se pode garantir o futuro de justiça e de prosperidade a que todos temos direito. São também muitos os atores que, ontem, construíram o legado de realizações indissociáveis do progresso até aqui acumulado e os que, hoje, ajudam a pôr em curso o movimento institucional que tem permitido sonhar com um tempo em que valores e direitos de cidadania sejam exercidos pelos mais amplos espectros sociais. A todos esses servidores da Universidade Federal do Pará, de antes e de agora, dedicamos o mês de outubro para celebrar suas participações no amálgama que junta os fundamentos da ciência e da técnica aos anseios coletivos de bem-estar da população. Ao longo desse mês, várias ações foram efetivadas pela PróReitoria de Gestão de Pessoas com o intuito de reconhecer e valorizar o trabalho de técnicos e docentes na

nossa afirmação institucional. Ainda que não na dimensão devida, porque nenhuma é capaz de reproduzir o real valor das contribuições dadas pelos servidores, essas medidas buscaram explicitar o reconhecimento da administração superior aos que trabalharam e ainda trabalham no esforço de tornar a UFPA o espaço mais adequado à disseminação dos saberes, em todas as áreas. Pela particularidade do transcurso do último 15 de outubro, Dia do Professor, aproveito, aqui, a oportunidade para desejar a todos os nossos docentes o pleno sucesso nas tarefas do dia a dia, as quais fazem dessa profissão uma das mais nobres e gratificantes dentre todas as outras. No espaço dessas reflexões, reconhecimentos e desejos de sucesso, quero reafirmar que o exercício do magistério na Universidade Federal do Pará me ensinou, entre tantas lições, o quanto esta Instituição é importante e como ela pode alterar, para melhor, trajetórias individuais. Hoje, na condição de reitor, tenho recebido manifestações que consolidam minha crença nesse papel transformador. Uma delas, assinada pelo professor doutor Peter José Schweizer, do Programa de

Estudios de la Ciudad da Facultad Latinoamericana de Ciencias Sociales de Quito, no Equador, é particularmente estimulante para todos nós que fazemos a UFPA. O professor Schweizer chegou aqui há 43 anos, quando a Universidade Federal do Pará contava com apenas nove anos de fundação. Veio do Rio de Janeiro, junto com os professores Donato Mello Junior e Paulo Pena Firme (oriundos da UFRJ e já falecidos), para dar continuidade ao Curso de Arquitetura. Aqui, ele iniciava a carreira do magistério, que ainda hoje exerce, aos 70 anos. Segundo ele, essa foi a “mais importante experiência” de sua vida, marco inicial de uma atuação de quase vinte anos na Amazônia, trabalhando no Ministério do Interior e ministrando cursos no NAEA e na antiga Sudam. Destaco dois trechos da mensagem do professor Peter José Schweizer. Diz ele: “Hoje me invade uma tremenda nostalgia por Belém, pela UFPA, pelos meus ex- alunos que tiveram todos carreiras brilhantes, pelos amigos que nessa cidade fiz e por ter aberto, em mim, a visão da importância do ensino e da responsabilidade do professor no Brasil”. E continua: “Magnífico Rei-

OPINIÃO Raymundo Garcia Cota

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iferentemente de Saramago, este viajante adentrou em Portugal por sua capital, Lisboa. Não chegou pelo Porto de Belém – onde se encontra a Torre de Belém, mas pelo aeroporto Humberto Delgado, muito próximo da cidade. No passado, as viagens duravam meses, depois, semanas. Dava tempo de o viajante preparar-se psicologicamente para chegar à Europa; de ler sobre a geografia e a história dos lugares a serem visitados. Hoje, tudo mudou. Dependendo do lugar de saída e chegada, pode-se atingir Portugal em seis horas. Cochila-se e já se desperta com os comissários acordando para o pouso. Nem dá tempo, ao viajante, de perceber que chegou. Ouve sua mesma língua, de brasileiros e de portugueses, apenas com sotaques diferentes. É mesmo Portugal? Não estarei em Porto Alegre ou Florianópolis? Portugal é a melhor entrada de viajantes e de mercadorias de brasileiros na Europa, assim como a Espanha o é para os hispano-americanos. Não

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ Rua Augusto Corrêa n.1 - Belém/PA beiradorio@ufpa.br - www.ufpa.br Tel. (91) 3201-7577

tor, publique esta minha manifestação de amor à Universidade Federal do Pará, para que as novas gerações saibam da importância que nós, que um dia por aí passamos, damos a essa Universidade e aos alunos que nela se formaram”. Ao atender ao pedido do professor, no espaço reservado ao reitor neste jornal, quero dividir com a comunidade da Universidade Federal do Pará a responsabilidade que sua mensagem coloca para os que receberam o legado dos pioneiros, como ele, e que levam adiante, no cotidiano institucional, a tarefa de ampliar seus limites de atuação no Estado e na região. Quero, também, na pessoa do professor Peter José Schweizer, mais uma vez, reverenciar a todos os que, ao longo dos 52 anos da UFPA, ajudaram a construí-la, em condições muitas vezes adversas, e, ao dar-lhe o melhor de seu talento, também se deixaram tocar por ela, reservandolhe um lugar especial na memória de seus afetos. Para ler o e-mail do professor Peter José Schweizer na íntegra, acesse a Coluna do Reitor no Beira do Rio On Line.

garcota@ufpa.br

Viagem a Portugal apenas nos aproxima a língua, mas também os costumes. As construções na Avenida da República, em Lisboa, já apresentam exemplos (que o viajante irá encontrar em toda a Europa) de conciliação entre o novo e o velho: o novo em construção, o velho em conservação. Isso diferencia nossa realidade de destruição e abandono do passado. Alguns lugares parecem com o Rio de Janeiro, outros, com Belém. Sintra é outro ponto a ser visitado na Grande Lisboa, nas proximidades do estuário do rio Tejo, no extremo oeste de Portugal e da Europa, de que falou Camões em Os Lusíadas: “onde a terra acaba e o mar começa”. Trata-se de um município, uma serra e um castelo de mesmo nome, de origem celta, que data da pré-história portuguesa, hoje, patrimônio da humanidade junto à Unesco. O território já foi também ocupado por romanos e árabes. Após a expulsão destes últimos, seguiu-se outro tipo de ocupação, no século XII, devido à fertilidade do solo: con-

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ventos e mosteiros, ordens militares, quintas e vinhas. Tornou-se região de caça de reis e nobres, e lugar de suas residências de verão. O mosteiro de N.S. da Penha, mostrado aos visitantes, foi obra de D. Manuel I (1511) – daí o estilo manuelino, simulando cordame de navios, que permanece nas colunatas antigas. O terremoto de 1755, que destruiu Lisboa, atingiu também esse convento, que ficou abandonado por muito tempo. Sua reconstrução e ampliação se devem ao rei consorte D. Fernando II, marido de D. Maria II, filha de nosso D. Pedro I, em 1830, para transformá-lo em residência de verão. É construção eclética, muito a gosto no século XIX, quando a região foi invadida por aristocratas e burgueses milionários, depois, por pintores, músicos e escritores. De Sintra, o visitante pode continuar até Cascais, importante ponto de lazer no Atlântico português. Aí se encontram alguns dos doze fortes que protegiam Lisboa, assim como, em uma de suas freguesias, o famoso Cassino de Estoril.

Curso de Etnodesenvolvimento é fruto da política de ações afirmativas Raphael Freire

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á mais de 500 anos, os colonizadores ofereciam aos povos indígenas um pequeno pedaço de espelho em troca de pepitas de ouro. Historicamente esquecidos e enganados, hoje, os povos indígenas querem o que lhes é de direito: reconhecimento. Mas como reivindicar direitos sem educação superior? Esse é o comprometimento da Universidade Federal do Pará quando se fala em políticas de ações afirmativas para povos indígenas e tradicionais (quilombolas, caboclos, ribeirinhos, agricultores familiares, camponeses e assentados). Uma das maneiras que a Universidade encontrou de formar, em nível superior, os povos tradicionais foi por meio da criação do Curso de Licenciatura e Bacharelado em Etnodesenvolvimento. O curso foi aprovado em reunião do Conselho Superior de Ensino e Pesquisa (Consepe), em março deste ano. E terá início em 2010, no Campus Universitário de Altamira, ofertando 45 vagas destinadas, exclusivamente, a pessoas oriundas de povos indígenas e tradicionais. As comunidades-alvo do curso deverão dispor de um período para organizarem suas demandas e encaminharem seus candidatos, cujo ingresso dos selecionados será feito por meio de vagas reservadas e Processo Seletivo

Mácio Ferreira

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BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Novembro, 2009 –

Comunidades-alvo deverão encaminhar seus candidatos, que serão selecionados por meio de Processo Seletivo Especial Especial (PSE). Os povos indígenas e tradicionais têm enfrentado dificuldades na luta pela terra, na garantia da sobrevivência e na sua afirmação como cidadãos brasileiros, motivo suficiente para verem na educação uma forma de buscar melhorias e garantir direitos. "Eles [povos indígenas e tradicionais] não querem so-

mente se habilitar, querem, também, trabalhar para sua comunidade com essa qualificação", conta a professora Jane Beltrão, uma das proponentes do curso. Em nível de graduação, o curso de Etnodesenvolvimento é o único em todo o Brasil. Elaborado desde o início de 2008, em constante diálogo com as comunidades-alvo,

n Curso organizado no eixo diversidade cultural O viajante apreciou outros pontos em Portugal, apesar do pouco tempo de sua estada. Um setor que lhe chamou atenção foi o turístico, menos caro que os outros países europeus. Hospedou-se, comeu e bebeu muito mais em conta do que nos demais países, exceto na Espanha. Alguns taxistas entrevistados pelo viajante elogiaram a União Europeia, outros não. Todavia se reconhece que o euro integrou Portugal à Europa, trazendolhe renda e modernização. Apesar disso, o país mantém suas tradições com muito orgulho. O viajante sente isso quando os portugueses falam de Aljubarrota e seus tantos heróis ou quando desancam o invasor Napoleão Bonaparte. Raymundo Garcia Cota é doutor pela Syracuse University (NY) e professor do Programa de Pós-Graduação em Economia da UFPA. Para continuar a viagem, acesse a seção Opinião no Beira do Rio On Line

Reitor: Carlos Edílson Maneschy; Vice-Reitor: Horácio Schneider; Pró-Reitor de Administração: Edson Ortiz de Matos; Pró-Reitor de Planejamento: Erick Nelo Pedreira; Pró-Reitora de Ensino de Graduação: Marlene Rodrigues Medeiros Freitas; Pró-Reitor de Extensão: Fernando Arthur de Freitas Neves; Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação: Emmanuel Zagury Tourinho; Pró-Reitor de Desenvolvimento e Gestão de Pessoal: João Cauby de Almeida Júnior; Pró-Reitor de Relações Internacionais: Flávio Augusto Sidrim Nassar; Prefeito do Campus: Alemar Dias Rodrigues Júnior. Assessoria de Comunicação Institucional JORNAL BEIRA DO RIO Coordenação: Ana Carolina Pimenta Edição: Rosyane Rodrigues; Reportagem: Abílio Dantas/Brena Freire/Glauce Monteiro(1.869-DRT/PA)/ Igor de Souza /Jéssica Souza(1.807-DRT/PA)/Killzy Lucena/Raphael Freire/ Walter Pinto (561-DRT/PA)/ Yuri Rebêlo; Fotografia: Alexandre Moraes/Mácio Ferreira/Wagner Meier; Secretaria: Carlos Júnior/Felipe Acosta; Beira On line: Leandro Machado/Leandro Gomes; Revisão: Júlia Lopes/Karen Santos; Arte e Diagramação: Rafaela André/Omar Fonseca; Impressão: Gráfica UFPA.

Alexandre Moraes

Mácio Ferreira

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As professoras Luiza Mastop Lima e Jane Beltrão foram proponentes do curso Os futuros licenciados e bacharéis em Etnodesenvolvimento serão capazes de gerenciar propostas sócio-político-culturais de modo a superar os obstáculos das ações cotidianas das comunidades indígenas e tradicionais, trabalhar em agências governamentais, além de poder atuar como docentes, entre outras competências. E, para isso, o curso foi organizado no eixo diversidade cultural, que, por sua vez, foi dividido em oito núcleos: Sistemas de Saúde; Desenvolvimento e Sustentabilidade; Educação; Direitos Humanos; Sociedade e Meio Ambiente; Nação e Território; Identidades e Linguagens Étnicas.

A escolha do Campus de Altamira para sediar o curso justifica-se por dois motivos: pelo fato do corpo técnico-docente ter aceitado o desafio de implementar políticas afirmativas, formalizando a existência de um curso diferenciado e, também, por haver uma forte presença de comunidades indígenas e tradicionais no município. O quadro de docentes do curso de Etnodesenvolvimento será composto por docentes das cinco faculdades existentes no Campus (Ciências Agrárias, Ciências Biológicas, Educação, Engenharia Florestal e Letras), além de docentes do Núcleo de Ciências Agrárias e Desenvolvimento Rural (NCADR) da UFPA, dos campi

de Belém e Marabá e do Programa de Políticas Afirmativas para Povos Indígenas e Populações Tradicionais (PAPIT). Com duração de quatro anos, o curso será realizado no modelo de alternância (intervalar), com períodos letivos intensivo-modulares, organizados em momentos presenciais em sala de aula e momentos nas comunidades às quais pertencem os estudantes indígenas e de outros povos. A oferta do curso deverá acontecer a cada dois anos, mas a ideia é que ele se multiplique para outros campi. No final do curso, os concluintes deverão oficializar sua formação com a entrega do Trabalho de Conclusão de Curso, que contemple ações de Etnodesenvolvimento voltadas para a comunidade e adequadas à realidade de cada povo. "Fazer o projeto desse curso foi melhor do que fazer uma tese, pois o projeto não vai ficar numa prateleira, ele será desenvolvido”, brinca Jane Beltrão. A UFPA está dando um grande passo no que diz respeito às políticas de ações afirmativas, oferecendo um curso de relevância social que dá a oportunidade àqueles que talvez jamais chegassem ao ensino superior e, principalmente, pelo caráter multiculturalista do curso. “Será um desafio colocar tantos diferentes juntos”, diz Luiza Mastop Lima, professora do Campus de Marabá.

o curso pretende funcionar de forma que articule igualdade e diferença entre as diversas culturas existentes em nossa sociedade. "Essa é a intervenção esperada, almejada e não é de hoje. Agora, ela chegou e pode render muitos frutos", diz Almires Martins, índio da etnia Guarani e discente do Programa de Pós-Graduação em Direito (PPGD) da UFPA.

n Ações atendem capital e interior A UFPA desenvolve algumas políticas de ações afirmativas. Uma delas é o Programa de Políticas Afirmativas para Povos Indígenas e Populações Tradicionais (PAPIT), que promove atividades de pesquisa, ensino e extensão na Universidade a partir dos campi de Belém, Altamira e Marabá, com o objetivo de implementar ações que permitam o acesso, a permanência e a formação superior aos povos indígenas e às populações tradicionais na Instituição. Criado em 2007, hoje, o Programa pretende implementar pesquisa-ação abrangendo, a princípio, a área das bacias dos rios Xingu, Tapajós, Arag u a i a e To c a n t i n s , n o P a r á , com os povos indígenas e tradicionais, a fim de gerar dados que alimentem a formulação de propostas de pesquisa, ensino e extensão voltadas para as comunidades participantes d o PA P I T. A U n i v e r s i d a d e também possui, desde 2004, o Grupo de Estudos Afro-Amazônicos (GEAM), que luta pelo ingresso e permanência de negros na UFPA.


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BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Novembro, 2009 –

Literatura

História

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m 2008, quando a vinda da Família Real para o Brasil completou 200 anos, os eventos da programação de comemoração destacaram o significado do período joanino (1808-1821) para as transformações políticas e econômicas da colônia, mas o foco das abordagens privilegiou, principalmente, o Rio de Janeiro. Praticamente não houve trabalhos mostrando o impacto da presença da Família Real em outras regiões do Brasil. Na Universidade Federal do Pará, um grupo de historiadores se empenha na tarefa de mostrar que a presença portuguesa não está restrita ao Rio de Janeiro. Parte dos estudos em desenvolvimento foi apresentada durante o Seminário Internacional “Entre Mares: O Brasil dos Portugueses”, que reuniu, em Belém, pesquisadores portugueses e de 17 universidades brasileiras, além dos historiadores da UFPA que se dedicam ao estudo da migração portuguesa na Amazônia. Quase todos os estudos apresentados pelos pesquisadores da UFPA são inéditos e de recortes cronológicos diferentes. O historiador Antônio Otaviano Júnior apresentou um resumo mostrando a intensa movimentação de embarcações portuguesas no porto de Belém, justamente no período joanino. Ele observa que, mesmo durante a ocupação de Portugal pelos franceses, o fluxo de embarcações de imigrantes entre o Atlântico e a Baía do Guajará não cessou, registrando-se média de 41 embarcações, por ano, no porto de Belém. Entre homens e mulheres que chegavam a Belém no período de

Wagner Meier

Pesquisadores estudam vida de imigrantes na Amazônia

Ferramentas multimídia facilitam leitura das obras do vestibular

Igor de Souza

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Público pôde conhecer acervo de fotos e objetos de famílias de migrantes portugueses 1808 e 1821, apenas 0,1% era pela primeira vez. A maioria era formada por pessoas que já moravam na cidade e estavam retornando. Havia, também, trabalhadores de embarcações e degredados. Somente 5% das mulheres vinham por iniciativa própria. As demais acompanhavam maridos, filhos ou genros, além de um grupo expressivo delas que veio como degredadas. O degredo era uma pena em função de um crime. Os degredados formaram um grupo que veio à Amazônia como parte da ideia da Coroa de tornar úteis os que eram inúteis no reino, conforme explica o historiador Rafael Chambouleyron. Eles

n Tensão nas ruas de Belém No final do século XIX, as epidemias de varíola e febre amarela, em Belém, atingiam portugueses e brasileiros de maneira diferente. A febre amarela atingia muito mais os portugueses, enquanto a varíola fazia mais vítimas entre os nacionais. A historiadora Iracy Gallo observa que as políticas públicas sanitárias implementadas pelas autoridades da época eram, também, diferenciadas em termos de qualidade de tratamento. Enquanto os portugueses eram atendidos no moderno Hospital Domingos Freire, construído onde hoje funciona o Hospital Barros Barreto, aos nacionais restava a precária barraca de madeira construída pelo governo na área onde, hoje, está o Cemitério de Santa Isabel, à qual os jornais da época se referiam como Barraca Negra. Sobre o Domingos Freire, Iracy Gallo ressalta a observação feita por um engenheiro no relatório do governo da época: “é tão lindo e suntuoso que merecia ser aberto à visitação pública".

Candidatos temem leituras obrigatórias

No período considerado de economia mais próspera da Amazônia (do final do século XIX ao início do XX), as tensões se acirraram em Belém devido à afluência de imigrantes. "São tensões causadas pelas práticas culturais, pela disputa do mercado ou pela própria etnicidade", como explica Maria de Nazaré Sarges, autora do clássico Belém - riquezas produzindo a Belle-Époque. A documentação que lhe serve de fonte mostra uma realidade muito diferente do retrato traçado na literatura regional, na qual os portugueses aparecem avessos à política e distantes dos processos criminais. "Os documentos sobre a imigração surpreende pela quantidade de portugueses envolvidos em delitos, ora como testemunhas, ora como réus, ora como vítimas", informa a historiadora. Ela percebe, no entanto, a existência de uma rede de sociabilidade, visível quando muitos portugueses surgem depondo em favor de brasileiros ou mesmo de brasileiros em favor de portugueses.

foram um dos segmentos utilizados pela Coroa na política de ocupação da Amazônia, considerada, em grande medida, uma região de fronteira, onde o povoamento era uma questão estratégica vinculada ao potencial de riqueza. Muitas cartas do século XVII examinadas pelo historiador redirecionam os condenados em função dos interesses da Coroa em lugares diferentes. Não raramente, o corregedor da justiça da Casa de Suplicação recebia pedidos de comutação de pena de criminosos em pena de degredo para que pudessem viajar para o Maranhão e para o Grão Pará, onde atuariam como soldados em função das necessidades locais.

Além dos degredados, Chambouleyron ressalta que havia uma pequena migração voluntária, perceptível na documentação existente no Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa, agora disponível em Belém, no Laboratório de História da UFPA e no Arquivo Público do Estado. São registros do século XVII de pessoas que solicitam autorização para viajar para o Maranhão e para o Grão Pará. Os códices ultramarinos mostram a obrigatoriedade de fiança como garantia para a viagem, pois a Coroa, em grande média, financiava os custos da travessia. Caso a viagem não se concretizasse, alguém teria que reembolsá-la.

n Estratégias de casamento Tensões à parte, os portugueses solteiros vinham para a região pensando em constituir família e, se possível, enriquecer. Trabalhando com 819 registros de casamentos de 1908 a 1920, a historiadora Cristina Donza Cancela observa que quase 46% dos portugueses casaram com paraenses, o que se justifica pelo número pequeno de portuguesas imigrantes naquele período. Depois das paraenses, a preferência era pelas portuguesas. Em terceiro lugar, ficavam as nordestinas. Quando a historiadora analisa o caso das portuguesas, o padrão se inverte. Em geral, elas casavam com seus conterrâneos. Quando isso não acontecia, elas podiam casar com paraenses e com espanhóis. Os homens, em geral, se dedicavam à atividade de comércio, na condição de proprietário, de vendedores ou de caixeiros. Muitos trabalhavam em serviços de transportes (carroceiros) ou em outros ofícios, como pintores e carpinteiros. Os processos de inventários

permitiram à Cristina Cancela lançar um olhar sobre o desenvolvimento das famílias. Era grande o número de imigrantes portugueses que moravam em Belém enquanto a família estava na Europa, durante o período de estudos dos filhos no bacharelado em Direito ou na Faculdade de Medicina. Alguns já tinham nome no Maranhão antes de virem para Belém. É o caso de João Gualberto da Cunha, cuja família se estabelecera em São Luís. Tendo um tio comerciante em Belém, João Gualberto veio para a cidade, onde casou com uma mulher da elite paraense, Ana Cunha, filha do ex-intendente José Malcher. A análise dos documentos possibilitou que a historiadora observasse muitos desses arranjos, por meio dos quais, os portugueses, com dinheiro, mas sem tradição social, utilizaram o casamento para unir o dinheiro à força política das famílias tradicionais de Belém e da Ilha do Marajó, como as famílias Pombo, Ferreira Pena, Justo Chermont ou Correia de Miranda.

Jornal Beira do Rio informa: se você quiser passar no vestibular da UFPA, é preciso ler muito. Criar e sustentar o hábito da leitura nas nossas vidas é fundamental para interpretarmos e entendermos o mundo que nos rodeia, mundo este que, minimamente, está representado nas provas do vestibular da Universidade por meio de seu conteúdo programático. E adivinha quem está nesse mundo? Sim, as famosas leituras obrigatórias! Mas será que os jovens candidatos sabem como lê-las de forma que o entendimento seja completo para o sucesso nas provas? E como fica o papel dos professores nesse contexto? Para o professor Sílvio Augusto de Oliveira Holanda, do Instituto de Letras e Comunicação da UFPA, responder a essas questões requer um percurso discursivo ao longo de todo o conteúdo programático de literatura, desde o processo de elaboração do programa até o dia da prova. Vejamos por parte.

n É tempo de mudanças

Fotos Alexandre Moraes

Entre mares: a Belém dos portugueses Walter Pinto

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Nas três fases, as leituras indicadas obedecem à ordem cronológica

n Recursos didáticos derrubam barreiras do tempo O Processo Seletivo Seriado da UFPA (PSS), tal como o conhecemos hoje, existe desde 2004. Nesses cinco anos, a elaboração do conteúdo programático é pensada de forma interdisciplinar, dentro de uma prova unificada, ou seja, todos os candidatos estudam todo o conteúdo programático. No caso do conteúdo de literatura, há um fórum constituído por membros da comunidade acadêmica e da sociedade, em que propostas de leituras são discutidas até que se chegue a um consenso. E um dos consensos foi estabelecer uma ordem cronológica para o aluno, ou seja, o estudo começa das leituras mais antigas até as mais recentes na lógica do tempo. A dificuldade do aluno co-

meça com a linguagem dos textos. A primeira fase do PSS, que acontecerá dia 22 de novembro, traz as primeiras manifestações literárias da língua portuguesa (Trovadorismo), que datam do século XIII, até chegar à leitura de poemas líricos do Arcadismo, uma escola surgida na Europa do século XVIII. Como passar uma leitura de textos com mais de 700 anos, como é o caso das cantigas de amor e de amigo do Trovadorismo, para alunos inseridos em um contexto totalmente diferente da época medieval? Para o professor Sílvio Holanda, o candidato ao vestibular não precisa temer a língua nem decorar palavras que desconhece. “No vestibular da UFPA, os textos serão dados aos alunos exatamente

como foram escritos. Contudo, um glossário acompanha esses textos na prova para auxiliar o aluno a interpretá-los, já que esse é o principal objetivo da prova”, esclarece. Sílvio Holanda sugere que os educadores utilizem músicas contemporâneas para auxiliar o entendimento das cantigas de amor e amigo, além da utilização dessas cantigas de forma cantada, serviço já disponível na internet. Ainda na primeira fase, temos a farsa de Gil Vicente O Velho da Horta (Humanismo). Para Sílvio Holanda, a forma mais interessante para derrubar a barreira da linguagem e perceber as críticas morais e sociais da farsa é encenar a peça em sala de aula após a leitura ou apresentá-la ao aluno com recursos audiovisuais.

n Falta do hábito de leitura dificulta entendimento Ultrapassando a barreira da linguagem, vamos nos deparar com a falta do hábito de leitura dos jovens. A segunda prova, que acontece dia 13 de dezembro, traz narrativas maiores, como Cinco Minutos, de José de Alencar, Amor de Perdição, de Camilo Castelo Branco (Romantismo) e O Alienista, de Machado de Assis (Realismo). Inseridos em uma cultura visual e habituados com textos rápidos e simples, tal como os textos de internet, os alunos podem estranhar as linhas narrativas das obras da segunda fase. O professor Sílvio Holanda indica que a primeira coisa que o aluno deve fazer é identificar as características básicas de uma narrativa, que são: personagens principais, os lugares, o tempo, o tipo de narrador e o tema principal. Para complementar a leitu-

ra, Sílvio Holanda indica a utilização de filmes, já que muitas dessas obras foram adaptadas em formato audiovisual. “A intenção não é a de o professor passar o filme e ir embora, mas sim destacar aspectos do filme que condizem ou não com a obra”, orienta. Para o concluinte do ensino médio, Tiago Sousa, de 16 anos, a leitura mais complicada na segunda fase foi O Alienista. “Os professores sempre falam que é uma leitura recheada de humor, mas eu não consigo achar nada engraçado nela”, relata o estudante que prestará vestibular para Direito na UFPA. O professor Sílvio Holanda explica que a obra de Machado de Assis, de fato, não é apenas humor ou loucura, mas também uma discussão sobre o poder e a ciência. “O realismo, em que Machado de Assis está situado cronologicamente,

deveria valorizar a ciência, mas a obra em questão é uma crítica do poder da ciência sobre a vida das pessoas”, analisa o professor. Muita coisa se pode fazer para tentar concretizar as obras diante da falta do hábito de leitura dos estudantes. Em Cinco Minutos, de José de Alencar, por exemplo, as personagens estão inseridas em vários cenários, como Petrópolis (Rio de Janeiro), Ilha de Villegagnon (baía de Guanabara), Florença (Itália), entre outros, então, por que não levar para os estudantes ou estimular que pesquisem, na internet, mapas desses locais, acompanhados de imagens que ilustrem os diversos cenários? “Muitas escolas públicas já possuem internet, por que não incentivar a utilização de recursos multimídias relacionados à literatura?”- comenta Sílvio Holanda.

Ao chegar à terceira fase, que acontecerá dia 10 de janeiro de 2010, o candidato já está mais maduro e se depara com uma leitura mais complexa, representada pelos simbolistas Camilo Pessanha e Alphonsus de Guimaraens. Para a estudante Amanda Barreiros, de 16 anos, os poemas simbolistas foram os mais complicados porque requerem uma leitura minuciosa. “Tive que reler várias vezes para poder entender o subjetivismo dos poemas”, ressalta a estudante que prestará vestibular para Administração na UFPA. Sílvio Holanda explica que o Simbolismo traz uma linguagem indireta, cheia de sugestões ao nível da musicalidade, do imaginário e da fantasia. Para dar um efeito diferente à leitura, o professor recomenda o uso de imagens e de sons. “Em dado momento, Camilo Pessanha fala sobre clepsidra e sobre violoncelos, mas será que o aluno sabe o que são esses objetos? Se o simbolismo trabalha com a música, por que não trazer um videoclip com execução de um violoncelo para criar a atmosfera propícia ao Simbolismo? Mais uma vez enfatizo o uso de imagens e tudo o que pode se relacionar com os poemas”, sugere. É claro que o uso desses recursos técnicos não pode excluir a leitura dos textos na íntegra. Os professores, como mediadores entre os alunos e as leituras, devem usar os recursos multimídias como motivação, mas nada pode tirar a importância de ler as obras na sua completude. Para o vestibular, Sílvio Holanda recomenda que os alunos adotem uma leitura planejada após a orientação dos professores, sempre atentando para os detalhes ressaltados em sala de aula. As provas do PSS deste ano marcam o fim de um ciclo para o começo de outro ainda não definido em termos de vestibular. “Eu acho que vale a pena mantermos o nosso vestibular, se não totalmente, mas parcialmente, para que autores regionais, como Dalcídio Jurandir e Inglês de Souza, possam participar da vida dos estudantes paraenses”, conclui o professor.

Sílvio: "não precisa temer a língua"


4 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará –Novembro, 2009

BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Novembro, 2009 –

Enade

Iniciação Científica

Qualificação docente e incentivo à pesquisa contribuem para o resultado Alexandre Moraes

n Formação de pesquisadores

De acordo com os alunos, envolvimento com a Iniciação Científica favorece o bom desempenho

O

esforço conjunto de alunos, professores e direção da Faculdade de História, da Universidade Federal do Pará, resultou na excelente avaliação que o curso obteve no último Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade). O curso foi o único do Estado a obter o conceito cinco, revertendo, assim, avaliações anteriores nada satisfatórias. Em 2008, a prova do Enade foi realizada por 65 alunos do Campus de Belém, ingressantes de 2008 e egressantes de 2005. Para o diretor da Faculdade,

Mauro Cezar Coelho, a avaliação é fruto do investimento feito no curso, com destaque para a dedicação do corpo docente, o que reflete diretamente no alunado. “Muitos de nossos professores excedem a sua carga horária ministrando aulas na graduação e na pós-graduação, orientando Trabalhos de Conclusão de Curso e dissertações de mestrado, além de desenvolverem projetos de pesquisa. A própria diretora do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) é docente da Faculdade de História e tem uma participação ativa no curso”, revela. Para o diretor, além do em-

penho dos professores, as ações administrativas da Faculdade de História, envolvendo direção e pessoal de secretaria no planejamento e na regularização da vida acadêmica do aluno, também foram fundamentais para a evolução do curso nos últimos anos. “Regularizamos a situação dos alunos em seus períodos curriculares e organizamos os semestres com quatro ou cinco meses de antecedência, informando aos professores as suas disciplinas, para que também possam se planejar. Além disso, promovemos reuniões periódicas com os discentes para discutir e tentar solucionar os problemas”, ressalta Mauro Coelho.

n Estudantes criticam formato do exame nacional O Enade, criado com o objetivo de avaliar o desempenho e a aprendizagem dos alunos em relação ao conteúdo programático, de acordo com as diretrizes curriculares dos cursos, nunca foi visto com bons olhos pelos estudantes universitários de todo o país, entre eles, os da UFPA, que sempre participaram do boicote às provas. O formato do exame é um dos pontos criticados, assim como a formulação das provas que é a mesma para o Brasil inteiro. Apesar de não concordar com esse tipo de avaliação, o alunado de História também comemora o resultado e reconhece os avanços do curso. Alguns estudantes que participaram do Exame já se encontram cursando a pós-graduação. É o caso de Felipe Tavares de Moraes, aluno do Mestrado em Educação e concluinte de 2008. “Posso falar do curso de História como um aluno que entrou na Universidade e logo no segundo semestre conseguiu uma Bolsa de Iniciação Científica. Isso é algo que contribui, significativamente, para o bom desempenho dos alunos durante a graduação, pois estimula e qualifica para a pesquisa. O aumento da oferta de Bolsas de Iniciação Científica é

uma necessidade dentro do curso. Essa nota no Enade é um resultado que se deve aos alunos, especialmente; a minha turma, que é muito interessada; e aos professores, que nos deram todas as condições para o nosso bom desempenho”, afirma. “Eu considero o nosso curso excelente. Os professores têm um ótimo preparo. Esse resultado também é fruto da iniciativa dos alunos do curso. Eu fiz a prova quando entrei na UFPA, em 2005, e quando conclui o curso em 2008, e pude observar a melhoria dos resultados. Mas faltam equipamentos e a quantidade de bolsas é insuficiente para o número de alunos que entram no curso todos os anos”, lamenta Patrícia Raiol de Castro Melo, concluinte de 2008 e aluna da UFPA, do Mestrado em História. Participantes da prova como ingressantes de 2008, Ana Ruth Estumano e Gerusa Oliveira acreditam que o conceito obtido se deve ao esforço dos alunos e à excelente qualificação dos professores. “É um esforço do aluno em não se contentar somente com o que os professores ministram em sala, mas também buscar outras fontes de conhecimento”,

ressalta Gerusa Oliveira. Para o diretor da Faculdade de História, Mauro Coelho, o Enade deve ter o caráter generalista apresentado nas provas e não deve se restringir às especificidades dos cursos em cada região. “A bibliografia é a mesma em todos os lugares e o Enade não cobra o que chamamos de conteúdo regional. Esse resultado alcançado significa que a formação do aluno da Faculdade de História da UFPA está sendo minimamente satisfatória dentro de um padrão nacional” avalia. Mauro Coelho reconhece que, apesar da excelente avaliação, ainda é preciso melhorar. Os desafios para alcançar um patamar de excelência ainda são muitos, “o desempenho dos alunos significa que estamos num bom caminho. É necessário incentivar a pesquisa na graduação, com o aumento do número de Bolsas de Iniciação Científica; melhorar os procedimentos de avaliação interna e o planejamento; intervir na estrutura curricular do curso, que apesar de recente já permite críticas; além de resolver problemas, como o acervo nas bibliotecas e a estrutura dos laboratórios” diz.

O curso de História foi criado na década de 50, para formar, regularmente, professores de matérias específicas, como História e Geografia, para o então ensino secundário. Em 1955, surgiu o primeiro curso de Graduação em História e Geografia no Pará, na antiga Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras do Pará e incorporado à Universidade Federal do Pará em 1957. No início, era ministrado predominantemente por advogados. Com o tempo, os cursos de História e Geografia foram separados e foi criado um curso de História associado à Antropologia. Nos anos 70, a pesquisa no Departamento de História era praticamente inexistente. Durante esse período, houve uma tentativa de qualificação dos professores, que foram para outros Estados cursar o mestrado. No entanto, entre 1970 e 1980, a necessidade de uma reestruturação curricular, tornando o curso mais crítico e analítico em relação à situação política e social do País e do mundo, foi crescendo. Nos anos 80, o movimento estudantil surgiu como um elemento de grande contribuição para mudanças e conquistas nas universidades. Não foi diferente na UFPA. Estudantes como Edilza Fontes, José Maia Bezerra Neto e Fernando Arthur Neves foram exemplos de jovens militantes que se tornaram professores do Departamento de História e que contribuíram muito para a renovação do curso entre os anos de 1985 até 1997. Paulo Watrin e José Alves Júnior também são nomes importantes nesse contexto de lutas pelas mudanças estruturais e metodológicas no curso de História. O Departamento de História autônomo foi estruturado em 1988 e um processo de qualificação em massa dos professores começou. No início dos anos 90, começaram os incentivos a projetos de pesquisa financiados pela UFPA e pelo CNPq, além disso, professores visitantes começaram a compor o quadro de docentes. O crescimento da pós-graduação possibilitou a criação do Programa de Pós-Graduação em História Social da Amazônia em 2004, que oferece o curso de mestrado e desenvolve pesquisas nas linhas de “História e Natureza” e “Trabalho, Cultura e Etnicidade”. Atualmente, a Faculdade de História conta com um quadro de 21 professores efetivos, dos quais, 16 são doutores e quatro estão concluindo o doutorado. Mantém um laboratório, instalado em prédio próprio, para apoio das atividades de graduação e de pós-graduação. O espaço possui um miniauditório, salas de leitura e biblioteca com acervo de livros, periódicos, dissertações e monografias.

V Jornada debate papel da universidade Evento reunirá alunos e pesquisadores do Programa de Educação Tutorial

Abílio Dantas

O

s prédios e pavilhões, à primeira vista, não apresentam nada de novo ou diferente. Os problemas sociais são os mesmos que existem fora dos muros. As pessoas caminham e trabalham como em qualquer outro lugar. O espaço localizado no bairro do Guamá, em Belém, destaca-se, unicamente, por abrigar um conceito fundamental para a educação formal de um país: o de universidade. Mas, afinal, qual é o papel de uma universidade? Para que e para quem ela foi idealizada? É para fomentar esse debate que a V Jornada de Iniciação Científica dos Grupos do Programa de Educação Tutorial (PET) do Pará traz o tema “A importância da universidade pública e a produção de conhecimento científico”. Intelectuais, professores e estudantes estarão reunidos entre os dias 24 e 27 de novembro, na Universidade Federal do Pará, para discutir o tema. “A ideia é tratar a questão da produção de conhecimento como uma responsabilidade da universidade pública, além de questionar quais são as responsabilidades da sociedade com essas universidades e com o ensino público”, explica Sérgio Vizeu, professor e tutor do PET do curso de Física da UFPA. Segundo o pesquisador, muito é dito sobre a obrigação dessas instituições com o cidadão comum, mas pouco é

n Formação diferenciada

Fotos Wagner Meier

Curso de História obtém conceito cinco

Brena Freire

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Ao centro, os professores Samuel Sá e Sérgio Vizeu com bolsistas do PET falado sobre o compromisso de todos na manutenção deste ensino, que deve ser gratuito e de qualidade. Realizadas desde o ano de 2005 pela Executiva Estadual dos Grupos PET do Estado, as Jornadas de Iniciação Científica nasceram a partir de uma exigência do Ministério da Educação (MEC) aos grupos PET. “Um dos pré-requisitos do manual de orientações é que cada estudantebolsista tenha uma publicação de trabalho científico por ano. Pode ser num encontro regional ou nacional”,

afirma Sérgio Vizeu. Assim, surgiu a ideia das Jornadas, que proporcionam a divulgação da produção científica dos grupos e promovem o diálogo com outros órgãos de dentro e de fora das universidades. O professor também ressalta o caráter transdisciplinar da Jornada, pois todas as áreas de conhecimento estão convidadas a participar, assim como todas as instituições de pesquisa, “a ideia é que a Jornada transcenda os grupos PET e mantenha uma das principais características do Programa, a multidisciplinaridade.”

n Atividades de ensino, pesquisa e extensão O que há em comum entre um cursinho popular, a criação de materiais didáticos para o ensino médio e a elaboração de um livro sobre Métodos Matemáticos? Os bolsistas do PETFísica da UFPA não hesitariam em responder: o tripé ensino, pesquisa e extensão. Essas são as diretrizes do Programa de Educação Tutorial do MEC desde sua regulamentação em 2005. O objetivo é que os cursos de graduação possam desenvolver atividades que integrem o cotidiano das pessoas, dentro e fora da universidade, contribuindo, assim, para a formação de indivíduos conscientes de suas obrigações na sociedade. “Além do

ensino, pesquisa e extensão, o PET tem como proposta promover uma formação acadêmica pautada pela ética e que comprometa o estudante como cidadão”, ressalta Sérgio Vizeu. Atualmente, a UFPA possui nove PETs funcionando nos cursos de Física, Geologia, Biologia, Geografia, Farmácia, Engenharia de Pesca, Engenharia Civil, Engenharia Elétrica e Engenharia Mecânica. Todos os anos, são criados trinta novos grupos no País. Para concorrer, é preciso elaborar um projeto de acordo com o manual de orientações (ver box) e submetê-lo à seleção. Anualmente, duas novas propostas, por universi-

dade, são enviadas ao MEC. O curso de Ciências Sociais mantém uma experiência diferenciada, encabeçada pelo professor Samuel Sá. O Projeto Extracurricular Temático funciona a partir de algumas recomendações do MEC, mas não é ligado formalmente ao Ministério. Segundo o professor, o grupo decidiu trabalhar de forma independente. Desta forma, não segue exigências, como a restrição de atividades a estudantes de graduação e o cumprimento de algumas normas burocráticas. A iniciativa representa uma alternativa para os cursos que pretendem trabalhar, indissociavelmente, os três eixos de ação da Universidade.

Alessandra Nascimento, Roberto Peixoto, Débora Carvalho, Leandro Oliveira. Aparentemente, são nomes comuns, mas, no PET Física, cada um representa uma parte e o todo das atividades do grupo. Os bolsistas são responsáveis pelo funcionamento de todos os projetos e ações internas - seminários, cine-clube, divulgação na graduação, sendo tutorados pelo professor Sérgio Vizeu. Entre os projetos em vigor, podemos destacar os projetos Universidade Aberta (PUA) e Conexão Física. A ideia é simples: proporcionar uma preparação gratuita para o vestibular aos estudantes da rede pública. O PUA, formado por professores voluntários, contribui não só para a vida profissional, mas também para a formação humanística dos bolsistas que coordenam diretamente essa iniciativa. A manutenção financeira da Universidade Aberta é garantida pelo Projeto Reciclagem, criado pelo PET-Engenharia Macânica, que vende papel reciclado para o Banco Central. O projeto é secretariado pelo estudante Erberson Rodrigues. No PET, todos os projetos se relacionam e não é diferente com o Conexão Física, projeto de pesquisa e extensão que visa à criação de material didático para professores e estudantes de ensino médio, ou seja, os alunos da Universidade Aberta. Algumas apostilas já estão disponíveis para consulta no site do PET Física www.cultura.ufpa. br/petfisica Para Sérgio Vizeu, o que há de mais rico no PET é a experiência coletiva. “No fundo, o PET é a vivência na Universidade: atividades na sala, participação em projetos sociais e vivências em grupo. Essa experiência é um diferencial”, completa.

Requisitos e Procedimentos para ingresso no PET Do Curso de Graduação: * Deve oferecer as condições necessárias para o desenvolvimento das atividades do grupo PET. * Deve participar do planejamento do grupo, respeitando sua autonomia, tanto na organização do plano como na sua execução, buscando aproximar as ações do grupo aos demais interesses do curso. * Possuir um alunado com condições de candidatar-se à seleção de bolsistas (conforme o item “candidato”). Do Tutor: * D e ve p e r t e n c e r a o q u a d ro permanente da instituição, sob contrato

de regime de tempo integral e dedicação exclusiva. *Ter título de doutor e, excepcionalmente, de mestre. * Não acumular qualquer outro tipo de bolsa. * Comprovar atividades de pesquisa e extensão nos três anos anteriores à solicitação de ingresso. * Comprometer-se a dedicar carga horária semanal mínima de oito horas às atividades do grupo, sem prejuízo das atividades de aula da graduação. * Visão interdisciplinar e experiência em áreas que envolvam a tríade universitária: pesquisa, ensino e

Fonte: Manual de Orientações do PET, disponível no Portal do MEC, no site portal.mec.gov.br

extensão. Do aluno candidato: * Estar regularmente matriculado em curso de graduação. * Não ser bolsista de qualquer outro programa. * Apresentar Coeficiente de Rendimento Escolar maior ou igual a 6,0 (seis). * Ter disponibilidade para dedicar vinte horas semanais às atividades do programa. * A participação do aluno se dá a partir da aprovação em seleção, sob a responsabilidade de cada instituição de ensino superior.

Experiência coletiva é diferencial


8 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Novembro, 2009

BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Novembro, 2009 –

Eletricidade

Biblioteca

C

entro de um sistema formado por 33 bibliotecas, a Biblioteca Central da UFPA coordena um acervo total próximo a um milhão de volumes na forma de livros, periódicos, folhetos, coleções, catálogos, dissertações, teses, obras de referências, fotografias, fitas de vídeo, CDs, DVDs, entre outros tipos de documentação. Grande parte deste acervo está automatizada e conectada com o mundo por meio do catálogo on-line, no site da Biblioteca Central, no Portal da UFPA. Os interessados podem consultá-lo de qualquer computador. Isso explica, por exemplo, a vinda à Biblioteca Central de um pesquisador do Rio Grande do Sul interessado em estudar as 12 cartas particulares do naturalista Karl Von Martius, escritas em alemão, entre os anos de 1821 e 1858. Ou mesmo a presença da pesquisadora carioca para estudar a coleção particular Eneida de Moraes, não no seu todo, mas apenas a parte do acervo formada pelos 1500 livros enviados à escritora paraense, com dedicatórias de seus autores, que são, de fato, o objeto de interesse da pesquisadora. Vem das áreas das Ciências Humanas e das Letras a maioria dos usuários interessados no acervo de

Alexandre Moraes

Cadastro on line atrai pesquisadores em busca de obras raras

E

Investimento garantiu melhor infraestrutura e ampliação da bibliografia básica de diversos cursos obras raras da Biblioteca Central, que reúne não só livros, mas também documentos manuscritos, como as já citadas cartas do naturalista Von Martius ou as de Theodor KochGrünberg, etnólogo alemão que realizou viagem pelo Norte do Brasil

até a Venezuela durante os anos de 1911 a 1913. Entre os tesouros do setor de Obras Raras está abrigada a monumental Hiléia Amazônica, do escritor carioca Gastão Luís Cruls, nascido em 1888 e falecido em 1959. Médico

Ao contrário do acervo geral localizado no andar térreo, formado por livros constantes das bibliografias básicas dos cursos de graduação, as obras raras são de acesso restrito, ou seja, não estão disponíveis para empréstimos. No entanto, estão ao alcance de qualquer interessado. O usuário é atendido por um bibliotecário que faz a identificação da obra e a disponibiliza para consulta em sala específica, na sua presença. Em 2004, teve início a automação das obras raras, disponibilizando todos os exemplares por meio do sistema Pergamum, software utilizado no gerenciamento dos acervos do Sistema de Biblioteca da UFPA. Também no setor de Obras Raras, o usuário tem acesso aos acervos de bibliotecas particulares

doados à UFPA, em número de seis: Coleção Frederico Barata, adquirida em 1962, com enfoque em Antropologia, Etnologia, Arte, Folclore, além dos relatórios da Comissão Rondon; Coleção Eneida de Moraes, adquirida em 1972; Coleção Jayme Cardoso (embaixador brasileiro), incorporada ao acervo em 1975, contendo livros de História, Filosofia e Literatura; Coleção Santana Marques, incorporada em 1975 por doação da família do jornalista; Coleção Albeniza Chaves, formada por quatro mil exemplares ainda não processados; Coleção José da Silveira Netto, a maior, com cerca de 10 mil exemplares. Toda a Coleção Brasiliana, da coleção Silveira Netto, já está disponível no catálogo on-line.

n Teses e dissertações já podem ser consultadas Em breve, a Biblioteca Central disponibilizará à consulta dos usuários todo o acervo de teses e dissertações defendidas na UFPA. Um projeto está sendo executado com o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia para formação da Biblioteca Digital de Teses e Dissertações. O usuário não precisará mais se dirigir à Biblioteca Central para ter acesso ao conteúdo completo dos textos: eles estarão, na íntegra, on-line. Os interessados poderão imprimir, no

Lâmpadas aumentam o consumo e diminuem vida útil de equipamentos Glauce Monteiro

n Obras raras estão disponíveis para interessados O acervo do setor está organizado pelo ano de publicação para facilitar a consulta dos pesquisadores. A metodologia foi colocada em ação em função da longa experiência da bibliotecária Lucila Maia no setor. São quase trinta anos de trabalho com obras raras. O usuário das obras raras, segundo a bibliotecária, é diferenciado. "Percebe-se sua preocupação e cuidado ao manusear os livros, quase sempre muito antigos. Em geral, são pesquisadores, muitos amam a história, vivem a história", diz Lucila, citando, como exemplo, um pesquisador que estuda a obra de Tavares Bastos. "Às vezes, ele levanta os olhos do livro e parece ficar ausente, num processo que é de pura descoberta e imaginação", conta.

Fluorescentes provocam desperdício

todo ou em parte, diretamente de seu computador. Para tornar os textos acessíveis aos usuários, a Biblioteca Central, desde o ano de 2000, passou a solicitar às secretarias dos cursos e de programas de pós-graduação o envio de cópias dos trabalhos em meio impresso e digital. Mas seus autores precisam assinar um termo de autorização, disponível no site da Biblioteca. Todas as dissertações e teses já disponibilizadas para consulta passaram por esse

processo. Há, no entanto, algumas que deverão levar mais algum tempo, caso específico das que estão em processo de patente. A maior dificuldade está relacionada aos trabalhos de pósgraduação anteriores a 2000, fase em que não era solicitado o envio por meio digital. O Instituto de Ciências Jurídicas, no entanto, resolveu contribuir para eliminar o problema na sua área: contratou uma empresa para digitar toda a sua produção de teses e dissertações.

sanitarista, geógrafo, astrônomo e romancista, Cruls retrata, nesta obra de 1944, a região sob os aspectos da fauna, flora, etnografia e arqueologia. O setor abriga, também, um tesouro mais antigo: uma edição de Dom Quixote de La Mancha do século XVII.

n Investimentos de R$ 1 milhão Para Sílvia Bitar Moreira, diretora do Sistema de Bibliotecas e da Biblioteca Central, até julho deste ano, o marco mais significativo do setor foi a reestruturação organizacional, com a aprovação do novo Estatuto e do Regimento Geral da UFPA. Outra meta importante foi a melhoria na infraestrutura das bibliotecas e a contratação de bibliotecários para todas as 33 bibliotecas do sistema. "Hoje, não há nenhuma biblioteca que não seja coordenada por bibliotecário profissional", afirma Sílvia Bitar. Com o aumento dos investimentos para aquisição de livros para a graduação, os quais passaram de 200 mil reais no ano 2000 para um milhão em 2009, foi possível disponibilizar as bibliografias básicas das disciplinas, desde que estivessem vinculadas aos projetos pedagógicos dos cursos. A exigência visava eliminar a compra de livros não recomendados por docentes ou não indicados nas bibliotecas básicas dos cursos. Alunos que emprestam livros e não devolvem estão sendo obrigados a efetuar a devolução sob pena de terem suas matrículas bloqueadas. As faculdades recebem relatórios com os nomes dos inadimplentes e somente com a apresentação de “nada consta" da biblioteca é que eles poderão efetivar suas matrículas. Os que estão se formando só receberão o diploma depois de resolverem suas pendências.

la entra todos os dias em nossas casas. Acende a luz na sala, liga a geladeira, nos deixa assistir à televisão, torna os pontos turísticos luminosos e ajuda as ruas a ficarem bem mais bonitas durante o Natal. É quando a noite cai e a cidade escurece que a energia elétrica mostra todo o seu potencial assegurando luz em praças, ruas e avenidas. A iluminação pública ajuda a garantir segurança, transitoriedade para pessoas e veículos e incentiva o uso de espaços de lazer na ausência da luz do sol. De acordo com as Centrais Elétricas Brasileiras (Eletrobrás), há 15 milhões de pontos de iluminação pública no País, o que corresponde a 3% do consumo nacional de energia e a uma demanda de 9,7 bilhões de kWh/ano. A Eletrobrás incentiva a substituição das lâmpadas da iluminação pública que funcionam com vapor de mercúrio por aquelas que usam vapor de sódio, pois podem reduzir o consumo de energia de 5 a 40%. Entre os anos de 2002 e 2003, pesquisadores do Laboratório de Qualidade de Energia e Eficiência Energética (Labquauli) do Núcleo de Energia, Sistemas e Comunicação (NESC), do Instituto de Tecnologia (ITEC) da UFPA, analisaram a eficiência e a vida útil de marcas, modelos e tipos diferentes de lâmpadas utilizadas na iluminação pública na capital paraense, o funcionamento de pontos de iluminação em quinze lugares da cidade e estimaram os danos ambientais que podem ser causados pelo descarte inadequado desse material.

EM DIA

Wagner Meier

Acervo guarda tesouros e raridades Walter Pinto

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Genética No Centro de Convenções da UFPA, nos dias 20 e 21, acontecem o II Simpósio Nacional sobre Atendimento em Genética Médica e Laboratorial e a VII Jornada Paraense sobre Doenças Metabólicas Hereditárias. Mais de 400 participantes discutirão a interface entre a Genética Médica e o Sistema Único de Saúde. A programação completa está disponível no site www.ufpa.br/leim Pesquisa analisou a eficiência da iluminação pública em Belém Apesquisa constatou a existência de um lado negativo na substituição de lâmpadas. “Um tipo de desperdício de energia diferente é causado pelas chamadas distorções harmônicas ou harmônicos, espécie de sujeira gerada por equipamentos mais eficientes, como lâmpadas fluorescentes e eletroeletrônicos com dispositivos da eletrônica de potência, que prejudicam o funcionamento adequado dos aparelhos, seja uma lâmpada, seja um computador”, explica Maria Emília Tostes, professora de Engenharia Elétrica da UFPA. Se imaginarmos que a energia elétrica é como a água que chega as nossas casas, os canos seriam os cabos e as torneiras, tomadas. Então, uma distorção harmônica na corrente elétrica seria como se, ao ligar a torneira para

lavar louça, junto com a água, também tivéssemos óleo e lama. O harmônico acontece quando, junto com a frequência da corrente elétrica de 60 hertz, passam no circuito outras frequências que prejudicam o desempenho e a vida útil dos aparelhos e lâmpadas. Como um prato lavado com água e óleo de cozinha sujo. Constatou-se que os harmônicos são gerados mais por lâmpadas eficientes. “Economizamos com lâmpadas e aparelhos que requerem menos energia, mas, ao mesmo tempo, estamos jogando no sistema elétrico uma lâmpada que provoca perdas de energia decorrentes das distorções harmônicas. Se em canos de água, o acúmulo de ‘sujeira’ provoca vazamentos, neste caso, provoca perda de energia”, diz a professora.

n ‘Sujeira’ prejudica vida útil de equipamentos Os pesquisadores também verificaram a eficiência da iluminação pública em quinze pontos de Belém. Observando a ocorrência das distorções harmônicas em circuitos elétricos de diferentes tipos, ou seja, em lugares onde a energia era direcionada apenas para a iluminação pública e em situações em que a eletricidade abastecia, ao mesmo tempo, postes de iluminação, sinais de trânsito, residências e comércios. “Constatamos que nos locais onde a rede elétrica de iluminação pública também estava ligada a outros tipos de consumo de energia, como casas, comércios ou semáforos, estes outros ‘consumidores’ também eram

afetados pelo problema de ‘sujeira’ na corrente elétrica, que aquece os cabos por funcionar com equipamentos que permitem a existência de outras frequências de corrente elétrica e, por isso, provoca o aumento do consumo de energia”, detalha a pesquisadora do NESC, Maria Emília Tostes. O resultado é perceptível a longo prazo. “É difícil para a população perceber que algo está acontecendo e tomar uma providência, pois ela nem desconfia de como estes processos se dão. O que notamos, cotidianamente, são lâmpadas que deveriam durar um ano e que ‘queimam’em poucos meses, entre outros fatores, por esses proble-

mas do sistema elétrico”, conta. A pesquisadora defende que os governos têm um papel central na prevenção deste processo. “Não há uma legislação que obrigue os fabricantes a utilizarem, nas lâmpadas, componentes que gerem menos harmônicos. Mas se houver uma preocupação maior dos governantes em limitar a produção de distorções harmônicas pelos equipamentos com leis e uma fiscalização mais eficaz, o efeito disso seria a melhoria de todo o funcionamento do sistema elétrico. Então, os equipamentos, lâmpadas e eletroeletrônicos teriam uma vida útil mais próxima da descrita na embalagem”, acredita.

n Descarte de lâmpadas polui meio ambiente A eficiência das lâmpadas está relacionada ao tipo de material utilizado para a fabricação de seus componentes. As chamadas lâmpadas de descarga conduzem eletricidade entre dois filamentos com a ajuda de um gás, o que produz energia luminosa visível ao olho humano. Entre os elementos mais utilizados para este fim, estão os vapores de argônio, de sódio e de mercúrio ou, ainda, misturas desses e de outros metais pesados em estado gasoso.

Intactas, as lâmpadas não oferecem maiores riscos, mas quando se quebram, elas liberam o vapor de que são feitas. No caso do mercúrio, uma vez inalado ou ingerido, ele pode, por exemplo, debilitar o sistema nervoso humano. Segundo a REDE Celpa, em 2002, 37 mil lâmpadas da iluminação pública foram descartadas em Belém. Se todas elas quebraram, isso significa a emissão de 883 gramas de vapor de mercúrio no meio

ambiente apenas pela iluminação pública. “O impacto ambiental causado pelo mercúrio de uma única lâmpada não parece assustador. Mas, quando são descartadas, sem tratamento adequado, o material prejudicial à saúde se acumula em lixões e aterros, afetando o solo e os lençóis d’água e daí chega às pessoas. O ideal seria termos pontos de arrecadação para que as lâmpadas fossem descartadas adequadamente”, acredita Maria Emília Tostes.

Áreas Protegidas A quarta edição do Seminário Brasileiro sobre Áreas Protegidas e Inclusão Social (IV SAPIS) terá como temática central “Amazônia e os desafios da proteção da diversidade biológica e social”. Estão convidados a participar estudantes, pesquisadores e profissionais que trabalhem com o tema. O evento ocorre entre os dias 22 e 25 de novembro, na UFPA. Informações no site http://redesapis.org/

Guia do Estudante I 26 cursos de graduação da UFPA receberam o V Prêmio Melhores Universidades, concedido pela Revista Guia do Estudante, da Abril Cultural. Entre os premiados, estão seis cursos dos campi do interior. Engenharia Sanitária e Ambiental, Pedagogia (Altamira), Biblioteconomia, Medicina Veterinária, Enfermagem, Pedagogia (Marabá), Estatística, Pedagogia (Bragança), Pedagogia (Breves) e Ciências Econômicas receberam a premiação de três estrelas.

Guia do Estudante II Os Cursos Filosofia (Belém), Ciências Sociais (Marabá), Comunicação Social -Publicidade e Propaganda, Engenharia Mecânica, Pedagogia (Abaetetuba), Odontologia, Medicina, Farmácia, Química, Engenharia Civil, Comunicação Social - Jornalismo, Engenharia Elétrica, Serviço Social e Ciência da Computação receberam quatro estrelas e os cursos de Geografia, Pedagogia (Belém) e Ciências Sociais (Belém) receberam cinco.

Pescadoras O Laboratório de Estudos de Ecossistemas Amazônicos (LEEA) da Faculdade de Biologia, do Campus de Santarém, receberá R$ 200 mil do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) para realizar pesquisas sobre organizações produtivas femininas. O projeto prevê a promoção de atividades voltadas para o desenvolvimento sustentável à luz da economia feminista.


6 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Novembro, 2009

BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Novembro, 2009 –

Combustível

Biomassa

Avançam estudos sobre bioetanol

Estação flutuante gera energia limpa Fotos Alexandre Moraes

D

e um lado, mata fechada, de outro, apenas o rio. Essa é a localização de diversos povoados no interior da Amazônia, lugares aonde, muitas vezes, não chegam nem mesmo os fios de alta tensão da companhia de energia elétrica local. Desenvolver projetos na área de geração de energia aplicados em comunidades isoladas com foco em emprego e renda é o objetivo do Grupo de Energia, Biomassa & Meio Ambiente (EBMA), da Universidade Federal do Pará, que, desde 2001, pesquisa formas de levar a luz até onde mais se precisa dela. Caroços de açaí, restos de agricultura e de madeira, estrume de gado, óleo vegetal ou qualquer substância à base de carbono são matérias que podem gerar energia de forma alternativa e muito eficiente. O EBMA idealiza sistemas que tornam possível a utilização da biomassa como fonte de energia limpa e renovável, derivada de materiais orgânicos, disponíveis em abundância, principalmente, nas comunidades da Amazônia que têm subsistência garantida, em grande parte, pelo aproveitamento de recursos primários. Para atender as demandas de energia elétrica em locais distantes dos centros urbanos, o Grupo de Pesquisa da Faculdade de Engenharia Mecânica da UFPA criou a plataforma flutuante, uma unidade de produção de energia de 50kW, que utiliza ciclo a vapor e combustível de biomassa regional. O fato de ser "flutuante" facilita o acesso às comunidades isoladas por meio hidroviário. A plataforma conta, ainda, com uma unidade de extração de óleo vegetal para agregar valor,

n Açaí vira biocombustível

Plataforma flutuante garante produção de energia de 50kW trabalho e renda às atividades da população ribeirinha. Breves – “A ideia nasceu diante da facilidade em obter um produto final, no caso, uma unidade de geração de energia e renda, projetada, concebida e construída na Universidade, sem necessidade de deslocamento de material ou mão de obra para o interior do Estado, uma vez que conhecemos as dificuldades de transporte e de distâncias na Amazônia", explica o professor Gonçalo Rendeiro, coordenador do EBMA. A estação foi inteiramente montada na UFPA e já seguiu viagem em direção ao município de Breves, na Ilha do Marajó, onde está a maioria das comunidades atendidas pelo projeto. A meta é construir mais três unidades flutuantes de 50kW, além de estações maiores, de 200kW. "Uma dessas estações já atende a comunidade de Santo Antônio, onde temos uma fábrica de gelo que produz dez toneladas por dia,

uma fábrica de extração de óleo de 100 quilos de polpa oleaginosa por hora, uma câmara frigorífica para armazenagem de produtos agrícolas e pescado, com capacidade para 70 toneladas. Uma outra unidade, também de 200kW, funcionará na comunidade de Curumu, onde temos uma estufa para secagem de produtos naturais da Amazônia e uma fábrica de extração de óleo vegetal”, conta o coordenador. A estação de Curumu vai atender cerca de 600 pessoas, além de subsidiar outros setores produtivos, como a fábrica de cabo de vassouras localizada na região. Já a estação de Santo Antônio é um projeto um pouco maior, pois, além de atender as fábricas e os frigoríficos, vai fornecer energia para uma pequena serraria e abastecer toda a área limítrofe do projeto. De acordo com Gonçalo Rendeiro, o objetivo geral é dinamizar a agricultura local e gerar outras possibilidades de desenvolvimento econômico para a Ilha do Marajó.

n Invenção evita uso de geradores a óleo diesel A plataforma flutuante tem uma unidade completa de geração de energia elétrica por meio do ciclo a vapor ou ciclo termodinâmico de Rankine. Possui uma caldeira, uma turbina, um gerador, um condensador, um tanque de condensados, um sistema de bombeamento e um sistema de tratamento de água. A invenção alternativa evita a utilização de pequenos geradores movidos a óleo diesel, que gera gases de efeitos extremamente poluentes à natureza. Na plataforma, a biomassa é queimada na fornalha da caldeira e gera calor. O calor, então, entra em contato com a água e esta se transforma em vapor. O vapor, em alta pressão e alta temperatura, gira as pás da turbina. A rotação da turbina aciona o gerador, que proporciona a energia necessária para o processo e energia excedente para a comunidade. Diferentemente do resultado obtido com os geradores, a queima de biomassa garante energia estável e de qualidade por 24 horas.

Além da sustentabilidade ambiental, uma vez que o processo muda a matriz energética de um combustível fóssil para um renovável, a invenção traz benefícios econômicos porque agrega recursos à população ao não exigir investimentos na compra de óleo diesel, vendido, exclusivamente, por empresas sediadas no centro-sul do País. “O diesel causa impactos, como a chuva ácida provocada pelo enxofre presente na sua composição, e colabora para a emissão, na atmosfera, dos gases responsáveis pelo efeito estufa", explica Gonçalo Rendeiro. Os projetos do EBMA têm apoio do Ministério das Minas e Energia, do CNPq, da Eletrobrás e da Rede Celpa. O Grupo também possui pesquisas voltadas para a utilização de óleo vegetal e óleo usado em motores de combustão interna para geração de energia elétrica. As comunidades em que os sistemas criados pelo EBMA são instalados ganham toda a assistência científica.

Rendeiro: energia de qualidade Após o start up e o comissionamento da estação, os usuários recebem treinamento e são acompanhados pelos pesquisadores até que possam gerenciar o processo de forma independente.

Um dos projetos do Grupo de Energia, Biomassa & Meio Ambiente da UFPA também investiga a utilização do caroço de açaí como biomassa. Uma vez tratada, essa parte da fruta, normalmente descartada quando aproveitado o suco, pode substituir combustíveis fósseis de forma ecologicamente correta. O EBMA tem desenvolvido pesquisas visando à criação de queimadores específicos para o caroço de açaí como biocombustível, na tentativa de atender as demandas energéticas do parque industrial do Pará. "Só para se ter ideia, hoje, na Região Metropolitana de Belém (RMB), há uma oferta de 140 mil toneladas de caroço de açaí por ano, considerando um valor somado de safra e entressafra. Ou seja, temos a possibilidade de agregar um valor a mais ao fruto que já nos oportuniza tantos benefícios, aproveitando, também, o potencial energético do caroço que, normalmente, pararia nos lixões”, afirma o coordenador do projeto. A prática visa à troca de créditos de carbono com os combustíveis fósseis e a redução da emissão de gases poluentes na atmosfera. Depois que se retira a polpa do açaí, sobra o caroço. Do caroço, pode-se, ainda, aproveitar as fibras, que hoje são utilizadas, industrialmente, em estofamentos ou isolamentos acústicos, para, em seguida, transformá-lo em biomassa. Apesar da quantidade de caroços de açaí descartados ser grandiosa, o professor Gonçalo Rendeiro explica que não poderia haver superprodução de energia suficiente para abastecer, por exemplo, toda a RMB, uma vez que a demanda na zona urbana é grande. Em pequenas comunidades, porém, a energia gerada pela queima dos caroços de açaí é facilmente aproveitável. "Temos aplicação desse projeto em comunidades de duas a três casas, na Ilha do Combu, as quais têm renda garantida pelo açaí. Lá mesmo, nas comunidades, o açaí é retirado para venda ou subsistência. Agora, eles podem, também, aproveitar os caroços da fruta como combustível para gerar energia no próprio local”, conta Rendeiro. O EBMA desenvolveu um microssistema de geração de energia para ser utilizado por pequenas comunidades na queima do caroço de açaí.

Killzy Lucena

Q

uando se pergunta para um paraense de que forma ele utiliza a farinha no seu cotidiano, ele, com certeza, irá dizer: “com açaí, com peixe, com charque, com manga...” Porém, se dissermos que a parte da mandioca que ele não consome serve para a produção de biocombustível, com certeza, isso causará um estranhamento. Mas essa sensação deve acabar num futuro bem próximo. Desde 2004, na Universidade Federal do Pará (UFPA), um grupo de pesquisadores, coordenado pelo professor Alberdan Silva Santos, investiga o aproveitamento de resíduos agroindustriais e, em 2007, iniciou estudos direcionados para a produção de bioetanol a partir do rejeito da mandioca. Segundo os números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil, com seus 26,5 milhões de toneladas de mandioca produzidos anualmente, ocupa o 2° lugar do ranking mundial de produção. Apesar de ser cultivada em todo o país, a mandioca concentra-se em três Estados, entre eles, no Pará, que responde por mais de um quinto (20,3%) de toda a produção brasileira. Aqui, o município que mais produz mandioca é o Acará, que contribui com 2,5% da produção nacional. Em relação ao Estado, o município produz de 49% a 51% da mandioca consumida. Desse total, cerca de 10% é rejeito sólido, normalmente jogado próximo às ca-

Alexandre Moraes

Resultados devem melhorar o processamento da mandioca no Pará

Projetos beneficiam comunidades das Ilhas do Marajó e do Combu

Jéssica Souza

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As primeiras enzimas estudadas apresentam potencial de resistência térmica sas de produção de farinha, nos rios e em suas margens, atraindo pragas e doenças. Depois de cinco anos estudando esse comportamento, o professor Alberdan Santos, graduado em Engenharia Química e pós-doutor em Biotecnologia de Micro-Organismos,

viu sua pesquisa ganhar espaço e aceitação nacional e internacionalmente. O biocombustível, além de ser um projeto do governo federal, tem apelo ambiental dentro e fora do Brasil. “Recentemente, fizemos um projeto em colaboração com a comunidade europeia, por meio do

Instituto de Física de São Carlos. Esse projeto é para que outros países da Europa, junto com o Brasil, possam aplicar tecnologias mais avançadas no aproveitamento de biomassa. Na Europa, já existem tecnologias para o aproveitamento da palha de cana-deaçúcar”, conta Alberdan Santos.

n Parcerias dentro e fora da UFPA têm sido fundamentais Os rejeitos da cana-de-açúcar e da mandioca estão entre as biomassas de extrema relevância no Brasil. Os pesquisadores vislumbram a produção de um coquetel enzimático para atuar sobre o rejeito da mandioca. Mas, antes disso, o resíduo precisa passar por um tratamento que consiste em secagem, moagem, classificação e aplicação de enzimas para fazer a “digestão” do material. Em seguida, monitora-se a produção dos açúcares fermentescíveis, formados com leve-

duras isoladas da própria mandioca, os quais transformam o material em álcool. Contudo, essa tecnologia não seria uma realidade sem diversos olhares e as contribuições de outros parceiros, como os colaboradores do Instituto de Ciências Biológicas da UFPA, da Fundação Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro e do Instituto de Física de São Carlos, em São Paulo. Alunos de mestrado e de doutorado também fazem parte desta pesquisa, além dos

professores Cláudio Nahum Alves, que integra o projeto nos estudos de modelagem molecular, a professora Paula Schneider, coordenadora de pósgraduação da Genética e o professor Arthur Silva, que tem colaborado para que, futuramente, a genética seja aplicada na obtenção de micro-organismos modificados para a produção de enzimas celulolíticas. Também são parceiros, por meio do Projeto Casadinho, aprovado pela Fapespa, os professores Igor Polikar-

pov e Glaucius Oliva, do Instituto de Física de São Carlos (SP), que dispõe de laboratórios preparados para trabalhar na caracterização das enzimas. Outra contribuição do projeto foi a criação do curso de Biotecnologia, que também contou com a participação do professor Júlio Cesar Pieczarka. “Uma das metas é a formação de recursos humanos para o aproveitamento racional de recursos naturais e agroindustriais disponíveis em nosso Estado", afirma Alberdan Santos.

n Mais de 40 linhagens de micro-organismos sob análise Atualmente, dos micro-organismos endofíticos que apresentam grande potencial de produzir enzimas amilases e celulases, mais de 40 linhagens estão sob investigação nos Laboratórios de Investigaçoes Sistemáticas em Biotecnologia e Química Fina (LabISisBio) da UFPA, coordenados pelo professor Alberdan Santos para que se possa identificar aqueles que apresentem maiores características de aplicação tecnológica, tais como: resistência a altas temperaturas, adaptação mais rápida ao meio de cultura, resistência a interferentes que estão presentes na mandioca e se eles produzem enzimas robustas que consigam hidrolisar a biomassa

(rejeito) numa velocidade maior ou similar à dos micro-organismos que estão no mercado. Segundo Alberdan Santos, os resultados são animadores. Os estudos iniciais constataram que as primeiras enzimas estudadas apresentaram potencial de resistência térmica e poderão ser uma alternativa para as que estão no mercado, entretanto, investigações mais aprofundadas estão sendo realizadas pelo Grupo de Biotransformações para caracterizar essas enzimas. Os estudos iniciais mostram que é eficaz a produção de álcool a partir dos açúcares obtidos desses resíduos. Parte da pesquisa está

sendo realizada por Nelson Rosa, aluno de doutorado, sob a orientação de Alberdan Santos. "Vamos partir para uma segunda etapa que é a investigação do potencial de produção de bioetanol, em cooperação com o Centro de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE), em Campinas. Outras etapas envolvem otimização do processo com os organismos naturalmente ocorrentes, quantificação dos fatores de rendimentos nos resíduos de mandioca para que se possa ter dados plausíveis de estudos de viabilidade técnica e econômica para se implementar a segunda etapa na geração do bioetanol, isto porque, a partir desse momento, vai sobrar um

resíduo e nós teremos de estar com os parceiros integrados para encontrar uma aplicação para ele", detalha o coordenador do projeto. Ano que vem, o trabalho será o de degradar uma quantidade maior de resíduos e treinar os pequenos produtores, o que deve envolver profissionais de outras áreas: Educação, Meio Ambiente, Antropologia, Sociologia, entre outras. "Só com conhecimento sobre tecnologia e educação ambiental será possível melhorar a qualidade do processamento da mandioca em nosso Estado. Vamos encontrar soluções para problemas da região e melhorar a qualidade de vida da nossa gente", prevê Alberdan Santos.


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