issn 1982-5994
12 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Abril, 2011
Fotos Karol Khaled
Entrevista 25 Anos JORNAL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ • ANO XXV • N. 93 • Abril, 2011
Congresso
Língua e Literatura na Amazônia III Congresso Internacional de Estudos Linguísticos e Literários deve reunir cerca de mil pessoas na UFPA. Pág. 3
“Gerar política pública. Esta foi a grande conquista da maioridade”
U
m projeto acadêmico por natureza, o coordenador faz questão de repetir. Mas com múltiplos braços extensionistas, capazes de abraçar e acolher a comunidade de mesmo nome, nós poderíamos acrescentar. O Riacho Doce é o projeto de extensão da Universidade Federal do Pará que talvez tenha a maior visibilidade. A força da marca é tão grande que alguns pensam se tratar de uma Organização Não Governamental. Desenvolvido pela Faculdade de Educação Física, o Projeto está completando 18 anos. Para comemorar a maioridade, o Projeto firma parceria com o governo do Estado do Pará, por meio do Propaz, e transforma em política pública a tecnologia social de educação pelo esporte que desenvolveu ao longo desse tempo. Em entrevista ao Jornal Beira do Rio, o professor e coordenador do Projeto, Christian Pinheiro da Costa, falou sobre as conquistas, o crescimento da comunidade e a importância das atividades de extensão para a formação acadêmica. Beira do Rio - O Projeto está completando 18 anos. O que temos a comemorar? Christian Pinheiro da Costa – A partir deste mês, iniciamos uma parceria com o Propaz [Programa do governo do Estado, abrigado na Santa Casa, que atende vítimas de violência sexual, com idade entre 0 e 18 anos incompletos] por meio da qual vamos transformar uma tecnologia social de educação pelo esporte em política pública. Com isso, conseguimos fechar um ciclo. Estamos colocando em prática a missão da Universidade: a produção de conhecimento e sua transferência para a sociedade no formato de política pública. Esta foi a grande conquista nesta maioridade. Beira do Rio – Após esses anos, que mudanças podem ser observadas na comunidade? C.P.C. – A origem do Projeto está muito próxima à instalação dessa comunidade no entorno do Campus. Ainda existem muitas dificuldades, mas elas foram minimizadas com saneamento, segurança e transporte. Hoje, é possível circular com carros dentro da comunidade, naquela altura, nem ônibus entrava. Enfim, o Projeto Riacho Doce criou uma marca forte, que deu visibilidade a essa comunidade. Os prêmios conquistados também contribuíram para isso. Depois de 18 anos, o cenário é, realmente, bem diferente. Beira do Rio – Ficou mais fácil firmar parce-
rias e receber apoio? C.P.C. – Em 1993, o conceito de responsabilidade social ainda não estava bem configurado. O Projeto foi precursor na sua aplicação. O Instituto Ayrton Senna, parceiro na construção dessa tecnologia social, foi um dos primeiros a utilizar imagens de atletas para a captação de recursos para projetos que tenham as crianças como público-alvo. Esse movimento contribuiu para sensibilizar muitas empresas a associarem suas marcas às imagens desses atletas. Beira do Rio – O perfil das crianças atendidas mudou ao longo do tempo? C.P.C. – O perfil continua sendo de crianças em situação de risco. São famílias desfavorecidas socioeconomicamente e de vários formatos, mas com um responsável. Isto é importante, pois existem situações em que nós precisamos saber a quem nos dirigir. Essas crianças não são menores infratores ou delinquentes, este é outro perfil de público. O Projeto Riacho Doce é um grande laboratório para os alunos da Universidade, nossos recursos humanos estão em formação. Não temos condições de prestar atendimento a uma clientela que exige atenção mais específica. Beira do Rio – Que cursos participam das atividades que vocês desenvolvem? C.P.C. – Aqueles das áreas de convergências do esporte. Além dos alunos de Educação Física, os quais coordenam as atividades esportivas, temos alunos dos cursos de Pedagogia, Enfermagem, Medicina, Odontologia, Serviço Social, Psicologia, Ciências Sociais, Comunicação Social, entre outros. O esporte é a âncora, é ele quem atrai as crianças. Por trás, estão a figura dos ídolos e a expectativa de mobilidade social. Porém a nossa preocupação não é trabalhar com a formação de atletas, nós trabalhamos com a formação do cidadão. Beira do Rio – Crianças de outros bairros podem participar? C.P.C. – Não há nenhum tipo de pré-requisito para a matrícula. O que existe é uma seleção natural em função do transporte. Essas crianças moram no entorno do Campus e, normalmente, vêm caminhando. Mais de 90% do nosso público é residente no Guamá e na Terra Firme. Beira do Rio – Quais são as atividades desenvolvidas? C.P.C. – Atividades aquáticas, mas não necessariamente a natação, iniciação ao atletismo, mini-
-vôlei, futsal – que sempre atrai muito a garotada. Oferecemos orientação de estudos, atendimento odontológico e de primeiros socorros, palestras na área da saúde e trabalhos com arte-educadores. Também garantimos, diariamente, um lanche. Beira do Rio – Vocês acompanham o percurso dessas crianças depois que elas saem daqui? C.P.C. – Nunca tivemos estrutura para um acompanhamento longitudinal sobre o desenvolvimento dessas crianças. Mas temos alguns casos emblemáticos que mostram o impacto que esta experiência teve na vida dessas pessoas. Em alguns casos, já estamos atendendo a segunda geração. Aquelas meninas de 1993-1994 estão trazendo os seus filhos para o Projeto. Este é um indicador de sucesso. Beira do Rio – Em dezembro passado, um bolsista do Projeto ganhou o Prêmio Jovem Cientista no XXVI Congresso Brasileiro de Cefaleia. É o que podemos citar como um “caso de sucesso” do Projeto? C.P.C. – Este é um desses casos emblemáticos. O Disraeli chegou aqui com 8-9 anos. No ensino médio, foi nosso educador, passou três ou quatro anos tentando uma vaga em Medicina. Imagina um garoto sair dessa comunidade e conseguir ser aluno de Medicina na UFPA! Hoje, ele é nosso bolsista e um aluno de destaque. Temos outros exemplos: a Dani, que chegou aos sete anos no Grupo de Dança e, em junho, vai colar grau na primeira turma de Dança da UFPA; o Rogerinho, jogando futebol no Japão; dois bailarinos no Grupo de Dança do Teatro Municipal de São Paulo; a professora Rosilene, que foi nossa bolsista e, hoje, é diretora da Pediatria da Santa Casa. Beira do Rio – A aproximação com a Universidade amplia os horizontes dessas crianças? C.P.C. – Esta aproximação é o nosso braço da extensão. O Projeto cresceu muito, porém fazemos questão de continuar sendo um projeto de extensão da Faculdade de Educação Física. Após 18 anos, é possível contar nos dedos de uma das mãos os projetos que começaram na mesma época e continuam existindo. Talvez seja em virtude deste formato em que a criança tem no seu educador um referencial que elas percebem como podem se transformar naquele ídolo. Tudo isso também tem um impacto positivo na formação desses alunos, que saem da universidade com uma formação acadêmica mais humanizada. A extensão quer isto: quebrar os muros da universidade, trazer a comunidade para dentro do campus.
Kits de Química aproximam teoria e prática
Pág. 10
Acervo do Projeto
Rosyane Rodrigues
Extensão
Quantidade de edificações deixa zonas urbanas mais vulneráveis às ocorrências de descargas elétricas
D
e acordo com dados do Grupo de Eletricidade Atmosférica (Elat/INPE), o Brasil tem a maior incidência de raios do planeta. Pesquisas sobre o assunto estão sendo realizadas pela Universidade Federal do Pará, em parceria com o Sistema Brasileiro de Detecção de Descargas Atmosféricas
e com a Rede de Detecção de Raios do Sistema de Proteção da Amazônia. Os resultados comprovam que as descargas elétricas têm características específicas na região amazônica. A localização na faixa equatorial contribui para que, aqui, os raios sejam mais frequentes e mais potentes. Págs. 6 e 7
Medicina
Um registro da memória e da história da Faculdade
Projeto atendeu 240 alunos
Entrevista Christian Pinheiro da Costa comemora os 18 anos do Projeto Riacho Doce. Pág. 12
Educação
A obra dos médicos Aristóteles de Miranda e José Maria Abreu Jr. recupera o cotidiano, as personagens marcan-
tes e o processo de federalização do primeiro curso de Medicina da Região Norte. Pág. 4
Mari Chiba
Riacho Doce: 18 anos formando cidadãos
Marcos Joel Reis
A força dos raios na Amazônia
Coluna da Reitoria
Programa "Saberes da Terra da Amazônia Paraense", parceria entre UFPA, IFPA e Seduc, é premiado pelo MEC. Pág. 9
Inovação
Novo recurso para ensinar Matemática
O vice-reitor Horácio Schneider discute redução de diferenças entre os campi. Pág. 2
Opinião Hilton Silva faz relato de experiência sobre Fórum Social Mundial em Senegal. Pág. 2
Programa muda realidade no campo
Sede própria foi adquirida com recursos de doações
Professor João Batista do Nascimento propõe uso da linguagem teatral para aproximar disciplina dos alunos. Pág. 5