Beira 95

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12 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Junho/Julho, 2011

Fotos Alexandre Moraes

Entrevista 25 Anos JORNAL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ • ANO XXV • N. 95 • Junho/Julho, 2011

A

“O abandono é sintoma de doença social”

s funções anti-inflamatórias, antibióticas e cicatrizantes da andiroba e da copaíba são conhecidas dos povos amazônicos há muitos anos. Agora, o mercado de dermocosméticos também está apostando nas potencialidades fitoterápicas das oleaginosas. Para garantir a qualidade desses produtos, o Ministério da Saúde encomendou o Projeto Fitodermo, desenvolvido, em parceria, pela Universidade do Amazonas e pela Universidade Federal do Pará. Na UFPA, o professor Alberto Cardoso Arruda, da Faculdade de Química, é quem coordena a pesquisa. As análises irão garantir às empresas regionais a certificação dos produtos e de suas cadeias produtivas. Pág. 6

Karol Khaled

UFPA certifica dermocosméticos

Pesquisa em abrigos revela que pobreza é elemento sempre presente

Amadurecimento

Beira do Rio – É possível traçar um perfil das crianças que encontramos nos abrigos? Isso muda de acordo com a região geográfica? Débora Dellaglio – Existem as variações que estão relacionadas com a população de cada Estado. Mas, em 2004, foi realizado um levantamento nacional com 20 mil crianças abrigadas em todo o país. Em mais de 500 abrigos, a maioria das crianças é de classe socioeconômica desfavorecida – ou seja, a pobreza é um elemento muito presente –, tem entre sete e 12 anos, é negra e do sexo masculino. Beira do Rio – Passar por um abrigo deve ser uma experiência marcante. O que pode ser feito para que diminuam as consequências do sofrimento? D.D. – Muitas variáveis estão em jogo. Uma delas é o tempo de permanência que precisaria ser reduzido. Algumas pesquisas indicam que, atualmente, o tempo médio dessas crianças no abrigo são seis anos. Isso está completamente inadequado, a Lei 12.010/2009 diz que o tempo máximo deveriam ser dois anos. O fato de termos uma nova lei que

Beira do Rio – Garantir os vínculos familiares durante o abrigamento é um direito. Que estratégias são utilizadas para que isso ocorra? D.D. – Depende de cada caso. A nova Lei, inclusive, prevê que seja feita uma avaliação da criança a cada seis meses. Mas é preciso lembrar que – independente de qualquer situação – a criança vai querer ter contato com os pais. Em casos excepcionais, quando os pais representam perigo, isso precisa ser evitado. Mas essa criança tem irmãos, primos, tios, avós, então, pode e deve manter contato com esses familiares. A Lei diz que a criança deve ser levada para uma instituição de acolhimento que seja o mais perto possível de onde residem seus familiares, pois isso facilitaria as visitas. Essa “ideia” de família não pode ser apagada, pois é ela quem garante a identidade da criança. Beira do Rio – Para respeitar o que diz o Estatuto da Criança e do Adolescente, os programas de acolhimento institucional devem ter equipe multiprofissional. Como isso tem sido feito atualmente? D.D. – Existe uma variação muito grande entre regiões, cidades e dentro das próprias cidades. Por exemplo, em Porto Alegre, cidade onde eu moro e conheço melhor a realidade, temos instituições de

acolhimento mantidas pelo governo do Estado, pela Prefeitura e por organizações não governamentais conveniadas com a Prefeitura. As instituições governamentais, em geral, têm equipe composta por pedagogo, professor de Educação Física, psicólogo, assistente social, enfermeira e médico. As ONGs, que, muitas vezes, dependem de doações, têm muito mais dificuldade para contratar esses profissionais. Há uma necessidade de que os governos – estaduais e municipais – garantam um número de instituições suficiente para atender essas crianças, com as condições e a equipe adequadas. Beira do Rio – Família, sociedade e Estado têm responsabilidade mútua. É possível dizer que, em alguns casos, os três falham? D.D. – Sem dúvida. Não deveria haver crianças sem assistência e sem cuidado. Isso é um sintoma de uma doença social. Mas vamos analisar as causas que levam as crianças para essa situação: em geral, são dificuldades que a família enfrenta por desemprego, envolvimento com drogas ou álcool. Há um problema social, econômico e político. Uma coisa é como deveria ser e a outra é o que se consegue fazer. Beira do Rio – Podemos considerar o PROCAD como uma alternativa para diminuir as desigualdades entre os programas de pós-graduação no País? Quais são os resultados dessa parceria entre UFPA E UFRGS? D.D. – Existe um esforço do governo para o desenvolvimento da pesquisa científica e da educação, principalmente, nas Regiões Norte e Nordeste, onde há menor concentração de doutores. Por exemplo, essas regiões estão recebendo mais bolsas de pós-graduação e as parcerias entre as universidades estão sendo incentivadas como forma de suprir esses locais com o que ainda está faltando. Na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, temos recebido alunos daqui para o Programa de Mestrado e Doutorado Sanduíche. Essa experiência promove uma troca muito rica – professores e alunos experimentam novos olhares, novos horizontes –, além de desenvolver um senso critico ao perceber como as coisas são feitas de outras formas em outro lugar. O benefício é para todos os envolvidos.

Facom comemora 35 anos

Laboratório vai certificar produtos que a Chama D'Amazônia pretende lançar com potencial anti-inflamatório

Casamento

Eventos planejados por professores e alunos dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda devem acontecer ao longo do ano. Pág. 7

Graduação

Auxílio garante conclusão de cursos Pág. 9

Implante coclear

Pesquisa analisa regras para escolha do cônjuge Dissertação defendida no Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da UFPA investigou como acon-

tecem os casamentos na atualidade. Surpreendentemente, famílias ainda influenciam as escolhas. Pág. 3

Alexandre Moraes

A

professora Débora Dellaglio, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, esteve na Universidade Federal do Pará a convite do Programa de Pós-Graduação em Teoria do Comportamento, ministrando o curso “O acolhimento institucional de crianças e adolescentes no Brasil: avanços e desafios”. A atividade faz parte do intercâmbio entre as duas universidades, promovido pelo Programa Nacional de Cooperação Acadêmica (PROCAD/Capes). Em entrevista ao Jornal Beira do Rio, a professora falou sobre os desafios provocados pela Lei Nacional de Adoção (12.010/2009), que propõe, por exemplo, a diminuição do tempo que crianças e adolescentes devem permanecer nas instituições de acolhimento. “Algumas pesquisas indicam que, em média, as crianças permanecem seis anos no abrigo. A sociedade e as instâncias governamentais precisarão efetivar ações que diminuam esse tempo de permanência”, avalia Débora Dellaglio.

determina um prazo, de alguma forma, traz consequências. A sociedade e as instâncias governamentais precisarão efetivar ações que diminuam o tempo de permanência. Além disso, a instituição de acolhimento deve ter características próximas às de uma família: ser constituída em pequenas unidades, manter os grupos de irmãos juntos, garantir os contatos com os familiares e com a comunidade. Os funcionários precisam ser capacitados para realizar um trabalho adequado. Vale lembrar que grande parte das consequências psicológicas no desenvolvimento dessa criança não está relacionada ao abrigo, mas às situações de violências vividas antes de ser acolhida: maus tratos, abandono, negligência e a própria ruptura dos vínculos familiares. Quem causa o trauma não é o abrigo, ele já recebe essas crianças em situações desfavoráveis: problemas com drogas, álcool e violência doméstica. São eles que geram as consequências negativas.

Pacientes recebem apoio psicológico Programa do Hospital Universitário Bettina Ferro ajuda pacientes a enfrentar dificuldades antes e após cirurgia. Pág. 4

Saúde

Alexandre Moraes

Rosyane Rodrigues

UFPA no combate ao crack Estabilidade financeira é requisito para levar planos de casamento adiante

Entrevista

Taxa Zero: refeições gratuitas no RU

Débora Dellaglio discute os desafios do acolhimento institucional no Brasil. Pág. 12

Opinião As professoras Rosa Acevedo e Joseline Trindade apresentam o Projeto Nova Cartografia Social. Pág. 2

Universidade é parceira no Plano Integrado de Enfrentamento ao Crack e a Outras Drogas lançado pelo governo federal. Pág. 5

Coluna da Reitoria O pró-reitor Cauby de Almeida Junior fala sobre a nova política de atenção à saúde do servirdor. Pág. 2


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