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3.2.4 – Indígenas

e os defensores de Portugal, no Morro dos Guararapes, em Recife (1648-49). Para o autor, foi um momento único, em que os brasileiros lutaram irmanados.

Aprendeu-se a liberdade Combatendo em Guararapes Entre flechas e tacapes Facas, fuzis e canhões Brasileiros irmanados Sem senhores, sem senzalas. (Anexo 21)

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Inescapáveis os versos “Brasileiros irmanados/ sem senhores, sem senzalas”,pois nos fazem pensar não apenas no contexto dos Guararapes, mas naquele do momento da escrita21. Observemos que o substantivo senhores não é adjetivado, poderia ser senhores de escravos, por exemplo, ou mesmo os senhores daquele tempo da escrita. Se ainda estava no imaginário das Escolas de Samba e no próprio regulamento delas a obrigatoriedade dos temas nacionais, não podemos nos esquecer de que muitos sambasenredos retomaram movimentos, revoltas e levantes que marcaram a nossa história e esse escrito ilustra esse processo. Assim, nos momentos de autoritarismo, de imposição de poder político e econômico, será que escrever novamente sobre as guerras e batalhas não seria uma forma de protesto em um momento festivo? Protesto e crítica como fizeram as grandes Sociedades Carnavalescas?

3.2.4 – INDÍGENAS

O primeiro samba-enredo coletado por nós e que tem a inscrição da palavra liberdade atribuída aos indígenas é a canção Criação do mundo segundo os Carajás elaborado pela Escola de Samba Acadêmicos do Engenho da Rainha, em 1978. (Anexo 24) A Escola cantou a criação do mundo na perspectiva da tradição indígena dos Carajás “Que viviam num mundo feliz/ sob as águas do rio/ só morriam cansados de muito viver”, porém surgiu um urubu que aprisionou o rei, mudando a paisagem, por encanto. Assim, “Em troca da liberdade do velho rei/ o menino ditou a sua lei”, pedindo enfeites, e o mundo foi criado numa “lenda genial”.

21 Na análise de Alberto Mussa e Luiz Antônio Simas, esse samba “defende uma tese que os militares não perceberam ser subversiva: a identidade nacional, a noção de brasilidade, surgiu entre o povo, naturalmente, antes da existência do Estado brasileiro: ‘brasileiros irmanados, sem senhores, sem senzalas, e a senhora dos Prazeres transformando pedra em bala’. Era, claro, uma alusão à situação vigente no país, uma sutil provocação que os censores não captaram.” (MUSSA e SIMAS, 2010, p. 77)

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