A liberdade inscrita nos sambas enredos cariocas (1943 a 2013)

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e os defensores de Portugal, no Morro dos Guararapes, em Recife (1648-49). Para o autor, foi um momento único, em que os brasileiros lutaram irmanados. Aprendeu-se a liberdade Combatendo em Guararapes Entre flechas e tacapes Facas, fuzis e canhões Brasileiros irmanados Sem senhores, sem senzalas. (Anexo 21)

Inescapáveis os versos “Brasileiros irmanados/ sem senhores, sem senzalas”, pois nos fazem pensar não apenas no contexto dos Guararapes, mas naquele do momento da escrita21. Observemos que o substantivo senhores não é adjetivado, poderia ser senhores de escravos, por exemplo, ou mesmo os senhores daquele tempo da escrita. Se ainda estava no imaginário das Escolas de Samba e no próprio regulamento delas a obrigatoriedade dos temas nacionais, não podemos nos esquecer de que muitos sambasenredos retomaram movimentos, revoltas e levantes que marcaram a nossa história e esse escrito ilustra esse processo. Assim, nos momentos de autoritarismo, de imposição de poder político e econômico, será que escrever novamente sobre as guerras e batalhas não seria uma forma de protesto em um momento festivo? Protesto e crítica como fizeram as grandes Sociedades Carnavalescas?

3.2.4 – INDÍGENAS O primeiro samba-enredo coletado por nós e que tem a inscrição da palavra liberdade atribuída aos indígenas é a canção Criação do mundo segundo os Carajás elaborado pela Escola de Samba Acadêmicos do Engenho da Rainha, em 1978. (Anexo 24) A Escola cantou a criação do mundo na perspectiva da tradição indígena dos Carajás “Que viviam num mundo feliz/ sob as águas do rio/ só morriam cansados de muito viver”, porém surgiu um urubu que aprisionou o rei, mudando a paisagem, por encanto. Assim, “Em troca da liberdade do velho rei/ o menino ditou a sua lei”, pedindo enfeites, e o mundo foi criado numa “lenda genial”.

Na análise de Alberto Mussa e Luiz Antônio Simas, esse samba “defende uma tese que os militares não perceberam ser subversiva: a identidade nacional, a noção de brasilidade, surgiu entre o povo, naturalmente, antes da existência do Estado brasileiro: ‘brasileiros irmanados, sem senhores, sem senzalas, e a senhora dos Prazeres transformando pedra em bala’. Era, claro, uma alusão à situação vigente no país, uma sutil provocação que os censores não captaram.” (MUSSA e SIMAS, 2010, p. 77) 21

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ANEXOS – SAMBAS-ENREDOS

3hr
pages 201-278

4.13 – Considerações sobre este capítulo

11min
pages 170-176

CONSIDERAÇÕES FINAIS

6min
pages 177-181

REFERÊNCIAS

3min
pages 182-184

4.12.4 – África

1min
page 158

4.12.5 – A Escravidão

18min
pages 159-169

4.12.3 – Palmares

1min
page 157

4.12.2 – Zumbi e Outros Referentes Negros

4min
pages 155-156

4.11 – A Liberdade e as Significações Difusas

7min
pages 149-152

4.10 – A Liberdade, o Carnaval e Outras Artes

9min
pages 144-148

4.8 – Liberdade, Mitologia e Religiosidade

4min
pages 139-141

4.9 – A Liberdade e Outras Representações

3min
pages 142-143

4.6 – A Liberdade e os Países

3min
pages 134-135

4.7 – A Liberdade e o Povo

6min
pages 136-138

4.5 – A Liberdade, as Mulheres e os Direitos Feministas

4min
pages 131-133

4.4 – A Liberdade e os Indígenas

3min
pages 129-130

4.2 – A Liberdade de Expressão

3min
pages 123-125

4.3 – A Liberdade e a Independência

6min
pages 126-128

3.9 – Considerações Sobre Este Capítulo CAPÍTULO 4 – A PALAVRA LIBERDADE AO LONGO DA DEMOCRACIA

5min
pages 117-120

4.1 – Introdução ao Quatro Capítulo

2min
pages 121-122

3.7 – A Liberdade e as Significações Difusas

2min
pages 109-110

3.8 – A Liberdade e a Escravidão

10min
pages 111-116

3.6 – Liberdade e Independência

9min
pages 104-108

2.5 – Considerações Sobre Este Capítulo CAPÍTULO 3 – A PALAVRA LIBERDADE AO LONGO DA DITADURA

5min
pages 91-93

3.2.3 – Guararapes

2min
page 98

3.3 – Liberdade e República

3min
pages 100-101

3.2.4 – Indígenas

1min
page 99

2.4.5 – Chico Rei

2min
pages 89-90

3.5 – Liberdade e Carnaval

1min
page 103

3.4 – Liberdade e Povo

1min
page 102

3.1 – Introdução ao Terceiro Capítulo

2min
pages 95-96

2.4.4 – Preto Velho

1min
page 88

2.4.3 – Palmares

7min
pages 84-87

2.4.2 – Castro Alves

2min
page 83

2.2 – A Liberdade e a Segunda Guerra Mundial

5min
pages 75-78

2.3.2 – José Bonifácio

1min
page 81

1.4 – Considerações Sobre Este Capítulo

5min
pages 69-71

1.3.12 – Os Primeiros Sambas-Enredos

11min
pages 63-68

1.3.11 – Samba-Enredo

4min
pages 61-62

2.1 – Introdução ao Segundo Capítulo

3min
pages 73-74

1.3.10 – As Escolas De Samba

1min
page 60

1.3.7 – A Primeira Música do Carnaval

2min
pages 51-52

1.3.9 – O Samba

4min
pages 58-59

1.3.8 – Tia Ciata

7min
pages 53-57

1.3.5- A Praça Onze

4min
pages 44-46

1.3.6 – As Sociedades Carnavalescas

6min
pages 47-50

1.3.4 – Os Ranchos

3min
pages 42-43

1.2 – Origens e Significados do Carnaval

22min
pages 25-35

1.3.3 – Os Cordões

3min
pages 40-41

1.3.2 – O Zé Pereira

2min
pages 38-39

INTRODUÇÃO À TESE

12min
pages 14-21

1.1 – Introdução ao Primeiro Capítulo

3min
pages 23-24

ABSTRACT

1min
page 12

RESUMO

1min
page 11

RESUMEN

1min
page 13
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