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3.2.3 – Guararapes

desacordo com o padrão da norma culta, é a expressão de uma postura subversiva que será retomada em “O rei mandou me chamar/pra casar com sua fia”. O título do samba-enredo é a expressão de uma intertextualidade com o do poema de Carlos Drummond de Andrade, “Europa, França e Bahia” em que o eu lírico apresenta um discurso crítico e irônico por se estar na Europa e tentar recordar de sua pátria com a canção do exílio. É também paráfrase direta de“Oropa,França e Bahia” do poeta Ascenso Ferreira, poema que narra a história de Manuel Furtado, um português, e Maria de Alencar, uma cafuza de braços e peitos atraentes. O certo é que, diverso da temática dos poemas de Drummond e de Ascenso, o samba-enredo da Imperatriz utiliza a intertextualidade somente no título, pois trata, ao logo da canção, de episódios históricos e culturais bem diversos daqueles dos poetas. Em Brasil, uma biografia, Lilia Schwarcz e Heloísa Starling apontam que dois eventos profundamente diferentes ocorreram naquele 1922: a comemoração do centenário da Independência e a Semana de Arte Moderna:

Vários modernistas surgiram, ao mesmo tempo, revelando um movimento plural que respondia à entrada de uma nova linguagem e visão do Brasil. E, se o agito foi variado, coube à experiência paulista de 1922 catalisar a percepção desse momento em que confluíram ideias, contestações e anseios dispersos pelo país. (SCHWARCZ e STARLING, 2015, p. 338)

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Verificamos, então, que a reverência à Semana de Arte Moderna, no emprego da liberdade, possibilitou aos compositores escreverem a língua do povo para a festa do povo.Festa das alternâncias e renovações das condições sociais, do corpo e da linguagem.

3.2.3 – GUARARAPES

Em 1972, a Vila Isabel expôs o samba-enredo Onde o Brasil aprendeu a liberdade e mencionou a batalha de Guararapes20 que ocorreu entre o exército holandês

20 Lilia Schwarcz e Heloísa Starling também discorreram sobre esse episódio “As batalhas dos Guararapes, ocorridas em 1648 e em 1649 dez quilômetros ao sul do Recife, acabaram se constituindo numa espécie de marco zero da criação da nação brasileira, ao menos nos termos e humores de pernambucanos, que sempre enfatizaram o protagonismo de sua região. Essa história seria contada por gerações futuras com grandes doses de nativismo regional, estetizando-se a ideia de uma emancipação feita à base de “mistura racial”. (SCHWARCZ e STARLING, 2015, p. 338) Tem razão essas autoras, pois, em 1972, depois de mais de 320 anos daqueles eventos, a Vila Isabel reescrevia um trecho de nossa história, resgatando a ideia de nação, evocando a união dos brasileiros, em um momento de perigo.

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