A liberdade inscrita nos sambas enredos cariocas (1943 a 2013)

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desacordo com o padrão da norma culta, é a expressão de uma postura subversiva que será retomada em “O rei mandou me chamar/pra casar com sua fia”. O título do samba-enredo é a expressão de uma intertextualidade com o do poema de Carlos Drummond de Andrade, “Europa, França e Bahia” em que o eu lírico apresenta um discurso crítico e irônico por se estar na Europa e tentar recordar de sua pátria com a canção do exílio. É também paráfrase direta de “Oropa, França e Bahia” do poeta Ascenso Ferreira, poema que narra a história de Manuel Furtado, um português, e Maria de Alencar, uma cafuza de braços e peitos atraentes. O certo é que, diverso da temática dos poemas de Drummond e de Ascenso, o samba-enredo da Imperatriz utiliza a intertextualidade somente no título, pois trata, ao logo da canção, de episódios históricos e culturais bem diversos daqueles dos poetas. Em Brasil, uma biografia, Lilia Schwarcz e Heloísa Starling apontam que dois eventos profundamente diferentes ocorreram naquele 1922: a comemoração do centenário da Independência e a Semana de Arte Moderna: Vários modernistas surgiram, ao mesmo tempo, revelando um movimento plural que respondia à entrada de uma nova linguagem e visão do Brasil. E, se o agito foi variado, coube à experiência paulista de 1922 catalisar a percepção desse momento em que confluíram ideias, contestações e anseios dispersos pelo país. (SCHWARCZ e STARLING, 2015, p. 338)

Verificamos, então, que a reverência à Semana de Arte Moderna, no emprego da liberdade, possibilitou aos compositores escreverem a língua do povo para a festa do povo. Festa das alternâncias e renovações das condições sociais, do corpo e da linguagem.

3.2.3 – GUARARAPES Em 1972, a Vila Isabel expôs o samba-enredo Onde o Brasil aprendeu a liberdade e mencionou a batalha de Guararapes20 que ocorreu entre o exército holandês

Lilia Schwarcz e Heloísa Starling também discorreram sobre esse episódio “As batalhas dos Guararapes, ocorridas em 1648 e em 1649 dez quilômetros ao sul do Recife, acabaram se constituindo numa espécie de marco zero da criação da nação brasileira, ao menos nos termos e humores de pernambucanos, que sempre enfatizaram o protagonismo de sua região. Essa história seria contada por gerações futuras com grandes doses de nativismo regional, estetizando-se a ideia de uma emancipação feita à base de “mistura racial”. (SCHWARCZ e STARLING, 2015, p. 338) Tem razão essas autoras, pois, em 1972, depois de mais de 320 anos daqueles eventos, a Vila Isabel reescrevia um trecho de nossa história, resgatando a ideia de nação, evocando a união dos brasileiros, em um momento de perigo. 20

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ANEXOS – SAMBAS-ENREDOS

3hr
pages 201-278

4.13 – Considerações sobre este capítulo

11min
pages 170-176

CONSIDERAÇÕES FINAIS

6min
pages 177-181

REFERÊNCIAS

3min
pages 182-184

4.12.4 – África

1min
page 158

4.12.5 – A Escravidão

18min
pages 159-169

4.12.3 – Palmares

1min
page 157

4.12.2 – Zumbi e Outros Referentes Negros

4min
pages 155-156

4.11 – A Liberdade e as Significações Difusas

7min
pages 149-152

4.10 – A Liberdade, o Carnaval e Outras Artes

9min
pages 144-148

4.8 – Liberdade, Mitologia e Religiosidade

4min
pages 139-141

4.9 – A Liberdade e Outras Representações

3min
pages 142-143

4.6 – A Liberdade e os Países

3min
pages 134-135

4.7 – A Liberdade e o Povo

6min
pages 136-138

4.5 – A Liberdade, as Mulheres e os Direitos Feministas

4min
pages 131-133

4.4 – A Liberdade e os Indígenas

3min
pages 129-130

4.2 – A Liberdade de Expressão

3min
pages 123-125

4.3 – A Liberdade e a Independência

6min
pages 126-128

3.9 – Considerações Sobre Este Capítulo CAPÍTULO 4 – A PALAVRA LIBERDADE AO LONGO DA DEMOCRACIA

5min
pages 117-120

4.1 – Introdução ao Quatro Capítulo

2min
pages 121-122

3.7 – A Liberdade e as Significações Difusas

2min
pages 109-110

3.8 – A Liberdade e a Escravidão

10min
pages 111-116

3.6 – Liberdade e Independência

9min
pages 104-108

2.5 – Considerações Sobre Este Capítulo CAPÍTULO 3 – A PALAVRA LIBERDADE AO LONGO DA DITADURA

5min
pages 91-93

3.2.3 – Guararapes

2min
page 98

3.3 – Liberdade e República

3min
pages 100-101

3.2.4 – Indígenas

1min
page 99

2.4.5 – Chico Rei

2min
pages 89-90

3.5 – Liberdade e Carnaval

1min
page 103

3.4 – Liberdade e Povo

1min
page 102

3.1 – Introdução ao Terceiro Capítulo

2min
pages 95-96

2.4.4 – Preto Velho

1min
page 88

2.4.3 – Palmares

7min
pages 84-87

2.4.2 – Castro Alves

2min
page 83

2.2 – A Liberdade e a Segunda Guerra Mundial

5min
pages 75-78

2.3.2 – José Bonifácio

1min
page 81

1.4 – Considerações Sobre Este Capítulo

5min
pages 69-71

1.3.12 – Os Primeiros Sambas-Enredos

11min
pages 63-68

1.3.11 – Samba-Enredo

4min
pages 61-62

2.1 – Introdução ao Segundo Capítulo

3min
pages 73-74

1.3.10 – As Escolas De Samba

1min
page 60

1.3.7 – A Primeira Música do Carnaval

2min
pages 51-52

1.3.9 – O Samba

4min
pages 58-59

1.3.8 – Tia Ciata

7min
pages 53-57

1.3.5- A Praça Onze

4min
pages 44-46

1.3.6 – As Sociedades Carnavalescas

6min
pages 47-50

1.3.4 – Os Ranchos

3min
pages 42-43

1.2 – Origens e Significados do Carnaval

22min
pages 25-35

1.3.3 – Os Cordões

3min
pages 40-41

1.3.2 – O Zé Pereira

2min
pages 38-39

INTRODUÇÃO À TESE

12min
pages 14-21

1.1 – Introdução ao Primeiro Capítulo

3min
pages 23-24

ABSTRACT

1min
page 12

RESUMO

1min
page 11

RESUMEN

1min
page 13
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