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4.4 – A Liberdade e os Indígenas

A Acadêmicos do Dendê com Dos filhos deste solo sou mãe gentil, muito prazer, pátria Brasil, 2000, faz alusões à “descoberta” do nosso país. “Terra à vista” é o aviso de chegada dos portugueses, para depois apresentarem o índio, o negro e a miscigenação. Nessa investida, também homenageia o Imperador D. Pedro I pela Independência, Isabel pela abolição, apontando, para o futuro, a criança nascida na Era de Aquário. Assim, o amanhã, mais uma vez, é projetado nas imagens do ontem. (Anexo 107) Essa recuperação de episódios pretéritos, culturais e históricos, para precipitar o futuro também foi instrumento de escrita do samba-enredo Sou tigre, sou Porto da Pedra, da pedra à Internet? Mensageiro da história da vida do leva e traz, da Porto da Pedra, 2004, afinal a voz daqueles autores era a das antigas civilizações, de navegadores, de escravizados. (Anexo 146)

4.4 – A LIBERDADE E OS INDÍGENAS

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Coincidindo numericamente com o tema da Independência, a questão indígena foi tratada por oito sambas-enredos nesse terceiro ciclo. A Imperatriz Leopoldinense, com o samba-enredo Catarina de Médicis na corte dos Tupinambôs e Tabajares, 1994, destaca os versos em homenagem aos indígenas “Sou índio, sou forte/ Sou filho da sorte, sou natural (e sou natural) / Sou guerreiro, sou luz da liberdade/ Carnaval". (Anexo 79) Com o seu Todo dia é dia de índio, a União da Ilha do Governador, 1995, trouxe à avenida uma composição em que a voz do autor se misturou, integrou-se, com a do personagem indígena em um momento festivo, de celebração nacionalista e carnavalizada, a partir da própria linguagem. É o que confirmam estes versos:

Cantando eu vou! Ôôô vou buscando liberdade “Mim só qué brasilidade”! Me deixa qu’eu quero sambar. (Anexo 84)

A Acadêmicos do Salgueiro, 2001, investiu no tema indígena com o sambaenredo Salgueiro no mar de Xarayés, é pantanal, é carnaval (Anexo 116) “Heroicos Guaykuru/ Um galopar da liberdade/ Um dia o pantanal chorou... chorou... chorou/ E floresceu brasilidade”. De igual forma, naquele mesmo ano, a Unidos de Vila Santa Tereza reverenciouos povos indígenas em Palmares, a festa da liberdade,principalmente quando o autor se posicionou como o outro, nestes seguintes versos:

Eu sou índio E sou flecheiro Faço pesca, sou guerreiro caçador ô ô ô Liberdade é quem me guia Dia e noite, noite e dia Vou que vou. (Anexo 119)

A Imperatriz Leopoldinense, 2002, assim versificou “Com o tempo, um novo índio se vestiu de ousadia/ Num ritual de liberdade” em seu samba-enredo intitulado

Goytacazes... Tupy or not Tupi in a South American way. (Anexo 124) Imprescindível verificar que esse samba-enredo difere dos demais pela questão da antropofagia: “Campos ... terra dos Goytacazes/ São ferozes, são vorazes/ Vida de antropofagia” e relata que, ao saber disso, a Europa se assustava “Índio come gente, quem diria!”. Aí o mito se desfaz na canção, posto que “Peri beijou Ceci... ao som do Guarani”. Tupy or not Tupy, naquela escrita, é a visão de um artista sobre o nosso país. É mistura. É “Macunaíma e Zé Pereira/ É índio, é negro, é imperador”. Em 2003, a Independentes da Praça da Bandeira apresentou o samba-enredo A biodiversidade com justiça ambiental, o ouro verde voltará a brilhar. (Anexo 138) Na visão do narrador, o Brasil foi um paraíso criado por Deus. O índio “preservava tudo com amor” e “respirava a liberdade/ Até o homem branco aqui aparecer”. Imprescindível verificar que a denúncia a ser destacada, evidenciada, pelo autor não é a escravidão indígena como podemos supor. A manifestação é em defesa da ecologia, contraa poluição do ar e em favor da Eco 92 que ocorreu no Rio. Portanto, a consciência da potencialidade do samba é confirmada nestes versos: “O meu samba tem a força/ Vou protestar/ Com justiça ambiental nesse carnaval”. A Salgueiro, em 2004, apostou em “A cana que aqui se planta tudo dá... até energia. Álcool, o combustível do futuro” (Anexo 148) e sugere com os versos: “Caminha descrevendo a nossa terra/ Veio da Índia inspiração para o cultivo/ Que dava fim à liberdade do nativo” que o cultivo da cana de açúcar foi um dos fatores que impulsionaram a escravidão indígena no Brasil. A Beija Flor de Nilópolis, em 2005, elaborou o samba-enredo O vento corta as terras dos pampas, em nome do pai, do filho e do espírito Guarani. Sete povos na fé e na dor... sete missões de amor. Naquela escrita, o autor afirmou que a Companhia de Jesus se estabeleceu no Brasil para restaurar a fé e semear a paz. Os Jesuítas de além mar vieram “catequizar ... e civilizar”. Tudo em um ambiente de paz e de harmonia: “Na liberdade dos campos e aldeias/ Em lua cheia, canta e dança o Guarani”. (Anexo 153)

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