Reflexão Manifestações de Intolerância / Nuit et Brouillard Pedro Teixeira
A reflexão que se segue, feita a pedido da formadora para questionar e articular os trabalhos apresentados na aula sob o tema “Manifestações de Intolerância” e o curto documentário “Nuit et Brouillard”. Começo por uma pequena reflexão do que acabo de assistir, o documentáriofrancês supra citado, realizado por Alain Resnais em 1955, então, 10 anos após o término da 2ª grande guerra, aproveitando parte do arquivo de filmagens e fotografias não eliminadas da história feitas pelos nazis pela forças da aliança anti-nazi, Alain Resnais apresenta-nos de forma narrada acompanhada de uma banda sonora que orquestra realisticamente o suspense e terror daquela história, que é também a nossa. Pouco, possivelmente, será o que poderei referir de reflectivo sobre o tema, visto já o ter feito milhares de milhões de vezes, talvez tantas quanto os números apontados para os que naqueles campos ficaram, e então, todas as minhas ideias e reflexões que poderão ser fomentadas a partidas da contemplação do documentário e das apresentações dos trabalhos de Manifestações de Intolerância, parecer-me-ão comuns, lógicas, e há muito adquiridas, desde as: experiências com drogas (chamados medicamentos); tortura do terror constante, psicológico e físico; amputações e cirurgias bárbaras (em que os povos bárbaros talvez fossem mais delicados); privações de saúde, alimento e higiene do nível elementar e sono (que levam à loucura e morte); privação conforto térmico e mental e de qualquer tipo de conforto a menos que seja o mínimo possível, como a subida espontânea da ração de alimentos em uma colher de sopa (tudo com intenções secundárias de conseguir melhor obediência e calar possíveis rebeliões que acabam por ser incómodas); trabalho forçado até à exaustão e morte e sem alimento, seja na lama gelada de inverno, seja ao sol abrasador de verão; humilhação constante e permanente,pela perda total de direitos dos que foram condenados por um povo, que de si mesmo se considerou, eleito por deus a sobrepor-se e esmagar o espaço dos restantes.
Não foram só os judeus que foram condenados pelo povo superior em ascensão, mas também os opositores às ideias do Reich, e os que se colocarão numa não concordância com os meios e fins designados pelo mesmo, entre eles: homossexuais, deficientes, pessoas de diferentes raças, etnias e nacionalidades, militares e civis residentes em território ocupado pelos nazis, pobres e sem abrigos, enfim, uma infinidade de pessoas, mas, claro que nem todas foram subentendidas aos estranhos códigos de filtragem das “arianisses”, criancices deste tal povo que se achava melhor que os outros,pois o próprio sistema criado pelo Hitler concebia e beneficiava com muitas exclusões a esta regra, por motivos, mais que óbvios, bélicos-estratega-sócio-económico-delirantes. Exemplos claros dessa hegemonia cultural ascendente
Sabe-se ainda mais, que os mesmos cúmplices, tão convictos da potência que foram e de todas as atrocidades contidas em nome de uma super-determinação sem tréguas nem compaixão, se declaram inocentes das mesmas consequências, ao entenderem ignorar tais. O mais triste facto nestas palavras diversificadas com um sentido comum espalhadas neste texto é a verdadeira realidade da persistência destas acções e atitudes de ignorância e desculpabilização. Os fascistas são crianças más, que ficaram presas no seu pequeno mundo do “bullying”, usando expressões correntes, e provendo-se de um enorme sentido de moral, anseiam praticar o mal pelas mais infantis razões, mas que a mais comum ou a moda delas se localiza na simples explicação: enquadrarem-se num grupo. Estando habituado a observar e a fazer parte do mundo da intolerância, sou abertamente e expressamente contra este tipo de anicephalia. Por exemplo, aquando a apresentação dos trabalhos sobre o mesmo tema pelos integrantes desta turma, muito fácil é aperceber-me do tamanho das suas fronteiras no que a discriminação diz respeito, e esta não necessita de se basear no seu mais directo estereótipo, caso do racismo e xenofobia, mas também com muitas outras, que impedem os formandos de atingirem um grau de consciência superior. Agora, os motivos que os levam à mesma, não irei aqui discriminar. Mas uma explicação das muitas possíveis, e que até me provarem o contrário serão verdadeiras porque já sou bastante experiente nisto, não sofrem as consequências das suas discriminações de forma constante ou de forma reflectida, e todas as discriminações que advêm do exterior para as suas personalidades passarão despercebidas para o mesmo ou se conformarão de forma simples e rápida, sem muitos esforços, que por um lado traduz a sua personalidade pouco ou nada pessoal.
É normal que o ser humano interprete mal tudo aquilo que é estranho e inconcebido ao seu mundo individual pequeno que transpões barreiras circundares, começando e acabando em si mesmo (enquanto indivíduo singular), porque esse mesmo ser humano tem, partindo do princípio instintivo da herança genética de gerações malévolas, um grande problema em aceitar a sua existência. Todo o mal e raíz de discriminações serão sempre manifestações de ignorância. Eu falo por mim mesmo, que sem razão nenhuma até agora, encontro-me onde estou, com as vivências que tenho e toda a experiência de vida que elas me adquiriram, porque eu me quis instruir em mim mesmo e em valores maiores que, provavelmente, apenas serão entendidos por mim mesmo, e, portanto, encontro-me num patamar superior para afirmar que, sei do que falo. Independentemente de tudo o que se possa viver ou sentir através da experimentação, existem outras formas, que terão claro está resultados diferentes, de se chegar à consciência a pensamentos reflexivos sobre o mesmo, e é nesta parte que entra a cultura, e o que devo dizer sobre ela enquanto processo identitário do país que me influenciou nativamente é que ela é inexistente para me aflorar o conhecimento e caminhos necessárias à destruição da intolerância, e por esse motivo mesmo existem as ditas contra-culturas, pois as subculturas enquadram-se na própria cultura da ignorância, apesar de umas mais subversivas e retóricas que outras. O que eu sugiro é uma abertura para novas formas de existência e culturas (se catalogarmos nesta categoria as sub e contra-culturas), ideias e criações, ouvir um disco de uma banda reivindicativa a sério e ler a lirycsheet, ler um livro que nos abra horizontes, conviver e conhecer novos países, ou mesmo o submundo do local que passamos todos os dias, reagir e questionar a existência de diversas organizações não governamentais, ler artigos históricos, sindicais, relevantes à mudança de liberdades e responsabilidades comuns, ver um filme ou uma exposição que mexa connosco, tudo e uma grande e infinita variedade de possibilidades, mas todas e nenhuma conseguirá substituir a vivência delas para a aprendizagem e aprofundamento de consciência e tolerância. Um livro recomendado. Uma audição recomendada, dentro do mesmo género, mas com subgéneros tão distintos