CLC 7: Fundamentos de cultura língua e comunicação Produzir um texto expositivo-argumentativo* (150-300 palavras) sobre as mudanças que implementaria na sociedade actual portuguesa se desempenhasse um cargo político, como por exemplo o de primeiro-ministro. Marginalização cultural como estanque educacional. Sendo o uso da autoridade aplicada a qualquer indivíduo, enquanto cidadão consciente e ciente da minha liberdade condicionada, uma forma contrária à minha conduta idealizada e de bem-estar, estando no papel de um político ou primeiro-ministro, estaria, a priori, contrariando este princípio. A sociedade portuguesa contemporânea, apesar de os números reportados de crescente afluência ao nível de alfabetização*, estáenjauladapela reduzida dimensão cultural para com outros países europeus, somos um povo mais fechado (mesmo que digam que somos receptivos), discriminatório (mesmo que sejamos discriminados), conformado (mesmo que insatisfatoriamente discutamos). Sempre que penso em Português, vem-me à cabeça a imagem de um português pobre, um tanto quanto campónio mas de roupas de marcas (queconquistou em seu admirável mundo novo) e que lhe custe bastante a admitir novos conhecimentos, contrariando uma evolução ou outros pontos de vista (que não os seus, adquiridos como seguros), como se vivessem isolados (o Português e a Portuguesa) num meio em que o acesso ao resto do mundo fora definitivamente cessado. Cortando o mal pela raiz, o mal, esse que nunca se extinguirá, começa logo pela história das Histórias, o início da Humanidade e das Civilizações, em que a vontade de poder, de sangue derramado, de aglomeração de bens (de primeira necessidade, numa fase inicial) e outras formas de privatização (egoísmo) marcaram os textos que, quando aprendemos a ler, interiorizamos (e possivelmente nunca reflectiremos). Entendendo isto, e reposicionando-me em torno da sociedade portuguesa contemporânea, o nosso maior mal, além de provir em primeira instância do sistema educacional (conteúdos, mentalidades, condições)**, tanto no âmbito familiar como o institucional, é ele indiscutivelmente a falta de tratamento que damos à nossa (principalmente) história (mas às outras também), a falta de interesse na cultura e a forma como o auto-cultivo é posto borda fora, na educação dos nossos filhos (castradora), na baixa ambição e nos limites que temos enquanto sonhadores…todos factos inerentes à filosofia de vida que adoptamos. O orgulho que temos quando ouvimos o hastear da bandeira, visualizamos as letras do nosso hino, contemplamos as memórias do grande povo que fomos, esquecemo-nos que essas mesmas atitudes são potenciais incapacitantes para o nosso nível de abertura social e criam-nos barreiras emocionais, logo, estamos menos predispostos para a compreensão face
ao que nos é diferente, para a solidariedade, até mesmo para nos queixarmos dos problemas que nos ocorrem. Tudo começa pelos alicerces, a nossa base estrutural que nos encaminhará, deverá ser a mais forte que podermos ao mesmo tempo de inteligível e justa, e mesmo que não tenhamos condições para a enraizar logo à nossa nascença e aprendizagens iniciais, temos certamente na nossa culturasementes que nos ajudem a colmatar espaços vazios e automatizados, travões que forçam averiguar a alienação e o quão elevado grau de enfermidade por ela estamos. Apesar de, na cultura, ainda nos ser possível encontrar grãos de areia preta, falta um longo caminho a percorrer até às areias sub-culturais húmidas, que transpiram de frases emergentes ligeiramente banhadas de uma oposição (de uma ou mais frentes) à inércia do indivíduo carenciado de reflexão. E tal é o choque com esta nova textura que nos fazem primeiramente recear o frio do mar, esse que nos poderá gelar os pés se formos demasiado acanhados, mas, como se tivéssemos realmente sonhos e vontade superior a todas as imposições e inquisições da educação, que parecem fazer parte historicamente da nossa cultura, avançaremos para o mar da contra-cultura, onde nadamos em valores puros e arriscamos o perigo de em ele se afogar, pela falta de pé ou aptidão para a natação, ou mesmo o confronto directo entre predadores de sangue frio e a nossa ainda pequenez. Na contra-cultura e em algumas subculturas (contrariando o avançado estado alienatório das culturas populares e de mass-média) traça-se caminho que não se deve extinguir, para a construção dessa mesma base estrutural que libertará o povo de si mesmo... Leiam-se que estas deverão corresponder total e não parcialmente à definição que a ela lhes confere por direito ideológico e racional. Quando o povo desejar desprender-se das suas limitações fronteiriças e sonhar com a (sua) ilha em seu pleno estado, percorrerá corajosamente os sete mares, que tão cobardemente se gaba ter navegado, e encontrar-se-á, literalmente falando, conquistando o seu novo mundo. Um Homem (ou Indivíduo) deverá caminhar sozinho para dele apenas depender, e quando o mundo já não lhe for estranho, inevitavelmente preparado para os outros, ele entender-se-á a si mesmo. A educação é a solução. A libertação da cultura é essencial para a cultura da libertação.
*- Taxa de alfabetização em Portugal (idades iguais ou superiores a 7 anos): 26% (1900), 31% (1911), 34% (1920), 38% (1930), 48% (1940), 60% (1950), 70% (1960)– in censos de Portugal dos respectivos anos;Taxa de alfabetização em Portugal (idades iguais ou superiores a 15 anos): 93,2% (1995-2005) –in relatório do Índice de Desenvolvimento Humano 2007/2008 do INE ** -Valor do Índice de Desenvolvimento Humano (2005): 0.897 (29º); Esperança de Vida à Nascença (Anos) (2005): 77.7; Taxa de escolarização bruta combinada dos ensinos primário, secundário e superior (2005): 89,8%; PIB per Capita (dólares PPC) (2005): 20,410; Índice IDH da esperança de vida: 0.879; Índice da educação: 0.925; Índice IDH do PIB: 0,888 –in relatório do Índice de Desenvolvimento Humano 2007/2008 do INE
Pedro André Pereira Teixeira